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Introdução

O termo Marave está ligado a formação etnolinguística e pouco se sabe sobre a sua
origem. E provável que o termo esteja ligado apenas ao clã Phiri. Na actualidade, um
distrito da província de Tete ainda remete para essa ocupação passada, Marávia. Os
Maraves eram um conjunto de pequenos reinos que existiram no Norte do Zambeze,
zona de Tete, desde o século XVI ate ao XIX.

Origem
Como não se sabe muito sobre a origem dos Maraves, existem várias teorias sobre a sua
origem, expansão e formação.

Os Estados Marave formaram-se com a chegada a sul do Malawi, a partir de camadas


sucessivas de emigrantes oriundos da região de Luba do Congo, liderados pelo clã
Caronga-Phiri, entre 1200 à 1400, situados entre-os-rios Chire e Luangua, a norte do rio
Zambeze. Conflitos dinásticos levaram a segmentação do clã original, dando origem a
novas linhagens que posteriormente se estabeleceram a oeste, sul e sudeste do território
ocupado pelos Caronga. Assim, Undi irmão de Caronga moveu-se para oeste e
estabeleceu a hegemonia da sua linhagem sobe os povos de língua Cheua e Nsenga,
abrangendo a norte da província de Tete. Por outro lado, Kaphwiti e Lundu lograram
dominar as populações do vale do Chire.

Diferentemente dos Mwenemutapas a sul do Zambeze, os Maraves a norte dominaram o


seu território através da absorção e adaptação da ideologia local, acompanhado com o
casamento com mulheres nativas, promovendo o controlo sobre a esfera ideológica.

As Actividades Económicas
O povo Marave dedicava-se a agricultura, com destaque para a produção da mapira,
milho e batata-doce.

Para além dos produtos acima referidos cultivavam também o inhame, feijão, amendoim
e bananas. A maior parte das actividades agrícolas era realizada por mulheres, embora
houvesse alguma participação masculina. Os homens dedicavam-se mais a criação do
gado bovino, caprino e ovino e a caça ao elefante.

Praticava-se a metalurgia para apolar as actividades agrícolas e doméstica. A enxada de


cabo curto ainda era o único instrumento usado no trabalho dos campos, de acordo com
escavações arqueológicas realizadas. As enxadas produzidas eram comercializadas em

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regiões como a actual província de Nampula, Sofala, Inhambane e outros postos da
costa oriental do Indico. Havia ainda extracção de metais, sobretudo do ouro, que mais
tarde eram exportados através do porto de Quelimane.

O comércio de marfim foi bastante desenvolvido e lucrou com esta ligação a um porto
de mar, como Quelimane Tanto os metais preciosos com o marfim tinham como destino
principal a exportação e eram muito cobiçados quer pelos europeus quer pelos árabes.

Já havia nestes Estados produção têxtil. Fabricavam a machila, uma espécie de tecido de
algodão muito forte (lona). Este produto dominou o comércio do interior para a troca
comercial.

A organização político-administrativa
Undi Na sociedade Marave a organização política e
(chefe supreme)
administrativa do Estado era muito complexa. Na
Mbili
(Conselheiro
estrutura de base tínhamos o chefe da aldeia,
do undi) conhecido por Fumu ou Mwini-Mudzi, acima desta
Mambo
(chefe provincial) estrutura encontramos o chefe territorial, designado
Mwini-Mudzi ou Dziko
(chefe territorial) por Mwini ou Dziko. O chefe provincial estava acima
Fumo ou Mwini-Mudzi
(chefe de aldeia)
do chefe territorial e controlava vários territórios, era
chamado Mambo, sendo o chefe supremo o Undi. Os
mbili eram um corpo de conselheiros dos chefes,
auxiliados por um conjunto de funcionários menores. Na sociedade Marave, todos os
chefes, de diferentes escalões, estavam ligados por laços de parentesco.

“Pirâmide”

O poder era hereditário e a sucessão era preferencialmente matrilinear, dado que quanto
a filiação materna não há dúvidas. A filiação paterna levantava sempre dúvidas. Desta
forma, os Marave são de linhagem matrilinear, isto é, o poder passava de tia para o
sobrinho, filho da Irmã (jamais do irmão). Não obstante, havia guerras de sucessão, ou
porque a filiação, ainda assim, era questionada, ou porque havia nomeação directa para
cargos de Estado.

