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O século V a.C.

, o século de Péricles
No século V a.C., toda a bacia do Mediterrâneo e, no geral, toda a Europa do Sul, o Norte de África e o
Próximo Oriente eram influenciados pela superioridade da Civilização Grega, ou Helénica.
Essa superioridade não se devia a qualquer hegemonia político-militar, pois, ao contrário de outros povos,
os Gregos nunca construíram impérios, encontrando-se divididos em várias cidades-estado, autónomas
entre si. O seu prestígio resultava antes do seu regime político – a democracia – e do seu modo de vida,
onde o trabalho na terra, na oficina e no comércio era equilibrado pelo ócio (diversão, entretenimento) e
neste as atividades culturais (teatro, música, jogos, poesia, canto e filosofia).
Entre as cidades-estado gregas, sobressai, no século V a.C, a de Atenas, não só por nela se poderem
observar ao mais alto grau as características que acabamos de enunciar, mas também pela hegemonia
que exercia sobre as restantes, a nível político, económico e sociocultural.
Esse papel dominante conquistara-o principalmente durante as Guerras Persas (que duraram de 499 a
479 a.C., tendo sido os Atenienses os principais obreiros da vitória final ao vencerem os Persas em
Salamina e, no final destas, pelo papel de chefia que exerceram na Liga de Delos.
Liga de Delos - foi uma liga militar organizada por Atenas durante as Guerras Médicas (ou Persas). Tinha
como principal objetivo a defesa das cidades gregas de um ataque persa.

Com efeito, terminadas as Guerras Persas, Atenas viveu um tempo de paz e prosperidade económico-
cultural que, conjugado com a governação de homens dotados – como a de Péricles -, contribuiu para
elevar a cidade a “escola” da Grécia e para fazer entrar a Grécia na sua “Idade de outro”, ou seja, a sua
época clássica.
Na Atenas democrática de Péricles, em que o cidadão era o autor e o destinatário das leis, a vida,
sociocultural floresceu.
Para os festejos que decorriam sempre ao ar livre, afluíam a Atenas numerosos visitantes, não só de Ática
como de todas as partes da Hélade, fazendo destas ocasiões momentos privilegiados de convívios social
e cultural.
O bem-estar político, económico e social que a cidade viveu, reforçado pelo programa cultural de Péricles,
atraiu a Atenas, vindos de todo o mundo grego, talentosos artistas, filósofos e intelectuais. Isso permitiu
criar na cidade uma síntese cultural original, que resultou da amálgama de saberes e tradições que ali se
entrecruzaram.
Contudo, a prosperidade e hegemonia de Atenas atraíram-lhe rivalidades que acabariam por impor a sua
decadência. Entre 431 e 404 a.C. travou-se a Guerra do Peloponeso, conflito que opôs Atenas a uma
confederação de cidades liderada por Esparta, poderosa cidade-estado do Peloponeso. Esta guerra, que
Atenas perdeu, iniciou uma decadência que levou a cidade à perda da independência, primeiro face a
Esparta (entre 404 e 379 a.C.), algumas décadas mais tarde face à conquista de Filipe II da Macedónia (em
338 a.C.) e depois face aos Romanos

A polis de Atenas: a ágora, o porto e o mar


Para os Gregos antigos, a palavra polis significava a agregação de homens livres, isto é, a comunidade de
cidadão que habitava em conjunto um território que lhes pertencia e que geria, e do qual obtinha a sua
sobrevivência.
No caso da polis ateniense, o seu território era a Ática, uma pequena península dos Balcãs projetada sobre
o mar Egeu e as ilhas Cíclades.
No século V a.C., habitavam este território cerca de 350000 pessoas, mas dessas apenas 10% eram
consideradas cidadão de pleno direito, isto é, com direito à isonomia, isocracia e isogoria, os direitos
políticos em que se baseava o regime democrático do Estado ateniense, os direitos políticos em que se
baseava o regime democrático do Estado ateniense. Os outros 90% da população de Ática – mulheres,
metecos (estrangeiros e escravos – só possuíam direitos civis.)
Em Atenas, só eram considerados cidadãos os indivíduos do sexo masculino filhos de pai e mãe atenienses
e que tivessem nascido no território.
Clístenes tem sido considerado como o verdadeiro fundador da democracia em Atenas pois foi sob o seu
governo que se instituiu a:

