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, o século de Péricles
No século V a.C., toda a bacia do Mediterrâneo e, no geral, toda a Europa do Sul, o Norte de África e o
Próximo Oriente eram influenciados pela superioridade da Civilização Grega, ou Helénica.
Essa superioridade não se devia a qualquer hegemonia político-militar, pois, ao contrário de outros povos,
os Gregos nunca construíram impérios, encontrando-se divididos em várias cidades-estado, autónomas
entre si. O seu prestígio resultava antes do seu regime político – a democracia – e do seu modo de vida,
onde o trabalho na terra, na oficina e no comércio era equilibrado pelo ócio (diversão, entretenimento) e
neste as atividades culturais (teatro, música, jogos, poesia, canto e filosofia).
Entre as cidades-estado gregas, sobressai, no século V a.C, a de Atenas, não só por nela se poderem
observar ao mais alto grau as características que acabamos de enunciar, mas também pela hegemonia
que exercia sobre as restantes, a nível político, económico e sociocultural.
Esse papel dominante conquistara-o principalmente durante as Guerras Persas (que duraram de 499 a
479 a.C., tendo sido os Atenienses os principais obreiros da vitória final ao vencerem os Persas em
Salamina e, no final destas, pelo papel de chefia que exerceram na Liga de Delos.
Liga de Delos - foi uma liga militar organizada por Atenas durante as Guerras Médicas (ou Persas). Tinha
como principal objetivo a defesa das cidades gregas de um ataque persa.
Com efeito, terminadas as Guerras Persas, Atenas viveu um tempo de paz e prosperidade económico-
cultural que, conjugado com a governação de homens dotados – como a de Péricles -, contribuiu para
elevar a cidade a “escola” da Grécia e para fazer entrar a Grécia na sua “Idade de outro”, ou seja, a sua
época clássica.
Na Atenas democrática de Péricles, em que o cidadão era o autor e o destinatário das leis, a vida,
sociocultural floresceu.
Para os festejos que decorriam sempre ao ar livre, afluíam a Atenas numerosos visitantes, não só de Ática
como de todas as partes da Hélade, fazendo destas ocasiões momentos privilegiados de convívios social
e cultural.
O bem-estar político, económico e social que a cidade viveu, reforçado pelo programa cultural de Péricles,
atraiu a Atenas, vindos de todo o mundo grego, talentosos artistas, filósofos e intelectuais. Isso permitiu
criar na cidade uma síntese cultural original, que resultou da amálgama de saberes e tradições que ali se
entrecruzaram.
Contudo, a prosperidade e hegemonia de Atenas atraíram-lhe rivalidades que acabariam por impor a sua
decadência. Entre 431 e 404 a.C. travou-se a Guerra do Peloponeso, conflito que opôs Atenas a uma
confederação de cidades liderada por Esparta, poderosa cidade-estado do Peloponeso. Esta guerra, que
Atenas perdeu, iniciou uma decadência que levou a cidade à perda da independência, primeiro face a
Esparta (entre 404 e 379 a.C.), algumas décadas mais tarde face à conquista de Filipe II da Macedónia (em
338 a.C.) e depois face aos Romanos
À semelhança do que ocorria com outras cidades gregas, o território da cidade-estado de Atenas continha
um único núcleo urbano – a cidade propriamente dita – e uma zona rural envolvente divida em demos.
O núcleo urbano – a cidade Atenas – compunha-se de: uma fortaleza na zona mais alta, a acrópole; uma
zona habitacional labiríntica, dividida em bairros, situada na parte mais baixa; e, no meio desta, uma ágora
ou praça pública.
Inicialmente, só a acrópole, no ponto mais alto da cidade, tinha muralhas, sendo assim o local de refúgio
da população em caso de perigo. Como cidadela militar, a acrópole era o local mais protegido da cidade,
por isso escolhida para guardar os seus bens mais preciosos. Por isso lá se instalavam os arsenais e
armazéns, o edifício do Erário Público que guardava o produto dos impostos, mas também os templos
principais e seus respetivos “tesouros” (casas onde se guardavam as oferendas culturais às divindades).
Por essa razão foi também um lugar sagrado.
