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UNIDADE III

ARQUITETURA CLÁSSICA

Prof. Dr.ª Berna Bruit Valderrama

Objetivos de Aprendizagem
Nesta unidade, o nosso objetivo geral é estudarmos o período da Antiguidade
Clássica sob a perspectiva da produção arquitetônica da Grécia e Roma antiga.
Deste modo estudaremos os princípios gerais de contextualização histórica
dessas duas civilizações e suas principais expressões arquitetônicas
compreendendo o legado histórico que os clássicos nos deixaram até hoje.

Plano de Estudo
Nesta unidade, serão abordados os seguintes tópicos:
1. A Grécia antiga, clássica e helenística;
2. O Parthenon, as ordens clássicas e o espírito livre dos gregos;
3. O nascimento de Roma e os mestres construtores;
4. Arquitetura romana: plástica, axial e monumental.

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CONVERSA INICIAL

Prezado (a) aluno (a), bem-vindo(a) à Unidade 3!


Nesta unidade, vamos analisar o contexto no qual se formulam as sociedades
clássicas e consequentemente vamos estudar suas formas de expressão a
partir da produção arquitetônica no contexto histórico e urbano da antiguidade.
A cultura grega constituída há, aproximadamente, 2000 anos a.C. prolongou-se
por muitos séculos e tem sido considerada pelos historiadores como uma
época de grande esplendor cultural e de importante desenvolvimento na
ciência e nas artes. O legado grego nos oferece elementos essenciais de
linguagem, ordem e harmonia na perspectiva dos cânones clássicos de beleza
e perfeição na formulação da arquitetura e da cidade.
Assim nesta unidade veremos como, em especial a arquitetura grega,
diferencia-se de suas antecessoras e produz belos e significativos edifícios
pautados nas ordens clássicas, no respeito à escala humana, na ideia de
proporção, equilíbrio e harmonia, elementos estes representados no seu
expoente maior: o Parthenon.
Ainda, abordaremos nesta unidade outra civilização da antiguidade clássica: os
romanos. A partir de Roma, fundada em 753 a.C., principal centro do mundo
romano e cidade ordenadora de um império urbano, esta civilização conquistou
uma vasta extensão territorial. A arquitetura tornou-se com os romanos,
expressão de dominação representada pelo monumental e pela diversidade de
tipologias de edifícios privilegiando o caráter funcional e utilitário de suas obras.
Assim, os romanos se destacaram para além da imponência de suas
edificações pelo avanço tecnológico na construção de significativas
infraestruturas urbanas e territoriais, tais como: estradas e aquedutos utilizando
novas técnicas construtivas e novos materiais como o concreto romano.
Desta maneira, veremos que ao final da antiguidade clássica diversos
elementos da cultura greco-romana irão configurar um repertório essencial para
a construção da linguagem arquitetônica contribuindo para a formação da
história da arquitetura.

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1. A GRÉCIA ANTIGA, CLÁSSICA E HELENÍSTICA

Atribui-se a antiga civilização grega a base da cultura europeia ocidental. Neste


sentido, dentre as civilizações da antiguidade é possível considerar que o
legado grego deixou para o mundo ocidental, importantes e essenciais
elementos culturais que ainda permanecem como suporte de nossas tradições
intelectuais. Assim, devemos à civilização grega, por exemplo, as bases do
pensamento filosófico e racional como reflexão dos fenômenos da natureza e
da existência humana, bem como os fundamentos da democracia como
sistema político da organização social.
A herança dessa civilização também repousa no campo da arte, arquitetura e
construção da cidade evidenciando os ideais gregos de beleza, harmonia,
perfeição, equilíbrio com a natureza, entre outros, marcando a história com sua
rubrica indelével apreciada ainda hoje no seu expoente arquitetônico mais
imponente: o Parthenon.
Os registros históricos e arqueológicos nos mostram que antes da chegada dos
gregos ao território denominado Hélade ou Grécia, a península Balcânica, em
especial a região do Peloponeso já contava com a instalação de alguns povos.
Sabe-se da existência de assentamentos neolíticos datados de 4500 a.C., bem
como da ocupação dos povos vindos da Anatólia (Ásia Menor). De acordo com
Funari (2002) no fim do segundo milênio, entre 2000 e 1950 a.C., a civilização
anatólica da Hélade entra em declínio devido à chegada de povos que falavam
um grego primitivo, aparecendo, pela primeira vez, os gregos (helenos) na
história daquela região. Desta maneira, a Península Balcânica cujo território é
banhado a ocidente pelo mar Jônico, a oriente pelo mar Egeu e ao sul pelo mar
Mediterrâneo é considerada o berço da civilização da antiga Grécia (ver figura
15).