• Isonomia – igualdade perante as leis


• Isocracia – igualdade de acesso aos cargos
• Isogoria – igualdade no uso da palavra

À semelhança do que ocorria com outras cidades gregas, o território da cidade-estado de Atenas continha
um único núcleo urbano – a cidade propriamente dita – e uma zona rural envolvente divida em demos.

O núcleo urbano – a cidade Atenas – compunha-se de: uma fortaleza na zona mais alta, a acrópole; uma
zona habitacional labiríntica, dividida em bairros, situada na parte mais baixa; e, no meio desta, uma ágora
ou praça pública.
Inicialmente, só a acrópole, no ponto mais alto da cidade, tinha muralhas, sendo assim o local de refúgio
da população em caso de perigo. Como cidadela militar, a acrópole era o local mais protegido da cidade,
por isso escolhida para guardar os seus bens mais preciosos. Por isso lá se instalavam os arsenais e
armazéns, o edifício do Erário Público que guardava o produto dos impostos, mas também os templos
principais e seus respetivos “tesouros” (casas onde se guardavam as oferendas culturais às divindades).
Por essa razão foi também um lugar sagrado.
A ágora era o centro cívico da cidade. Por norma, não passava de um simples terreiro aberto entre o
emaranhado dos bairros habitacionais, numa zona baixa e plana, onde a população se reunia para as
deliberações da Eclésia, a Assembleia dos Cidadãos. No seu centro, em bancadas muitas vezes
improvisadas, instalava-se o mercado à volta, foram aparecendo, com o tempo, vários equipamentos
como templos, edifícios para a administração (assembleia, tribunal, pritaneu…), stoas ou grandes pórticos
que abrigavam o comércio fixo e o ambulante quando as condições meteorológicas o exigiam, e também
os cidadãos nos momentos de ócio, protegendo-os do sol do meio-dia ou da chuva.
Ponto de encontro da população, a ágora fervilhavas constantemente de gente: habitantes da cidade e
forasteiros; escravos a caminho do mercado ou políticos candidatos às magistraturas à procura de
simpatizantes; crianças e adolescentes na brincadeira; e filósofos amantes da observação do outro (como
Sócrates).
Atenas possuía ainda um porto de mar, situado a cerca de 10 quilómetro – o Pireu. A ligação com o mar
foi de vital importância para as cidades-estado gregas, incluindo Atenas. É que, sendo quase toda a Grécia
um território pobre em recursos naturais, pelas condições morfológicas e pelo clima, o mar desempenhou
desde cedo um papel fundamental na sobrevivência económica das populações que colmatavam com a
pesca e com o comércio a pobreza da agricultura e da criação de gado. Além disso, foi também uma porta
aberta a outros contactos que enriqueceram a vivência grega.

A arquitetura: em busca da harmonia e da proporção


Conhecida, inicialmente, sobretudo pelas referências e cópias que dela fizeram os Romanos, a arte grega
maravilhou os povos europeus, desde o Renascimento, pelo carácter racional e quase científico dos seus
princípios estéticos, pelo rigor e domínio técnicos que aplicou ao tratamento dos materiais de suporte e,
principalmente, pela clareza, harmonia e ritmo das formas criadas que em tudo seguiam “a medida do
Homem”, abandonando a tendência para a monumentalidade das civilizações anteriores.

