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APOSTILA DE

FILOSOFIA
EDUCA

1º SEMESTRE - 2018
2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

FILOSOFIA

Prof. Rúbia / Rodrigo Simão

AULA 1

O PENSAMENTO MÍTICO
O homem pode ser identificado e caracterizado como um ser que pensa e cria explicações. Criando
explicações, cria pensamentos. Na criação do pensamento, estão presentes tanto o mito como a racionalidade, ou
seja, a base mitológica, enquanto pensamento por figuras, e a base racional, enquanto pensamento por conceitos.
Esses elementos são constituintes do processo de formação do conhecimento filosófico. Este fato não pode deixar
de ser considerado, pois é a partir dele que o homem desenvolve suas ideias, cria sistemas, elabora leis, códigos,
práticas. Compreender que o surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, foi decisivo no
desenvolvimento da cultura da civilização ocidental é condição para que se entenda a conquista da autonomia da
razão (lógos) diante do mito. Isso marca o advento de uma etapa fundamental na história do pensamento e do
desenvolvimento de todas as concepções científicas produzidas ao longo da história humana.

O INÍCIO DA FILOSOFIA
Entre a herança que os antigos como Sófocles, Aristófanes, Hesíodo e Homero nos legaram estão os
mitos, maravilhosas narrativas sobre a origem dos tempos, que encantam, principalmente, porque fogem aos
parâmetros do modo de pensar racional que deu origem ao pensamento contemporâneo. É certo que as tradições,
os mitos, e a religiosidade respondiam a todos os questionamentos. Contudo, essas explicações não davam mais
conta de problemas, como a permanência, a mudança, a continuidade dos seres entre outras questões. Suas
respostas perderam convencimento e não respondiam aos interesses da aristocracia que se estabelecia na pólis.
Dessa forma, determinadas condições históricas, do século V e IV a.C., como o estabelecimento da vida urbana
na pólis grega, as expansões marítimas, a invenção da política e da moeda, do espaço público e da igualdade
entre os cidadãos gestaram juntamente com alguma influência oriental uma nova modalidade de pensamento. Os
gregos depuraram de tal forma o que apreenderam dos orientais, que até parece que criaram a própria cultura de
forma original. Podemos afirmar que a filosofia nasceu de um processo de superação do mito, numa busca por
explicações racionais rigorosas e metódicas, condizentes com a vida política e social dos gregos antigos, bem
como do melhoramento de alguns conhecimentos já existentes, adaptados e transformados em ciência.

Afinal, o que é polis?


Uma certa extensão territorial, nunca muito grande, continha uma cidade, onde havia o lar com o fogo
sagrado, os templos, as repartições dos magistrados principais, a Ágora, onde se efetuavam as transações; e,
habitualmente, a cidadela na acrópole. A cidade vivia do seu território e a sua economia era essencialmente
agrária. Competiam-lhe três espécies de atividade: legislativa, judiciária e administrativa. Não menores eram os
deveres para com os deuses, pois a “pólis” assentava em bases religiosas e as cerimônias do culto eram ao
mesmo tempo obrigações cívicas desempenhadas pelos magistrados. A sua constituição dependia da
assembléia popular, do conselho, e dos tribunais formados pelos cidadãos.
(PEREIRA, In: GOMES & FIGUEIREDO, 1983 p. 94 - 95)

O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA E OS


VALORES HUMANISTAS
Assim como os Mitos, o Teatro na Grécia Antiga possui grande relevância nos registros culturais. A forma
com que os cantos e as poesias eram admirados pelo homem grego, promovia não só momentos de diversão,
mas, sobretudo espaços de educação, pois o mais importante era se aquela mensagem ajudava o indivíduo a se
tronar um melhor cidadão.
Naquela sociedade, que vivia a transição dos valores místicos, baseados na tradição religiosa, para os
valores da polis, isto é, aqueles resultantes da formação do Estado e suas leis, o teatro cumpria um papel político
e pedagógico, à medida que punha em xeque e em choque essas duas ordens de valores e apontava novos
caminhos para a civilização grega. "Ir ao teatro", para os gregos, não era apenas uma diversão, mas uma forma
de refletir sobre o destino da própria comunidade em que se vivia, bem como sobre valores coletivos e individuais.
O teatro, ao representar situações de nossa própria vida - sejam elas engraçadas, trágicas, políticas, sentimentais,
etc. - põe o homem a nu, diante de si mesmo e de seu destino. Talvez na instantaneidade e na fugacidade do
teatro resida todo o encanto e sua magia: a cada representação, a vida humana é recontada e exaltada. O teatro
ensina, o teatro é escola. É uma forma de vida de ficção que ilumina com seus holofotes a vida real, muito além
dos palcos e dos camarins.

“Ao inspirar, por meio da ficção, certas emoções penosas ou malsãs, especialmente a piedade e o
terror, a catarse nos liberta dessas mesmas emoções”. (Aristóteles)

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Indicação de leitura: O Mito de Édipo Rei, Prometeu e Medeia.

COSMOLOGIA: OS PRÉ-SOCRÁTICOS
Por que a filosofia nasceu na Grécia e não em outro lugar qualquer, ou outro tempo?
A Jônia foi o berço dos primeiros filósofos, mais especificamente em Mileto. De acordo com os próprios gregos os
inauguradores do pensamento racional foram: Tales, Anaxímenes e Anaximandro. Contudo, podemos nos
perguntar sobre a existência de um pensamento filosófico ou racional entre os chineses, babilônios ou hindus,
embora houvesse alguma forma de racionalidade entre os diferentes povos antigos, ela nunca se desvencilhou da
religião local e das explicações ligadas às divindades e seres imaginários, que comumente explicava a realidade.

Os filósofos pré-socráticos preocupavam-se em explicar a origem da natureza a partir de um elemento


específico, ao qual chamamos arché. Assim, para cada um deles, o Universo teria surgido a partir de uma arché,
ou seja, a partir de elemento primordial.

Conforme o quadro abaixo, podemos identificar qual era a arché do Universo segundo cada filósofo
da natureza:
Tales de Mileto: Água
Anaxímenes: O ar
Anaximandro: O indeterminado
Heráclito: O fogo
Pitágoras: O número
Xenófanes: A terra
Parmênides: O ser
Zenão: O ser (seguindo os passos de seu mestre Parmênides)
Demócrito: O átomo
Empédocles: defendeu a existência de quatro elementos primordiais: terra, ar, água e fogo, movidos e
misturados de diferentes maneiras, em função de dois princípios universais maiores: o amor e o ódio.

ALGUNS FILÓSOFOS
 Anaximandro de Mileto (610-547 a.C. .) – O princípio gerador de todas as coisas, segundo Anaximandro,
seria o apeiron (ilimitado / indeterminado / que não tem limite / infinito). A ordem do mundo surgiu do caos em
virtude deste princípio. Assim, o apeiron seria o princípio original de todos os seres s, tanto de seu
aparecimento quanto de sua dissolução.

 Anaxímenes de Mileto (58 8-524 a.C.) – Segundo Simplício, Anaxímenes admitia que o princípio de todas as
coisas existentes é o Ar. Ao se fazer mais sutil se converte em Fogo; ao se condensar, converte-se em vento,
depois em nuvem; mais condensado ainda transforma-se em Água, Terra e pedra. Todas as demais coisas
são produzidas a partir destas. Disse também que o movimento é eterno e gerador das mudanças.

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 Demócrito de Abdera - 460 AC a 370 AC em Abdera (Grécia) Muito de Demócrito é conhecido por meio de
sua física e filosofia. Apesar de não ter sido o primeiro a propor uma teoria atômica, sua visão do mundo físico
foi muito mais elaborada e sistemática do que a de seus predecessores. Do ponto de vista filosófico, sua
teoria atômica deu origem a uma teoria ética, baseada em um sistema puramente determinístico, eliminando
assim qualquer liberdade de escolha individual. Para Demócrito, liberdade de escolha era uma ilusão, já que
não podemos alcançar todas as causas que levam a uma decisão. Já sua matemática é pouco conhecida.
Sabemos que ele escreveu sobre geometria, tangentes, aplicações e números irracionais, mas nenhum
desses trabalhos chegou ao nosso tempo. O que podemos afirmar com certeza é que ele foi o primeiro a
propor que o volume de um cone é um terço do volume de um cilindro de mesmas base e altura, e que o
volume de uma pirâmide é um terço do volume de um prisma de mesmas base e altura.

CURIOSIDADE:
Tales de Mileto (640-c. 548 a.C.) é considerado, por Aristóteles, como o "primeiro filósofo", devido à sua
busca de um primeiro princípio natural que explicasse a origem de todas as coisas. Tales é tido como
fundador da escola Jônica e o Pai da Filosofia.

Cosmologia x Cosmogonia
As cosmogonias são de certa forma, narrativas sobre as origens do mundo. Em geral elas estão
presentes nos mitos, isto quando não são a sua essência. Falam de união sexual entre deuses, que geram o
mundo, ou união sexual entre deuses e humanos, que em geral criam situações complexas e dão o enredo a
uma história que explica divisões, guerras, ciúmes, paixões, disputas sobre a justiça, etc. As cosmologias já
estão mais para o campo do pensamento filosófico do que para o pensamento mitológico.

DIFERENÇAS ENTRE FILOSOFIA E MITO


COMO O MITO NARRA A ORIGEM DO
MUNDO E DE TUDO O QUE
NELE EXISTE?
1º) decorrência de relações sexuais entre forças divinas pessoais
2º) Por rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo
3º) Por recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece.
Cosmogonias: Gonia (nascimento) + Cosmos (mundo organizado) e teogonias: Gonia+ Theos (seres divinos)
“A FILOSOFIA, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as
narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação nova e diferente”. (M. Chauí)
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA
REFLEXÃO FILOSÓFICA?
a) é radical: vai a raiz de todas as coisas, busca a origem;
b) é rigorosa: possui um método, caminho;
c) é de conjunto: dialoga com as outras áreas do conhecimento, totalidade, abrangência.
ORIGEM DA FILOSOFIA:
A Filosofia nasce no berço do mundo grego como inauguração da razão que expressa a realidade. Foram fatores
relevantes para o seu surgimento na Grécia:
1. Os gregos tinham uma situação geográfica favorável;
2. Surgimento da polis (organização social);

3. A filosofia grega nasceu procurando desenvolver o logos em contraste com os mitos;

4. Ágora lugar de reuniões, reflexões;

5. Navegação e comércio.

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4 - Filosofia antiga
4.1- Pré-socráticos: cosmos / physis.
4.2- Sofistas: “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) a verdade é relativa.
4.3- Sócrates, Platão e Aristóteles: o homem, episteme, ética, política, lógica.

ARRASE NO ENEM

1. Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas.
BUARQUE, C.; BOAL, A. “Mulheres de Atenas”. In: Meus caros amigos,1976. Disponível em:
http://letras.terra.com.br. Acesso em 4 dez. 2011 (fragmento) Os versos da composição remetem à condição
das mulheres na Grécia antiga, caracterizada, naquela época, em razão de
a) sua função pedagógica, exercida junto às crianças atenienses.
b) sua importância na consolidação da democracia, pelo casamento.
c) seu rebaixamento de status social frente aos homens.
d) seu afastamento das funções domésticas em períodos de guerra.
e) sua igualdade política em relação aos homens.

2. As lendas sempre foram alicerces para os povos antigos. Os gregos, por exemplo, tributavam suas origens
aos heróis que protagonizam a poesia de Homero, e os romanos, aos irmãos Rômulo e Remo, filhos do deus
Marte, eternizados no relato do historiador Tito Livio.
Essas explicações lendárias:
a) Alteram ou reinventaram fatos históricos, justificando alguma condição ou ação posterior dos homens.
b) Sempre se basearam em acontecimentos reais, com o único propósito de explicar o passado.
c) Confirmaram que as civilizações, em sua origem, não possuem vínculos com seu passado lendário,
denominado idade das trevas.
d) Afirmam uma reação inconsciente de todos os povos, que tem por fundamento o ideal religioso, desligado de
qualquer interesse político.
e) São apenas formas artísticas ou literárias independentes dos interesses políticos, por serem estéticas.

3. Segundo Marilena Chauí, “a filosofia surge quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade,
insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas
para elas”. (Convite a Filosofia. 4. ed., Atica, 1995, p. 23).
É legado da Filosofia grega para o Ocidente europeu:
a) A aspiração ao conhecimento verdadeiro, `a felicidade e `a justiça, indicando que a humanidade não age
caoticamente.
b) A preocupação com a continuidade entre a vida e a morte, através da pratica de embalsamamento e outros
cuidados funerários.
c) A criação da dialética, fundamentada na luta de classes, como forma de explicação sociológica da realidade
humana.
d) O nascimento das ciências humanas, implicando em conhecimentos autônomos e compartimentados.
e) A produção de uma concepção de historia linear, que tratava dos fins últimos do homem e da realização de
um projeto divino.
4.
“Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja
natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no
mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as
mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e
organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira
diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo
agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.”
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.)

Com base no texto, assinale a alternativa correta.


a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no começo”, ou seja,
no momento original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser
compreendida racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos
está além da capacidade humana.
e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas
explicações podem ser racionalmente compreendidas.

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5.
“Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental
perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas
acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as
propriedades que definem a filosoficidade.”
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia.Campinas: Papirus, 2000. p. 24.)

Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida pelos
primeiros filósofos.
a) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais.
b) A discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas.
c) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião.
d) A confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento.
e) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si.

6. Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para
aquilo que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o limite e a
medida, assim como a presença de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê das
coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos da
filosofia grega.
(Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz e Marcelo Perine.
São Paulo: Loyola, 1994. p. 19. )

Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o nascimento da filosofia
na Grécia, considere as afirmativas a seguir.
I. A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de iguais, os cidadãos,
que buscavam a verdade pela força da argumentação.
II. O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela Ágora, espaço público
onde os problemas da pólis eram debatidos.
III. A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista de fórmula justa,
passando a ser veículo do debate e da discussão.
IV. A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que substituíram a contemplação
desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar racional.

Estão corretas apenas as afirmativas:


a) I e III. c) III e IV. e) I, II e IV.
b) II e IV. d) I, II e III.

7.
“Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio
originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é
importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que
se costuma chamar civilização ocidental.”
(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)

A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De
acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.

8.
“Os antigos, ou melhor, os antiqüíssimos, (teólogos), transmitiram por tradição a nós outros seus
descendentes, na forma do mito, que os astros são Deuses e que o divino abrange toda a natureza... Costuma-se
dizer que os Deuses têm forma humana, ou se transformam em semelhantes a outros seres viventes... Porém,
pondo-se de lado tudo o mais, e conservando-se o essencial, isto é, se acreditou que as substâncias primeiras
eram Deuses, poderia pensar-se que isto foi dito por inspiração divina ...”
(Aristóteles, Metafísica, XII, 8, 1074b, apud Mondolfo, O pensamento antigo, I, São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.13).

Com base nesse excerto e no seu conhecimento sobre a questão da origem da filosofia, assinale o que
for correto.
01) Antes de fazerem filosofia, os gregos já indagavam sobre a origem e a formação do universo; e as
respostas a esse problema eram oferecidas sob a forma de mito, isto é, por meio de uma narrativa alegórica
que descreve a origem ou a condição de alguma coisa, reportando a um passado imemorial.

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02) Na Teogonia, Hesíodo descreve a gênese do mundo coincidindo com o nascimento dos deuses; as forças
e os domínios cósmicos não surgem como pura natureza, mas sim como divindades: Gaia é a Terra, Urano é
o Céu, Cronos é o Tempo, aparecendo ora por segregação, ora pela intervenção de Eros, princípio que
aproxima os opostos.
03) Os primeiros filósofos gregos buscaram descobrir o princípio (arché) originário de todas as coisas, o
elemento ou a substância constitutiva do universo; elaborando uma cosmologia, não se contentavam com
doutrinas divinamente inspiradas, mas tentavam compreender racionalmente o cosmo.
04) Os gregos foram pouco originais no exercício do pensamento crítico racional; apropriaram-se das
conquistas científicas e do patrimônio cultural de civilizações orientais com mínimas alterações.
05) É tese hoje bastante aceita que o nascimento da filosofia na Grécia não foi um “milagre” realizado por um
povo privilegiado, mas a culminação de um processolento, tributário de um passado mítico, e influenciado por
transformações políticas, econômicas e sociais.

9. A tragédia grega teve seu auge entre os séculos VI e IV a.C. É a expressão de profundas mudanças ocorridas
na ordem sociopolítica e cultural dessa época. A mitologia já não é a única forma de representação do mundo,
mas rivaliza com a concepção filosófica fundamentada na razão (lógos), e as leis de origem divina
confrontam-se com as leis escritas. A tragédia expressa os conflitos e os impasses em que se encontram não
apenas a pólis, mas também a alma (psyché) do homem grego.
Assinale o que for correto.
01) A tragédia grega criticava o povo, era uma arte elitista à qual só a aristocracia podia assistir.
02) Ésquilo, ao escrever Prometeu Acorrentado, defende que todos os homens, inclusive os escravos, fossem
libertados da obrigatoriedade do trabalho, de forma que pudessem gozar a vida no benefício do ócio e do
prazer.
03) Aristóteles, na Poética, afirma que a tragédia nasceu de formas líricas como o ditirambo, isto é, um canto
coral em louvor a Dionísio, o deus do vinho.
04) Sófocles escreveu uma tragédia intitulada Édipo Rei, que trata do patricídio e da prática do incesto, essa
tragédia é utilizada por Sigmund Freud para elaborar a teoria do complexo de Édipo na psicanálise.
05) É uma das características da tragédia grega representar a vontade e as ações humanas tentando, em vão,
escapar ao destino que impera sobre a vida do homem.

HERÁCLITO E PARMÊNIDES
Uma questão de grande importância já aparecia entre os primeiros filósofos: a diferença entre perceber e
pensar. Por exemplo: certos elementos, como os átomos, são invisíveis aos nossos recursos sensoriais, certo?
Mas o fato de não podermos percebê-los através dos nossos sentidos não impede de conhecê-los através do
pensamento. Assim, podemos dizer que existe uma distinção entre aquilo que conhecemos por meio da
percepção e aquilo que conhecemos apenas pelo pensamento.

Heráclito e Parmênides notaram essa diferença e acreditavam que a percepção nada mais é que pura
ilusão. Mas a concordância desses dois filósofos parava por aí. Para Heráclito, a percepção dos nossos recursos
sensoriais nos dá a ilusão de que as coisas não mudam, quando, na verdade, elas estão em constante
transformação. Já Parmênides pensava de modo contrário: as coisas não mudam, mas a percepção nos dá a
ilusão de que elas estão se modificando sem parar.
No quadro abaixo você verá esse e outros pensamentos que distinguem os dois filósofos:

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Apesar de contrárias, as concepções desses filósofos foram muito importantes para formar a base de
novas teorias acerca da relação existente entre o Ser e o pensamento. As proposições de Heráclito, por exemplo,
se desdobraram de maneira significativa no pensamento dialético de Hegel e de Marx.

Já os princípios filosóficos de Parmênides, em maior ou menor grau, tiveram participação no pensamento


de filósofos como Platão, Aristóteles e São Tomás de Aquino, além de Kant e Descartes.

AULA 2
SÓCRATES
Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da
história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos e os que o
sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu
pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários. O estilo de vida de Sócrates assemelhava-
se ao dos sofistas, embora não vendesse seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praças públicas,
conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao
pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática ou moral. O autoconhecimento
era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase inscrita no templo de Apolo,
era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.

Sócrates percebe que a sabedoria começa pelo reconhecimento da própria ignorância. “Só sei que nada
sei” é, para Sócrates, o princípio da sabedoria, atitude em que se assume a tarefa verdadeiramente filosófica de
superar o enganoso saber baseado em ideias pré-concebidas.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem
ser divididos em dois momentos básicos: a ironia (do grego eironeia, perguntar fingindo ignorar) e a maiêutica (de
maieutiké, relativo ao parto). Na linguagem cotidiana, a ironia tem um significado depreciativo, sarcástico ou de
zombaria. Mas não é esse o sentido de ironia socrática.
No grego, ironia quer dizer interrogação. Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que
pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. Com
habilidade de raciocínio, procurava evidenciara s contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada
resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a ignorância e a presunção do saber.
A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas
próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgávamos possuir certezas e clarividências. Libertos do
orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam iniciar o caminho da reconstrução das
próprias ideias.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas
próprias ideias. Essa fase do diálogo socrático, destinada à concepção de ideias, era chamada de maiêutica,
termo grego que significa arte de trazer à luz.

SOFISTAS
A carreira mais popular na Grécia naquela época era a habilidade na política. Assim, os sofistas
concentraram seus esforços no ensino da retórica. Os objetivos dos jovens políticos que eles treinavam eram o de
persuadir as multidões de tudo o que quisessem que elas acreditassem. A busca da verdade não era a sua
prioridade. Consequentemente os sofistas se empenhavam em providenciar um estoque de argumentos sobre
qualquer que fosse o assunto, ou ainda para provar qualquer posição. Vangloriavam-se de sua habilidade de fazer
com que o pior parecesse melhor, de provar que preto era branco. Alguns sofistas, como Górgias, garantiam que
não era necessário ter nenhum conhecimento sobre um determinado assunto para dar respostas satisfatórias em
respeito a ele. Portanto, Górgias respondia com ostentação qualquer questionamento que lhe faziam sobre
qualquer assunto. Para obter seus fins, utilizava de linguagem evasiva.

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Dessa maneira, os sofistas tentavam envolver, enredar e confundir seus oponentes e até mesmo, se isso
não fosse possível, derrotá-los por força e violência. Buscavam também sobrepujar-se por intermédio de
metáforas rebuscadas, figuras de linguagem inusitadas, epigramas e paradoxos, isto é, sendo em geral mais
astutos e sagazes ao invés de sinceros e verdadeiros. Através de Platão ficamos sabendo que havia um certo
preconceito sobre o título de "sofista". Na época de Aristóteles, esse título sustenta um significado de insolência à
medida que define "sofista" como uma pessoa que faz uso da razão de maneira falsa para obter lucros.
Protágoras é considerado como o primeiro Sofista. Outros que se destacaram foram Górgias de Leontini, Pródico
de Ceos e Hípias de Elis. Onde quer que eles aparecessem, especialmente em Atenas, eram recebidos com
entusiasmo e muitos se ajuntavam para ouvi-los.

ARRASE NO ENEM

10. Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia pré-socrática se
preocupava com o conhecimento da natureza (physis), Sócrates procura o conhecimento indagando
o homem.
Assinale o que for correto.

01) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juízes, os princípios éticos da sua
filosofia.
02) Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus diálogos, o seu mestre.
03) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutica e a ironia.
04) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos.
05) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de adotar
uma nova atitude diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria.

11. Assim como a filosofia, a política nasceu na Grécia antiga e esteve relacionada ao surgimento da cidade-
estado, a pólis. Os primeiros formuladores da ideia de política foram os sofistas, contra os quais se
pronunciaram Platão e Aristóteles. No âmbito das controvérsias acerca da política, é correto dizer que:
a) o caráter divino da pólis e da justiça é explicado por Platão e Aristóteles.
b) os sofistas consideram a cidade o lugar onde alguns homens impõem sua vontade sobre outros por meio
da força.
c) a "virtude" do homem não se realiza na cidade, local da oratória persuasiva e falaciosa, de acordo
com Aristóteles.
d) a justiça é entendida como concórdia entre os filósofos, os guerreiros e os produtores, que, na visão de
Platão, têm como interesse comum o bem da pólis.
e) a pólis e as suas leis são estabelecidas por convenção entre os seres humanos, segundo os sofistas.

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12. Sócrates foi considerado um dos maiores sábios da humanidade. Nada deixou escrito. Suas ideias foram
divulgadas por dois de seus discípulos, Xenofonte e Platão. O ponto de partida da filosofia socrática encontra-
se no fato de que:
a) A verdadeira filosofia encontra-se na physis, na natureza, cabendo ao homem buscá-la com todos os
seus esforços.
b) A verdade não está ao alcance dos seres humanos.
c) O primeiro passo em direção à verdade é o reconhecimento da ignorância.
d) A aquisição do conhecimento se dá por meio da retórica.
e) A natureza é o ponto central da sua filosofia.

13. Sócrates era um cidadão comum de Atenas, até o oráculo de Delfos indicar que ele era o homem mais sábio
de seu tempo. A partir daí, ele tomou como missão a Maiêutica, que significava a “arte de trazer à luz” (“parto
das ideias”), através de longas conversas com interlocutores de todas as classes sociais. O QUE
SIGNIFICAVA ESSA ARTE?
a) Sócrates, que também era médico, auxiliava nos partos de Atenas.
b) A luz do pensamento de Sócrates ofuscava todo o conhecimento da outra pessoa.
c) Nenhuma das anteriores está correta.
d) Através do diálogo promovido por Sócrates, a pessoa podia formular suas ideias e pensamentos.
e) A luz indicava que a pessoa não precisava se esforçar para adquirir conhecimento

14. Sócrates foi um dos mais importantes filósofos da antiguidade. Para ele, a filosofia não era um simples
conjunto de teorias, mas uma maneira de viver. Sobre o pensamento e a vida de Sócrates, assinale o que
for incorreto.
a) Sócrates acreditava que passar a vida filosofando, isto é, a examinar a si mesmo e a conduta moral
das pessoas.
b) Nas conversações que mantinha nos lugares públicos da Atenas do século V a.C., Sócrates repetia nada
saber para, assim, não responder às questões que formulava e motivar seus interlocutores a darem conta de
suas opiniões.
c) Em polêmica com Aristóteles, para quem a cidade nasce de um acordo ou de um contrato social, Sócrates
escreveu a República, na qual demonstra ser o homem um animal político.
d) O exercício da filosofia, para Sócrates, consistia em questionar e em investigar a natureza dos princípios e
dos valores que devem governar a vida. Assim se comportando, Sócrates contraiu inimizades de poderosos
que o executaram sob a acusação de impiedade e de corromper a juventude.
e) A maiêutica socrática é a arte de trazer à luz, por meio de perguntas e de respostas, a verdade ou os
conhecimentos mais importantes à vida que cada pessoa retém em sua alma.

15. Os sofistas, diante da pluralidade e do antagonismo das filosofias anteriores, concluíram que a verdade:
a) Pode ser conhecida, mas devemos afastar as ilusões.
b) Pode ser alcançada com uma purificação intelectual
c) Pode ser obtida com uma purificação intuitiva.
d) É uma questão de opinião
e) É o conhecimento que nossos sentidos nos oferecem
16. (UFU) De acordo com o pensamento do filósofo Parmênides de Eléia, marque a alternativa correta.
a) A identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a pluralidade das opiniões é o
que atesta a identidade de cada indivíduo.
b) Segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um mesmo rio, posto que a
mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se repita.
c) Uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de identidade, segundo o qual
todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo.
d) O caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse sentido, somente o Ser –
por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito.
17. (UFU) Leia atentamente o seguinte verso do fragmento atribuído a Parmênides. “Assim ou totalmente é
necessário ser ou não.” SIMPLÍCIO, Física, 114, 29, Os Pré- Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Abril Cultural, 2000, p. 123. A partir do fragmento apresentado, escolha a alternativa que representa
corretamente o princípio parmenediano da verdade.
a) O Ser é e o Não-Ser é Não-Ser. Ambos podem ser pensados e afirmados, pois é possível pensar e dizer
falsidades e o que não existe.
b) Somente o Ser é, pode ser pensado e afirmado. O Ser coincide com o pensamento e com a verdade. O Não-
Ser não é e não pode nem ser pensado, nem exprimido.
c) O Ser é (existe) necessariamente na Natureza, mas pode não existir no pensamento, enquanto não é
pensado. A relação entre o Ser e o pensamento não é necessária.
d) O caminho da verdade é a via da opinião, que comporta ao mesmo tempo o Ser e o Não-Ser. Afirmar
totalmente o Ser e o Não-Ser implica a opinião verdadeira.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

18. (UFU) Heráclito nasceu na cidade de Éfeso, região da Jônia, e viveu aproximadamente entre 540 e 480 a.C.
Ficou conhecido como “o obscuro”, porque seus escritos eram, em geral, aforismos, isto é, frases enigmáticas
que condensam a idéia transmitida. Dentre suas idéias mais destacadas está a do “eterno devir”. A partir
dessas informações, marque a alternativa que descreve corretamente o significado de “eterno devir”.
a) O princípio de que tudo é água ou o elemento úmido.
b) A permanência do ser.
c) Transformação incessante das coisas.
d) O Mundo das Ideias.

19. (UFU 2010 - adaptada) Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos
seguintes termos: “Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade, mas
buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições.”
(Aristóteles, Metafísica, A6, 987b 1-3, trad. Marcelo Perine, São Paulo: Loyola, 2002.)

Com base na Filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a alternativa correta:


a) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor
do erro e do preconceito – com o prévio reconhecimento da própria ignorância – , e levá-lo a formular
conceitos de validade universal (definições).
b) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a investigação filosófica é a busca pela “Arché”,
pelo princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que
o antecederam (Pré-socráticos).
c) O método socrático era empregado simplesmente para ridicularizar os homens, colocando-os diante da
própria ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as
definições são sempre relativas e subjetivas, algo que confirmou com a máxima “O Homem é a medida de
todas as coisas”.
d) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da investigação filosófica. Para ele, isso implica
não buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral
é, em última instância, o egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de
sua existência.
e) Aristóteles como um continuador das ideias de Sócrates e Platão, principalmente das ideias ligadas ao âmbito
do conhecimento, assemelhava-se e reconhecia-se na afirmação de que o que é verdadeiro é universal,
portanto, um conceito, a definição de um objeto deve dar-se de forma universal, e o que tem de mais universal
no mundo de que o homem tem acesso é a razão.

20. Qual a diferença que existe no pensamento de Heráclito e Parmênides e como isso influenciaria hoje?
a) Heráclito acredita que o principio de tudo é a água e Parmênides o ar, sendo assim, damos mais importância
hoje a água que o ar para a vida do ser humano, demonstrando como o pensamento de He-ráclito foi
escolhido como o mais importante até os tempos de hoje.
b) Parmênides acredita que o principio de tudo é a água e Heráclito o ar, sendo assim, damos mais importância
hoje a água que o ar para a vida do ser humano, demonstrando como o pensamento de Parmênides foi
escolhido como o mais importante até os tempos de hoje.
c) Parmênides pensa que tudo o que existe, existe e sempre existiu como é, enquanto que Heráclito a-credita
que tudo flui, tudo muda, assim sendo, o pensamento de Parmênides instaura uma certa co-modidade nas
pessoas, e o de Heráclito incita as lutas por mudança social, por exemplo.
d) Heráclito pensa que tudo o que existe, existe e sempre existiu como é, enquanto que Parmênides acredita que
tudo flui, tudo muda, assim sendo, o pensamento de Heráclito instaura uma certa como-didade nas pessoas, e
o de Parmênides incita as lu-tas por mudança social, por exemplo.

AULA 3

PLATÃO
Platão (427 – 347 a. C.) foi o maior discípulo de Sócrates, e era um homem de família aristocrática e
influente na política. Como todo jovem ateniense, era um entusiasta do regime democrático até conhecer seu
mestre aos vinte anos de idade. Sob influência de Sócrates passou a ser também crítico do regime, e depois de
sua morte deixou de acreditar na possibilidade de uma vida justa e feliz.
Deixou Atenas para fazer uma longa viagem, quando voltou e fundou a Academia, onde pôde desenvolver suas
teorias e repassá-las a seus vários discípulos. Na busca de um conhecimento verdadeiro, buscou um meio de
contornar o beco sem saída deixado por Heráclito e Parmênides. Grande parte de suas ideias estão escritas em
sua mais famosa obra, a República.

