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História A – 10º ano

Módulo Inicial

Estudar/Aprender História

O principal objetivo da História é reconstruir a ação do Homem ao longo do tempo.


Para isso, a sua metodologia passa por questionar e interpretar as fontes (vestígios) dessa
ação.

A explicação do que aconteceu é sempre inserida num determinado espaço e num


determinado tempo.

O espaço: é determinante para explicar a ação humana. O espaço condiciona, em


maior ou menor escala, aquilo que o Homem faz e o modo como faz. No entanto, ao longo da
História, o Homem também foi conseguindo encontrar maneiras de modificar o espaço de
modo a satisfazer as suas necessidades. Assim, o espaço é, ao mesmo tempo, causa e
consequência da ação humana.

Ao longo do tempo, o espaço também foi ganhando diferentes significados, em


consequência da ação humana (por exemplo, a partir do século XV, com a expansão marítima,
espaços que se desconheciam ou se conheciam mal, começaram a contactar entre si).

Atualmente, tudo se sabe quase instantaneamente, em todos os lugares, utilizando-se


a expressão “aldeia global”.

O tempo: ao situarmos os acontecimentos no tempo, podemos dar significado e


sentido ao que o Homem fez, verificar o que mudou e o que se manteve. Para uma melhor
compreensão da História, esta divide-se em vários períodos ou épocas: Antiguidade, Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

O fim de uma época e o início de outra, por norma, resulta de grandes mudanças na
humanidade (por exemplo, a Idade Contemporânea começa, para quase todos os autores,
após as revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX).
As fontes: para se poder reconstruir a ação e o pensamento do Homem ao longo do
tempo é necessário interpretar todo o tipo de vestígios (escritos, iconográficos, materiais…),
uns deixados de forma intencional, outros não.

Através das questões feitas às fontes, o historiador consegue obter respostas que
reconstroem a ação humana. De realçar que perguntas diferentes feitas a uma mesma fonte,
podem originar explicações diversas sobre o mesmo assunto.

Existem fontes primárias (aquelas que são originais, criadas no tempo que se quer
estudar – um monumento, um testemunho de alguém que viveu o acontecimento…) e as
fontes secundárias (fontes que nos dão informações sobre determinado assunto, mas que
foram criadas posteriormente – por exemplo, um livro sobre a 2ª Guerra Mundial escrito
recentemente).

A compreensão em História: sendo uma ciência social e humana, as explicações em


História têm sempre um elevado grau de subjetividade. Assim, o mesmo assunto pode originar
explicações diferentes, as quais não são eternas.

Na compreensão histórica, são conjugadas várias dimensões da ação humana: social,


política, cultural, económica… Por isso, a História conta com o auxílio de outras ciências, como
a Geografia, a Demografia, a Economia, a Sociologia…

Módulo 1 – Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império


na Antiguidade Clássica

1. O modelo ateniense

A divisão em pólis ou cidades-estado: o território da Grécia Antiga situava-se, na sua


maior parte, na Península Balcânica, no sul da Europa. No entanto, também abrangia a Ásia
Menor. A Hélade era banhada pelo Mar Mediterrâneo, com o Mar jónio a ocidente e o Mar
Egeu a separar a Grécia Continental da Grécia Asiática.

A Grécia tem uma costa muito recortada e um relevo muito montanhoso, o que
dificultava a prática da agricultura e as comunicações entre as cidades. Tal facto ajuda a
explicar a dispersão de milhares de gregos por todo o Mar Mediterrâneo e costa do Mar
Negro, onde fundaram colónias.

Apesar de se sentirem unidos por laços históricos e culturais, o povo grego estava
muito disperso, cada cidade era autónoma/independente (cidades-estado ou pólis), não havia
unidade territorial nem política.

Cada pólis, para o seu funcionamento, tinha que possuir as seguintes características:

- uma população com um número adequado à sua extensão;

- tentar alcançar a autossuficiência (ideal de autarcia);

- ter as suas próprias leis e o seu próprio governo;

- organizar a sua defesa para se proteger dos inimigos, possuindo exército próprio;

- prestar culto aos seus deuses.

As cidades-estado gregas dividiam-se em duas partes principais: a Acrópole – parte


mais alta, rodeada por muralhas. Era o centro da vida religiosa, situando-se lá os templos mais
importantes e a Ágora ou praça pública – zona onde os gregos passavam a maior parte do
tempo, onde se situavam as habitações, os locais de comércio, as zonas de convívio e os
edifícios dos governantes.

A cidade-estado mais poderosa da Grécia Antiga era Atenas.

O funcionamento do regime democrático ateniense: em Atenas, no século V a.C.,


funcionou um regime com algumas semelhanças com as democracias atuais. Até essa época,
Atenas fora governada por um conjunto de famílias ricas e poderosas – uma Oligarquia.
Posteriormente, o regime adotado foi a Tirania: poder exercido por uma só pessoa. No século
V a. C., funcionou um regime democrático.

Democracia (povo+poder): regime político no qual os poderes estão repartidos por


vários órgãos, cada um com as suas funções específicas. A lei é igual para todos, existe
liberdade de expressão. Os cargos têm uma duração limitada e é o povo que escolhe os
governantes através do voto.
A democracia ateniense assentava em três princípios fundamentais:

- Isonomia: igualdade dos cidadãos perante a lei;

- Isocracia: igualdade no acesso aos cargos políticos;

- Isegoria: liberdade e igualdade no uso da palavra.

Clístenes e Péricles foram os mais importantes legisladores, permitindo a instauração e


a consolidação de um regime democrático o primeiro instituiu o sorteio para aceder à maior
parte dos cargos. Péricles, para alargar a participação dos cidadãos na vida política da cidade,
criou as mistoforias – remuneração (salário) a quem participasse nos órgãos políticos.

Os órgãos políticos atenienses: composição e funções

Eclésia: assembleia na qual podiam participar todos os cidadãos de Atenas. Assim, esta
era uma democracia direta, pois qualquer cidadão podia manifestar a sua opinião
pessoalmente e participar nas sessões da assembleia, sem ninguém o estar a representar
(como acontece nas democracias atuais) tal era possível, uma vez que o número de cidadãos
não era muito elevado e nem todos participavam.

A principal função da Eclésia era discutir e votar as leis. Também decidia a paz ou a
guerra e votava o ostracismo.

Bulé: constituído por 500 cidadãos, sorteados anualmente. A sua principal função era
preparar as leis que iriam ser discutidas na Eclésia.

Tribunal do Helieu: constituído por 6000 juízes, sorteados anualmente. Julgava os


crimes mais comuns.

Areópago: Tribunal que julgava os crimes mais graves, constituído por ex Arcontes.

Magistrados: tinham o poder executivo. Os Arcontes eram 10, sorteados anualmente.


Tinham funções religiosas e presidiam ao Areópago. Os Estrategas eram 10, eleitos
anualmente. Era o cargo de maior prestígio, sendo eles que comandavam o exército. Péricles
foi eleito estratega durante vários anos consecutivos.
As limitações da democracia ateniense

- os cidadãos eram uma minoria no conjunto da população de Atenas e só eles tinham


direitos políticos (votar e ocupar cargos). A maior parte da população da cidade estava
excluída da vida política (mulheres, metecos e escravos);

- o sorteio gerava oportunidades iguais para todos, mas podia colocar num cargo um
cidadão menos bem preparado ou menos interessado na vida política;

- havia escravatura em Atenas e numa democracia devia-se respeitar o princípio da


liberdade para todos;

- os cargos só duravam um ano o que podia originar uma grande instabilidade política;

- o ostracismo podia limitar a liberdade de expressão.