Os templos
A arquitetura grega incluiu vários tipos de construções (casas de habitação, teatros, palestras, tribunais,
pórticos…), mas teve a sua versão mais perfeita nos templos, morada dos deus e símbolos das polis. Foi
na construção dos templos que se estabeleceram os princípios construtivos, técnicos e estéticos que
serviram de modelo para os restantes edifícios.
Esse trabalho, que se iniciou logo na época arcaica, fez-se em permanente ligação com a matemática e a
geometria, o que demonstra o espírito racional e científico dos Gregos na busca das soluções ideais para
cada um desses problemas.
Foi no diálogo entre a prática e a teoria que se estabeleceram as ordens arquitetónicas, conjuntos de
regras que definiam as medidas e as relações de proporção entre todos os elementos de uma construção
(relações que se baseavam no número de outro), a forma desses elementos; a decoração que
comportavam (relevos, estatuária, pinturas).

Número de ouro - é o número que exprime a proporção tida como perfeita, nas artes plásticas, por muitos
autores clássicos.

Trilíco – é o sistema construtivo cujos elementos de elevação/sustentação são pilares verticais, unidos
por vigamentos horizontais (arquitraves, lintéis ou ainda dintéis).

Na época clássica, os Gregos construíram os seus templos em pedra (a passagem da madeira para a pedra
dera-se no século VII a.C.), geralmente mármore, seguindo o sistema trilíco, e obedecendo a uma planta-
tipo retangular e períptera cuja origem resultou da evolução do mégaron ou sala do trono dos palácios
micénicos.
Em volume, as formas e dimensões dos templos variavam de acordo com as regras de duas ordens
arquitetónicas: a ordem dórica e a ordem jónica.
A ordem dórica é a mais antiga, tendo tido a sua origem no continente grego (provavelmente no
Peloponeso), durante a época arcaica, cerca de 600 a.C. Os templos construídos nesta ordem possuem
proporções robustas e uma decoração sóbria, principalmente geométrica, o que lhes confere um aspeto
maciço e austero que tem sido associado ao espírito masculino e guerreiro dos Dórios, povo que a teria
inventado.
Contudo, a simetria, o equilíbrio e o ritmo das suas formas provocam-nos, muitas vezes, uma sensação
ilusória de simplicidade.
Nascida na época arcaica, a ordem dórica sofreu uma significativa evolução na passagem para a época
clássica: as proporções adelgaçaram-se, o capitel tornou-se mais geométrico e os métopas, anteriormente
lisas, adquiriram decoração escultórica. Estas alterações conferiram maior elegância aos templos desta
ordem que tem o seu expoente na construção do Pártenon, em Atenas, no século V a.C.
A ordem jónica, de formação um pouco mais recente (meados do século VI a.C.), desenvolveu-se
principalmente na ática e na Jónia (província da ásia Menor). É de proporções mais esbeltas (colunas mais
finas e mais espaçadas) e possui uma decoração mais abundante, patente sobretudo no capitel de grandes
volutas enroladas e no friso contínuo do seu entablamento, com relevos historiados. Por estas razões, é
geralmente associada ao espírito feminino.

Coluna – é o elemento que melhor define as características de cada ordem, sendo o diâmetro médio do
seu fuste o módulo – padrão de todas as outras dimensões do tempo. Para além das funções estruturais
(de elevação e sustentação), possui ainda um forte valor icónico pela sua forma quase antropomórfica.

Inicialmente, a ordem jónica foi aplicada a edifícios pequenos de estrutura simples, como o Templo de
Atena Niké, na acrópole da cidade de Atenas; no entanto, aparece igualmente em obras mais complexas
como o Erectéion, da mesma acrópole.
A ordem jónica sofreu, com o tempo, algumas variantes, por vezes designadas como novas ordens. As
primeiras surgiram quando as colunas foram substituídas por esculturas de mulheres (as cariátides) ou
de homens (os atlantes) que suportavam, sobre a cabeça e/ou os ombros, o peso do entablamento e da
cobertura.