METAFÍSICA
O constante devir que Heráclito afirmava ser a realidade foi chamado de mundo sensível (material) por
Platão. Esse mundo captado pelos sentidos, a causa de nossos erros e ilusões, era uma cópia imperfeita do
mundo das ideias (inteligível), que
correspondia à permanência de Parmênides, um mundo captado apenas pelo pensamento, e, portanto, perfeito.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Tudo que existe nesse mundo material é porque tem sua ideia no mundo superior. Apesar da
multiplicidade com que ela possa aparecer no mundo sensível, a ideia é uma só, indestrutível e eterna. Segundo
Platão, apesar de existirem diferentes tipos de cavalo, a ideia de cavalo é uma só. Quando pensamos em cavalo,
pensamos a ideia e não determinado cavalo.

Mas como foi que aconteceu essa cópia? Platão nos diz que
foi um demiurgo (construtor) que plasmou do mundo das ideias esse
mundo imperfeito.
Tudo que existe nesse mundo em que vivemos, já existe no
mundo superior das ideias. Seguindo esse raciocínio, a pólis deveria
ser organizada de acordo com a pólis ideal, para que seus cidadãos
pudessem viver de acordo com o supremo bem e a justiça. Mas como
fazer isso? Como conhecer esse mundo ideal e verdadeiro para viver
de acordo com o que é bom e justo nesse mundo de erros, se eu
estou nesse segundo e tudo que percebo vem dele?
Platão afirma que somente pela dialética é possível alcançar
gradativamente o que é verdadeiro, e passar das ilusões ao real. Importante deixar claro que a dialética Platônica
é o que a etimologia da palavra sugere um diálogo crítico em busca da verdade que se passa do senso comum ao
conhecimento verdadeiro.
Ele explica essa passagem do falso ao real pela alegoria do mito da caverna, ilustrada na figura abaixo.

Aqueles caras deitados no chão nasceram e cresceram ali, e a única coisa que eles viam eram aquelas
sombras. Por nunca terem visto outra coisa, eles julgavam que aquelas sombras eram os objetos verdadeiros. Só
que um dia, um deles consegue se soltar e sair da caverna. Lá fora, ele não consegue enxergar nada porque é
quase cegado pela luz do sol. Aos poucos ele vai conseguindo ver as coisas e se dá conta que aquilo que viam na
caverna eram apenas as sombras, que eles tomavam por verdadeiro aquilo que era falso. Depois, ele volta para
alertar os outros de sua condição, mesmo sabendo que eles podem não acreditar no que ele estava dizendo.
Alguns dizem que ele está louco e outros decidem acompanhá-lo.
Política Platão não via a democracia como um bom regime, foi a democracia que matou o mais sábio dos
homens. E foi a democracia que levou Atenas à guerra e à ruía. Como é que pessoas não instruídas sobre valores
como o bem comum, amizade, virtudes, justiça, podem governar? Já imaginou dar poder de governar àqueles
caras acorrentados na caverna que só veem sombras? Seria um desastre. Como de fato foi. Por isso que ele
defende que quem deve governar a cidade são os filósofos, aqueles que saíram da caverna (mundo sensível) e
conheceram a realidade (mundo das ideias). Só eles possuem as virtudes e o conhecimento necessário (as
ideias) para dar à pólis uma estrutura bem ordenada de forma que o bem e a justiça possam reger as relações
entre seus cidadãos. Esses filósofos não pertenceriam a classe social alguma. Em, A República, ele apresenta um
processo de educação , sendo que todos participam, independente da classe social e do sexo. Isso mesmo,
Platão defendia que as mulheres poderiam ser educadas para participar da vida pública.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

CAPÍTULO 4

ARISTÓTELES
Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos
assuntos, como física, metafísica, poesia, teatro, música, lógica, retórica, governo, ética, biologia e zoologia.

Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como uma das figuras mais
importantes, e um dos fundadores, da filosofia ocidental.

O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO
A tradição representa um elemento vital para a compreensão da filosofia aristotélica. Em certo sentido,
Aristóteles via o próprio pensamento como o ponto culminante do processo desencadeado por Tales de Mileto. A
filosofia pretendia não apenas rever como também corrigir as falhas e imperfeições das filosofias anteriores. Ao
mesmo tempo, trilhou novos caminhos para fundamentar as críticas, revisões e novas proposições. Aluno de
Platão, Aristóteles discorda de uma parte fundamental da filosofia. Platão concebia dois mundos existentes:
aquele que é apreendido por nossos sentidos, o mundo concreto -, em constante mutação; e outro mundo -
abstrato -, o das ideias, acessível somente pelo intelecto, imutável e independente do tempo e do espaço material.
Aristóteles, ao contrário, defende a existência de um único mundo: este em que vivemos. O que está além de
nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.

LÓGICA
Para Aristóteles, a Lógica é um instrumento, uma introdução para as ciências e para o conhecimento e
baseia-se no silogismo, o raciocínio formalmente estruturado que supõe certas premissas colocadas
previamente para que haja uma conclusão necessária. O silogismo é dedutivo, parte do universal para o particular;
a indução, ao contrário, parte do particular para o universal. Dessa forma, se forem verdadeiras as premissas, a
conclusão, logicamente, também será.

METAFÍSICA
O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles
de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que
possuem fácil e imediata apreensão sensorial. O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo
e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para metafísica:
A ciência que indaga e reflete acerca dos princípios e primeiras causas;
A ciência que indaga o ente enquanto aquilo que o constitui, enquanto o ser do ente; A ciência que investiga
as substâncias;
A ciência que investiga a substância supra-sensível, ou seja, que excede o que é percebido através da
materialidade e da experiência sensível.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

QUATRO CAUSAS.
Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:

1. A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);

2. A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);

3. A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem
trabalha a argila);
4. A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).

ESSÊNCIA E ACIDENTE
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual
aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo.

O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser
por sua falta.

POTÊNCIA, ATO E MOVIMENTO.


Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência).
Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato).

A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica como Bem. Esse Ato não é nada
em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de
coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "Ato Puro".

Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai
sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um
ser em potência enquanto está em potência. O ato é ,portanto, a realização da potência, e essa realização pode
ocorrer através da ação (gerada pela potência ativa) e perfeição (gerada pela potência passiva).

ÉTICA
No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas, menos exata na medida em que se ocupa com
assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas
daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes
e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade.

POLÍTICA
Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural da ética. Ambas, na verdade, compõem a
unidade do que Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está preocupada com a felicidade individual do
homem, a política se preocupa com a felicidade coletiva da Pólis. Desse modo, é tarefa da política investigar e
descobrir quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se,
portanto, de investigar a constituição do estado. Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política
originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.

ARRASE NO ENEM

21. Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar crenças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar
as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristóteles, nenhum homem honesto pode ignorar
que uma outra atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com base em razões e evidências e
questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da
filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002. Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do
pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante aspecto filosófico de ambos os autores que, em
linhas gerais, refere-se à
a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade.
b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas.
c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade.
d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade.
e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

22. Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre tudo? São todas as coisas objetos de possíveis
deliberações? Ou será a deliberação impossível no que tange a algumas coisas? Ninguém delibera sobre
coisas eternas e imutáveis, tais como a ordem do universo; tampouco sobre coisas mutáveis, como os
fenômenos dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas pode ser produzida por nossa ação.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007. (adaptado). O conceito de deliberação tratado
por Aristóteles é importante para entender a dimensão da responsabilidade humana. A partir do texto,
considera-se que é possível ao homem deliberar sobre
a) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre os acontecimentos da natureza.
b) ações humanas, ciente da influência e da determinação dos astros sobre as mesmas.
c) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam sob seu controle.
d) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte dela.
e) coisas eternas, já que ele é por essência um ser religioso.

23.
“Sócrates: Imaginemos que existam pessoas morando numa caverna. Pela entrada dessa caverna entra a luz
vinda de uma fogueira situada sobre uma pequena elevação que existe na frente dela. Os seus habitantes estão lá
dentro desde a infância, algemados por correntes nas pernas e no pescoço, de modo que não conseguem mover-
se nem olhar para trás, e só podem ver o que ocorre à sua frente. (...) Naquela situação, você acha que os
habitantes da caverna, a respeito de si mesmos e dos outros, consigam ver outra coisa além das sombras que o
fogo projeta na parede ao fundo da caverna?”.
(PLATÃO. A República [adaptação de Marcelo Perine]. São Paulo: Editora Scipione, 2002. p. 83).

Em relação ao célebre mito da caverna e às doutrinas que ele representa, assinale o que for correto.
01) No mito da caverna, Platão pretende descrever os primórdios da existência humana, relatando como eram
a vida e a organização social dos homens no princípio de seu processo evolutivo, quando habitavam em
cavernas.
02) O mito da caverna faz referência ao contraste ser e parecer, isto é, realidade e aparência, que marca o
pensamento filosófico desde sua origem e que é assumido por Platão em sua famosa teoria das Idéias.
03) O mito da caverna simboliza o processo de emancipação espiritual que o exercício da filosofia é capaz de
promover, libertando o indivíduo das sombras da ignorância e dos preconceitos.
04) É uma característica essencial da filosofia de Platão a distinção entre mundo inteligível e mundo sensível;
o primeiro ocupado pelas Idéias perfeitas, o segundo pelos objetos físicos, que participam daquelas Idéias ou
são suas cópias imperfeitas.
05) No mito da caverna, o prisioneiro que se liberta e contempla a realidade fora da caverna, devendo voltar à
caverna para libertar seus companheiros, representa o filósofo que, na concepção platônica, conhecedor do
Bem e da Verdade, é o mais apto a governar a cidade.

24. (Uncisal 2012) No contexto da Filosofia Clássica, Platão e Aristóteles possuem lugar de destaque. Suas
concepções, que se opõem, mas não se excluem, são amplamente estudadas e debatidas devido à influência
que exerceram, e ainda exercem, sobre o pensamento ocidental. Todavia é necessário salientar que o produto
dos seus pensamentos se insere em uma longa tradição filosófica que remonta a Parmênides e Heráclito e
que influenciou, direta ou indiretamente, entre outros, os racionalistas, empiristas, Kant e Hegel. Observando o
cerne da filosofia de Platão, assinale nas opções abaixo aquela que se identifica corretamente com
suas concepções.
a) A dicotomia aristotélica (mundo sensível X mundo inteligível) se opõe radicalmente as concepções de caráter
empírico defendidas por Platão.
b) A filosofia platônica é marcada pelo materialismo e pragmatismo, afastando-se do misticismo e de conceitos
transcendentais. c) Segundo Platão a verdade é obtida a partir da observação das coisas, por meio da
valorização do conhecimento sensível.
c) Para Platão, a realidade material e o conhecimento sensível são ilusórios.
d) As concepções platônicas negam veementemente a validade do Inatismo.

25. (Uncisal 2011) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer
perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates
colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de
sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude,
desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando essas informações
sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que
sua filosofia
a) transmitia conhecimentos de natureza científica.
b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade.
c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense.
d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão. e) procurava
transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

AULA 5

ESCOLAS DO HELENISMO

O helenismo refere-se ao conhecimento filosófico produzido


entre a morte do Alexandre e o início da filosofia medieval.

Principal característica do helenismo: fusão entre a tradição


grega e a cultura oriental. Disseminação do pensamento grego pela
região da Síria, Egito, Babilônia, dentre outras.

O ESTOICISMO, de Zenão de Cítio (263 a.C) – os representantes desta


escola, conhecidos como estóicos, defendiam uma atitude de completa
austeridade física e moral, baseada na resistência do homem ante os
sofrimentos e os males do mundo. Seu ideal de vida, designado pelo
termo grego apathéia (que costuma ser mal traduzido por "apatia"), era alcançar uma serenidade diante dos
acontecimentos fundada na aceitação da "lei universal do cosmos", que rege toda a vida;

O EPICURISMO, de Epicuro (324-271 a.C) – propunha a ideia de que o ser humano deve buscar o prazer da vida.
No entanto, distinguia, entre os prazeres, aqueles que são duradouros e aqueles que acarretam dores e
sofrimentos, pois o prazer estaria vinculado a uma conduta virtuosa. Para Epicuro, o supremo prazer seria de
natureza intelectual e obtido mediante o domínio das paixões. Os epicuristas procuravam a ataraxia, termo grego
que usavam para designar o estado em que não havia dor, de quietude, serenidade, imperturbabilidade da alma.
O epicurismo, posteriormente, serviu de base ao hedonismo, filosofia que também defende a busca do prazer,
mas que não diferencia os tipos de prazeres, tal como faz Epicuro;

O CETICISMO (pirronismo), de Pirro de Élida (365-275 a.C) - segundo suas teorias, nenhum conhecimento é
seguro, tudo é incerto. O pirronismo defendia que se deve contentar com as aparências das coisas, desfrutar o
imediato captado pelos sentidos e viver feliz e em paz, em vez de se lançar à busca de uma verdade plena, pois
seria impossível ao homem saber se as coisas são efetivamente como aparecem. Assim, o pirronismo é
considerado uma forma de ceticismo, que professa a impossibilidade do conhecimento, da obtenção da
verdade absoluta;

O CINISMO - o termo cinismo vem do grego kynos, que significa "cão", e designa a corrente dos filósofos que se
propuseram a viver como os cães da cidade, sem qualquer propriedade ou conforto. Levavam ao extremo a
filosofia de Sócrates, segundo a qual o homem deve procurar conhecer a si mesmo e desprezar todos os bens
materiais. Por isso Diógenes, o pensador mais destacado dessa escola, é conhecido como o “Sócrates demente”,
ou o “Sócrates louco”, pois questionava os valores e as tradições sociais e procurava viver estritamente conforme
os princípios que considerava moralmente corretos. Sãos inúmeras as histórias e acontecimentos na vida desse
filósofo que o tornaram uma figura instigante da história da filosofia.

FLUIDOS SAGRADOS E SUAS


APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS
Chove chuva, chove sem parar
Pois eu vou fazer uma prece a Deus, nosso Senhor pra chuva parar de molhar o meu divino amor
Que é muito lindo, é mais que o infinito, é puro e belo, inocente como a flor
Por favor, chuva ruim, não molhe mais o meu amor assim.
Chove Chuva (Jorge Ben)

Nessa música de Jorge Ben, uma situação banal, como a chuva que nos pega desprevenidos no caminho
de casa ou do trabalho, é usada para compor uma declaração de amor. A chuva, na música, é ruim porque molha
o seu divino amor. A água, que compõe grande parte de nosso corpo, e o ar que respiramos, ambos fluidos
essenciais à nossa vida, de tão primordiais já chegaram a ser tratados como divindades pelos antigos. Nas
sociedades modernas, esse mito não carrega valor algum; pelo contrário, costuma-se desprezar o valor vital
desses fluidos em troca do progresso e do lucro. Nosso modo de vida dificulta a percepção de como somos
dependentes da água e do ar e que deveríamos zelar por boas condições de uso, sem desperdícios ou
deterioração. Mas, diante de uma chuva que não pára ou que é rápida, mas intensa, problemas sérios surgem.
Chegamos mesmo a pensar que a chuva é realmente ruim, não porque nos molha, mas devido às enchentes que
provocam, com suas inúmeras consequências. Entretanto, atribuir a responsabilidade das enchentes apenas às
chuvas é simplificar demais o problema.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

A questão das enchentes é muito complexa e requer um planejamento e envolvimento de todos para
solucioná-la. O problema não se limita às grandes cidades. Afeta também regiões mais afastadas. Ações
preventivas e emergenciais são adotadas para diminuir um problema que se arrasta há décadas, como se pode
ver na reportagem de 1992.

CESP REDUZ VAZÃO DE RIO PARA PROTEGER FAMÍLIAS


A partir de hoje, a Companhia energética de São Paulo reduz de 15 mil para 14 mil metros cúbicos por
segundo a vazão da represa de Jupiá, e o rio Paraná deixa de ser ameaça para centenas de famílias da
região ribeirinha. A informação foi dada ontem à Agência Estado pelo engenheiro Celso Cerquiari, gerente
de operação das usinas da CESP no rio Paraná. Ele anunciou ainda a desmobilização temporária do
esquema de emergência montado na cidade de Presidente Epitácio, a 680 quilômetros de São Paulo, onde
a inundação de áreas residenciais seria inevitável com vazão acima de 16 mil metros cúbicos por segundo.
(...) Antônio José do Carmo, jornal O Estado de S. Paulo, 28 fev. 1992.

ARRASE NO ENEM

26. (UEM – Inverno 2008) O Período Helenístico inicia-se com a conquista macedônica das cidades-Estado
gregas. As correntes filosóficas desse período surgem como tentativas de remediar os sofrimentos da
condição humana individual: o epicurismo ensinando que o prazer é o sentido da vida; o estoicismo instruindo
a suportar com a mesma firmeza de caráter os acontecimentos bons ou maus; o ceticismo de Pirro orientando
a suspender os julgamentos sobre os fenômenos.
Sobre essas correntes filosóficas, assinale o que for correto.

01) Os estóicos, acreditando na idéia de um cosmo harmonioso governado por uma razão universal,
afirmaram que virtuoso e feliz é o homem que vive de acordo com a natureza e a razão.
02) Conforme a moral estóica, nossos juízos e paixões dependem de nós, e a importância das coisas provém
da opinião que delas temos.
03) Para o epicurismo, a felicidade é o prazer, mas o verdadeiro prazer é aquele proporcionado pela ausência
de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.
04) Para Epicuro, não se deve temer a morte, porque nada é para nós enquanto vivemos e, quando ela nos
sobrevém, somos nós que deixamos de ser.
05) O ceticismo de Pirro sustentou que, porque todas as opiniões são igualmente válidas e nossas sensações
não são verdadeiras nem falsas, nada se deve afirmar com certeza absoluta, e da suspensão do juízo advém
a paz e a tranqüilidade da alma.

27. (2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem
naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos
não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou
parecem geradores de dano. EPICURO DE SAMOS. Doutrinas principais. In: SANSON, V.F. Textos de
filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974. No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim
a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.
b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.
c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.
d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.
e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.

28. Observe as afirmações sobre ceticismo e assinale a alternativa correta.


a) O ceticismo é sempre ingênuo, pois colocar tudo em dúvida e suspender as certezas já implica uma certeza:
duvidamos e, por isso, existimos.
b) O ceticismo afirma que não podemos ter conhecimento sobre a natureza e que só uma psicologia empírica
poderia explicar o conhecimento, sobretudo, a partir da noção de hábito.
c) Toda forma de ceticismo se constitui como uma luta contra posições ideológicas e dogmáticas.
d) O ceticismo é indubitavelmente um traço mais marcante da filosofia, por não acreditar em nenhuma forma de
conhecimento segura.
e) Toda forma de ceticismo se constitui como corrente a favor de posições ideológicas e dogmáticas.

29. O Carpe Diem, o ócio, o cultivo da alma, são características dessa escola que se preocupa com a vida
humana bem vivida, longe das perturbações da política e das atitudes viciosas, proclamando uma “retirada” do
exterior para dentro de si:
a) Epicurismo c) Pirronismo e) Orfismo
b) Estoicismo d) Cinismo

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

30. No livro “A arte de viver: uma nova interpretação de Sharon Lebell” busca-se resgatar os pensamentos do
filósofo Epicteto.
Sabemos que Epicteto viveu grande parte de sua vida como escravo em Roma por volta do século I d.C., mas
nem em sua condição de escravo ele deixou de filosofar e representar a escola à qual o seu pensamento
está ligado.

Vejamos abaixo um trecho do livro escrito em aforismos:

HARMONIZE SUAS AÇÕES COM A MANEIRA COMO A VIDA É:


(...) Comporte-se, em todas as questões, grandes e públicas, pequenas e domésticas, de acordo com as leis
da natureza. Harmonizar sua vontade com a natureza deveria ser o seu maior ideal. Onde você pode praticar esse
ideal? Nos detalhes de sua vida diária, com suas tarefas e deveres pessoais e específicos. Quando você realizar
essas tarefas, tais como tomar banho, por exemplo, faça-o tanto quanto lhe for possível, faça-o em harmonia com
a natureza. E assim por diante.
O que fazemos é menos importante do que a maneira como o fazemos. Quando compreendemos realmente
este princípio e vivemos de acordo com ele, embora as dificuldades continuem a surgir – já que também são parte
da ordem divina – , ainda assim será possível ter paz interior.”
(EPICTETO, 2006, p.18)

Diante do trecho lido, onde podemos identificar um apelo moral à conformar a vida particular à ordem da
natureza, é possível dizermos que Epicteto pertenceu à escola:
a) Cínica c) Epicurista e) Platônica
b) Estóica d) Pirrônica

AULA 6

FILOSOFIA MEDIEVAL
Durante a Idade Média a Igreja, grande detentora do poder ideológico, explicava através da fé todos os
fenômenos e acontecimentos. Na grande maioria das vezes estes eram castigos divinos ou milagres, verdades
inquestionáveis escritas na Bíblia. O bom homem na Idade Média era aquele que não questionava a submissão a
Deus, aceitava todas essas verdades e por elas, se preciso fosse, lutaria e morreria bravamente.
Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1227-1274) foram, respectivamente, os maiores
pensadores da Patrística e da Escolástica. Santo Agostinho valeu-se da filosofia de Platão, enquanto Santo
Tomás de Aquino da de Aristóteles. Com isso, cada qual, em sua época, pode influenciar não só a religião católica
como muitos pensadores cristãos que lhes sucederam.
Tanto Santo Agostinho como Santo Tomás de Aquino afirmam que Deus, sendo eterno, transcendente,
todo bondade e todo sabedoria, criou a matéria do nada e, depois, tudo o que existe no universo. Para Santo
Agostinho, as idéias ou formas estavam no Espírito de Deus (Teoria da Iluminaçao). Santo Tomás de Aquino
acrescenta a noção dos universais em seus raciocínios. Dizia que Deus é a causa da matéria e dos universais.
Além disso, Deus está continuamente criando o mundo ao unir universais e matéria para produzir novos objetos.
Nenhum deles colocava em dúvida a imortalidade da alma. Santo Agostinho dizia que alma e corpo são
distintos, mas não soube explicar como a alma se liga ao corpo. De acordo com Santo Tomás, a alma humana —
princípio imaterial, espiritual e vital do corpo — foi criada por Deus. Acreditava que a alma espiritual é agregada ao
corpo por ocasião do nascimento, e continua a existir depois da morte do corpo, formando, pois, por si mesma, um
novo corpo, um corpo espiritual, por meio do qual atua por toda a eternidade.

Em suas teorias, reportam ao "desprezo do mundo". Contudo, Santo Agostinho mostra-se incapaz de
decidir entre o mundo e desprezo por ele. A despeito dessa dúvida, apega-se firmemente à idéia de que a Igreja,
como a encarnação mundana da cidade de Deus, deve ter supremacia sobre o Estado. Santo Tomás de Aquino,
da mesma forma que Aristóteles, doutrinava que o homem é naturalmente um ser político e procura estar em
sociedade. Este homem deve tributar lealdade à Igreja e a Deus, mas tem, também, que obedecer ao Estado
porquanto este, por sua vez, recebeu o seu poder da Igreja.

Fé, Razão e Revelação são os pontos fundamentais de suas teorias. Santo Agostinho demonstra
claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e
compreender com a razão o conteúdo da mesma. Santo Tomás consegue, por seu turno, estabelecer o perfeito
equilíbrio nas relações entre a Fé e a Razão, a teologia e a filosofia, distinguindo-as mas não as separando
necessariamente. Ambas, com efeito, podem tratar do mesmo objeto: Deus, por exemplo. Contudo, a filosofia
utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada
na revelação.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

A obra As Confissões se destaca como uma das principais obras de Agostinho. Nela, ele explora
extensamente os estados interiores da mente humana e a relação mútua existente entre a graça e a liberdade,
que são temas dominantes na história da filosofia e da teologia ocidentais.
Sua finalidade original deve ter sido a de descrever a conversão de Agostinho do maniqueísmo ao cristianismo
católico, tendo em conta as acusações donatistas de que ele seguia sendo um maniqueu disfarçado.

Maniqueísmo: Foi uma doutrina dualista, que dividia o mundo em bem (Deus) e mal ( Diabo). A junção do
reino das trevas com o reino da luz teria gerado o mundo material, que por consequência é mal. Caberia aos
homens, se salvarem buscando o caminho da luz.

O LIVRE-ARBÍTRIO
Na concepção agostiniana, "O Livre - arbítrio" é um Dom de Deus, concedido às criaturas racionais que as
permite agir livremente de acordo com a sua vontade. É o uso consciente da liberdade. Esse Dom de Deus é
guiado pela vontade destas criaturas, que pela razão o usarão, devidamente, proporcionando o bem e pela paixão
o tornará causador do mal, pois estarão privando-o e sua privação consiste no mal; já que ele é o bem. Mas como
pode um bem concedido por Deus, que por sua vez é o Bem Supremo e criador de tudo o que existe no mundo,
ser causa do mal?
O livre arbítrio torna-se causa do mal, por meio daqueles que o receberam, pois estes não o usaram
devidamente, ou seja, privaram-no. Logo, se o mal é a privação do bem, e o livre arbítrio sendo um bem, sua
privação é causa do mal; é o mal.

SANTO AGOSTINHO

A CIDADE DOS HOMENS E A CIDADE


DE DEUS
A fundação das duas cidades está ligada aos dois amores, um ligado ao amor a si próprio e ao desprezo a
Deus, e outro ao amor a Deus e desprezo a si próprio.
A Cidade de Deus é a cidade perfeita e imortal apontada, por Agostinho, como a verdadeira cidade que
um cristão deveria buscar para a morada eterna.
A cidade terrestre, que ele denomina de Cidade dos homens, é marcada pelo pecado original, perecível,
concupiscível e submetida às paixões humanas.
A filosofia de Tomás de Aquino (1226-1274) – o tomismo – parece ter nascido com objetivos bem claros:
não contrariar a fé. De fato, sua finalidade era organizar um conjunto de argumentos para demonstrar e defender
as revelações do cristianismo. Assim, Tomás de Aquino reviveu em grande parte o pensamento aristotélico em
busca de argumentos que explicassem os principais aspectos da fé cristã. Enfim, fez da filosofia de Aristóteles um
instrumento a serviço da religião católica, ao mesmo tempo em que transformou essa filosofia numa
síntese original.

SÃO TOMÁS DE AQUINO

AS CINCO CAUSAS
A prova da existência de Deus é demonstrada por Tomás de Aquino através de cinco vias:
1. Via do movimento/primeiro motor: causa-efeito; Deus como primeiro motor.
2. Via da causa eficiente: Se existem efeitos no mundo, é preciso que exista uma causa eficiente primeira,
sendo ela Deus.
3. Via do contingente e do necessário: as coisas poderiam ser ou não ser/existir ou não existir, é preciso
uma causa primeira (Deus).
4. Via dos graus de perfeição: a existência de um ser máximo, e todos os seres presentes no mundo em
diferentes graus de perfeição.
5. Via do governo das coisas/da finalidade ser: um ser inteligente que governa, coordena e atribui as
devidas finalidades aos demais.

ARRASE NO ENEM

31. Assim como os primeiros padres da Igreja, Santo Agostinho é herdeiro da filosofia de Platão, a qual buscou
adaptar à fé cristã. É correto afirmar que para o bispo de Hipona:
a) a razão (logos) inspiradora dos filósofos pagãos não fora a mesma que se revelouemCristo.
b) a sabedoria perfeita e acabada só se daria através da revelação divina.
c) a fé não deve preceder a razão, embora essa seja inútil sem aquela.
d) a verdade é extrínseca ao homem, que possui uma natureza corrompida.
e) as ideias existem num mundo à parte da mente divina.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

32. Principal expoente da filosofia escolástica medieval, São Tomás de Aquino retomou o problema mais
importante da Patrística, a conciliação entre fé e razão. Em sua "Suma teológica", procurou dar provas
racionais da existência de Deus com base em Aristóteles. São Tomás de Aquino converge com o filósofo
grego ao:
a) perceber o corpo como obstáculo à atividade da alma.
b) adotar o raciocínio lógico-dedutivo.
c) considerar o homem inapto a viver em sociedade, dada sua malignidade natural e espontânea.
d) negar a felicidade terrena como fim a ser atingido por todos os homens.
e) conceber o universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam os inferiores.
33. (2011) Acompanhando a intenção da burguesia renascentista de ampliar seu domínio sobre a natureza e
sobre o espaço geográfico, através de pesquisa científica e da invenção tecnológica, os cientistas também
iriam se atirar nessa aventura, tentando conquistar a forma, o movimento, o espaço, a luz, a cor e mesmo a
expressão e o sentimento. SEVCENKO, N. O Renascimento. Campinas: Unicamp, 1984. O texto apresenta
um espírito de época que afetou também a produção artística, marcada pela constante relação entre
a) fé e misticismo. c) cultura e comércio. e) astronomia e religião.
b) ciência e arte. d) política e economia.

34. (UFU – 2009) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-430 d. C.), Deus cria todas as coisas a
partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais, como
também são chamadas, não existem em um mundo à parte, independentes de Deus, mas residem na própria
mente do Criador, [...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as coisas, conhecia aquelas
primeiras, divinas, imutáveis e eternas razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...]. Sobre o
Gênese, V Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode perceber:
a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de
Platão, que ele considerava a verdadeira.
b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória com a fé cristã.
c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com a
doutrina cristã.
d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral.
35. (UFU – 2009) A filosofia grega se expandiu para além das fronteiras do mundo helênico e influenciou outros
povos e culturas. Com o cristianismo não foi diferente e, aos poucos, a filosofia foi absorvida. Conforme
Chalita, um dos motivos dessa absorção foi: [...] a necessidade de organizar os ensinamentos cristãos, de
reunir os fatos e conceitos do cristianismo sob a forma de uma doutrina e elaborar uma teologia rigorosa.
(CHALITA, G. Vivendo a Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 94.) Uma das características da patrística é a
busca da conciliação entre a fé e a filosofia, e Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho (354 d.C. – 430 d.C.),
influenciado pelo neoplatonismo, tornou-se uma referência para a filosofia cristã. Em relação ao
desenvolvimento das ciências naturais, porém, o pensamento de Agostinho não deu grande impulso uma vez
que sua filosofia – tal como a do mestre Platão – não adotava os fenômenos naturais como objeto de reflexão.
Com base nos textos acima e em seus conhecimentos sobre a obra de Agostinho de Hipona, assinale a
alternativa INCORRETA.
a) Agostinho de Hipona criou a doutrina da iluminação divina baseado na teoria da reminiscência de Platão,
conciliando de modo original a fé cristã e o pensamento filosófico.
b) A observação, a experimentação e a aplicação dos princípios da geometria sobre os fenômenos naturais
foi uma das principais características da filosofia de Santo Agostinho.
c) Conforme Agostinho de Hipona, a filosofia grega é um instrumento útil para a fé cristã.
d) As verdades eternas e imutáveis, que têm sua sede em Deus, só podem ser alcançadas pela
iluminação divina
36. (UFU – 2008) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi
nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-
lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas
últimas resistências (de tornar-se cristão). PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In:
CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77. Apesar de ter
sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho
apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão. Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, uma dessas diferenças.
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a
verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não
existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma
do corpo.
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela
contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a
centelha de Deus que existe em cada um.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

37. (Faap) A doutrina de Platão influenciou os primeiros filósofos medievais, Santo Agostinho, bispo de Hipona
(354 a 430) e Boécio (480 a 524), autores de "Confissões" e "Consolação da Filosofia", respectivamente. Mas
a Filosofia que predominou na Idade Média foi a:
a) Sofística c) Escolástica e) Fenomenológica
b) Epicurista d) Existencialista

AULA 7

O HUMANISMO RENASCENTISTA E A
REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
A doutrina cristã como um sistema unificado, racional e logicamente construído passou, também, por
críticas e modificações. Ao final do período medieval (sec. XIV), surgem novos pensamentos que defendem a
separação radical entre a razão e a fé, entre Filosofia e Teologia. Com a crise do pensamento escolástico, surge
um pensamento inovador, o humanismo renascentista e o a Filosofia Moderna, com suas novas teorias filosóficas
e científicas, resultando em profundas transformações no mundo europeu.