A ágora era o centro cívico da cidade. Por norma, não passava de um simples terreiro aberto entre o
emaranhado dos bairros habitacionais, numa zona baixa e plana, onde a população se reunia para as
deliberações da Eclésia, a Assembleia dos Cidadãos. No seu centro, em bancadas muitas vezes
improvisadas, instalava-se o mercado à volta, foram aparecendo, com o tempo, vários equipamentos
como templos, edifícios para a administração (assembleia, tribunal, pritaneu…), stoas ou grandes pórticos
que abrigavam o comércio fixo e o ambulante quando as condições meteorológicas o exigiam, e também
os cidadãos nos momentos de ócio, protegendo-os do sol do meio-dia ou da chuva.
Ponto de encontro da população, a ágora fervilhavas constantemente de gente: habitantes da cidade e
forasteiros; escravos a caminho do mercado ou políticos candidatos às magistraturas à procura de
simpatizantes; crianças e adolescentes na brincadeira; e filósofos amantes da observação do outro (como
Sócrates).
Atenas possuía ainda um porto de mar, situado a cerca de 10 quilómetro – o Pireu. A ligação com o mar
foi de vital importância para as cidades-estado gregas, incluindo Atenas. É que, sendo quase toda a Grécia
um território pobre em recursos naturais, pelas condições morfológicas e pelo clima, o mar desempenhou
desde cedo um papel fundamental na sobrevivência económica das populações que colmatavam com a
pesca e com o comércio a pobreza da agricultura e da criação de gado. Além disso, foi também uma porta
aberta a outros contactos que enriqueceram a vivência grega.
Os templos
A arquitetura grega incluiu vários tipos de construções (casas de habitação, teatros, palestras, tribunais,
pórticos…), mas teve a sua versão mais perfeita nos templos, morada dos deus e símbolos das polis. Foi
na construção dos templos que se estabeleceram os princípios construtivos, técnicos e estéticos que
serviram de modelo para os restantes edifícios.
Esse trabalho, que se iniciou logo na época arcaica, fez-se em permanente ligação com a matemática e a
geometria, o que demonstra o espírito racional e científico dos Gregos na busca das soluções ideais para
cada um desses problemas.
Foi no diálogo entre a prática e a teoria que se estabeleceram as ordens arquitetónicas, conjuntos de
regras que definiam as medidas e as relações de proporção entre todos os elementos de uma construção
(relações que se baseavam no número de outro), a forma desses elementos; a decoração que
comportavam (relevos, estatuária, pinturas).
Número de ouro - é o número que exprime a proporção tida como perfeita, nas artes plásticas, por muitos
autores clássicos.
Trilíco – é o sistema construtivo cujos elementos de elevação/sustentação são pilares verticais, unidos
por vigamentos horizontais (arquitraves, lintéis ou ainda dintéis).
Na época clássica, os Gregos construíram os seus templos em pedra (a passagem da madeira para a pedra
dera-se no século VII a.C.), geralmente mármore, seguindo o sistema trilíco, e obedecendo a uma planta-
tipo retangular e períptera cuja origem resultou da evolução do mégaron ou sala do trono dos palácios
micénicos.
Em volume, as formas e dimensões dos templos variavam de acordo com as regras de duas ordens
arquitetónicas: a ordem dórica e a ordem jónica.
A ordem dórica é a mais antiga, tendo tido a sua origem no continente grego (provavelmente no
Peloponeso), durante a época arcaica, cerca de 600 a.C. Os templos construídos nesta ordem possuem
proporções robustas e uma decoração sóbria, principalmente geométrica, o que lhes confere um aspeto
maciço e austero que tem sido associado ao espírito masculino e guerreiro dos Dórios, povo que a teria
inventado.
Contudo, a simetria, o equilíbrio e o ritmo das suas formas provocam-nos, muitas vezes, uma sensação
ilusória de simplicidade.
Nascida na época arcaica, a ordem dórica sofreu uma significativa evolução na passagem para a época
clássica: as proporções adelgaçaram-se, o capitel tornou-se mais geométrico e os métopas, anteriormente
lisas, adquiriram decoração escultórica. Estas alterações conferiram maior elegância aos templos desta
ordem que tem o seu expoente na construção do Pártenon, em Atenas, no século V a.C.