As manifestações culturais dos gregos

Se politicamente os gregos estavam muito divididos, a cultura serviu como elo


de ligação e união entre os Helenos. De facto, a maior parte das manifestações culturais
tinham um caráter pan-helénico (para todos os gregos).

Toda a cultura grega girava à volta da religião. Os gregos eram politeístas, prestando
culto a numerosos deuses. Este culto aos deuses está na origem da maior parte das
festividades que os gregos realizavam: procissões, sacrifícios, provas desportivas…

O teatro tem na sua origem o culto ao deus Dionísio. Os gregos representavam


comédias e tragédias. Na comédia fazia-se uma crítica à sociedade da época, recorrendo ao
humor. Na tragédia, o principal objetivo era transmitir valores.

Para reforçar os laços de união entre os gregos, foram também muito importantes os
Jogos Olímpicos. Estes realizavam-se na cidade de Olímpia, de 4 em 4 anos, em honra de Zeus.
Pra além do espírito de união, os Jogos Olímpicos também serviam para realçar as rivalidades
entre as cidades gregas. Os vencedores eram recebidos como heróis na sua cidade.
A educação para a cidadania

Até aos 7 anos, os rapazes e as raparigas eram educados em casa, pela mãe. A partir
dos 7 anos, os rapazes iam para a escola. Muitos eram acompanhados pelo pedagogo
(geralmente um escravo culto, que o acompanhava nos estudos). As raparigas permaneciam
em casa, no gineceu.

Os rapazes eram educados para, a partir dos 18 anos, exercerem a cidadania, ou seja,
ocupar cargos políticos e defender a sua cidade. Por isso, o seu ensino era eclético (com
disciplinas variadas), procurando seguir a máxima “Mente sã em corpo são”. Assim, tinham
disciplinas para desenvolver a parte intelectual (fundamental para o exercício de cargos
políticos – escrita, leitura, recitação de poemas, Oratória, Filosofia, História…) e desenvolviam
o corpo através da prática desportiva e outros exercícios.

A arte grega

Tal como nas outras manifestações culturais, também a arte grega está muito
relacionada com a religião.

O monumento mais característico da arquitetura grega era o templo, para


homenagear os deuses. Na arte, os gregos procuravam a perfeição, o equilíbrio e a harmonia.

As construções obedeciam a um cânone, ou seja, a regras previamente estabelecidas.


Estas, definiam as medidas de cada elemento.

Os arquitetos seguiram ordens arquitetónicas: a dórica, a jónica e a coríntia (ver


imagens do manual págs 40 e 41).

A racionalidade é outra característica da arquitetura grega: tudo era cuidadosamente


pensado, o que se refletia no rigor e equilíbrio das construções.

No que diz respeito à escultura, os temas principais foram a representação da figura


humana e a mitologia (os deuses).

O realismo e o naturalismo são as principais características da escultura grega, uma vez


que a figura humana era representada tal como é, inclusivamente esculpindo o corpo nu. No
entanto, há uma forte tendência para o idealismo, uma vez que quase sempre é esculpido o
homem ideal/perfeito. A escultura também obedecia a um cânone, uma vez que as
proporções do corpo humano também obedeciam a regras e a rigorosos cálculos matemáticos.
2. O modelo romano

O império: situada na Península Itálica, a cidade de Roma iniciou, a partir do século V a.


C., um processo de expansão territorial, tendo construído um grande império – conjunto de
territórios conquistados e depois governados por um só povo (domínio político, económico e
cultural).

No século II o império romano atingiu a sua máxima dimensão, incluindo territórios em


3 continentes:

-Na Europa: Península Itálica, Península Balcânica, Península Ibérica, Grã-Bretanha,


Gália… (Europa ocidental até aos rios Reno e Danúbio);

- Em África: toda uma faixa a norte;

- Ásia Menor.

Assim, os romanos conquistaram todos os territórios à volta do Mar Mediterrâneo,


passando este a ser considerado como o “Mare Nostrum” (o nosso mar).

A organização do território era feita com base em cidades (foi uma civilização
marcadamente urbana). Roma era o modelo, que as outras cidades seguiam.

Tendo conquistado povos tão diversificados e heterogéneos, os romanos procuraram


promover a sua unidade. Para isso, foi fundamental transmitir a sua cultura (usos, costumes,
língua, religião…) aos povos que conquistaram – processo de Romanização.

A evolução política no império romano

O primeiro regime político da cidade de Roma foi a Monarquia. Em 509 a. C., iniciou-se
a República. Neste regime, o poder estava dividido por vários órgãos: o Senado, os
Magistrados e os Comícios.

O Senado: era o órgão político de maior prestígio. Era constituído pelos romanos mais
ricos e influentes (os patrícios), ocupando o cargo vitaliciamente. Principais funções: promoção
do culto religioso, fiscalizar os bens públicos, manutenção da ordem pública, dirigir a política
externa, decidir a paz ou a guerra, recrutamento militar e administração de algumas províncias
do império.
Os Magistrados: eram eleitos pelos Comícios (assembleias). Havia várias magistraturas,
sendo as mais importantes os Cônsules e os Pretores. Os Cônsules tinham como função o
comando do exército, o governo da cidade e presidiam às assembleias. Os Pretores
administravam a justiça.

Depois, havia magistraturas mais secundárias: os Censores (faziam o recenseamento


da população), os Edis (responsáveis pelo policiamento e vigilância de pessoas e edifício) e os
Questores (guardavam e administravam os dinheiros públicos).

Os Plebeus (cidadãos mais pobres), sentiam-se impossibilitados de aceder às


Magistraturas. Deste modo, nos primeiros anos da República, fizeram várias revoltas. Para
resolver os conflitos, foram criados os Tribunos da Plebe – magistrados eleitos pelos plebeus,
com a função de proteger os mais pobres contra eventuais abusos e injustiças.

Os Comícios assembleias com o poder legislativo (à semelhança da Eclésia de Atenas).


Elegiam os Magistrados.

Havia uma magistratura extraordinária, que só existia em caso de ameaça interna ou


externa: a Ditadura – por um período de 6 meses, os cônsules nomeavam um ditador, que
passava a ter todos os poderes.

A passagem da República para o regime imperial

No século I a. C., o regime republicano vai passar por uma fase de grande instabilidade.
O império já tinha uma dimensão assinalável, o que fez aumentar as lutas pelo poder,
principalmente entre os generais vitoriosos, cheios de prestígio. Sucediam-se as guerras civis.

É neste contexto que emerge a figura de Júlio César, que conquistara a Gália e a quem
o Senado atribuiu a ditadura, concentrando os poderes nas suas mãos depois de eliminar os
seus adversários do 1º triunvirato (Pompeu e Crasso). Foi-lhe concedido o título de
“imperator”, levando a que se lhe prestasse culto.

Entretanto, foi criado um 2º triunvirato, do qual sairia o 1º imperador romano,


Octaviano César Augusto, no ano de 27 a. C.. Octaviano assumiu, em simultâneo, várias
magistraturas. Para além do título de imperador, o Senado atribuiu-lhe o de “Augustus” (título
divino até então reservado aos deuses).

