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A Cultura da Ágora

O HOMEM DA DEMOCRACIA DE ATENAS


Quais os aspetos que caracterizavam a
civilização grega?
- Uso do pensamento
Superioridade intelectual racional;
- Sistema político;
Porquê? - Conceito de pólis ou póleis;
- Ágora;
- Cidadania e a liberdade…

Cidade-estado

Mitologia

Valorização das Artes


Os princípios do Classicismo

Entre os séculos VII e VI a.C. a civilização grega desenvolveu um processo cultural original que
ultrapassou, em diversos aspetos, as várias civilizações da época e que veio a afetar a sua vida em todos
os domínios.
As origens da civilização grega/Os
princípios do Classicismo
As raízes da cultura e da arte Grega situam-se nas ilhas do Mar Egeu – nas Cíclades e em Creta.

Entre 3000 e 1100 a.C. estabeleceram-se nessas ilhas povos que se dedicaram ao comércio marítimo e
à pesca e expandiram a sua influência por todo o Mar Mediterrâneo.

Entre 1600 e 1100 a.C., os Aqueus (um povo de guerreiros indo-europeus) apoderaram-se dos
palácios e das riquezas de Creta e fundaram uma outra cultura – a cultura micénica – incorporando
características das culturas anteriores.

Com o declínio de Micenas (c. 1100 a.C.), outras tribos vindas do Norte – os Helenos – ocuparam a
península, as ilhas e a costa da Ásia Ocidental, assimilando as culturas antecessoras.

A estes povos devemos as bases da civilização grega.


As origens da civilização grega/Os
princípios do Classicismo

A partir do século VIII a.C. os povos gregos – os Helenos – fundaram gradualmente várias
colónias no Mediterrâneo e estabeleceram relações comerciais com os povos vizinhos.

Estes contactos proporcionaram-lhes uma visão mais ampla e relativa dos fundamentos da
sua cultura e, especialmente, das suas crenças religiosas.

Para este facto contribuiu também o seu sistema político assente na democracia e num forte
sentido de independência da pólis.
As origens da civilização grega/Os
princípios do Classicismo
Todos estes fatores explicam o desenvolvimento de um pensamento autónomo, alheio às
crenças religiosas, pondo em causa permanentemente a visão mítica do mundo e da história.

Na literatura, na poesia, no teatro, nas ciências, na filosofia e nas artes, os Gregos


privilegiaram a reflexão e a indagação que conduz ao conhecimento, à verdade, ao útil e ao
belo.

E, principalmente, deixaram que este processo de racionalização das crenças atravessasse


toda a sua cultura, refletindo-se tanto na organização do pensamento, na criação artística
ou, muito simplesmente, na organização da sociedade e da vida pública.
A civilização grega desenvolveu-se em
três períodos distintos:
Consolidação das cidades-estado;
Período Arcaico Prosperidade económica;
Proliferação de centros de atividade artística…

Apogeu económico, político e cultural das cidades gregas -» Atenas;


 Período Clássico Introdução do racionalismo;
Afirmação do ideal Clássico de beleza e perfeição…

 Período Helenístico Fusão de várias culturas;


Dissolução gradual da cultura grega;
A expansão da cultura grega pelo Mediterrâneo fica a cargo dos
Romanos.
Atenas: a pólis como expressão da
razão
A evolução política da Grécia conclui-se durante o séc. VI a.C. com a consolidação do regime
político centrado na pólis, a cidade-estado.

Neste período, duas cidades afirmam o seu poder disputando a hegemonia do território:
Esparta e Atenas com dois regimes opostos: a oligarquia e a democracia, respetivamente.
Pólis: Designação atribuída às cidades-estado gregas que eram administradas
num regime económico, social e religioso de plena autonomia. Daria origem a
“política”, referindo-se à arte de governar e dirigir os assuntos de uma cidade
ou de um estado.
Oligarquia:
governo de um estado em que o poder é detido por algumas famílias mais poderosas.

Democracia: sistema político em que a


autoridade emana do conjunto dos
cidadãos, baseando-se nos princípios de
igualdade e liberdade. O povo governa
através de representantes seus,
periodicamente eleitos.
Atenas: a pólis como expressão da
razão
A racionalidade e os ideais democráticos definiam a pólis ateniense. Neste sentido, a partir
do séc. V a.C., Atenas irá definir o modelo do urbanismo ocidental.

