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O que é o Ocidente?
A civilização ocidental pode definir-se, numa forma genérica, pelo Estado de direito, a
democracia, as liberdades intelectuais, a racionalidade crítica, a ciência e uma economia
de liberdades. Nada disto é “natural”, estes valores e instituições são fruto de uma longa
construção histórica.
O Ocidente não é um povo, mas uma cultura liderada sucessivamente por diversos
povos. Nesta história foram implicados homens de diferentes etnias que assumiram
voluntariamente valores estranhos ao seu grupo de origem.
Tomemos como exemplo os romanos que se helenizaram, os gauleses vencidos que
aceitaram de bom grado a latinidade (abandonaram completamente a sua língua em 2 ou
3 gerações), nos europeus pagãos que se converteram em massa ao cristianismo, na
própria Europa cristã que decidiu apropriar-se do direito romano e da ciência grega e
fazer destes passados o seu próprio passado, a fonte das suas normas, do seu imaginário
e da sua identidade.
Estes grupos assumiram uma filiação espiritual que não correspondia à sua filiação
biológica ou étnica, mas que resultou da escolha livre dos seus dirigentes e dos seus
pensadores.
Pólis
Poléis no plural.
Pólis significa “cidade-estado” em grego.
Surge na Grécia no século VIII a.C. e atinge o apogeu nos séculos VI e V a.C.
Designa uma cidade muralhada, em cima de um monte. Posição destacada por
razões estratégicas.
Apareceram devido à descontinuidade territorial, ou seja, à existência de
imensas ilhas, o que justifica a separação e organização local, pois era difícil
manter o contacto com as restantes ilhas e deslocar-se para outros locais.
A origem das poléis encontra-se na necessidade de proteção mútua. Têm esta
designação pois eram cidades autónomas (sustentavam-se a si próprias) e
autárquicas, tinham o seu próprio estado (por exemplo, uns estados regiam-se
pela oligarquia e outros pela aristocracia). Tinham uma constituição própria,
pilar da liberdade e da lei.
A única vez que as póleis se uniram foi para atacar um inimigo em comum, os
persas.
Possuíam economia e moeda própria, o Dracma.
Território onde há uma língua comum, partilhavam a religião (porém cada pólis
tinha o seu próprio deus protetor) e os costumes, mas que se encontra dividido
em pequenos territórios num binómio cidade/campo designado por
“astu” / “chora”. “Astu” que significa aquilo que está entre muralhas e “chora”
que são os campos em volta das muralhas, que dão recursos à cidade.
São realmente pequenas. As poléis mais pequenas podiam nem chegar aos 1000
habitantes. A extensão máxima a que chegariam seria cerca de 3000km2. Atenas
tinha 2500 km2.
Em termos populacionais, as poléis de maior dimensão poderiam ter milhares de
habitantes, embora apenas uma pequena percentagem fossem realmente
cidadãos.
Esparta era das maiores poléis. Tinha 8000 km2, território invulgarmente grande,
era uma exceção.
A população era muito mais urbana do que aquilo que se esperaria, a maior parte
vivia no campo e eram trabalhadores camponeses.
Grupo populacional da pólis: cidadãos, escravos, estrangeiros (hóspedes, aqueles
que estão de passagem).
Instituições de governo: magistrados, um conselho e uma assembleia e ainda
tribunais, embora sendo uma realidade à parte.
Religião: deuses padroeiros, heróis típicos em cada região.
A mesma lei era aplicada para todos de forma igual, ou seja, isonomia e a pólis
era um espaço de crescimento do ser humano.
Autarcia: Significa que o estado se basta a si mesmo, isto é, tem recursos financeiros,
alimentares e população que lhe permite alcançar a autossuficiência. Assim eras as
cidades-estado gregas.
União cidade-campo: Necessária para que haja autarcia, ambos tem algo a oferecer ao
outro; Não são autossuficientes.
Soberania: O que reflete a pólis e o conjunto de cidadãos gregos políticos que decidem
as questões em votação direta. Ou seja, podemos afirmar que a soberania das cidades
gregas reside nas mãos dos seus cidadãos.
Horizontalidade de relações: O poder concentra-se em mais de uma pessoa, ou seja, o
poder está distribuído de forma equitativa, de modo a haver maior participação política
entre os indivíduos para alcançar maiores resultados. Por isso, o poder passa a
organizar-se em instituições para que nunca haja apenas uma pessoa com poder
absoluto.
Organização política: A maioria das cidades era governada segundo a aristocracia,
onde o poder residia naqueles que eram nobres, não pelo nascimento ou riqueza, mas
pela formação moral e intelectual de modo a atender os interesses do país.
1250 a.C.: Queda de Troia (Troia Homérica). Dá-se a união dos continentes europeu e
asiático.
O mito do Minotauro
Associado à civilização minoica temos a Lenda do Minotauro. O Minotauro ou “Touro
de Minos” é uma criatura da mitologia grega com corpo de homem, cabeça e cauda de
touro que habitava no labirinto do rei de Creta, Minos. Reza a lenda que esse labirinto
foi construído por Dédalo, arquiteto grego, com o intuito de proteger a população dessa
feroz criatura. O Minotauro teria nascido quando o seu pai, futuro rei de Creta, fez um
pedido ao deus dos mares, Poseidon. O pedido foi que ele, Minos, queria ser rei de
Creta. Poseidon disse então que enviaria a Minos um touro dos mares e que este deveria
ser sacrificado como oferta. Quando o touro surgiu dos mares, Minos não teve coragem
de sacrificar o animal pois achou-o muito bonito. Substituiu-o por um dos seus touros
com esperança de que Poseidon não notasse a diferença. Porém, o deus dos mares
percebeu que fora enganado e decidiu castigar Minos. Decidiu não lhe tirar o trono, mas
sim fazer com que a mulher de Minos, Pasífae, se apaixonasse pelo touro, sendo que
dessa união surgiu o minotauro. Anos depois, Minos derrotou Atena em uma guerra que
lhe custou um dos filhos. Atena como vingança, ordenou que todos os anos fossem
enviados 7 rapazes e 7 raparigas atenienses para o labirinto para matar a criatura. Após 3
anos de sacrifícios, um jovem de nome Teseu decidiu enfrentar o minotauro
voluntariamente. Ao chegar ao palácio, apaixonou-se por uma das filhas do rei, Ariadne.
Esta, correspondendo à paixão de Teseu, entregou-lhe uma espada mágica para matar o
minotauro e também um novelo de lã para ele encontrar o caminho de volta. Teseu ficou
algum tempo à procura do minotauro, pois teve de ser cauteloso para não ser apanhado
de surpresa. Quando ele o viu a atacar um dos atenienses, apunhalou-o por trás e matou-
o. Após isso, Teseu resgatou os atenienses e voltou pelo caminho do novelo de lã para
encontrar a sua amada. Este episodio não só tornou Teseu um dos maiores importantes
heróis da Grécia, como também estreitou os laços entre Creta e Atenas.
Boas Maneiras
Hospitalidade:
Modo amável de acolher alguém numa situação desfavorecida.
Valor social e sobretudo individual do povo grego. A vida do homem grego é
atrelada a direitos e deveres mútuos daqueles que convivem na pólis.
Valor essencial à estruturação do mundo homérico por ser um valor que visa o
desenvolvimento humano. O valor manifesta-se como porto seguro para aqueles
que se aventuraram para além dos seus reinos.
Garante a segurança física do indivíduo e a integridade social.
Súplica:
Implorar por algo.
Relaciona-se com a hospitalidade. Ao suplicar apela-se ao sentido de
humanização, à solidariedade e compaixão para com o próximo- dignidade
humana.
A Ilíada
24 cantos.
Obra fundadora da literatura ocidental e uma das mais importantes.
Juntamente com a Odisseia, é uma das obras mais importantes a nível mundial.
Influenciou fortemente a cultura clássica, a historiografia, a filosofia, etc.
Tema da mitologia.
A história passa-se no 10º ano da Guerra de Troia.
O tema principal é a cólera/ira de Aquiles, causada pelo seu desentendimento
com Agamémnon e consumada com a morte do herói troiano Heitor, terminando
com o seu funeral.
Os deuses misturam-se com os humanos (juntos no campo de batalha)
Durante quase 3 mil anos, os leitores viram na Ilíada uma comovente expressão de
heroísmo e idealismo, bem como da tragédia da guerra. Esta obra começa in medias res,
ou seja, no meio dos acontecimentos (narrados 14 dos 50 dias).
Todos os seres humanos são submetidos ao destino. Os gregos deveriam saber combater
e ter uma boa oratória. Não há grandes alegrias ao longo na narração.
Para melhor compreensão, é necessário mencionar que Aquiles é um sanguinário, matou
todos os filhos de Príamo, incluindo Heitor, que era o defensor das muralhas. Príamo
põe a sua vida em risco para reclamar o cadáver do seu filho. 12 dias de tréguas,
princípio de honra, tempo para fazer os rituais fúnebres.
Na sua maioria, a história ocorre no campo grego, dentro dos muros de Troia e nas áreas
próximas.
Personagens
Aqueus:
Aquiles (filho de Tétis): herói e melhor de todos os guerreiros. A sua ira é o tema
principal de toda a Ilíada. Vinga a morte de Pátroclo matando Heitor num duelo.
Agamémnon: Rei de Micenas e comandante supremo dos aqueus, a sua atitude para
com a escrava Briseida é a acendalha para o desentendimento dos dois.
Pátroclo: Amigo de Aquiles. Morto por Heitor que o confundiu com Aquiles.
Odisseu (Ulisses): Rei de Ítaca, considerado o “astuto” e “ardiloso”. Frequentemente
faz o papel de embaixador entre Aquiles e Agamémnon. Foi ele quem teve a ideia de
armadilhar os troianos. É a personagem principal da Odisseia.
Menelau: Rei de Esparta, marido de Helena e irmão de Agamémnon.
Calcas Testórides: Poderoso vidente que guia os aqueus. Foi ele quem predisse que era
necessário devolver Briseida ao pai e que a guerra duraria 10 anos.
Ajax: Mais forte e habilidoso dos guerreiros gregos, depois de Aquiles, era praticamente
imbatível e, graças a ele, os gregos conseguem diversas vitórias contra os troianos.
Ajax (filho de Ileu): Liderou um destacamento de Lócrida durante a guerra na qual
desempenhou um papel importante.
Nestor: Um dos guerreiros gregos e, embora idoso, era conhecido pela sua coragem.
Diomedes: Príncipe de Argos, participou no arco e na pilhagem de Troia.
Troianos:
Heitor (ou Hector): Príncipe de Troia, filho de Príamo e irmão de Páris. É o melhor
guerreiro troiano, herói valoroso que combate para defender a sua cidade e a sua
família. Líder do exército troiano. Mata Pátroclo em uma batalha achando que ele era
Aquiles porque usava a sua armadura. É morto por Aquiles em um duelo.
Príamo: rei de Troia, já é idoso, por isso deixa o comando da luta nas mãos do seu filho
Heitor.
Páris (ou Alexandre): Príncipe de Troia, a sua fuga com Helena á a causa da guerra. É
considerado o “homem mais belo de todos”, embora não possua as qualidades
valorizadas na época como a coragem e a honra do seu irmão Heitor. Tido como
covarde após fugir de um duelo, especula-se que foi a sua flecha que finalmente matou
Aquiles, acertando-o no calcanhar.
Eneias: Primo de Heitor e seu principal tenente. É a personagem principal da Eneida.
Helena: Esposa de Menelau, mas acaba por se casar com Páris em Troia. A mais bela
das mulheres. Com a queda de Troia, volta para Esparta e para Menelau.
Andrómaca: Esposa de Heitor, com quem tinha um filho, Astíanax.
Briseida: Prima de Heitor e Páris, capturada pelos aqueus, torna-se escrava de Aquiles e
os dois acabam por se apaixonar.
A morte de Pátroclo: O amigo mais próximo de Aquiles, Pátroclo, vai lutar para
ajudar os gregos, acabando assassinado por Heitor, filho de Príamo. A morte do amigo
desperta a ira e o desejo de vingança de Aquiles, que esquece as divergências com os
gregos e volta para a batalha. Os troianos procuram abrigo dentro dos muros de Troia.
Heitor fica fora e é morto por Aquiles, que arrasta o seu corpo ao redor do túmulo de
Pátroclo e depois o entrega ao rei troiano.
Canto I
Proposição e invocação (1.1-7)
Apresenta o tema central da obra, que é a cólera de Aquiles e as suas consequências
devastadoras durante a guerra de Troia. A invocação trata-se de um apelo às musas para
fornecerem ao poeta a capacidade de contar a história de maneira épica e grandiosa.
“O sacerdote de Apolo” (1. 8-32)
Crises, pai da capturada Criseida, suplica a Agamémnon para que este lhe devolva a
filha em troca de um resgate, mas o Atrida não aceita.
O deus Apolo, irritado, envia uma praga sobre o exército grego liderado por
Agamémnon. A praga causa uma epidemia, resultando em muitas mortes entre os
soldados.
“Os arautos vão buscar Briseida” (1.318-348)
Agamémnon ordena aos seus escudeiros Taltíbio e Euríbato que vão à tenda de Aquiles
buscar Briseida, como forma de compensação por ele ter sido obrigado a entregar
Criseida ao pai.
"O herói desonrado" (1. 488-492)
Aquiles sente-se ultrajado por Agamémnon lhe ter roubado Criseida. Este episodio é
fundamental para o desencadeamento da ira do herói grego.
"Tétis suplicante no Olimpo" (1. 493-527)
Tétis, mãe de Aquiles, suplica a Zeus a sua intervenção em favor de Aquiles, após este
ter abandonado a guerra devido à afronta de Agamémnon. Ela menciona o tratamento
injusto que o seu filho está a receber e pede a Zeus que apoie os troianos para que os
gregos percebam a importância do herói grego na batalha.
Síntese do canto: 10º ano da guerra. Desentendimento entre Aquiles e Agamémnon
devido à disputa sobre Briseida.
Canto II
Para cumprir a sua promessa a Tétis de ajudar os troianos, Zeus envia um sonho falso a
Agamémnon, no qual lhe aparece a figura de Nestor, que o convence de que poderá
derrotar e conquistar Troia se atacar as muralhas da cidade. No dia seguinte, o
comandante do exército aqueu reúne-o para dar início ao ataque, mas antes, para testar a
coragem dos soldados e a sua vontade de lutar, mente-lhes, dizendo-lhes que desistiu da
guerra e que vai voltar para casa. Por sua vez, os soldados correm para os navios, mas
Hera, ao ver isto, alerta Atenas, que inspira Ulisses, o mais eloquente dos gregos, a fazê-
los regressar. Acolitado por Nestor, o rei de Ítaca dirige ao exército palavras de
encorajamento e insultos, no sentido de despertar o seu orgulho e restaurar a sua
confiança e vontade de guerrear. Por outro lado, relembra-os dos sinais que indiciavam
a sua vitória na guerra, nomeadamente da profecia de Calcas, proferida aquando da
primeira reunião do exército aqueu na Grécia, segundo a qual uma cobra de água
deslizou até à costa e devorou um ninho de nove pardais. De acordo com o adivinho, a
profecia significava que passariam nove anos até que os Aqueus conquistassem Troia. E
aproveita para recordar aos soldados a sua jura de então de que não abandonariam a luta
até que a cidade fosse conquistada.
De seguida, Nestor encoraja Agamémnon a organizar os combatentes por cidade e clã,
para que pudessem lutar ao lado dos seus amigos, conhecidos e familiares. De seguida,
o poeta invoca as musas para auxiliarem a sua memória e enumera as cidades que
contribuíram com tropas para formar o exército grego, o número e homens com que
cada uma contribuiu e quem lidera cada contingente. No final da enumeração, o poeta
realça os mais bravos dos Aqueus, nomeadamente Aquiles e Ájax. Então, Agamémnon
dá início aos preparativos para a batalha e faz sacrifícios em honra de Zeus. Das tropas
que se preparam para o combate não fazem parte Aquiles e os Mirmidões, por causa da
sua jura de que não mais tomaria parte na guerra.
Zeus envia um mensageiro a Troia, avisando os Troianos sobre os preparativos do
exército aqueu. Aqueles reúnem as suas tropas sob o comando de Heitor, filho de
Príamo, o rei da cidade. Depois o poeta cataloga as forças troianas, à semelhança do que
tinha feito com os gregos.
Canto III
"A beleza de Helena" (3. 146-160)
Os regentes dos troianos comentam, junto às Portas Esqueias, a beleza de Helena, a
mais bela das mulheres.
A beleza de Helena era muitas vezes referida como “a face que lançou mil navios” ou “a
causa da Guerra de Troia”. É considerada a mulher mais bela do mundo antigo e a sua
beleza é um dos principais motivos para o conflito entre gregos e troianos (rapto de
Helena por Páris).
"Retrato de Agamémnon" (3. 161-170)
Helena e Príamo, seu sogro, estão nas muralhas de Troia a observar o campo de batalha
durante um intervalo. Ambos estão a tentar identificar os líderes gregos e a discutir
eventos que se desenrolam à sua frente. Príamo elogia Agamémnon, afirmando que é
alto e forte e que nunca tinha visto um homem tão belo e de aspeto tão nobre, chegando
a parecer um rei.
As qualidades do guerreiro homérico: beleza física, excelência na assembleia e no
campo de batalha.
Síntese do canto: Páris desafia Menelau para um duelo e perde, sobrevivendo sendo
salvo pela deusa Afrodite.
