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1.1.

As origens da civilização grega

As raízes da civilização grega situam-se nas ilhas do mar Egeu, mais concretamente
nas Cíclades e em Creta entre c. 3000 e 1100 a.C. onde se estabeleceram os povos de
descendência indo-europeia provenientes das estepes da Ásia Central.

Em Creta desenvolveu-se o que é denominado por historiadores como a cultura


minoica que é assim designada devido a Minos, o rei de Creta que, segundo a
mitologia (mito de Perseu e o Minotauro) mandou construir na própria ilha para albergar
o Minotauro. Esta civilização era neste período bastante próspera económica e
culturalmente, sendo também responsável pela criação de um dos primeiros sistemas
de escrita conhecidos.

Entre 1600 e 1100 a.C. os Aqueus apoderam-se dos palácios e das riquezas de Creta
e fundam uma nova cultura em Micenas; incorporando características das culturas
antecessoras, que acabou por se afirmar por toda a Grécia Continental, estando na
origem da civilização Grega através da cultura Micena.

Com o declínio de Micenas, outros povos ocuparam a Hélade, a pátria dos Helenos;
Jónicos que ocuparam as ilhas do mar Egeu e parte da região central, fundando a
cidade de Atenas; Eólios, que se fixaram na região continental a norte, estando na
origem da Macedónia; e Dórios que viriam a estabelecer-se no Peloponeso e a fundar
a cidade de Esparta.

A estes povos, unidos pela língua, pelos costumes e pela religião, devemos a criação
da civilização grega, que entre c. 800 e 146 a.C. se desenvolveu em três períodos
distintos:

• Período Arcaico (c. 800 a 500 a.C.):


⤷ caracterizado pela consolidação da política da Pólis, pela prosperidade
económica, pelo aumento da população e pela expansão da civilização grega
através da fundação de colónias no mar Mediterrâneo e no Mar Negro
• Período Clássico (c. 500 a 323 a.C.)::
⤷ marcado pelo apogeu da civilização grega, pela hegemonia de Atenas e pela
obra de Péricles na consolidação da democracia
• Helenismo (323-146 a.C.):
⤷ caracterizado pela fusão do Classicismo com culturas orientais, traduzindo a
gradual dissolução da cultura grega.

1.2. O século de Péricles (século V a.C.)

No início do século, Atenas foi confrontada com as Guerras Médicas (490-479 a.C.),
um prolongado conflito entre as cidades Gregas e a Pérsia, neste conflito, os Gregos
saem vitoriosos graças aos esforços de Atenas em unir as diversas cidades contra os
exércitos persas, foi também impulsionada a Liga de Delos, uma coligação político-
militar de cerca de duzentas cidades que contribuíam com dinheiro, embarcações e
exércitos de forma a defender o território.

Gradualmente, Atenas garantiu a gestão do Tesouro de Delos, adquiriu hegemonia


política, económica e cultural sobre toda a Hélade.

Este período de estabilidade política, progresso económico e bem estado social, foi um
tempo de afirmação da liberdade, da consolidação da democracia e de reforço da
participação dos cidadãos na discussão e decisão na política na Pólis.

É neste contexto que surge Péricles, que governou cerca de trinta anos, é a esta figura
que se atribui os seguintes feitos, que caracterizou a denominada Idade do Ouro da
Grécia Antiga:

⤷ reforço das defesas de Atenas e das cidades gregas contra ameaças externas;

⤷ implementação de uma política imperialista de domínio do mar Mediterrâneo;

⤷ transferência do “Tesouro dos Deuses” da Liga de Delos para Atenas, utilizando


os seus fundos para a construção da Acrópole;

⤷ captação de um conjunto de arquitetos, escultores e pintores liderados por


Fídias, na construção de templos, estátuas e frisos escultóricos;

⤷ apoio às artes, letras e cultura;

⤷ redução dos poderes da aristocracia ateniense, designadamente tirando funções


ao Areópago;

⤷ consolidação da democracia e aperfeiçoamento do direito dos cidadãos na vida


pública, designadamente instituindo a mistoforia, um subsídio a entregar aos
cidadãos mais pobres a fim de permitir o seu desempenho de cargos públicos.