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Figura 15- Mapa Grécia Antiga

Fonte: Wikimedia Commons

Assim sendo, a civilização grega é originaria da mescla de vários povos, em


especial daqueles de descendência indo – europeia, tais como aqueus, eólios,
jônios e dórios. Estabelecidos na cidade de Micenas, os aqueus invadiram
Creta em 1450 a.C destruindo Knossos, um dos centros mais importantes da
cultura cretense (minoana). Da união das culturas cretense e micênica surgiu a
civilização creto-micênica atestada como o pressuposto do desenvolvimento da
cultura grega dos períodos posteriores (ver Figura 16).

Figura 16 – Períodos da civilização e cultura gregas


Pré-Homérico Homérico Arcaico Clássico Helenístico
do séc. XX ao do séc. XII ao do séc. VIII ao do séc. V ao séc. do séc. IV ao séc. I
séc. XII a.C. séc. VIII a.C. séc. VI a.C. IV a.C. a.C.
Civilização Este período é Período da Apogeu de Período histórico e
Creto- Micênica chamado formação das Atenas e Esparta cultural de
Homérico, pois Cidades com grande fortalecimento e
Sociedades as principais Estado, a Pólis desenvolvimento difusão da cultura
palacianas fontes escritas grega. econômico e grega (helena)
instaladas em sobre a época Corresponde ao cultural. pelo mundo. A
Creta e Micenas são as obras período de Período de fusão entre a
atribuídas a expansão dos grandes conflitos tradição grega e a
Homero, A gregos sobre as e guerras. cultura oriental
Ilíada e A regiões Construção do está na base da
Odisseia. A próximas. Parthenon em cultura helênica.
primeira trata da Atenas sob o Alexandria era o
Guerra de Tróia, governo de grande centro da
e a segunda da Péricles. cultura helenística.
32volta do herói Cidades traçadas Desenvolvimento
Ulisses após a segundo Plano das ciências e da
guerra de Tróia. Hipodâmico. filosofia.
Fonte: Tabela elaborada pela autora.
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Por volta de 1200 a.C. os dórios conquistaram o Peloponeso, bem como as
ilhas do mar Egeu e a costa ocidental da Ásia Menor (atual Turquia) em um
processo de absorção das culturas cretense e micênica. Tal fato tornou-se
significativo uma vez que no período de 800 a.C. é possível perceber a
formação de uma identidade grega. Segundo Gympel (2000),

[...] Por volta de 800 a.C., se começou a formar uma identidade


nacional que abarcava toda a Grécia, com mitos, cultos e jogos
comuns – as Olimpíadas – bem como uma arquitetura
homogênea. O templo era o gênero de construção mais
importante, além dos teatros que também eram locais de
celebração de cerimônia. (GYMPEL, J, 1996)

O templo grego, assim como para as civilizações anteriores, era a morada dos
deuses. Para cada templo um deus, cuja representação em forma de escultura
era colocada no seu interior (cela) e seu acesso restrito aos sacerdotes.
Postados na Acrópole (parte alta da cidade grega) os templos são para a
contemplação e devoção. Para cada pólis um deus protetor como Atena, deusa
da sabedoria e das artes, protetora de Atenas.