Contudo, a variante jónica mais conhecida é a ordem coríntia, criada nos finais do século V a.C pelo
arquiteto Calímaco, da cidade de Corinto. A sua especificidade reside numa decoração mais rica, visível
no capitel, no entablamento e no frontão.
A ordem coríntia foi usada pelos Gregos de forma parcimoniosa e encarna o espírito ornamentalista do
século IV a.C. No entanto, teve grande expansão no período helenístico e foi a mais usada pela arquitetura
romana que a divulgou por todo o império.
A decoração dos templos gregos, qualquer que fosse a sua ordem arquitetónica, recorria sempre à
escultura (relevos e estatuária) que ocupava lugares específicos, e à pintura, que preenchia parte das
paredes interiores e cobria todas as estruturas arquitetónicas e esculpidas, atribuindo-lhes um
surpreendente colorido.
Destinados a serem admirados sobretudo do lado de fora (o culto praticava-se no exterior, ao ar livre), os
templos gregos apresentam como modelos de equilíbrio, proporção e clareza forma, pois são construídos,
como vimos, a partir de critérios racionais e científicos, os mesmos que caracterizaram o pensamento e
atuação dos Gregos na filosofia, na política e no teatro. Embora dedicados aos deuses, eles refletem,
principalmente, a mentalidade antropocêntrica e racional do homem-cidadão da civilização pan-helénica
(adjetivo – “de todo o mundo “).

A casa grega.
A Grécia, berço do urbanismo ocidental
A Natureza e o Homem foram a medida da cidade grega onde a vida quotidiana decorria maioritariamente
ao ar livre.
Da época arcaica à clássica, as cidades gregas apresentaram-se sempre como pequenos amontoados
populacionais, de malha irregular e incaracterística, criada de modo não planeado e sem ideia de
conjunto.
A cidade integrava-se no meio ambiente rural, adaptando-se aos acidentes do terreno e até conservando,
ou incorporando nos novos, os edifícios em ruínas. Assim, as zonas habitacionais das cidades gregas
possuíam um aspeto labiríntico e desordenado, com ruas estreitas e não pavimentadas, sem
diferenciação social, nem nas casas de habitação.
Estas eram construídas em madeira ou tijolo e cascalho misturados com argamassa. Deviam inserir-se na
tradição mediterrânica da casa que se desenvolve em torno de um pátio central descoberto, por vezes
provido de um pórtico, e quase sempre virado a sul para uma maior insolarização. Os compartimentos
internos distribuíam-se em redor do pátio, sem axialidade ou simetria.
Os bairros habitacionais, desordenados e sujos, distribuíam-se em redor da ágora, que nos primeiros
tempos não passava de um terreno desocupado. Com o desenvolvimento da democracia, no começo da
época clássica, foram aparecendo em torno da ágora, para além dos templos e dos pórticos (stoas), vários
edifícios dedicados à vida pública e ao exercício da democracia: o ecclesiasterion (sala para as assembleias
de cidadãos), o bouleuterion (sala para as assembleias os magistrados) e a pritaneion (sala da câmara
municipal). Estes equipamentos fizeram da ágora o verdeiro centro cívico das cidades gregas.
Uma outra inovação diz respeito ao aparecimento, dentro da cidade, de construções dedicadas ao lazer e
à diversão: os teatros ao ar livre e os estádios.
Contudo, foi só com Hipódamo da cidade jónia de Mileto, que haveria de surgir no pensamento grego
uma teoria racional para a organização das cidades, a qual ele mesmo teve oportunidade de pôr em
prática. Por isso, Hipódamo é hoje considerado o primeiro urbanista da História.
A sua teoria nasceu do plano de reconstrução da cidade de Mileto, efetuada no século V a.C. Nesse plano,
a cidade foi rasgada por ruas e avenidas que se cruzavam em ângulo reto, formando quarteirões regulares,
organizados segundo a função/profissão dos seus moradores. Estes quarteirões constituíam o módulo a
partir do qual se desenvolvia todo o plano urbano. As cidades adquiriam, assim, uma malha em retícula,
ou quadrícula, cuja invenção tem sido atribuída a Hipódamo, embora já existisse nas civilizações
indostânicas, egípcias e mesopotâmicas.
A maior afirmação do urbanismo hipôdamico fez-se, contudo, no período helenístico, no qual, graças às
conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega pôde expandir-se por todo o Próximo e Médio Oriente,
dando origem à criação de novas cidades.