1.3. Atenas: A pólis, o porto e o mar

Durante o século V, a cidade de Atenas através do desenvolvimento iniciado por


Péricles, irá refletir os princípios de racionalidade e da sociabilidade, inspirada não só
nos ideais democráticos prevalentes como também no espírito do Homem novo
traduzido pelas pesquisas científicas e filosóficas em permanente evolução.
Em termos urbanísticos, a cidade orienta-se pelo princípio da funcionalidade, ou seja,
através de uma organização urbana que privilegia o equilíbrio entre a estrutura física
(espaços e construções) e a estrutura funcional (as atividades que aí se
desenvolvem).

Assim sendo, a cidade pode ser dividida em três áreas principais:

• Área sagrada:
⤷ lugar constituído pelos principais templos, santuários e altares, integrando na
acrópole um recinto sagrado, muralhado e situado num local elevado da
cidade
• Área pública:
⤷ zona dominada pela Ágora, local onde se realizavam diversas atividades
políticas, económicas e culturais; onde se situam os mercados, teatros e
stoas
• Área privada:
⤷ bairros residenciais

A importância da relação da cidade com o mar

A ligação ao mar através do porto é essencial para a sua vida económica – para o
transporte de pessoas, mercadorias e escravos – e também cultural, impulsionando o
contacto com as colónias e com outras cidades e a troca de ideias e costumes.

1.4. A Ágora de Atenas

Circundada por edifícios públicos, lojas, templos, altares e estátuas, a Ágora constituía
o centro da vida política, social, económica, religiosa e cultural da cidade de Atenas.

A Ágora era frequentada principalmente por homens, que preferiam a vida pública à
privada (esta última sendo atribuída às mulheres), era aqui que os homens se reuniam
para discutir sobre política, assuntos de justiça ou obras públicas, para conversar sobre
jogos e competições, para estabelecer negócios, comprar e vender escravos ou, para
disfrutar momentos de lazer.

A Ágora desempenhava as seguintes funções:

⤷ política: sendo que aí se situava a sede do governo e da administração da cidade

⤷ económica: através das atividades comerciais, oficinais e artesanais;

⤷ religiosa: integrando templos, altares e estátuas de deuses;


⤷ judicial: sendo que aí se realizavam os tribunais;

⤷ cívica: sendo o lugar privilegiado para o debate livre e aberto à participação dos
cidadãos, valorizando-se a retórica, a eloquência e a racionalidade dos argumentos.

1.5. A Mitologia: Deuses e Heróis

A mitologia era transmitida por via oral de geração em geração ao longo dos tempos,
as célebres lendas acerca da vida de deuses e heróis refletem o espírito grego através
das histórias fantásticas cujos temas percorrem toda a cultura grega.

A invenção do mito surge da necessidade de explicar fenómenos naturais,


acontecimentos históricos ou comportamentos humanos para os quais não se
encontrava explicação.

Com isto, os deuses eram semelhantes ao Homem, na forma e nos sentimentos


(virtudes, defeitos e vícios) mas distinguiam-se pela sua imortalidade e pelas suas
qualidades superiores.

A religião da Grécia antiga traduz-se na prática de cultos aos deuses e heróis do


Olimpo em templos e altares onde se colocavam oferendas, acreditando que os
deuses interferiam nos destinos humanos e nos fenómenos naturais; desta forma,
realizavam-se festivais em sua honra, praticavam-se rituais e sacrifícios de animais
como forma de acalmar a sua ira ou de apelar ao seu favor.

1.6. A Organização do Pensamento

A necessidade de saber originou a filosofia, que tinha como objetivo estudar os


problemas fundamentais relacionados com a existência, com o conhecimento, com a
verdade, com a ética e com os valores morais e estéticos.