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Indicação De Recurso Didático

Neste módulo, estudamos a formação da civilização grega e observamos que a


mesma é resultado da mescla de vários povos. Para aprofundarmos mais o
assunto e verificarmos os primeiros assentamentos urbanos, indica-se a leitura
a seguir.

A HISTÓRIA DA ARQUITETURA MUNDIAL

Autores: Michael Fazio, Marian Moffett e Lawrence Wodehouse


Idioma: Português
Editora: AMGH Editora LTDA, 2011 (recurso eletrônico). Editado também como
livro impresso em 2011.
Assunto: História da Arquitetura dos primórdios até o século XIX
Edição: 3º edição/ Ano: 2011

Trecho para a leitura: Capítulo 2 – O mundo grego


Páginas: 55 a 64
Disponível em: Biblioteca Virtual UNIFAMMA (Minha Biblioteca)

Resumo: Este capítulo no trecho dedicado as culturas egeias, em especial as


civilizações minoica e micênica, mostra a importância das mesmas na
construção da cultura grega. Os autores versam sobre o assunto por meio de
uma descrição detalhada e pautada em diversos exemplos ilustrados.
(Elaborado pela autora)

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2. O PARTHENON, AS ORDENS CLÁSSICAS E O ESPÍRITO LIVRE DOS
GREGOS

Diferente da arquitetura egípcia e mesopotâmica, mais sólida e pesada, a


arquitetura grega é leve e elegante. Essencialmente de caráter público, os mais
belos exemplares são edifícios e espaço concebidos para a recepção de
diferentes eventos da vida cotidiana. Como a ágora grega localizada na Astu
(cidade baixa), considerada o centro da cidade no qual se desenvolvia a vida
política e se realizavam as trocas comerciais. Ou como os teatros, importantes
espaços de expressão e representação da cultura grega. Vale dizer que já no
século IV a.C os teatros gregos ao ar livre haviam encontrado uma linguagem
arquitetônica e construtiva uniforme cuja acústica perfeita mostra a qualidade
das construções.
Segundo Glancey (2001) o Parthenon talvez seja o maior e mais influente
edifício de todo os tempos. É de uma beleza imensa, tão atemporal em seu
encanto, quanto o pode ser um edifício. Exemplo máximo da arquitetura dórica,
o Parthenon (ver Figura 17) atualmente é uma ruína e compõe junto à Acropole
da cidade de Atenas um dos patrimônios da humanidade, título conferido pela
Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Feito de mármore e com cobertura de madeira esse templo foi construído
aproximadamente em 447 a.C (séc V a.C.) por Péricles, governador de Atenas,
após a invasão persa que destruiu o templo anterior. A construção desse
templo incumbida aos arquitetos Ictino e Calícrates por Fídias que por sua vez
havia sido encarregado da reconstrução da acrópole de Atenas, visava à
composição perfeita e ao mais alto refinamento arquitetônico. Tal refinamento
pode ser observado na exata correspondencia entre a curvatura da estilobáta e
o estreitamento da nave e dos entalhes das colunas (NORWICH, 2001).
Como era frequente na arquitetura grega o exterior do edifício era mais
importante que o interior. Esta concepção arquitetonica ritmava com o tipo de
vida do grego, mais propenso à vida pública e livre do que a vida privada.

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Desta maneira é possível observar que assim como outros templos, o
Parthenon é contruído para a contemplação aproximando-se mais ao efeito que
a escultura produz no observador. De acordo com Zevi:

[...] os arquitetos devem ser um pouco escultores para


poderem transmitir, através do tratamento plástico da caixa
mural e dos elementos decorativos, o prolongamento do tema
espacial; mas o mito que faz de Fídias, mais do que de Ictino e
Calícrates, o ideador do Parthenon parece simbolizar o caráter
meramente escultórico das construções religiosas gregas, [...]
(ZEVI, 1978)

Figura 17 – Vista e planta do Parthenon, Atenas, Grécia

Fachada oeste e norte do Parthenon.