Canto IV
“Os dois exércitos” (4.422-438)
Os exércitos grego e troiano estão a preparar-se para o combate. Os gregos avançavam em
silêncio, todos se calavam com medo dos comandantes. Por outro lado, os troianos não
paravam de falar, não tinham todos a mesma língua pois eram originários de vários
povos.
Síntese do canto: Troia quebra o pacto e inicia-se a guerra.
Canto V
Diomedes, um soldado aqueu, é ferido por Pândaro, o que o leva a orar a Atenas, que
lhe confere uma força sobre-humana e o poder de discernir os deuses no campo de
batalha, mas alerta-o para não atacar nenhum, à exceção de Afrodite.
Dotado dos seus novos poderes, Diomedes massacra todos os inimigos que lhe surgem
pela frente. Eneias e Pândaro perseguem-no, mas Atenas guia-lhe a lança, que
proporciona uma morte horrível ao arqueiro, enquanto o herói da Eneida é ferido e só
não encontra a morte graças à intervenção de Afrodite, sua mãe. Diomedes fere também
a deusa, cortando-lhe o pulso e mandando-a de volta ao Olimpo, onde Dione, a sua mãe,
a cura, e Zeus a adverte para não voltar a interferir na guerra. Quanto a Eneias, é tratado
por Apolo, que o cura e devolve, posteriormente, à batalha, mas nesse percurso acaba
por ser atacado por Diomedes, gesto que configura uma transgressão ao acordo que
tinha feito com Atenas de não agredir qualquer outra divindade além de Afrodite. Apolo
avisa severamente o guerreiro grego e afasta-o do seu caminho, enquanto retira Eneias
do campo de batalha e deixa uma réplica do troiano no solo, para servir de motivação
aos companheiros. Por último, o deus do Sol incentiva Ares a lutar por Troia,
informando-o de que um aqueu (Diomedes) acabou de ferir a sua irmã (Afrodite).
Graças à ajuda divina, os Troianos parecem ganhar vantagem na contenda, sobretudo
graças à ação conjunta de Heitor e Ares, demasiado fortes para os inimigos. Os heróis
de ambos os lados vão vingando a morte dos seus homens. Alarmadas com o recuo dos
gregos, Hera e Atenas obtêm de Zeus a permissão para intervir no conflito em auxílio
dos Aqueus. Assim, Hera confronta os gregos com o facto de Aquiles nunca ter
permitido que os inimigos saíssem para além dos seus portões, enquanto Atenas permite
que Diomedes ataque outros deuses e o incentiva a acometer Ares, que é atingido pela
carruagem e voa de regresso ao Olimpo, onde reclama de Zeus, que lhe responde que
mereceu o seu ferimento. Atingido o seu propósito, Hera e Atenas retiram-se também do
campo de batalha.
Canto VI
“Glauco e Diomedes” (6.119-120)
Encontro entre o troiano Glauco, filho de Hipóloco, e o grego Diomedes, filho de Tideu,
ambos estão desejosos de combater.
“A geração humana é como as folhas das árvores” (6.144-149)
Comparação da linhagem das folhas com a dos homens. As folhas são atiradas ao chão e
logo a seguir nascem outras, o mesmo acontece com os homens, quando uma geração
acaba, nasce outra logo a seguir. Efemeridade da vida humana.
“Arete” (6.207-210)
Descrição de “arete”: valentia, superioridade em relação aos outros e nobreza.
“Deveres de hospitalidade” (6.212-215, 226-236)
Glauco e Diomedes, guerreiros de exércitos opostos, decidem trocar armaduras como
símbolo de amizade em vez de lutarem. Glauco conta a Diomedes sobre as suas origens
e o motivo pelo qual estão em lados opostos na guerra e ambos se apercebem que os
seus ancestrais eram amigos, decidem assim fazer um juramento de amizade, abstendo-
se de lutarem um contra o outro. A troca de armaduras entre os guerreiros destaca a
humanidade compartilhada, apesar das diferenças políticas e das exigências da guerra.
Este episódio realça o dever de hospitalidade da antiguidade clássica pois como os seus
ancestrais eram amigos, de modo a honrar essa ligação, Glauco e Diomedes trocaram
juramentos de amizade, dando continuidade ao antigo compromisso dos seus
antepassados.
“Despedida de Heitor e Andrómaca” (6.466-493)
Heitor visita a sua esposa Andrómaca, que está ocupada com o filho de ambos,
Astíanax, e observa, ansiosa, o combate que decorre em baixo, na planície. Ela implora
ao marido que se retire da luta, mas ele recusa a ideia, pois a sua honra não o permite e,
se o fizesse, morreria de vergonha, além de que não pode fugir ao seu destino, seja ele
qual for. Então beija o filho, que se assusta inicialmente com a crista do capacete, mas
acaba por corresponder ao afeto do pai numa cena familiar comovente. Quando Heitor
regressa à batalha, Andrómaca sofre, convencida de que o esposo morrerá em breve.
Síntese do canto: Heitor retorna a Troia e pede à sua mãe e às restantes mulheres para
orarem por ele no templo de Atena e que lhe façam oferendas. Despede-se da sua
mulher e do seu filho. Encontro entre Glauco e Diomedes.
Canto VII
O retorno de Heitor e Páris ao combate revigora as tropas troianas, mas Apolo e Atenas
decidem finalizar o combate naquele dia. Para tal, determinam a realização de um duelo.
Assim, a deusa envia uma mensagem telepática a Heleno: Heitor deverá desafiar o
guerreiro grego mais forte para lutar. É isso que o herói troiano faz: aproxima-se da
linha inimiga e desafia-a a indicar alguém para combater consigo. Menelau é o único
que tem coragem e dá um passo em frente, mas Agamémnon, consciente de que o irmão
não é páreo para Heitor, dissuade-o do intento. Nestor, que é demasiado velho para
responder ao desafio, exorta os seus companheiros a responder a Heitor. Nove
guerreiros aqueus respondem ao chamamento e, dentre eles, Ájax é selecionado por
sorteio.
Heitor intimida-se com a envergadura do gigante, mas não cede. Ataca-o ousadamente,
mas cada golpe é bloqueado pelo enorme escudo do adversário. Ájax fere ligeiramente o
troiano e derruba-o com uma pedra. Como a noite está a chegar, arautos estimulados por
Zeus cancelam a luta. Os dois heróis concordam em encerrar o duelo e trocam presentes
em sinal de amizade.
Nenhum dos lados está ansioso por regressar ao combate no dia seguinte. No
acampamento grego, Nestor insta os seus companheiros a solicitar uma trégua de vinte e
quatro horas para enterrar os mortos. Por outro lado, aconselha-os a construir
fortificações à volta do acampamento para proteção. No lado adversário, Príamo faz
uma proposta semelhante no que diz respeito à questão dos tombados em combate.
Além disso, Antenor, o seu conselheiro, pede a Páris que devolva Helena e, desta forma,
ponha fim à guerra, mas o príncipe troiano recusa, propondo como alternativa devolver
todo o tesouro que trouxe consigo de Esparta. Quando os gregos são confrontados com
esta proposta no dia seguinte, compreendem o desespero dos Troianos e sentem a sua
fraqueza, recusam o acordo, mas concordam em observar um dia de cessar-fogo para
sepultar os respetivos mortos. Os aqueus aproveitam também a pausa para construir
uma trincheira em torno dos seus navios, tarefa que é observada por Zeus e Poseidon,
que planeia destruir assim que os homens partirem.
Canto VIII
O desfecho da guerra vai alternando, no entanto, no final do presente canto, tudo parece
apontar para a derrota dos gregos. Heitor esteve prestes a apoderar-se das suas
fortificações, e os seus subordinados parecem mais determinados do que nunca. O
desespero mútuo por causa da guerra que esteve na origem de um cessar-fogo anterior
deixou de se fazer notar. Se antes os troianos ansiavam pelo fim do conflito, agora
querem vencê-lo a todo o custo, e o facto de acamparem, nessa noite, fora das muralhas
de Troia demonstra o quão desejam combater os inimigos.
No que diz respeito aos deuses, há que salientar o facto de Zeus, até este ponto da
narração, se ter mantido em grande parte fora da guerra, limitando a sua intervenção a
supervisionar as ações e diferendos dos outros deuses e a enviar sinais ou sonhos
ocasionais. No entanto, neste momento, assume o controle direto dos acontecimentos,
mudando a sua dinâmica de forma considerável: proíbe os outros deuses de intervirem e
mergulha de cabeça na luta. Antes, as intervenções das demais divindades em favor do
lado que apoiavam acabava por manter a luta equilibrada, não dando a nenhum dos
exércitos grande vantagem sobre o outro; todavia, a entrada em cena de Zeus a favor
dos troianos faz pender a balança claramente para o seu lado. Esta reviravolta súbita no
desenrolar da trama constitui uma mudança significativa no que diz respeito à dinâmica
humana no poema. Com efeito, tudo se desenvolve no sentido de preparar o regresso de
Aquiles ao combate. A própria declaração de Zeus a Hera, segundo a qual apenas o
retorno do líder dos Mirmidões poderá salvar os gregos do desaire, é sinónimo disso e
dá sinal de que o foco narrativo se vai concentrar, a breve trecho, na sua figura e ação.
Até agora, presenciámos as consequências nefastas (para os Gregos) da cólera de
Aquiles; o Canto VIII prepara o cenário para uma explosão dessa sua fúria no campo da
batalha.
Neste passo da obra, existem diversos aspetos simbólicos que convém destacar. Os
navios gregos simbolizam o lar e a possibilidade de fuga e de regresso ao seu conforto.
Assim sendo, a intenção de Heitor de os queimar constitui uma ameaça direta à sua
sobrevivência individual e enquanto povo. Sem nenhum outro meio de fuga, eles seriam
feitos prisioneiros e massacrados. Esta possibilidade é tanto mais significativa se
tivermos em conta que a esmagadora maioria dos homens gregos se encontram ali,
tendo muito poucos ficado em casa. Além disso, aqueles são os melhores dos gregos.
Deste modo, a sua eventual derrota implicaria que os homens e os governantes mais
destacados, fortes e nobres ali morreriam ou ficariam encalhados, deixando as suas
cidades e reinos à mercê de quem os quisesse conquistar.
Por outro lado, a nova postura de Zeus faz com que a balança penda fortemente a favor
dos troianos, o que torna imprescindível o regresso de Aquiles ao campo de batalha. O
palco foi devidamente preparado, para que o protagonista da peça assuma finalmente o
seu papel e ocupe o seu lugar central.
Canto IX
“Receção da embaixada” (9.192-204)
A pedido de Agamémnon, que está desesperado pois sente que vai perder a guerra,
Ájax, Fénix e Ulisses vão ao encontro de Aquiles de modo a tentar convencê-lo a
regressar ao combate. Agamémnon oferece um conjunto de presentes bastante valiosos a
Aquiles caso este aceite a sua proposta: Briseida, um futuro saque, uma das suas filhas e
sete cidades.
A embaixada grega encontra-o a tocar lira na sua tenda com o seu amigo Pátroclo.
Ulisses verbaliza a proposta de Agamémnon, mas Aquiles recusa-a, por causa do seu
orgulho ferido e declara que pretende retornar à sua terra natal, onde poderá viver uma
vida longa e prosaica, em vez da gloriosa, mas curta, se decidir ficar. Dirigindo-se a
Fénix, propõe-lhe que o acompanhe, mas este pede-lhe, de forma emocionada, que
fique.
Síntese do canto: Agamémnon tenta reconciliar-se com Aquiles, mas o mesmo recusa a
regressar à luta.
Canto X
Agamémnon e Menelau não conseguem dormir, tal é sua preocupação com o curso dos
acontecimentos, e, eventualmente, acordam os outros comandantes e reúnem-se em
campo aberto para planear o movimento seguinte. Nestor sugere que enviem um espião,
a coberto da escuridão noturna, que se infiltre no acampamento troiano e tome
conhecimento dos planos do inimigo. Diomedes oferece-se como voluntário e é
acompanhado por Ulisses. Os dois homens armam-se e, apoiados por Atenas, a quem
oram, esgueiram-se em direção ao campo adversário.
No lado troiano, Heitor é assaltado por uma ideia semelhante e quer saber se os Gregos
planeiam fugir. Ele seleciona Dólon, um homem muito feito, mas veloz como um
relâmpago, para desempenhar o papel, e promete recompensá-lo com a carruagem e os
cavalos de Aquiles. Dólon parte para a sua missão, mas é avistado por Diomedes e
Ulisses, que rapidamente o capturam. Os dois gregos interrogam-no, e ele, na esperança
de conservar a sua vida, informa-os das posições dos troianos e dos seus aliados, bem
como de que os Trácios, recém-chegados ao local, eram especialmente vulneráveis a
ataques. Ulisses promete poupar Dólon, mas Diomedes mata-o e tira-lhe a armadura.
De seguida, os dois espiões aqueus penetram sorrateiramente no acampamento trácio
adormecido, onde matam doze soldados e o seu rei, Rhesus, que chegara atrasado à
batalha e, por isso, nem chega a combater. Além disso, roubam os cavalos e as
carruagens do monarca trácio. Atenas avisa-os que algum deus zangado pode acordar os
outros soldados, o que faz com que Diomedes e Ulisses e retornem ao seu acampamento
na carruagem roubada, onde são recebidos calorosamente pelos seus camaradas, que já
os viam mortos.
Canto XI
Na manhã seguinte, os exércitos voltam a enfrentar-se e Zeus faz chover sangue sobre o
campo aqueu, causando enorme pânico entre os gregos, que sofrem um massacre nessa
fase do combate. No entanto, da parte da tarde a maré começa a mudar: Agamémnon
mata diversos inimigos e faz recuar de novo os Troianos até aos portões da cidade.
Porém, Zeus envia uma mensagem a Heitor através de Íris para ele esperar até
Agamémnon ser ferido e só então dar início ao seu ataque. De facto, o comandante
grego acaba por ser ferido por Coon, filho de Antenor, logo após matar o seu irmão.
Mesmo ferido, continua a lutar e líquida Coon, no entanto a dor que sente força-o a
abandonar o campo de batalha.
Heitor reconhece a situação e avança, fazendo recuar os aqueus, que entram em pânico,
mas Ulisses e Diomedes incentivam-nos a resistir e insuflam coragem nos seus
corações. Diomedes arremessa uma lança que atinge Heitor no capacete que o deixa
atordoado e o obriga a recuar. Em rápida sucessão, a maioria dos melhores lutadores
gregos é ferida e até Diomedes é atingido no pé por uma seta disparada por Páris, o que
o arreda do resto do poema e deixa Ulisses numa situação delicada, ferido também e
cercado por inimigos. O estratega do Cavalo de Troia luta com todos, mas um
adversário chamado Socus fere-o nas costas, sendo salvo por Ájax, que o carrega de
volta ao acampamento.
Entretanto, Heitor regressa à ação noutro setor do combate e, juntamente com outros
soldados, força Ájax a recuar enquanto Nestor leva Machaon (um curandeiro grego que
tinha sido ferido por Páris) de volta à sua tenda. Enquanto isso, atrás das linhas, Aquiles
assiste à batalha e envia o seu amigo Pátroclo para identificar o lutador ferido que
Nestor transporta. Este relata-lhe todos os revezes que os Gregos estão a sofrer e
implora-lhe que convença Aquiles a retornar à luta, ou pelo menos o deixe a ele,
Pátroclo, entrar na batalha disfarçado, envergando a armadura do próprio Aquiles. Esse
estratagema teria um duplo efeito: por um lado, daria coragem aos Gregos; por outro,
intimidaria os inimigos. De outra forma, Nestor vê muito difícil a tarefa de resistir aos
Troianos. Pátroclo promete falar com Aquiles.
Canto XII
Este canto contém indícios do destino de Heitor e de Troia, à semelhança do que tinha
sucedido com a cena de Nestor e Pátroclo, também ela premonitória. Assim, de acordo
com as previsões dos adivinhos, a cidade está condenada a cair. Em simultâneo, Homero
não deixa de sugerir ao leitor a morte de Heitor, bem como a partida dos gregos no
décimo ano.
No entanto, por outro lado, são vários os sinais de sentido oposto, desde logo porque
Zeus manipula a batalha, ora derramando sangue sobre os gregos, ora permitindo que
Heitor se torne o primeiro troiano a cruzar as fortificações do inimigo. Os aqueus
reconhecem o dedo de Zeus no curso dos acontecimentos e compreendem que, ao
combater os de Troia, se opõem também ao deus. Neste contexto, Diomedes conclui que
o chefe dos deuses já selecionou o vencedor do conflito: os troianos. Deste modo,
perante sinais contraditórios, o leitor hesita, não sabendo em quais confiar, pelo que o
desenlace da história permanece em aberto, por causa desses sinais ambíguos. Os dois
lados em conflito ficam confusos sobre a vontade de Zeus: ambos reclamam o seu
apoio, mas as suas intervenções nada clarificam.
Voltando a Heitor, quando este ignora o conselho de Polídamas, dá mais um passo rumo
ao destino que lhe está reservado. Note-se, contudo, que recuar naquele instante
constituiria um comportamento desonroso, além de sem sentido, pois a batalha está a ser
francamente favorável aos troianos. Deste modo, é perfeitamente normal que Heitor
ignore o presságio e prossiga a luta em defesa da sua pátria, cumprindo, em simultâneo,
o destino que Zeus lhe traçou.