A escultura: o Homem em todas as suas dimensões


É na escultura que melhor nos apercebemos da verdade da frase de Protágoras que dizia: “O Homem é a
medida de todas as coisas”. Com efeito, para os Gregos, a escultura glorifica, acima de tudo, o Homem,
ainda que retrate maioritariamente deuses, já que estes se concebiam à imagem e semelhança dos
humanos, para os quais eram modelos ideais.
Os escultores gregos interessaram-se por representar o ser humano na sua dimensão física (a anatomia
humana) mas também na sua dimensão espiritual, isto é, na sua essência enquanto “pessoa”.
Quanto à primeira, procuram representá-la com dois objetivos: a total verosimilhança (a mimésis ou
representação exata), conseguida pelo domínio técnico; mas também a observância de elevados padrões
estéticos. Estes, de tão racionais e matemáticos, caíram no idealismo (isto é, na representação de modelos
perfeitos), afastando a estatuária grega da simples cópia das formas observáveis.
Quanto à segunda, a preocupação dos escultores não se quedou nas características individuais dos
representados (como idade, raça, temperamento...), mas antes na definição de um modelo ideal que
refletisse um conjunto de valores morais, como o aretê (excelência, virtude) e a sofrosiné (sanidade moral,
definida pelo autocontrolo e pelo conhecimento) que estão presentes na mentalidade grega desde muito
cedo. O belo devia coincidir com o bom e este com o útil.
Simultaneamente realista e idealista, a escultura grega esteve estreitamente ligada à arquitetura, onde
ocupava locais próprios e exercia funções religiosas, políticas, honoríficas e funerárias, tanto quanto
ornamentais.

A herança pré-helénica e a escultura arcaica


Tal como na arquitetura, a génese da escultura grega encontra-se no logo período que vai do século IX ao
V a.C., cuja última etapa (após o século VIII) é designada por período arcaico.
Do período arcaico da escultura grega chegaram até nós duas modalidades importantes: as peças em
vulto redondo, ou até estatuária, e os relevos que decoravam a arquitetura. Ambas denotam influências
orientais, nomeadamente mesopotâmicas e egípcias, e algumas sobrevivências creto-micénicas.
A estatuária deste período, realizada primeiro em madeiro e depois (a partir do século VII) em pedra,
deixou-nos dois tipos básicos:
• Os kouroi, jovens nus que, segundo se supõe, simbolizavam deuses ou atletas- heróis, colocados
nos templos como ex-votos. (foi aqui que foram ensaiadas as primeiras representações
anatómicas e o movimento corporal)
• E as korai, raparigas vestidas com longas túnicas pregueadas e pintadas de cores luminosas. Eram
deusas ou jovens virgens usadas nas cerimónias rituais.
Kouroi e Korai foram, inicialmente, estátua rígidas de corpos hirtos e algo esquematizados,
simétricas, com rostos tipificados com maçãs do rosto salientes, olhos amendoados
(orientalizantes), cabelos e barbas simplificados, bocas esboçando meios-sorrisos.
Gradualmente, foram adquirindo maior flexibilidade, movimento e expressão facial.