Observar a estilobáta: Pedestal ou
embasamento que suporta uma série de
colunas.

Vista do Parthenon na Acrópole de Atenas,


Grécia.
A Acrópole esta assentada em uma colina
rochosa de topo plano com altura de 150
metros acima do nível do mar.

Planta do Parthenon
1 Colunata (peristilo), 2 Vestíbulo, 3
Cella, 4 Estátua de culto, 5 Pártenon, 6
Pórtico da fachada posterior
Fonte: Wikimedia Commons

A arquitetura dórica do Parthenon corresponde a primeira ordem clássica grega


(ver figura 18), proveniente do estilo das habitações dos dóricos que invadiram
os territórios gregos por volta de 1000 a.C. Trata-se da ordem mais antiga e

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rústica, na qual a coluna não possui base e se assenta diretamente na
estilobáta. A coluna é canelada e seu capitel simples sustenta o entablamento.
A cobertura de duas águas resulta na formação triangular acima do
entablamento em duas de suas fachadas chamado frontão na parte frontal do
edifício e tímpano na fachada oposta. Ricamente decorado com relevos
escultóricos, frontão e tímpano arrematam os elementos principais do templo
grego pautados nas proporções e escala humana, na simetria e harmonia dos
elementos de composição.

Figura 18 – As Ordens Clássicas

Figura 4 a

Figura 4 b

Fonte: Figura 4 a: adaptada pela autora de Glancey (2001). Figura 4 b: ilustrações da


Enciclopédia vol. 18, século XVII, França, Wikimedia Commons

As ordens clássicas correspondem a uma ordenação dos elementos


arquitetônicos referenciados à escala humana formando um sistema capaz de
compor uma linguagem resultando em um determinado estilo histórico e
cultural. Desta maneira a concepção, o projeto e a construção são balizados
em um conjunto de elementos definidos e padronizados a priori conferindo a
obra a proporção, a harmonia e unidade na perspectiva dos cânones clássicos
de beleza e perfeição. Assim as três ordens clássicas: dórica, jônica e coríntia,
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respondem primeiramente ao local e ao povo que as originou, caso da dórica e
da jônica. Esta última originária das Ilhas Jônicas tornou-se comum por volta de
450 a.C. sendo adotada também em Atenas. De formas mais fluídas e
voluptuosas a ordem jônica foi muito utilizada na concepção de templos
dedicados as divindades femininas.
As ordens Jônica e Coríntia possuem base larga para apoio das colunas com
fuste canelado e capitéis decorados. O capitel jônico utiliza elementos análogos
à natureza em forma de chifres de carneiro, enquanto o capitel coríntio é
decorado com uma profusão de folhas de acanto. Representante da ordem
Jônica o Erecteion na acrópole ateniense foi construído em níveis diferentes
respeitando a topografia acidentada e utilizando cariátides para a sustentação
da arquitrave. Por último, um exemplo emblemático da ordem coríntia foi usado
em escala substancial no tholos do Santuário de Asclépio, em Epidauro (cerca
de 360–330 a.C.), uma edificação circular com aproximadamente 22 metros de
diâmetro [...] (FAZIO, MOFFETT E WODEHOUSE, 2011).

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Indicação De Recurso Didático

Caro (a) aluno (a), neste segundo módulo, estudamos os elementos


arquitetônicos referenciados à escala humana formando um sistema capaz de
compor uma linguagem representando os princípios reguladores da arquitetura
grega e evidenciando o estilo de vida e cultura grega.