Canto XIII
Zeus, satisfeito com a evolução do conflito, afasta-se do campo de batalha, o que é
aproveitado por Poseidon para ajudar os gregos. Assim visita o Grande Ájax e o
Pequeno Ájax, na forma de Calcas, e inspira-os, bem como aos demais aqueus, a resistir
ao ataque dos troianos. Com a confiança restaurada, os gregos enfrentam os inimigos e
os dois Ájax forçam Heitor a recuar. Este dispara a sua lança em direção a Teucro, mas
o grego desvia-se e a arma atinge fatalmente Anfímaco, o neto de Poseidon. Cheio de
dor e desejando de vingança, o deus do mar, que não ousa posicionar-se abertamente a
favor dos gregos receando a punição de Zeus, confere um grande poder a Idomeneu,
que, em conjunto com o seu feroz ajudante Meríones, liquida e fere muitos troianos.
Tudo isto decorre na zona esquerda da batalha.
Enquanto isso, à direita, Heitor prossegue o seu ataque, mas os soldados que o
acompanham perderam parte da sua força, depois de terem sofrido às mãos dos dois
Ájax. Parte deles recua mesmo até às suas próprias fortificações, enquanto os restantes
estão dispersos pelo campo de batalha. Polídamas convence o chefe troiano a recuar um
pouco e a reagrupar as tropas. Heitor procura os seus camaradas, mas descobre que
estão mortos ou feridos. Nesse instante, vale-lhe Páris, que o incentiva e lhe levanta o
ânimo. Ájax insulta-o e Heitor responde, prometendo matá-lo. Com muitos gritos à
mistura, a batalha reacende-se. Enquanto Ájax discursava, uma águia surgira à sua
direita, o que é entendido como um presságio favorável aos gregos.
Canto XIV
É curiosa a forma como Agamémnon se deixa abater por vezes quando as coisas não
correm a seu favor. Nesta ocasião, necessita de ser incentivado e convencido a não
desistir da guerra e a voltar para casa, coberto de vergonha. A cada revês, acredita que
Zeus está contra si. Crente nisso e que a derrota se afigura como inevitável, prefere uma
sobrevivência desonrosa a uma eventual morte gloriosa e chega mesmo a propor a
retirada, enquanto o seu exército ainda combate. Ora, esta opção contrasta com a
postura de Aquiles, que prefere exatamente o oposto. Quando lhe foi dada a
possibilidade de escolher entre uma vida tranquila e longa na sua pátria e casa, junto à
sua família, e uma vida gloriosa, mas breve, ele não hesitou e escolheu a segunda
hipótese. A sorte da guerra está longe de estar decidida e o líder dos gregos necessita de
confiar mais nos deuses.
Este retrato de um Agamémnon vacilante, cobarde, sem honra, permite compreender a
razão por que Aquiles e outros capitães gregos se ressentem da liderança do seu
comandante e da reivindicação da maior parte dos saques que obtêm. Por outro lado,
Agamémnon aparenta sentir pela primeira vez algum remorso por ter ofendido Aquiles,
contudo convém ter presente que tal sucede apenas por causa do modo como as
consequências nefastas dessa ofensa o afetam. Dito de outra forma, Agamémnon receia
que as suas tropas o culpem pela eventual derrota na guerra.
Os Gregos continuam a combater, mas chefiados agora por um escasso número de
líderes, nomeadamente os dois Ájax e Menelau. Os restantes (Agamémnon, Ulisses e
Diomedes) estão todos feridos, enquanto Nestor está ocupado a tratar de Machaon. Este
facto contrasta com o que se passa entre os troianos, onde avultam as figuras de Heitor,
Páris e Eneias, nomeadamente as capacidades de liderança do marido de Andrómaca,
por exemplo quando assistimos à forma como divide o seu exército ao longo da linha
grega e o faz recuar e reagrupar quando tal se torna necessário, ou quando Polídamas e
Heitor discutem qual é a secção do exército que necessita de ser reforçada. Isto traduz o
facto de, nos últimos dois cantos, a narrativa se preocupar mais com as questões de
tática militar do que com os confrontos físicos da batalha. Outro exemplo que comprova
esta ideia está presente na cena em que Poseidon exorta os gregos a redistribuir as armas
pelos soldados de forma mais eficiente entre os mais fortes e os mais fracos.
No que diz respeito aos deuses, mais uma vez oferecem um contraponto humorístico à
brutalidade da guerra. É o que sucede com o episódio de Hera e Zeus, que evidencia
como as questões de vida ou morte dos humanos são frequentemente determinadas por
picuinhices e mesquinhices entre as divindades do Olimpo. Neste caso, a mudança dos
acontecimentos tem como causa a líbido de Zeus e a ingenuidade/credulidade de
Afrodite, bem como da astúcia e manha de Hera. Esta aproveita-se comicamente da boa
vontade da deusa do amor para manipular o seu esposo, explorando o seu ponto fraco.
Consecutivamente, os deuses mostram a sua falta de racionalidade e equilíbrio.
Voltando a Heitor, neste canto ocorre a segunda ronda do seu confronto com Ájax, do
qual volta a sair por baixo, o que ilustra o poder e a força relativos dos exércitos e heróis
conflituantes. Heitor é o guerreiro troiano mais forte, mas não consegue sucessivamente
derrotar o segundo lutador grego mais forte. Esta questão ganha especial relevância,
pois, caso Heitor seja derrotado, não haverá outro troiano de valor aproximado que o
possa substituir e liderar as tropas. Em sentido oposto, as hostes aqueias possuem vários
outros guerreiros fortes e corajosos. Sucede que, mesmo com a ajuda de Zeus, o avanço
de Troia em direção aos navios inimigos é lento e marcado por vários contratempos.
Note-se, por último, que o poeta procura retratar as duas fações em confronto de forma
equidistante e simpática, mostrando como ambos os exércitos lutam com honra,
determinação e coragem, porém vai-se percebendo que o lado troiano não possui a
mesma forma de combate.
Canto XV
Enquanto as tropas troianas são repelidas, Zeus desperta do seu sono e observa o que
aconteceu enquanto dormia. Ameaça castigar Hera, mas esta protesta a sua inocência,
desviando a culpa para cima de Poseidon. Ele diz-lhe que, não obstante os eu apoio aos
Troianos, troia está condenada a cair e que Heitor morrerá depois de lutar e matar
Pátroclo. Por outro lado, Zeus parece aceitar a inocência da esposa, mas força-a a
trabalhar no sentido de desfazer as ações de Poseidon, pedindo-lhe que chame Íris e
Apolo. Ela obedece, mas antes incita Ares a quase desafiar o pai dos deuses para vingar
o seu filho, sendo apenas travado por Atenas. Íris ordena a Poseidon que abandone o
campo de batalha, enquanto Apolo dota Heitor e os seus companheiros de novas forças.
De seguida, Heitor lidera um ataque contra os Gregos, que sustentam a ofensiva
inicialmente. No entanto, com um grito de guerra, Apolo agita o escudo de tempestade
de Zeus contra as tropas gregas, que recuam aterrorizadas. Apolo enche, então, a
trincheira em frente às fortificações aqueias, permitindo que os Troianos derrubem as
muralhas.
Os exércitos lutam junto ao acampamento grego e perto dos navios. Ájax e Heitor
enfrentam-se novamente. O arqueiro Teucro derruba vários soldados troianos, todavia
Zeus parte o seu arco quando faz mira em Heitor. Ájax incentiva os seus companheiros
a lutar, mas o líder troiano reúne as suas tropas e, passo a passo, avançam com a ajuda
de Zeus, até que Heitor chega a um navio.
Canto XVI
O Canto XVI é dominado pela ação de duas personagens inimigas: Heitor e Pátroclo.
Num plano secundário, situa-se Aquiles, cujo orgulho ferido o continua a impedir de
regressar à batalha e a agir de forma nada humana e patriótica, pois não revela, mais
uma vez, qualquer preocupação com o destino dos seus compatriotas e, em última
análise, da sua pátria. Já a atitude de Pátroclo é absolutamente diversa: ele chora ao
constatar a situação dramática e acusa Aquiles de ser frio e insensível, acusando-o de
não ser filho de deuses e humanos, mas do oceano e das rochas, forças que não possuem
sentimentos
A figura de Heitor parece diferente dos cantos iniciais. De facto, até aqui ele era o
guerreiro mais valente e corajoso do exército troiano, o líder incontestado, heroico e
exemplar, que chega a censurar fortemente o próprio irmão por se recusar a combater.
Porém, chegados a este ponto, somos confrontados com um Heitor que foge da batalha
após a entrada em combate de Pátroclo abandonando as tropas que comanda, certamente
convencido de que se tratava de Aquiles.
O desejo de proteger o corpo de Sarpédon (filho de Zeus e Europa) fá-lo retornar à
batalha e enfrentar Pátroclo, mas, até pelo que foi dito, o percurso dos dois é marcado
por um contraste óbvio: à medida que Pátroclo se glorifica, Heitor vê a sua glória
pessoal de crescer. Além dos dois recuos durante a batalha já descritos, a morte do
inimigo às suas mãos nada tem de heroico ou honroso, visto que Apolo retirou
previamente a armadura e as armas do guerreiro grego, permitindo que um jovem
soldado troiano o apunhalasse pelas costas e só então Heitor entra em cena para dar o
golpe final. Em suma, os deuses fizeram a parte essencial do trabalho de conduzir à
morte de Pátroclo, não Heitor. Neste contexto, o amigo de Aquiles morre em glória,
pois, antes de ser liquidado da forma que conhecemos (foram precisas três figuras para
tal, incluindo um deus, e parte dos ataques foi desferida cobardemente, pelas costas),
elimina vários inimigos e retira-lhes a armadura, algo que era muito importante na
época.
Tendo em conta os eventos narrados neste canto, é lícito concluir que o destino não é
imutável, pelo contrário, ele pode ser contrariado e mudado, visto que Zeus, na
iminência da morte do seu filho Sarpédon, considera abrir uma exceção e alterar o
destino, poupando a sua vida. No entanto, nem o próprio pai dos deuses se pode dar a
esse luxo sem que existam consequências. Como Hera o adverte, se Zeus salvar
Sarpédon, deixará de ser respeitado pelos restantes deuses e serão levados a concluir
que poderão fazer o mesmo, o que acarretará problemas imprevisíveis.
Canto XVII
Após a sua morte, tem início uma luta feroz em torno do corpo de Pátroclo, com os
deuses metendo a colher, como é costume. Um dos que lutam pela armadura é Euforbo,
o soldado que atingiu Pátroclo inicialmente pelas costas, mas é morto por Menelau.
Heitor, estimulado por Apolo, junta-se à luta, mas acaba por ser afastado por Menelau e
Ájax, que veio em seu auxílio, antes que possa remover ou profanar o corpo de Pátroclo.
No entanto, não conseguem impedir que o líder dos Troianos se apodere da armadura de
Aquiles, que este emprestara ao amigo, que esse veste de imediato. Glauco censura-o
por ter deixado o corpo do inimigo para trás e acrescenta que o poderiam usar como
moeda de troca pelo corpo de Sarpédon. Heitor regressa à disputa e promete metade dos
despojos da guerra a qualquer soldado que se apossar do cadáver de Pátroclo. Zeus
reprova o ato de Heitor relativamente ao corpo do inimigo, contudo, consciente da sua
morte iminente, dá-lhe grande poder.
Menelau e Ájax reúnem as suas tropas e forçam os Troianos a recuar para as muralhas
de Troia, incluindo o próprio Heitor. Eneias, revigorado por Apolo, reorganiza os
soldados em fuga e convence-os a regressar à batalha, mas continuam a não conseguir
capturar o corpo de Pátroclo. O cocheiro de Aquiles, Automedonte, envolve-se na
refrega, e Heitor tenta matá-lo para tentar roubar a carruagem, mas o cocheiro desvia-se
da lança e derruba um soldado troiano no processo. Ele retira ao morto a sua armadura,
crendo que, ao fazer isso, aliviará a dor do espírito de Pátroclo, não obstante os dois
guerreiros caídos em desgraça não serem comparáveis no que ao seu valor diz respeito.
Atenas, disfarçada de Fénix, dá nova força a Menelau, enquanto Apolo, igualmente
disfarçado, neste caso de troiano, faz algo semelhante com Heitor. De seguida, Menelau
envia Antíloco até Aquiles, informando-o da morte do amigo e pedindo-lhe ajuda. Zeus
continua a interferir no decurso da guerra em favor de Troia, mas dá tempo aos gregos
para retirarem o corpo de Pátroclo do campo de batalha.
Canto XVIII
A narração é interrompida e é feita uma enorme descrição do escudo de Aquiles. O
escudo é a representação de uma cidade em paz, das 4 estações do ano, do quotidiano,
das pessoas, da dança e da música.
Aquiles pressente a morte de Pátroclo mesmo antes da chegada do mensageiro de
Menelau. Ao tomar conhecimento de que os seus receios eram verdadeiros, Aquiles fica
desesperado: chora, puxa os cabelos, bate com os punhos no chão, cobre o rosto de terra
e grita, enraivecido, de tal maneira que Tétis o escuta e vem com as suas irmãs ninfas
aquáticas do oceano ver o que tanto perturba o filho. Aquiles relata-lhe a desgraça que o
atingiu e afirmará que se irá vingar de Heitor, não obstante o facto de ter consciência de
que, ao fazê-lo estará a sentenciar a sua morte. Tétis lamenta que o filho tenha de morrer
logo depois de Heitor e diz-lhe que não combata até ela voltar. A deusa do oceano
pedirá a Hefesto que lhe faça uma nova armadura, já que a sua é usada agora pelo
comandante dos troianos.
Enquanto isso, as tropas de Troia continuam a querer apossar-se do corpo de Pátroclo,
mas Íris, a mando de Hera, diz a Aquiles que ele deve aparecer no campo de batalha,
visto que só a sua presença espantará os inimigos e fá-los-á desistir do corpo de
Pátroclo. Então, Aquiles sai da sua tenda e solta um grito tão forte que, de facto, causa a
fuga dos troianos. O corpo de Pátroclo é trazido para o acampamento aqueu e os seus
companheiros choram-no, enquanto Aquiles jura que o seu amigo não será sepultado até
que Heitor caia às suas mãos, embora ordene que as suas feridas sejam limpas para o
preparar para o enterro.
No acampamento troiano, Polídama, temendo as consequências do retorno de Aquiles,
aconselha que as tropas regressam à cidade nessa noite, em vez de permanecerem
acampados na planície. Todavia, Heitor considera esse gesto num ato cobarde, responde,
orgulhosamente, que nunca fugirá de Aquiles e insiste em repetir o ataque do dia
anterior. O seu plano é acolhido favoravelmente pelos seus companheiros, destituídos
do seu juízo por Atenas.
Enquanto isso, Tétis dirige-se à morada de Hefesto e pede-lhe que faça uma nova
armadura para Aquiles. Grato por ela o ter auxiliado no passado, o deus do fogo forja
uma armadura, um capacete, grevas e um escudo extraordinários com imagens de
constelações, pastagens, crianças dançando, cidades humanas em relevo, paz e guerra,
vida e morte.
Canto XIX
O conflito que se começa a desenhar no Canto I e que conduziu a ação até aqui é
resolvido agora, quando Aquiles se reconcilia com Agamémnon. Note-se, todavia, que
esta reconciliação não decorre de nenhum crescimento da personagem: a sua cólera
impensada não desapareceu, ele apenas a redirecionou, apenas mudou o seu alvo, bem
como o desejo de vingança, que, se antes era direcionado para Agamémnon, agora se
volta para Heitor. Além disso, a personagem parece continuar a ignorar as necessidades
e os interesses do seu próprio exército. A cólera que desperta no Canto I acarretou a
morte de muitos aqueus, incluindo o seu amigo Pátroclo, e nada, até esta se consumar, o
demoveu da sua jura. Agora, pretende que as tropas comecem a combater sem se
alimentarem devidamente, o que é uma ideia impensada e suicida, pois as batalhas
envolvem enorme dispêndio de força e energia física.
Por outro lado, a alimentação dos soldados implica a noção de que a vida prossegue
após e apesar da guerra. A rejeição da comida por parte de Aquiles simboliza a rejeição
da vida e a aceitação fatalista da sua própria morte. No entanto, para o sustentar durante
a batalha, os deuses proporcionam-lhe o privilégio de experimentar a sua própria
comida e bebida, algo que volta a sugerir a sua natureza de semideus. Não esqueçamos
que Aquiles é filho de um humano e de uma deusa.
Relativamente a Agamémnon, começa por cumprir a sua promessa, presenteando-o por
retornar ao combate, mas não assume a responsabilidade pelas suas ações, que atribui,
mais uma vez aos deuses, nomeadamente a Ruína, uma tradução do grego atê. Este
vocábulo possui diversos significados, desde “ilusão”, “loucura” e “paixão” até
“desastre”, “desgraça” e “ruína”, termos que traduzem as suas consequências. A Grécia
Antiga atribuía a responsabilidade dessas emoções às entidades divinas, em vez de as
considerar características próprias da natureza humana, que as poderiam controlar.