HUMANISMO RENASCENTISTA
Nos séculos XV e XVI, os escritores e artistas plásticos renascentistas resgataram os valores humanistas
da cultura greco-romana. O antropocentrismo (homem é o centro de tudo) norteou o desenvolvimento intelectual e
artístico desta fase.
O Humanismo pode ser definido como um conjunto de ideais e princípios que valorizam as ações humanas
e valores morais (respeito, justiça, honra, amor, liberdade, solidariedade, etc). Para os humanistas, os seres
humanos são os responsáveis pela criação e desenvolvimento desses valores. Dessa forma, o pensamento
humanista entra em contradição com o pensamento religioso que afirma que Deus é o criador destes valores.
Valoriza-se o corpo humano, artes, pensamento, política, ciência. É o momento de novos pensadores e
artistas, tais como Leonardo da Vinci, William Shakespeare, Rafael, Maquiavel, Michelangelo, Montaigne.
 Thomas Morus, em a A Utopia, defende a tolerância religiosa, critica o autoritarismo dos reis e da Igreja,
favorecendo a razão e a virtude natural.
 Maquiavel, autor escreveu O Príncipe, inaugurou o pensamento moderno da política, em que faz uma análise
do poder como fato político, independente das questões morais.
 Copérnico, um sacerdote polonês, propôs a teoria heliocêntrica que atingia a concepção medieval cristã de
que o homem é ser supremo da criação divina e que por isso a terra é o centro do universo.
 Giordano Bruno leva adiante a ideia de Copérnico e desenvolve a concepção de universo infinito. É
condenado e morre queimado vivo na fogueira.
 Galileu Galilei contribuiu com descobertas científicas, como o aperfeiçoamento do telescópio, e com uma nova
postura metodológica de investigação científica: observação, experimentação, uso da linguagem matemática.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

O ser humano, segundo Pico della Mirandolla, recebeu uma natureza não predeterminada, que o
possibilita construir-se, que o permite tanto rebaixar-se ao nível das feras como elevar-se acima dos anjos.

Mas, por onde nos guiamos para conhecer as coisas?


Pela experiência e pela matemática, pois a natureza possui uma ordem perfeitamente matemática.
Leonardo da Vinci se definia como um “homem sem letras”, para dizer que sua formação era prática, nas oficinas
com grandes mestres artesãos, e não trancafiado em bibliotecas como era de costume entre os grandes
pensadores da época. Foi neste mundo prático que Leonardo descobriu que a observação pelos sentidos
ensinava muito ao homem, ou seja, através da experiência.

A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, e acaba
concentrando sua atenção na natureza do universo, na ciência da natureza. A ciência moderna surge quando se
torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão antiga que partia de princípios estabelecidos
e dogmáticos. É um processo de transição e não uma ruptura radical.

FILOSOFIA MODERNA

FILOSOFIA DE DESCARTES
A Idade Moderna é marcada por uma série de transformações tanto na área cultural, religiosa, política e
social quanto na área econômica. Tais transformações possibilitaram um novo modo do homem europeu conceber
o mundo. O Período Moderno da história do pensamento filosófico marca uma reviravolta, tanto na maneira de se
produzir o conhecimento e as técnicas, quanto na maneira de as nações se organizarem comercial e socialmente.
René Descartes (1596 – 1650) é “o” filósofo da modernidade. Ele sintetiza o espírito do seu tempo e problematiza
o que será discutido a partir dele. Ele nasceu na França e estudou no melhor colégio daquele país, que
obviamente era jesuíta e onde se ensinava a doutrina escolástica aristotélico-tomista, é claro.

A MISSÃO DE DESCARTES
Insatisfeito com os conhecimento ultrapassados que recebeu e que ainda eram ensinados nas instituições
de ensinos oficiais, conhecimentos desconexos, sem um princípio unificador, sem sistematicidade, ele decide
viajar para conhecer o que o mundo tinha a ensinar. Em uma das noites de sua viajem, sonhou que deveria erigir
um novo conhecimento, sistemático, lógico, e totalmente fundamentado na razão, portanto, universal. Foi então
que decidiu se fixar em um lugar para mergulhar nos estudos. Queria ficar em Paris, mas a vida agitada, e o medo
das perseguições da Igreja fez com que ele se mudasse para um lugar onde houvesse tolerância de pensamento,
e parte, então, para a Holanda. Descartes tinha o projeto de abarcar a totalidade do conhecimento e organizá-lo
de forma sistemática, a começar por princípios seguros sobre os quais todas as áreas pudessem partir, de modo
que se pudesse chegar a conhecimentos complexos progredindo dos simples, tal como uma equação matemática.

A DÚVIDA METÓDICA
Desse modo, para decompor seu pensamento no intuito de chegar ao primeiro princípio verdadeiro, claro
e distinto, Descartes se utiliza da dúvida metódica, que é o processo de duvidar de tudo, das coisas mais simples
que me chegaram pelos sentidos até as evidências matemáticas. E para duvidar da matemática Descartes usa o
artifício do gênio maligno, que segundo ele é um deus enganador que nos faz acreditar que estamos certo quando
dizemos que dois mais dois são quatro, quando na verdade estamos errados e o resultado talvez seja outro.

COGITO, ERGO SUM


Dessa forma, ao duvidar de tudo, não posso ter certeza de nada. Mas desse processo, pode-se tirar um
certeza, que nem mesmo a dúvida metódica pode me fazer duvidar. É a certeza de que se eu duvido. E se eu
duvido, eu penso, e se penso, eu existo.
Descartes encontrou o primeiro princípio fundador de sua filosofia: “penso, logo existo”. O problema agora
é partir desse princípio para saber se as coisas existem e como podemos conhecê-las. E esse não é um problema
simples. Ele toma consciência que duvida, que pensa, que existe, mas esse existir é como pensamento puro,

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

como uma coisa pensante (res cogitam), uma substância pensante, e não como o indivíduo Descartes, com um
corpo, com essa cabeleira que parece uma peruca e com esse bigodinho ridículo. Como ele vai provar
logicamente, como ele vai deduzir a existência do mundo, incluindo seu próprio corpo, a partir dessa única certeza
que tem de que existe, mas somente como substância pensante? Ele sabe que não pode ser a causa das coisas,
então como elas existem?

A EXISTÊNCIA DE DEUS E DO MUNDO


A única ideia que ele tem que não depende dele é a de que existe um ser perfeito, que é Deus. Ele chega
a essa conclusão porque ele sozinho, como ser imperfeito, não poderia ter a ideia de perfeição, pois o perfeito não
pode vir do imperfeito, mas o contrário. E ainda, sendo ele imperfeito, não poderia conceber essa ideia, portanto,
ele já foi criado com ela, ou seja, ela é uma ideia inata. A existência de Deus é a segunda certeza no fundamento
do conhecimento verdadeiro empreendido por Descartes. Daí que se existe esse ser perfeito, ele não pode ser
enganador, então, o mundo realmente existe. As ideias que tenho do mundo sempre estiveram em minha mente,
pois foram colocadas por Deus. Mas se esse mundo exterior chega ao pensamento por meio de ideias, e eu como
ser imperfeito que sou, posso me enganar quanto a elas, cabe ao próprio pensamento descobrir quais dessas
ideias são claras e distintas, ou seja, verdadeiras.

ARRASE NO ENEM

38. René Descartes é considerado o mestre do racionalismo, corrente filosófica moderna que atribui à razão
humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade. É correto dizer que o
racionalismo cartesiano:
a) utiliza o método indutivo a posteriori.
b) admite parte dos saberes já existentes e consagrados.
c) recusa todo tipo de premissa, por mais evidente e lógico que possa parecer.
d) está fundado na intuição intelectual.
e) nega a capacidade humana de discernir por completo o certo do errado, o verdadeiro do falso, dada a
falibilidade natural à espécie.

39. (2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo
o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma
gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por
essa mesma dúvida. SILVA, F.L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001
(adaptado). Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter
positivo por contribuir para o(a)
a) dissolução do saber científico. d) surgimento do conhecimento inabalável.
b) recuperação dos antigos juízos. e) fortalecimento dos preconceitos religiosos.
c) exaltação do pensamento clássico

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

40. (2013)
TEXTO I
Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões
como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão
mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as
opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme
e inabalável.
DESCARTES, R. Meditacoes concernentes a Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
TEXTO II
É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o
espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela
própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa
mesma dúvida.
SILVA, F.L. Descartes. a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).
A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do
conhecimento, deve-se
a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

41. (2012)
TEXTO I
Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
TEXTO II
Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum
significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível
atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação
sobre o entendimento.
São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos
excertos permite assumir que Descartes e Hume
a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo.
b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica.
c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos.
e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.
42. René Descartes, francês nascido em 1596 e morto em 1650, notabilizou-se sobretudo por seu trabalho
revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão
da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva
o seu nome. Ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é
conside-rado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou
contempo-râneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi
uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que
a partir de Descartes inaugurou-se o:
a) Racionalismo da Idade Moderna. c) Cientificismo do Renascimento. e) Ceticismo.
b) Empirismo da Idade Moderna. d) Naturalismo.
EMPIRISMO
Os defensores do empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são adquiridos por nós
através da experiência.
Antes da experiência, dizem eles, nossa razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma
“tábula rasa”, onde nada foi gravado, como uma cera sem forma e sem nada impresso nela, até que a experiência
venha escrever na folha, gravar na tábula, dar forma à cera.
 Maior representante é John Locke.
 Emperia / experiência.
 “Nada vem à mente sem antes ter passado pela experiência”

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

JOHN LOCKE
A obra que trata sobre a capacidade de conhecermos é Ensaios acerca do entendimento humano, onde
defende o empirismo afirmando que ao contrário do que dizia Descartes, não temos ideias inatas, nosso
conhecimento é adquirido por meio dos sentidos através da experiência. Seu objetivo nessa obra é investigar, não
o que conhecemos, mas o que, como, e os limites do processo de conhecer. Sua preocupação é em saber como a
mente funciona. Segundo ele, a mente do ser humano ao nascer é como um folha de papel em branco/tábula
rasa, onde vão sendo impressos conhecimentos/ideias ao longo da vida,
que nos chegam por meio dos sentidos.

“Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel


branco desprovido de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela
será suprida?
De onde lhe provem este vasto estoque, que a ativa e que a
ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase
infinita? De onde apreende todos os matérias da razão e do
conhecimento?
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso
conhecimento está nela fundado e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento.” (Ensaio sobre o entendimento humano. Livro II, cap. I, sec. 2).

Esse conhecimento nos chega através de uma experiência sensível imediata/sensação e é processado
internamente por meio da reflexão. Adquirimos ideias simples pelos sentidos e elaboramos as complexas através
da reflexão. Mas por entender que a matemática é um conhecimento válido em termos lógicos, Locke não pode
ser considerado um empirista radical.

AULA 8

HUME
Hume é um empirista radical, para ele, não existe conhecimento que não tenha sido adquirido pelos
sentidos. Não existem ideias inatas, todas elas vão se formando em nossa mente desde quando nascemos e
durante toda a nossa experiência de vida. Na experiência reside a fonte de nosso conhecimento. E como fazer
para verificar se o que pensamos saber é falsa ou verdadeira?

Segundo ele, o que existe em nossa mente são percepções, que são de dois tipos:
1. impressões, que são percepções fortes. Quando queimamos pela primeira vez a ponta do dedo em algo
quente, temos a percepção do calor e da dor. Quando isso acontece novamente, não temos mais a
percepção, por que ela já está em nossa mente, o que temos é uma impressão, que é o sentir a
percepção novamente.
2. ideias/pensamentos, que são percepções mais fracas. São as lembranças que temos das percepções.
Quando lembramos do dedo queimando, temos apenas uma ideia (percepção mais fraca) do que aconteceu,
mas não sentimos novamente a dor e o calor. Nossas ideias, portanto, são apenas cópias das impressões.
De posse disso, podemos agora perceber quando uma ideia é verdadeira ou falsa. Somente as
verdadeiras tem origem na experiência. E para saber quais delas se originam na experiência temos que decompor
as ideias complexas até chegarmos às simples, se essas tiverem por base a experiência, são verdadeiras, e se da
sua união surgir uma ideia complexa que também tem por base a experiência, então, ela também é verdadeira.

Imaginemos um pégaso, ele é um cavalo com asas. Temos a ideia de cavalo unida a ideia de asas. As
duas ideias provêm de percepções reais, pois cavalo e asa existem, todos já vimos na realidade. Mas quando
essas ideias se juntam, não há qualquer correspondente disso no mundo empírico, real. Portanto, só podemos
concluir que pégaso é uma ideia falsa. Esse processo de decomposição é importante porque nossa mente pode
nos enganar com seus truques que a razão não pode controlar. Por isso que um conhecimento, proveniente
somente da razão não pode ser confiável, ele deve ter a experiência como base de verificação.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

ARRASE NO ENEM
43.
“Tudo o que sabemos existir nos é dado pelas sensações e percepções, portanto, pela experiência. Visto
que a experiência nos mostra e nos dá a conhecer apenas as coisas particulares e singulares, somente elas
existem. Por conseguinte, as ideias gerais ou universais não correspondem a realidades ou a essências
existentes, mas são nomes que instituímos por convenção para organizar nosso pensamento e nossos discursos.”
(CHAUÍ, 2010, p. 50).

Esta afirmação representa o pensamento:


a) De Platão. c) Do Racionalismo em geral. e) Dos filósofos modernos.
b) De Descartes. d) Do Empirismo em geral.

44. Jhon Locke escreve no seu “Ensaio sobre o Entendimento Humano”:


“Visto que o entendimento situa o homem acima dos outros seres sensíveis e dá-lhe toda vantagem e todo
domínio que tem sobre eles, seu estudo consiste certamente num tópico que, por sua nobreza, é merecedor de
nosso trabalho de investigá-lo. O entendimento, como o olho, que nos faz ver e perceber todas as outras coisas,
não se observa a si mesmo; requer arte e esforço situá-lo a distância e fazê-lo seu próprio objeto.”
O que queria dizer?
a) Que o ser humano é mais importante que os outros seres, pois é óbvio a sua possibilidade de mudança e de
adaptação da natureza para sua vida.
b) Que todo homem deve ser encarado como nobre, diferente do que acreditava a classe da nobreza dos
Estados Modernos, que eram profundamente segregadores e tinham receio do povo subir ao poder.
c) Que é preciso estudar o pensamento, porém para isso é preciso um método rígido e preciso por ser difícil usar
o pensamento para pensar o próprio. Iniciando assim a Teoria do Conhecimento.
d) Que, assim como Aristóteles, o conhecimento deveria partir da sensibilidade, tendo assim um “passo-a-passo”
para se chegar ao conhecimento verdadeiro sobre as coisas.
e) Que o entendimento é o olho que vê o que acontece ao redor no mundo e em si, sendo, portanto, muito
complicado enxergar tudo de maneira universal.

"Se fosse adequado incomodá-lo com a história deste Ensaio, deveria dizer-lhe que cinco ou seis amigos
reunidos em meu quarto, e discorrendo acerca de assunto bem remoto do presente, ficaram perplexos, devido às
dificuldades que surgiram de todos os lados. Após termos por certo tempo nos confundido, sem nos aproximarmos
de nenhuma solução acerca das dúvidas que nos tinham deixado perplexos, surgiu em meus pensamentos que
seguimos o caminho errado, e, antes de nós nos iniciarmos em pesquisas desta natureza, seria necessário
examinar nossas próprias habilidades e averiguar quais objetos são e quais não são adequados para serem
tratados por nossos entendimentos."
(John Locke. Ensaio acerca do Entendimento Humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999)

45. A qual corrente filosófica pertenceu John Locke?


a) Empirismo. c) Estoicismo. e) Teoria crítica.
b) Metafísica. d) Existencialismo.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

46. (Ufsj 2012) Ao investigar as origens das ideias, diversos filósofos fizeram interferências importantes no
pensamento filosófico da humanidade. Dentre eles, destaca-se o pensamento de John Locke. Assinale a
alternativa que expressa as origens das ideias para John Locke.
a) “Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência […] mas embora todo o nosso
conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele pode ser atribuído a esta, mas à imaginação
e à ideia.”
b) “O que sou eu? Uma substância que pensa. O que é uma substância que pensa? É uma coisa que duvida,
que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que sente, uma ideia
em movimento.
c) “Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior,
calcado nas paixões.”
d) “Afirmo que essas duas, a saber, as coisas materiais externas, como objeto da sensação, e as operações de
nossas próprias mentes, como objeto da reflexão, são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as
ideias derivam.”

47. (UEL) Leia o texto a seguir: Certamente, temos aqui ao menos uma proposição bem inteligível, senão uma
verdade, quando afirmamos que, depois da conjunção constante de dois objetos, por exemplo, calor e chama,
peso e solidez, unicamente o costume nos determina a esperar um devido ao aparecimento do outro. Parece
que esta hipótese é a única que explica a dificuldade que temos de, em mil casos, tirar uma conclusão que
não somos capazes de tirar de um só caso, que não discrepa em nenhum aspecto dos outros. A razão não é
capaz de semelhante variação. As conclusões tiradas por ela, ao considerar um círculo, são as mesmas que
formaria examinando todos os círculos do universo. Mas ninguém, tendo visto somente um corpo se mover
depois de ter sido impulsionado por outro, poderia inferir que todos os demais corpos se moveriam depois de
receberem impulso igual. Portanto, todas as inferências tiradas da experiência são efeitos do costume e não
do raciocínio. (HUME, D. Investigação acerca do entendimento humano. tradução de Anoar Aiex. São Paulo:
Nova Cultural, 1999. pp. 61-62.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de David
Hume, é correto afirmar:
a) A razão, para Hume, é incapaz de demonstrar proposições matemáticas, como, por exemplo, uma proposição
da geometria acerca de um círculo.
b) Hume defende que todo tipo de conhecimento, matemático ou experimental, é obtido mediante o uso da
razão, e pode ser justificado com base nas operações do raciocínio.
c) É necessário examinar um grande número de círculos, de acordo com Hume, para se poder concluir, por
exemplo, que a área de um círculo qualquer é igual a ð multiplicado pelo quadrado do raio desse círculo.
d) Hume pode ser classificado como um filósofo cético, no sentido de que ele defende a impossibilidade de se
obter qualquer tipo de conhecimento com base na razão.
e) Segundo Hume, somente o costume, e não a razão, pode ser apontado como sendo o responsável pelas
conclusões acerca da relação de causa e efeito, às quais as pessoas chegam com base na experiência.

FRANCIS BACON E A TEORIA DOS ÍDOLOS


Francis Bacon foi um político, filósofo e ensaísta inglês. Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida
política, na qual exerceu posições elevadas. Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era
exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, se ocupou especialmente com a metodologia
científica e com o empirismo. É muitas vezes chamado de fundador da ciência moderna. Sua principal obra
filosófica é o NovumOrganum.

Estudar os erros para evitá-los


 É possível evitar os erros de raciocínio inventando um método para isso?
 O engano muitas vezes é decorrência da presença, no intelecto humano, de uma série de ídolos.
 Ídolos – crenças inconscientes, suposições, prejulgamentos e preconceitos que condicionam a aquisição do
novo saber.
 Uma tendência típica da mente humana é a de generalizar, formulando leis com poucos exemplos.
 Atribuir um peso excessivo às preferências pessoais.
 Usar termos confusos ou que não representam o objeto de estudo.
 Essas noções falsas obstruem o intelecto sem que o sujeito se dê conta.

Para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os meios de torná-lo eficaz seria
necessário ao investigador libertar-se daquilo que Bacon chama "Ídolos" que levam a noções falsas.

São 4 os Ídolos a serem combatidos


 1. Ídolos da Tribo.
 2. Ídolos da Caverna.
 3. Ídolos do Foro (ou do mercado).
 4. Ídolos do Teatro.

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1. ÍDOLOS DA TRIBO.
São vícios inerentes à própria natureza humana, tal como o hábito de acreditar cegamente nos sentidos.
Os sentidos levam à percepção do universo de modo mais simples do que ele é na verdade. Também o vício de
reduzir o complexo ao mais simples segundo uma visão que se restringe àquilo que é favorável, que
é conveniente.

2. ÍDOLOS DA CAVERNA.
São erros devidos à pessoa, não à natureza humana. Trata-se de diferenças individuais de habilidade e
capacidade. Alguns espíritos têm condições para assinalar as diferenças, outros, as semelhanças: outros
indivíduos se detêm em detalhes, outros olham mais o conjunto, a totalidade; ambos tendem ao erro, embora de
maneiras opostas. Resultam da própria educação e da pressão dos costumes.

3. ÍDOLOS DO FORO (OU DO MERCADO).


São erros implicados na ambiguidade das palavras; a linguagem é responsável. Uma mesma palavra tem
sentidos diferentes para os interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas. Nem
sempre as palavras representam realmente o objeto. Decorrem do mau uso que fazemos da linguagem.

4. ÍDOLOS DO TEATRO.
Tem suas causas nos sistemas filosóficos e em regras falseadas de demonstração. Os sistemas
filosóficos careciam de demonstração, eram pura contemplação do que ―poderia ser verdade. Esses sistemas
são puras invenções, como peças de teatro.

INDUÇÃO
Bacon afirma que devemos demolir os ídolos, para poder construir o conhecimento verdadeiro através da
Indução.
A Indução de Francis Bacon afirma que o cientista deve observar e descrever fatos empíricos, organizar e
transpor em uma linguagem matemática. A partir dai, salta-se das sensações particulares aos axiomas mais gerais
e descobre axiomas intermediários, dando-se pouca ênfase à elaboração de hipóteses.

Indução – processo cognitivo que, a partir do exame de um certo número de casos, chega à formulação
de uma lei geral, cujo alcance se estende para além dos casos considerados.
O termo axioma significa algo que é considerado ajustado ou adequado, ou que tem um significado
evidente.

ARRASE NO ENEM
1. (Ufsj 2012) Sobre os ídolos preconizados por Francis Bacon, é CORRETO afirmar que:
a) “A consequência imediata da ação dos ídolos é a inscrição do Homem num universo de massacre e
sofrimento racional-indutivo, onde o conhecimento científico se distancia da filosofia, se deteriora e se
amesquinha”.
b) “Toda idolatria é forjada no hábito e na subjetividade humanos”.
c) “Os ídolos invadem a mente humana e para derrogá-los, é necessário um esforço racional-dedutivo de
análise, como bem advertiu Aristóteles”.
d) “Os ídolos da caverna são os homens enquanto indivíduos, pois cada um [...] tem uma caverna ou uma cova
que intercepta e corrompe a luz da natureza”.

2. (Uel 2012) A figura do homem que triunfa sobre a natureza bruta (Fig. 5) é significativa para se pensar a
filosofia de Francis Bacon (1561-1626). Com base no pensamento de Bacon, considere as afirmativas
a seguir.
I. O homem deve agir como intérprete da natureza para melhor conhecê-la e dominá-la em seu benefício.
II. O acesso ao conhecimento sobre a natureza depende da experiência guiada por método indutivo.
III. O verdadeiro pesquisador da natureza é um homem que parte de proposições gerais para, na sequência e
à luz destas, clarificar as premissas menores.
IV. Os homens de experimentos processam as informações à luz de preceitos dados a priori pela razão.

Assinale a alternativa correta.


a) Somente as afirmativas I e II são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

3. (Uel 2011) Leia o texto a seguir.

Francis Bacon, em sua obra Nova Atlântida, imagina uma utopia tecnocrática na qual o sofrimento humano
poderia ser removido pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento do conhecimento científico, o qual permitiria
uma crescente dominação da natureza e um suposto afastamento do mito. Na obra Dialética do Esclarecimento,
Adorno e Horkheimer defendem que o projeto iluminista de afastamento do mito foi convertido, ele próprio, em
mito, caindo no dogmatismo e em numa forma de mitologia. O progresso técnico-científico consiste, para Adorno e
Horkeheimer, no avanço crescente da racionalidade instrumental, a qual é incapaz de frear iniciativas que
afrontam a moral, como foram, por exemplo, os campos de concentração nazistas.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o desenvolvimento técnico-científico, é correto afirmar:
a) Bacon pensava que o incremento da racionalidade instrumental aliviaria as causas do sofrimento humano,
apesar de a razão, a longo prazo, sucumbir novamente ao mito.
b) Adorno e Horkheimer concordavam que o progresso científico não consegue superar o mito, mas se torna um
tipo de concepção mítica incapaz de discriminar o que é certo do que é errado moralmente.
c) Adorno e Horkheimer sustentavam que o crescente avanço da racionalidade instrumental consistia num
incremento da capacidade humana de avaliar moralmente.
d) Bacon apontava que o aumento da capacidade de domínio do homem sobre a natureza conduziria os seres
humanos a uma forma de dogmatismo.
e) Tanto Adorno e Horkheimer quanto Bacon viam o progresso técnico e científico como a solução para os
sofrimentos humanos e para as incertezas morais humanas.

4. (Uel 2007) Segundo Francis Bacon, “são de quatro gêneros os ídolos que bloqueiam a mente humana. Para
melhor apresentá-los, lhes assinamos nomes, a saber: Ídolos da Tribo; Ídolos da Caverna; Ídolos do Foro e
Ídolos do Teatro”.
Fonte: BACON, F. NovumOrganum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 21.

Com base nos conhecimentos sobre Bacon, os Ídolos da Tribo são:


a) Os ídolos dos homens enquanto indivíduos.
b) Aqueles provenientes do intercurso e da associação recíproca dos indivíduos.
c) Aqueles que imigraram para o espírito dos homens por meio das diversas doutrinas filosóficas.
d) Aqueles que chegam ao espírito humano por meio de regras viciosas de demonstração.
e) Aqueles fundados na própria natureza humana.

5. (Uel 2005) “[...] Aristóteles estabelecia antes as conclusões, não consultava devidamente a experiência para
estabelecimento de suas resoluções e axiomas. E tendo, ao seu arbítrio, assim decidido, submetia a
experiência como a uma escrava para conformá-la às suas opiniões”.
(BACON, Francis. NovumOrganum. Trad. de José Aluysio Reis de Andrade. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1988. p. 33.)

Com base no texto, assinale a alternativa que apresenta corretamente a interpretação que Bacon fazia da
filosofia aristotélica.
a) A filosofia aristotélica estabeleceu a experiência como o fundamento da ciência.
b) Aristóteles consultava a experiência para estabelecer os resultados e axiomas da ciência.
c) Aristóteles afirmava que o conhecimento teórico deveria submeter-se, como um escravo, ao conhecimento
da experiência.
d) Aristóteles desenvolveu uma concepção de filosofia que tem como consequência a desvalorização
da experiência.
e) Aristóteles valorizava a experiência, por considerá-la um caminho seguro para superar a opinião e atingir o
conhecimento verdadeiro.

IMMANUEL KANT
Responde à questão de como é possível o conhecimento afirmando o papel constitutivo de mundo pelo
sujeito transcendental, isto é, o sujeito que possui as condições de possibilidade da experiência. O que equivale a
responder: "o conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível". Com isso, o
filósofo passa a investigar a razão e seus limites, ao invés de investigar como deve ser o mundo para que se
possa conhecê-lo, como a filosofia havia feito até então.

Mas quais são exatamente, segundo Kant, estas faculdades ou formas a priori no homem que o permitem
conhecer a realidade ou, em outros termos, o que são essas tais condições de possibilidade da experiência? Em
Kant, há duas principais fontes de conhecimento no sujeito:

A sensibilidade, por meio da qual os objetos são dados na intuição.

O entendimento, por meio do qual os objetos são pensados nos conceitos.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Kant define sensibilidade como o modo receptivo - passivo - pelo qual somos afetados pelos objetos, e
intuição, a maneira direta de nos referirmos aos objetos. Funciona assim: tenho uma multiplicidade de sensações
dos objetos do mundo, como cor, cheiro, calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de
matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência. Mas para que todas estas impressões tenham algum
sentido e entrem no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em primeiro lugar,
serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o espaço e o tempo.

Estas formas puras da intuição surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se
possa pensar a palavra "cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do espaço e do
tempo. Este é o primeiro passo para que se possa conhecer algo.

Assim, apreendemos daqui duas coisas: primeiro, o conhecimento só é possível se os objetos da


experiência forem dados no espaço e no tempo; e, segundo, espaço e tempo são propriedades subjetivas, isto é,
atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si). Espaço é a forma do sentido externo; e tempo, do sentido
interno. Isto é, os objetos externos se apresentam em uma forma espacial; e os internos, em uma forma temporal.

Como Kant prova isso? Pense em uma cadeira em um espaço qualquer, por exemplo, em uma sala de
aula vazia. Agora, mentalmente, retire esta cadeira da sala de aula. O que sobra? O espaço vazio. Agora tente
fazer o contrário, retirar o espaço vazio e deixar só a cadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique flutuando em
uma dimensão extraterrena.

E o tempo? Ele é minha percepção interna. Só posso conceber a existência de um "eu" estando em
relação a um passado e a um futuro. Só concebemos as coisas no tempo, em um antes, um agora e um depois.
Voltemos ao exercício mental anterior: podemos eliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não existe mais.
Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso em uma duração, antes ou depois.

A conclusão é de que é impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los em uma forma espacial -
e de que nossa percepção interna destes mesmos objetos fica impossível sem uma forma temporal. Além disso,
espaço e tempo preexistem como faculdades do sujeito - e, portanto, são a priori e universais - quando
eliminamos os objetos da experiência. Por isso, segundo Kant, espaço e tempo são atributos do sujeito e
condições de possibilidade de qualquer experiência.

Chegamos, portanto, a uma síntese que Kant faz entre racionalismo e empirismo. Sem o conteúdo da
experiência, dados na intuição, os pensamentos são vazios de mundo (racionalismo); por outro lado, sem os
conceitos, eles não têm nenhum sentido para nós (empirismo). Ou, nas palavras de Kant: "Sem sensibilidade
nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são
vazios, intuições sem conceitos são cegas."

Considerações finais É um lugar-comum dizer que Kant é um divisor de águas na filosofia, mas é
verdade. O sistema kantiano foi contestado pelos filósofos posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das
principais correntes da filosofia moderna, da fenomenologia e existencialismo à filosofia analítica e pragmatismo.
Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa pela história do pensamento moderno.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

ARRASE NO ENEM
48. (2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade
é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio
culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão
e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio
entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão
grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha,
continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é
esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento,
fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido
empregado por Kant, representa:
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, como caráter objetivo, de forma heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão

49. (2012) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas
para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento malogravam-se com esse
pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica,
admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura.
Lisboa: Calouste-Guibenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido
como revolução copernicana da filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que
a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento.
b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo.
c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica.
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos.
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

50. Kant, embora alemão, tendo vivido no século XVIII foi um grande entusiasta da Revolução Francesa. Ele
procurou não só unir, mas, sobretudo ultrapassar, no sentido de responder aos anseios deixados pelos limites
das correntes que propunham o estudo do pensamento humano, o Racionalismo de Descartes e Leibniz e o
Empirismo de John Locke. Kant procurou uma saída tanto para o Racionalismo extremado que afirmava que o
conhecimento sobre as coisas seria puramente de ordem racional, como para o Empirismo, onde afirmava
que as experiências são o caminho para o conhecimento. Nesta saída Kant propunha:
a) Tanto o Racionalismo como o Empirismo estavam equivocados e era preciso criar uma nova forma de
entender como se constrói o conhecimento, esta nova forma seria o da Razão Pura Prática.
b) Tanto o Racionalismo como o Empirismo tinham sua parcela de verdade, o primeiro no que dizia que o
conhecimento é racional, e o segundo, no que dizia que o conhecimento é experiencial, porém para Kant
haveria estruturas prévias no sujeito, estruturas cognitivas a priori, que só se completavam com a experiência,
a posteriori.
c) Kant propunha o Idealismo Transcendental, que consiste na negação da realidade física a favor da realidade
do pensamento puro prático, aproximando assim as duas correntes citadas.
d) Kant na verdade não conseguiu afirmar uma outra saída para o impasse entre Racionalismo e Empirismo.
e) Kant encontra a resposta para o impasse na afirmação do Imperativo Categórico, que tinha a Boa Vontade
como primeiro princípio de toda ação, portanto, tanto Descartes quanto Locke estavam corretos.