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ARQUITETURA

Autor: José Ramon Alonso Pereira


Idioma: Português
Editora: Bookman Companhia Editora LTDA, 2010 (recurso eletrônico). Editado
também como livro impresso em 2010.
Assunto: Introdução à História da Arquitetura
Edição: 2010

Trecho para a leitura: O Mundo Clássico – Capítulo 5: O Território da


Arquitetura Clássica
Páginas: 45 a 50
Disponível em: Biblioteca Virtual UNIFAMMA (Minha Biblioteca)

Resumo: Neste capítulo o autor aborda as contribuições gregas na formação


do conceito de arquitetura estabelecendo a delimitação do território de
expressão da mesma. A partir desse ponto o autor discorrerá sobre a questão
do antropomorfismo e da escala humana associada aos problemas da
modulação e proporção na arquitetura. (Elaborado pela autora)

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3. O NASCIMENTO DE ROMA E OS MESTRES CONSTRUTORES

Três povos marcaram a civilização romana na sua formação inicial. Os


etruscos vindos, provavelmente da Ásia Menor e assentados na Etrúria ou
Lácio (Toscana italiana), os gregos que já possuíam colônias no território na
península itálica e os cartagineses, que eram descendentes dos fenícios,
colonizadores de Cartago, colônia situada no norte da África.
Roma, segundo a lenda, teria sido fundada em 753 a.C., por Rômulo e Remo.
Conta a lenda que os irmãos gêmeos e filhos do deus Marte e da mortal Reia
Sílvia foram retirados da mãe e abandonados às margens do rio Tibre. Salvos
por uma loba que os cuidou e amamentou foram recolhidos, posteriormente por
um pastor, que, junto com a esposa, criou os irmãos. Após um
desentendimento sobre a fundação de uma futura cidade às margens do rio
Tibre, Rômulo mata seu irmão Remo. Sozinho, Rômulo funda a cidade que
leva seu nome: Roma.
Roma torna-se a principal cidade do mundo romano, a cidade ordenadora de
um império urbano, e de acordo com Funari (2002):

Roma, entretanto, não foi apenas uma cidade, mas com a


conquista, primeiro da Península Itálica e, depois, de todo o
Mediterrâneo, passou a designar o mundo dominado pelos
romanos. Assim, Roma designa uma cidade antiga e todo um
império, um imenso conglomerado de terras que, no seu auge,
se estendia da Grã-Bretanha ao rio Eufrates, do Mar do Norte
ao Egito. (FUNARI, 2002)

A arquitetura romana é expressão de domínio. Engenhosos, práticos,


trabalhadores e guerreiros conquistaram uma vasta extensão territorial. Neste
aspecto o exército romano foi uma das bases para o desenvolvimento da
civilização romana desde seu início. Podemos salientar que a organização dos
acampamentos militares influenciou o desenho e a configuração de inúmeras
cidades romanas.
Verdadeiros mestres construtores interligaram todas as regiões sob seu
domínio por meio de uma vasta rede de estradas hierarquizadas segundo sua
localização, função e tamanho e cujo centro de chegada e partida era Roma. A
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principal via romana chamava-se Via Appia, iniciada em 312 a.C., interligava
Roma à cidade de Brindisi possuindo uma extensão de 560 quilômetros. Era
conhecida como Regina Viarum, a rainha das estradas.
Abasteceram suas cidades de água corrente captada de fontes em regiões
montanhosas por meio da construção de aquedutos. A sistematização desse
tipo de obra nasceu em Roma, cidade que recebeu, por volta de 144 a.C., o
primeiro aqueduto, denominado Aqua Marcia e que tinha uma extensão de 90
quilômetros. Outro importante aqueduto em Roma foi o Aqua Claudia (ver
figura 19), iniciado no governo do imperador Calígula entre os anos de 37 e 41
d.C. e finalizado no governo de Cláudio, seu sucessor, entre 41 e 54 d.C.
Proveram suas cidades de rede de esgoto, como a Cloaca Máxima de Roma e
iniciada pelos etruscos, de redes de transporte público, bem como de banhos
públicos. Construíram as Insulaes (ilhas), blocos de habitações que no início
eram feitas de madeira e tijolos de barro e posteriormente em concreto romano
(mistura de cinzas vulcânicas, cal e água do mar e utilização de rocha
vulcânica como agregado) alcançando a altura de oito andares e que
marcaram a tipologia construtiva, sobretudo, em Roma.

