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ANTIGA
Por volta dos séculos V, IV A.E.C., houve, na cidade-Estado de
Atenas, na Grécia, um fenômeno que entrou para a história da
civilização ocidental: a criação da democracia.
Não era exatamente como este sistema que hoje nós chamamos
pelo mesmo nome.
Se por um lado excluía parcela considerável da população das
decisões políticas, por outro apresentava aspectos até mais
ousados do que a que vivemos atualmente (como a participação
do cidadão comum nas decisões estatais).
Três dos maiores nomes da filosofia de todos os tempos –
Sócrates, Platão e Aristóteles – viveram exatamente nesse
período e nesse lugar, sem contar no florescimento do teatro e de
outras escolas do pensamento, como a sofística.
Em comum, todos os três grandes filósofos pensavam em como
a ética é indispensável no trato da coisa pública, que os
governantes devem ser os mais bem qualificados para lidar com
a comunidade, e que as leis podem até não ser perfeitas, pois não
conseguem lidar com as imprevisibilidades da vida, mas são
propostas razoáveis para se criar estabilidade nas sociedades.
Isso nos leva a pensar que, mesmo com a enorme distância do
tempo, ainda temos muito a aprender com os antigos gregos.
NOÇÃO DE POLÍTICA NA GRÉCIA CLÁSSICA
Por volta do século V a.C., ou talvez no século seguinte –
ninguém sabe ao certo a data de nascimento –, aconteceu, na
região do Peloponeso, provavelmente um fenômeno único na
história: os habitantes de determinada cidade-Estado, chamada
de Atenas, decidiram que a melhor maneira de se organizar
como sociedade era distribuir os poderes de decisão sobre as
questões comunitárias por todos os cidadãos.
Eles chamaram essa forma de governo de “democracia”
(dêmos = povo + kratía = poder), e criaram mais uma palavra-
conceito que influenciaria todo o mundo ao longo dos séculos e
milênios.
A democracia ateniense é um exemplo de organização social-política sem
paralelos na história do mundo. E entre os vários motivos que a fazem única
está a assembleia: um conselho de cerca de quinhentos cidadãos eleitos por
sorteio, que supervisionava o aparato administrativo, lidava com as relações
exteriores, ouvia os relatórios oficiais, deliberava a agenda, preparava as
moções para as assembleias e realizava outras atividades.
Na ekklesia ou assembleia, especificamente, parte da comunidade ateniense
(os homens adultos e livres) tinha de se encontrar cerca de quarenta vezes ao
ano para discutir sobre os problemas e as soluções da cidade.
Pode-se afirmar que cerca de um terço dos cidadãos acima dos 18 anos e dois
terços dos cidadãos acima dos 40 anos já tinham servido pelo menos durante
um ano nessa assembleia.
Havia problemas de instabilidade política. Com tantas vozes
podendo apontar as direções que a cidade deveria tomar, era
difícil se chegar a um caminho único e em linha reta em pouco
tempo. A morosidade, às vezes, acabava se tornando
imobilidade, o que atrapalhava em um período de constantes
guerras, invasões, e governos fortes e autoritários.
A principal crítica à democracia ateniense devia-se ao
impedimento da participação de mulheres, estrangeiros (como
Aristóteles, que era de Estagira – cidade próxima à Macedônia
–, por exemplo) e escravos no conselho.
As mulheres até assumiam funções religiosas importantes –
afinal, a religião era parte fundamental da sociabilidade habitual
ateniense –, porém os demais moradores da cidade, mesmo que
fossem a maioria da população, tinham pouca ou nenhuma voz
ativa nesse contexto.
No total, os participantes do conselho atingiam no máximo 20%
da população de Atenas. Esse número fez com que os críticos do
período dissessem que tal organização social política não era
exatamente uma democracia, mas uma forma atenuada
de oligarquia.
Na ciência política, oligarquia ("oligarkhía" do grego
ολιγαρχία, literalmente, "governo de poucos") é a forma de
governo em que o poder político está concentrado num
pequeno número pertencente a uma mesma família, um mesmo
partido político ou grupo econômico ou corporação.
De qualquer modo, a democracia ateniense se tornou um marco inaugural que
acabou influenciando diversas maneiras de pensar a organização comunitária
ao longo dos tempos. Mesmo que imperfeita, tornava a vida pública uma
constante para todos os cidadãos e a política, uma parte do cotidiano. Não era
possível se manter totalmente alienado.
Na atualidade, ela nos força a pensar sobre nossa própria maneira de nos
estruturar como sociedade – as distribuições de poder, a participação popular,
a representação de todos os estratos e segmentos populacionais na tomada de
decisão, a partilha dos direitos e deveres civis, a divisão dos recursos
econômicos.
Ao olhar para o exemplo grego, fica difícil não se perguntar se o que vivemos
nos dias atuais, apesar de sustentar um nome homônimo, seria
verdadeiramente uma democracia.
AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO NASCIMENTO
DA FILOSOFIA NA GRÉCIA: DOS
PRÉ-SOCRÁTICOS AOS SOFISTAS