Canto XX
Na manhã seguinte, enquanto os gregos e os troianos se preparam para a batalha, Zeus
convoca os deuses ao Monte Olimpo, pois reconhece que, se Aquiles começar a
combater sem ninguém o controlar, dizimará os inimigos e talvez chegue mesmo a
destruir a cidade antes do momento previsto. Deste modo, retira a proibição de as outras
divindades intervirem na guerra e dá-lhes permissão para o fazerem do modo que
entenderem. As divindades olímpicas escolhem livremente o lado que desejam apoiar,
porém relutam em intervir nos acontecimentos, optando antes por assistir ao conflito
sem se envolver nele. Assim, sentam-se em colinas opostas com vista para o campo de
batalha, expectantes em saber como os dois exércitos se comportarão na guerra por
conta própria.
No entanto, Apolo encoraja Eneias a desafiar Aquiles para um combate, até porque a sua
mãe (Afrodite) também era uma divindade, inclusive mais poderosa do que a do chefe
dos Mirmidões. Os dois heróis encontram-se no campo de batalha e insultam-se. De
seguida, Eneias arremessa a sua lança na direção do adversário, mas ela não perfura o
seu escudo; em resposta, Aquiles está prestes a esfaquear fatalmente o troiano, contudo
Poseidon coloca-o noutro ponto do campo, evitando assim a sua morte. O seu objetivo
último consiste na preservação da sua vida para que possa sobreviver à guerra e, após a
queda de Troia, liderar o seu povo. Relembremos que Eneias será o fundador mítico da
cidade de Roma.
Heitor chega-se, então, à frente para enfrentar Aquiles, no entanto Apolo convence-o a
esperar que o inimigo venha até ele. Porém, quando o filho de Tétis massacra diversos
troianos, incluindo o irmão mais novo do próprio Heitor, este não se contém e desafia-o.
O duelo corre-lhe mal e Apolo é forçado a intervir de novo (envolvendo-o numa nuvem
protetora) e a salvá-lo pela segunda vez, enquanto adverte Ulisses de que ainda não é
hora de o inimigo morrer. O herói aqueu continua a descarregar a sua fúria sobre as
hostes troianas, liquidando os seus soldados sem piedade.
Canto XXI
Aquiles continua a matar inimigos sem dó nem piedade, dividindo fileiras e forçando
uma a recuar até ao rio Xando ou Escamandro, onde liquida mais uma série de soldados
troianos. Um deles é Licaonte, filho de Príamo, que lhe pede misericórdia, inutilmente,
pois é morto sem piedade. Seguem-se outros: o colérico e vingativo Aquiles não
poupará ninguém e lança os cadáveres ao rio, tantos que o obstroem. O deus do curso de
água protesta, e o filho de Tétis concorda em não atirar mais corpos à água, mas
prossegue a matança.
Neste ponto da narrativa, as entidades divinas, que assistem aos eventos e discutem a
evolução do conflito, começam a lutar entre si diretamente. Atenas agride e derrota Ares
e Afrodite, enquanto Poseidon desafia Apolo, desafio que recusa, afirmando não lutar
por meros mortais. Ártemis, sua irmã, provoca-o e encoraja-o a lutar, contudo Hera
ouve-a e ataca-a.
Cá em baixo, em Troia, Príamo observa a devastação que atingiu o seu exército e decide
abrir os portões da cidade, para que os sobreviventes nela se possam acolher. Apolo
entra em cena que, para distrair o guerreiro troiano e permitir que os soldados troianos
disponham de tempo para se abrigar dentro das muralhas, insta Agenor a atacá-lo.
Quando Aquiles revida, o deus retira Agenor do campo de batalha para um lugar seguro
e disfarça-se do próprio Agenor, até que os últimos guerreiros troianos encontrem abrigo
no interior da cidade.
Canto XXII
Heitor é o único troiano que permanece fora das muralhas de Troia. Príamo implora-lhe
que entre, mas o filho, que se sente culpado por não ter seguido os conselhos sábios que
o intimavam a fazer recolher o exército, na noite anterior, para dentro da cidade, antes
ter optado por o manter no exterior dos portões, sente-se demasiado envergonhado para
se juntar aos seus homens, por isso permanece sozinho e não entra. Quando Aquiles
regressa da perseguição a Apolo, disfarçado de Agenor, Heitor confronta-o.
Inicialmente, tenta negociar com o inimigo, porém, quando percebe que qualquer
negociação é impossível, foge. Ele corre em torno da cidade três vezes, graças à força
extra que Apolo lhe concede, com Aquiles sempre na sua cola, bloqueando-lhe a entrada
em Troia. Zeus considera a possibilidade de salvar Heitor, mas Atenas diz-lhe que a sua
vez chegou. O chefe do Olimpo põe os destinos de Aquiles e Heitor numa escala de
ouro e o resultado é o afundamento no chão do comandante das tropas troianas.
Quando Heitor dá a terceira volta em torno da cidade, aparece-lhe Atenas, disfarçada de
Deífobo, também ele filho de Príamo (de acordo com a mitologia grega, Deífobo casou
com Helena, após a morte do seu segundo marido, Páris), e convence-o a parar de
correr, depois de prometer que o ajudará a lutar contra Aquiles. Heitor assim faz e
encara o oponente, propondo-lhe um pacto segundo o qual o vencedor do duelo não
mutilará o vencido, porém o filho de Tétis responde-lhe que não há juramentos entre
homens e leões. Então Aquiles arremessa a sua lança primeiro, mas o oponente esquiva-
se. Sem o conhecimento de Heitor, Atenas devolve a arma a Aquiles. O líder dos
troianos atira, por sua vez, a lança com que está armado e atinge o escudo do inimigo no
centro. Heitor volta-se, de seguida, para Deífobo para lhe pedir outra lança; quando
descobre que o suposto irmão desapareceu, compreende que os deuses o traíram.
Percebendo a situação dramática em que se encontra, Heitor ataca o oponente com a sua
espada. No entanto, ele usa ainda a velha armadura de Aquiles, roubada do cadáver de
Pátroclo, que o seu antigo proprietário conhece muito bem, nomeadamente os seus
pontos fracos. Com um golpe perfeito, Aquiles espeta a lança na garganta de Heitor.
Moribundo, este implora ao filho de Tétis que devolva o seu corpo aos pais, para que o
sepultem, todavia, o líder dos Mirmidões recusa. Seguidamente, retira-lhe a armadura;
outros soldados gregos juntam-se-lhe e apunhalam o cadáver. Então, Aquiles amarra o
corpo de Heitor na parte traseira da sua carruagem e arrasta-o pelo solo até ao
acampamento aqueu. Enquanto isso, do alto das muralhas de Troia, Príamo e Hécuba
observam a cena e choram de dor. Andrómaca ouve os gritos e o pranto, sai do quarto e
corre para onde está o casal. Quando vê o cadáver do marido sendo arrastado pelo solo,
desmaia.
Canto XXIII
A raiva que Aquiles dirigira, anteriormente, contra Agamémnon é agora reorientada para
Heitor e, tal como antes, também neste passo o líder dos Mirmidões se deixa cegar pela
cólera, vingando-se no corpo do comandante troiano e queimando inimigos capturados
na pira funerária, juntamente com Pátroclo. Por outro lado, os três últimos cantos
da Ilíada seguem um padrão estrutural semelhante aos primeiros vinte. Além do facto já
observado de a raiva por Agamémnon ser substituída pela dirigida a Heitor, tal como
Aquiles se reconciliou com o rei dos gregos, também agora se reconciliará com Príamo,
o pai do seu inimigo morto.
A profanação do cadáver de Heitor começou já no canto anterior e prossegue neste. O
modo como ela é praticada faz com que o leitor não simpatize com Aquiles, o que
contrasta com a imagem com que ficamos de Heitor. De facto, este matou Pátroclo, mas
não profanou o seu corpo, ao contrário do que o filho de Tétis fez com o seu e que vai
para além do aceitável e do razoável.
Esta cólera de Aquiles é temperada por dois acontecimentos deste canto: o sonho com
Pátroclo e os jogos fúnebres em sua honra. Em ambos os momentos, o leitor toma
contacto com um lado mais humano e clemente do herói grego. O aparecimento do
fantasma de Pátroclo enfatiza a importância que o sepultamento adequado dos mortos
tinha para os gregos, algo que um Aquiles irracional recusa a Heitor. Note-se ainda a
importância que o corte da mecha de cabelo do líder dos Mirmidões e a sua colocação
na pira funerária assume nesta fase da obra, pois simboliza que Aquiles prefere morrer
de forma gloriosa na guerra do que regressar a casa em paz e ter uma existência longa.
Por outro lado, o sonho com Pátroclo constitui um caso raro, no poema, de evento
sobrenatural (além da presença das divindades olímpicas) e pode traduzir uma espécie
de diálogo de Aquiles consigo mesmo. O pedido do fantasma no sentido de ser
sepultado em conformidade representa a crença grega segundo a qual a alma do morto
não descansa enquanto este não estiver enterrado. Além disso, esta aparição em sonhos
prepara o caminho para a reconciliação de Aquiles com Príamo, que se concretizará no
Canto XXIV. O falecido representa o lado mais humano do filho de Tétis.
Os jogos em homenagem de Pátroclo apresentam-nos um Aquiles sem cólera, mais justo
e diplomático, como se pode constatar quando resolve a contento uma disputa sobre
prémios, que se assemelha, de algum modo, ao incidente que esteve na génese do
conflito com Agamémnon: o herói grego tenta despojar Antíloco, o cocheiro, do prémio
que ganhara nos jogos. Tal como este terminara a competição em segundo lugar, atrás
de Diomedes, também Aquiles terminara na segunda posição, atrás de Agamémnon;
Antíloco, à semelhança do que Aquiles fizera antes, recusa a injustiça e a humilhação de
não ver reconhecidos os seus triunfos. No entanto, contrariamente ao que sucedera com
o conflito entre o filho de Tétis e Agamémnon, esta disputa em torno de Antíloco é
resolvida de forma pacífica e não se reflete de forma duradoura nas personagens e nas
suas relações. Em suma, os jogos fúnebres constituem um momento de pausa no luto.
Por outro lado, é provável que estes jogos tenham tido como modelo eventos
desportivos reais, como, por exemplo, as competições olímpicas, que surgiram na
mesma época em que a Ilíada terá sido composta. Especialistas na obra de Homero
consideram que as primeiras competições constituíam uma série típica de jogos: a
corrida de dois cavalos, o boxe, a luta livre e a corrida a pé. Outras competições terão
constituído acréscimos posteriores.
Os jogos eram muito importantes na cultura grega da época, desde logo porque
constituíam uma oportunidade de os competidores alcançarem a fama e a glória, honra e
prémios em tempos de paz. Convém notar que estes jogos configuravam um momento
de teste das habilidades exibidas na guerra, bem como de ostentação de triunfos e feitos.
Além das vitórias nos jogos, a hierarquia e a habilidade são também homenageadas.
Aquiles deseja atribuir o segundo prémio na corrida de carros ao melhor condutor, que,
na realidade, chegou em último lugar. Nestor é premiado pela sua vida e feitos enquanto
guerreiro. Aquiles, revelando uma diplomacia que não se lhe conhecia, declara
Agamémnon o vencedor do concurso de lançamento de lança sem a competição se ter
efetuado, reconhecendo-se, assim, a sua posição como comandante-geral do exército
grego.
Por último, há a assinalar o facto de estes jogos constituírem uma oportunidade para o
leitor ver em ação os heróis gregos. Deste modo, os eventos colocam-nos perante uma
competição mais civilizada (do que a guerra) e proporcionam-lhes uma despedida
condigna.
Canto XXIV
Nos dias seguintes, Aquiles continua a profanar o cadáver de Heitor amarrando-o ao seu
carro, arrastando-o em torno da tumba de Pátroclo.
No décimo segundo dia após a morte de Heitor, Zeus reúne as divindades e decide que
Aquiles devolverá o corpo de Heitor em troca de um resgate, para que seja
adequadamente sepultado. Para que tal se concretize, Zeus envia Tétis para levar a
notícia a Aquiles, enquanto Íris vai ao encontro de Príamo no sentido de o instruir a
constituir o resgate. Hécuba receia que Aquiles mate o marido, mas o pai dos deuses
tranquiliza-a, enviando uma águia como bom augúrio.
Príamo, guiado por Hermes, disfarçado de soldada mirmidão, na companhia de um
velho servo, dirige-se ao acampamento aqueu com uma carruagem repleta de tesouros.
Quando chegam, sem serem vistos, à tenda de Aquiles, Hermes revela a sua verdadeira
identidade e deixa Príamo sozinho com o líder dos Mirmidões. Então, o rei dos troianos
ajoelha-se diante de Aquiles, beija-lhe as mãos e suplica-lhe, em prantos, pelo corpo do
seu filho. Ele pede-lhe que pense no seu próprio pai, Peleu, e no amor que existia entre
ambos. A lembrança do seu próprio progenitor comove o filho de Tétis, que chora,
aceita o resgate e aquiesce em devolver o corpo de Heitor.
Depois de ordenar que o cadáver seja preparado, Aquiles oferece hospitalidade ao rei da
Troia, nomeadamente comida e cama para passar a noite, e concede uma trégua de doze
dias aos Troianos para realizarem os rituais fúnebres de Heitor. Entretanto, temendo que
Príamo possa ser feito prisioneiro, Hermes vem até ele e acorda-o antes do amanhecer,
alertando-o de que não deve dormir entre o inimigo. De seguida, com o velho servo,
coloca o filho no seu carro e abandonam o acampamento aqueu sem serem notados.
Cassandra, sua filha, vê-o aproximar-se e toda a cidade se reúne junto aos portões para
receber o seu príncipe. Todas as mulheres choram o corpo de Heitor, e Andrómaca,
Hécuba e Helena entoam canções de luto que evidenciam a habilidade do morto nas
artes da guerra, o favor dos deuses e a sua bondade. Durante os nove dias seguintes, os
troianos preparam a pira funerária de Heitor, que é acesa ao décimo dia. O seu corpo é,
assim, queimado e os ossos enterrados, numa caixa de ouro, numa cova rasa.
A Odisseia
Constituída por 24 cantos.
Considerada a segunda obra da literatura ocidental.
Inicia-se in medias res. É uma ação tripartida dividida em três grandes
passagens:
1. Telemaquia (cantos I a IV): Interação da deusa Atena com o jovem Telémaco.
É dado a conhecer o palácio onde Penélope, esposa de Ulisses, resiste às
investidas dos pretendentes.
2. Viagem de Ulisses (cantos V a XII): Onde o herói conta ao rei de Feaces os
obstáculos que enfrentou até ali.
3. A vingança de Ulisses (cantos XIII a XXIV): Ulisses mata todos os
pretendentes quando consegue regressar a casa.
Não narra feitos bélicos nem se restringe a um local isolado. Trata das viagens e
aventuras de um dos heróis da guerra de Troia.
Personagens
Ulisses (Odisseu): Rei de Ítaca. Personagem principal, herói convencional que tenta
solucionar problemas através da lógica e da razão ao invés da evidência. Apesar de
todas as dificuldades, revela um espírito resiliente e nunca desiste de reencontrar a sua
família.
Penélope: Esposa de Ulisses, que fica responsável por governar Ítaca e criar Telémaco
durante a ausência do marido.
Telémaco: Filho de Penélope e Ulisses, era apenas uma criança quando o pai partiu.
Vendo o palácio invadido por pretendentes, acaba partindo em busca do pai e amadurece
ao longo da narrativa.
Nausícaa: Princesa dos Feaces que encontra Ulisses nas margens do rio, em pose de
súplica. Compadece-se e ajuda-o a entrar na cidade do seu país.
Alcínoo: Rei de Feace para quem Ulisses narra as suas aventuras. Concorda em prestar
auxílio a Ulisses, enviando-o numa nau até Ítaca, desafiando a ira de Poseidon, deus do
mar.
Zeus: Deus supremo, pai dos deuses e chefe do Olimpo. Procura manter a paz entre as
divindades que lutam para determinar o destino de Ulisses.
Atena: Filha de Zeus, deusa da sabedoria, da justiça e da estratégia. Defensora de
Ulisses até ao fim, acha que ele merece regressar a Ítaca e presta atenção ao herói e ao
seu filho.
Poseidon: Deus dos mares, irmão de Zeus. Declara guerra a Ulisses quando ele cega o
seu filho Polifemo, o ciclope. Através de tempestades, naufrágios e criaturas
monstruosas dificulta cada passo da viagem.
Hermes: mensageiro dos deuses, que desce ao mundo dos humanos várias vezes para
anunciar a vontade dos céus. É ele quem resgata Ulisses da ilha de Calipso e o ensina a
livrar-se do encantamento de Circe.
Calipso: Ninfa que vive sozinha numa ilha onde Ulisses vai parar depois do naufrágio.
Tem o herói como prisioneiro e faz de tudo para conquistar o seu amor, chegando
mesmo a prometer-lhe a imortalidade, mas nada funciona.
Circe: Feiticeira, filha do Sol. Vive na ilha de Eana. Conhecida pelos seus
encantamentos e poções, transforma os homens da tripulação de Ulisses em porcos, mas
acaba por ajudar o herói.
A história inicia-se com o concílio dos deuses, onde eles decidem qual será o futuro de
Ulisses, que está preso na ilha de Calipso. Como a obra é iniciada in medias res, serão
feitos recuos na ação de modo a conhecer-se o que aconteceu até ali.