Figura 19 – Aqueduto Aqua Claudia

Fonte: Wikimedia Commons

O uso do concreto permitiu aos romanos avanços não vistos nas civilizações
anteriores. Desta forma o uso desse material mais resistente e plástico
permitiu, por exemplo, a introdução de cúpulas como elemento compositivo da
arquitetura, caso do Panteão.
A plasticidade do novo material também foi usada para a confecção de
abóbodas e arcos plenos no Anfiteatro Flaviano, conhecido como Coliseu em
Roma (ver Figura 20). O edifício foi construído em mármore, pedra travertina,

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ladrilho e uma pedra calcária chamada tufo. A fachada foi concebida em
arcadas decoradas por colunas dóricas, jônicas e coríntias conforme o
pavimento. Iniciado pelo imperador Vespasiano, em 72 d.C., o Coliseu foi
concluído oito anos depois pelo seu sucessor e filho, Tito Flávio. De tamanho
monumental o anfiteatro abrigava até 80 mil pessoas e era utilizado para
grandes eventos, tais como, combate de gladiadores, encenações de batalhas,
caça a animais selvagens, entre outros. Com formato elíptico seu eixo maior
media aproximadamente 187 metros e seu eixo menor 156 metros possuindo
uma altura de 52 metros (aproximadamente um edifício de 17 andares).

Figura 20 – Anfiteatro Flaviano: Coliseu

Fonte: Wikimedia Commons

A utilização dos arcos como elemento construtivo permitiu aos romanos a


abertura de vãos maiores sem colunas intermediárias e sem vedações nas
arcadas tanto na arquitetura quanto na construção de aquedutos e pontes. O
uso do arco em aquedutos e pontes romanas, por exemplo, além de permitir
variações tipológicas e tecnológicas mais arrojadas diminuíram os gastos com
materiais, uma vez que os arcos resolviam os problemas estruturais sem a
necessidade de grandes paredes sólidas estruturais.

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Caro (a) aluno (a), neste terceiro módulo, estudamos a formação do Império
Romano observando a importância de Roma como aglutinadora do território e
da cultura romanas. Vimos o caráter construtor desse povo o que lhes garantiu
uma ampliação das técnicas construtivas, dos modelos e tipos arquitetônicos,
bem como a implantação de inúmeras infraestruturas, fruto do desenvolvimento
da engenharia urbana e das tipologias arquitetônicas.

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA ARQUITETURA

Autor: José Ramon Alonso Pereira


Idioma: Português
Editora: Bookman Companhia Editora LTDA, 2010 (recurso eletrônico). Editado
também como livro impresso em 2010.
Assunto: Introdução à História da Arquitetura
Edição: 2010

Trecho para a leitura: O Mundo Clássico – Capítulo 8: Arquitetura e


edificações Romanas
Páginas: 71 a 75
Disponível em: Biblioteca Virtual UNIFAMMA (Minha Biblioteca)

Resumo: Neste capítulo, o autor aborda as contribuições romanas por meio da


ampliação do programa construtivo e das diversas tipologias arquitetônicas.
Além disso, discorre sobre o surgimento dos tratados e a consequente
constituição de uma Teoria da Arquitetura abordando o tratado escrito por
Marco Vitruvio Polião (Os dez livros da Arquitetura) e seus três componentes
arquitetônicos principais: firmitas, utilitas e venustas, para finalmente conceituar
a tipologia arquitetônica. (Elaborado pela autora)