A cidade irá organizar-se em zonas específicas, orientando-se pelo princípio da


funcionalidade, ou seja, segundo uma organização urbana que privilegia o equilíbrio entre a
estrutura física (os espaços, as construções) e a estrutura funcional (as diversas funções que
se desenvolvem na cidade).
Assim, a organização da cidade compreende três grandes áreas: a área sagrada, a área
pública e a área privada.
Atenas: a pólis como expressão da
razão
1. Área sagrada:
lugar constituído pelos principais templos e santuários e integrado na acrópole, um recinto sagrado,
muralhado, situado num local elevado que dominava a cidade.
2. Área pública:
zona dominada pela ágora que constitui o centro da vida da pólis e é a verdadeira praça pública onde
se realizam as atividades políticas e económicas, o mercado e as assembleias dos cidadãos,
integrando teatros, estádios e a stoa, um longo pórtico (galeria) coberto e decorado com pinturas,
mosaicos e estátuas, onde os gregos passavam grande parte do tempo discutindo política e filosofia.
3. Área privada:
Formada pelos bairros residenciais normalmente organizados sem distinção de classes sociais; as casas
eram bastantes modestas, construídas com materiais precários, e distribuíam os seus
compartimentos, sem grande mobiliário, em torno de um pátio em galeria onde se situava um poço
que recolhia a água da chuva.
A pólis de Atenas: a ágora, o porto e o
mar

Para os gregos antigos, pólis significava a agregação de homens livres, isto é, a comunidade
de cidadãos que habitava em conjunto um território que lhes pertencia (a cidade-estado) e
que geria, e do qual obtinha a sua sobrevivência.

O território da pólis ateniense era a Ática, uma pequena península dos Balcãs projetada sobre
o mar Egeu e as ilhas Cíclades.
A pólis de Atenas: a ágora, o porto e o
mar
Séc. V a.C.

350 000 pessoas

10% Cidadãos de pleno direito

Direito à isonomia, à isocracia e à isogoria


ISOCRACIA ISOGORIA
ISONOMIA
Igualdade de acesso a Igualdade no uso da
Igualdade perante a lei
cargos políticos palavra em público
A pólis de Atenas: a ágora, o porto e o
mar
A acrópole, situada no ponto mais alto da cidade, era muralhada e, por isso, era escolhida
como local de refúgio da população em caso de perigo.
Após as Guerras Persas, Péricles mandou construir muralhas também em redor da cidade.
A acrópole era o local mais protegido da cidade e por isso lá guardavam-se os bens mais
preciosos:
- arsenais;
- o Erário Público (guardava o produto dos impostos)
- Templos principais e respetivos tesouros.
A pólis de Atenas: a ágora, o porto e o
mar
A ágora era o coração da cidade; era o centro da vida política, económica, social e cultural da
pólis.

A palavra “ágora” tem origem no grego agorien, significando “discutir, deliberar, decidir”.
A evolução do significado da palavra fez com que, no século IV a.C. esta se referisse a
comprar.
De facto, o comércio foi uma das principais atividades dos povos antigos e que mais
estimulou as relações entre os povos, implicando a comunicação, a discussão de interesses, a
troca de ideais e também a tomada de decisões.
Neste sentido, a ágora torna-se um campo inesgotável de trocas humanas,
dos produtos aos bens, das histórias às ideias, que tanto contribuiu para a
evolução das sociedades.
A pólis de Atenas: a ágora, o porto e o
mar
Para além da acrópole, dos bairros habitacionais e da ágora, a cidade de Atenas possuía ainda um
porto de mar, o porto do Piréu.

A ligação com o mar foi de vital importância para as cidades-estado gregas, incluindo Atenas.

Um vez que quase toda a Grécia era um

território pobre em recursos naturais, pelas condições morfológicas e pelo clima, o mar
desempenhou desde cedo um papel fundamental na sobrevivência económica das populações
que colmatavam com a pesca e com o comércio a pobreza da agricultura e da criação de gado.

Além disso, foi também uma porta aberta a outros contactos que enriqueceram a vivência grega.
O século de Péricles (século V a.C.)
O século V a.C. ficou ligado a Péricles, essencialmente, por dois motivos:

Promoção da atividade intelectual e artística

Consolidação do sistema democrático ateniense

Péricles desencadeou uma série de reformas políticas e administrativas e implementou um


amplo programa de desenvolvimento cultural e artístico, conduzindo Atenas à sua fase mais
próspera.
O século de Péricles (século V a.C.)
Após ter sido destruída pelos Persas durante a guerra, a cidade foi alvo de um amplo
programa de reconstrução de edifícios públicos e equipamentos que contribuíram para
elevar Atenas a centro político e cultural do mundo antigo.

A governação de Péricles ficou marcada pela reconstrução da Acrópole de Atenas, a maior


obra que concretizou. Péricles, após o local se encontrar em ruínas há mais de trinta anos,
decidiu reconstruí-lo, dotando-o de qualidades artísticas que deveriam enaltecer a sociedade.

Com esta reconstrução a Acrópole tornou-se num conjunto artístico monumental: para além
da gigantesca estátua a Atena (desaparecida), ali se construíram alguns dos edifícios mais
significativos da Antiguidade Clássica: o Pártenon, consagrado a Atena, o Templo de Atena
Niké e o santuário de Erectéion.
Pártenon, acrópole de Atenas

Santuário de Erectéion, acrópole de Atenas

Templo de Atena Niké, acrópole de


Atenas
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
Péricles foi a maior figura política do século V a.C. que ficou conhecida como a Idade de Ouro da
Grécia Antiga.