Ulisses é forçado a partir para a Guerra de Troia, que durou 10 anos, deixando o seu
filho Telémaco, que era ainda bebé, e a sua esposa Penélope. Esta sempre acreditou na
volta do seu rei, mesmo sendo pressionada por um grupo de pessoas que diziam que
Ulisses estava morto e que ela deveria casar-se com um dos pretendentes. Com tamanha
pressão, Telémaco sai à procura do pai com alguns companheiros e estes vão para
Esparta e outras cidades em busca de notícias sobre o paradeiro de Odisseu. Este, por
uma série de peripécias, tem o seu regresso muitas vezes retardado:
Ulisses chega à ilha da ninfa Calipso, onde fica preso por muito tempo devido
aos encantos e promessas que uma região cheia de mulheres promove aos
marinheiros;
O aprisionamento do deus Éolo, deus do vento, em um saco que ulteriormente é
aberto e lança a nau para lugares ainda mais distantes;
O lugar para onde foi arremessada a nau era a ilha da bruxa Circe, que
transformou os marinheiros em porcos;
O aprisionamento dos viajantes pelo ciclope Polifemo e a sua estratégia para sair
da prisão na caverna;
O tapar dos ouvidos com cera para não serem atraídos pelo canto das sereias
devoradoras de homens.
Muitas outras peripécias foram utilizadas para evidenciar uma das maiores caraterísticas
de Ulisses: a astúcia.
Enquanto isso, em Ítaca, a rainha Penélope continuava a sofrer uma forte pressão dos
pretendentes, já que Ulisses e o seu filho não regressavam. Assim, ela prometeu coser
uma veste para Laertes, pai de Ulisses: se o rei não regressasse antes do seu
acabamento, ela escolheria um pretendente. Mas, a astuta Penélope, cosia durante o dia
e à noite descosia o trabalho feito para poder ganhar mais tempo.
A guerra acaba devido ao estratagema de Ulisses (o cavalo de Troia). Após este tempo,
Ulisses ainda demorou 10 anos para voltar, exprimindo sempre vontade de voltar a casa
e não havendo qualquer obstáculo que o impedisse.
Finalmente, Ulisses e Telémaco encontram-se e regressam a Ítaca. Avisado pelo filho
sobre os pretendentes, Ulisses encontra a deusa Atena, que lhe diz que se ele retornasse
seria morto por eles. Assim, a deusa transforma-o em mendigo para que ele pudesse ir
ao palácio sem ser reconhecido. Quando a farsa de Penélope é descoberta, exige-se que
ela faça uma escolha e ela, novamente astuta, diz que escolherá aquele que conseguir
manusear o arco do seu marido, mas ninguém teve sucesso. Por fim, chega Ulisses
disfarçado e consegue o feito. A sua esposa aceita-o imediatamente como pretendente e,
desta forma, Ulisses retoma o seu lugar. Assim, desvendamos o significado principal da
Odisseia: o ideal do belo e do bom guerreiro que anteriormente fora atribuído a Aquiles
e agora é atribuído a Ulisses pela sua destreza, astúcia, esperteza, inteligência e
habilidade, tanto na guerra como no governo.
Canto I
“Proposição e Invocação” (1. 1-10)
O narrador abre o poema épico pedindo inspiração à musa para contar a história de
Ulisses, que vagueia para regressar a casa depois da Guerra de Troia.
“Começo da narração” (1. 11-21)
O herói está retido na ilha de Calipso.
Síntese do canto: Odisseu está retido na Ilha de Calipso, que insiste em conquistar o
amor do herói. Os deuses, na ausência de Poseidon (que odeia Odisseu), reúnem-se em
concílio no Olimpo para discutir o destino de Odisseu. Atena pede a palavra e conduz a
sua defesa, alegando que ele é atormentado pelo deus do mar. Os deuses decidem que
Ulisses deverá voltar à sua terra natal (Ítaca). Atena disfarça-se de mendigo e vai falar
com Telémaco para que este parta em busca de novas de seu pai. Os pretendentes de
Penélope estão em festim, abusando da hospitalidade da casa.
Canto II
Síntese do canto: No palácio, Telémaco está triste pois o seu espaço está a ser invadido
por pretendentes arrogantes que querem casar com a sua mãe. Disfarçado de um homem
desconhecido, Atena dá notícias a Telémaco sobre o seu pai, anunciado que ainda se
encontra vivo.
Penélope chora de saudades do marido, cansada dos pretendentes que enganou por mais
de 3 anos. Pediu que esperassem até ela terminar de coser um tapete, mas durante a
noite desfazia-o. Depois da descoberta deste engano, os pretendentes exigiram que ela
tomasse uma decisão. O próprio povo exigia que ela voltasse a casar.
Telémaco convoca a assembleia de Ítaca para que lhe disponham um barco para poder ir
em busca de alguma notícia de seu pai. Disfarçada de mentor, Atena aparece a Telémaco
e promete-lhe ajuda e acompanhamento, motiva-o e educa-o, ensinando-o a lidar e a
dialogar com os outros. Telémaco vai a casa, pede a Euricleia que lhe prepare provisões
para a viagem. Atena providencia um barco e ambos partem (Telémaco e Atena).
Canto III
“A educação de Telémaco” (3.22-28)
Telémaco, acompanhado de Atena disfarçada de mentor, chega a Pilo para conversar
com Nestor e saber informações sobre o paradeiro de Ulisses. A deusa ajuda o jovem a
falar e a dialogar.
Canto IV
Os Campos Elísios (4, 561-569)
Os Campos Elísios correspondiam ao paraíso onde os homens virtuosos repousavam
dignamente após a morte, rodeados por paisagens verde e floridas, dançando e
divertindo-se de noite e dia. Neste lugar só entravam as almas dos heróis, sacerdotes,
poetas e deuses. Algumas das pessoas que lá residiam tinham a oportunidade de
regressar ao Mundo dos Vivos.
Síntese do canto: Telémaco e Pisístrato chegam à Lacedemónia (Esparta), terra de
Menelau.
Conversam com o rei e a sua esposa Helena. Esta coloca uma droga na bebida para
diminuir o seu sofrimento e lamenta a força da paixão que motiva a batalha.
Menelau, após narrar o seu retorno de Troia diz que ouviu do Velho do Mar, Proteus,
que Odisseu ainda estaria vivo em uma ilha.
Em Ítaca os pretendentes planejam matar Telémaco durante sua volta.
Penélope reza a Atena, que lhe aparece em um sonho na forma de sua irmã para acalmá-
la e garante-lhe que o filho está protegido.
Canto V
"Na gruta de Calipso" (5. 43-80)
Hermes, também chamado de Argeifonte, calça as suas sandálias e pega na sua vara e
parte para salvar Ulisses de Calipso.
“O exilado” (5. 148-153; 156-158)
O mensageiro dos deuses encontra Odisseu a chorar na praia com saudades de casa.
Passava os dias a fitar o mar, sentado nas rochas, a lamentar-se e a desejar o seu
regresso a casa.
Síntese do canto: Odisseu está preso na ilha da ninfa Calipso e tem saudades da sua
família.
Atena fala com Zeus acerca das mágoas de Odisseu e Hermes é enviado pelo rei dos
deuses para interceder junto de Calipso em favor de Odisseu. Hermes não encontra
Odisseu na gruta de Calipso, este encontra-se junto ao mar olhando o infinito
nostalgicamente. Hermes convence Calipso a libertar Odisseu. Ela lamenta-se porque o
ama e lhe tinha prometido torná-lo num imortal. Concorda em ajudá-lo a fazer uma
jangada. Odisseu, apesar de sua esposa (Penélope) ser uma mortal, quer ir ter com ela.
Antes de partir na jangada, faz amor pela última vez com Calipso. Abandona a ilha
depois de receber recomendações de Calipso (que vai usar quando for descer ao Hades).
Embora a tentativa de Poseidon para o matar, surge Leucótea (Ino), uma divindade
aquática, que o aconselha a nadar até ao reino de Feaces. Atena manda parar os ventos
para o ajudar.
Esteve dois dias e duas noites à deriva. Depois de conseguir não chocar com os
rochedos atinge a praia a nado. Faz as preces ao espírito do rio. Deita-se na floresta
cobrindo-se de folhas. Adormece num sono profundo providenciado por Atena.
Canto VI
“O despertar de Ulisses” (6. 110-147)
Ulisses acorda com o grito das donzelas e questiona-se sobre o seu paradeiro. Corajoso,
vai procurar saber onde se encontra.
Síntese do canto: Odisseu está a dormir. Entretanto Atena entra num sonho de
Nausícaa, a princesa, e convence-a a ir lavar roupa ao rio. Ela assim o faz, quando
acorda dirige-se ao rio com as suas servas. Atena induz Nausícaa e as servas a fazerem
um jogo atirando uma bola umas às outras e, quando a bola cai, elas gritam. Odisseu
acorda. Questiona-se onde estará. Ele aproxima-se de Nausícaa, esta não foge dele,
apesar de estar nu (Odisseu, enquanto nadava para terra, viu-se obrigado a libertar-se
das armas e das roupas para estas não pesarem). Odisseu põe-se na posição do
suplicante para Nausícaa. Ela acede-lhe gentilmente às súplicas. As servas de Nausícaa
tratam de Odisseu, oferecem-lhe um manto e uma túnica, e óleo para ele untar o corpo
depois de se banhar no rio. Depois dão-lhe comida e bebida. Nausícaa dá-lhe instruções
para ele se dirigir ao palácio de seu pai Alcínoo, para se atirar aos joelhos de sua mãe
Arete e suplicar-lhe ajuda. Se ele cair nas suas boas graças é certo que regressará a Ítaca
porque os Feácios são ótimos construtores de barcos. No caminho passam por um
bosque onde Odisseu dirige preces à deusa Atena.
Canto VII
Síntese do canto: Nausícaa chega a casa. Odisseu fica a rezar a Atena. Vai a caminho
da cidade dos Feácios e encontra uma jovem que é Atena disfarçada. Odisseu pergunta-
lhe onde fica o palácio de Alcínoo. Ela dá-lhe as indicações. Odisseu segue envolto
numa nuvem providenciada por Atena para que os habitantes da Feácia não o vejam,
porque estes são muito agressivos para com os estrangeiros. Odisseu fica maravilhado à
porta do palácio, ele que anda há tanto tempo longe da civilização. Odisseu entra no
palácio e lança-se aos pés de Arete. Suplica-lhe que o ajude a voltar a Ítaca. Senta-se
humildemente na cinza e aguarda. Um velho, Euqueneu, toma a palavra e intercede por
Odisseu. Alcínoo oferece a Odisseu o lugar de seu filho Laodamante. Oferecem-lhe
comida e estadia e todos se vão deitar.
Canto VIII
"As lágrimas de Ulisses" (8 83-103)
Ulisses emociona-se ao ouvir o aedo a cantar episódios sobre a guerra de Troia. Só
Alcínoo reparou nas lágrimas do herói e mandou parar a festa, ordenando que fossem
todos lá para fora para celebrar jogos atléticos.
Síntese do canto: Alcínoo leva Odisseu até à Ágora, onde propõe que se ajude Odisseu
a voltar para Ítaca. Os Feácios admiram a beleza de Odisseu. Seguem para o palácio. O
aedo Demódoco é chamado e fica no meio da sala do palácio para recitar. Come-se. O
aedo canta episódios da guerra de Troia. Odisseu, comovido, chora e cobre-se com um
pano para não o verem. Só Alcínoo repara nisso. Saem todos para a rua. Vão começar os
jogos Laodamante questiona se Odisseu saberá algum jogo e Euríalo desafia-o com
mais arrogância. Odisseu argumenta que não quer jogar, que está cansado, e que a única
coisa que o preocupa é voltar a casa. Euríalo pica-o com soberba e alude que, se calhar,
Odisseu não passa de um corsário dos mares. Odisseu fica irritado. Pega num disco e
atira-o mais longe que algum Feácio poderia atirar. Atena, disfarçada de homem, lê a
marca. Odisseu afirma que não recusa nenhuma prova, exceto com Laodamante que é
seu anfitrião. Afirma que só tem receio de ser posto à prova na corrida porque está
muito quebrado pelas desventuras e naufrágios no mar. Apaziguador, Alcínoo diz que as
palavras de Odisseu são sábias e que os Feácios não são perfeitos no pugilato nem na
luta, mas que são excelentes marinheiros, corredores, dançarinos e excelentes cantores.
Mostram a Odisseu as artes do canto. Cantam o episódio picaresco de Afrodite a trair o
seu marido Hefesto com Ares (Marte). Hálio e Laodamante dançam. Odisseu afirma ao
anfitrião que nas artes da dança não há ninguém como os Feácios. Alcínoo diz a Euríalo
para pedir desculpa a Odisseu pelas provocações de há bocado. Euríalo oferece uma
espada a Odisseu. Alcínoo providencia uma arca com mais presentes para Odisseu. As
servas lavam Odisseu e untam-no com óleo. Nausícaa e Odisseu fitam-se nos olhos; ela
saúda-o, para que ele não se esqueça dela e que é graças a ela que ele foi salvo. No
banquete, Odisseu oferece um pedaço de carne ao aedo Demódoco e gaba-lhe o canto.
O aedo, inspirado, canta o episódio do cavalo de Troia. E Odisseu tem outro momento
de grande choro. Outra vez só Alcínoo viu as lágrimas de Odisseu, e pergunta-lhe por
fim: quem é, onde é a sua terra, e como foi parar ao país dos Feácios.
Canto IX
Síntese do canto: Odisseu vira-se para o seu anfitrião, Alcínoo e diz-lhe que vai-lhe
relatar as suas aventuras. Diz-lhe quem é e de onde vem (Odisseu, Ítaca). Vai contar a
sua viagem desde que partiu de Troia. Aproximou-se dos Cícones que viviam na Trácia.
Aí Odisseu e os seus companheiros saquearam a cidade, apoderando-se das mulheres e
das riquezas. Odisseu aconselhou os seus a retirarem-se, mas estes ficaram a beber o
vinho e a degolar bois em abundância. Os Ciclones, entretanto, foram chamar reforços.
Contra-atacaram, destroçando os aqueus. Em cada nau morreram seis marinheiros de
Ulisses. Fugiram e deixaram os companheiros mortos na praia.
Depois de nove dias de viagem arribam à terra dos Lotófagos (literalmente os
comedores de lótus). Os companheiros de Odisseu queriam ficar com os Lotófagos a
comer lótus que lhes provocava o esquecimento. Odisseu teve de obrigá-los a
embarcarem. Chegam à terra dos Ciclopes. Aqui dá-se um dos episódios mais
conhecidos da saga de Odisseu. Os ciclopes são homens gigantescos, que vivem sem lei
e são trogloditas (vivem em cavernas). Odisseu, movido pela curiosidade, quer ver e
falar com um ciclope. Os ciclopes são pastores de ovelhas. Quando Polifemo (o mais
medonho e feroz dos ciclopes) dorme, Odisseu pega na espada, mas depois reconsidera
porque não poderia depois abrir a entrada da gruta para sair. No dia seguinte, enquanto
Polifemo estava com o rebanho fora, com os seus amigos prepara uma grande vara, afia-
lhe a ponta e endurece-a ao lume. Polifemo volta e come mais dois aqueus. Odisseu
oferece-lhe vinho. Polifemo pergunta-lhe o nome ele responde eu sou "ninguém".
Polifemo agradece-lhe o vinho e diz-lhe que, em retribuição da bebida, vai deixar
Odisseu ser o último a ser comido. Depois, toldado pelo vinho, o gigante adormece.
Então Odisseu e os seus camaradas espetam-lhe a grande lança no olho. Este levanta-se
aos gritos. Aparecem outros Ciclopes lá fora a perguntar-lhe o que lhe aconteceu. Ele
responde ficou cego. Eles perguntam: Por quem? Polifemo responde: Por "ninguém".
No dia seguinte os aqueus e Odisseu penduram-se por baixo das ovelhas. Assim, o
Polifemo cego que agarra nas ovelhas uma a uma para as pôr para fora, e que as tateia
por cima, não se apercebe do estratagema. Fogem assim os que sobram para as naus
ancoradas. Depois de levantarem ferro, Odisseu a alguma distância da costa grita
injúrias a Polifemo cego. Este num acesso de raiva atira-lhes grandes pedregulhos que
quase acertam nas naus.
Canto X
Síntese do canto: Quando Odisseu chega à terra de Éolo (guardião dos ventos) este,
vendo que Odisseu era um homem de caráter elevado, dá-lhe um saco que continha
todos os ventos que os podiam incomodar durante a sua viagem, mas com a condição de
nunca o abrir. No entanto, a curiosidade dos companheiros aqueus foi maior e, enquanto
Odisseu dormia, abriram o saco, de onde de facto saíram todos os maus ventos para a
viagem, o que provocou uma violenta tempestade. Quando a tempestade acalmou,
voltaram atrás para de novo pedir ajuda a Éolo, mas este recusou ajudá-los, uma vez que
não foram cuidadosos. Logo Éolo deduz que estes viajantes não eram queridos pelos
deuses e, portanto, não mereciam ajuda.
Voltaram ao mar, no sétimo dia chegaram a cidadela de Lamos, em Teléfilo dos
Lestrígones (gigantes). Odisseu despachou uns companheiros para investigar quem ali
morava. Eles desembarcaram e percorreram uma estrada lisa por onde carroças
transportavam lenha das altas montanhas para a cidade. Encontraram diante da cidade
uma moça com um cântaro. Era a corpulenta filha de lestrígone Antífates, que descera a
fonte para pegar água. Perguntaram-lhe quem era o rei do local. Ela indicou a mansão
de seu pai. Ao entrarem na mansão se depararam com uma mulher tão alta que os
encheu de pavor. Ela chamou da praça o marido, o ilustre Antífates, que pensou em lhes
dar um triste fim. Agarrou um dos camaradas e fez o jantar. Os outros dois
companheiros correram para o barco. O rei deu o alarme na cidade e de todos os lados
vinham lestrígones aos milhares, não pareciam homens e sim gigantes. Eles começaram
a jogar pedregulhos que atingiam os barcos e companheiros, desfazendo-os em pedaços.