51. Segundo Kant, em seu texto “Resposta à Pergunta: O que é o Esclarecimento?”, diz que a saída do homem
de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado significa:
a) A capacidade de guiar-se por si mesmo após completar 18 anos.
b) O Esclarecimento
c) A Iluminação
d) O pleno desenvolvimento da Razão.

52. (UFF-2010) Immanuel Kant, além da Filosofia, dedicou-se também às questões científicas, tendo sido pioneiro
na afirmação de que as “nebulosas” não são apenas gases, mas conglomerados de estrelas. Sua tese de
1755 sobre a formação do Sistema Solar antecipou ideias semelhantes às do francês Laplace. A chamada
“hipótese de Kant-Laplace” explica o surgimento do Sol e dos planetas a partir de uma “nebulosa primitiva”,
em movimento de rotação constante e cujos gases aos poucos se acumulam no centro, adensando-se e
gerando o Sol, enquanto ao redor desse criam-se núcleos de matéria concentrada, dando nascimento aos
planetas. Embora essa concepção já tenha sido superada, ela foi importante para o desenvolvimento das
teorias cosmogônicas contemporâneas, inclusive a mais famosa, a do bigbang. 3) Marque a opção que melhor
exprime a relevância das teorias cosmogônicas de Kant e de Laplace.
a) É possível conceber a origem e a evolução do Universo por meio da razão e dos conhecimentos científicos.
b) A busca do conhecimento é uma tarefa inglória, pois há sempre uma teoria nova se sobrepondo à atual.
c) Como o ser humano não estava presente na origem do mundo, ele não pode ter qualquer conhecimento do
que então aconteceu.
d) O conhecimento sobre a origem do Universo e as causas dos fenômenos naturais de nada serve para o ser
humano e é pura vaidade.
e) Só podemos conhecer aquilo que experimentamos diretamente.

AULA 9

ASPECTOS DA FILOSOFIA
CONTEMPORÂNEA

As Filosofias do século XX trouxeram uma série de desenvolvimentos teóricos contrários em relação ao que
se refere à validade do conhecimento através de conceitos e abstrações absolutas. As certezas decorrentes do
pensamento clássico foram derrubadas, embora permaneçam como problemas sociais, econômicos e científicos,
juntamente com formas novas de conflito e reivindicações concernentes à organização geopolítica e do sistema-
mundo contemporâneo. O que é a lógica e o que é a ética? São perguntas que surgem após o século XX. As
formas e caminhos para estes empreendimentos são diversos e distintos. Contudo, suponhamos que seja
essencial uma unidade de sentido, diríamos que essas filosofias contestam princípios da ciência moderna
(aproximadamente do séc. XVI ao séc. XX), novos estudos na filosofia da ciência, filosofia da matemática e a
Epistemologia acrescentaram aparentemente tendências antagônicas na contabilidade da consciência e seus
objetos. Os avanços na relatividade, na quântica, na física nuclear e, nas ciências generativas, como a ciência
cognitiva, cibernética, genética e na rica produção literária, artística, como no Cinema e na Música, foram uma
forma enriquecedora de propagar pensamentos filosóficos.

31
2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

PRAGMATISMO

O pragmatismo é, antes de tudo, um método, do qual decorre uma teoria da verdade. Apesar de constituir um
movimento aberto e antidogmático, e ainda que seus teóricos não tenham elaborado um sistema completo, há
traços gerais comuns entre seus defensores. Para os pragmáticos, o conhecimento é concebido como
essencialmente modificador da realidade, portanto, a construção da verdade deve corresponder àconstrução da
própria realidade. Conhecimento e ação se convertem em termosequivalentes. O eixo central da teoria pragmática
é a ênfase na utilidade “prática” da filosofia. O pragmatismo foi entendido como uma perspectiva em torno do
conceito de verdade que, em seu processo de expansão, atingiu os setores representados pela ética e a religião.
A teoria pragmática da verdade sustenta que o critério de verdade está nos efeitos e consequências de uma ideia,
em sua eficácia, em seu êxito, no que depende, portanto, da concretização dos resultados que espera obter.

PRAGMATISMO

“a atitude de desaviar o olhar das primeiras coisas, princípios, categorias,


necessidades supostas; e focalizar a visão nas últimas coisas,
frutos, consequências, fatos”.

O pragmatismo se apresenta a um só tempo como um método científico e como uma


teria acerca na verdade. Esta é concebida em sentindo dinâmico. A verdade não diz
respeito aos objetos, mas antes às ideias, ou às formas de relação concretas que os
homens têm com os objetos.
Pragma tem a ver com prática, com experiência, e por isso fala-se em pragmatismo.
É a filosofia que leva em conta a experiência, em todos os sentidos. É olhado para experiência que vemos que a
vantagem tem sido uma conselheira da humanidade. Assim se toma experiência – a nossa e a de outros – para
adotar como um guia de nossas decisões.

UTILITARISMO

32
2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Em teoria moral, o utilitarismo determina que o número de benefícios ou malefícios, que é originado em cada
ação, determina diretamente o prazer e a dor para o maior número de indivíduos, como o prazer é identificado ao
bem e a dor é identificada ao mal, o utilitarismo sustenta que o fazer bem produz a felicidade e que o fazer mal
produz a infelicidade para o maior número de indivíduos. Embora não seja um princípio do Direito, o princípio da
utilidade vai ser usado para justificar a punição de uma ação sempre que ela determina o equilíbrio entre a
felicidade e a infelicidade, quando a punição é comparada a esta ação.

O QUE É O UTILITARISMO?
 Utilitarismo, como a filosofia, foi proposto durante os séculos XVIII e XIX, na Inglaterra.
 Propõe que toda ação humana é útil (eficaz e valiosa) na prestação de felicidade. É uma concepção de
moralidade, segundo a qual O BOM NÃO É NADA, MAS O ÚTIL.
 É a teoria que faz o produto definido como sendo a critério exclusivo da felicidade. O único padrão de
moralidade ou de valor supremo é a utilidade. O utilitarismo acabou sendo usado por um grupo de
pensadores britânicos em favor da supremacia do prazer, identificado o bom como o útil.
 Estes filósofos argumentaram que porque a dor é má e felicidade é boa, o essencial em toda ação humana é
incentivar a busca do prazer e cessar ou diminuir a dor e a miséria.
 Os esforços para a felicidade estão corretos, e os que visam a dor e o sofrimento estão incorretos.
 Suas raízes são encontradas no empirismo Inglês.

NIETZSCHE
É certo que Friedrich Nietzsche (1844-1900) tinha consciência do seu destino:
“Eu conheço a minha sorte”, disse ele. “Meu nome estará preso à lembrança de uma crise como jamais
houve na Terra... Eu não sou um homem, sou dinamite... eu contradigo como jamais se havia contradito.”

Hoje, mais de um século depois da sua morte, pode-se considerar cumprida a profecia. Quer seja
considerado o filósofo do nazismo, ou, ao contrário, o profeta da crise secular do Ocidente, Nietzsche
continua sendo o pensador mais influente do século XIX para o XX, muito além das fronteiras da filosofia.
Com apenas 24 anos de idade, depois de se diplomar em filologia clássica em Bonn, obteve a cátedra na
Universidade da Basiléia, onde fez amizade com Richard Wagner e leu o Mundo como vontade e representação,
de Schopenhauer. A brilhante carreira acadêmica foi interrompida apenas dez anos depois, em 1879. A decisão
de abandonar o ensino, devido a problemas de saúde, foi acompanhada por um longo período de irrequietas
viagens entre a Suíça, França e Itália. São desse período – após o seu rompimento com Wagner e a superação
do pessimismo schopenhaueriano – as suas obras mais significativas. Em Turim, em 3 de janeiro de 1889, foi
acometido por uma crise de loucura (causada pelo agravamento de uma infecção venérea contraída na juventude)
da qual nunca conseguiu recuperar-se, vivendo a última década da sua vida sob os cuidados da mãe e depois
da irmã.
Segundo Nietzsche a existência humana é trágica, a ponto de demonstrar ser esta a beleza dos gregos
antes de Sócrates, sobretudo os grandes tragediógrafos. Contudo, ainda que a vida seja trágica, ela deve ser
vivida com um “sim”, com ação, e não resignação e derrota. Sentia-se Nietzsche um profeta de uma nova era,
aquele que anunciaria a transformação dos valores e a necessidade urgente do super-homem. Suas críticas
ferozes atingirão o positivismo, o cristianismo, o romantismo e vários outros pensadores que ajudaram a construir
uma moral do ressentimento, da submissão e de negação à vida.
Em Além do Bem e do Mal e A Genealogia da Moral, Nietzsche investiga a origem da moral ocidental,
revelando os traços que exaltam uma moral do ressentimento e da compaixão, uma moral de vencidos e que, por
isso, precisam ir contra os vencedores.

Nessa análise, Nietzsche diferencia uma “moral de senhores” de uma “moral de escravos”:

“Enquanto toda a moral aristocrática nasce de uma triunfante afirmação de si mesma, a moral dos escravos
opõe um ‘não’ a tudo o que não é seu, a um de outro modo, a um não ele mesmo; esse ‘não’ é seu ato criador.
Essa mudança total do ponto de vista dos valores – essa orientação necessária para o exterior em lugar do
retorno a si mesmo – evidencia precisamente ressentimento: a moral dos escravos necessitou sempre, em
primeiro lugar, para emergir de um mundo oposto e exterior, em termos fisiológicos, de estimulantes externos para
simplesmente agir – sua ação é fundamentalmente reação.”
(NIETZSCHE, Friedrich. A Genealogia da Moral. Tradução de: BRAGA, Antonio Carlos. São Paulo: Escala, 1998)

Enquanto os senhores exaltam o individualismo, a coragem e a generosidade, os escravos pregam a


submissão e o ressentimento. Assim, por exemplo, celebram a figura do asceta, que ao fugir do mundo e renegar
toda a condição material, parece ser livre de si e dos outros, quando na verdade utiliza dessa conduta
negadorajustamente para agredir e dominar os outros. Grande parte da fundamentação dessa moral de escravos
está no cristianismo, que honra valores como a compaixão e a submissão ao outro, e ainda defende a existência
de um mundo sobrenatural superior à Terra, o que reforça ainda mais a atitude de rejeição aos valores terrenos,

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

os únicos verdadeiros. Nietzsche quer trazer a moral de volta a Terra, uma moral ligada à saúde, vitória e
coragem.
A moral ocidental, em sua raiz, no fim das contas, é instrumento para transformar os indivíduos em
submissos à autoridade. Uma investigação profunda revelará que os valores não se justificam por si só, nem
mesmo aquelas “verdades imutáveis” proferidas por séculos, como a existência de uma ordem e finalidade no
mundo, por exemplo. Diante de tantas mentiras, o homem cai em um enorme vazio, pois ao perder tais conceitos,
valores e inclusive Deus, só resta o nada, o abismo: niilismo. E nesse nada o homem encontra-se só, mas
também entende que não existem finalidade nem sentido na existência e no mundo; há apenas uma vontade que
movimenta a história e todas as coisas. E é preciso aprender a amar essa condição, porque é a única real, é
preciso amar o mundo em sua ausência de sentido. Isso significa dizer “sim” à vida, aceitá-la em sua verdade.

Asceta é aquele que nega todos os desejos, toda a condição natural visando uma meta espiritual.

Contudo, isso não significa que não exista um sentido na existência humana. Esse sentido existe e seria o
do homem terreno se tornar um super-homem, ou o além-do-homem. Com a morte do cristianismo e de Deus,
caem todos os valores pretensamente sobrenaturais, restando apenas a Terra.
O super-homem precisa ser um novo homem, um “além do homem”, substituindo a moral do ressentimento
do “tu deves” pelo “eu quero”, isto é, valores que reforcem a condição autônoma e responsável do homem. O
super-homem é livre, age por coragem e não por submissão a outro. O super-homem precisa ser corajoso o
suficiente para não mais se esconder e ser capaz de criar seus próprios valores e praticá-los. Trata-se de uma
atitude de renúncia à servidão, à fraqueza e às mentiras. O homem é um ser terreno, e precisa aprender a cultivar
valores terrenos. Além de tudo, o homem é inteligente e capaz de grandes feitos, não podendo mais ser limitado a
obedecer servilmente os desejos de outros. A autonomia existencial é condição indispensável para o
super-homem.

ARRASE NO ENEM
1. (Ufsj 2013) “A Filosofia a golpes de martelo” é o subtítulo que Nietzsche dá à sua obra Crepúsculo dos
ídolos. Tais golpes são dirigidos, em particular, ao(s)
a) conceitos filosóficos e valores morais, pois eles são os instrumentos eficientes para a compreensão e o
norteamento da humanidade.
b) existencialismo, ao anticristo, ao realismo ante a sexualidade, ao materialismo, à abordagem psicológica de
artistas e pensadores, bem como ao antigermanismo.
c) compositores do século XIX, como, por exemplo, Wolfgang Amadeus Mozart, compositor de uma ópera de
nome “Crepúsculo dos deuses”, parodiada no título.
d) conceitos de razão e moralidade preponderantes nas doutrinas filosóficas dos vários pensadores que o
antecederam e seus compatriotas e/ou contemporâneos Kant, Hegel e Schopenhauer.
e) ao socialismo da URSS, que reutiliza o martelo como símbolo central da classe operária.

2. (Unimontes 2012) O pensamento de Nietzsche (1844 – 1900) orienta-se no sentido de recuperar as forças
inconscientes, vitais, instintivas, subjugadas pela razão durante séculos. Para tanto, critica Sócrates por ter
encaminhado, pela primeira vez, a reflexão moral em direção ao controle racional das paixões. Nietzsche faz
uma crítica à tradição moral desenvolvida pelo ocidente. Marque a alternativa que indica as obras que melhor
representam a crítica nietzscheana.
a) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos.
b) Para além do bem e do mal, Genealogia da moral, República.
c) Leviatã, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos.
d) Microfísica do poder, Genealogia da moral, Crepúsculo dos ídolos.
e) Memórias Póstumas de Brás Cubas e A moreninha.
3. (Ufsj 2012) Nietzsche identificou os deuses gregos Apolo e Dionísio, respectivamente, como
a) complexidade e ingenuidade: extremos de um mesmo segmento moral, no qual se inserem as
paixões humanas.
b) movimento e niilismo: polos de tensão na existência humana.
c) alteridade e virtu: expressões dinâmicas de intervenção e subversão de toda moral humana.
d) razão e desordem: dimensões complementares da realidade.
e) Amor e Paixão: sentimentos intensos da vida humana.
4. (Ufsj 2012) Assinale a alternativa que expressa o pensamento de Nietzsche sobre a origem do bem.
a) “Faça isto e mais isto, não faça aquilo e mais aquilo – e então serás feliz, contrário…” Dessas ações
procedem o bem em si.
b) “Todo o bem procede do instinto e é, por conseguinte, leve, necessário, espontâneo”.
c) “O vício e o luxo são a causa do perecimento de povos e raças”. Libertar-se de tais desequilíbrios, eis aí a
fórmula do bem original.
d) “O cornarismo resume toda a origem do bem e é prerrogativa cultural da raça humana”.
e) “Deus é o criador do bem”.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

5. (Ufsj 2013) Leia atentamente os fragmentos abaixo.


I. “Também tem sido frequentemente ensinado que a fé e a santidade não podem ser atingidas pelo estudo
e pela razão, mas sim por inspiração sobrenatural, ou infusão, o que, uma vez aceita, não vejo por que
razão alguém deveria justificar a sua fé...”.
II. “O homem não é a consequência duma intenção própria duma vontade, dum fim; com ele não se fazem
ensaios para obter-se um ideal de humanidade; um ideal de felicidade ou um ideal de moralidade; é
absurdo desviar seu ser para um fim qualquer”.
III. “(...) podemos estabelecer como máxima indubitável que nenhuma ação pode ser virtuosa ou moralmente
boa, a menos que haja na natureza humana algum motivo que a produza, distinto do senso de
sua moralidade”.
IV. “A má-fé é evidentemente uma mentira, porque dissimula a total liberdade do compromisso. No mesmo
plano, direi que há também má-fé, escolho declarar que certos valores existem antes de mim (...).”

Os quatro fragmentos de texto acima são, respectivamente, atribuídos aos seguintes pensadores
a) Nietzsche, Sartre, Hobbes, Hume. c) Hume, Nietzsche, Sartre, Hobbes.
b) Hobbes, Nietzsche, Hume, Sartre. d) Sartre, Hume, Hobbes, Nietzsche.

6. Opensamento de Nietzsche pode-se encontrar grande quantidade de considerações a respeito dos valores.
Assinale a alternativa que não está de acordo com a filosofia de Nietzsche sobre os valores.
a) A perda da fé em Deus conduz à desvalorização de todos os valores.
b) É preciso reconhecer que, pelos seus próprios critérios, nossa moral é imoral.
c) Deve-se criar novos valores por meio da vontade de potência.
d) A moral deve expressar as condições de vida e de desenvolvimento de um povo.
e) Não existe papel para a razão na compreensão dos valores.

7. As alternativas a seguir apresentam e descrevem conceitos encontrados na filosofia de Nietzsche, exceto:


a) A vontade de potência: motivo básico da ação do homem, a vontade de viver e dominar.
b) O super-homem: indivíduo que é capaz de superar-se e possui um valor em si.
c) O eterno retorno: recorrência permanente dos mesmos eventos.
d) O ideal dionisíaco: conciliação do saber apolíneo e do saber dionisíaco.
e) e. ( ) A moral dos escravos: ressentimento dos que não podem realmente agir e são compensados com uma
vingança imaginária.

8. Para lidar com o tratamento dos valores no pensamento de Nietzsche, o conceito da "morte de Deus" é essencial.
Assinale a alternativa que reflete esse conceito.
a) A morte de Deus desvaloriza o mundo.
b) A morte de Deus gera necessariamente o super-homem.
c) A morte de Deus implica a perda das sanções sobrenaturais dos valores.
d) A morte de Deus exige o retorno a Apolo e a Dionísio.
e) A morte de Deus impossibilita a superação dos valores hoje aceitos.

GABARITOS
1.D 2. A 3. D 4. B 5. B 6. E 7.B 8.C

ARTHUR SCHOPENHAUER
1788 – 1860
Com sua personalidade forte e palavras amargas sobre o filósofo Hegel, ganhou antipatia no mundo
acadêmico. Schopenhauer chegou a dizer que Hegel era um “charlatão de mente obtusa, banal, nauseabundo,
iletrado (...)”. Outro motivo que provavelmente foi crucial para seu insucesso foi a audácia de abrir sua filosofia aos
pensamentos orientais. Schopenhauer foi o primeiro pensador ocidental a fazer isto, agregou ensinamentos do
Budismo e do Hinduísmo em seus estudos.
Para Schopenhauer, o mundo é uma representação individual. Em suas próprias palavras: “O mundo é a
minha representação: eis uma verdade que vale para cada ser vivente e cognoscitivo*, mesmo se somente o
homem é capaz de acolhe-la na sua consciência reflexa e abstrata; e quando ele verdadeiramente o faz, a
meditação filosófica nele penetrou”.
Schopenhauer falava da relação entre sonhos e realidade. Para ele, seria impossível distinguir as duas
condições. A vida seria um sonho muito longo, interrompido durante a noite por outros sonhos curtos. “Nós temos
sonhos; não é talvez toda a vida um sonho? Mais precisamente: existe um critério seguro para distinguir sonho e
realidade, fantasmas e objetos reais?”, afirma Schopenhauer.
O filósofo ainda discutia o porquê de todo ser humano ter a vontade de continuar vivendo. Qual seria o
princípio a impelir os homens à continuação da vida e da espécie? Chegou a conclusão de que nosso corpo é o
único objeto que conseguimos conhecer no universo, pois não o reconhecemos de fora, mas sim de dentro.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Assim, diz que o Eu é a própria vontade de viver. Segundo ele, nosso instinto de sobrevivência é cego, mesmo
sabendo que o que nos aguarda é a morte certa, nós continuamos a buscar a sobrevivência.
Em suas palavras: “São dessa natureza os esforços e os desejos humanos que nos fazem vibrar diante da
sua realização como se fossem o fim último da nossa vontade; mas depois de satisfeitos mudam de fisionomia”.

A VONTADE
Schopenhauer é pessimista em sua visão do mundo, o homem é um ser movido por aspirações e paixões, a
Vontade é a última e mais fundamental força da natureza, princípio norteador da vida humana. É o impulso cego
que leva todo ser a desejar a preservação da espécie humana. É compreendida como a causa de todo sofrimento
e angústia, uma vez que lança os seres em uma cadeia perpétua de aspirações sem fim.
Nos absurdos da existência humana, o mal, a dor, o ódio, a crueldade, atribui a sua causa ao domínio de uma
vontade cega e cruel. Não é a ideia, a razão, ou pensamento, isto é pura aparência ou mera representação. Mas
à vontade, sendo um mal inseparável à existência do homem. O homem é a objetivação da vontade, a
individualidade é pura ilusão. Na natureza animal, a vontade se serve do instinto, no homem a razão está a
serviço da irracionalidade da vontade universal.
Numa avenida ou cidade repleta de multidões de pessoas caminhando, numa universidade pessoas
estudando ou numa empresa pessoas trabalhando. O que leva estas pessoas a estarem ali, a ter este
comportamento ou atitude em relação à vida. É à vontade, a vontade de vencer na vida, vontade de dar
continuidade à natureza humana, vontade como motor impulsor da existência humana no mundo.
A vontade universal serve de tudo isto para conseguir seus fins relativos à conservação da espécie humana.
O amor a si mesmo, e tudo que parece bom, belo, agradável e amável ao homem é ilusão e engano. Jamais
alcançaremos à felicidade, viver é sofrer. A suprema felicidade somente pode ser conseguida pela anulação da
vontade. O caminho para eliminação da dor, infelicidade e sofrimento encontra-se na contemplação da arte e da
moral, que conduz o homem ao domínio e libertação da própria vontade. Como egoísmo, individualidade e
desamor ao próximo. Schopenhauer (Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte).

AULA 10

HEIDEGGER

O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) foi quem retomou a discussão sobre a ontologia, fazendo
sua ligação com a ideia do tempo.
Heidegger foi aluno de Edmund Husserl e depois viria a influenciar grandes nomes como Jean-Paul Sartre e
Hannah Arendt. Heidegger iniciou sua carreira com estudos teológicos, porém, a percepção cada vez maior de
que sempre quando buscava algo transcendental encontrava apenas “coisas”, levou-o a se dedicar ao estudo da
existência concreta. Por isso sua ontologia é renovadora da história da filosofia, é a ontologia no mundo.

Ontologia é área da filosofia que estuda o “ser”, o ente. É a parte primeira da filosofia que fundamenta
todas as outras. Possui relação com a metafísica, mas não são sinônimas. A metafísica diz respeito a toda a
realidade além do físico em geral, e por isso engloba também a teologia, por exemplo.

Heidegger apresentou uma nova definição de metafísica, a qual apresentava uma desconstrução da
metafísica antiga, visto que esta era, geralmente, ligada a um Deus ou a um mundo transcendental.
Procurava Heidegger uma metafísica no mundo e para falar de metafísica é necessário enfrentar a questão
do ser. Mas, o que afinal de contas é o ser? Essa é a pergunta principal da filosofia de Heidegger. Para o filósofo
alemão, grandes pensadores se preocuparam em falar de metafísica, mas se “esqueceram” do ser. Para
Heidegger, antes de entendermos o que é o ser precisamos diferenciá-lo do ente. Essa distinção aparece na obra
Ser e Tempo (1927), onde ele apresenta o ente como aquele que se propõe a perguntar sobre o sentido do ser.

Ente pode ser aplicado a tudo aquilo que existe. Um homem é um ente, um animal é um ente etc. Até para
coisas abstratas pode-se aplicar o termo, como para as virtudes ou sentimentos. O ente é o “ser” determinado.
Determinado porque ele assume uma de suas possíveis características.

Então, pode-se entender que o ser é a fonte de todas as coisas, ou seja, é o ser que gera tudo, o homem, a
árvore, a pedra, o céu etc. O ente refere-se ao ser concreto, em especial à sua realidade empírica, aqui e agora.
Em outras palavras, o ser é metafísico, enquanto que o ente está na existência. A expressão que Heidegger utiliza
para isto é dasein(ser-aí).
É dasein (ser-aí) porque “aí” indica espaço. Se algo está no espaço, está em um dado momento, logo, no
tempo. Por isso o ente é o ser aqui e agora, o ser no mundo.
Com isso, Heidegger substitui as antigas metafísicas por uma análise do ser que considerava a
temporalidade, a qual era denominada ontologia fundamental. Isso porque a existência sempre implica tempo, ou
seja, algo existe porque existe em um tempo, hoje, amanhã etc.
A analítica existencial tem como objeto o fundamento temporal, ela destaca-se por permitir que o homem
encontre o sentido do ser em si mesmo, e não em qualquer transcendência superior. O dasein é entendido como o
ser designado especificamente no momento e no espaço atual. Denis Huisman, um estudioso da história do

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

existencialismo, apresenta o dasein como “o lugar dimensional, o espaço do desenvolvimento próprio, o campo de
manifestação do ser”.
Heidegger entende como característica fundamental do homem aquilo que ele chama de ser no mundo,
segundo o qual o homem está no mundo, visto que a existência é poder ser. Para o estudioso Giovanni Reale,
estar no mundo significa “originariamente fazer o mundo o projeto das ações e dos possíveis comportamentos do
homem”. Há um sentido para o homem estar no mundo. Qual o sentido? Qual o sentido do ser? Ou ainda: qual o
sentido da existência humana?
Para Heidegger, o sentido da existência é aquilo que preenche a pessoa, a torna mais autêntica e realizada
e não pode ser caracterizado como algum momento ou situação. Heidegger afirma que a pessoa não nasce com
um sentido na existência, pois o sentido deve ser construído ao logo da vida.
Por muitas vezes, colocamos todo o nosso sentido da existência em algo que nos limita, acreditando que,
por exemplo, somente a família, um relacionamento ou um tipo de trabalho nos dará a realização existencial.
Conferir toda a expectativa de realização em uma só coisa é fixar o ser, limitá-lo. Para Heidegger, o sentido nunca
pode ser fixado em coisas, pessoas ou ideias.
Com o existencialismo vimos os dilemas que abordam a existência do ser, impelindo o homem a pensar
sobre si mesmo, a observar as possibilidades que lhe são apresentadas e a escolher entre elas. Desse modo,
entende-se que a vivência não é pautada em explicações e sim na sua própria existência, naquilo que ela é, isto é,
a existência é ser livre, é ter opções de escolha e, a partir delas, ir se construindo como pessoa.

ARRASE NO ENEM
1. No exame que faz nos primeiros parágrafos de "Ser e Tempo", Heidegger estabelece as bases da ontologia
fundamental.
Nessa investigação, o autor mostra que:
a) os modos tradicionais de se perguntar pelo ser revelam que a questão ontológica é clara e está bem
colocada.
b) perguntar-se pelo ser é determinar as condições de possibilidade das próprias ontologias que derivam das
ciências ônticas.
c) o primado objetivo-científico da questão do ser implica definir os conceitos fundamentais relativos aos objetos
das ciências ônticas.
d) na analítica existencial do ser-aí, deve-se procurar a ontologia fundamental de onde todas as demais podem
se originar.

2. É correto afirmamos que em seus primeiros anos Heidegger não teve influência do cristianismo em
sua formação?
a) Sim, existiu esta influência, sobretudo no ambiente no qual se encontrava.
b) Heidegger professou o ateísmo desde criança.
c) Não temos informações sobre a infância de Heidegger.

3. Para Heidegger o ser é existência?


a) Não, pois tais conceitos não se relacionam no pensamento de Heidegger.
b) Sim. Para o filósofo o ser é existência. c) Para Heidegger, o ser é a inexistência.

4. Quando Heidegger coloca o ser como existência ele rompe com a Metafísica clássica?
a) Sim. b) Não, ele apenas a confirma e a aceita.
c) Não há maneira de responder a esta pergunta.

5. Na sua abordagem da fenomenologia, diferentemente dos demais pensadores, Heidegger busca o


entendimento do conceito de ser, que para ele era um termo filosoficamente vazio na reflexão filosófica
contemporânea.
Qual das proposições abaixo não pode ser associada ao tratamento do ser em Heidegger?
a) O Ser-aí possui consciência de sua realidade.
b) Na noção do Ser-aí, não há relação entre a essência e a existência.
c) Ser-no-mundo envolve relações de ser com os outros, os quais também são seres-no-mundo.
d) Para o entendimento do significado de ser, não bastaria retornar à linguagem aristotélica, é preciso buscar a
dos pré-socráticos.
e) O significado do ser necessita da compreensão de um ente que Heidegger designa como Ser-aí.

GABARITOS
1. D 2. A 3. B 4. A 5. B

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

SARTRE
O francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filósofo que consolidou o existencialismo como corrente
filosófica. Não foi apenas um intelectual, foi também um ativista, tendo participado ativamente da vida política,
apoiando as causas esquerdistas da época.
Heidegger buscou encontrar um sentido para a existência humana. Porém, é com Sartre que o
existencialismo encontra a sua forma definitiva, pois para o filósofo francês a expressão existencialismo é
justamente o centro de sua filosofia.
O filósofo Sartre segue a tendência iniciada por Heidegger, buscando dar um sentido para a existência que,
em sua obra A Náusea, se revela como absurda e gratuita. Nesta novela, o personagem principal, Roquentin, tem
um momento de iluminação: o entendimento de que o mundo por si só é sem sentido, e que todas as coisas
simplesmente estão ali, apenas por estar, sem motivo algum. Essa iluminação chegou quando o personagem
estava em um jardim público e, ao observar as árvores, a grama, os bancos, e a si mesmo, deu-se conta que ele
era apenas mais uma coisa ali, nada explicava que ele deveria estar ali. Tanto ele como as árvores, bancos e
todas as outras coisas que ali se encontravam eram somente mais algumas coisas no mundo e nada além disso.
A contingência foi que colocou as coisas ali, e não a necessidade. Elas estão ali, mas poderiam estar em
qualquer outro lugar. O contingencial é o essencial.

Contingência é aquilo que é possível, que pode ser ou não ser. Uma pessoa pode nascer ou não, uma
guerra pode começar ou não.
Toda expectativa de realização em uma só coisa é fixar o ser, limitá-lo. Para Heidegger, o sentido nunca
pode ser fixado em coisas, pessoas ou ideias.
Com o existencialismo, vimos os dilemas que abordam a existência do ser, impelindo o homem a pensar
sobre si mesmo, a observar as possibilidades que lhe são apresentadas e a escolher entre elas. Desse modo
entende-se que a vivência não é pautada em explicações e sim na sua própria existência, naquilo que ela é, isto é,
a existência é ser livre, é ter opções de escolha e, a partir delas, ir se construindo como pessoa.