Octaviano respeitou as instituições da República, mantendo-as em funcionamento,


mas, gradualmente, retirou-lhes os poderes mais importantes, passando estes para as suas
mãos. Ao manter os órgãos republicanos, Octaviano também pretendia dar uma aparência
democrática ao seu regime. Mas, na prática, o imperador governava como um rei absolutista.
Nomeava pessoas da sua confiança para os cargos mais importantes da administração e do
exército.

Para com os plebeus procurou manter uma atitude de diálogo, para evitar as revoltas
sociais. Beneficiava-os com a distribuição gratuita de alimentos e oferta de espetáculos de
divertimento. É desta época que vem a expressão “Pão e Circo”.

O Direito Romano

Na Antiguidade, as leis eram geralmente transmitidas pela oralidade. Os


governantes exprimiam a sua vontade, muitas das vezes, de forma arbitrária, penalizando
quase sempre os mais desfavorecidos. O mesmo acontecia com os romanos.

No entanto, no século V a. C. , deu-se uma mudança importante: os plebeus


queixavam-se de que as leis transmitidas pela via oral os prejudicavam. A partir desse
momento, as leis passaram a estar escritas, sistematizadas, para que todos soubessem onde
encontrar os seus direitos e os seus deveres. O documento mais antigo do direito romano é a
“Lei das Doze Tábuas”.

O direito atual segue alguns princípios do direito romano: já os romanos defendiam o


caráter universal das leis, ou seja, que as mesmas devem ser do interesse geral e não para
satisfazer interesses individuais. Outra semelhança tem a ver com o facto de qualquer cidadão
poder recorrer de uma sentença, caso não concorde com a mesma.

Ser cidadão romano

Inicialmente, só era considerado cidadão romano os homens livres que viviam


em Roma. Depois, a cidadania alargou-se aos homens livres de toda a Península Itálica.

No século III, o imperador Caracala concedeu a cidadania romana aos homens livres de
todo o império. Os cidadãos de possuíam direitos importantes, como o direito ao voto e a
ocuparem cargos, possuir e vender bens, casar…
A extensão da cidadania contribuiu para dar unidade a um império tao vasto e, ao
mesmo tempo, contribuía para apaziguar os povos conquistados (todos se sentiam romanos,
fazendo parte do mesmo território e mais facilmente iriam adotar o estilo de vida dos
romanos).

A arte romana

Na arte, os romanos sofreram influências de vários povos, principalmente dos


gregos. Na arquitetura, seguiram as ordens gregas (dórica, jónica e coríntia). Era
principalmente uma arquitetura religiosa, com a construção de muitos templos.

A mentalidade pragmática dos romanos era visível nas suas construções, as quais
tinham como objetivos, para além do embelezamento do espaço, o bem-estar da população e
o lazer (termas, aquedutos, teatros, anfiteatros, basílicas, pontes…).

Os arcos de volta perfeita e as abóbadas de berço são dois elementos construtivos


criados pelos romanos na arquitetura.

Na escultura, os romanos abandonaram o idealismo grego, centrando-se na


representação fiel do modelo (realismo). Os escultores romanos representavam com grande
fidelidade as características físicas, tendo a preocupação de fazer propaganda e imortalizar
grandes figuras, principalmente os imperadores. Nos altos e baixos-relevos também era sua
preocupação transmitir uma narrativa.

Na pintura, retratavam-se cenas do quotidiano com grande realismo e igualmente com


preocupações narrativas.

A romanização da Península Ibérica

Os romanos demoraram cerca de 2 séculos para conquistar toda a P. I. . Neste


território, os romanos também vão conseguir, de forma gradual, impor a sua cultura,
transmitindo os seus usos e costumes (romanização).

Para esta contribuíram: a criação de uma rede de cidades (com a aplicação do


urbanismo romano); a adoção do latim por parte das populações; a aplicação das leis romanas
(Direito); a adoração de deuses dos romanos; a rede de estradas (que facilitou a circulação da
cultura romana).
Para a romanização também contribuíram pessoas: os militares (legiões), que eram os
primeiros a chegar, permanecendo muitos deles, para toda a vida, nos territórios que
conquistavam. Muitos misturavam-se, pelo casamento, com as populações locais. Desta forma,
transmitiam a cultura romana aos povos dominados. Os comerciantes também eram agentes
da romanização, percorrendo todo o império e fixando-se nas terras conquistadas. Finalmente,
os colonos (romanos que emigravam para os territórios do império), que também ajudavam a
promover a cultura romana.

A economia da P.I. durante a ocupação romana: a presença romana ajudou a


desenvolver a economia da região. Antes da ocupação romana, praticava-se principalmente
uma economia baseada numa agricultura de subsistência. As trocas comerciais eram quase
inexistentes, devido à escassez de produtos e às fracas vias de comunicação.

Os romanos transformaram radicalmente a economia peninsular: construíram uma


vasta rede de estradas para facilitar a circulação dos produtos. As cidades passaram a ser
grandes centros de consumo. Os romanos apostaram forte na exploração dos recursos
marinhos e exploração das minas. Esta exploração implicou o desenvolvimento de atividades
como a pesca, a construção naval e do artesanato, principalmente peças de cerâmica para o
transporte de produtos.

O Cristianismo: de religião proibida a religião oficial do império

O Cristianismo surgiu na Palestina, na província romana da Judeia. A nova


religião era inovadora: Cristo foi visto por muitos como o Messias anunciado no Antigo
Testamento, transmitindo uma mensagem de igualdade, liberdade, amor ao próximo,
fraternidade, paz,…

As autoridades romanas, temendo a revolta das populações, estão na origem da


crucificação de Cristo, até porque os cristãos, sendo monoteístas, recusavam prestar culto ao
Imperador.

Com uma mensagem que agradava à maioria da população, o Cristianismo


rapidamente se espalhou, apesar dos romanos o proibirem. Os cristãos foram perseguidos
violentamente, praticando o seu culto às escondidas, nas catacumbas. As perseguições fizeram
milhares de vítimas, sendo muitos considerados mártires.
A partir do século II, começa a verificar-se uma mudança importante: mesmo entre as
classes mais poderosas, muitos aderem ao Cristianismo. Esta mudança está na origem do
triunfo desta religião, o que se iria concretizar no século IV: em 313, o imperador Constantino,
pelo Édito de Milão, decretou a liberdade religiosa dos romanos. Assim, o Cristianismo deixava
de ser proibido. Em 380, o imperador Teodósio decretou, no Édito de Tessalónica, que o
Cristianismo passava a ser a religião oficial dos romanos. Mais tarde foi proibido o culto aos
outros deuses.

A queda do império romano do ocidente

Os séculos III e IV foram de grande instabilidade no império romano. A sua


grandeza fazia aumentar as lutas pelo poder. Para tentar apaziguar os conflitos, no século III, o
imperador Diocleciano dividiu o poder com mais um imperador e dois “co- imperadores”,
sistema político designado por Tetrarquia Imperial.

Esta solução não acabou com a instabilidade, pelo que, no século IV, o imperador
Teodósio dividiu o império em ocidental e oriental (esta parte com capital em Constantinopla).

Para além da crise interna, os romanos tinham uma forte ameaça externa: os povos
bárbaros. Estes viviam na Europa Central (Germânia) e, desde o século III, que milhares
emigravam para o império romano. Muitos deles ocupavam cargos importantes na
administração e no exército. Esta “invasão pacífica” abriu caminho para as grandes invasões do
século V.