Descendente de uma das mais nobres e poderosas famílias atenienses, Péricles foi um célebre e
influente estadista, orador e strategos militar (general) de Atenas entre 443 e 429 a.C., ou seja,
entre as Guerras Médicas (contra os persas) e a Guerra do Peloponeso (contra Esparta).

Durante este período, Péricles reconstruiu a cidade devastada pelas Guerras Médicas, fortaleceu a
democracia, desenvolveu as artes e as letras e protagonizou o período mais próspero da história
da Atenas, como já havia sido referido.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
Homem culto e inteligente privou num círculo de homens eruditos. Dele se dizia ser um
homem de carácter forte, sóbrio, reservado e incorruptível, e que, devido às suas
capacidades políticas e dotes de oratória, já exercia influência sobre as decisões políticas da
cidade desde c.460 a.C.

Por estes anos, levou o partido democrático à liderança do areópago (o conselho de


membros da aristocracia ateniense), reduzindo-lhes os poderes. A partir de então,
desencadeou um conjunto de medidas reformistas que o tornaram gradualmente mais
popular entre os atenienses.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
Em 461 a.C. vence a eleição para o cargo de estratego, posto que iria ocupar por
cerca de trinta anos sempre com o apoio da população que, durante 15 eleições
seguidas, o reelegeu.

O cargo de estratego-autokrator (chefe do colégio dos dez estrategos da


Constituição de Atenas), o mais alto posto entre as magistraturas atenienses,
concedia-lhe o poder maior a nível militar e político, transformando-o em algo
semelhante aos atuais chefes de governo.

Busto de Péricles, cópia


romana do original, c.430 a.C.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)

Uma das medidas políticas mais importantes de Péricles foi a transferência, em 450 a.C., do
“Tesouro dos Deuses” da liga de Delos para Atenas.

Para além de ter utilizado fundos do “Tesouro” na reconstrução de Atenas e da Acrópole,


Péricles passou a dominar politicamente aquela confederação que reunia a maioria das
cidades gregas, e garantiu para Atenas a hegemonia sobre a Liga.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
O prestígio alcançado assegurou o domínio de Atenas sobre as rotas marítimas e comerciais, e
proporcionou um período de estabilidade e de progresso económico e social.

Com os fundos do “Tesouro dos Deuses” e numa iniciativa com um forte carácter político,
patrocinou a reconstrução da acrópole, numa ampla intervenção que constituiu o mais
ambicioso empreendimento da arquitetura grega e representou o apogeu do Classicismo.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
Péricles tinha como objetivo fazer da cidade uma democracia ideal, uma sociedade com equilíbrio
de interesses entre os cidadãos e o estado.

Aperfeiçoou o direito de todos os cidadãos à cidadania e à participação nos destinos da cidade,


implementou a igualdade de todos perante a lei e instituiu o misthos, um subsídio pelo exercício
de cargos de estado, a fim de encorajar a participação dos cidadãos na vida pública.

Morreu em 429 a.C., vítima de uma epidemia que devastou Atenas, dois anos após a eclosão da
longa Guerra do Peloponeso que deixaria Atenas destruída, desgastada e arruinada.
Sucintamente, a sua atuação durante cerca de trinta anos caracterizou-se por:
Consolidação da democracia, na paz e na prosperidade; limitação dos poderes da aristocracia;
criação da mistoforia (subsídio atribuído a todos os que faziam parte da Assembleia de cidadãos) e
reconstrução artística da cidade de Atenas.
A nível externo, assegurou a defesa de Atenas e das cidades gregas, reforçando o poder da Liga
de Delos e impondo o imperialismo de Atenas.

Péricles marcou de tal modo a vida do seu tempo que ao século V a.C. é comum chamar-se “o
século de Péricles”.
O grego Péricles (c.495/492-429 a.C.)
AS VIRTUDES DE PÉRICLES

“Segundo Tucídides (historiador grego – c.460-400 a.C. -, [Péricles] é o primeiro dos Atenienses.
Reúne na sua pessoa quatro virtudes que, ligadas umas às outras, definem o grande homem de
Estado. Tem a inteligência, isto é, a faculdade de analisar uma situação política, de prever
exatamente o acontecimento e de responder-lhe com um ato. Tem a eloquência que convence, que
faz que o povo inteiro participe na sua ação. [...] Terceira virtude: o patriotismo mais puro – para
ele, nada está a cima do interesse da comunidade dos cidadãos, acima da honra da cidade de
Atenas. Finalmente, é do mais puro desinteresse (no sentido de não se servir de Atenas para o seu
engrandecimento).” André Bonnard, Civilização Grega,
Editorial Estudos de Cor, 1966

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