Não existe um ser necessário que justifique e explique a existência, dando-lhe um sentido. E, neste mundo
sem sentido, o homem é mais uma coisa a existir. O desconforto que Roquentin sentiu ao perceber isso é a
sensação da náusea, o desconforto de descobrir que a existência é absurda e que não possui qualquer sentido.
No ser humano a existência precede a essência, diferentemente dos objetos, os quais são utilizados devido
àquilo que eles são e para o que servem. Utilizamos a tesoura porque ela é uma tesoura e serve para algo. Ou
seja, a essência dela precede a existência. Já no homem não há uma natureza inata, o ser do homem, ou seja,
sua essência se faz no próprio existir.
Avança Sartre em sua análise sobre a contingência e a existência na obra O Ser e o Nada, momento em
que apresenta o homem como a consciência que está no mundo, mas que não é igual a este mundo. O ser
humano está no mundo, tem consciência de que as árvores, as pedras, os animais e tantas outras pessoas
também estão no mundo, mas todas essas coisas são outras coisas, não estão na consciência humana. Contudo,
algo é diferente entre o mundo e a consciência. O mundo é completo, a consciência é vazia, e por ser vazia está
aberta à possibilidade. A consciência pode agir no mundo, aliás, ela é livre para agir no mundo.
Chegamos aqui em uma das ideias mais importantes de Sartre que é a liberdade. A consciência é liberdade
e existência, pois é ela que é capaz de agir no mundo. Ora, o que significa dizer que a “consciência é liberdade”?
Nada pode impedir minha liberdade, pois em cada momento estou tomando decisões, e cada possibilidade
de decisão é exercer a liberdade. Desde os exemplos mais banais como comprar isto ou aquilo, fazer isto ou
aquilo significa que escolhi, e se escolhi é porque tive liberdade de fazê-lo. E não há desculpas, se sou livre sou
inteiramente responsável por tudo aquilo que acontece comigo.
E a liberdade é total. Isso quer dizer que mesmo se estou na guerra é porque me alistei nela. E mesmo se
fui forçado é porque aceitei, pois poderia ter fugido ou mesmo me suicidado. Então não importa, mesmo que o
mundo inteiro faça força contrária, tudo que acontece conosco exige uma parte de aceitação nossa. E essa
aceitação é liberdade. Logo, somente o homem é completamente livre e somente ele pode escolher o que fazer da
própria vida. Não há determinismo nem Deus que possa escolher o destino humano.

Determinismo significa que as ações do homem são guiadas por causas que as condicionam a ser daquele
modo, reduzindo a liberdade humana.

A partir da experiência da minha própria liberdade posso entender que o outro também é livre, também as
outras pessoas podem escolher livremente o que fazer de suas vidas. Mas quem é este outro?
Nós percebemos o outro quando entramos em contato com ele. Quando estamos sozinhos, nossa
consciência age e pensa tendo somente a nós como centro, não se preocupa com outras coisas ou pessoas. Mas
quando nos deparamos com um outro na nossa frente não conseguimos ignorá-lo e a presença dele modifica
nossos pensamentos. Em vez de pensarmos apenas em nós, tentamos entender quem ele é, o que está a fazer
etc. Logo, o outro é esta pessoa que invade a nossa subjetividade.
A relação com o outro influenciará Sartre na sua concepção de liberdade em O Existencialismo é um
Humanismo. Nessa obra o tom dramático do absurdo da existência reduz-se e Sartre tenta explicar novamente o
que ele entende por liberdade, que é justamente a possibilidade de cada pessoa ser o demiurgo do
próprio destino.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Demiurgo: concepção platônica de Deus que aparece no Timeu. Demiurgo é o artífice do mundo, que cria
todas as coisas. Logo, para Sartre o homem é o deus e o artífice do próprio destino.

Porém, o outro também é demiurgo do seu próprio destino. Para que eu exerça do melhor modo possível
minha liberdade, preciso respeitar também a liberdade do outro. Por isso, a minha liberdade carrega junto a
responsabilidade para com toda a humanidade.
Finalmente, uma última concepção limita a liberdade absoluta: a ideia de necessidade. Todos nós temos
liberdade absoluta, mas nascemos em situações distintas. Alguns nascem ricos, outros pobres, alguns em um
país, outros em outro, e assim por diante. Ou seja, a situação em que vivemos implica limitações que
precisamos superar.
A concepção de liberdade total do indivíduo, tão defendida por Sartre, ecoa ainda hoje, pois o filósofo
francês, ao mesmo tempo em que proclama tal liberdade, responsabiliza cada pessoa pelo que faz de sua vida.
Hoje é cada vez mais comum as pessoas afirmarem que não conseguem ter êxito pessoal ou profissional porque
a família, a empresa, o Estado, ou alguém não permitiu. Mas como Sartre se esforçou em demonstrar: tudo que
acontece conosco é porque aceitamos, de um modo ou de outro, seja ativamente ou passivamente. O indivíduo
deve decidir a cada momento o que faz de sua vida.

ARRASE NO ENEM

1. Sobre o conceito de liberdade em Sartre, pode-se afirmar que sua tese central é a de que ela deve
ser absoluta.
Assinale a alternativa que se coaduna com esta tese.
a) Os valores permitem definir a liberdade para os homens e suas sociedades.
b) Não existe angústia no homem ao se defrontar com a liberdade.
c) O simples fato da liberdade impõe uma forma materialista de determinismo, em que se abandona a ideia
de consciência.
d) Os atos livres do ser humano possuem uma essência psicológica que os define e possibilita.
e) É preciso excluir a possibilidade da existência de Deus, pois sua onipotência não permite a
liberdade humana.

2. (Ufu 2013) Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz respeito


a) a uma criação divina, cujo agir depende de princípio metafísico regulador.
b) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo, da totalidade no seio do que é.
c) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo poder nadificador que o constitui.
d) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não se pode realizar, não se pode afirmar, porque está
cheio, completo.

3. (Uem 2013) “Para Sartre, principal representante do existencialismo francês, só as coisas e os animais são
‘em si’, isto é, teriam uma essência. O ser humano, dotado de consciência, é um ‘ser-para-si’, ou seja, é
também consciência de si. Isso significa que é um ser aberto à possibilidade de construir ele próprio sua
existência. Por isso, é possível referir-se à essência de uma mesa (...) ou à essência de um animal (...), mas
não existe uma natureza humana encontrada de forma igual em todas as pessoas, pois ‘o ser humano não é
mais que o que ele faz’.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3.ª ed. revista. São
Paulo: Moderna, 2005. p. 39). Com base na citação e nos seus conhecimentos sobre o existencialismo,
assinale o que for correto.
01) As coisas e os animais não têm consciência de si.
02) O ser em si não pode ser senão aquilo que é, ao passo que, ao ser-para-si, é permitida a liberdade de ser
o que fizer de si.
04) A consciência humana é um fator histórico e contingente.
08) O homem possui uma natureza preestabelecida.
16) O existencialismo é uma metafísica de concepção essencialista.

4. (Uem 2013) “‘Se Deus não existisse, tudo seria permitido’. Eis o ponto de partida do existencialismo. De fato,
tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem está desamparado porque não encontra
nele próprio nem fora dele nada a que se agarrar. (...) Com efeito, se a existência precede a essência, nada
poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada ou definitiva; ou seja, não existe
determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos, já
prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem
na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem
desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre.” (SARTRE, J. P. O
existencialismo é um humanismo. Tradução de Rita Correia Guedes. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 9)
Com base no excerto citado, assinale o que for correto.

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01) O existencialismo é uma filosofia teológica que procura a razão de ser no mundo a partir da moral
estabelecida.
02) A afirmação “o homem está condenado a ser livre” é uma contradição, pois não há liberdade onde há a
obrigação de ser livre.
04) O existencialismo fundamenta a liberdade, independentemente dos valores e das leis da sociedade.
08) Ser livre significa, rigorosamente, ser, pois não há nada que determine o ser humano, a não ser ele
mesmo.
16) A existência de Deus é necessária, pois, sem ele, o homem deixaria de ser livre.

5. (Uem 2012) No texto O existencialismo é um humanismo, Jean-Paul Sartre argumenta contra as acusações
feitas ao existencialismo e declara: “O homem é não apenas tal como ele se concebe, mas como ele se quer,
e como ele se concebe depois da existência, o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo.
Tal é o primeiro princípio do existencialismo.” (SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In:
Antologia de textos filosóficos. MARÇAL, Jairo (org.). Curitiba: SEED-PR, 2009, p.620). Sobre a filosofia de
Sartre, assinale o que for correto.
01) Ao expressar o primeiro princípio do existencialismo, Jean-Paul Sartre defende a filosofia existencialista
das acusações dos comunistas, que a consideravam contemplativa e subjetivista.
02) Jean-Paul Sartre defende-se dos críticos que alegam ser sua filosofia existencialista desumana,
declarando que seus princípios filosóficos se fundamentam no humanismo cristão.
04) A ética sartreana é individualista, pois considera que o homem, para ser livre, deve agir sempre no sentido
de alcançar objetivos que atendam estritamente a seus interesses.
08) Jean-Paul Sartre considera que há dois tipos de existencialismo, ou seja, um existencialismo cristão e
outro ateu; ambos têm o pressuposto de que a existência precede à essência.
16) Para Jean-Paul Sartre, o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mesmo,
e, todavia, livre, pois, uma vez lançado no mundo, ele é responsável por tudo o que faz.

GABARITOS
1. E 2. C 3. 01 + 02 4. 04+08 5. 01+08+16

AULA 11

THOMAS KUNH E A IDEIA DE


REVOLUÇÃO
O filósofo Thomas Kuhn, defende que a história da ciência é feita de descontinuidades e rupturas
radicais. Esses momentos de ruptura radical são chamados de revolução científica. ― O campo científico é criado
quando métodos, tecnologias, formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações formam um
todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inúmeros fenômenos.
A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradigma científico. O paradigma se torna o
campo no qual uma ciência trabalha normalmente, sem crises. Kuhn usa a expressão ciência normal para referir-
se ao trabalho científico no interior de um paradigma estabelecido.
Em tempos normais, um cientista, diante de um fato ou de um fenômeno ainda não estudado, o explica
usando o modelo ou o paradigma científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a revolução
científica. Uma revolução científica ocorre quando o cientista descobre que o paradigma disponível não consegue
explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário produzir outro paradigma, até então inexistente e cuja
necessidade não era sentida pelos investigadores.
Numa revolução científica, não só novos fenômenos são descobertos e conhecimentos antigos são
abandonados, mas há uma mudança profunda na maneira de o cientista ver o mundo, como se passasse a
trabalhar num mundo completamente diferente. (MARILENA CHAUÍ p. 224, 2004) .Para Kuhn, quando os
paradigmas existentes são incapazes de explicar os objetos estudados, é necessário criar um novo paradigma.

Karl Popper e a falseabilidade


Karl Raimund Popper (1902-1994) nasceu em Viena, na Áustria, no dia 28 de julho de 1902. Descendente
de família judaica recebeu grande incentivo para os estudos. Ingressou na Universidade de Viena e doutorou-se
em Filosofia.
Na filosofia da ciência contemporânea temos duas correntes científicas: uma histórica e outra analítica.
Nosso Filósofo de estudo segue a tendência analítica, isto é, prioriza os aspectos metodológicos do
desenvolvimento científico, também conhecido como “contexto de justificação”.
Através do método Hipotético-Dedutivo, Popper afirma que a busca do conhecimento não é fruto de uma
simples observação de fatos e inferências de enunciados, segundo ele, este novo método pressupõe o interesse
do sujeito em conhecer algo que dentro do seu quadro de referências não os satisfazem mais, por isso que deve
haver uma observação internacionalizada, orientada e seletiva.
O método proposto por Popper, em vez de buscar a verificação de experiências empíricas que
confirmassem uma teoria, buscava fatos particulares que, depois de verificados, refutariam a hipótese. Assim, em

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vez de se preocupar em provar que uma teoria era verdadeira, ele se preocupava em provar que ela era falsa.
Quando a teoria resiste à refutação pela experiência, pode ser considerada comprovada.

ÉTICA E CIÊNCIA

Os seres humanos, ao longo do tempo, para melhor se relacionar com os semelhantes, criam valores. Os
valores são padrões de comportamento considerados corretos, são formas pelas quais agimos seguindo aquilo
que é colocado como certo. O conjunto desses valores é conhecido como moral. A moral orienta os seres
humanos a agir, a realizar ações consideradas corretas.

Quando seguimos esses valores morais, temos virtudes. Se não seguimos esses valores morais, temos
vícios. A ética é o ramo da filosofia que estuda a moral. Assim, a ciência, muitas vezes, coloca em xeque a moral,
a virtude. As tecnologias produzidas pela ciência levam à questão: esses produtos da tecnologia levam em conta
os valores morais da humanidade? Para refletirmos sobre isso vamos utilizar o exemplo da biologia, das
tecnologias que ela criou e os confrontos éticos que foram gerados.

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BIOÉTICA
O termo "Bioética" surgiu na década de 1970 e tinha por objetivo deslocar a discussão acerca dos novos
problemas impostos pelo desenvolvimento tecnológico, de um viés mais tecnicista para um caminho mais pautado
pelo humanismo, superando a dicotomia entre os fatos explicáveis pela ciência e os valores estudáveis pela ética.
Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios(vida) + ethos(relativo à ética).
Segundo Diniz &Guilhem,"…por ser a bioética um campo disciplinar compromissado com o conflito moral na área
da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não-humanos, seus temas dizem respeito a situações de
vida que nunca deixaram de estar em pauta na história da humanidade…"
A bioética, portanto, tem forte ligação com a filosofia (pois discute as questões éticas) e considera a
responsabilidade moral dos cientistas em suas pesquisas e práticas. Entre os temas abordados, sobressaem-se o
aborto, a eutanásia, os transgênicos, a fertilização in vitro, a clonagem e os testes com animais. A bioética é um
campo de estudo propício ao embate de grupos de interesses distintos como indústrias farmacêuticas, laboratórios
de biotecnologia, organizações ambientalistas, associações de consumidores e entidades de classe.

A problemática bioética é numerosa e complexa, envolvendo fortes reflexos imprimidos na opinião pública,
sobretudo pelos meios de comunicação de massa. Alguns exemplos dos temas alarmados:

Estas são as principais tecnologias biológicas que geraram conflitos e discussões sobre a ética:

CLONAGEM
A Clonagem é o processo natural ou artificial em que são produzidas cópias fiéis de outro indivíduo
(homem, animais, etc.), ou seja, a clonagem é o processo que formará um clone. O processo de clonagem natural
ocorre em alguns seres, como as bactérias e outros organismos unicelulares que realizam sua reprodução pelo
método da bipartição. No caso dos humanos, os clones naturais são os gêmeos univitelinos. No processo de
clonagem artificial existem várias técnicas de clonagem, uma delas permite clonar um animal a partir de óvulos
não fecundados originando indivíduos geneticamente idênticos.
A Clonagem é o processo natural ou artificial em que são produzidas cópias fiéis de outro indivíduo
(homem, animais, etc.), ou seja, a clonagem é o processo que formará um clone.
O processo de clonagem natural ocorre em alguns seres, como as bactérias e outros organismos
unicelulares que realizam sua reprodução pelo método da bipartição, além disso, o tatu também produz um clone
através da poliembrionia. No caso dos humanos, os clones naturais são os gêmeos univitelinos, ou seja, são seres
que compartilham do mesmo material genético (DNA), sendo originado da divisão do óvulo fecundado.
No processo de clonagem artificial existem várias técnicas de clonagem, uma delas permite clonar um
animal a partir de óvulos não fecundados, sendo este processo conhecido desde o século XIX, estes processos
eram praticados pelos horticultores que obtinham clones de orquídeas, que através de tecidos de uma planta
matriz, originava dezenas de novas plantas geneticamente idênticas.

BENEFÍCIOS
Ao longo da evolução do tempo, foram vários os benefícios que os cientistas acreditam que a clonagem
humana tem. Aqui estão algumas das suas ideias sobre o assunto:
 O rejuvenescimento. Pesquisadores sugerem que um dia,
poderá vir a ser possível inverter o processo do envelhecimento devido à aprendizagem que nos é fornecida
através do processo de clonagem;
 A tecnologia humana da clonagem podia ser usada para inverter os ataques cardíacos. Os cientistas
afirmam que conseguirão tratar vítimas de ataques cardíacos através da clonagem das suas células
saudáveis do coração e injetando-as nas áreas do coração que foram danificadas.
 Casos de infertilidade. Com a clonagem, os casais inférteis poderiam ter filhos.
 A Cirurgia Plástica, reconstrutiva e estética. Devido à clonagem humana e à sua tecnologia, os problemas,
que, por vezes, ocorrem depois de algumas cirurgias de implantes mamários ou de outros procedimentos
estéticos deixam de existir. As vítimas dos acidentes terríveis que deformam o rosto (por exemplo), devem
assim conseguir voltar a ter as suas características, sendo reparadas e de maneira mais segura. Os
membros para amputados também poderão vir a ser regenerados.
 Casos de Síndrome de Down. As mulheres com risco elevado para a Síndrome de Down poderão evitar
esse risco através da clonagem;
 Problemas no fígado e nos rins. Poderá ser possível clonar fígados humanos para transplante
dos mesmos;
EUTANÁSIA
A "eutanásia ativa" conta com o traçado de ações que têm por objetivo pôr término à vida, na medida em
que é planejada e negociada entre o doente e o profissional que vai executar o ato.
A "eutanásia passiva", por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto, com o passar do
tempo, conjuntamente com a interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o
doente acaba por falecer. São cessadas todas e quaisquer ações que tenham por fim prolongar a vida. Não há por
isso um ato que provoque a morte (tal como na eutanásia ativa), mas também não há nenhum que a impeça
(como na distanásia).

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Etimologicamente, distanásia é o oposto de eutanásia. A distanásia defende que devem ser utilizadas
todas as possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o
sofrimento se torne demasiadamente penoso.

ARGUMENTOS A FAVOR
Para quem argumenta a favor da eutanásia, acredita-se que esta seja um caminho para evitar a dor e o
sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente que reflete uma
escolha informada, o término de uma vida em que, quem morre não perde o poder de ser ator e agente digno até
ao fim.
São raciocínios que participam na defesa da autonomia absoluta de cada ser individual, na alegação do
direito à autodeterminação, direito à escolha pela sua vida e pelo momento da morte. Uma defesa que assume o
interesse individual acima do da sociedade que, nas suas leis e códigos, visa proteger a vida. A eutanásia não
defende a morte, mas a escolha pela mesma por parte de quem a concebe como melhor opção ou a única.
Quando uma pessoa passa a ser prisioneira do seu corpo, dependente na satisfação das necessidades
mais básicas; o medo de ficar só, de ser um "fardo", a revolta e a vontade de dizer "Não" ao novo estatuto, levam-
no a pedir o direito a morrer com dignidade. Obviamente, o pedido deverá ser ponderado antes de
operacionalizado, o que não significa a desvalorização que tantas vezes conduz esses homens e mulheres a
lutarem pela sua dignidade anos e anos na procura do não prolongamento de um processo de deterioramento ou
não evolução. Além do mais, em um país como o Brasil, onde o acesso à saúde pública não é satisfatório, a
prática da eutanásia é muitas vezes encarada como um modo de proporcionar a doentes de casos emergenciais
uma vaga nos departamentos de saúde.

ARGUMENTOS CONTRA
Muitos são os argumentos contra a eutanásia, desde os religiosos, éticos até os políticos e sociais. Do
ponto de vista religioso a eutanásia é tida como uma usurpação do direito à vida humana, devendo ser um
exclusivo reservado ao Criador, ou seja, só Deus pode tirar a vida de alguém. Da perspectiva da ética médica,
segundo o qual considera a vida como um dom sagrado, sobre a qual o médico não pode ser juiz da vida ou da
morte de alguém, a eutanásia é considerada homicídio. Cabe ao médico, cumprindo seu juramento, assistir o
paciente, fornecendo-lhe todo e qualquer meio necessário à sua subsistência.

ARRASE NO ENEM
1. (VUNESP 2014 A condenação à violência pode ser estendida à ação dos militantes em prol dos direitos
animais que depredaram os laboratórios do Instituto Royal, em São Roque. A nota emocional é difícil de
contornar: 178 cães da raça beagle, usados em testes de medicamentos, foram retirados do local. De um
lado, por mais que seja minimizado e controlado, há o sofrimento dos bichos. Do outro lado, está nosso bem
maior: nas atuais condições, não há como dispensar testes com animais para o desenvolvimento de drogas e
medicamentos que salvarão vidas humanas. (Direitos animais. Veja, 25.10.2013.) Sob o ponto de vista
filosófico, os valores éticos envolvidos no fato relatado envolvem problemas essencialmente relacionados
a) à legitimidade do domínio da natureza pelo homem.
b) a diferentes concepções de natureza religiosa.
c) a disputas políticas de natureza partidária.
d) à instituição liberal da propriedade privada.
e) aos interesses econômicos da indústria farmacêutica.

2. ENEM 2014 – BIOÉTICA Panayiotis Zavos "quebrou" o último tabu da clonagem humana — transferiu
embriões para o útero de mulheres que os gerariam. Esse procedimento é crime em inúmeros países.
Aparentemente, o médico possuía um laboratório secreto, no qual fazia seus experimentos. "Não tenho
nenhuma dúvida de que uma criança clonada irá aparecer em breve. Posso não ser eu o médico que irá criá-
la, mas vai acontecer", declarou Zavos. "Se nos esforçarmos, podemos ter um bebê clonado daqui a um ano,
ou dois, mas não sei se é o caso. Não sofremos pressão para entregar um bebê clonado ao mundo. Sofremos
pressão para entregar um bebê clonado saudável ao mundo." • CONNOR, S. Disponível em:
www.independent.co.uk. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado). • A clonagem humana é um importante
assunto de reflexão do campo da bioética que, entre outras questões, dedica-se a
a) refletir sobre as relações entre o conhecimento da vida e os valores éticos do homem.
b) legitimar o predomínio da espécie humana sobre as demais espécies animais no planeta.
c) relativizar, no caso da clonagem humana, o uso dos valores de certo e errado, de bem e mal.
d) legalizar, pelo uso das técnicas de clonagem, os processos de reprodução humana e animal.
e) fundamentar técnica e economicamente as pesquisas sobre células-tronco para uso em seres humanos.

GABARITOS
1. A 2.A

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AULA 12
A INDÚSTRIA CULTURAL
Tudo indica que o termo indústria cultural foi empregado pela primeira vez no livro Dialektik der
Aufklãrung, que Horkheimer e eu publicamos em 1947, em Amsterdã. Em nossos esboços tratava-se do
problema da cultura de massa. Abandonamos essa última expressão para substituí-la por "indústria cultural", a fim
de excluir de antemão a interpretação que agrada aos advogados da coisa; estes pretendem, com efeito, que se
trata de algo como uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas, em suma, da forma
contemporânea da arte popular. Ora, dessa arte a indústria cultural se distingue radicalmente. Ao juntar elementos
de há muito correntes, ela atribui-lhes uma nova qualidade. Em todos os seus ramos fazem-se, mais ou menos
segundo um plano, produtos adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam esse
consumo. Os diversos ramos assemelham-se por sua estrutura, ou pelo menos se ajustam uns aos outros. Eles
somam-se quase sem lacuna para constituir um sistema. Isso, graças tanto aos meios atuais da técnica, quanto à
concentração econômica e administrativa. A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto, de seus
consumidores. Ela força a união dos domínios, separados há milênios, da arte superior e da arte inferior. Com o
prejuízo de ambos. A arte superior se vê frustrada de sua seriedade pela especulação sobre o efeito; a Inferior
perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente
enquanto o controle social não era total. Na medida em que nesse processo a indústria cultural inegavelmente
especula sobre o estado de consciência e inconsciência de milhões de pessoas às quais ela se dirige, as massas
não são, então, o fator primeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo; acessório da maquinaria.
O consumidor não é rei, como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, mas
seu objeto. O termo massas medida, que se introduziu para designar a indústria cultural, desvia, desde logo, a
ênfase para aquilo que é inofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem das técnicas de
comunicação como tais, mas do espírito que lhes é insuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural
abusa da consideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade destas, que ela toma
como dada a priori, e imutável. É excluído tudo pelo que essa atitude poderia ser transformada. As massas não
são a medida, mas a ideologia da indústria cultural, ainda que esta última não possa existir sem a elas se adaptar.
As mercadorias culturais da indústria se orientam como disseram Brecht e Suhrkamp há já trinta anos,
segundo o princípio de sua comercialização e não segundo seu próprio conteúdo e sua figuração adequada. Toda
a práxis da indústria cultural transfere, sem mais, a motivação do lucro às criações espirituais. A partir do momento
em que essas mercadorias asseguram a vida de seus produtores no mercado, elas já estão contaminadas por
essa motivação. Mas eles não almejavam o lucro senão de forma mediata, através de seu caráter autônomo. O
que é novo na indústria cultural é o primado imediato e confesso do efeito, que por sua vez é precisamente
calculado em seus produtos mais típicos. A autonomia das obras de arte, que, é verdade, quase nunca existiu de
forma pura e que sempre foi marcada por conexões de efeito, vê-se no limite abolido pela indústria cultural. Com
ou sem a vontade consciente de seus promotores. Estes são tanto órgãos de execução como também os
detentores de poder. Do ponto de vista econômico, eles estavam à procura de novas possibilidades de aplicação
de capital em países mais desenvolvidos. As antigas possibilidades tornam-se cada vez mais precárias devido a
esse mesmo processo de concentração, que por seu turno só torna possível a indústria cultural enquanto
instituição poderosa. A cultura que, de acordo com seu próprio sentido, não somente obedecia aos homens, mas
também sempre protestava contra a condição esclerosada na qual eles vivem, e nisso lhes fazia honra; essa
cultura, por sua assimilação total aos homens, torna-se integrada a essa condição esclerosada; assim, ela avilta
os homens ainda uma vez. As produções do espírito no estilo da indústria cultural não são mais também
mercadorias, mas o são integralmente. Esse deslocamento é tão grande que suscita fenômenos inteiramente
novos. Afinal, a indústria cultural não é mais obrigada a visar por toda parte aos interesses de lucro dos quais
partiu. Esses se objetivaram na ideologia da indústria cultural e às vezes se emanciparam da coação de vender as
mercadorias culturais que, de qualquer maneira, devem ser absorvidas. A indústria cultural se transforma em
publicrelations, a saber, a fabricação de um simples good-will, sem relação com os produtores ou objetos de
venda particulares. Vai-se procurar o cliente para lhe vender um consentimento total e não crítico faz-se reclame
para o mundo, assim como cada produto da indústria cultural é seu próprio reclame.
ADORNO, Theodor W. "Indústria cultural". In COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São Paulo,
Na-cionat/Edusp, 1971. p. 287-288.
TV COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO
DE MASSA
Há inúmeras discussões sobre se a televisão é um bem ou um mal. De um lado, coloca-se o seu caráter
de democratização da cultura, uma vez que é acessível a todos, indistintamente. De outro, discute-se a sua
função alienadora e de formação da opinião pública e manipuladora, por se aproveitar da natureza emocional,
intuitiva e irreflexiva da comunicação por imagens.
Nas palavras de Umberto Eco, filósofo italiano contemporâneo, temos:
"Lembremos que uma educação através da imagem tem sido típica de toda sociedade absolutista e
paternalista: do Antigo Egito à Idade Média. A imagem é o resumo visível e indiscutível de uma série de
conclusões a que se chegou através da elaboração cultural; e a elaboração cultural que se vale da palavra
transmitida por escrito é apanágio da elite dirigente, ao passo que a imagem final é construída para a massa
submetida. Nesse sentido, têm razão os maniqueus: há na comunicação pela imagem algo de radicalmente
limitativo, de insuperavelmente reacionário.
história da civilização, os discursos por imagens deram aos homens."
(Apocalípticos e integrados, p. 363.)

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LINGUAGEM DA TV
O que caracteriza o veículo TV e estrutura sua linguagem específica, distinguindo-o do cinema, é a
possibilidade de transmissão direta, no momento em que as coisas acontecem. Essa é a força da televisão: sua
atualidade, a instantaneidade entre o acontecimento e sua apresentação.
Essa característica leva os espectadores a confundir realidade e representação, fazendo-os acreditar que
a TV é um veículo "transparente", objetivo e não deformador da realidade.
Ora, é preciso que nos lembremos de que cada imagem que aparece no vídeo é fruto de uma escolha em
termos de enquadramento (quais os elementos que vão ser mostrados e quais os que vão ser deixados de lado;
quais os que aparecerão em primeiro plano, portanto, maiores e mais visíveis, quais em último plano, e assim por
diante); de sequência (qual a cena que vem em primeiro, segundo, terceiro... até o último lugar); de texto ou
música que acompanhará a imagem. Quem escolhe as imagens que vão ao ar é o diretor do programa. Assim, é
ele que elabora a interpretação dos fatos. Como resultado, o que aparece em nosso aparelho de TV já não é a
realidade, mas um relato, uma representação dessa realidade, segundo o ponto de vista do diretor do programa.

Esta primeira característica da linguagem da TV dá origem a toda uma estética televisiva; o naturalismo.
Todos os outros programas que não são transmitidos ao vivo imitam essas transmissões. Os cenários
cuidadosamente preparados no estúdio dão a impressão da saia de visitas da casa de alguém, da cozinha, do
jardim, da praça, da escola, da redação do jornal e assim por diante.
Uma segunda característica da linguagem televisiva é sua fragmentação. Toda programação é estruturada
aos pedaços, os chamados blocos, separados pela apresentação da propaganda. Assim, enquanto texto, teremos
sempre rupturas, e o espectador deve aprender a fazer as ligações entre um bloco e outro.
Como terceira característica, apontamos o ritmo acelerado da linguagem televisiva, que está ligado à
primeira característica, a instantaneidade da representação. O tempo da TV é o tempo moderno, da indústria, da
eficiência, da metrópole. Esta característica tem, como consequência, a superficialidade com que os assuntos são
tratados na TV. Para ser entendido de maneira rápida, o conteúdo deve ser diluído, reduzido a sua forma mais
estereotipada ou massificada. Assim, os acontecimentos são retirados do desenrolar histórico, onde encontramos
suas raízes e suas causas e são apresentados como se fossem fatos isolados, sem nenhuma anális
e que os explique.
E, outra vez, aparece a fragmentação. Agora, não mais como recurso de linguagem, mas como recurso
ideológico. É a própria visão de mundo que aparece de modo fragmentário, impedindo que os telespectadores,
que somos todos nós tenhamos a visão do todo, que possamos atribuir um sentido global ao mundo e que
encontremos o nosso lugar específico de ação.
E, finalmente, a linguagem televisiva caracteriza-se por assumir a forma de espetáculo. O que é
espetáculo? É tudo o que chama a atenção, atrai e prende o olhar. A televisão, trabalhando sobre a forma de
apresentação de seus programas, transforma qualquer conteúdo em espetáculo de grande eficácia visual.
É só pensarmos na transmissão pela TV da Guerra do Golfo, no início de 1991, para compreendermos
como funciona a linguagem da televisão.
Foi a primeira transmissão direta de uma guerra. Ela veio parar dentro de nossas casas. No entanto, o
conteúdo "guerra", inevitavelmente ligado à morte, destruição, dor, sofrimento, foi esvaziado e ficamos com o
espetáculo "limpo" de preparações otimistas, com soldados bem-alimentados, bem-vestidos e suas máquinas
mortíferas bem cuidadas, frutos da mais desenvolvida tecnologia. As próprias cenas de bombardeio foram vistas
através de aparelhos: viu-se indistintamente o alvo sendo enquadrado, a bomba atingindo-o com perfeição. As
implicações da destruição, no entanto, jamais foram levadas adiante. Os poucos feridos que vimos foram
apresentados em cenas rápidas, sem grandes explicações. Quem eram? Onde moravam? O que pensavam da
guerra? Quais suas necessidades ou desejos? O que aconteceu com eles depois? Sobreviveram?