Os relevos enquadravam-se na arquitetura onde ocupavam lugares próprios, a eles destinados pelas
“ordens”: na ordem dórica, distribuíam-se pelas métopas e tímpanos dos frontões; na ordem jónica, para
além dos tímpanos, aplicavam-se também nos frisos contínuos.
Os relevos mais antigos foram modelados em terracota e depois pintados em tons vibrantes; só na
passagem para a época clássica (século VI a.C.) começaram a ser feitos em mármore e também pintados.
Estilisticamente, obedeceram às mesmas regras das estatuárias: anatomias simplificadas com
pormenores esquematizados e/ou geometrizados (vestes, cabelos), movimentos rígidos, por vezes
desarticulados (com pernas de perfil, tronco de frente e braços de lado), rostos de perfil oriental, com
olhos oblíquos e maçãs salientes.
Os temas inspiravam-se nas grandes narrativas da mitologia gregas e nas peripécias da Guerra de Troia,
com destaque para as que se relacionavam com o edifício em que se encontram executados.
Desempenharam, por isso, funções religiosas e alegóricas importantes, a par da função de decorarem a
arquitetura.

Do estilo severo à primeira idade clássica


A transição para a época clássica fez-se no 1.º quartel do século V a.C. com uma arte de características
próprias a que se deu o nome de estilo severo e que se desenvolveu no período conturbado das 2.ª
Guerras Persas.
Os artistas deste período severo começaram por introduzir na escultura um novo sentido de naturalismo
nas anatomias e um maior sentido de movimento. Fizeram-no, contudo, como o nome indica, com grande
simplicidade e sobriedade expressivas, excluindo o meio sorriso e o decorativismo que animara as peças
arcaicas.
No vulto redondo, as estátuas perderam o hieratismo, a frontalidade e a simetria que caracterizaram os
kouroi e, em contrapartida, adquiriram um ligeiro contraposto (marcado por uma pequena torção da
cabeça, dos ombros ou da cintura pélvica) e gestos mais largos e expressivos que lhes davam mais
movimento.
Com efeito, as estátuas deixam de representar apenas os deuses ou personagens dedicadas ao seu culto
para representarem também atletas e heróis (como políticos e militares ilustres), que eram
orgulhosamente expostos na ágora das cidades.
Na decoração arquitetónica de tímpanos e frisos (isto é, quanto à escultura pedimental e aos relevos)
regista-se um maior domínio técnico, uma maior liberdade no tratamento anatómico e um crescente
interesse pelas expressões faciais, tornando-se as composições mais movimentadas e expressivas.
Mas foi no século V a.C. – época clássica - que a escultura atingiu o auge da beleza e da perfeição, quer
pelo domínio dos materiais e das técnicas, quer pelo rigor da conceção. Esta procurou a imitação das
formas da Natureza (isto é, das formas reais, visíveis); contudo, não o fez com base na cópia exata dos
modelos vivos, mas através de uma seleção que representasse os modelos ideais, as formas mais
perfeitas.
Essa seleção, que aliou a observação do real a rigorosos estudos de anatomia e de geometria, culminou
no estabelecimento de cânones, conjunto de regras de proporção métrica entre as diferentes partes do
corpo humano, de modo a obter um todo harmonioso e perfeito – uma beleza ideal, nascidas da reflexão
e da racionalização.
As peças escultóricas deste alto classicismo, principalmente a estatuárias independente, apresentam-nos
sempre seres belos e pujantes, na plenitude da juventude (quase atemporais), de rostos serenos,
impossíveis de perscrutar.
O primeiro cânone surgiu com o escultor Policleto que redigiu as conclusões da sua pesquisa formal num
manual de escultura a que deu justamente o título de Cânone. A obra O doríforo foi a primeira em que
concretizou estas regras que lhe deram grande popularidade, inclusive entre os Romanos.
Deste modo, ao realismo técnico aliou-se o idealismo racional das formas e a contenção expressiva,
características que definem a escultura do século V a.C.