Estas invasões provocaram o fim do império romano do ocidente. O mapa político da


Europa sofreu profundas alterações: antes, tudo era dominado pelos romanos (havia unidade
política). No século V, a Europa fragmentou-se em vários reinos. Os principais reinos bárbaros
eram: Suevos e Visigodos na P. I.; Francos e Burgúndios na Gália; Anglo-Saxões na Grã-
Bretanha; Ostrogodos na P. Itálica e Vândalos no norte de África.
Módulo 2 – Dinamismo civilizacional da Europa Ocidental nos séculos XIII a XIV –
espaços, poderes e vivências

1. A identidade civilizacional da Europa Ocidental

A geografia política da Europa Ocidental: se até ao século V, a Europa Ocidental teve


unidade política, uma vez que todo o território era governado pelos romanos, o mesmo já não
aconteceu nos primeiros séculos da Idade Média: com as invasões bárbaras formaram-se
vários reinos, ou seja, começava a fragmentação política da Europa Ocidental. Nos séculos que
se seguiram, acentuou-se a instabilidade política, provocada principalmente por guerras
constantes, as quais alteravam as fronteiras dos reinos, faziam aparecer uns e desaparecer
outros.

A ideia de império, em alguns momentos, voltou a estar presente, através de


tentativas para restabelecer a unidade política na Europa. Os exemplos mais importantes são o
Império Carolíngio e o Sacro Império Romano-Germânico. Estes impérios acabaram por não
perdurar muito no tempo, sinal evidente que a unidade política da Europa jamais voltaria ao
tempo dos romanos.

A emergência de poderes locais na Idade Média: os primeiros séculos da Idade Média


ficaram marcados por guerras quase constantes. O poder central, em muitos reinos, começou
a ficar enfraquecido: os reis, devido à necessidade de povoar e defender os seus territórios,
começaram a doar aos senhores do clero e da nobreza parcelas de terra, de dimensão variável:
os senhorios ou domínios senhoriais.

As populações, desejosas de paz, entregavam-se à proteção desses senhores, indo


viver e trabalhar para os seus territórios. Inicialmente, os senhores apenas tinham autoridade
sobre a terra. Com o passar do tempo, adquiriram também poder sobre os homens.

Ao conjunto dos poderes e autoridade que os senhores exerciam, designava-se poder


de ban, o qual lhes permitia governar os seus territórios como verdadeiros reis: podiam
constituir os seus próprios exércitos, aplicar a justiça e exigir o pagamento de impostos.
A constituição de um domínio senhorial: os senhorios estavam divididos em duas
partes – a reserva e os mansos. A reserva era a parte principal: para além da casa do senhor,
tinha as terras mais férteis. Estas eram cultivadas pelos camponeses, trabalhando
gratuitamente para o senhor (corveias). Os mansos eram pequenas parcelas de terra que o
senhor arrendava a cada família de camponeses, em troca do pagamento de impostos. Pelo
uso do moinho do lagar ou do forno do senhor, os camponeses também tinham que pagar
impostos: as banalidades.

As comunas: para além dos senhorios a partir do século XI, surgiu um outro poder local
as comunas, com uma origem muito diferente da dos senhorios – a partir do século X a
economia da Europa começou a recuperar e a população a aumentar. O crescimento
económico foi sustentado numa maior produção agrícola, com a acumulação de excedentes, o
que possibilitou o ressurgimento do comércio. Aliada a esta situação, vivia-se na Europa uma
época de mais paz e estabilidade social.

Neste contexto, as cidades renascem, atraindo cada vez mais população. Muitas
cidades estavam dentro de domínios senhoriais, o que obrigava os seus habitantes ao
cumprimento de inúmeras obrigações para com o senhor. É o desejo de se libertarem dessas
obrigações e de adquirirem algumas regalias que está na origem das comunas: os habitantes
das cidades começaram a associar-se para lutar pelos seus direitos, principalmente a burguesia
ligada ao comércio. Em muitos casos, recorrem à luta armada para obter a carta comunal. Era
nesta que estavam incluídas regalias, as liberdades e as obrigações dos habitantes da comuna.

A evolução económica e demográfica da Europa a partir do século X

Nos primeiros séculos da Idade Média, a Europa passou por graves dificuldades
económicas. A economia ruralizou-se, sendo baseada numa agricultura de subsistência. O
comércio quase desapareceu, devido à insegurança provocada pelas guerras e devido à
escassez de produtos. A terra e a sua posse eram sinónimo de riqueza e poder.
Demograficamente, registou-se uma acentuada quebra da população.

A partir do século X, verificou-se uma mudança no quadro económico e demográfico


da Europa: a agricultura teve alguns progressos qua a iriam tornar mais produtiva. Destacam-
se os seguintes: aumentou o número de arroteamentos (para aumentar a área de cultivo);
começou-se a adotar o afolhamento trienal, em qua apenas um terço da terra ficava em
pousio (e não metade como no afolhamento bienal); alterou-se o sistema de atrelagem dos
animais; começou a usar-se mais o ferro nos instrumentos agrícolas; a charrua começou a
substituir o arado.

Todos estes progressos, aliados a um clima de maior paz, possibilitaram o início da


recuperação económica e demográfica da Europa.

O ressurgimento das cidades: nos primeiros séculos da Idade Média, as cidades


perderam importância. Na época das invasões, muitas delas ficaram despovoadas e perdeu-se
o dinamismo económico do tempo dos romanos.

A partir do século XI, assiste-se a uma progressiva recuperação do espaço urbano. Na


sua origem está o comércio: o aumento da produção e o clima de maior paz, fez aumentar o
número de feiras e mercados, que atraiam muita população. Para além dos comerciantes,
também muitos artesãos se fixavam nas cidades. Este afluxo de população fez com que o
espaço dentro das muralhas ficasse saturado, o que obrigou à construção de novos bairros, os
burgos. Daí a designação de burgueses aos seus habitantes. Foi esta burguesia que
desempenhou um papel fundamental na recuperação das cidades.

A interdependência entre o campo e a cidade começava a ser cada vez mais evidente:
o mundo rural fornecia principalmente produtos agrícolas, a cidade fornecia ao campo bens e
serviços.

As principais áreas do comércio europeu nos séculos XII e XIII

- cidades italianas: destacavam-se no comércio que faziam com os muçulmanos do


norte de África e do Oriente, através do Mar Mediterrâneo. Cidades como Génova e Veneza
compravam especiarias, tecidos, tapetes ou pedras preciosas, que eram depois por eles
distribuídos por toda a Europa. Esta ação de intermediários entre a Europa Cristã e o Oriente
Muçulmano, proporcionou às cidades italianas imensos lucros. Outras cidades como Milão e
Florença destacavam-se igualmente pela produção têxtil.

- Flandres: região que se destacava pela sua abundante produção têxtil. Os seus
produtos eram apreciados em toda a Europa.
- cidades da Liga Hanseática: várias cidades, sobretudo alemãs associaram-se com o
objetivo de dominar o comércio no norte e na zona mais ocidental da Rússia (Mar do Norte e
Mar Báltico). Eram os intermediários no comércio entre o norte e oriente da Europa e a zona
mais ocidental. Aqui compravam, por exemplo, o vinho e o azeite. Do oriente e norte traziam
para o ocidente cerais, mel, arenques…

- feiras da região de Champagne: eram feiras de dimensão internacional, que


beneficiavam da sua localização geográfica favorável (no centro da Europa), atraindo
mercadores de toda a Europa.