Ficaram fisicamente deficientes? Não saberemos jamais. A estrutura do espetáculo, que prende nossa
atenção, neutraliza todos os conteúdos, pois os tratam como se tudo tivesse o mesmo valor. No caso da Guerra
do Golfo, as cenas de guerra foram apresentadas, alternadamente, com as cenas dos desfiles de carnaval, no
Sambódromo. Tudo igual, com a mesma ênfase. Na verdade, tudo se passa no mundo da fantasia. Tanto faz que
seja o carnaval, a guerra, o terremoto, a enchente, a novela ou o programa de auditório.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

TV E PÚBLICO
Como já dissemos no início, entre os meios de comunicação de massa, a TV é o que tem público mais
vasto e indiferenciado: é acessível a todas as classes sociais, a todas as idades, a todos os níveis de cultura, dos
analfabetos aos intelectuais.
Ligar a TV é um hábito estabelecido dentro do nosso cotidiano. Podemos assisti-la sozinhos ou com a
família e/ou amigos, em sala clara, enquanto a vida continua ao nosso redor e interfere no modo de nos
relacionarmos com a TV.
Como o próprio texto televisivo é entrecortado por anúncios, ele nos dá a pausa para o café, o lanche, o
copo d'água, o telefonema, o dedo de conversa. Mesmo durante o programa que nos interessa, podemos estar,
também, fazendo outra coisa, com um olho cá, outro lá.
Essas condições da recepção da programação televisiva ajudam a "naturalizá-la", isto é, a fazer com que
passemos a considerar natural tudo o que é apresentado pela TV, uma vez que está dentro do nosso mundo
habitual. E, assim como aceitamos o nosso cotidiano, aceitamos o que é oferecido pela TV, passivamente, sem
maiores discussões ou críticas.
Por que não desligamos o aparelho quando o programa não agrada? Por que temos o hábito de ligar
sempre em um só canal, em vez de procurar programas mais interessantes em outros?
Talvez a tensão criada pelo trabalho fragmentado, pelas dificuldades de vida e de realização pessoal leve-
nos a sermos telespectadores passivos, que se entregam àquilo que o grupo produtor da programação de TV quer
nos dar.

Se pensarmos, em termos de Brasil, no número de analfabetos, no número de alfabetizados que saíram


da escola após poucos anos, sem terminá-la, nos que trabalham desde os doze ou catorze anos, na pobreza
crescente que obriga a trabalhar cada vez mais e ter cada vez menos tempo livre, a questão da recepção passiva
e, com ela, a questão da alienação — como fuga da própria realidade que parece insuportável através do
espetáculo superficial e atraente oferecido pela telinha — são perfeitamente explicáveis.
Nessa perspectiva, portanto, a discussão não deve girar em torno de devermos ou não assistir televisão,
nem se esta é um bem ou um mal, pois ela é uma realidade do nosso mundo.
O que devemos discutir é como assistir televisão de uma forma mais crítica, percebendo os valores que
estão sendo propostos, discutindo com outras pessoas, na própria escola, por que eles são propostos e se servem
para nós, para nossa realidade.

ARRASE NO ENEM
1. (Unesp 2015) Analise as charges.

As charges permitem que se faça uma abordagem ao mesmo tempo crítica e irônica dos meios de
comunicação de massa e da vida nas cidades no período atual. Dentre os assuntos que podem ser
diretamente associados aos problemas abordados pelas charges estão:
a) o cumprimento pelos meios de comunicação de seu papel de noticiar o real cotidiano das cidades e o
fortalecimento da segurança pública em detrimento da privada.
b) o papel da mídia na propagação da sensação de insegurança junto à população e o surgimento de atividades,
produtos e serviços vinculados à segurança privada.
c) a influência restrita dos meios de comunicação sobre o cotidiano das cidades e a produção de um novo
urbanismo expresso na valorização dos espaços públicos.
d) a influência passiva da mídia sobre o comportamento e a vida das pessoas nas cidades e a regressão de
produtos, serviços e atividades ligadas à segurança privada.
e) a difusão de informações sensacionalistas pela mídia e a intensificação da convivência entre pessoas
na cidade.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

2. (Enem PPL 2015) Falava-se, antes, de autonomia da produção significar que uma empresa, ao assegurar
uma produção, buscava também manipular a opinião pela via da publicidade. Nesse caso, o fato gerador do
consumo seria a produção. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes
mesmo de produzirem os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do
consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dos serviços.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no texto pressupõe o(a)


a) aumento do poder aquisitivo.
b) estímulo a livre concorrência.
c) criação de novas necessidades.
d) formação de grandes estoques.
e) implantação de linhas de montagem.

3. (Unesp 2014) Não somente os tipos das canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente
como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo só varia na aparência. O fracasso temporário
do herói, que ele sabe suportar como bom esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão
forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali
e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já se sabe
como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente
capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele
tem lugar como previsto. O número médio de palavras é algo em que não se pode mexer. Sua produção é
administrada por especialistas, e sua pequena diversidade permite reparti-las facilmente no escritório.
(Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. “A indústria cultural como mistificação das massas”. In: Dialética do
esclarecimento, 1947. Adaptado.)

O tema abordado pelo texto refere-se


a) ao conteúdo intelectualmente complexo das produções culturais de massa.
b) à hegemonia da cultura americana nos meios de comunicação de massa.
c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios estatais.
d) ao aspecto positivo da democratização da cultura na sociedade de consumo.
e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de entretenimento.

4. (Uffs 2011) É uma forma de cultura produzida industrialmente, e tem por objetivo a lucratividade das
corporações de mídia que nela investem grande capital em máquinas e infraestrutura fabril. Utiliza tecnologia
de ponta, destina-se a um grande público anônimo e impessoal e é distribuída através do mercado e depende
de patrocinadores:
a) Cultura Erudita.
b) Cultura Popular.
c) Cultura de Massa.
d) Cultura Midiática.
e) Cultura Eletrônica.

5. (Unicentro 2010)

“A indústria cultural, com suas vantagens e desvantagens, pode ser caracterizada pela transformação da
cultura em mercadoria, com produção em série e de baixo custo, para que todos possam ter acesso. É uma
indústria como qualquer outra, que deseja o lucro e que trabalha para conquistar o seu cliente, vendendo imagens,
seduzindo o seu público a ter necessidades que antes não tinham”.
(PARANÁ. Livro didático de Sociologia. Curitiba, 2006, p.156).

Assinale a alternativa correta.


a) A indústria Cultural não é uma característica da sociedade contemporânea ela é um produto natural em
qualquer sociedade.
b) A indústria Cultural é responsável por criar no indivíduo necessidades que ele não tinha e transformar a
cultura em mercadoria.
c) A Indústria Cultural não influencia nas necessidades do indivíduo com a sua produção em série e de
baixo custo.
d) A indústria cultural faz com que o indivíduo reflita sobre o que necessita, não desejando lucro.
e) A Indústria Cultural prioriza a heterogeneidade de cada cultura.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

6. Em seu livro “Dialética do Esclarecimento”, Adorno e Horkheimer estudam o conceito de publicidade e seu
papel na sociedade.
Qual das seguintes alternativas não se relaciona com os efeitos da publicidade na sociedade?
a) A publicidade conduz à mimese entre os indivíduos.
b) A publicidade e a indústria cultural confundem-se econômica e tecnicamente.
c) A publicidade serve diretamente à venda de mercadorias.
d) A publicidade aprisiona o indivíduo junto às grandes corporações.
e) A publicidade, ao funcionar pela repetição, assemelha-se às “palavras de ordem”.

GABARITOS
1. B 2. C 3. E 4. C 5. B 6. C

INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE
HABERMAS AÇÃO COMUNICATIVA

A Ação Comunicativa é uma das principais teorias desenvolvidas por Jürgen Habermas. Introduzida pela
primeira vez na obra Teoria da Ação Comunicativa, publicada em 1981, pode ser delimitada, em termos gerais,
como a teoria da sociedade moderna fundamentada por métodos da sociologia, filosofia social e filosofia
da linguagem.
Ora, para Habermas a linguagem serve como garantia da democracia, uma vez que a própria democracia
pressupõe a compreensão de interesses mútuos e o alcance de um consenso.
Contudo, para que a linguagem assuma este papel democrático, no pensamento habermasiano é
necessário que a comunicação seja clara. Para Habermas, a distorção de palavras e de sua compreensão impede
uma comunicação efetiva, o consenso e, portanto, a prática efetiva da democracia.
O uso correto das palavras, entretanto, só ocorreria quando fosse abandonado o uso exclusivo da razão
instrumental – ou iluminista – a razão utilizada pelo sujeito cognocente ao conhecer a natureza com o fim de
dominá-la, ou seja, a confusão do conhecimento com a dominação, exploração e poder. Dessa maneira, a razão
torna-se um instrumento de uma ciência que, deixando de ser acesso a conhecimentos verdadeiros, torna-se é
meio de dominação e poder: da Natureza e dos próprios seres humanos.
Dessa maneira torna-se necessária uma razão que não seja instrumento de dominação, mas de
democracia: a razão comunicativa. A razão comunicativa, além de compreender a esfera instrumental de
conhecimentos objetivos, alcança a esfera da interação entre sujeitos, marcada por simbolismo e subjetivismo,
experiências pessoais e a contextualização dialógica de agentes linguísticos.
Rompe-se, assim, com um diálogo baseado em conhecimentos instrumentais resultantes da relação entre
um sujeito cognocente e um objeto cognoscível, a partir do qual o consenso, se possível, é desprovido do caráter
democrático. Por outro lado, trava-se um diálogo entre sujeitos capazes de compartilhar, pela linguagem, de um
universo simbólico comum e interagir, buscando construir um conhecimento crítico pautado por argumentação
submetida a critérios de validade, sem, contudo, ser orientada por rígidos domínios científicos.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Nesse contexto, Habermas crê que a comunicação só é eficiente, ou seja, não distorcida, quando quatro
critérios são seguidos:
a) uso de regras semânticas inteligíveis (uso de regras semânticas compreensíveis para o receptor);
b) ser verdadeiro o conteúdo dito;
c) justificação do emissor por direitos sociais ou normas invocadas pelo uso do idioma (ou seja, o emissor possui
autoridade nos argumentos utilizados);
d) emissor que utiliza –se de sinceridade, sem procurar enganar seu receptor.

Os critérios de Habermas, contudo, são criticados em muitos aspectos. Entre eles critica-se o segundo critério,
questionando-se a definição de verdade: ―ora, como definir o que é verdadeiro universalmente?
Entretanto, apesar das críticas, a Teoria da Ação Comunicativa propõe um retorno ao diálogo construtivo, capaz
de alcançar um conhecimento mais profundo do que o alcançado pela relação entre o ―sujeito cognocente o
objeto cognoscível por ser resultado da relação, em última análise, entre dois sujeitos cognocentes. Dessa
maneira, a prática da Ação Comunicativa não se limita apenas à busca do consenso da democracia, mas também
é instrumento para pedagogia, filosofia e muitos outros campos da ação humana.

HERMENÊUTICA JURÍDICA
Falar em ação comunicativa de Habermas no Direito é pensar ou mesmo associar à hermenêutica jurídica,
parte da ciência jurídica que diz respeito ao sistema de regras para a interpretação das leis (ou normas em geral).
A princípio pode-se dizer que a ação comunicativa é a expressão da RAZÃO COMUNICATIVA – fonte do Direito,
que para Habermas proporciona as inter-relações entre os fatos (formas de vida) e as normas estabelecidas para
os mesmos; ele ainda acredita que a correlação VALIDADE-EFICÁCIA representa a condição essencial para o
direito, pois além de manter a inter-relação, citada, de forma descentralizada de condições, ela também sustenta a
imposição do Direito (característica básica deste). Todavia, a ação comunicativa cumpre seu papel de guardiã da
integridade social, que para o pensador é a base de toda tensão da correlação já mencionada.
Por outro lado temos no Direito um estudo, denominado hermenêutica jurídica, cujo objeto consiste em
estudar a sistematização dos processos que devem ser utilizados para que se realize uma interpretação adequada
e correta sobre um fato concreto. Entretanto, vale lembrar que interpretação e hermenêutica são coisas distintas,
visto que a primeira, é a aplicação da segunda (analogia a técnica empregada pela metodologia). A interpretação
é única, isto é, exceto quando usada para fins didáticos, na prática ela não pode ser fracionada; possui como
objeto de estudo as palavras, frases, proposições e enunciados. As palavras expressam o sentido das normas
jurídicas e garantem, para Habermas, a democracia; podem ser analisadas sob dois aspectos:
ONOMASIOLÓGICO (sentido corrente da palavra), SEMASIOLÓGICO (significado normativo). A união
de palavras em torno de um verbo dá origem às frases que em 49onsequentem produz as proposições e depois
os enunciados. Os conceitos sobre estes, o próprio Habermas fornece; a proposição consiste em uma unidade
49onsequente, enquanto que o enunciado é a proposição situada, ou seja, é a unidade de discurso ou fala.
A partir desses conceitos, a interpretação é aplicada nos diversos problemas de ordem sintática,
semântica e pragmática.
Os problemas de ordem sintática, em que dizem respeito às conexões das palavras, são interpretados de
forma: GRAMATICAL (questões léxicas), LÓGICA (problemas lógicos) e SISTEMÁTICA (compatibilidade no todo
estrutural). Quando os problemas originam dos significados das palavras, temos a semântica, cuja interpretação é
feita por meio; HISTÓRICO (precedentes normativos) e SOCIOLÓGICO (contexto social). Por fim, temos os
problemas de ordem pragmática em que caracterizam-se pelo não entendimento em uma relação de comunicação
entre o emissor e o receptor; para isso utiliza-se as interpretações TELEOLÓGICAS (situação das leis) e
AXIOLÓGICA (postulam os fins).
Apresentados alguns conceitos, passamos então para uma possível relação e explicação entre o
pensamento do filósofo e a ciência jurídica. Como já foi dito anteriormente, a linguagem, especialmente a escrita,
garante a democracia aos povos, contudo, ela também justifica a presença de um Direito imposto por uma
autoridade sobre uma pessoa, cidade ou nação. Partindo desse pensamento Habermas coloca que a validade
desse Direito está na crença do destinatário de que a norma a que se sujeita é também criada por ele, e que sua
eficácia depende de uma interpretação do magistrado, coerente com cada situação real e concreta. No entanto, na
verdade, o intérprete (magistrados e afins) guia-se pelas próprias avaliações do sistema interpretado, a fim de
tornar enfraquecidas as tensões sociais na medida em que neutraliza a pressão exercida pelos problemas de
distribuição de poder, de recursos e de benefícios escassos.
ANÁLISE DA OBRA “DIREITO E MORAL”
Primeiramente, gostaria de ressaltar o fato da obra de Habermas ser extremamente densa e complexa,
assim não sei se poderíamos chamar este texto de análise; o mais apropriado seria primeira impressão. Afinal, um
para desenvolver um estudo da obra aqui mencionada seria necessário compreender profundamente o trabalho
do filósofo e o trabalho dos estudiosos por ele citados. Assim escrevemos, como estudantes do primeiro período,
a primeira impressão sobre o livro ―Direito e Moral de Jürgen Habermas.
O livro é dividido em dois segmentos principais, o primeiro fazendo uma crítica a pontos de vista de Max
Weber no que toca o direito e a moral, tendo como título ―Como é possível a legitimidade através da legalidade;
e o segundo mostrando se o desmoronamento do direito puramente racional resulta em um estado jurídico com
maior agilidade diante da sociedade, sendo o título ―Para a idéeia do estado jurídico.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

O primeiro grande segmento é subdividido em três partes. Na primeira parte Habermas comenta a visão
de Max Weber sobre a racionalidade do direito. Segundo Weber a racionalidade só existe devido ao caráter formal
que está incutido no direito, ou seja, só pode existir a razão em decorrência da obediência aos procedimentos
jurídicos. Dessa forma, moral e direito são dois campos separados, sendo a moral subjetiva e o direito
objetivamente racional. Assim a interferência da moral no direito acabaria por retirar a racionalidade do mesmo.
Mas Habermas nos mostra que o próprio ato de seguir os procedimentos jurídicos já implica na mistura entre
moral e direito, afinal o direito é constituído de normas estabelecidas por um legislador e este possui uma moral
que acaba sendo incorporada a lei. Sendo assim a teoria de Weber onde a legitimidade só pode ser alcançada
pela legalidade puramente raciona perde força.
Com a segunda parte são abordados alguns fenômenos não previstos por Weber. Dessa forma, temos o
direito reflexivo, onde os juristas refletem sobre as leis e fazendo isso acabam recorrendo a preceitos morais para
50onsequ-las. Podemos falar ainda da marginalização dos litígios, pois as partes envolvidas podem fazer
contratos aproveitando brechas na lei e acabam tornando o processo bastante subjetivo. Os imperativos
funcionais, onde a criação de condições para um estado regulador acaba por pender para as preferências geradas
pelo dinheiro e poder, deixando de lado a razão. Por fim, temos a sucessão de legisladores, que tentam embutir
seus próprios padrões morais na lei. Para encerrar esse segmento do texto o autor ainda menciona a axiologia
das Constituições Federais existentes como uma prova de padrões morais presentes na lei.
O último texto deste segmento mostra como nossa sociedade aceita a legitimidade só através da
legalidade, sendo assim é preciso fundamentar esta legalidade. Já foram utilizados fundamentos como a
metafísica e a religião, mas atualmente estes não são mais aceitos. Assim se buscou a razão como fundamento
para nossa legalidade. Mas se de acordo com Max Weber a inserção da moral no direito retira sua razão e por sua
vez sua legalidade, podemos questionar o fato de a razão estar baseada na moral; afinal não retiramos os
padrões morais sociais do limbo.
A segunda parte do livro também é dividida em três partes. A primeira delas mostra como o sistema
jurídico não esta preso aos conceitos gerais da teoria de sistema. Isso acontece porque o direito tem uma
necessidade peculiar, que não ocorre na maioria dos sistemas, a de se adaptar constantemente e rapidamente às
mudanças que se desenrolam na sociedade como um todo. Afinal a norma jurídica tem lacunas que devem ser
preenchidas para manter a sociedade controlada e regulada.
Nesta próxima parte o autor busca mostrar o entrelaçamento do direito e da moral com a política. Ou seja,
expor que o direito não se coloca a serviço da política, pois se a política controlasse o direito a legitimidade
daquela seria comprometida pois este não teria poder para dar credibilidade, sendo o direito incorporado à
política. E a seguir vemos que o contrario também é impensável, pois a ideia de que o direito pudesse criar suas
próprias estruturas normativas pela razão também lesaria a legitimidade da norma jurídica.
Por fim, Habermas mostra o porquê da transformação do direito racional em estado jurídico. Uma
sociedade como a atual não pode se prender as estruturas formais presentes no direito racionalista. Os mercados
pedem uma maior agilidade por parte do ordenamento jurídico, assim se abre espaço para o direito subjetivo criar
as condições necessárias para tal agilidade. Os contratos privados ganham uma maior autonomia para preencher
as lacunas da legislação e dessa maneira a moral ganha um grande espaço no direito, pois os contratos privados
são subjetivos e a subjetividade é uma das manifestações mais claras da moral.

ARRASE NO ENEM
1. Assinale a alternativa falsa:
a) A ética do discurso de Jürgen Habermas desconsidera a guinada pragmático-linguística na filosofia
contemporânea e continua buscando justificações universalistas.
b) Habermas apresenta sua ética do discurso como sendo cognitivista, formalista e procedimentalista.
c) A ética do discurso de Habermas constitui-se, dentre outras coisas, de uma reformulação do imperativo
categórico kantiano, que passa a ser apresentado em termos pragmáticos onde o Ego transcendental é
substituído pela comunidade de comunicação.
d) O ideal de uma comunicação não coercitiva e igualitária está na base da justificativa filosófica da ética do
discurso de J. Habermas.
e) A ética do discurso de Habermas se baseia nas teses fornecidas por este mesmo pensador para a construção
do conceito de razão comunicativa

2. Assinale a alternativa verdadeira:


a) A ética do discurso de Habermas procura seu fundamento metafísico na teoria da história.
b) Para Habermas a linguagem é a fonte comum do conhecimento e da moral.
c) Para a ética do discurso seu maior aliado é o discurso cético sobre a moral.
d) Habermas defende que somente na pós-modernidade pode se situar uma moral libertária.
e) A ética do discurso de Habermas é um projeto compartilhado em total harmonia com o seu mestre, o filósofo
Karl-Otto Apel.

GABARITOS
1.A 2.B

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

AULA 13

MICROFÍSICA DO PODER
GOVERNO E PODER – FOUCAULT
Para Foucault, o poder é o que estrutura a sociedade e a mantém hierarquicamente organizada. É o
conjunto de poderes menores se exercendo continuamente no seu interior, quase imperceptível, que dá à
sociedade sua organização. Neste sentido, o poder do Estado é um dos importantes poderes existentes na
sociedade, uma vez que ele é fundamental para a organização e administração do Estado.
Quando observamos apressadamente o Estado – na sua forma constituída como aí está – nos escapa o
fato de que ele é resultado de inúmeras mudanças internas provocadas pelas lutas políticas que buscam se
afirmar hegemonicamente. Estas lutas são formadas a partir da disputa dos poderes.
Os modelos de governo ou formas de governar procuraram se afirmar neste jogo. As reivindicações da
sociedade desenvolvem uma lógica de necessidades ou demandas a serem atendidas pelo Estado e a arte de
governar apresenta-se como um conjunto de habilidades e compreensões acerca deste processo de
conhecimento ou saber sobre a sociedade e suas reivindicações. Isto pode ser traduzido como disputa de poder.
Este poder é uma governamentalidade, ou seja, um processo que se constitui historicamente, somando
administração, organização e saberes. Constrói-se um governo a partir do entendimento das questões que
envolvem uma população e a utilização de recursos técnicos para suas ações. Para o autor, a segurança é um
tema importante no sentido de conduzir rumo à formação de um governo.
A preocupação em governar, tendo como referência os indivíduos, apoia-se em um tripé: segurança,
população e governo constituído. Porém, ao longo da história os governos se voltaram para problemáticas
diferentes a cada época da existência do Estado, evoluindo na superação dos problemas e gerando um Estado
cada vez mais complexo.

A FORMA DE GOVERNAR MEDIEVAL


Se fizermos uma retrospectiva histórica, compreenderemos melhor a reflexão de Foucault a cerca do
problema: a forma de governo. Primeiro devemos compreender a seguinte proposição: governar e exercer poder
seguem a mesma orientação.
Deste modo, na Idade Média a questão do poder estava voltada para Deus e seus pressupostos
teocêntricos. Isto de certa forma alimentava a preocupação do Governo, uma vez que necessitava da cultura
teocêntrica para manter seu poder como Poder outorgado por Deus, ou seja, na Idade Média o poder terreno dos
reis se originava do poder divino.

Diz Foucault:
Certamente, na Idade Média ou na Antiguidade greco-romana, sempre existiram tratados que se
apresentavam como conselhos ao príncipe quanto ao modo de se comportar, de exercer o poder, de ser aceito e
respeitado pelos súditos; conselhos para amar e obedecer a Deus, introduzir na cidade dos homens a lei de
Deus, etc.
(FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. [Organização e tradução de Robert Machado]. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979, pág. 277).

A partir do século XVI, surge a concepção de bom governo ou bem governar, ou seja, a ideia de política
aparece associada a uma arte de governar, uma técnica ou um conjunto de procedimentos e compreensão sobre
a sociedade. A partir do século XVI até o final do século XVIII, vê-se desenvolver uma série considerável de
tratados que se apresentam não mais como conselhos aos príncipes, mas como arte de governar.
Deste modo, o governo é aquele que pode arrebanhar e conduzir seus súditos ao bem viver na sociedade
ou garantir a convivência. Introduz-se a ideia de coletividade.
O governo foca sua preocupação nos seus problemas internos e humanos. Com o Renascimento Cultural
a concepção antropocêntrica suplanta a teocêntrica. Portanto, a sociedade moderna, desenvolverá também uma
ideia moderna de homem e de governo. A arte de governar encontra-se voltada, também, para o aspecto terreno
das relações que os homens estabelecem.

A MENTALIDADE MODERNA
Nesse sentido, convém compreender a concepção de homem ocidental produzida pelo Cristianismo, a partir
do renascimento cultural. Segundo a historiadora de mentalidades Agnes Heller, no texto intitulado: ―Homem do
Renascimento, na introdução: Terá Havido um Ideal Renascentista do Homem?, nos dá a ideia de que o
renascimento cultural produziu um ideal de homem para a modernidade. Este ideal encontra-se fundado na
concepção de um homem dinâmico, isto é, a ideia de um homem capaz de conduzir-se no mundo com
referenciais que combinam dinamismo e eticidade cristã. Em outras palavras, um homem que pudesse mediar a
hipocrisia absoluta (proposta pela filosofia política de Maquiavel) e a ingenuidade absoluta (proposta pela filosofia
política platônica), sabendo que tanto o ingênuo quanto o hipócrita estão condenados ao fracasso, deveria,
portanto, este homem constituir-se de modo astuto para perceber diante de si a hipocrisia humana e ao mesmo
tempo não deixar-se levar ingenuamente, tendo a possibilidade de fazer suas escolhas com referência a um bem
e capaz de ir além das fronteiras geográficas e estabelecer relações políticas em projeções mundiais. Isto em
decorrência da complexidade vivida pela fase moderna, bem como o desenvolvimento econômico, da ciência e as
extensões territoriais e os aumentos populacionais no âmbito do Estado Moderno.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Consequentemente gerou-se dois problemas: de um lado, grandes Estados a serem administrados somados
à aquisição de uma corrida política colonialista; e de outro, processos diversos de organização do Estado para
atender esta demanda que se torna cada vez mais complexa.
Outra referência importante na ideia de constituição de governo, na fase moderna, assenta-se sobre as
orientações de Maquiavel, uma vez que, separado por um período na história, os objetivos do Estado e as
reivindicações por poder se constituem em aspectos semelhantes e amparam-se nas orientações dadas por
Maquiavel ao príncipe: O que se deu no contexto preciso da Revolução Francesa e de Napoleão, quando se
colocou a questão de como e em que condições se pode manter a soberania de um soberano sobre um Estado;
no contexto do aparecimento, com Clausewitz, da relação entre política e estratégia e da importância política,
manifestada por exemplo pelo Congresso de Viena, em 1815, que se atribuiu ao cálculo das relações de força
considerado como princípio de inteligibilidade e de racionalização das relações internacionais; finalmente, no
contexto da unificação territorial da Itália e da Alemanha, na medida em que Maquiavel foi um dos que procuraram
definir em que condição a unificação territorial da Itália poderia ser realizada.
Apesar de ser uma obra moderna O Príncipe, de Maquiavel, encontrou fortes oposições à sua proposição
política. Esta oposição diz respeito, prioritariamente, ao princípio de governabilidade que o mesmo dá ao monarca.
O governo nesta proposta se constituiria a partir dos seguintes aspectos: um governo imposto pela força ou
dominação de principados mais fracos; constituindo-se assim um governo exterior, estrangeiro e estranho ao povo
dominado; a Monarquia hereditária concebe um governante doado e não escolhido por qualidade dos seus súditos
e transcende o povoado uma vez que não há um pertencimento natural aos súditos e é um governo conquistado
por alianças, sendo estranho à organização interna do povoado.
Este conjunto de fatores torna o domínio do Príncipe fragilizado, uma vez que não estabelece relações mais estreitas
com seus dominados. Não se tem uma relação essencial que torna possível uma unidade administrativa. Não há confiança.
Todos podem se apresentar aparentemente como inimigo, uma vez que a relação entre eles não é natural e nem
garantida pela lei. ―(...) Na medida em que é uma relação de exterioridade, ela é frágil e estará sempre
ameaçada, exteriormente pelos inimigos do príncipe que querem conquistar ou reconquistar seu principado e
internamente, pois não há razão a priori, imediata, para que os súditos aceitem o governo do príncipe‖.
Desse modo, a unidade encontra-se comprometida. O domínio externo não garantiu uma unidade interna e
sim uma ameaça, uma oposição. Em outras palavras, o poder gera sempre o seu contrário: o contra-poder. Cabe
ao Príncipe nessas condições ficar sempre atento e vigilante para não lhe escapar o poder.
Desenvolver habilidades para garantir a duração de seu reinado e conservar-se no poder. Entretanto, a
oposição em relação a esta concepção de Maquiavel surge no sentido de diferenciar, para a reflexão moderna de
Estado e poder, a habilidade de conservar o poder com a arte de governar. ―O Príncipe de Maquiavel é
essencialmente um tratado da habilidade do príncipe em conservar seu principado e é isto que a literatura anti
Maquiavel quer substituir por uma arte de governar. Ser hábil em conservar seu principado não é de modo algum
possuir a arte de governar.
Desse modo, a arte de governar surge diante de uma necessidade de compreender melhor a política como
reflexão da ação e da organização dos homens em sociedade. Assim, devemos compreender que não existe mais
apenas um poder central exercido pelo Príncipe, e, sim múltiplos poderes onde o governante não é mais o
detentor exclusivo dele. A arte de governar é resultante de uma política mais científica e reflexiva que apresenta o
governante como mais uma parte deste poder que se organiza no interior do Estado ou da Sociedade. Por isso, a
arte representa uma técnica de governar.

A ARTE DE GOVERNAR: O EXERCÍCIO


DO PODER PELO SABER
O poder, como manifestação múltipla, está entrelaçado na sociedade, sendo a possibilidade dela se
estruturar hierarquizada e ordenadamente. Ele permite que a sociedade se organize e por meio da linguagem
pulverize o poder desde sua base até o seu ápice.

―(...) No fundo em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam,
caracterizam e constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer
nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso.
FOUCAULT, Microfísica do Poder, 1979, pág. 179.

Deste modo, o poder se encontra diluído em todas as esferas sociais, na família, nas instituições do
estado, nas instituições religiosas e educativas, econômicas, nas práticas culturais e, enfim, disseminada em toda
a extensão do corpo social.
Por isso, possuir a arte de governar está para além de ter uma habilidade. É necessário que a
―continuidade ascendente no sentido em que aquele que quer poder governar o Estado deve primeiro saber
governar, sua família, seus bens, seu patrimônio. É esta espécie de linha ascendente que caracterizará a
pedagogia do príncipe. Esta continuidade leva-nos a compreender que a arte de governar converge no sentido de
que em todas as esferas sociais constitui-se um governo diferente. Por exemplo, o pai de família exerce o governo
de sua casa; o padre exerce o governo na paróquia e de seus seguidores e o professor governa na sala de aula
seus alunos. Assim, eles exercem poder e por isso governam. Isto não implica, no entanto, que sejam esferas
autônomas e independentes dentro do Estado ou da Sociedade.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Ao mesmo tempo em que governam, são também governados na sua interação com outros membros da
sociedade. Um necessita do outro assim como, no corpo humano os membros agem em conexão com o cérebro.
É, também, um processo pedagógico que instrumentaliza toda a sociedade para esta relação de poder. Para
governar, é necessário primeiro aprender a governar a própria vida. É um processo determinado internamente na
relação que a sociedade estabelece com seus indivíduos, isto é, na relação privada da família por exemplo.
Depois se estende para outras esferas maiores e públicas. ―Quando o Estado é bem governado, os pais de
família sabem como governar suas famílias, seus bens, seu patrimônio e por sua vez os indivíduos se comportam
como devem. Este conjunto de relações e trocas faz surgir uma pedagogia política para imprimir um bom governo.
Entre o governo e o povo, governo e família é que surge a necessidade de se aprender a governar as diferentes
habilidades existentes na esfera do Estado, assegurando assim o funcionamento da sociedade como um todo da
relação de poder. Consequentemente, governar é pactuar. É governar e saber que deve ter um retorno e subordinar-
se a uma vontade maior, a vontade dos outros. É compreender que ninguém exerce o poder sozinho.
Está implícito nesta relação, que o poder de governar é baseado no consenso e outorgado pelo outro. Não
há poder de governar incondicionado ou transcendente. O poder de governar é fruto das relações empíricas que
os homens estabelecem. ―Para ser bom soberano, é preciso que tenha uma finalidade: ‗o bem comum e a
salvação de todos‘. (...) Só lhe será conferida autoridade soberana para que ele se sirva dela para obter e manter
a utilidade pública.
A finalidade do poder para o governo é a de aproximar-se de objetivos e interesses que se definem com a
ampliação da vontade comum que pretende defender. Em suma, o poder é um pacto, um acordo que – não se restringe
aqui a jurisdição, justiça ou lei – o soberano deve ter um propósito coletivo mais amplo, que englobe a população.
A arte de governar exige, nesta direção, que se vá para além das leis. ―Na perspectiva do governo, a lei
não é certamente o instrumento principal, (...) quando, economistas e fisiocratas dos séculos XVII e XVIII,
explicam que não é certamente através da lei que se pode atingir os fins de governo. Assim, é necessário para
bem governar, ter virtudes como: a paciência, a sabedoria e a diligência. Este conjunto de virtudes como
capacidade ou potência moral do homem que dará equilíbrio ao governante. A paciência é necessária para que a
força dê lugar à diplomacia, isto é, nem sempre é necessário utilizar armas ou força mesmo possuindo-as.
O conhecimento é fundamental para dar noção ou consciência daquilo que rodeia o governo, seu real
poder. ―O conhecimento das coisas, dos objetivos que deve procurar atingir e da disposição para atingi-los; é
este conhecimento que constituirá a sabedoria do soberano.