Míron é um dos nomes mais célebres da escultura grega deste período, artista considerado de transição
entre o estilo severo e o alto classicismo e autor do Discóbolo. Todavia foi com Fídias (o artista mais genial
de todo o século V a.C.) que a escultura grega atingiu maior perfeição e expressão mais genuína.
Foi Fídias, em conjunto com a sua ‘escola’ (isto é, com os escultores que trabalharam sob as suas ordens
na reconstrução da acrópole de Atenas na época de Péricles), o autor da decoração escultórica do Templo
de Atena Partenos, de que fazem parte a escultura dos frontões, os relevos das métopas e do friso jónico
das panateneias e duas colossais estátuas da deusa Atena.
Nas obras de Fídias ressaltam a perfeição anatómica, a robustez e a serenidade, a força, a majestade que
atribuíram à escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que hoje lhe reconhecemos e que
definimos, muitas vezes, pela expressão “calma olímpica”.

Da 2ª idade clássica à escultura helenística


O século IV (o do chamado classicismo tardio) vai refletir, na arte, os novos condicionalismos presentes
na vida da Grécia com a Guerra do Peloponeso e subsequente derrota de Atenas. A confiança nos deuses
é minada pelas consequências da guerra e pela crítica de poetas como Eurípides; o sentido cívico perde
força; a situação económica deteriora-se, os valores tradicionais começam a ser postos em causa, a
encomenda civil e religiosa diminuiu.
Neste novo contexto, a escultura perde a grandeza divina, mas severa e impessoal, do século V para
ganhar maior delicadeza e sensibilidade, tornando-se mais próxima do humano. Aparece o nu feminino,
nunca até aí completamente revelado. Relevos e estatuária tornam-se mais naturalistas (menos
idealizados) e mais expressivos, trabalhados agora ao ‘estilo’ dos seus autores.
Nos séculos III, II e I a.C. – o período helenístico -, a escultura evoluiu no sentido de um realismo
expressivo, dramático e livre, de efeito teatral. O sofrimento e as paixões apoderam-se dos corpos e dos
rostos, que abandonam a serenidade de outras épocas. Os grupos escultóricos, suscetíveis de
composições mais dinâmicas, sucedem-se às estátuas individuais, contando acontecimentos e narrando
histórias, como no caso do grupo do Laocoonte.
Esta estética – movimentada, expressiva e teatral – é igualmente adotada pelos relevos, como é evidente
no Altar de Zeus, em Pérgamo.
A par das representações monumentais, desenvolve-se, neste período, o gosto pelo retrato e pelas cenas
de género (cenas inspiradas no quotidiano). Em ambos o realismo foi tão expressivo que chegou a dar de
Tanagra, pequenas figurinhas de barro policromado, cópias de originais clássicos, ou inspiradas em cenas
pitorescas do quotidiano ou da religião. Constituíram uma requintada arte de salão, destinada ao
consumo privado das elites, o que prova a erudição e refinamento da sociedade grega deste período.