A crise europeia do século XIV

Se nos séculos XI a XIII a Europa conheceu um período de recuperação


económica e demográfica, o século XIV voltou a ser de crise. Para isso, contribuíram os
seguintes fatores (causas):

- as fomes: maus anos agrícolas, com fracas colheitas, agravadas pelas más condições
climatéricas, originaram escassez de produtos. Em muitos países da Europa houve crises de
fomes;

- as doenças: uma população mal alimentada apanha doenças com mais facilidade. O
século XIV foi um século de muitas doenças, muitas delas epidémicas. A principal foi a Peste
Negra, que afetou quase toda a Europa, matando cerca de 1/3 da população;

- as guerras: ao contrário dos séculos anteriores, no século XIV voltaram as guerras em


grande quantidade. A principal foi a Guerra dos Cem Anos, que envolveu vários países
europeus.

As consequências da crise

- Demográficas: registou-se uma acentuada descida da população europeia.

- Económicas: diminuição da produção, com o consequente aumento dos preços dos


produtos (inflação). O despovoamento dos campos originou falta de mão-de-obra. Os
rendimentos dos senhores diminuíram bastante.
- Sociais: muitas revoltas nos meios rurais e urbanos – nos campos, os camponeses
revoltaram-se contra o aumento dos impostos. Nas cidades, foram sobretudo os artesãos que
se revoltaram contra os salários baixos e falta de condições de trabalho.

A formação do reino de Portugal

A formação de Portugal insere-se no contexto político da época: as guerras


constantes e as lutas pela posse de territórios, explicam a formação da maior parte dos reinos
na Idade Média.

A Península Ibérica, no século VIII, era governada pelos Visigodos. No início desse
século, em 711, o território foi invadido por povos muçulmanos, vindos do norte de África.
Conquistaram, rapidamente, todo o território, à exceção da região mais a norte, nas Astúrias.
Foi aqui que os Visigodos se refugiaram e vão iniciar uma guerra para tentar recuperar os
territórios perdidos: a Guerra da Reconquista Cristã, na qual irá surgir o reino de Portugal.

Foi uma guerra que durou vários séculos, feita de avanços e recuos, tendo-se
inicialmente formado vários reinos cristãos: Leão, Castela, Navarra e Aragão.

Os cristãos contaram com a ajuda dos cruzados: cavaleiros que combatiam em nome
do Cristianismo.

Em 1096, o rei de Leão, Afonso VI, doou o Condado Portucalense ao cruzado D.


Henrique, como recompensa pelos serviços prestados. O Condado não era independente. D.
Henrique era vassalo do rei de Leão, devendo-lhe obediência.

A independência do Condado seria obtida em 1143, no Tratado de Zamora, quando o


rei de Leão e Castela reconheceu D. Afonso Henriques como rei. Este continuou a alargar o
território, lutando contra os muçulmanos.

Faltava o reconhecimento do Papa, o que aconteceu em 1179.

Os primeiros reis de Portugal continuaram a guerra contra os muçulmanos. Só em


meados do século XIII se reconquistou o Algarve. Em 1297, foi assinados o Tratado de
Alcanises, no qual ficaram definidas as fronteiras de Portugal.
Para além da nobreza guerreira, também foi muito importante para a definição do
território nacional a ação das ordens religiosas militares, as quais foram determinantes na
guerra no Alentejo e Algarve.

A sociedade senhorial em Portugal

À semelhança do que aconteceu no resto da Europa, também em Portugal se


formou uma sociedade dominada pelos grandes senhores do clero e da nobreza.

Estes dois grupos sociais desempenharam um papel muito importante durante a


guerra da Reconquista, ajudando na formação do país e na definição das suas fronteiras. Deste
modo, os primeiros reis de Portugal viram nos grandes senhores fortes aliados para a defesa e
povoamento do território. Distribuía-lhes cargos importantes na administração do reino e
doavam-lhes propriedades mais ou menos extensas (domínios senhoriais).

O exercício do poder senhorial concedia aos grandes senhores vários privilégios e


imunidades. Os senhores tinham poder sobre a terra e sobre os homens que nela trabalhavam.
Aos poucos, libertaram-se da influência dos reis, comportando-se como tal nos seus senhorios.
Aliás, os senhorios do rei (reguengos) eram poucos, quando comparados com os senhorios da
nobreza (honras) e do clero (coutos).

Inicialmente, a imunidade do senhor dizia apenas respeito à área fiscal (impostos).


Depois, alargou-se a outras áreas, como a justiça.

Em relação à posse da terra, eram muitos e variados os impostos aplicados aos


camponeses: corveias (trabalho gratuito), as banalidades (pagos devido ao uso de
instrumentos agrícolas e outros utensílios do senhor), a aposentadoria (obrigação de alojar o
senhor e a sua comitiva quando percorriam o senhorio), o jantar (obrigação de alimentar o
senhor e a sua comitiva) …

A exploração económica dos senhorios em Portugal: era muito semelhante ao que


acontecia no resto da Europa – o domínio senhorial dividia-se em duas partes (a quintã ou
reserva e os casais ou mansos). O trabalho era feito pelos camponeses, muitas vezes sob a
forma de trabalho gratuito (as jeiras ou corveias).
Nem todos os habitantes dos domínios senhoriais tinham o mesmo estatuto perante o
senhor: os mais favorecidos eram os herdadores, que não tinham qualquer vínculo com o
senhor, sendo proprietários das suas terras, quase sempre recebidas por herança. A maior
parte dos habitantes dos senhorios eram colonos, camponeses aos quais o senhor arrendava
os mansos ou casais, tendo que pagar impostos ao senhor. Havia também os servos, que não
podiam abandonar o senhorio. Nas épocas de mais trabalho, o senhor podia recorrer a
assalariados. Na base desta estrutura social dos senhorios estavam os escravos, a maior parte
deles muçulmanos capturados durante a guerra da Reconquista.

Os concelhos

Os primeiros reis de Portugal promoveram o aparecimento de um novo tipo de


poder local: os concelhos. Na sua origem estão objetivos políticos e económicos: a guerra da
Reconquista tornava necessário o povoamento e a defesa dos territórios, principalmente nas
regiões fronteiriças, mais desabitadas. Além disso, era uma forma dos reis reafirmarem o seu
poder perante os grandes senhores. Economicamente, a criação de concelhos iria possibilitar
aos reis arrecadar mais impostos, o que não aconteceria se os territórios estivessem sob a
jurisdição de um senhor.

A criação dos concelhos levanta a seguinte questão: “Será uma forma de centralizar ou
descentralizar o poder?” Esta questão pode ser analisada de duas formas distintas: se os reis
criaram concelhos para impedir que os senhores ficassem com mais poder, obtendo mais
territórios, podemos concluir que estavam a tomar medidas para centralizar o poder. No
entanto, ao dar autonomia às populações dos concelhos, podendo as mesmas tomar algumas
decisões sobre a vida política, económica ou judicial da sua povoação, os reis estavam a
descentralizar o poder. Deste modo, pode-se dizer que os reis estavam a “centralizar o poder,
descentralizando-o”.

O documento que criava um concelho era a carta de foral, na qual estavam definidos
os direitos e os deveres dos seus habitantes.