• Sócrates
⤷ concentra-se na verdadeira natureza do Homem, apelando que só o
conhecimento próprio podia conduzir o Homem à virtude, à verdade, ao bem
e ao belo
• Platão
⤷ defendeu a diferenciação do mundo entre as coisas visíveis (a matéria e os seres
vivos), considerando-o um mundo de aparências, e as coisas sensíveis (o
mundo das ideias, das essências ideais e imutáveis), correspondendo ao que é
permanente e universal
• Aristóteles
⤷ privilegiou a perceção e análise empírica, em detrimento das ideias e das
sensações

1.7. A Arquitetura Grega: a busca pela harmonia e pela proporção

As origens da arte e da arquitetura grega encontram-se em Creta e em Micenas: da


cultura minoica temos evidências do palácio de Minos, em Cnossos cuja arquitetura
apresenta uma escala humanizada e uma organização espacial que privilegia as
atmosferas íntimas e interiores requintados.

A utilização de colunas de forma troncocónica, pintadas de vermelho térreo trata-se


de um dos elementos que a cultura micénica terá assimilado, esta assimilação estaria
nas origens das ordens arquitetónicas.

Ainda reminiscente de Micenas, o espaço mais característico dos palácios dos reis
aqueus, o Mégaron (destinado às cerimónias religiosas) estaria na origem da
estrutura dos templos gregos.

O Templo como expressão máxima da arquitetura grega

O templo e as ordens arquitetónicas foram a principal expressão da arquitetura grega:


numa fusão do racionalismo, do idealismo e do antropocentrismo que determinava o
“Homem como medida de todas as coisas”.

Concebido como a “morada dos deuses”, o templo é o abrigo da imagem da divindade,


destinando-se principalmente a ser contemplado do exterior, assumindo um sentido
escultórico.
Neste sentido, deveria obedecer a regras de composição subordinadas a uma medida,
proporção e harmonia do traçado.

A coluna era o elemento primordial de todo o sistema de ordens arquitetónicas e que


define as proporções ideais para todos os componentes do templo.

A estrutura do templo tem como base um sistema trilítico (três pedras): dois elementos
verticais (as colunas) suportando um elemento horizontal (a arquitrave). Derivado do
Mégaron micénico o edifício apresenta uma planta retangular em três espaços:

⤷ naos/cella: o habitáculo da estátua da divindade


⤷ pronaos: um pórtico que antecedia a naos

⤷ opistódomos: uma câmara destinada ao “tesouro da cidade”, constituído pelas


oferendas aos deuses

A estrutura assenta sobre o estereóbata; o peristilo consiste no perímetro de colunas


em série que circunda o edifício e suporta o entablamento; por sua vez, este é formado
pela sobreposição da arquitrave, do friso e da cornija; a cornija enquadra as duas águas
da cobertura que, nas fachadas anterior e posterior, formam os frontões. O interior dos
frontões, designado de tímpano, destinava-se à representação de baixos-relevos com
temas mitológicos.

No traçado do templo eram aplicadas as noções de ordem, proporção e harmonia.

As Ordens Arquitetónicas

• Ordem Dórica
⤷ possui formas geométricas e a sua decoração é quase inexistente
⤷ não tem qualquer tipo de base, assenta diretamente no estilóbato
⤷ apresenta um aspeto sóbrio, pesado e maciço, traduzindo na forma masculina
⤷ o fuste é robusto e com caneluras em aresta viva e capitel formado pelo ábaco, e
equino extremamente simples e geométrico
⤷ simboliza imponência e solidez
• Ordem Jónica
⤷ difere da anterior em proporções de todos os elementos e na decoração mais
abundante da coluna
⤷ pelas suas dimensões e formas mais esbeltas traduz-se na forma feminina
⤷ possui um fuste mais longo e delgado, com caneluras semicilíndricas
⤷ o capitel possui um ábaco mais simples
• Ordem Coríntia
⤷ é uma derivação da jónica, resultando no seu enriquecimento decorativo
⤷ possuía um capitel em forma de sino invertido, decorado com folhas de acanto,
coroadas por volutas jónicas
⤷ a sua base era a mais trabalhada e o fuste mais adelgado; simboliza a ambição, o
poder, a riqueza, o luxo e a ostentação

O Pártenon

É o monumento mais predominante da Acrópole, projetado pelos arquitetos Ictinos e


Calícrates em meados do século V a.C. sendo todo o trabalho escultórico atribuído a
Fídias. O templo destinou-se a albergar a estátua colossal de Atena Partenos com
12m de altura.