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4. ARQUITETURA ROMANA: PLÁSTICA, AXIAL E MONUMENTAL

A arquitetura romana se alimentou dos princípios e formas arquitetônicas


gregas, embora com o tempo os elementos de composição grega clássica
tenham sido relegados a um segundo plano, mais decorativo do que
construtivo. Às ordens clássicas dos gregos: dórica, jônica e coríntia, os
romanos acrescentaram mais duas ordens. A ordem toscana foi uma evolução
da ordem dórica, e a compósita derivada da combinação das ordens jônica e
coríntia.
A influência etrusca também pode ser observada na arquitetura romana. A arte,
a arquitetura e as cidades etruscas foram altamente inspiradas pela Magna
Grécia (colonização grega no sul da Península Itálica). Essas influências
caracterizaram importantes marcas na arte, arquitetura e urbanismo etrusco
posteriormente absorvido pelos romanos. Ótimos construtores e detentores de
grande conhecimento técnico e de engenharia, os etruscos legaram à Roma a
sabedoria sobre a construção de estradas, pontes e outras infraestruturas,
cujas técnicas e tecnologia foram aperfeiçoadas pelos romanos.
A dupla herança, grega e etrusca, abriu espaço para novas experimentações
romanas como a introdução dos arcos, abóbodas e cúpulas nos edifícios,
tornando mais flexível a composição do espaço fechado. Assim, estes
elementos permitiram a criação de espaços interiores colossais sem a
necessidade de apoios intermediários. A superação do sistema construtivo
grego: pilar e dintel (duas colunas verticais como suporte de uma trave
horizontal) trouxe mais dinamismo à arquitetura. Somados à plasticidade do
concreto romano (betão), os novos elementos arquitetônicos produziram uma
arquitetura monumental, como pode ser observada na construção do Panteão.
A elegância do Parthenon grego, a exata proporção de seus elementos
articulados em simetria absoluta e repousando em plenitude na Acrópole
ateniense contrastam com o Panteão (118 a 128 d.C.). De acordo com Glancey
(2001), um gigantesco templo com cúpula, bem no coração pulsante de Roma,
talvez [...] projetado pelo próprio imperador Adriano. De planta centrada de
diâmetro de 43,2 m, o Panteão (ver figura 21) era um espaço de culto
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arrematado por uma cúpula hemisférica que termina em uma abertura circular,
o óculo que permite a entrada de luz. As paredes em alvenaria de tijolos são
revestidas com placas de mármore finas. Para tornar a cúpula mais leve, foram
adicionadas pedras de origem vulcânica à argamassa moldada. As cargas são
distribuídas por um sistema de arcos e abóbodas de descarga, oculto na
alvenaria (GYMPEL, 2000).
Outra característica da arquitetura romana é a base axial na arquitetura do
edifício e no urbanismo. A construção da cidade partia da concepção de dois
eixos correspondentes aos pontos cardeais: o cardo (eixo norte – sul) e o
decumanos (eixo leste – oeste). Próximo ao cruzamento em ângulo reto do
cardo e do decumanos encontrava-se o fórum romano, um espaço público
evoluído da ágora grega e, assim como esta, cumpria a função de espaço da
vida pública por excelência. Assim, também, outros edifícios foram dispostos
pelos romanos ao longo desses eixos ou na centralidade marcada pelo
cruzamento, como a basílica utilizada essencialmente como lugar do mercado
e tribunal. De planta longitudinal com uma nave flanqueada por dois corredores
laterais demarcados por duas fileiras de pilares e uma abside em uma das
extremidades, a basílica foi utilizada, posteriormente para a consagração dos
espaços paleocristãos transformando-se em igreja.

Figura 21 – Interior do Panteão, Roma, 1734. Pintura de Giovanni Paola Panini mostra
o Panteão depois de transformado em igreja.

Fonte: Glancey (2001)


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Do ponto de vista da arquitetura, com os romanos, as temáticas na projetação
de edifícios foram ampliadas evidenciando um leque mais complexo de
funções, usos, formas e tipologias de edifícios e do espaço urbano. Tais
complexidades ratificam um conjunto mais amplo de significados da arquitetura
e como salienta Zevi (1978):

O espaço interior está presente de maneira grandiosa e se os


Romanos não tinham o sensível requinte dos escultores –
arquitetos gregos, tinham o gênio dos construtores – arquitetos,
que é, no fundo, o gênio da arquitetura. Se muitas vezes não
sabiam prolongar na escultura os temas espaciais e
volumétricos, possuíam a elevada e corajosa inspiração para
estes temas, que é, no fundo, a inspiração da arquitetura.
(ZEVI, 1978)

As heranças, em especial, dos gregos e etruscos revelam-se na concepção da


arquitetura e no urbanismo do mundo romano, embora seja justo ressaltar que
a civilização romana adquiriu uma independência cultural, social e arquitetônica
das anteriores, marcando um período único e engenhoso na esteira temporal e
histórica da humanidade.