Eles fisgavam-nos como peixes e levavam-nos para o seu jantar. Odisseu rapidamente
cortou as amarras de seu barco e, rapidamente, os seus companheiros remaram.
Enquanto isso os outros eram destruídos em massa. Dali prosseguiram com o coração
pesaroso, mas contentes de escapar à morte, embora com a perda de companheiros
queridos. Chegaram a Ilha de Eeia, onde vivia "Circe", de ricas tranças, deusa terrível,
de humana linguagem. Desembarcaram e deixaram-se ficar por ali dois dias e duas
noites, devorando o coração de fadiga e tristeza.
No terceiro dia, Odisseu pegou na sua lança e na sua espada, subiu até o cume do monte
mais próximo e de lá avistou uma casa no meio de um bosque. Retornou aos seus
companheiros, mas no caminho conseguiu abater um cervo. Os homens ficaram muito
alegres ao vê-lo chegar com a caça e fizeram um festim de carne e vinho na praia.
Odisseu só lhes contou o que vira no dia seguinte, mas os homens não ficaram animados
com a ideia de explorar a ilha, pois ainda tinham muito presentes os infortúnios que
passaram. Odisseu sugeriu que se dividissem em dois grupos: um seria liderado por ele
e o outro pelo denodado Euríloco, e tirariam a sorte para decidir qual dos dois exploraria
a ilha. Os homens aceitaram e o grupo de Euríloco partiu com de 22 homens, que iam
chorando temendo acabassem mortos. Numa clareira da baixada, acharam o solar de
Circe, construído de pedras polidas. Rodeada de lobos e leões, por ela enfeitiçados com
drogas venenosas. Eles não atacaram os companheiros de Odisseu, pelo contrário, estes
foram bem recebidos. Dentro ouviam o canto de Circe que trabalhava a tecer uma
grande trama, como as deusas o fazem. O primeiro a falar-lhe foi Polita, o mais caro e
precioso dos companheiros de Odisseu, que disse que a deviam chamar. Ela abriu a
porta e os convidou a entrar, todos entraram, menos Euríloco, que suspeitou. Serviu-lhe
comidas com drogas e que provocavam esquecimento de casa, logo viraram em suínos,
embora preservassem a inteligência, ficaram presos em pocilgas. Circe deu-lhes comida
de porcos. Euríloco voltou correndo para o barco e contou o que havia acontecido com
muito nervosismo e insistiu para que fossem embora, pois não poderiam trazer de volta
os companheiros, Odisseu disse que ele poderia ali ficar, mas que ele iria atrás dos
companheiros. Indo ao solar de Circe, Odisseu é abordado por Hermes, da vara de ouro,
que na figura de um jovem lhe dá uma erva benéfica. Ele disse que Circe lhe dará
comida com uma droga, mas que não fará efeito por causa erva que lhe deu e o protege,
quando Circe quiser tanger-se com sua longa vara, ele deveria sacar de junto da coxa o
gládio aguçado e fazer como se fosse atacá-la. Circe amedrontada, iria convidá-lo a ir
deitar-se com ela. Ele não deveria recusar nada. Dito isso tirou do chão môli, que
somente os deuses conseguiam arrancar. Ele vai a casa de Circe, ela lhe dá a comida,
manda que vá para junto dos companheiros, ele saca a faca, ela fica com medo, pergunta
sobre ele e, por fim, convida-o para se deitar com ela. Odisseu apenas aceita fazer o que
ela pede caso ela liberte os seus companheiros e, desta forma, os homens voltam
novamente à forma humana. Circe diz-lhe que volte com os outros companheiros para o
seu solar, ele obedece. Ela recebeu-os todos bem, comerem e beberam, e assim ficaram
ali durante 1 ano. Após um ano, os companheiros reuniram-se e disseram a Odisseu que
estava na hora de irem para casa. Odisseu foi falar com Circe, que lhe diz que se assim
deseja, que vá, mas que antes deve fazer outra viagem, deve ir à morada de Hades e da
terrível Perséfone, a fim de consultar a alma de Tirésias, o adivinho cego, cuja mente
continua viva. Perséfone concedeu-lhe inteligência ainda após a morte, para que só ele
fosse inspirado, enquanto os outros pairam como sombras.
Canto XI
Síntese do canto: Depois de um vento favorável providenciado por Circe, a nau de
Odisseu chega ao país dos Cimérios. Depois das libações e das oferendas aos deuses,
Odisseu endereça uma prece aos mortos. Odisseu dirige-se para a entrada do Inferno
para descer ao mundo subterrâneo dos mortos e consultar Tirésias. (O reino dos mortos,
o Hades, também chamado de inferno ou infernos é muito diferente do inferno dos
cristãos. Os gregos não tinham a noção de Paraíso, e o reino dos mortos era um sítio
onde apenas havia sombras, um resquício triste do que as pessoas foram em vida).
Então Odisseu entra no mundo dos mortos, enquanto os seus companheiros ficam à
superfície fazendo rituais para acalmar os mortos. Odisseu encontra o seu companheiro
Elpenor e a sua falecida mãe Anticleia. Odisseu comove-se ante a sua aparição. Depois
encontra Tirésias e recebe os seus conselhos e profecias: Poseidon tentará tudo para que
Odisseu não regresse a casa. Quando encontrar os Bois de Hélio não os deve molestar
pois se o fizer grande mal acontecerá. E que quando chegar a casa grandes
preocupações virão porque haverá homens que pretendem a sua esposa e que
desperdiçam os seus bens. Tirésias prediz ainda que Odisseu matará os pretendentes. E
que acabará numa velhice opulenta e que em sua volta os povos florescerão. Tirésias
retira-se para os fundos do reino dos mortos.
A mãe de Odisseu pergunta-lhe como foi ele capaz de chegar até debaixo do mundo. E
se ele já se aproximou de Ítaca. Odisseu diz-lhe que lhe era necessário ir ao Hades para
consultar Tirésias e que não chegou ainda a Ítaca. A mãe de Odisseu diz-lhe que
Penélope continua fiel a Odisseu. E que o pai ainda vive, mas está muito apagado.
Odisseu tenta abraçar três vezes a mãe, mas três vezes abraça só um sonho. Depois
Odisseu avista várias princesas.
Interrompe-se o relato de Odisseu. O que nos lembra que estamos na corte dos Feácios a
ouvir Odisseu contar, em analepse, as suas aventuras até chegar ao reino de Alcínoo.
Odisseu conta que encontrou mais personagens no reino dos mortos. Aquiles, Ájax,
heróis e companheiros de Odisseu na guerra de Troia. Avista ainda Minos, Titio, Tântalo
(que tinha o suplício de estar preso de pé num lago a morrer de sede sem conseguir
beber). Sísifo (que levava um rochedo às costas ladeira acima que depois escorregava, e
depois voltava a empurrá-lo eternamente). Depois avista Hércules. Os mortos começam
a acumular-se em volta de Odisseu com gritos medonhos e este, tomado pelo medo, e já
tendo consultado Tirésias que era a razão de ter descido àquele reino, retira-se.
Canto XII
Odisseu manda os seus companheiros à mansão de Circe para recuperar o corpo de
Elpenor (companheiro de Ulisses). O corpo é sujeito a cremação numa fogueira. Circe,
não ignorando que Odisseu regressou do Hades, trouxe-lhes carnes e vinhos em
abundância e dá-lhes instruções para a viagem. Vão encontrar sucessivamente as
Sereias, Cila (que vai devorar alguns dos companheiros) e Caríbdis.
Circe diz-lhe ainda que ele chegará a seguir à ilha da Trinácria (que quer dizer três
montes, que corresponde à Sicília). Circe vai-se embora e Odisseu e os seus retomam
viagem.
Odisseu, "dos mil ardis", quer ouvir o canto imortal das sereias. Que consta que são
cânticos tão divinos que um mortal enlouquece e atira-se à água. Odisseu pede aos seus
colegas que ponham todos cera nos ouvidos para não ouvirem o canto. Depois pede que
o amarrem ao mastro e que por mais que ele suplique que não o desamarrem. Assim o
inteligente Odisseu consegue ser o único ser humano que ouviu o canto das sereias e
que ficou vivo para contar.
Aqui acaba o relato de Odisseu aos Feácios.
Canto XIII
Síntese do canto: O barco que transportava Odisseu chega a Ítaca. Os feáceos deixam-
no em terra firme (este em sono profundo) junto com todos os presentes que estes lhe
ofereceram. O barco retorna à sua terra, despertando a ira de Poseidon por conseguirem
chegar ao seu destino. Poseidon fala com Zeus sobre castigar os feáceos (por terem
ajudado Ulisses) e Zeus aprova. Os feáceos, dando-se conta da ira do deus, prostram-se
e oram em sua honra
Odisseu acorda sem saber onde está. Pergunta a Atena, que, disfarçada de pastor, diz
que ele está em Ítaca. O herói não acredita. Atena assume a forma de uma bela mulher e
mostra-lhe a sua terra. Ulisses fica feliz por voltar.
Atena engendra um plano para que o engenhoso Odisseu possa reaver os seus bens e a
sua família. Primeiro, faz Odisseu guardar os presentes em uma gruta e Atena fecha a
entrada com uma laje. Depois, Atena puxa assunto com Odisseu sobre a sua vingança
contra os abusados pretendentes. Atena diz que transformará Odisseu em um mendigo
repugnante, completamente diferente de sua figura, para que não seja reconhecido, mas,
antes, Odisseu deve procurar o guardião dos seus porcos, que gosta de Penélope e
Telémaco, e deve contar tudo ao porqueiro, enquanto ela vai a Esparta para chamar
Telémaco. Odisseu pergunta a Atena por que ela deixara que seu filho o procurasse sem
rumo. Atena diz que cuidara dele e que Telêmaco estava a ser bem tratado no palácio do
filho de Atreu (Menelau), onde é servido com abundância. Mas diz que alguns homens,
os pretendentes, esperam Telêmaco e que lhe estão a preparar uma armadilha, em Ítaca.
Em seguida, Atena toca Odisseu com uma vara, transformando-o em um moribundo, e
vai a Lacedemônia em busca de Telémaco.
Canto XIV
“Ulisses na cabana de Eumeu” (14. 80-88)
Ulisses esconde-se na casa de um criador de porcos, Eumeu, que lhe dá abrigo, comida
e proteção. O porqueiro refere que os deuses não gostam de atos injustos, mas apreciam
a justiça e as boas ações dos homens.
Síntese do canto: Quando ele chega a casa de Eumeu, os cães recebem-no com grande
alarido. Eumeu dirige-se a Ulisses e, sem o reconhecer, faz referências elogiosas ao amo
que partiu e convida o visitante para o seu casebre enquanto tece considerações sobre a
justiça dos homens e sobre os prejuízos que têm sido causados ao seu falecido amo.
Eumeu mata dois porcos para a ceia do estrangeiro, polvilha a carne com cevada branca
e põe-na a grelhar em espetos, acompanhando, depois, a refeição com vinho doce.
Eumeu profere considerações de reprovação contra o comportamento dos pretendentes
de Penélope. Segue-se a vez de Ulisses falar, começando por pedir que Eumeu lhe fale
sobre o amo pois, sendo ele muito viajado, talvez lhe possa dar alguma informação útil.
Eumeu responde que tudo o que qualquer viajante possa dizer sobre o amo é para tirar
disso benefícios e está convencido de que seu amo estava morto.
Ulisses diz-lhe, sob juramento, que o amo está vivo e que no decurso do mês, entre o
quarto minguante e a lua nova, chegará a Ítaca. Eumeu diz que naquele momento
também está preocupado com Telémaco que partiu à procura do pai e que os
pretendentes lhe preparam uma emboscada para o regresso.
Eumeu pede ao viajante que lhe conte as desgraças que sofreu ao que Ulisses responde
que tendo comida e vinho poderá falar-lhe sobre isso durante um ano. Inicia então um
relato fantasioso da sua vida, realçando os feitos de guerra em Ílion (Troia), Príamo,
Egipto, onde Zeus esteve contra ele, Fenícia, Líbia e Creta onde pereceram todos os
companheiros tendo sobrevivido do naufrágio agarrado ao mastro da nau e sido
arrastado até Tesprócios, onde foi recolhido pelo rei, que lhe falou de Ulisses e o
informou ter uma nau pronta para levar este a Dodona onde ouviria a vontade de Zeus
sobre o seu regresso a casa. Ele, pobre viajante, embarcou numa nau que partia para
Dulíquo e, por má deliberação da tripulação foi feito prisioneiro e pretendiam vendê-lo
como escravo, mas conseguiu libertar-se e fugir quando a nau atracou a Ítaca.
Eumeu comove-se com o relato, mas diz que não acredita que Ulisses está vivo. Foi
recolher os porcos, cortar lenha e matar um porco para a ceia. O viajante faz novos
relatos e pediu uma capa ao que Eumeu responde que eles não tinham roupas para além
das que vestiam, mas que em breve o filho do amo passaria por ali e lhe daria roupas
novas. Fez a cama de Ulisses e saiu para ir dormir junto dos porcos. Ulisses ficou muito
agradado sobre tudo o que ouviu do porqueiro.
Canto XV
Síntese do canto: Atena recomenda a Telémaco que regresse a casa onde Penélope está
a ser pressionada a casar, aconselha-o como evitar a emboscada dos pretendentes e que
ao desembarcar em Ítaca visite, em primeiro lugar, o porqueiro que levará a notícia do
seu regresso à mãe. Telémaco pede auxílio a Menelau para a viagem e recebe uma
oferta das mãos da mulher de Menelau, a bela Helena. Seguiu-se um jantar com carne e
vinho. Enquanto conversavam uma águia voou do lado direito o que significava bom
presságio que a própria Helena decifrou dizendo significar o regresso de Ulisses a casa
onde castigará os pretendentes.
Telémaco inicia o regresso por Feras, tendo passado a noite em casa de Diocles e
embarcado na manhã seguinte. Na hora do embarque aproximou-se de si Teoclímeno
que lhe fez perguntas sobre o propósito da sua viagem e lhe pediu para embarcar com
ele ao que ele acedeu.
Entretanto no casebre do divino porqueiro jantavam o forasteiro (Odisseu) e os outros
servos. Para experimentar Eumeu, o forasteiro pede para ir à cidade e manifesta a
intenção de visitar Penélope no palácio de Odisseu onde se proporia fazer os trabalhos
em que é sabedor tais como rachar lenha, trinchar a carne e servir os vinhos. Eumeu
considera a ideia perigosa e recomenda-lhe que aguarde a chegada do filho de Odisseu.
O forasteiro pede que o porqueiro lhe fale dos pais de Odisseu tendo sabido que Laertes
está vivo, mas muito choroso pela morte da esposa e ausência do filho, pede-lhe
também que o porqueiro conte a sua história ao que este diz que lhe contará no dia
seguinte pois há um tempo próprio para cada coisa. Conta depois que é originário da
ilha de Síria onde reinava o seu pai Ctésio. Quando criança aportou à sua ilha uma nau
de fenícios com quem a sua ama, também fenícia, se entendeu para o raptar. A ama
morre na viagem e ele chega a Ítaca onde Laertes o comprou e criou com amabilidade.
Entretanto Telémaco chega a Ítaca onde diz aos companheiros para seguirem no barco
enquanto ele irá por terra visitar uns pastores. Um falcão segurando uma pomba com as
garras voou do lado direito no que Teoclímaco vê bom augúrio. Telémaco calça as belas
sandálias e caminhou veloz a caminho da pocilga.
Canto XVI
Síntese do canto: Ao chegar na casa do porqueiro, os cães fizeram uma festa a
Telémaco, Odisseu acompanhou o movimento do convidado com cautela e logo viu que
era o seu filho.
O criador de porcos recebeu com muito carinho o querido Telémaco, que o trata por
paizinho devido ao carinho que este lhe tem. Eumeu conta o que está a acontecer em
Ítaca, que os pretendentes continuam em sua casa. Odisseu, disfarçado de miserável
acompanhava a conversa do filho. Telémaco pergunta de onde era o forasteiro (Odisseu)
e o porqueiro conta-lhe que é um viajante sem rumo e que seu destino é vaguear pelas
cidades (foi a história que Odisseu lhe havia dito). Telémaco pede que o porqueiro cuide
do forasteiro e Odisseu pergunta a Telémaco o porquê de deixar que os pretendentes
abusem de seus bens. Telémaco responde que não pode fazer nada, pois há muitos
nobres da região que desejam ocupar o lugar do seu pai (pela cultura da época, quando
um homem poderoso fosse dado como morto a esposa deveria escolher o pretendente
mais nobre para ocupar seu lugar). Telémaco, como Atena lhe disse, pede que o
porqueiro avise Penélope que ele chegou e que está bem. Eumeu pergunta se deve
avisar Laertes também, pois o velho estava triste e solitário desde a partida do neto e
Telémaco pede que peça a uma criada para avisá-lo. Eumeu vai avisar Penélope. ~
Atena aparece a Odisseu e diz que este deve contar a verdade a Telémaco. Atena
transforma Odisseu na sua antiga forma, este aparece para Telémaco que assustado
pensa ser um deus. Ulisses diz que é seu pai e Telémaco não acredita, mas Odisseu
explica que Atena o ajudou e como chegou até lá, trazido pelos feáceos. Odisseu pede
que Telémaco lhe conte quantos são os pretendentes e como são para poderem articular
uma vingança. Telémaco teme que precisem de ajuda pois são 52 pretendentes e se
Ulisses tentar vingar-se de todos sozinho, fracassará.