• A Escultura
⤷ trata-se de um templo períptero (com colunas em todo o seu perímetro),
octástilo (na proporção de 8 colunas nas fachadas frontais por 17
colunas nas fachadas laterais), anfiprostilo (com vestígios de porticados
nas fachadas frontais) e com um duplo naos
⤷ as 46 colunas do peristilo são de ordem dórica com um fuste de 10,43m de
altura, formado por 11 tambores estriados e unidos em aresta viva. As colunas
sem base assentam diretamente no estilóbata e o capitel suporta uma arquitrave
com um único nível
• Características
⤷ a ordem das colunas do peristilo é dórica, mas é um templo octástilo, tal
como os templos jónicos
⤷ a planta integra uma naos dividida por uma colunata dórica em forma de U,
formada por colunas dóricas duplas sobrepostas
⤷ os frontões apresentam motivos escultóricos nos tímpanos: “ Nascimento de
Atena” no frontão este e “Disputa de Ática” no frontão oeste
⤷ nos frisos, as métopas apresentam os seguintes motivos: no friso este, cenas da
“Gigantomaquia”; no friso oeste cenas da “Amazonomaquia”, no friso
norte cenas da “Guerra de Tróia” e no friso sul cenas da
“Centauromaquia”
⤷ as paredes exteriores da cella estão revestidas por um friso jónico com 160m
representando “A procissão das Panateneias” também da autoria de
Fídias
⤷ procurando atingir os ideais de beleza e perfeição, todos os arquitetos aplicaram
uma regra de proporção de 4:9 a todo o sistema estrutural
⤷ o Pártenon constitui o paradigma da ordem, da proporção e da harmonia
⤷ para criar uma imagem de perfeição ótica, os arquitetos aplicaram ligeiras
correções no traçado do edifício, de modo a compensar os “defeitos
óticos” gerados pelos efeitos de perspetiva das linhas retas, horizontais e
verticais

1.8. A Escultura: O Homem em todas as dimensões

A escultura Arcaica

O período arcaico da cultura grega constitui uma época de grande prosperidade


económica, social e política; com isto, é também uma época onde se multiplicam
centros de atividade artística e se intensifica, em particular a produção escultórica.

Tal como na arquitetura, também na escultura iremos encontrar referências à ordem,


proporção e harmonia.
Este período é marcado por influências de culturas antecessoras, das estátuas votivas
das civilizações do Próximo Oriente até ao sistema convencional da estatuária egípcia
ou a alguns traços do naturalismo da cultura minoica ou micénica. A influência mais
relevante da escultura arcaica seja a proveniente do estilo hierático, contido e frontal da
estatuária egípcia:

⤷ sobriedade e volume maciço e “cúbico”

⤷ silhueta de ombros largos

⤷ a perna esquerda mais adiantada que a direita

⤷ punhos cerrados contra o corpo.

Neste período arcaico produziram-se dois tipos de estátuas com significados distintos:

⤷ Kouros/Kouroi: representação de um jovem nu e de pé, podendo incorporar um


deus, um herói ou um atleta, destinado ao templo como ex-voto

⤷ Koré/Kourai: representação de uma jovem, talvez deusa, de pé vestida com longas


túnicas pintadas com cores brilhantes, destinada a cerimónias ou a ser colocada no
templo como ex-voto.

Em ambos os casos, apesar das poses hieráticas, estáticas e inexpressivas, apesar do


olhar tenso e dos lábios contraídos, são estátuas que já evidenciaram um sentido de
representação e uma intencionalidade artística.

Do estilo Severo ao Primeiro Classicismo

No início do século V a.C. surgiram obras que evidenciaram novos interesses estéticos:
o escorço, o desenho com efeito de perspetiva, utilizado para representar objetos ou
figuras com dimensões mais pequenas do que o natural; e o movimento,
experimentando a ação dinâmica dos membros e do corpo.