De forma a garantir o povoamento e a defesa dos territórios, a carta de foral continha


vários direitos para beneficiar a vida das populações, para as atrair para a região. De entre
esses direitos, destacam-se: os habitantes dos concelhos tinham a possibilidade de determinar
a forma de explorar a terra; podiam eleger os seus magistrados; podiam decidir o lançamento
de impostos a aplicar localmente e estavam isentos da aplicação de direitos senhoriais.

No entanto, também tinham algumas obrigações, com destaque para o pagamento de


impostos ao rei e o pagamento de portagens sobre a circulação de produtos.

Os concelhos eram constituídos pela vila, pelo arrabalde e pelo termo. A vila era a
parte principal, onde se situavam os edifícios administrativos e onde viviam os mais ilustres do
concelho. Era também lá que se situava o mercado. Os arrabaldes eram os bairros que se
construíam fora do espaço muralhado (burgos), habitados por camponeses, mas
principalmente por comerciantes e artesãos. O termo era composto por campos e zonas
florestais, área que servia a vila e o arrabalde de produtos agrícolas.

O exercício do poder nos concelhos

Os habitantes dos concelhos eram designados por vizinhos. Nem todos tinham
o mesmo estatuto económico, político e social. A principal distinção era entre os “homens-
bons” ou “cavaleiros-vilãos” e os peões. Os primeiros eram detentores das maiores fortunas,
eram grandes proprietários rurais e tinham o estatuto social mais elevado. Eram eles que
ocupavam os cargos políticos nos concelhos.

No escalão inferior da sociedade dos concelhos, tínhamos os peões. Eram


economicamente menos favorecidos, podendo ser proprietários de pequenas terras e, com o
passar do tempo, deixaram de ter acesso à assembleia.

Apesar de variar de concelho para concelho, no geral tinham a seguinte organização


política: tinham uma assembleia de “homens-bons”, onde eram aprovadas as leis de âmbito
local e se elegiam os magistrados. Estes tinham como principal função a administração da
justiça, que era aplicada junto ao pelourinho, no centro da vila.

Havia funcionários para inspecionar os mercados, os almotacés. Os procuradores eram


os representantes externos dos concelhos. O chanceler tinha a função de guardar o selo e a
bandeira do concelho. Havia ainda os vereadores, com funções executivas e legislativas.
O poder régio:

No nosso país, os reis representavam a autoridade máxima e, desde sempre,


procuraram afirmar o seu poder perante os grandes senhores.

Logo nos séculos XII e XIII, os reis estabeleceram com os senhores do clero e da
nobreza contratos de vassalagem, ficando unidos por laços de fidelidade e obediência. Os
vassalos também deviam prestar auxílio ao monarca (por exemplo, colocar o seu exército ao
serviço do rei). Como recompensa, o rei entregava aos seus vassalos o feudo. Este podia ser
uma recompensa em dinheiro, a atribuição de um cargo importante ou, quase sempre, um
domínio senhorial.

A centralização do poder

Os reis portugueses nunca abdicaram de alguns poderes exclusivos. Por exemplo,


tinham a seu cargo a chefia militar, que lhes permitia convocar os homens para a guerra.
Também cabia ao rei a administração da justiça. Era o detentor da “justiça maior”, que lhe
permitia aplicar a pena de morte e o corte de membros.

Para se afirmarem, os reis foram-se tornando os principais legisladores. As suas leis


sobrepunham-se às leis dos senhores e dos concelhos, sendo aplicadas em todo o reino, com o
objetivo de combater os privilégios dos grandes senhores.

Para auxiliar o rei na aplicação da justiça, foram criados corpos de juízes, que atuavam
a nível local.

As questões económicas também mereceram atenção por parte dos reis: só eles
podiam mandar cunhar moeda, definir a valorização ou a desvalorização da moeda e o
tabelamento de preços.

Nas questões defensivas, D. Dinis criou os Besteiros do Conto, grupos de homens


armados dos concelhos, para servir o rei.
A reestruturação da administração central

A Corte, nos primórdios da nação, tinha como órgão consultivo do rei a Cúria
Régia, constituída pela sua família e por membros do alto clero e da alta nobreza. Incluía
também os mais altos funcionários da Corte: o mordomo-mor, o chanceler-mor e o alferes-
mor. O rei não era obrigado a aceitar as determinações da Cúria.

A partir do século XIII, a Cúria Régia foi substituída pelo Conselho Régio. Este era
constituído principalmente por membros da nobreza e do clero ligados ao Direito (legistas),
uma vez que o rei precisava de se aconselhar a este nível.

A partir do século XIII, surge outra assembleia com caráter consultivo: as Cortes. Estas,
para além do clero e da nobreza, eram constituídas por membros do povo, nomeadamente
burgueses dos concelhos.

O combate à expansão senhorial: os primeiros reis de Portugal tomaram várias


medidas legislativas para combater o poder dos senhores e eventuais abusos por parte dos
mesmos.

- Leis de Desamortização: leis que proibiam os membros do clero de adquirir mais


propriedades. Desta forma, pretendia-se evitar que aumentasse ainda mais o seu valioso
património;

- Inquirições: funcionários do rei eram enviados por todo o país para verificar se algum
senhor se tinha apropriado indevidamente das suas terras (reguengos);

- Confirmações: o rei exigia que os senhores comprovassem legalmente que as


propriedades que possuíam lhes tinham sido efetivamente doadas por reis anteriores.

A arte românica e a arte gótica


A arte românica surgiu nos séculos X e XI, numa época ainda muito marcada
pelas guerras e em que a Europa ainda atravessava muitas dificuldades económicas.

Toda a arte é um reflexo das características da época em que surge. Por isso, as
características da arte românica e da arte gótica refletem a conjuntura das épocas em que
cada uma surgiu.

A arte românica é uma arte pobre, com pouca decoração, e os monumentos


apresentam uma estrutura sólida, volumosa, à semelhança das estruturas defensivas da época
(muralhas e castelos). Os monumentos românicos serviam, muitas vezes, como locais de
refúgio das populações. As poucas e estreitas aberturas criavam um ambiente com pouca
luminosidade, propício à meditação e oração.

A utilização de arcos de volta perfeita, de abóbadas de berço, de contrafortes para


sustentar o peso do monumento e a planta em forma de cruz latina, são outras características
da arquitetura românica. O monumento mais característico dessa arte são os mosteiros.

A arte gótica tem características muito diferentes da arte românica, até porque surgiu
numa época com características distintas: as cidades estavam a reanimar-se, devido ao
comércio, a burguesia estava a emergir e queria afirmar-se. A prosperidade económica irá
ajudar a que a arte seja mais rica.

Assim, a partir do século XII, muitas cidades europeias embelezam-se com grandes
catedrais, símbolo do gótico. São monumentos mais ricos, a preocupação dos arquitetos era a
verticalidade (para mostrar poder e riqueza). São monumentos “mais leves”, com mais
decoração e amplas aberturas (vitrais e rosáceas), utilização de arcos em ogiva.

A escultura, quer do românico, quer do gótico, servia para embelezar os monumentos


arquitetónicos. Tinha também uma função doutrinária: numa época de muito analfabetismo, a
escultura era um “livro em pedra”, dando ensinamentos às pessoas, principalmente de
episódios bíblicos.