Odisseu pede que Telémaco veja se precisarão de ajuda, ou se Atena e Zeus lhe
bastarão, e conta-lhe seu plano: mais tarde o porqueiro iria levá-lo à cidade, disfarçado
de velho mendigo. Telémaco não deveria interferir mesmo que maltratassem Odisseu.
Pediu que ao seu sinal Telémaco pegasse as armas de guerra existentes no solar e as
levasse para o fundo da sala de armas. Que se perguntarem desse uma desculpa que as
armas estavam se degradando por causa da fumaça. Que ele só deixasse um par de
adagas, um de lanças e um de escudos de couro à mão para eles. E que ninguém
soubesse que Odisseu estava em casa, pois Odisseu iria por todos à prova. Queria saber
quais realmente gostavam dele e ainda eram fiéis à sua lembrança. Telémaco teme que a
ideia de Odisseu de testar um a um o povo de sua terra demore e que enquanto isso, a
sua casa continuará a ser alvo de desrespeito. Enquanto isso, Penélope ficou a saber que
o filho estava de volta. Os pretendentes avistam o barco a voltar e reúnem-se para
planear a morte de Telémaco. Antínoo, filho de Eupites fala: quer que matem Telémaco,
repartam seus bens e que Penélope escolha com quem casará e este ficará com a casa.
A proposta agradou os pretendentes que foram até a casa de Odisseu. Lá, Penélope,
como não era de costume, aparece e repudia Antínoo por planejar a morte de seu filho.
Eurímaco responde-lhe que não se preocupe, pois, ninguém tocará em seu filho, sendo
que ele próprio pensara em sua morte. Ao entardecer Eumeu voltou e Odisseu já havia
posto trajes de mendigo para não ser reconhecido.
Canto XVII
"O cão de Ulisses" (17. 290-327)
Argos, o cão de Ulisses é o único que reconhece o dono imediatamente. O cão foi
abandonado depois do dono partir para Troia, foi deixado no meio do esterco das mulas
e bois, coberto de carraças, ninguém queria saber dele nem lhe davam cuidados. Mas,
quando se apercebeu que Odisseu estava perto começou imediatamente a abanar a cauda
e baixou as orelhas, só que já não tinha forças para se aproximar do dono. Ulisses,
emocionado, desviou o olhar para limpar uma lágrima. O cão, após 20 anos sem ver o
dono, acabou por morrer naquele momento. Parecia que estava à espera do regresso do
herói grego para atingir o seu final.
Síntese do canto: Na manhã seguinte, Telémaco disse a Eumeu que iria retornar à sua
casa e rever a mãe, disse que levasse o forasteiro para mendigar na cidade. Ao chegar a
casa, a primeira a ver Telémaco foi a ama Euricleia; ela abraçou-o e ficou emocionada.
Em seguida Penélope veio emocionada ao reencontro do filho, perguntou o que este
soubera do pai na sua viagem a Pilos. Telémaco pediu à mãe que subisse, tomasse banho
e vestisse roupas limpas. Penélope obedece. Telémaco vai para fora da casa, onde as
pessoas o cercam querendo revê-lo, assim como os pretendentes que fingiam afetividade
por ele.
Em conversa com Telémaco, Penélope deseja saber o que lhe disseram sobre o regresso
de Odisseu e Telémaco conta-lhe a sua viagem.
A noite chega, é hora do jantar e os pretendentes vão comer o banquete na mansão. O
porqueiro e Odisseu apressam-se para chegar logo à cidade. Ao chegarem, viram
Melântio (servo e pastor na casa de Ulisses) que ia levando cabras para o banquete dos
pretendentes, pois este compactua com eles. Para surpresa de Odisseu, este despreza-o e
ofende-o, chegando a dar um pontapé nas nádegas de Odisseu, que nada pôde fazer.
Eumeu defende-o e diz que Odisseu deveria voltar, mas Melântio ainda diz que ficaria
feliz se Telémaco também morresse.
Canto XVIII
Síntese do canto: Iro (mendigo) insulta Odisseu. Os pretendentes combinam um
combate entre os dois mendigos. Todos se surpreendem quando Odisseu tira a camisa e
mostra um corpo bastante musculado, aplica uns golpes e parte o queixo a Iro.
Canto XIX
“A teia de Penélope” (19. 123-161)
A “teia de Penélope” é uma estratégia astuta que Penélope, esposa de Ulisses, usa para
adiar a escolha de um novo marido na ausência do seu esposo. Enquanto Odisseu está
fora, muitos pretendentes acreditam que ele está morto e tentam conquistar Penélope.
Penélope afirma que irá escolher um pretendente quando acabar de tecer uma veste para
Laertes, pai de Ulisses. No entanto, durante a noite desfaz todo o trabalho que fez
durante o dia. A artimanha mantém-na ocupada e é uma forma de ela ganhar tempo na
esperança que o seu marido volte. A “teia de Penélope” simboliza a sua lealdade e
paciência enquanto aguarda o retorno de Ulisses.
Síntese do canto: Depois de os pretendentes terem saído, Odisseu manda que seu filho
esconda as armas que houver no palácio. Atena guia-o, empunhando uma tocha.
Penélope repreende a escrava Melanto por haver insultado o mendigo. Penélope
interroga o estrangeiro acerca de sua naturalidade e, perante a sua recusa em responder,
insiste de novo. Odisseu acaba por condescender: Penélope ouve com emoção a
narrativa do hóspede, que declara ter visto Odisseu em Creta. A rainha põe à prova a
sinceridade do mendigo, que lhe anuncia o próximo regresso de Odisseu. Penélope
ordena à velha Euricleia (criada) que lave os pés do mendigo. Euricleia reconhece
Odisseu por uma ferida que ele tem na perna. Odisseu pede-lhe que guarde silêncio.
Penélope conta a Odisseu um sonho que parece anunciar o regresso do esposo. Com a
aprovação do mendigo, propõe-se estabelecer um concurso entre os pretendentes: casará
com o vencedor.
Canto XX
Síntese do canto: Odisseu não consegue dormir. Sente-se tentado a punir as escravas,
mas contém-se. Atena adormece-o. Penélope lamenta sua desgraça. Odisseu pede a Zeus
que lhe envie dois presságios: sua prece é atendida. Telêmaco dirige-se à assembleia. As
escravas procedem a limpeza da casa; os pastores chegam, trazendo as suas vítimas. O
Cabreiro Melântio quer expulsar de casa o estrangeiro; o pastor Filécio interessa-se pelo
infeliz estrangeiro e fala-lhe de Odisseu em termos comoventes. Um sinistro presságio
inquieta os pretendentes, que desistem do projeto de matar Telêmaco. Este fala, como
dono da casa: ninguém insultará impunemente seu hóspede. Agelau exorta os
pretendentes a que se mostrem calmos e aconselha Telêmaco a apressar o casamento de
sua mãe. Teoclímeno, hóspede da casa, levanta a voz e prediz a desgraça que impende
sobre os pretendentes. Aproxima-se a hora do castigo.
Canto XXI
Síntese do canto: Penélope propõe o desafio aos pretendentes de casar-se com aquele
que conseguir armar o antigo arco de Odisseu e atirar uma flecha através de doze
machados. O primeiro a tentar, sem sucesso, foi Telémaco, seguido dos pretendes.
Odisseu, ainda disfarçado de mendigo, conversa com o boieiro e o porqueiro, constata
que tem a lealdade de ambos e aos dois revela sua identidade. Odisseu combina com os
dois escravos para que um lhe entregue o arco em posse dos pretendentes e outro
tranque as portas para que ninguém possa sair do local. Após uma discussão sobre dar o
arco ao mendigo para que ele o tente armar, Telémaco manda sua mãe retirar-se para
seus aposentos, levando junto as escravas. Odisseu arma o arco sem nenhuma
dificuldade e atira certeiramente por entre os doze machados, após isso, faz um sinal a
seu filho, Telémaco, que se prepara para a chacina.
Canto XXII
“A vingança de Ulisses” (22. 1-8; 437-477)
Ulisses, aproveitando um momento de distração, segura o seu arco e o seu filho pega na
espada. De frente para a porta, começa a disparar contra os pretendentes, matando-os
todos e, para evitar traições, manda enforcar as empregadas que não eram de confiança.
"o aedo" (22, 347-349)
Definição de aedo: Um aedo refere-se a um cantor épico, um poeta que recita ou canta
versos épicos que narram as aventuras heroicas de figuras lendárias. Na história,
desempenham um papel significativo, pois são responsáveis por transmitir a tradição
oral e preservar as histórias e feitos dos heróis para as gerações futuras.
Síntese do canto: Odisseu dá início ao massacre dos pretendentes atirando uma flecha e
matando Antínoo (o mais violento e egoísta dos pretendentes). Após isso, o herói revela
a sua identidade e todos ali presentes sentem um profundo terror. Eurímaco (um dos
pretendentes) propõe que ele e os restantes dos pretendentes restituam Odisseu dos bens
consumidos, este responde negativamente que a morte os espera. Os pretendentes
partem para cima de Odisseu. Telémaco vai buscar ao pai lanças, um escudo e um elmo.
O cabreiro busca as mesmas armas para os pretendentes. Atena aparece e decide colocar
à prova a força e a coragem de Odisseu. Odisseu e seus aliados dão combate aos
pretendentes. O massacre continua até os pretendentes estarem todos mortos. Odisseu
manda buscar a anciã Euricleia e pergunta-lhe que escravas foram desonrosas e quais
são inocentes, esta acusa doze das escravas que foram enforcadas em seguida por
Telémaco.
Canto XXIII
Síntese do canto: Euricleia vai acordar Penélope e diz que seu esposo se encontra em
casa.
Penélope diz que Euricleia está insana e acusou-a de a ter acordado dos melhores dos
sonos que já teve. Euricleia diz-lhe que Odisseu era o forasteiro e que Telêmaco já
sabia, mas guardava segredo para que o pai se vingasse. Penélope dá um salto da cama
alegre. Euricleia explica como Odisseu matou os pretendentes.
Penélope nega-se a acreditar que é Ulisses, crendo que foi algum deus que matou os
pretendentes. Euricleia fala-lhe da cicatriz de Odisseu e elas descem dos aposentos
superiores. Penélope está confusa, não sabe em que acreditar, vai ao encontro de
Odisseu e Telêmaco reclama por a mãe não reconhecer o próprio esposo. Penélope diz
que se aquele for Odisseu ela saberá. Odisseu pede a Telêmaco para meditar sobre os
pretendentes que haviam matado (os moços de melhor linhagem de Ítaca) e ordena que
os lave, lhes ponha túnicas e que as servas os vistam com roupas escolhidas. Que o aedo
(poeta) toque a sua lira para que ninguém desconfie da matança antes deles irem para a
fazenda.
Eles obedecem as ordens e os que estavam fora da mansão acreditam, ao ouvirem a
música, que Penélope havia desposado algum dos pretendentes e alguns até a julgam
por não ter esperado por Odisseu. A despenseira banhava e untava de óleo Odisseu e
Atena embelezou-o (parecia um deus). Depois foi ao encontro de Penélope e Odisseu
diz que ela tem o coração mais duro de todas as mulheres. Penélope pede a Euricleia
que leve a cama feita por ele para fora para ele dormir (É uma armadilha de Penélope
para ver se aquele era mesmo Odisseu). Ele sente-se ofendido com tais palavras e
pergunta quem teria mudado seu leito de lugar, pois ele conta como ele mesmo o fez
com muito esforço e que seria necessário um deus a mudá-la de lugar ou alguém cortar
o tronco de oliveira que a sustenta. Penélope, finalmente fica convencida que aquele é
Odisseu e pede desculpas, explicando que queria ter a certeza e não ser enganada.
Odisseu fala sobre as futuras provações que passarão ainda, profetizadas por Tirésias
(no Hades). Odisseu e Penélope vão para a cama. Telêmaco, o vaqueiro e o porqueiro
param a música do aedo e deitam-se. Odisseu relata resumidamente tudo pelo que
passou enquanto esteve fora, assim como Penélope. Amanheceu mais tarde (devido aos
deuses que deixaram o casal mais tempo juntos na cama, trocando juras de amor) e
Odisseu diz que irá ver seu pai Laertes com o criador de porcos, Telêmaco e o vaqueiro.
Canto XXIV
Síntese do canto: O mensageiro Hermes conduz as almas dos pretendentes até o Hades.
Odisseu sai em busca de Laerte, seu pai. Convence-o de que é seu filho pela cicatriz na
perna e pela descrição do pomar de Laerte. Ocorre o reconhecimento e ambos festejam.
Hermes ia chamando a alma dos pretendentes, que o seguiam dando gritos. Por fim
chegaram ao Vergel dos Asfódelos, onde habitam as almas, espetros dos finados. Almas
ali presentes: Aquiles, Antíloco, Ájax, Agamêmnon. Aquiles fala a Agamêmnon e
lamenta a sua morte (foi morto em Ítaca pelo amante de sua esposa após regressar de
Troia). Já Agamêmnon fala do glorioso enterro de Aquiles (onde veio sua mãe do mar
com as nereidas, assim como as nove musas), choraram por 17 dias, fizeram oferendas,
ele foi cremado em roupas de deuses. Retoma os eventos dizendo que Aquiles sempre
será lembrado, enquanto ele existir, enquanto ele nada ganhou com a guerra, e ainda ao
voltar para casa foi morto por Egisto. Argeifontes traz as almas dos pretendentes e, ao
vê-los, Agamêmnon e Aquiles foram ao encontro deles. Agamêmnon reconhece
Anfimedonte (um dos pretendentes) e pergunta-lhe o que aconteceu. Anfimedonte
explica-lhe tudo desde o começo.
Odisseu chega a fazenda de Laertes. Para o testar, Odisseu vai de encontro a Laertes,
pergunta quem é o seu dono e diz que parece malcuidado pelo seu patrão. Odisseu
conta-lhe mais uma de suas engenhosas mentiras a fim de o por à prova. Disse-lhe que
certa vez se hospedou em sua casa um homem, forasteiro, vindo de longe, disse que era
de família itacense e que seu pai era Laertes. Este pergunta-lhe quando é que esteve
estado com seu filho mal-afortunado (que havia passado por tantas desgraças) e fez-lhe
várias perguntas sobre a origem daquele homem. Odisseu diz que viu o filho de Laertes
(ele mesmo) pela última vez há 5 anos e que ele partiu em paz. Laertes entristeceu e
Ulisses comoveu-se, lançando-se a ele, abraçou-o e beijou-o e disse que ele era seu filho
e que matou os pretendentes. Laertes pede uma prova, convence-o de que é seu filho
pela cicatriz na perna e pela descrição do pomar de Laerte. Laertes desmaia em seus
braços de tanta emoção. Teme a vingança dos familiares dos pretendentes mortos.
Odisseu diz-lhe para não se preocupar com aquilo agora, que pediu para Telêmaco, o
vaqueiro e o porqueiro lhes prepararem uma refeição. A serva Sícula banhou e untou
Laertes, Atena tornou-o mais alto e encorpado que antes. Eles comeram. Aparece o
velho Dólio e seus filhos. Eles reconhecem Odisseu, Dólio festeja o seu regresso e
pergunta se Penélope já sabe.
Na cidade, o mensageiro Boato, contava sobre a chacina dos pretendentes. Uma
multidão vinda de todas as partes foi para frente da casa de Odisseu. Cada qual tirava da
casa os seus mortos e sepultava-os; mandavam os de outras cidades para suas casas de
barco e iam juntando-se na praça com luto no coração. Formou-se uma assembleia,
primeiro falou Eupites, pai de Antínoo (o 1° a ser morto), ele diz que é preciso uma
vingança pelas mortes dos parentes. Entretanto o aedo (um dos únicos que sobreviveram
ao massacre no salão) sai da mansão e Medonte diz-lhes que foi com o consentimento
dos deuses que Odisseu matou os pretendentes, que via ao lado dele um deus parecido
com Mentor. A multidão apavora-se, o ancião Haliterses fala-lhes, disse que os
pretendentes morreram devido ao desrespeito com a casa de Odisseu e que eles não
deveriam procurar vingança, pois essa seria a sua desgraça. Mas mais da metade dos
que ali estavam, seguindo Eupites foram pegar as suas armaduras e queriam vingar-se
de Odisseu.
Atena desceu do Olimpo.
Na casa de Laertes após todos comerem, Odisseu pede que vejam se os familiares dos
pretendentes já estão a vir. Um filho de Dólio avisa que estão perto e que precisam de
pegar as armas depressa. Assim, os 4 de Odisseu (Telêmaco, o vaqueiro, o porqueiro e
Laertes), Dólio e os seus 6 filhos armaram-se e abriram as portas saindo com Ulisses à
frente.
Acercou-se deles Atena disfarçada de Mentor. Ao vê-la Odisseu diz a Telêmaco que é a
sua vez que honrar o nome da família. Telêmaco diz que assim o fará, Laertes alegra-se
ao ver os homens da família juntos. Atena ordena que Laertes atire bem alto a sua lança
e ele acerta em Eupites, que morre. Odisseu e Telêmaco matam vários da primeira fila e
matariam todos se Atena não interferisse. A deusa lançou um grito tão forte que os
inimigos se apercebem que só podem estar diante de uma divindade e retiram-se,
amedrontados. Ulisses pretende ir atrás deles, mas é interrompido por um raio de Zeus e
contém-se. A paz e a união familiar restabelecem-se em Ítaca.