Os chefes , nas suas diferentes esferas de poder ( aldeia , território , província e


supremo) eram a população mais rica, quer porque administravam a exploração das
produções e o comércio , quer porque recebiam tributos. No caso do Estado de Undi a

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classe dominante recebia tributos regulares e tributos rituais ( primícias das colheitas )
(...)

Os chefes recebiam ainda taxas pela resolução de disputas e taxas de trânsito pelo
território .

A Estrutura Socioeconómica
A sociedade Marave estava dividida entre as chefias da administração e os camponeses
que cultivavam a terra, criavam o gado, trabalhavam nas minas, caçavam os elefantes.
Havia nesta sociedade uma nítida distinção social com base na riqueza económica de
cada um.

Os chefes , nas suas diferentes esferas de poder ( aldeia , território , província e


supremo) eram a população mais rica, quer porque administravam a exploração das
produções e o comércio , quer porque recebiam tributos. No caso do Estado de Undi a
classe dominante recebia tributos regulares e tributos rituais ( primícias das colheitas )
(...)

Os chefes recebiam ainda taxas pela resolução de disputas e taxas de trânsito pelo
território .

O capital mercantil teve o seu impacto nos Estados Marave. Os produtos produzidos nos
Estados Marave e comercializados sobretudo com os estrangeiros tiveram um duplo
efeito. Por um lado, ajudaram as chefias locais a enriquecer e a tornar-se,
consequentemente, mais poderosas mas, por outro lado, foram os responsáveis pelas
intrigas internas. São exemplos disso as lutas entre os Karonga e os Lunciu e a
consequente expansão Nyanja

Ideologia
A religião na sociedade Marave desempenhava um papel importante em matéria de
controlo político. Os mediuns espíritas gozavam de um estatuto mais elevado do que os
próprios imperadores, pois tinham por função aconselhar o soberano sobre todos os
assuntos do Estado.

O culto do mlira constitui um dos mecanismos institucionais para assegurar a coesão


social do Estado Kalonga. Uma vez por ano, na capital do Estado, os Marave
celebravam a veneração ritual de mlira, o espírito Kalonga, condutor de seus ancestrais
ao país de migração provenientes do Norte, reunindo chefes das várias linhagens reais

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Phiri. Esta manifestação era um ritual de realeza que tinha como função a integração no
seio do Estado Marave.

Os Marave praticavam cultos ligados a fertilidade das terras, a invocação da chuva e ao


controlo das cheias. Estes cultos designados por Chisumpi eram dedicados a veneração
de espíritos naturais e o Muári dedicado a entidades supremas.

Decadência dos Marave


O declínio dos Marave não foi repentino; foi acontecendo, motivado, essencialmente,
por factores comerciais e sociais. A decadência Marave começa em meados do século
XVII, mas foi acentuada pela “invasão” de mercadores no final do século XVIII.

No século XIX as rotas comerciais Marave são substituídas pelas rotas dos Ajaua. E o
aparecimento dos Nguni, oriundos do movimento do M’fecane, a partir de 1835, com a
ocupação de terras Maraves, acabou por ditar o fim destes Estados.

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Conclusão
Com a elaboraçao deste trabalho, obteve-se a seguinte conclusão: a estrutura social e
económica da sociedade dos Marave estava dividida em chefes e camponeses que
cultivam a terra. Havia nesta uma nítida divisao social com base na riqueza económica
de cada um.

Conclui ainda que a religião na sociedade Marave desempenhava um papel importante


no controlo político. A decadência dos Marave não foi repentina; mas gradual,
motivada, essencialmente, por factores comerciais, sociais e pela “invasão” de
mercadores no final do século XVIII.

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Bibliografia
História de Moçambique, vol . 1, p. 49

NHAPULO, Telésfero de Jesus, Históra classe,

www.escolademoz.blogspot.com Plural Editores, Maputo, 2013

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Índice
Introdução..........................................................................................................................1
Origem...............................................................................................................................1
As Actividades Económicas..............................................................................................1
A organização político-administrativa..............................................................................2
A Estrutura Socioeconómica.............................................................................................3
Ideologia............................................................................................................................3
Decadência dos Marave.....................................................................................................4
Conclusão..........................................................................................................................5
Bibliografia........................................................................................................................6

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