A ordem jónica, de formação um pouco mais recente (meados do século VI a.C.), desenvolveu-se
principalmente na ática e na Jónia (província da ásia Menor). É de proporções mais esbeltas (colunas mais
finas e mais espaçadas) e possui uma decoração mais abundante, patente sobretudo no capitel de grandes
volutas enroladas e no friso contínuo do seu entablamento, com relevos historiados. Por estas razões, é
geralmente associada ao espírito feminino.
Coluna – é o elemento que melhor define as características de cada ordem, sendo o diâmetro médio do
seu fuste o módulo – padrão de todas as outras dimensões do tempo. Para além das funções estruturais
(de elevação e sustentação), possui ainda um forte valor icónico pela sua forma quase antropomórfica.
Inicialmente, a ordem jónica foi aplicada a edifícios pequenos de estrutura simples, como o Templo de
Atena Niké, na acrópole da cidade de Atenas; no entanto, aparece igualmente em obras mais complexas
como o Erectéion, da mesma acrópole.
A ordem jónica sofreu, com o tempo, algumas variantes, por vezes designadas como novas ordens. As
primeiras surgiram quando as colunas foram substituídas por esculturas de mulheres (as cariátides) ou
de homens (os atlantes) que suportavam, sobre a cabeça e/ou os ombros, o peso do entablamento e da
cobertura.
Contudo, a variante jónica mais conhecida é a ordem coríntia, criada nos finais do século V a.C pelo
arquiteto Calímaco, da cidade de Corinto. A sua especificidade reside numa decoração mais rica, visível
no capitel, no entablamento e no frontão.
A ordem coríntia foi usada pelos Gregos de forma parcimoniosa e encarna o espírito ornamentalista do
século IV a.C. No entanto, teve grande expansão no período helenístico e foi a mais usada pela arquitetura
romana que a divulgou por todo o império.
A decoração dos templos gregos, qualquer que fosse a sua ordem arquitetónica, recorria sempre à
escultura (relevos e estatuária) que ocupava lugares específicos, e à pintura, que preenchia parte das
paredes interiores e cobria todas as estruturas arquitetónicas e esculpidas, atribuindo-lhes um
surpreendente colorido.
Destinados a serem admirados sobretudo do lado de fora (o culto praticava-se no exterior, ao ar livre), os
templos gregos apresentam como modelos de equilíbrio, proporção e clareza forma, pois são construídos,
como vimos, a partir de critérios racionais e científicos, os mesmos que caracterizaram o pensamento e
atuação dos Gregos na filosofia, na política e no teatro. Embora dedicados aos deuses, eles refletem,
principalmente, a mentalidade antropocêntrica e racional do homem-cidadão da civilização pan-helénica
(adjetivo – “de todo o mundo “).
A casa grega.
A Grécia, berço do urbanismo ocidental
A Natureza e o Homem foram a medida da cidade grega onde a vida quotidiana decorria maioritariamente
ao ar livre.
Da época arcaica à clássica, as cidades gregas apresentaram-se sempre como pequenos amontoados
populacionais, de malha irregular e incaracterística, criada de modo não planeado e sem ideia de
conjunto.
A cidade integrava-se no meio ambiente rural, adaptando-se aos acidentes do terreno e até conservando,
ou incorporando nos novos, os edifícios em ruínas. Assim, as zonas habitacionais das cidades gregas
possuíam um aspeto labiríntico e desordenado, com ruas estreitas e não pavimentadas, sem
diferenciação social, nem nas casas de habitação.
Estas eram construídas em madeira ou tijolo e cascalho misturados com argamassa. Deviam inserir-se na
tradição mediterrânica da casa que se desenvolve em torno de um pátio central descoberto, por vezes
provido de um pórtico, e quase sempre virado a sul para uma maior insolarização. Os compartimentos
internos distribuíam-se em redor do pátio, sem axialidade ou simetria.
Os bairros habitacionais, desordenados e sujos, distribuíam-se em redor da ágora, que nos primeiros
tempos não passava de um terreno desocupado. Com o desenvolvimento da democracia, no começo da
época clássica, foram aparecendo em torno da ágora, para além dos templos e dos pórticos (stoas), vários
edifícios dedicados à vida pública e ao exercício da democracia: o ecclesiasterion (sala para as assembleias
de cidadãos), o bouleuterion (sala para as assembleias os magistrados) e a pritaneion (sala da câmara
municipal). Estes equipamentos fizeram da ágora o verdeiro centro cívico das cidades gregas.