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Neste último módulo da Unidade 3, prezado (a) aluno (a), salientamos os


elementos, materiais e técnicas arquitetônicos e construtivos utilizados pelos
romanos a partir das influências dos gregos e etruscos. Não obstante,
ressaltando o desenvolvimento de uma arquitetura independente e liberta dos
cânones das civilizações passadas exposta nas complexidades das temáticas
de projetação de edifícios.

Construções do Império Romano

Publicado em 16/02/2016 por: LABTOPOPE- Laboratório Topográfico de


Pernambuco
Versão original: History Channel
Categoria: Educação
Sinopse: Este vídeo é parte de um documentário sobre o Império Romano e
suas capacidades construtivas, em especial na projetação e execução de
grandes infraestruturas como estradas e aquedutos. O documentário mostra as
formas e técnicas de construção dessas infraestruturas relacionadas ao
contexto histórico e cultural da época.

Documentário disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=bPsCG1FM3Co>. Acesso em 20 de set.
de 2018.

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CONCLUSÃO

Prezado aluno (a), nesta unidade estudamos duas grandes civilizações que
configuram a Antiguidade Clássica: a civilização grega e a romana.
Identificamos que essas sociedades receberam diversas influências, cujo
alcance pode ser notado, por exemplo, nas ordens arquitetônicas gregas: a
dórica, a jônica e a coríntia. Analisamos, ainda, elementos importantes da
Grécia antiga, como a propensão do grego à vida pública e livre o que
influenciou enormemente sua arquitetura que assumiu um caráter
contemplativo quase escultural.
A harmonia, a simetria, o equilíbrio e a proporção foram para os gregos ideais
de beleza e perfeição. Desta forma, a Grécia Clássica nos forneceu
importantes subsídios para a constituição e ordenação de um sistema de
elementos essenciais para a construção do conceito arquitetônico, como a
escala humana. Da ideia de escala humana deriva a proporção grega e os
traçados reguladores que foram as bases dos cânones clássicos de beleza e
perfeição na arquitetura e na arte.
Vimos também o contexto de fundação de Roma e o nascimento de um grande
império militar e urbano. Do ponto de vista da arquitetura, podemos concluir
que a cidade foi erguida como forma de dominação e poder. Assim,
observamos que, embora influenciada pelos gregos, a arquitetura romana se
distanciou da escala humana assumindo um caráter monumental.
Grandes mestres construtores, os romanos desenvolveram e construíram
magníficas obras de infraestruturas, por meio do desenvolvimento das técnicas
de construir acompanhadas pelo uso do concreto romano. Verificamos que as
novas experimentações introduziram no campo da arquitetura e da construção
o uso dos arcos, abóbodas e cúpulas enriquecendo os elementos constituintes
da arquitetura.
Finalmente, podemos sublinhar que as civilizações grega e romana
configuraram elementos essenciais e significativos, na construção da
linguagem da arquitetura e da arte cujas influências podem ser sentidas até
hoje.
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REFERÊNCIAS

FAZIO, Michael, MOFFETT, Marian, WODEHOUSE, Lawrence. A História da


Arquitetura Mundial. AMGH, 01/2011. [Minha Biblioteca].

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto. 2002 -


(Repensando a História).

GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. Edições Loyola, São Paulo,


2001.

GYMPEL, Jan. História da Arquitectura: da antiguidade aos nossos dias.


Edição portuguesa Konemann Verlagsgesellschaft, 2000.

NORWICH, John Julius (General Editor). Great Architecture of the World. Da


Capo Press, 2001.

ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1978.

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