As novas formas de solidariedade na Idade Média

A Idade Média fez com que os contrastes entre as pessoas aumentassem: de


um lado, os grupos privilegiados e a burguesia a viver luxuosamente, do outro o povo vivendo
com muitas dificuldades, no meio da pobreza e miséria.
É neste contexto que apareceram as ordens mendicantes: muitos membros do clero
levavam uma vida de ostentação e luxo, dando demasiada importância aos bens materiais,
afastando-se dos princípios defendidos por Cristo. Assim, os Franciscanos e os Dominicanos
vão optar por levar uma vida humilde, vivendo da caridade, para dar um exemplo de vida mais
de acordo com os ideais cristãos.

As confrarias: têm origem na devoção a um santo. Realizavam festas e outras


atividades e os confrades pagavam uma cota. O dinheiro que angariavam servia para ajudar os
mais necessitados e os doentes.

As corporações: estão relacionadas com o mundo do trabalho. Trabalhadores do


mesmo ramo de atividade organizavam-se e prestavam assistência em caso de doença,
acudiam a situações de pobreza ou desemprego.

O ensino na Idade Média

Nos primeiros séculos da Idade Média praticamente só havia escolas nos


mosteiros (escolas monacais), destinadas à formação dos clérigos.

Mais tarde, devido ao ressurgimento das cidades, surgiram as escolas catedrais,


também frequentadas por leigos (pessoas fora do clero). Estas escolas visavam responder às
necessidades dos burgueses, que precisavam obter formação em leis, administração…
Apareceram também as primeiras Universidades, estabelecimentos de ensino para todos e
com maior abrangência de cursos. Estavam ainda muito ligadas à Igreja: para funcionarem
tinham que ter a autorização do Papa, muitos professores eram membros do clero e quase
todas tinham o curso de Teologia. Em Portugal, foi no reinado de D. Dinis que, em 1290, surgiu
a primeira Universidade (Estudos Gerais), em Lisboa.

Módulo 3 – A abertura europeia ao mundo – mutações nos conhecimentos,


sensibilidades e valores nos séculos XV e XVI
O Renascimento: eclosão e difusão - em termos culturais, os séculos XV e XVI ficaram
marcados pelo Renascimento, iniciado em Itália. Este movimento cultural tem como principal
característica o renascer do interesse pela cultura clássica da Antiguidade (grega e romana).
Durante a Idade Média a cultura clássica tinha estado “morta”, sendo esquecidos os seus
valores. Deus e a religião estavam no centro da vida.

A Itália foi o país em que o Renascimento começou, uma vez que muitas cidades
italianas tinham capacidade financeira para investir na cultura, devido aos lucros com o
comércio, principalmente o que faziam com os muçulmanos. Depois, outro fator, é o facto de
ainda haver muitos vestígios da época clássica nos quais os homens do Renascimento se
poderiam inspirar (monumentos, livros de autores gregos e romanos…).

Papas, príncipes, reis, nobres, clérigos e burgueses apoiavam e protegiam artistas,


escritores e a cultura em geral, encomendando obras, ajudando jovens nos estudos… –
praticavam o mecenato.

Os Países Baixos (Holanda) foi outro importante centro do Renascimento.

A importância da invenção da imprensa


Na Idade Média a reprodução dos textos escritos era muito lenta, feita pelos monges
copistas nos mosteiros. O livro era um bem raro, por isso muito caro, feito de materiais ricos,
sendo praticamente inacessível à população -“livro joia”.
No século XV, em plena época do renascimento, foi descoberta a imprensa
(Gutenberg). Esta invenção permitiu a reprodução de muitos exemplares de uma só vez. O
livro tornou-se mais barato e acessível, o que foi fundamental para a difusão da cultura
renascentista. Ao “livro joia” sucedeu o “livro útil”.

A importância de Lisboa e Sevilha na época do renascimento (cidades cosmopolitas)


No final da idade média os europeus tinham um conhecimento muito reduzido do
resto do mundo. Desconheciam-se mares e oceanos. Os contactos com África e Ásia
resumiam-se à região do mediterrâneo devido às trocas comerciais.
Nos séculos XV e XVI, os portugueses e os espanhóis foram pioneiros das grandes
descobertas marítimas, as quais abriram a Europa ao resto do mundo. Pela primeira vez podia-
se falar em comércio à escala mundial. É neste contexto que se iriam afirmar as cidades de
Lisboa e Sevilha. Eram os principais portos de chegada dos produtos coloniais. Eram cidades
cosmopolitas, onde viviam e trabalhavam pessoas das mais diversas origens.
Estas cidades possuíam instituições que serviam de apoio ao comércio colonial, como
por exemplo, em Lisboa, a casa da índia.
O império colonial português era mais disperso do que o império espanhol. Este
concentrava-se no continente americano. Os portugueses conquistaram, colonizaram ou
simplesmente mantiveram contactos comerciais com territórios em África, no Oriente e no
Brasil.

O alargamento do conhecimento do mundo:


Os mapas da Antiguidade e da Idade Média refletiam o conhecimento limitado e
imperfeito que os europeus tinham do resto do mundo. Alguns desses mapas eram baseados
em especulações de carácter religioso, características bíblicas e não em sólidos conhecimentos
científicos.
A partir do século XV as viagens marítimas de portugueses e espanhóis, vieram alargar
o conhecimento que os europeus tinham do mundo o que se refletiu numa cartografia muito
mais completa e rigorosa porque foi feita com base nos conhecimentos adquiridos
(experiencialismo).
Apesar do renascimento se inspirar na época antiga estamos perante um bom exemplo
de que os conhecimentos da antiguidade eram, muitas vezes, postos em causa, uma vez que
se provava estarem errados ou incompletos.
As observações e as experiências feitas pelos portugueses e espanhóis permitiram
corrigir muitos dos conhecimentos que vinham da antiguidade e permitiram aumentar os
conhecimentos em áreas como a botânica, a astronomia, a zoologia, a geografia, a
matemática,…
Assim, com base na observação e na experiência fizeram-se descrições da natureza
com correção científica, ou seja, um saber baseado no espírito crítico e experimentalismo.

O conhecimento científico da natureza


O desejo de conhecer a natureza é uma das características mais marcantes do
renascimento. Assistiu-se a um grande desenvolvimento das ciências exatas, principalmente da
matemática. Nesta época imperava uma mentalidade quantitativa, uma vez que havia uma
grande preocupação em atribuir números às coisas. Em toda a Europa produziam-se livros de
medidas e pesos.
No campo da astronomia destacou-se Nicolau Copérnico, que revolucionou a conceção
do universo até então existente: na idade média acreditava-se que a Terra era um astro imóvel
e que estava no centro do universo (geocentrismo). As observações de Copérnico levaram a
concluir que o sol estava no centro do universo e que os planetas giravam à sua volta incluído
a terra (heliocentrismo).

A produção cultural no renascimento: distinção social e mecenato

No Renascimento vai haver um grande interesse pela cultura. O acesso a ela e


a sua prática passam a ser formas de afirmação social. Assim, as elites sociais (clero, nobreza e
burguesia) viam na cultura um meio para se afirmarem e para alcançar destaque e a glória.
Deste modo, passa a ser frequente encontrar homens de negócios e cortesãos ligados a
atividade culturais, pessoas de grande sensibilidade estética e artística. É também nesta época
que o mecenato mais se desenvolveu: as elites sociais apoiaram e protegeram artistas e
intelectuais. Os próprios governantes patrocinavam o génio criativo e promoviam reuniões
sociais onde os artistas e os intelectuais eram indispensáveis.