Uma outra inovação diz respeito ao aparecimento, dentro da cidade, de construções dedicadas ao lazer e
à diversão: os teatros ao ar livre e os estádios.
Contudo, foi só com Hipódamo da cidade jónia de Mileto, que haveria de surgir no pensamento grego
uma teoria racional para a organização das cidades, a qual ele mesmo teve oportunidade de pôr em
prática. Por isso, Hipódamo é hoje considerado o primeiro urbanista da História.
A sua teoria nasceu do plano de reconstrução da cidade de Mileto, efetuada no século V a.C. Nesse plano,
a cidade foi rasgada por ruas e avenidas que se cruzavam em ângulo reto, formando quarteirões regulares,
organizados segundo a função/profissão dos seus moradores. Estes quarteirões constituíam o módulo a
partir do qual se desenvolvia todo o plano urbano. As cidades adquiriam, assim, uma malha em retícula,
ou quadrícula, cuja invenção tem sido atribuída a Hipódamo, embora já existisse nas civilizações
indostânicas, egípcias e mesopotâmicas.
A maior afirmação do urbanismo hipôdamico fez-se, contudo, no período helenístico, no qual, graças às
conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega pôde expandir-se por todo o Próximo e Médio Oriente,
dando origem à criação de novas cidades.
Os relevos enquadravam-se na arquitetura onde ocupavam lugares próprios, a eles destinados pelas
“ordens”: na ordem dórica, distribuíam-se pelas métopas e tímpanos dos frontões; na ordem jónica, para
além dos tímpanos, aplicavam-se também nos frisos contínuos.
Os relevos mais antigos foram modelados em terracota e depois pintados em tons vibrantes; só na
passagem para a época clássica (século VI a.C.) começaram a ser feitos em mármore e também pintados.
Estilisticamente, obedeceram às mesmas regras das estatuárias: anatomias simplificadas com
pormenores esquematizados e/ou geometrizados (vestes, cabelos), movimentos rígidos, por vezes
desarticulados (com pernas de perfil, tronco de frente e braços de lado), rostos de perfil oriental, com
olhos oblíquos e maçãs salientes.
Os temas inspiravam-se nas grandes narrativas da mitologia gregas e nas peripécias da Guerra de Troia,
com destaque para as que se relacionavam com o edifício em que se encontram executados.
Desempenharam, por isso, funções religiosas e alegóricas importantes, a par da função de decorarem a
arquitetura.
Míron é um dos nomes mais célebres da escultura grega deste período, artista considerado de transição
entre o estilo severo e o alto classicismo e autor do Discóbolo. Todavia foi com Fídias (o artista mais genial
de todo o século V a.C.) que a escultura grega atingiu maior perfeição e expressão mais genuína.
Foi Fídias, em conjunto com a sua ‘escola’ (isto é, com os escultores que trabalharam sob as suas ordens
na reconstrução da acrópole de Atenas na época de Péricles), o autor da decoração escultórica do Templo
de Atena Partenos, de que fazem parte a escultura dos frontões, os relevos das métopas e do friso jónico
das panateneias e duas colossais estátuas da deusa Atena.
Nas obras de Fídias ressaltam a perfeição anatómica, a robustez e a serenidade, a força, a majestade que
atribuíram à escultura clássica grega o carácter idealista e divinizado que hoje lhe reconhecemos e que
definimos, muitas vezes, pela expressão “calma olímpica”.
Na época helenística, por razões várias a que talvez não tenha sido estranha esta diversidade e
despersonalização do final da época clássica, a cerâmica grega perdeu o seu prestígio e qualidade artística,
banalizando-se.
A pintura mural
Da grande pintura mural grega resta-nos, hoje muito pouco: alguns fragmentos de frescos do final da
época arcaica e outros já da época helenística ou romana.
A pintura mural serviu para decorar as paredes internas dos templos túmulos e mesmo das casas de
habitação, com cenas mitológicas e alegóricas semelhantes às dos relevos e da cerâmica.