VIGIAR E PUNIR (FOUCAULT, MICHEL)


Michel Foucault apresenta em seu livro um resgate histórico sobre as penas aplicadas aos autores de
crimes. Ou seja, temos aqui um registro da evolução histórica da legislação penal e dos métodos já foram
adotados pelo poder público na repressão da delinquência.
Na primeira parte do livro, temos o papel do corpo dos condenados e a ostentação dos suplícios em praça
pública. Foucault afirma que, no início, as penas eram aplicadas ao corpo, sendo que a punição era visível no
corpo. Exemplo disso são os atos de punição em praça pública, para todos verem como o criminoso era castigado
e punido por seus crimes.
Porém, com o tempo, o conhecimento/saber foi sendo deslocado. Houve uma mudança quanto à forma de
aplicação das penas. Segundo Foucault (p. 13), a punição vai se tornando a parte mais velada do processo penal,
provocando várias consequências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata;
sua eficácia é atribuída à sua fatalidade não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o home do crime e não mais o abominável teatro; a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens.
Por isso, Foucault afirma que, por essa razão, a justiça não mais assume publicamente a parte de
violência que está ligada a seu exercício. O saber foi sendo deslocado para os especialistas. Ou seja, quem
passou a ter o poder eram os especialistas.
De acordo com o autor, a execução da pena vai se tornando um setor autônomo, em que um mecanismo
administrativo desonera a justiça, que se livra desse secreto mal-estar por um enterramento burocrático da pena.
Sendo que, o essencial da pena era: corrigir, reeducar e ‗curar‘.
Em relação ao suplício, era o espetáculo presente nas condenações medievais. Na modernidade, essa
forma de condenação desapareceu e, junto com ela, o domínio sobre o corpo. Para Foucault, o estilo penal
moderno está no âmbito da consciência abstrata.
O desaparecimento do espetáculo da punição física ocorreu no início do século XIX. No lugar do
espetáculo, surge a ‗sobriedade punitiva‘. Essa afirmação deve ser bem entendida, segundo Foucault. Houve
atrasos no cancelamento dos suplícios.
De acordo com o autor, as condições que possibilitavam estabelecer um julgamento como verdade eram:
determinar seu autor; aplicar-lhe uma sanção legal. Ou seja, conhecimento da infração, conhecimento do
responsável, conhecimento da lei. Essas eram as três condições que permitiam estabelecer um julgamento como
verdade bem fundada.
Todo o aparato desenvolvido em torno da aplicação das penas prolongou as decisões judiciárias muito
além da sentença, ou seja, ―levou os juízes a julgar coisas bem diversas do que crimes‘. E o poder de julgar foi
transferido de instâncias. Houve um deslocamento, uma requalificação pelo saber, o que gerou um novo poder de
julgar e, consequentemente, poder de punir.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Segundo o autor, é necessário investigar a mudança dos métodos punitivos do corpo nas relações de
poder do objeto. Essas relações revelam um poder imediato sobre o corpo, historicamente estudado no campo
patológico. Porém, de acordo com Foucault, o corpo também está diretamente mergulhado num campo político.
O autor lembra ainda que, nesse contexto, a definição de infrações mantém os mecanismos punitivos e
suas funções. A tecnologia da política do corpo é difusa; situa-se no campo da ―microfísica do poder; ou seja, se
posta em jogo pelos aparelhos e instituições. Essa microfísica supõe que o poder não é concebido como uma
propriedade, mas como uma estratégia. As relações de poder aprofundam-se dentro da sociedade (microfísica) e
não nas superestruturas. Há uma relação poder/saber que determinada as formas e os campos possíveis do
conhecimento.
Assim, quem passou a ter poder sobre o corpo do condenado, quem poderia dar o laudo, era o
especialista. A esses poderes, Michel Foucault chama de micropoderes, que se encontram espalhados até se
chegar a uma sentença. Nesse sentido, o saber dá o poder de dizer quem era o criminoso.
Como afirma Foucault, ―analisar o investimento político do corpo e a microfísica do poder supõe tratar do
corpo político como conjunto dos elementos materiais e técnicas que servem de armas, de reforço, de vias de
comunicação e de pontos de apoio para as relações de poder e de saber que investem os corpos humanos e os
submetem, fazendo deles objetos de saber.
Para Foucault, as práticas penais devem ser consideradas mais como um capítulo da anatomia política do
que como uma consequência das teorias jurídicas. Ele propõe fazer a história dos investimentos políticos
do corpo.
De acordo com o autor, o cerimonial judiciário deve trazer à luz a verdade do crime. Ou seja, os processos
penais correm em segredo absoluto; só os especialistas podem conhecer. Porém, o autor lembra que o
funcionamento do interrogatório é um suplício de verdade.
Numa visão geral, percebemos que Michel Foucault chama a atenção do leitor para a forma como o poder
de decidir sobre o castigo a ser adotado na punição dos 54onsequentem exige uma reflexão. A compreensão de
que a punição era corrigir, reeducar e ―curar‘ continua bem presente no Direito Penal moderno. Por isso, para
Michel Foucault, nos dias atuais, um juiz nunca julga sozinho. Até se chegar a um veredicto, há todo um
procedimento de julgamento que passa por laudos de vários especialistas: do médico, do psicólogo, do psiquiatra,
dentre outros.

ARRASE NO ENEM
1. O filósofo e teórico social Michel Foucault (1926-1984) dedica sua obra “Vigiar e punir” (1999) para o
entendimento das formas de controle social externas e internas. Segundo o autor, a construção do sujeito
dócil, útil e submisso à ordem estabelecida é possível apenas por meio de processos “disciplinadores”, nos
quais o corpo e a mente do sujeito são moldados de acordo com o que se pede no meio social. Para entender
esse fenômeno, Foucault voltou-se para a observação de instituições disciplinadoras, como a escola e os
quartéis, onde os indivíduos que ali permanecem vivem sob o controle da instituição.
Podemos concluir que, para Foucault, controle social é:
a) a forma de controlar a reprodução biológica de um grupo social.
b) a forma de estabelecer critérios em relação à reprodução humana em países superpopulosos.
c) um conjunto entre formas externas e internas de intervenção no comportamento do sujeito desviante.
d) um conjunto de regras que limita a interação entre indivíduos de classes e estratos diferentes em
sociedades estamentais.

2. As obras de Gilles Deleuze e de Michel Foucault estão ligadas à chamada


a) Arqueogenealogia.
b) Psicanálise.
c) Fenomenologia.
d) Hermenêutica.
e) Linguística

3. A partir do livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault, considere as seguintes afirmações a respeito da disciplina:
I. Ela é exercida de diferentes formas e tem como finalidade única a habilidade do corpo.
II. Ela pode ser entendida como a estratégia empregada para o controle minucioso das operações do corpo,
sendo seu efeito maior a constituição de um indivíduo dócil e útil.
III. Ela se constitui também pelo controle do horário de execução de atividades, em que o tempo medido e
pago deve ser sem defeito e, em seu transcurso, o corpo deve ficar aplicado a seu exercício.

De acordo com as afirmações acima, podemos dizer que:


a) Todas as afirmações estão corretas.
b) A afirmação I está incorreta.
c) Apenas a afirmação III está correta.
d) As alternativas II e III estão incorretas.
e) Apenas a afirmação II está correta.

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4. Michel Foucault, em Vigiar e Punir, apresenta duas imagens de disciplina: a disciplina-bloco e a disciplina-
mecanismo. Para mostrar como esses dois modelos se desenvolveram, o autor destaca dois casos: o
medieval da peste e o moderno do panóptico. Assinale, portanto, a alternativa INCORRETA:
a) A disciplina-bloco se estabeleceu com o esquema moderno do panóptico, uma vez que a disciplina –
mecanismo, desenvolvida no período medieval para resolver o problema da peste, estava em falência.
b) A disciplina-bloco se refere à instituição fechada, totalmente voltada para funções negativas, proibitivas
e impeditivas.
c) A disciplina-mecanismo é um dispositivo funcional que visa otimizar e tornar mais rápido o exercício do poder,
mediante o modelo panóptico.
d) É possível dizer que houve um processo de mudança da disciplina-bloco para a disciplina-mecanismo,
passando pelas etapas de inversão funcional das disciplinas, ramificação dos mecanismos e estatização dos
mecanismos disciplinares.
e) A disciplina-mecanismo tem como estratégia a vigilância múltipla, inter-relacionada e contínua, pela qual o
indivíduo deve saber que é vigiado e, por consequência, o poder se exerce automaticamente.

5. Na introdução ao segundo volume de sua História da sexualidade, Foucault apresenta a seguinte questão:
“por que o comportamento sexual, as atividades e os prazeres a ele relacionados, são objeto de uma
preocupação moral?”. (FOUCAULT. História da sexualidade 2)
Essa pergunta não pode ser respondida por uma pesquisa feita nos moldes de seus trabalhos anteriores a
respeito da loucura, da clínica ou da criminalidade, porque:
a) os métodos anteriores eram incapazes de fornecer os instrumentos necessários para analisar os modos
específicos de normatizar e de regular as condutas sexuais elaborados pelos antigos gregos e romanos em
suas leis e instituições religiosas.
b) é preciso diferenciar metodologicamente a interdição da problematização moral que tem por objeto o sujeito,
apesar de o cuidado ético a respeito da conduta sexual acompanhar, em sua intensidade e em suas formas, o
sistema de interdições.
c) os instrumentos dados pelos métodos anteriores eram inapropriados ao objeto e aos fins de uma história dos
comportamentos e das representações científicas, religiosas ou filosóficas, que os homens se fazem a
respeito do seu comportamento sexual.
d) os saberes a respeito das práticas sexuais, assim como os conjuntos de regras e normas que buscam regular
essas práticas, e que se apoiam sobre diferentes instituições, não são capazes de dar conta dos modos como
os indivíduos são levados a dar sentido e valor a sua conduta.

6. No contexto da discussão estética moderna e contemporânea, pode-se afirmar que:


a) para Kant, o conhecimento proporcionado pela arte se funda na subsunção das intuições sensíveis às
categorias do entendimento.
b) para Heidegger, a criação artística se dá no âmbito de um desvelamento, no qual a techné faz aparecer o ser
como ente, pondo a verdade em obra.
c) para Hegel, a atividade artística supera, dialeticamente, a religião e a Filosofia, por elevar o sensível a formas
abstratas de pensamento.
d) para Nietzsche, a arte realiza o niilismo da cultura ocidental, ao afirmar os valores fortes diante da fraqueza
dos artistas modernos.

7. “Esquematicamente, pode-se dizer que a reflexão moral da Antiguidade a propósito dos prazeres não se
orienta para uma codificação dos atos, nem para uma hermenêutica do sujeito, mas para uma estilização da
atitude e uma estética da existência.” (FOUCAULT. História da sexualidade 2)
Com essas palavras, Foucault ressalta um aspecto fundamental das éticas sexuais gregas e romanas, o fato
de que a base dos julgamentos de valor está:
a) no valor estético das condutas, e não em seu valor moral ou de verdade, uma vez que o anseio pela
imortalidade através do renome e da memória é o fundamento maior das éticas antigas.
b) na relação entre os desejos, os atos e os prazeres, na medida em que os atos revelam os desejos ocultos do
sujeito e são fomentados pelos prazeres cuja natureza pode ser boa ou má.
c) na atitude que o sujeito tem para consigo mesmo no exercício da atividade sexual e no relacionamento com os
outros, e não tanto nos atos que se cometem ou nos desejos que se escondem.
d) na forma e na beleza de uma conduta austera, definida segundo as interdições e preceitos sociais, civis ou
religiosos, conduta essa que é própria a um homem que domina a si mesmo.

GABARITOS
1. C 2. A 3. B 4. A 5. D 6. B 7. C

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

“Se muitas pessoas se interessam pela liberdade de expressão, ela existirá mesmo que a lei proíba. Se o
povo for inerte, minorias serão perseguidas, mesmo que a lei as proteja”. George Orwell

John Rawls e a justiça como 56onseque


John Rawls, considerado um dos mais ilustres filósofos do direito da segunda metade do século XX,
enfoca a justiça como 56onseque, tema principal das suas obras. O método rawlsiano é o equilíbrio reflexivo.
Considerando uma interpretação do seu pensamento a partir da ênfase no político restrito à estrutura básica da
sociedade e aos bens primários, Rawls propõe uma Constituição baseada no procedimentalismo puro, restrita às
questões políticas envolvendo os vários segmentos da sociedade, de uma forma racional e razoável, através de
um equilíbrio reflexivo, fazendo gerar um consenso sobreposto.
A concepção de ‘justiça como 56onseque’ pressupõe uma concepção política de pessoa como cidadão
livre, igual. Mas, em que sentido ocorre esta igualdade? Quando se pressupõe que as pessoas têm faculdades
morais, isto é, um senso de justiça e uma concepção do bem e, por este motivo, são capazes de cooperação
social. Portanto, uma concepção política da pessoa articula a idéia da responsabilidade pelas reivindicações com
a idéia da sociedade, que deve ser considerada um sistema 56onsequent de cooperação e de construção. Neste
sentido, não se pode supor que a concepção de pessoa seja metafísica, mas política.
Por conseguinte, a concepção de liberdade rawlsiana concebe o cidadão como razoável e racional,
associada à idéia de sociedade como um sistema 56onsequent de cooperação e, portanto, político. Isto ocorre
porque os cidadãos, autônomos, iguais e, 56onsequentemente, livres, consideram-se no direito de fazer
reivindicações às instituições, potencializando o alcance e o exercício das duas faculdades morais (‘concepção de
bem’ e ‘senso de justiça’). Neste sentido, deve-se levar em consideração: (a) o grau de engajamento que os
cidadãos devem ter na política para que suas liberdades básicas sejam garantidas e; (b) qual a melhor maneira
para consegui-las. Para tanto, a teoria da justiça como equidade deve levar em consideração tanto a ‘natureza
social’ quanto a ‘autonomia’ do cidadão. Por conseguinte, o que teoria pressupõe é que os cidadãos compartilhem
uma cidadania igual, que a liberdade igual seja pública e consensualmente estabelecida através de julgamentos
bem ponderados, tendo como mediação metodológica o ‘equilíbrio reflexivo’. Desta forma, a concepção política
deve combinar ideias e princípios bem conhecidos, mas conectados de maneira nova, considerando que a
sociedade é um sistema de cooperação equitativo entre pessoas que procuram garantir um consenso. Por
consequência, Rawls (1998, p. 210) afirma que o objetivo da justiça como equidade “não é nem metafísico nem
epistemológico, mas prático (...) é um acordo político informado e totalmente voluntário entre cidadãos que são
considerados como pessoas livres e iguais...”.

AULA 14
O contrato social segundo Thomas Hobbes
Entre os séculos XVI e XVIII, alguns intelectuais, a partir de perspectivas diferentes, entre eles, Thomas
Hobbes e John Locke afirmavam, basicamente, que tanto o Estado quanto a sociedade se organizaram a partir de
pactos ou contratos firmados entre os indivíduos para regulamentar o convívio social, superar as tensões e
conflitos e instaurar a ordem política.
Thomas Hobbes nasceu em 1588, na Inglaterra, e realizou seus estudos em Oxford, onde aprendeu filosofia
escolástica e grego. Ele abordou temas políticos, destacando-se como um filósofo do absolutismo, sistema político
predominante na época. Hobbes defendia que uma única pessoa, no caso o monarca, deveria concentrar todo o
poder. Para ele, os homens, em estado de natureza, são iguais quanto às faculdades do corpo (força) e do
espírito (inteligência) e quanto às esperanças de atingir seus fins, podendo desejar todas as coisas. Os fins são,
basicamente, a própria conservação e a sobrevivência, mas também podem ser apenas o deleite. Dominado por
suas paixões, desconhecendo as intenções e desejos dos outros, em relação a si próprio, o homem vive solitário,
em guarda, pronto a defender-se ou a atacar; quando desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo, os homens se
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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

tornam inimigos e lutam entre si em defesa de seus interesses pessoais. Daí fazer sentido sua máxima: “o homem
é lobo do homem”, pois para ele, o homem é um ser desejante que vive para satisfazer a si próprio.
O desejo, aliás, é um elemento fundamental da filosofia de Hobbes. A vida humana é uma procura inquietante
e desenfreada pela realização de desejos: é o desejo de continuar vivo, de viver bem, com conforto e segurança.
É também o desejo de ser feliz. Assim, o filósofo inglês discordava de Aristóteles e tantos outros filósofos antigos
e medievais, pois, para ele, não existe um estágio de felicidade em que o ser humano alcançaria a realização
plena. Ao contrário, pensava Hobbes que se o indivíduo
satisfaz o desejo momentâneo de se alimentar,
posteriormente terá outros desejos: o de ter uma casa
confortável, o de ter um trabalho com uma renda
excepcional, o de obter riquezas e assim por diante. O
desejo é insaciável, por mais que o satisfaçamos.

Considerando esta condição humana entendida


por Hobbes, imaginemos um período da história em que
não houvesse Estado nem sociedade, nem leis
organizadas, de forma que todos pudessem viver e fazer
aquilo que desejassem. Este seria o que Hobbes
entende por estado de natureza. Sem Estado nem
regras, nesse lugar somente poderiam subsistir dois
princípios que valeriam para todos: igualdade e defesa dos próprios interesses.
A busca pela satisfação pessoal, sem o limite das leis, certamente culminaria na satisfação do puro
egoísmo. E mais: para satisfazer seus desejos, o homem se permite, inclusive, a agir violentamente contra outros
homens. Assim, reinam a insegurança e o medo entre todos, pois nada há que possa impedir a violência de um
contra o outro. Por isso, o Estado de Natureza é um estado de guerra de todos contra todos.
Para Hobbes, é esse medo constante que origina a sociedade e o Estado. O medo é a causa principal do
pacto social entre os indivíduos. Para ter mais segurança, cada um aceita abrir mão de sua liberdade, cedendo o
direito natural de governar a si próprio para alguém ou alguma instituição maior, desde que os outros indivíduos
também façam o mesmo. Assim nasce o Estado, da decisão voluntária de cada um em trocar a liberdade pela
segurança. Se todos se submetessem a uma única autoridade, esta possuirá o poder para proibir os homens de
violentarem-se uns contra os outros. Portanto, a busca por segurança seria a razão principal de se criar um
contrato social.
O contrato social é o que viabiliza a convivência em sociedade, pois a partir dele se estabelece uma
pessoa ou assembleia para controlar o poder. Esse controle deve visar ao interesse comum e limitar os deveres e
direitos das pessoas. Antes do contrato social não há povo nem interesse comum, apenas uma multidão
desorganizada.
Depois do contrato social há um povo que aceita reduzir sua liberdade em troca de ordem e leis que
sirvam a seus interesses.

ARRASE NO ENEM
1. No capítulo XIV da primeira parte do “Leviatã”, Hobbes, coerentemente com sua compreensão mecanicista da
natureza humana, define a liberdade como:
a) o poder que o homem possui de preservar sua própria vida, fazendo, para isso, tudo que seu julgamento e
razão indicarem como meios adequados para tal fim.
b) o preceito ou regra geral da razão que obriga o homem a evitar tudo aquilo que pode destruir sua vida ou
privá-lo dos meios necessários para preservá-la.
c) a ausência de impedimentos externos, que podem limitá-la, mas não podem impedi-la de se exercer para
além de sua capacidade restritiva.
d) o direito do homem de usar todos os meios necessários para preservar sua própria vida e para buscar a paz,
sem a qual sua vida estaria em risco constante.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

2. “Desta guerra de todos os homens contra todos os homens também isto é consequência: que nada pode ser
injusto. As noções de certo e de errado, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar. Onde não há poder
comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. (...) A justiça e a injustiça não fazem parte das
faculdades do corpo ou do espírito.” (HOBBES. Leviatã. XIII)
“Nós estabelecemos anteriormente que todas as coisas são determinadas e que na Natureza não há bem nem
mal.” (ESPINOSA. Tratado breve. IV)
Sobre a existência em si mesma ou não de noções éticas, pode-se dizer que Hobbes e Espinosa
concordam que:
a) existem em si mesmas e devem ser inteligidas, como tais, pelos homens.
b) não existem em si mesmas e tampouco podem ser construídas pelos homens.
c) não sabemos se existem ou não, pois são inacessíveis ao intelecto humano.
d) não existem em si mesmas, mas são construídas pelos homens.

3. “Porque ao mesmo tempo o homem, por necessidade e tédio, quer existir social e gregariamente, ele precisa
de um tratado de paz e almeja que pelo menos o mais rude bellumomnium contra omnes [guerra de todos
contra todos] desapareça de seu mundo.” (NIETSCHE. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, § 1)
A opção que melhor indica a apropriação nietzschiana da expressão de Hobbes “guerra de todos contra todos”
é:
a) A guerra de todos os homens contra todos os homens tem como consequência a determinação ética e
epistêmica do que é injusto.
b) A inauguração de um poder comum e a efetivação das leis que regem a vida social dos homens impossibilitam
qualquer prática justa.
c) Mesmo em uma situação de guerra de todos contra todos, as virtudes cardeais da temperança e da justiça
não podem deixar de ter lugar.
d) O tratado de paz que ameniza ou finda aquela guerra traz consigo o que parece ser o primeiro passo para
alcançar um enigmático impulso à verdade.

GABARITOS
1. C 2. D 3. D

O CONTRATO SOCIAL SEGUNDO JOHN LOCKE


A reflexão política de Locke, escrita nos Dois Tratados sobre o Governo Civil, apresenta-se como uma
teoria que justifica a existência da propriedade privada como um direito natural, que não pode ser violado. E a
principal finalidade de se constituir um Estado e de se organizar um governo é a preservação da propriedade, da
qual, o cidadão somente poderá ser alienado mediante adequada indenização no valor de mercado da região e
sob a constatação legal da necessidade pública. Com o trabalho, o homem transforma a terra e dela se apropria,
assim como de outros bens. Com o surgimento e ampliação das relações de troca e o advento do dinheiro, criam-
se as condições de acumulação ilimitada de propriedade e de desigualdade entre os homens – os proprietários
cidadãos de um lado e os não cidadãos de outro. A propriedade se transforma, dada a sua importância no
pensamento liberal burguês, na garantia de afeição à coisa pública, pois o proprietário está interessado em sua
boa gestão. Ou como registra a Enciclopédia: “Todo homem que possui no Estado, é interessado no bem
do Estado”.
A situação de risco e insegurança gerada pela falta de leis que estabeleçam o justo e o injusto e instaurem
as condições para resolver as controvérsias causadas pela violação da propriedade leva os homens a se unirem.
A instauração do Estado a partir do contrato social se faz com base no consentimento, para que o corpo político
instituído exerça a função de garantir a vida, a liberdade e, principalmente, o direito natural à propriedade.
No Estado de Natureza, onde os indivíduos possuem liberdade natural, o homem se apossa de partes da
natureza, tendo como fim a produção para a sua conservação e a de seu grupo. É nesse momento, em que cada
indivíduo apropria-se daquilo que é necessário para subsistência, que se instaura o direito de propriedade. Desse
modo, Locke entende que o direito de propriedade precede o nascimento do Estado Civil, sendo esse um direito
natural e individual.
Locke estabelece que cada pessoa tem direito à propriedade que conquistar com o próprio trabalho, e que
seja necessário para sua sobrevivência, isto é, que não seja excessivo aquilo que o proprietário possa cuidar.
O direito à propriedade é um direito inalienável. Temos o direito de trabalhar com o nosso próprio corpo também.
O esforço desse trabalho gera bens, e esses bens se tornam nossas propriedades. Depois é necessário proteger
a propriedade, e, para isso, transfiro esse poder, mediante um contrato social com os demais indivíduos, a uma
esfera superior que é capaz de julgar imparcialmente possíveis conflitos.
Em síntese, o ser humano, para Locke, aceita submeter-se a viver em sociedade para, acima de tudo,
defender a sua propriedade, o seu interesse.
Uma diferença entre Hobbes e Locke no que se refere ao conceito de Estado, é que para Locke, até o
governante deve se submeter às leis instituídas como qualquer outro cidadão, enquanto que para Hobbes, o
governante é um monarca absoluto em cujas mãos todo o poder se centraliza, portanto, não deve se submeter às
leis como qualquer indivíduo da sociedade.

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CAPÍTULO 15

O contrato social segundo Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau nasceu em 1712, em Genebra, na Suíça. Esse filósofo abordou diversas
temáticas, entre as quais a política e a educação. Sua principal obra é O Contrato Social. Nela são expostos seus
pensamentos sobre a natureza humana, a distinção entre Estado de Natureza e Estado Civil, a diferenciação entre
a vontade de todos e a vontade geral, além da importância dos direitos e deveres para uma adequada condução
da sociedade.
Rousseau possui uma visão diferente de Hobbes acerca do Estado de Natureza, aproximando-se de
Locke. Para Rousseau, o homem é bom por natureza. Nesse estado, ele possui liberdade e igualdade. Liberdade
porque nessa condição o homem não depende de mais ninguém a não ser de si mesmo para obter alimentos e
tudo aquilo que é necessário para a vida. Igualdade porque todos nascem com as mesmas condições e
oportunidades. Assim, em seu Estado de Natureza, o ser humano é íntegro e justo. Sua maldade é decorrente de
um desequilíbrio provocado por problemas sociais, ou seja, o homem, apesar de bom, é corrompido
pela sociedade.
Esse desequilíbrio se dá com a introdução da propriedade privada na sociedade. A partir dela, os homens
passam a lutar uns com os outros pela posse dos bens, gerando inveja, violência e desigualdade social. Com isso
passa-se do Estado de Natureza para o “estado civil”. Nesse último, o homem vive sob as leis despóticas e
injustas e sob os olhares da moral social.
Nesse momento, o homem sente que a liberdade e a igualdade, direitos naturais de cada indivíduo, estão
ameaçadas diante dos males introduzidos pela desigualdade social. É preciso, então, uma solução que possa
remediar os riscos causados. Para Rousseau, a saída é a instauração do Contrato Social.
A função do contrato social é criar o Estado Civil, no qual os homens podem proteger a liberdade e
igualdade que possuem por natureza. A união de forças e interesses será sempre elemento determinante no que
se refere ao contrato social.
Portanto, o contrato social não é instituído por uma soma de indivíduos, mas pelo consenso geral entre
todos. É o próprio povo que aceita criar leis e instituições e eleger pessoas para representá-lo no poder, com a
condição de que estes sirvam ao interesse geral. Destaca-se, também, que a vontade geral não consiste em
unanimidade, mas em um consenso que seria adequado para o bem da coletividade.
Rousseau ainda ressalta que mesmo com a maioria do povo opinando, não há segurança de que se está
em harmonia com a vontade geral, ou seja, com aquilo que seria melhor para a coletividade. É nesses casos que
o povo erra quando escolhe mal um representante público. O que fazer diante disso?
O imperativo no contratualismo de Rousseau é a prevalência de uma ordem que mantenha o povo como
detentor do poder no centro das atuações. Desse modo, a soberania encontra-se com o povo, e não com o
monarca. Em síntese: o povo institui leis e representantes para governar para o próprio povo. Os homens criam
leis para não precisarem de senhores os governando. Com isso, se o governante não cumpre as leis e não
governa conforme os interesses do povo, mas conforme os seus interesses, ele deverá ser substituído, pois nada
mais é que um funcionário do povo, ainda que seja um monarca.

ARRASE NO ENEM

1.
"É evidente por que razão o homem é animal político mais do que toda a abelha ou mais do que todo o
animal gregário. Com efeito, como dizemos, a natureza não faz nada em vão. E dos animais somente o homem
tem a palavra. (...) O discurso [do homem] é para tornar claro o que convém e o que é prejudicial, como também o
que é justo e o que é injusto. Ao comparar os homens aos outros animais, vê-se que isso lhes é próprio: ter a
sensação do bem e do mal, do justo e do injusto, e de outras. O conjunto dessas sensações (aisthéseis) é que faz
a família e a cidade-estado".
(Aristóteles, Política, I)

"Deus, tendo criado o homem como um ser sociável, criou-o não apenas com uma disposição e uma
necessidade de relacionar-se com outros indivíduos de sua espécie, mas o fez dotado de linguagem, como o

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grande instrumento e elo comum da sociedade." (LOCKE. Ensaio sobre o entendimento humano, III, 1, 1).
A partir dos textos acima, pode ser apontada como uma tese comum a Aristóteles e a Locke:
a) A linguagem é condição da dimensão política do homem.
b) A linguagem é consequência da dimensão política do homem.
c) Natureza ou Deus cuidam providencialmente do convívio social do homem.
d) Natureza ou Deus diferenciam homens e animais por sua capacidade sonora.

GABARITOS
1. A

O PENSAMENTO POLÍTICO DE NICOLAU MAQUIAVEL


Nascido em Florença, Itália, Maquiavel foi um dos grandes responsáveis pela noção moderna de poder.
Em Maquiavel também encontramos uma renovação do sentido e da relação entre ética e política. Desta forma,
muito folclore se construiu em torno de seu nome e de sua pessoa, principalmente pela interpretação precipitada
que se fez muitas vezes de seu pensamento. Maquiavel foi compreendido como alguém imoral e desprovido de
quaisquer valores. Por isso, a perspectiva do termo “maquiavélico” é sempre pejorativa. Mas, seria Maquiavel
digno desta fama? O que ele pretendia? Vamos por partes.
Maquiavel choca por fazer uma análise do homem considerando-o a partir de uma de suas facetas, a do
egoísmo. Se para Aristóteles e para o pensamento greco - cristão no geral o homem buscava a vida em
sociedade, o bem viver como algo natural, para Maquiavel os homens tendem à divisão e à desunião.
Maquiavel era um homem do seu tempo, do Renascimento. Homem de ideias políticas, procurou entender
a natureza e os limites do poder político. Maquiavel contemplou uma realidade: a realidade da sua Itália, dividida,
fragmentada em diversos principados e ducados. Numa constante briga pelo poder e, inevitavelmente,
alternâncias constantes dos governantes, a Florença de Maquiavel refletia o que ocorria também com as demais
cidades italianas importantes do período. Para ele não se apresentava logicamente o ideal cristão, mas sim algo
que lhe seria entendido como próprio do homem, a luta pelo poder. Por isso, os homens mentiam, matavam e
julgavam-se acima da moral.
Contudo, Maquiavel considera a necessidade de governantes bons e virtuosos. Para ele a diferença está
em que a bondade e a virtude não pertencem à natureza humana do governante, mas resultam da sua
compreensão e atuação sobre o real. Sem preocupar-se em desenvolver teorias, como fizeram outros
pensadores, Maquiavel avalia a realidade e interpreta os seus escritos como compêndios de conselhos práticos e
de instruções para a ação. Por isso, influenciar a realidade, e não desenvolver teorias é o seu propósito.