Nesta época, a corte régia portuguesa também espelhava este entusiasmo


pela cultura. D. Manuel I e D. João III promoveram a criação de escolas e colégios, apoiaram os
escritores e os artistas e patrocinaram a construção de grandes obras arquitetónicas.

A arte do renascimento

A principal característica da arte renascentista é o classicismo: imitar as formas


e as temáticas dos gregos e dos romanos era uma “obrigação” para os artistas do
Renascimento que viam na arte clássica o paradigma da harmonia e da beleza. No entanto,
esta admiração pelos clássicos jamais conduziu a uma imitação servil – os artistas do
renascimento souberam superar os modelos da antiguidade, demonstrando uma notável
criatividade e capacidade técnica para inovar.

- Arquitetura renascentista
Influenciada pela antiguidade, a arquitetura procedeu a uma simplificação e
racionalização da estrutura dos edifícios. Verificou-se uma matematização rigorosa do espaço,
o que trouxe proporcionalidade entre as várias partes dos edifícios. Procurou-se também a
simetria absoluta. Aplicou-se a perspetiva linear, segundo a qual os edifícios se assemelham a
uma pirâmide visual, em cuja base se encontra o observador e no vértice está o local para
onde se deve olhar (ponto de fuga).

Na arquitetura do renascimento são inúmeras as influências clássicas: predomínio da


horizontalidade (numa clara oposição à verticalidade ao estilo gótico), preferiram-se as
abobadas de berço, construíram-se cúpulas e utilizaram-se os arcos de volta perfeita.
Utilizaram-se as ordens arquitetónicas clássicas (dórica, jónica e coríntia) e retomaram-se os
frontões triangulares.

De entre os principais arquitetos do renascimento podemos destacar os seguintes:


Miguel Ângelo, Brunelleschi e Bramante.

- A pintura renascentista

Nas características gerais da pintura renascentista destaca-se a paixão pelos clássicos.


Tal fez-se sentir no gosto pela representação de cenas do quotidiano. Deste modo, a pintura
refletia, também, a redescoberta do Homem e do Individuo. Porém, o que mais se destaca na
pintura do Renascimento é a sua originalidade e criatividade, presentes em:

- Pintura a óleo;

- Uso da técnica da perspetiva;

-Adoção de formas geométricas com preferência para a pirâmide;

-Representação rigorosa do Homem e da Natureza, evidentes na expressividade dos


rostos e no rigor anatómico.

Os principais pintores do renascimento foram: Leonardo da Vinci, Van Eyk, Rafael

- A escultura do renascimento

No Renascimento, a escultura recuperou a grandeza alcançada na Antiguidade.


Retomou-se o nu e as estátuas equestres voltaram a ser colocadas nas praças públicas.
Os pintores interessaram-se pela figura humana. Foram excelentes no rigor anatómico e na
expressividade das figuras.

Miguel Ângelo e Donatello foram dois dos principais escultores do renascimento.

- A arte do renascimento em Portugal: estilo manuelino

O estilo renascentista teve pouca expressão no nosso país.

Nos séculos XV e XVI, a arquitetura gótica renovou-se dando origem ao estilo


manuelino. Este é visível na decoração dos monumentos. Tem uma forte ligação com os
descobrimentos marítimos. Os monumentos contêm formas naturalistas em que os motivos
marítimos se conjugam com a vegetação (cordas, nós, algas, redes…). Também temos a
presença de símbolos do nosso país como a esfera armilar e o escudo real.

O mosteiro do Jerónimos, a Torre de Belém e a janela do Convento de Cristo em Tomar


são os principais monumentos do estilo manuelino.

As críticas à igreja católica dos séculos XV e XVI

O espírito crítico dos humanistas levou-os, nos séculos XV e XVI, a denunciar alguns
comportamentos menos corretos praticados por muitos membros do clero.

Já no século XIV o prestígio da igreja católica tinha sido abalado pelo Grande Cisma do
Ocidente: as disputas entre o poder temporal e o poder religioso originaram que houvesse
dois Papas, um em Avinhão outro em Roma.

Mas foi na época do renascimento que as criticas aumentaram:

- Muitos membros do clero eram acusados de viver no luxo, levando uma vida de
ostentação, preocupando-se em 1º lugar com os bens materiais;

- Muitos eram acusados de levarem uma vida imoral (em festas tinham mulheres, não
cumprindo o celibato…);

-Muitos eram acusados de ocupar vários cargos na Igreja, para daí tirarem mais
benefícios;
- Alguns padres eram acusados de corrupção, pagando para ocupar os cargos, sem
qualquer vocação religiosa.

Todas estas críticas tiveram consequências: no século XVI vão surgir novas igrejas
cristãs, as chamadas Igrejas Protestantes. A primeira foi fundada por Martinho Lutero (Igreja
Luterana). Surgiu também o Calvinismo fundado por João Calvino, na Suíça e o Anglicanismo,
fundado pelo rei de Inglaterra, Henrique VIII.

Igreja Católica Igrejas Protestantes

- A salvação alcança-se pela fé e boas - Basta ter fé para alcançar a


obras salvação

- 7 Sacramentos - 2 Sacramentos

- A autoridade máxima é o papa - Recusa a autoridade do papa

- Culto á virgem Maria e aos santos - Recusa o culto á virgem Maria e aos
santos
- Há uma hierarquia (cargos
superiores/cargos inferiores) - Não há hierarquia

- Só os sacerdotes podem interpretar - Qualquer um, depois do batismo,


a bíblia pode interpretar a Bíblia

A Contrarreforma

Perante o avanço das Igrejas Protestantes (principalmente no norte e centro da


Europa), a Igreja Católica sentiu necessidade de reagir. Essa reação teve duas vertentes: uma
reforma interna e medidas de combate às heresias.
Assim, o Papa Paulo III convocou o Concílio de Trento. Neste, ficou decidido não
alterar qualquer princípio da Igreja Católica. Por outro lado, os membros do alto clero
reconheceram que havia alguns aspetos a melhorar. Deste modo, vai ser imposta uma
disciplina mais rigorosa aos membros do clero para evitarem as críticas. Por exemplo, os bispos
eram obrigados a residir na sua diocese. Passou a ser proibido acumular cargos na Igreja.
Foram criados os seminários para formarem os futuros sacerdotes. Foram dadas
recomendações para evitarem o luxo excessivo e os comportamentos imorais.

A contrarreforma teve outros aspetos:

- A Companhia de Jesus: os seus membros (os padres jesuítas) tinham como


principal objetivo espalhar a fé católica cristã por todo o mundo. Desta forma tenta-se
compensar a perda de fiéis na Europa. Os portugueses e os espanhóis desempenhara um papel
importante neste aspeto, enviando padres jesuítas para as suas colónias;

- Reativação do Tribunal da Inquisição: este tribunal perseguia, prendia,


torturava e condenava os que eram acusados de praticar heresias – protestantes, judeus,
feitiçaria, homossexuais, bigamia… A sua ação foi particularmente violenta na Península
Ibérica, onde eram frequentes os autos de fé (cerimónias públicas onde eram executadas as
sentenças);

- Criação do Índex: lista de livros e outras publicações cuja leitura era proibida.
O objetivo era evitar que circulassem obras que continha críticas à Igreja Católica, ou que
fizessem a defesa de outras igrejas.

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