Obras como “Auriga de Delfos” e “Guerreiro de Riace” denotam o abandono do


estatismo e da rigidez que caracterizava os Kouroi ou as Kourai do período arcaico,
numa tendência designada de Estilo Severo:

⤷ aquisição de um maior naturalismo na anatomia e nas proporções

⤷ sobriedade no tratamento do corpo

⤷ congelamento dos movimentos


⤷ adoção de uma expressão séria, austera e contemplativa

⤷ inexistência de qualquer efeito decorativo

A escultura grega alcança o seu expoente máximo no período clássico, que numa
primeira fase, atinge o apogeu do naturalismo nas obras e escultores como Fídias,
Míron e Policleto e introduz as bases do cânone clássico na representação do corpo
humano: a partir daí é estabelecida uma inovação estética, o contraposto que confere
um maior realismo às estátuas.

• Míron
⤷ pesquisas sobre a forma, a proporção e o movimento do corpo
• Fídias
⤷ pelas obras que realizou no Pártenon pode-se apontar o movimento, a
proporção e os valores plástico e expressivo das figuras de forma a atingir a
harmonia, a serenidade e o naturalismo
• Policleto
⤷ harmonia das partes anatómicas, aplicação do contraposto, a altura do corpo
igual a sete vezes a altura da cabeça

Do Segundo Classicismo à escultura helenística

Após a queda de Atenas (Guerra do Peloponeso, 404 a.C.) seguiu-se uma época de
desencanto e frustração que resultou numa mudança de mentalidade e na consequente
substituição do projeto coletivo pelo individual:

Assim, na primeira metade do século IV a.C. deu lugar a uma segunda fase do
Classicismo, caracterizada pela utilização dos recursos técnicos da época anterior, mas
num sentido mais descontraído, ligeiro e hedonista.

A perda da dimensão épica verifica-se nos trabalhos de escultores como Praxíteles,


cuja obra representa outro tipo de sentimentos como a ternura, o humor ou o erotismo.
“Sátiro em descanso” e “Hermes com Dioniso” representam personagens onde a
beleza, a sensualidade e a gentileza emergem do seu olhar sonhador e do seu vago
sorriso.

Enquanto a cultura clássica tinha produzido a imagem do Homem como cidadão


perfeito através da representação da beleza física e do carácter – o ethos – através da
componente racional; depois da crise da Pólis o interesse dos artistas passou a dirigir-
se à expressão da paixão, do sentimento e do afeto – o pathos – ou seja, à
exteriorização das emoções e das sensibilidades.

• Escopas
⤷ confere às suas figuras uma expressão patética num estilo dinâmico, agitado e
por vezes de uma violência emocional
• Lisipo
⤷ estabeleceu um cânone com novas proporções, com um corpo mais esbelto e
uma cabeça mais pequena, deixando nas suas obras um pathos mais
pronunciado

Refletindo o ambiente político e cultural, vivido após a desagregação do império de


Alexandre Magno, a escultura helenística abandonou os valores clássicos, tais como a
harmonia, a serenidade ou o “belo ideal”. Deu preferência às temáticas com um
acentuado pathos e a composições complexas, assimétricas e desequilibradas, onde se
manifesta sofrimento, drama ou tragédia.

Em conformidade com o gosto vigente, surgem grupos escultóricos animados de um


invulgar dinamismo, expressão dramática, intensos contrastes de luz, corpos
musculados, viris e exaltados.

1.9. A Cerâmica e a Pintura

O Estilo Geométrico

A cerâmica pintada é uma das atividades artísticas mais praticadas na Grécia Antiga;
que constituiu um dos principais produtos de exportação para todo o mundo antigo.

A proliferação de uma grande quantidade deste objeto artístico e das oficinas de


ceramistas por todo o território grego motivou o surgimento de estilos regionais, dos
quais se destacam a produção coríntia e a produção ática.

Um dos grandes interesses no seu estudo é a grande variedade de tipologias e


formas criadas em função do uso a que se destinavam, o que constitui uma fonte para o
estudo da cultura grega. Outro interesse reside nos temas representados, que na falta
de outros documentos, é a cerâmica que fornece essa informação acerca da civilização
e da cultura.