A cerâmica e a pintura: arquivos de imagens da civilização grega


Entre o variado e belo artesanato artístico deixado pelos gregos, evidencia-se a cerâmica, herdeira das
velhas tradições artesanais da bacia oriental do Mediterrâneo. A cerâmica foi alvo de grande produção
nela destacam-se o coríntio e o ático, este último está ligado às oficinas atenienses, detentoras das peças
mais significativas e variadas. A sua qualidade é comprovada pela grande procura dos seus produtos em
todo o mundo antigo. Estas tinham um uso doméstico, artesanal e comercial, cerimonial religioso e
fúnebre.
A cerâmica grega é, por isso, um documento histórico riquíssimo e um valioso “arquivo de imagens” da
sua civilização.
Na evolução estilística da cerâmica gregas os especialistas distinguem os seguintes períodos/estilos:
• O estilo geométrico (séculos IX e VIII a.C.), que, como o nome indica, começou por aplicar uma
ornamentação feita a partir de motivos geométricos simples – o ponto, a linha, o círculo –
organizados em combinações e variações criativas, algumas das quais usadas desde o Neolítico:
meandros, gregas, triângulos, Losangos, linhas quebradas, contínuas ou axadrezados
A partir de inícios do século VIII, a decoração passou a incluir também elementos figurativos
esquematizados em silhuetas marcadas a negro. São figurinhas de animais e de seres humanos, isolados
ou organizados em cenas descritivas e narrativas. Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas e
cerimónias fúnebres.
• O estilo arcaico (de finais do século VIII ao século V a.C.) comporta duas fases evolutivas: até
meados do século VII, a fase orientalizante que reflete nos temas, na figuração e na expressão as
influências decorativas orientais captadas pelos Gregos nas suas viagens comerciais e de
colonização; e a fase arcaica recente (entre 650 e o final do século VI a.C.), que ficou marcada
pelo aparecimento, na Ática, do denominado ‘estilo das figuras negras’, uma cerâmica evoluída,
elegante e sofisticada destinada ao comércio de luxo.
A técnica da cerâmica de figuras negras consistia em destacar sobre o fundo vermelho do barro os
elementos figurativos, representados como silhuetas estilizadas à maneira antiga (rosto de perfil, olho de
frente, tronco de frente, ancas a três quartos e pernas de perfil), totalmente preenchidas a negro. A
técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior destas figuras com linhas de contorno dos músculos e
de outras partes do corpo, com particularidades das barbas, penteados ou padrões do vestuário.
O desenho continua bidimensional, mas o maior rigor que lhes foi atribuído confere às figuras mais
naturalismo e expressão. Nas cenas de conjunto usou-se já o escalonamento de tamanhos
(proporcionando uma certa noção espacial) e noções de simetria e equilíbrio na composição.
Os temas sofreram igualmente inovações: para além das cerimónias religiosas e fúnebres e das cenas
mitológicas, passaram a representar-se igualmente cenas familiares e do quotidiano.
O prestígio da elegante cerâmica de figuras negras estendeu-se a todo o mundo helénico, mas as olarias
atenienses mantiveram um quase monopólio na sua produção, sendo criadoras das peças mais belas e
caras.
• O estilo clássico (entre 480 e 323 a.C.) é aquele em que o desenho e a pintura se desenvolveram
pela descoberta, aperfeiçoamento e aplicação de revolucionárias inovações técnicas e formais –
determinação de cânones anatómicos, aplicação da perspetiva, descoberta do escorço, do claro-
escuro e das sombras. Na cerâmica, estas inovações traduziram-se no aparecimento da cerâmica
das figuras vermelhas, cuja “invenção se atribui ao Pintor de Andócides, ainda no final do
período anterior, entre 530 e 500 a.C.
Nesta cerâmica, que na realidade é o negativo da de figuras negras, a técnica consiste em cobrir toda a
superfície do vaso com verniz negro, à exceção das figuras, cujas silhuetas são deixadas na cor natural da
argila.
Os pormenores anatómicos e outros (onde não faltam já os cenários) eram, posteriormente,
acrescentados a pincel mergulhado em tinta preta. Esta técnica, associada a um desenho mais rigoroso,
permitiu uma plasticidade nova, tridimensional e naturalista, onde as figuras adquirem movimento e
realismo.
Alguns autores associaram figuras negras e figuras vermelhas sobre fundos amarelados ou brancos; nas
oficinas áticas apareceu uma cerâmica funerária de fundos brancos com formas definidas unicamente
pela linha de contorno (estilo belo); noutras escolas incorporaram-se figuras modeladas em relevo;
rugiram ainda novas colorações que chegaram à policromia.

Na época helenística, por razões várias a que talvez não tenha sido estranha esta diversidade e
despersonalização do final da época clássica, a cerâmica grega perdeu o seu prestígio e qualidade artística,
banalizando-se.

A pintura mural
Da grande pintura mural grega resta-nos, hoje muito pouco: alguns fragmentos de frescos do final da
época arcaica e outros já da época helenística ou romana.
A pintura mural serviu para decorar as paredes internas dos templos túmulos e mesmo das casas de
habitação, com cenas mitológicas e alegóricas semelhantes às dos relevos e da cerâmica.

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