O PRÍNCIPE
O "Príncipe" é provavelmente o livro mais conhecido de Maquiavel e foi completamente escrito em 1513,
apesar de publicado postumamente, em 1532. Teve origem com a união de Juliano de Médici e do Papa Leão X,
com a qual Maquiavel viu a possibilidade de um príncipe finalmente unificar a Itália e defendê-la contra os
estrangeiros, apesar de dedicar a obra a Lourenço de Médici II, mais jovem, de forma a estimulá-lo a realizar esta
empreitada. Outra versão sobre a origem do livro, diz que ele o teria escrito em uma tentativa de obter favores dos
Médici, contudo ambas as versões não são excludentes.
Está dividido em 26 capítulos, apresentando no início os tipos de principados existentes e expõe as
características de cada um deles. A partir daí, defende a necessidade do príncipe de basear suas forças em
exércitos próprios, não em mercenários e, após tratar do governo propriamente dito e dos motivos por trás da
fraqueza dos Estados italianos, conclui a obra fazendo uma exortação a que um novo príncipe conquiste e
liberte a Itália.

ÉTICA E POLÍTICA
Ao fazer a análise da realidade, Maquiavel distingue a moral individual da moral política. A atitude do
indivíduo não é necessariamente a atitude do chefe de Estado. Se para um indivíduo a ação moral é de decisão
particular, para o monarca, por exemplo, é necessário pesar em que isto implicará para o Estado. Não há uma
exclusão entre ética e política, mas a primeira deve ser entendida a partir da segunda. Uma das implicações disto
é a de que os valores morais só possuem sentido a partir da vida social, apresentando-se como momentos de
uma luta que está na raiz do poder e lhe dá sentido. Com isto Maquiavel está afirmando que temos virtudes que
podem arruinar um Estado e vícios que podem salvá-lo o que, na análise moral tradicional seria condenável, mas
na “ética política” poderia ser plenamente aceitável. Logicamente, tais questões dependeriam das circunstâncias e
das forças em luta.
Podemos perceber em Maquiavel a proposta de uma nova ética, com um novo conceito de virtude, voltada
mais para a política e não para o ideal moral do pensamento medieval. É uma moral prática, que olha para o bem
do Estado e se apresenta inversa à perspectiva tradicional. Por isso, voltando à questão da virtude que pode ser
“prejudicial” e do vício que pode ser “bom”, podemos compreender que uma generosidade excessiva, por
exemplo, poderia levar o Príncipe à ruína financeira e os súditos a sentirem-se oprimidos, o que suscitaria o ódio.
Por outro lado, a sobriedade, que seria identificável com a avareza, tornando a figura do Príncipe
antipática, possibilitaria gestos de grandeza e prodigalidade que, com certeza, seriam reconhecidos pelos súditos
sem que estes se sentissem oprimidos e tão pouco descontentes. Por isso, para Maquiavel, há uma distinção

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

entre os espaços da moral e da política. Isto não significa que se pode “fazer o que se quer”, de qualquer modo,
sem sentido algum. A máxima segundo a qual “os fins justificam os meios” tem uma implicação muito mais
coerente e profunda. Ser acusado de crueldade não deve ser o temor do Príncipe, desde que tal atitude seja
necessária para unificar o povo e manter a paz.
Maquiavel tem uma visão do homem de como ele é e não de como deveria ser, necessariamente. Para
ele, certamente, devemos olhar para o real e não para o ideal moral. Por isso, Maquiavel trata da questão da virtù
e da fortuna.
A virtù refere-se à capacidade de decidir diante de determinada situação, cuja necessidade deve-se à
fortuna. O agir pressupõe a compreensão da natureza humana, assim entendida por Maquiavel: os homens
buscam quem lhes proporcione vantagens, melhorias. Atribuem este papel e responsabilidade ao governante.
O conceito de fortuna para o filósofo em questão, também é retomado dos antigos. Ele recorre à imagem
da deusa fortuna, possível aliada dos homens e cuja simpatia era importante atrair.
Fortuna, portanto, não está relacionado à sorte ou predestinação, mas sim ao exercício da virtùno mais
alto grau. É aproveitar a ocasião dada pelas circunstâncias para amoldar as coisas como melhor aprouver
ao virtuoso.
O sucesso ou fracasso do Príncipe, para Maquiavel, não depende da sorte, mas do modo como ele age
nas circunstâncias. Tendo métodos adequados e caminhos seguros, prevenindo-se para os possíveis
desencontros, o homem dotado de virtù pode conquistar a deusa.

ESTADO
Para Maquiavel, o conflito que existe entre os homens é o que fundamenta a ação política. Tendo em vista
a liberdade, exige-se a administração dos conflitos, de tal modo que não se permita o crescimento do poder de um
determinado grupo em detrimento de outro, o que levaria à perda da liberdade. Para Maquiavel, os homens não
desejam a liberdade do mesmo modo e também a liberdade é objeto de uma paixão. Alguns querem liberdade
para estar seguros e outros para dominar. Por isso, tudo o que é capaz de unir os homens e de subtraí-los ao
temor que eles se inspiram mutuamente é, portanto, um bem; a política é sua prática, pois se trata de uma arte
cujo objetivo é garantir para sempre a tranquilidade do Estado e a felicidade das pessoas.
Maquiavel alerta que nenhum Estado deve crer que pode sempre seguir uma política segura, mas ao
contrário, deve pensar que todos os caminhos são duvidosos.

ARRASE NO ENEM

1. Nicolau Maquiavel foi diferente dos teólogos medievais e de seus contemporâneos ao fundamentar as suas
teorias políticas porque partiu:
a) da Bíblia para fundamentar as suas teorias políticas.
b) do direito romano para a construção do seu pensamento político.
c) porque partiu das obras dos filósofos greco-romanos para construir a sua teoria política.
d) da experiência real do seu tempo para fundamentar o seu pensamento político.

2. Segundo O príncipe, de Maquiavel, toda cidade está dividida em dois desejos opostos:
a) o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado.
b) o desejo do povo de ser bem guiado e o desejo dos grandes em ser um bom pastor para o povo.
c) o desejo do povo por um herói que os salve e a falta de vontade dos grandes em serem heróis do povo.
d) o desejo dos grandes em oprimir e comandar e o desejo do povo em participar um dia dessa opressão.

3. Acerca do pensamento político de Maquiavel, assinale a alternativa INCORRETA.


a) Maquiavel era um defensor da burguesia e na sua obra afirmou que a melhor forma de governo era a
Monarquia.
b) A filosofia política de Maquiavel tinha como modelo as ciências naturais que estavam em plena descoberta
(física, medicina, etc.), estabelecidas por Galileu e com o próprio ideal renascentista de domínio da natureza.
c) Para Maquiavel, se há uniformidade nas leis gerais das ciências naturais, também deveria haver para as
ciências humanas. Isso seria necessário para manter a ordem dentro do Estado burguês então nascente, que
precisava desenvolver suas atividades e prosperar.
d) O Renascimento trouxe uma série de inovações no campo cultural. Uma delas foi desenvolvida por um autor
italiano, Maquiavel, que procurava fundamentar uma filosofia política tendo em vista a dominação
dos homens.

4. Analise os itens a seguir referentes à Obra de Maquiavel.


I. Para Maquiavel, o Estado está surgindo como uma organização de dominação e como expressão máxima
da violência. O Estado é a única organização cuja ação mobiliza todos, visto que dispõe de todos os
meios e bens materiais de gestão e coação.
II. Foi o primeiro grande pensador moderno e precursor da ciência política.

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III. O Príncipe é colocado no plano das paixões entre o ser amado e temido. O desejo de poder é algo que se
coloca muitas vezes de modo insaciável, requer certa precauções, como o temor ao desprezo e ao ódio.
Por outro lado, Maquiavel, ao colocar a exploração no plano político onde os grandes têm o desejo de
dominar e governar, nos remete a uma relação de antagonismo e de complementaridade. Uma boa
sociedade em tal perspectiva seria aquela que procura se consolidar e onde o "poder" do Príncipe é algo
que emana da própria sociedade.
IV. A perspectiva de Maquiavel aponta que a política não comporta voluntarismos, posto que a ação do
homem em Maquiavel é marcada pelo cálculo e pelas circunstâncias que permitem a ação política.
Fortuna e virtú são meios e fins da ação política, nos aponta Maquiavel, sendo a virtù a capacidade,
qualidade de força social, de realização de uma razão calculada, e a fortuna, a ocasião concreta para a
realização da ação política do homem dotado de virtù. É a circunstância que permite a eficácia da
iniciativa política.

Assinale a opção que indica os itens corretos.


a) I, II e IV
b) II e IV
c) I, II e III
d) Todos os itens são corretos.

5. Maquiavel inaugura o pensamento político moderno. Seculariza a política, rejeitando o legado ético-cristão.
Maquiavel tem uma visão do homem e da política como elas são e não como deveriam ser. A política deve
ater-se ao real, deve preocupar-se com a eficiência da ação e não teorizar, como fazia Platão, sobre a forma
ideal de governo. Assinale o que for correto.
01) Para Maquiavel, o príncipe virtuoso é aquele que governa com justiça, estabelecendo, entre seus súditos,
a igualdade social e uma participação político-democrática.
02) Maquiavel redefine as relações entre ética e política,não julga mais as ações políticas em função de uma
hierarquia de valores dada de antemão, mas em função da necessidade dos resultados que as ações políticas
devem alcançar.
04) Maquiavel faz a apologia da tirania, pois considera ser a forma mais eficiente de o príncipe manter-se no
poder e garantir a segurança da ordem social e política para seus súditos.
08) Na concepção política de Maquiavel, não há uma exclusão entre ética e política, todavia a primeira deve
ser entendida a partir da segunda. Para ele, as exigências da ação política implicam uma ética cujo caráter é
diferente da ética praticada pelos indivíduos na vida privada.
16) Para Maquiavel, a sociedade é dividida entre os grandes, isto é, os que possuem o poder político e
econômico e o povo oprimido. A sociedade é cindida por lutas sociais, não pode, portanto, ser vista como uma
comunidade homogênea voltada para o bem comum.

GABARITOS
1. C 2. A 3. A 4. D 5. 02 + 08 + 16)

CAPÍTULO 16

Simone de Beauvoir
Simone de Beauvoir, nasceu na cidade de Paris, capital da França, em 09 de janeiro de 1908 e faleceu na
mesma cidade em 1986. Considerada um ícone do feminismo, também é uma das principais representantes
do movimento existencialista francês do século XX, ao lado do filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980), com quem
estabeleceu uma peculiar relação de amizade, amor e troca intelectual de grande relevância.
Ao analisar os processos de formação social entre homens e mulheres, Simone de Beauvoir identificou uma
multiplicidade de instrumentos e mecanismos que construíram e “naturalizaram” grande diferenciação e
hierarquização entre homens e mulheres, sempre em prejuízo dessas últimas. Compreendendo a extensão dessa
desigualdade e os inúmeros problemas daí decorrentes, a filósofa desenvolveu estudos e argumentos que deram
conta de novos saberes que produzissem novas configurações sociais. Por meio de sua produção, em especial,
sua célebre obra “Segundo Sexo” (1949), Simone se tornou um marco dentro do movimento feminista, rejeitando o
tradicionalismo da formação e da moral religiosa dentro da qual foi educada e abordando temáticas inéditas até
aquele momento, tanto em âmbito social quanto acadêmico. A referida obra traça uma profunda análise sobre o
papel designado à mulher dentro da sociedade e sobre a construção do que é ser mulher, estabelecendo uma
importante distinção entre os conceitos de gênero e sexo que a leva a sua clássica conclusão, a de que “Ninguém
nasce mulher: torna-se mulher”, acrescentando que “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a
forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado, que qualificam de feminino”. Em outra produção, intitulada “A
Convidada” (1943), Simone já havia abordado a degeneração das relações entre homens e mulheres, revelando
um traço característico do seu fazer filosófico, a saber, um profundo comprometimento intelectual com seu tempo

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e com sua sociedade, acentuando, assim, importantes princípios da filosofia existencialista. Segundo a filósofa, a
humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele, tornando-a, assim, um
ser condicionado, não autônomo. A partir dessa abordagem, Beauvoir analisa e critica a hierarquização social do
gênero masculino sobre o feminino.

Para saber mais. Coletânea de mulheres extraordinárias:

Arte: Frida Kahlo (1907-1954) Em seu diário, publicado em 1995 e traduzido para
diversas línguas, e em sua autobiografia publicada em 1953, Frida deixou registradas
suas dores e sobretudo suas frustrações pela infidelidade do marido, por quem era
extremamente apaixonada, e pela impossibilidade de ter filhos. Toda sua obra,
constituída majoritariamente por autorretratos reflete essa condição. Sua primeira
tragédia acontece quando ela tinha seis anos e uma poliomielite a deixou de cama
por vários dias. Como sequela, Frida fica com um dos pés atrofiado e uma perna mais
fina que a outra. Mas o fato trágico que mudaria sua vida para sempre aconteceu
quando ela tinha dezoito anos. Frida na época estudava medicina na primeira turma
feminina da escola Preparatória Nacional. Então, no dia 17 de setembro de 1925, na volta para casa, ela e seu
noivo Alejandro Goméz Arias, sofreram um grave acidente de ônibus que a deixou a beira da morte.
Transpassada por uma barra de ferro pelo abdômen e sofrendo múltiplas fraturas, inclusive na coluna vertebral
Frida levou vários meses para se recuperar. Ao todo foram necessárias 35 cirurgias e mesmo depois da
recuperação ela teria complicações por causa do acidente pelo resto de sua vida chegando a relatar : “E a
sensação nunca mais me deixou, de que meu corpo carrega em si todas as chagas do mundo.” Fonte e
texto completo:
http://www.infoescola.com/biografias/frida-kahlo/

Ciência: Marie Curie (1867-1934) Foi uma física e química polonesa. Apesar de
ser uma excelente aluna na escola, ela foi impedida de entrar no ensino superior
regular, que só aceitava homens. Ela lutou contra o preconceito e tornou-se uma
cientista genial. Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a primeira
pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes.

Matemática/Computação: Ada Lovelace (1815-1852) É considerada a


primeira programadora do mundo, muito antes da nossa ideia atual de
computador pessoal existir. Nasceu em 1815, no Reino Unido, e era filha de
Lorde Byron, a única filha legítima do escritor com sua esposa Anne Isabella.
Cresceu em um ambiente de lógica e de estudos matemáticos e logo seus
talentos com os números a aproximaram do inventor Charles Babbage.
professor e inventor. Os estudos dos dois permaneceram quase esquecidos,
até que as anotações de Lovelace foram republicadas e se tornaram
essenciais para inspirar o trabalho de Alan Turing sobre os primeiros
computadores modernos na década de 1940.

História/Brasil: Maria Quitéria de Jesus (1789-1853) Foi uma militar


brasileira, heroína da Guerra da Independência. Teve que se disfarçar de
homem meses antes para poder lutar contra os portugueses nas batalhas
travadas na Bahia. É considerada a primeira mulher a assentar praça numa
unidade militar das Forças Armadas Brasileiras e a primeira mulher a entrar
em combate pelo Brasil, em 1823.

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História/Brasil: Anita Garibaldi (1821-1949) Companheira do


revolucionário Giuseppe Garibaldi, Ana Maria de Jesus Ribeiro, a Anita
Garibaldi, é conhecida como a Heroína dos Dois Mundos. Após se apaixonar
pelo revolucionário, a catarinense se entregou aos ideais democráticos e
liberais, aprendeu a lutar com espadas e usar armas de fogo, convertendo-se
em uma guerreira que o acompanharia em todos os combates. O casal
participou de uma batalha em Curitiba, que resultou em uma fuga de ambos
para Montevidéu. Anita morreu em San Martino, no Uruguai, de febre tifóide e
foi enterrada na colina de Gianicolo, em Roma, onde Garibaldi e sua esposa
são homenageados com estátuas.

História/Rússia: Valentina Tereshkova (1937-) Foi a primeira mulher a


viajar para o espaço, em 16 de junho de 1963. Ela encarnava o ideal soviético
completamente. Nasceu em uma família comunista de trabalhadores operários
e rurais na Rússia. Seu pai era motorista de trator e, sua mãe, funcionária de
uma fábrica têxtil. Desde cedo, a jovem já curtia se aventurar - e esse foi um
dos fatores determinantes para a sua escolha. Por gosto, começou a participar
de um clube de paraquedistas amadores e deu seu primeiro salto aos 22 anos.

Arte/França: Coco Chanel (1883-1971) Agradeça a Gabrielle Bonheur Chanel


por poder usar suas calças compridas e seu vestidinho tubinho. A estilista
francesa inverteu os padrões da moda nos anos 20 e conseguiu atribuir ao
vestuário feminino, peças masculinas e roupas que valorizam as curvas. Para
completar, lançou o clássico perfume Chanel nº5 (seu número da sorte) e o corte
acima dos ombros.

História/Brasil: Maria da Penha Maia Fernandes (1945 - ...) Por trás de um nome simples está uma das
mulheres mais importantes da história recente do Brasil. Maria da Penha Maia Fernandes é líder de movimentos
de defesa dos direitos das mulheres e vítima de violência doméstica — ficou paraplégica ao levar um tiro do
marido enquanto dormia. O nome dela virou Lei em 2006, estabelecendo o aumento
das punições às agressões contra a mulher e uma série de medidas para proteger a
integridade física e psicológica de mulheres vítimas de violência.

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HEGEL

A vida de Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi integralmente dedicada à carreira acadêmica. Nasceu em
Stuttgart (Alemanha) em 1770. Até a juventude recebeu a educação protestante, o que influenciou na primeira
fase de sua carreira, predominante em estudos teológicos. Formou-se na Universidade de Tübingen, onde foi
amigo do filósofo Shelling e do poeta Hölderlin. Neste período cultivou enorme interesse pelos clássicos da
filosofia e da literatura grega. Acompanhou com grande entusiasmo os acontecimentos da Revolução Francesa e
das grandes conquistas de Napoleão Bonaparte, pela qual nutria grande admiração. Depois seguiu carreira de
professor lecionando em várias universidades. Começou a trabalhar como preceptor particular até que, em 1801,
a convite de Schelling, mudou-se para Jena, a cidade culturalmente mais viva da Alemanha. Tornando-se
professor universitário, galgou todos os degraus da carreira até tornar-se, a partir de 1818, titular da prestigiosa
cátedra de filosofia da Universidade de Berlim, obtendo amplo consenso até sua morte.
Embora tenha produzido obras desde jovem, a carreira de Hegel tem seu apogeu com os seus trabalhos
de maturidade, com a Fenomenologia do Espírito e depois pela Ciência da Lógica, Enciclopédia das Ciências
Filosóficas e Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito.

Protestantismo: é a denominação conferida a um dos ramos do cristianismo. Teve seu início com Martinho
Lutero no século XVI, quando este publicou 95 teses questionando determinados preceitos utilizados pela
Igreja Católica.
Friedrich Wilhelm Joseph vonSchelling(1775-1854) foi um dos representantes do Idealismo Alemão, assim
como Hegel.
Revolução Francesa: nome dado às movimentações políticas ocorridas entre 1789 e 1799, na França. Tiveram
início com a queda da Bastilha e a tomada de poder pela população. Terminaram com o golpe de Napoleão
Bonaparte para a tomada do poder em 1799.
Johann Christina Friedrich Hölderlin (1770-1843) foi um poeta e romancista alemão que teve como um dos
principais temas de seus trabalhos as tragédias gregas.

O pensamento de Hegel é muito amplo e complexo, pois o filósofo ousava construir um verdadeiro sistema
que englobasse todo o saber, da metafísica (lógica) à ética. Não sem razão, Hegel é conhecido como o filósofo
que tentou pensar o Absoluto. De sua densa filosofia, bastante célebre ficou a sua concepção de dialética.
Não há como ler Hegel sem apreender a sua estrutura dialética. Hegel parece escrever em movimento, de
modo que uma seção da obra suspende a seção anterior e depois é suspendida pela seção seguinte. Cada parte
engendra a parte seguinte. Para Hegel a verdade não está aqui ou ali, neste ou naquele conceito, mas na
totalidade do movimento que suspende concepções anteriores e gera novos conceitos.
Essa é a noção de dialética que ficou famosa posteriormente como tese, antítese e síntese. Primeiro há a
tese, apresentada em um argumento; depois a antítese, que é a negação do argumento anterior. Por fim, há a
síntese que suspende a antítese gerando nova tese. E, daí em diante, trata-se de um processo cíclico infinito
ascendente. Será possível exemplificar melhor essa estrutura quando comentarmos parte da obra hegeliana.
Antes, um dado importante: quando dizemos que a antítese suspende a tese e que a síntese suspende a
antítese, esse “suspender” não significa eliminar, aniquilar. Suspender é a tradução do termo alemão aufhebung,
utilizado pelo filósofo, que contém dois elementos: conservar e atualizar. Ou seja, cada novo dado contém em si o
anterior, atualizando-o.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO
O prefácio da obra apresenta o objetivo da Fenomenologia do Espírito:
“A tarefa de conduzir o indivíduo, desde seu estado inculto até o saber, devia ser entendida em seu
sentido universal, e tinha de considerar o indivíduo universal, o espírito consciente de si em sua
manifestação cultural.”
(HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 2005)
Entrelaçam-se duas propostas:
a) Hegel apresenta nesta obra o percurso que o indivíduo dever realizar para sair do seu estágio mais inculto até
o Saber Absoluto. Trata-se, portanto, de um trabalho de formação humana.
b) As menções ao “indivíduo universal” e “manifestação cultural” indicam que Hegel também está preocupado
com a formação cultural da sociedade como um todo, ou seja, da humanidade em geral e não apenas do
indivíduo singular.
A Fenomenologia do Espírito, tal como a filosofia hegeliana em geral, consiste em dialética. A Ciência
da Experiência da Consciência é a dialética da consciência do estágio mais primitivo até a Razão.
Fenomenologia porque é o estudo do fenômeno, em uma acepção próxima àquela de Kant. Fenômeno é
aquilo que se manifesta, que aparece. A Fenomenologia, então, é o movimento pelo qual a consciência vai
superando suas várias fenomenologias, de modo que possa surgir a essência para além dos fenômenos.
O primeiro estágio é a Consciência. Aqui o indivíduo quer entender o mundo. É a atitude intelectual de
observar os fenômenos, descrever suas características tal como fazem os cientistas, buscando definir leis,
conceitos etc. Porém, esbarrará naquilo que já disse Kant: o homem tenta conhecer a essência, mas encontra
apenas aquilo que se manifesta para ele, portanto, fenômeno. A antítese que tentará superar essa dificuldade é a
segunda seção, intitulada Consciência de si.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

Hegel apresenta como consciência de si, porque esta pretende entender justamente a si mesma, e não a
um objeto externo. Se o limite do conhecimento é o próprio sujeito, é preciso entendê-lo.
Porém, o conhecer em si não pode ser uma experiência apenas intelectual e teórica, como fazia a
consciência, pois esta se revelou limitada. Deve ser prática, de ação na vida em geral.
A consciência de si atravessa experiências na existência com os outros, com o mundo e consigo mesma.
A consciência de si conhece-se na busca do reconhecimento do outro, nos conflitos que envolvem a existência, no
trabalho etc. É esse o sentido do conhecer prático, em oposição ao conhecimento apenas teórico. A consciência
de si aprende com o mundo ao agir nele.
A força que impulsiona a consciência a realizar ações no mundo é o Desejo. Primeiramente o desejo é
apenas biológico, é o desejo de se alimentar, de se proteger da natureza, é o desejo sexual etc. Porém, nesse
patamar o desejo humano pouco difere do desejo animal. Para superar o plano natural a consciência de si precisa
desejar algo além do biológico. E isso surge na figura do Outro. Quem é o Outro? É outra consciência de si, outro
indivíduo.
A situação atual é esta: as duas consciências de si estão no mundo tentando conhecerem a si mesmas,
tentando afirmarem-se como sujeitos. Afirmar-se como sujeito é conquistar o reconhecimento como consciência
de si independente.
Esta é a passagem da dialética do reconhecimento, em que ambas tentarão obter o reconhecimento do
outro. Eu quero ser reconhecida como consciência de si autônoma, mas diante de mim vejo outra pessoa. Como
posso querer que ela me reconheça como autônoma se eu não fizer o mesmo?
Porém, a autonomia da consciência de si não se satisfaz com a igualdade do Outro. A consciência de si
não deseja apenas igualdade, mas autonomia e a própria satisfação.
Depois do reconhecimento, então, entramos no conflito. Trata-se da parábola do senhor e do servo, uma
das mais célebres páginas hegelianas, exaustivamente comentadas pelos estudiosos.
E no que consiste esta parábola? É a dialética em que as duas consciências de si se envolvem em um
conflito de vida ou morte. E a razão disso? Ambas querem se afirmar como consciências de si autônomas, mas
para isso precisam que uma reconheça a outra como tal. Ora, sendo assim, é preciso que uma vença a outra!
O conflito é de tal forma dramático que elas devem colocar a Liberdade como um bem acima da Vida. Ou
seja, para vencer é necessário arriscar tudo, é preciso a coragem de colocar a própria existência em risco. É
nesse ponto que a igualdade desmorona. Uma consciência aceita o risco. A outra treme diante do perigo e recusa-
se a colocar a vida em risco. A primeira vence a segunda. A derrotada torna-se serva da vencedora, que agora é
senhor.
De agora em diante a consciência serva precisa trabalhar para o senhor. Tudo aquilo que o servo produz,
o senhor usufrui. O servo reconheceu o outro como seu senhor, logo deve aprender a servi-lo.
Mas o trabalho traz uma grande novidade. Pelo esforço de produção o servo passa a elaborar o mundo,
passa a dominar a natureza e refazê-la conforme a sua vontade.
No servo o medo havia se apoderado completamente de seu âmago. Ele havia tremido diante da morte. O
servo viu sua existência ser reduzida a existir para um outro, o senhor. E esse foi o momento de formação, pois na
humildade o servo aprendeu a trabalhar e transformar o mundo e a partir daí conquistar a sua liberdade para agir
conforme a sua vontade. O servo liberta-se pelo trabalho e não pela luta.
Passemos agora à condição do senhor, que também vive um impasse existencial. O senhor não
reconheceu o servo, mas o servo reconheceu o senhor. Portanto, o senhor só é reconhecido por alguém que nem
ele mesmo reconhece. O senhor torna-se ocioso e ineficiente. O servo, acostumado à ação laboral contínua, logo
liberta-se dele e o supera.
Podemos fazer um paralelo com a história moderna: a nobreza não reconhecia o valor dos burgueses.
Estes, tendo que trabalhar para sobreviverem, logo aprendem a lógica do mercado e da economia, e depois de
alguns séculos constroem força política capaz de
derrubar os nobres. O resultado disso é a Revolução
Francesa: a nobreza permaneceu estática e reclusa
no ócio, os cidadãos dedicaram-se ao trabalho e
venceram. Depois da consciência de si a síntese será
a razão que, articulando junto à consciência e a
consciência de si, torna-se teórica e prática ao mesmo
tempo. Pela razão o homem analisa e compreende o
mundo, mas também age nele e o transforma.

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2018 – APOSTILA DE FILOSOFIA – 1º SEMESTRE

ARRASE NO ENEM

1. O conceito de Dialética tomou parte nas preocupações filosóficas de pensadores, como Hegel, Engels
e Marx.
Sobre o conceito de dialética em Hegel, é CORRETO afirmar que se trata da
a) ciência das leis gerais do movimento, tanto do mundo externo como do pensamento humano.
b) marcha do pensamento que procede por contradição, passando por três fases - tese, antítese e síntese -,
reproduzindo o próprio movimento do Ser absoluto ou Idéia.
c) sistematização do chamado materialismo histórico.
d) organização política e econômica que torna comuns os bens de produção.
e) situação do filósofo cujo pensamento supõe comprometimento com a situação social e política vivida.

2. A dialética idealista de G. W. F. Hegel criticou o inatismo, o empirismo e o criticismo kantiano. Hegel opõe-se à
concepção de uma razão intemporal; na filosofia hegeliana, a racionalidade não é mais um modelo a ser
aplicado, mas é o próprio tecido do real e do pensamento. Contra a concepção intemporal da razão, Hegel
afirma que a razão é história, e isso é o que há nela de mais essencial. Assinale o que for correto.
01) Sendo a razão história, ela se torna, para Hegel, relativa, isto é, o que vale hoje não vale mais amanhã,
nenhuma época pode, portanto, alcançar verdades universais.
02) O movimento dialético da razão se realiza, para Hegel, em três momentos, na apresentação de uma tese,
enquanto afirmação, na constituição de uma antítese, como negação da tese, e na formação de uma síntese,
como superação da antítese.
04) Para Hegel, a história não é a simples acumulação e justaposição de fatos e de acontecimentos no tempo,
mas resulta de um processo cujo motor interno é a contradição dialética.
08) A concepção de história de Hegel e a concepção de história formulada por Marx no materialismo histórico
são idênticas.
16) Hegel critica Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant por terem dado mais atenção à relação entre
sujeito humano e natureza do que à relação entre sujeito humano e cultura ou história.

3. No que concerne à arte na filosofia de Hegel, é correto afirmar que:


a) Contrariando a tradição grega, para Hegel a comédia é o lugar próprio da representação artística.
b) O belo artístico é a imitação perfeita do sublime natural e o artista aproxima-se do absoluto quando realiza
bem essa imitação ou mimeses.
c) A arte é obra do livre-arbítrio e o artista, um mestre de Deus, desse modo a arte é divina.
d) A arte é o segundo momento do espírito na busca do conhecimento de si mesmo, sendo antecipada
pela religião.
e) A arquitetura é a forma de arte mais desenvolvida para Hegel, por ser fruto do livre arbítrio, sendo menos
dependente dos sentidos do que a música.

4. O sistema filosófico criado por Hegel, o hegelianismo, é tributário, de modo especial, da filosofia grega, do
racionalismo cartesiano e do idealismo alemão, do qual representa o desfecho e a realização mais complexa.
A filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo como um todo sistemático. Sobre Hegel,
assinale a alternativa incorreta.
a) Para Hegel haveria três formas de tratar da história, que a encaram diferentemente: a história original, a
história refletida e a filosófica.
b) Hegel opõe-se ao historicismo romântico.
c) Hegel dá dignidade ontológica à contradição, bem como ao negativo.
d) O compêndio do sistema de Hegel, a "Enciclopédia das Ciências Filosóficas", é dividida em três partes:
Lógica, Natureza e Espírito.
e) Nos trabalhos políticos e históricos de Hegel, o espírito humano objetiva a si próprio no seu esforço para
encontrar um objeto idêntico a si mesmo.

5. Assinale a alternativa correta:


a) O pessimismo de Schopenhauer se contrapõe ao otimismo de Hegel.
b) Tanto Schopenhauer quanto Hegel são otimistas.
c) Tanto Hegel quanto Schopenhauer são pessimistas.
d) O otimismo de Schopenhauer se contrapõe ao pessimismo de Hegel.

6. É em seu pensamento que se encontra a primeira sistematização da perspectiva dialética:


a) Nietzsche. c) Kant.
b) Hegel. d) Marx.

GABARITOS
1, B 2. (2 + 16) 3. C 4. B 5. A 6. B

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