• Temas
⤷ cenas mitológicas
⤷ apontamentos do quotidiano
⤷ representação de reis e atletas
⤷ cenas funerárias

Entre os séculos IX e VIII a.C. evidenciou-se um tipo de cerâmica designado por Estilo
Geométrico:
⤷ apresenta influências da tradição artística creto-micénica

⤷ decoração com motivos simples e padrões geométricos em bandas e frisos paralelos e


sobrepostos

⤷ utilizam um vocabulário de linhas retas, quebradas, onduladas, triângulos, losangos,


ziguezagues e suásticas

⤷ motivos geométricos reminiscentes da tradição das culturas metalúrgicas e da cultura


micénica

O princípio que fundamentou esta linguagem abstrata de raízes geométricas assentou


sobretudo na pesquisa das estruturas de ordem matemática e geométrica patentes na
Natureza e no Universo que suportaram igualmente a filosofia. Os principais
testemunhos deste estilo são as grandes ânforas e crateras funerárias conhecidas
como “cerâmica de Dipylon”.

A partir do século VIII a.C. a pintura geométrica evolui para a inclusão de elementos
figurativos misturados com motivos geométricos, sendo as figuras humanas silhuetas
esquematizadas estilizadas a negro.

Do Estilo Arcaico à grande produção ática

O Estilo Arcaico da cerâmica pintada acompanha o período de grande prosperidade


política e económica das pólis, situado entre o final do século VIII e o início do século
V a.C.
O aumento dos contactos comerciais com as colónias do Mediterrâneo e do mar Negro
inspirou a evolução técnica e plástica da cerâmica num primeiro ciclo designado como
Fase Orientalizante:

⤷ preferência pela figuração à cerâmica pintada, sobretudo com o recurso a cenas de carácter
mitológico

⤷ grande fulgor imaginativo: misturam animais mitológicos e figuras mitológicas híbridas


com decoração e inspiração naturalista e vegetal

⤷ recorrem à técnica de incisão para os detalhes anatómicos e outros elementos expressivos

No final do século VII e até c. 480 a.C. na designada “fase arcaica recente” surge o
estilo de Figuras Negras:

⤷ decoração com elementos decorativos pintados a negro sobre o fundo avermelhado do


barro
⤷ figuras traçadas numa silhueta estilizada pela técnica da incisão com um estilete definindo
os seus pormenores internos, como os músculos e outros detalhes anatómicos, cabelos e
elementos do vestuário

⤷ a maior liberdade temática (mitologia, quotidiano, vida doméstica) e expressiva

⤷ o maior naturalismo das figuras

Entre 480 e 323 a.C. desenvolve-se o período clássico num inovador processo de
aperfeiçoamento técnico, formal e estético no qual é criado o estilo de Figuras
Vermelhas:

⤷ superfície coberta de negro enquanto as figuras e restante decoração mantém o tom


avermelhado do barro cozido, com pormenores traçados a negro

⤷ maior expressividade e valor plástico acentuado pelo naturalismo das figuras e dos cenários
de enquadramento

A Pintura a Fresco

A pintura não foi menos importante na Grécia Antiga, no entanto poucos foram os
testemunhos que chegaram aos nossos dias. A pintura foi utilizada em diversos
suportes e teve várias funções:

⤷ decoração interior

⤷ aplicação em estátuas e elementos arquitetónicos dos templos

⤷ enriquecimento do espaço com uma componente cenográfica como também para valorizar
plasticamente a escultura e a arquitetura

A pintura mural a fresco era a técnica mais utilizada, grande parte desse trabalho
desapareceu pelas mais diversas razões, no entanto através de fontes literárias ou de
cópias romanas posteriores podemos aferir a qualidade técnica e plástica da pintura.

No período arcaico, a pintura passou por um processo bastante semelhante ao da


cerâmica no que diz respeito às técnicas e os sistemas de representação:

⤷ desenho bidimensional e recurso a uma restrita gama cromática

Em meados do século V a.C. verifica-se um progresso na pintura mural por conquista


das técnicas plásticas e estéticas das outras artes:
⤷ aumento do realismo

⤷ domínio do movimento

⤷ maior expressividade no tratamento das figuras e do espaço

Quanto à pintura clássica, que se desenvolveu no século IV a.C. foi dominada por
trabalhos que se distinguem:

⤷ pelas cores brilhantes

⤷ elegância das composições

⤷ equilibrado domínio da luz

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