Hesíodo:
Poeta grego da Antiguidade, final do século VII a.C. (mas não se sabe precisar,
surge em Ascra (cidade da Grécia Antiga). Homem comum, apresentava-se
como um pastor e decidiu começar a escrever por motivação pessoal e com o
objetivo de mostrar conhecimento através da literatura. Foi o primeiro autor
europeu a reivindicar a sua identidade.
Tem consigo valores como a virtude, o trabalho, o sentido de justiça, a piedade,
a excelência do homem
Hesíodo é precursor de uma mentalidade nova. Pertence a um mundo social e
cultural distante de Homero.
Compôs um grande número de obras, mas só 2 chegaram até nós: Trabalho e
Dias e A Teogonia.
No começo da obra A Teogonia, o poeta canta às musas, sua fonte de inspiração,
e as musas dirigem-se a ele dizendo:
“As falsidades que se parecem com a verdade” - ou seja, as musas vão-lhe
transmitir as verdades que os pastores desconhecem.
Em Trabalhos e Dias, refere a necessidade do pai em migrar para a Ásia Menor
(na cidade de Ascra).
À primeira vista, parece que estes factos não têm qualquer motivo de interesse,
uma vez que não passam de dados bibliográficos, mas a verdade é que
representam algo inédito: o poeta fala de si, dá o seu nome e profissão, alude à
sua experiência pessoal. Deixa de ser um aedo escondido na sua poesia
impessoal, que é a epopeia, mas alguém que se sente um indivíduo destacado
dos demais. E neste individualismo reside umas das novidades de Hesíodo, que
apontam para o início da época arcaica.
Neste ponto distancia-se da poesia de Homero, mas continua ligada pela
utilização da mesma métrica, das mesmas formas e até do vocabulário.
Distingue-se pela noção da função didática da sua poesia e explicita que é
verdade o que vai ensinar.
Teogonia
Considerada a primeira obra de Hesíodo. Fala da genealogia dos deuses, das
suas origens e das origens do mundo, desde o seu início com Caos, Gaia e Eros.
O poema baseia-se no mito cosmogónico dos gregos. Para Hesíodo, os deuses
não estão na origem de tudo, mas sim Caos (o primitivo, o vazio) e depois Terra
(Gaia), que correspondem a fenómenos naturais. Os elementos naturais são
personificados por deuses.
Eros, primeiro deus, deus do amor e deus do erotismo: renovação da natureza.
Processo de reprodução, concluímos que o mundo surgiu através de um ato de
amor.
Zeus repõe a ordem e a justiça e para afirmar o seu poder luta contra Tifão.
Síntese: Teogonia significa “o nascimento dos deuses”. Ela constituía, com os poemas
de Homero, a cartilha na qual os gregos aprendiam a ler, a pensar, a entender o mundo e
a reverenciar o poder dos deuses. Hesíodo descreve a criação do mundo e a seguir
relaciona, cronologicamente, cada uma das gerações divinas. Após um hino às musas, o
poeta relata como as deusas inspiraram o seu canto, enquanto cuidava de ovelhas perto
do Monte Hélicon. As musas deram-lhe um conhecimento sobrenatural tornando-o
capaz de conhecer coisas presentes, passadas e futuras e ensinaram-no a cantar, para que
cantando celebrasse os deuses imortais e as façanhas dos homens antigos. Segue-se daí
a narração, a origem dos primeiros deuses, que personificam os elementos principais do
Universo: Caos, o vazio primitivo; Gaia, a terra; Eros, a atração amorosa. Os
descendentes imediatos são também relacionados: Hemera, Nix, Urano, Ponto. Há três
grandes linhagens divinas: a descendência de Caos, a do Mar e a do Céu. Do Caos
provêm todos os males que atormentam a vida humana, os mais importantes são os
terríveis filhos da deusa Noite. Na família do deus Mar há monstros de estranhas
formas, que habitavam as águas marinhas e as regiões subterrâneas. Na família do Céu
há a sucessão dos reis divinos Cronos e Zeus.
Depois, o poeta descreve como Cronos assumiu o poder e inadvertidamente deu origem
a Afrodite, deusa do amor sensual. Relaciona os descendentes de Nix, os descendentes
de Oceanos, os descendentes de Caos. Uma profecia da Terra e do Céu avisara de que
era destino de Cronos ser destronado por um filho e ele, engolindo-os a todos, preveniu-
se. Quando Réia, sua esposa, devia dar à luz Zeus, ela suplicou aos seus pais, Terra Céu,
para que a ajudassem a salvar o filho e eles aconselharam-lhe um refúgio para o
proteger. Então, encoberta pela noite, ela escondeu Zeus numa gruta em Creta,
confiando-o à deusa Terra para que esta o nutrisse e criasse. Seguindo as instruções dos
seus pais, Réia envolveu uma grande pedra em um pano e entregou-o a Cronos, este,
pensando que se tratava do seu filho, engoliu a pedra sem desconfiar de nada. Zeus
cresceu rapidamente, libertou das prisões subterrâneas os seus primos Ciclopes e
Centímanos e, aliando-se a eles, travou com Cronos uma luta pelo poder. Vencido, o
velho deus vomitou a pedra que havia engolindo e Zeus cravou-a em Delfos para que os
homens mortais aí a admirassem. Após a vitória sobre os seus inimigos, Zeus é
aclamado como rei dos deuses e dos homens. Assim fez a partilha dos bens e ficou com
os privilégios de cada deus. É a terceira fase do mundo, a atual e a mais perfeita de
todas.
Com uma série de casamentos, que eram verdadeiras alianças políticas, Zeus organizou
o seu reinado e tornou o seu poder inabalável.
Trabalho e Dias
Poema épico de 828 versos. De forma didática, trata o mundo dos mortais e a
sua organização, tendo como temas principais o trabalho e a justiça.
É dirigido ao irmão do autor, Perses, devido a uma disputa relativamente à
repartição desigual da herança paternal, na qual Perses tem vantagem. A obra
tem uma intenção pedagógica e moralizante: reconduzir Perses ao bom caminho.
O poema é pioneiro em diversos aspetos:
-Primeiras conceções de justiça;
-Primeiro almanaque de agricultura;
-Primeiro manual de economia;
-Primeira apologia de vida idílica;
-Primeiro guia de autoajuda
O poema inicia-se com a invocação às musas e a Zeus (governante supremo, é
quem mantém a ordem social). Depois, o poeta dirige-se s Perses, tentando
ensiná-lo que na vida é preciso trabalhar muito para colher os frutos do próprio
trabalho. Essencialmente no campo, onde há mais humildade nas pessoas por
apresentarem uma vida simples.
Na primeira parte do poema, após as invocações, o poeta desenvolve narrativas
míticas como apoio dos seus preceitos/doutrinas. Na segunda parte dá conselhos
práticos sobre a agricultura.
Síntese: A figura principal não é um guerreiro, pois é uma epopeia humana. O tema
central é o trabalho, o sofrimento, a relação humana. Vai-se alternando entre a 1ª e a 3ª
pessoa. Os temas principais desta obra são: o elogio do trabalho e da justiça,
ensinamentos sobre a agricultura e navegação, preceitos sobre o comportamento a
adotar para com os outros e para consigo mesmo, a enumeração dos dias propícios a
nefastos (mau agouro) e às diversas atividades agrícolas. A natureza surge como cenário
e local de trabalho, ocupando assim parte central do poema. Outro dos aspetos é que os
deuses não têm de trabalhar e têm alimento sem qualquer esforço. Quando se
procuravam respostas, recorria-se ao mito, este tem uma função etiológica: explica a
origem ou as causas de uma determinada realidade humana ou natural.
Ameaça externa
Ameaça persa: detentores de um grande exército muito poderoso. Após a
conquista das cidades gregas na Ásia Menor, os persas lançam-se no sonho
antigo de conquistar a Grécia Europeia.
Os atenienses aliaram-se aos gregos e venceram as batalhas de Maratona e
Salamida.
Democracia Ateniense
Por volta de 508 a.C. surge a democracia em Atenas por conta de uma revolução
popular promovida por Clístenes, pai da democracia. Este promove uma reforma
política que tem na base três princípios:
Isonomia: Igualdade política e perante a lei.
Isegoria: Igualdade de direito na participação pública em assembleia.
Isocracia: Igualdade no acesso ao poder ou ao exercício de cargos políticos.
A democracia de Clístenes baseava-se no princípio de igualdade, todos os
homens eram iguais e todos faziam parte da Eclésia- principal assembleia da
democracia ateniense.
Governada sob uma aristocracia, os aristocratas detêm o poder.
Cidade aberta e voltada para o mar, o que resulta numa forte vocação comercial,
começa a sofrer consequências do seu desenvolvimento a nível social,
económico e político.
A crise do crescimento é influenciada pelas colónias, pelo comércio e pelo
aparecimento da moeda. A cidade de Atenas é inundada por produtos de baixo
preço, consequência de boas produções de outras partes da Hélade. Concorrência
com o comércio local.
-Se as pessoas deixam de comprar no comércio local, os trabalhadores deixam
de trabalhar, ficando as terras dos aristocratas vazias e sem produção, resultando
numa crise económica.
Por um lado, o grupo aristocrata empobrece, mas ainda possui terras. Por outro
lado, os plutocratas enriquecem, mas como não têm terras acabam por não ter
poder. Deste modo, geram-se dívidas entre os atenienses que acabam
escravizados para poderem pagar. Gera-se desconforto social.
Sólon- legislador grego. Elaborou uma reforma que procurava repor a justiça e a
liberdade sob leis em Atenas. Assim, promove-se uma série de leis e regras.
Sólon deu um caráter institucional à lei, esta é pensada tendo em conta casos já
existentes para que não se voltem a repetir.
A lei é um fenómeno humano e não dos deuses. Pretende extinguir os
problemas, tem de se aplicar no futuro e promover o bem-estar de modo a
equilibrar a sociedade.
Pan-helenismo
Ideia de uma única pessoa a governar todas as póleis.
Tirania em Atenas (Atenas e Esparta estão exaustas da guerra).
Felipe da Macedónia: assume-se como líder Pan-helénico. Morre assassinado e é
sucedido pelo filho Alexandre Magno (acredita ser descendente de Hércules e
deseja ser como Aquiles. A Ilíada era a sua maior fonte de inspiração.
Estabelece-se no Egito a cidade de Alexandria. Alexandre adota vestuário e
costumes orientais.
Roma
Fundação de Roma
A lenda mais conhecida seria a de Rómulo e Remo, salvos e amamentados pela
loba Capitolina. Rómulo foi o fundador de Roma e o primeiro rei romano.
A cidade foi construída sobre colinas perto do rio Tibre, lugar estratégico para a
defesa.
Tito Lívio
O rapto das sabinas
Sabinas eram uma tribo da região central da península itálica. Rómulo ofereceu-
lhes presentes em troca de casamentos com as mulheres do povo, mas os sabinos
recusaram a oferta. Então, Rómulo criou um estratagema: convidou o país
vizinho para uma festa e raptou as mulheres e as suas filhas, originando uma
guerra para que os sabinos recuperassem as suas mulheres.
Enquanto isso, Rómulo implora às sabinas que aceitem os casamentos (não
houve abusos), dá-lhes a hipótese de regressarem, mas promete-lhes direitos
civis e propriedades e seriam mães de homens livres. Elas aceitam.
As sabinas interrompem a batalha porque não querem os seus pais e irmãos a
lutar contra os futuros maridos e os povos celebram a paz. A mulher teve a
capacidade de colocar um ponto final na guerra. A mulher romana tem um
estatuto mais elevado que a mulher grega. Tem direito a voz, espaço público,
opinião própria, intervenção política e educação dos filhos.
O mundo romano
Nasceu de uma pequena aldeia junto às margens do rio Tibre. Ao longo dos
séculos expandiu-se até formar um império.
Estado romano e a evolução das formas de organização política.
Monarquia (753 a.C.-510 a.C.) Como as leis eram transmitidas de forma oral,
somente os patrícios as conheciam. Desta forma, os plebeus estavam sempre em
desvantagem pois não havia a garantia de processos justos.
República (509 a.C.- 27 a.C.) Progressiva harmonização entre os grupos
socioeconómicos (aristocratas e plebeus), numa tentativa de solucionar a política
de compromisso.
Império (27 a.C.- 476 d.C.).
Virgílio
Natural de Andes/ Mântua, na Gália Cisalpina, onde nasceu em 15 de outubro de 70
a.C., foi para Roma por volta de 50 a.C. Estudou epicurismo com Siro em Nápoles. Era
tímido (más-línguas dizem que nada proferiu no seu primeiro discurso) e amante da paz.
Eneida
É um grande poema épico que foi escrito pelo poeta romano Virgílio e é
publicado após a sua morte em 19 a.C.
Ele escreveu a obra durante 12 anos.
O poema aparece como a glorificação de Roma, da sua missão civilizadora e,
podemos dizer também, que aparece como poema da paz e conciliação.
Metade consiste em aventuras e a outra metade em guerras.
É evidente os múltiplos aproveitamentos de motivos homéricos: esquema geral,
métrica, símiles, lançamento da narrativa in medias res e regressão épica.
Síntese da obra: Eneida narra a história de Roma desde a origem e o poder e expansão
do Império romano. A obra recebe este nome pois está relacionada com as façanhas e
feitos realizados pelo herói troiano Eneias. Este foi um herói troiano sobrevivente da
Guerra de Troia contra os gregos. Ainda que ele seja humano, foi visto por muitos como
um semideus. Em Cartago, Eneias é recebido por Dido, rainha de Cartago, que acaba
por se apaixonar por ele. Eneias narra a Guerra de Troia para Dido e como conseguiu
fugir com o seu pai e seu filho por ordem da deusa Vénus. Eventualmente, Eneias
recebe uma mensagem do deus Júpiter que lhe revela o seu destino. Ele precisa de
deixar Cartago e fundar uma cidade na região do Lácio, a ideia central era substituir a
cidade arrasada de Troia.
Ele tenta fugir de Cartago sem que a rainha perceba. Todavia, Dido vê os navios a sair
da cidade e acaba por se suicidar. Ao chegar à região do Lácio, o rei latino aceita uma
aliança com Eneia e oferece a mão da sua filha Lavínia. No entanto, isso gera grande
polémica sobretudo em Turno, que amava a filha do rei. Turno tenta atingir os troianos
cercando o acampamento e colocando fogo. Com a ajuda do deus Neptuno, o fogo é
apagado. Depois deste episódio, há um combate entre Turco e Eneias, que acaba com a
morte de Turno. Por fim, Eneias funda uma colónia troiana no Lácio e casa-se com
Lavínia. Durante o seu governo ele conseguiu unir os romanos e os troianos. A ação de
Eneias é conduzida pelos deuses, sobretudo Júpiter, Juno, Vénus e Apolo.
O final do poema, tal como nas obras de Homero, encerra com a morte do inimigo. No
entanto, há comentadores que se questionam se o poema encerra num sentimento de
tristeza e desorientação, uma vez que a tónica se centra, não nos triunfos de Eneias, mas
sim na tragédia da morte de Turno, pois houve uma hesitação por parte de Eneias em
matá-lo.
Concluindo, Eneida é a mais alta expressão da cultura do século de Augusto, uma
cultura que pretendia dominar o mundo.
Caraterização de Eneias
Eneias era filho de Vénus e Anquises. Eneias e Lavínia fundam uma nova cidade,
Lavinium. Mais tarde, após a morte de Eneias, o seu filho Ascánio funda a cidade de
Alba Longa. Eneias é, no fundo, um herói da paz, a quem as circunstâncias forçam a
guerra. Eneias prefigura o povo romano, tornando-se como escrevera Cícero “Dono do
mundo ao defender os seus aliados”.
Eneias é caraterizado como um herói nobre e virtuoso, é descrito como um líder
corajoso e devoto, dotado de qualidades como lealdade, piedade e resiliência. A sua
jornada após a destruição de Troia reflete o seu compromisso em seguir o destino e
estabelecer uma nova pátria, o que contribui para a fundação de Roma. O herói é
frequentemente associado ao conceito pietas, um conceito romano que envolve dever,
respeito aos deuses, à família e à pátria. Estas virtudes tornaram-no um modelo de
virtude na tradição mitológica romana.
Filosofia estoica: Universo governado por uma razão universal natural. O direito
natural é o direito implantado pela razão natural em todos os seres e em todos os povos.
Inclinação para se orientar o exercício da razão, que deverá levar as atitudes do homem
para a harmonia e desdobra-se em ligações muito próximas à natureza.
A justiça não brota de um simples acordo entre homens para não se prejudicaram
mutuamente, mas é o inverso do direto positivo (lei positivada).
A justiça é uma virtude que nos dirige segundo a razão natural, por isso a noção
de justo ou injusto é superior e anterior ao direito positivo, logo é baseada nos
princípios humanos e na moral (Direito natural).
Direito Público
Ius gentium- direito que o naturalismo introduziu em todos os povos,
denominado ius naturale (leis aplicáveis a todos os seres).
Administrava a justiça entre os estrangeiros (criação do ius gentium, direito dos
povos) e defesa da igualdade.