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18/09/2019 A Ágora de Atenas: aspectos políticos, sociais e econômicos

A Ágora de Atenas:
aspectos políticos, sociais e econômicos

Gláucia Rodrigues Castellan


Bacharel e Licenciada em História/USP
glaucia@klepsidra.net
www.klepsidra.net

“Se a arqueologia clássica pode ser definida como o estudo da História e da cultura antigas através de
vestígios materiais, então a descoberta da Ágora de uma cidade grega deveria ser um dos objetos
principais do escavador, pois assim aprenderá muito sobre história, instituições sociais, comércio, arte,
tecnologia e cultos de um local.”[1]

Este artigo tem por objetivo mostrar o importante papel que a ágora de Atenas desempenhava como o espaço
público mais visado e valorizado da cidade-estado grega. Era na ágora que as pessoas de uma mesma comunidade se
relacionavam, elas saiam de dentro de seus oikos e iam se reunir nesse grande centro de circulação de produtos idéias e
pessoas, ou seja, um ponto de reunião – independente de haver troca de bens -, era este o sentido que a ágora tinha.

Esta “praça” pública se caracterizava como um espaço construído, permanente e fixo, que, tinha também um
sentido político – era o lugar onde se deliberavam assuntos importantes para a vida dos cidadãos e da sociedade como um
todo. Neste sentido, encontraremos uma contraposição entre os povos que tinham a ágora e os que não a tinham. Estes
últimos eram considerados bárbaros, pois, na maioria das vezes, tinham como forma de governo a monarquia e, como tal,
não deliberavam, pois, entendiam não ser necessária a discussão uma vez que apenas uma pessoa decidia por todas as
outras.

A palavra ágora se originou do verbo agorien, que no século VIII a.C significava discutir, deliberar, tomar decisões;
mas com o passar dos séculos seu sentido foi mudando e já no século IV a.C agorien significava comprar. Dessa forma, o
comércio pode ser definido na sua forma mais simples como uma circulação, uma transferência de bens. Entretanto, para
que essa movimentação possa ocorrer, se faz necessário que haja pelo menos dois indivíduos envolvidos. Assim, cada
pessoa leva seus produtos e havendo o interesse e a possibilidade eles trocam as suas mercadorias (essas trocas podiam
envolver ou não dinheiro).

No entanto, se fazia necessária a existência de um espaço físico para que essa transferência de bens pudesse
acontecer. Dois locais eram preferencialmente utilizados pelos antigos gregos para tal transferência: as ágoras e os portos.
Estes eram dois espaços físicos em que se materializavam, se concretizavam as relações entre os homens. Na ágora,
eram realizados diversos tipos de trocas, e no porto muitos tipos de materiais e objetos eram levados para serem
transportados através da via marítima.

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1. Templo inacabado de Zeus 2. Edifício inacabado 3. Stoa pintada 4. Stoa de Hermes


5. Altar dos 12 heróis 6. Stoa de Zeus 7. Teseion 8. Bouleteyon
9. Monumento aos heróis epônimos 10. Tholos 11. Strategeion 12. Fonte sudoeste
13. Heliaia 14. Stoa sul 15. Fonte sudeste 16. Mint
17. Trajeto das panateneas 18. Pnyx 19. Areópago 20. Atenea Nike
21. Propileos 22. Atenea Promacos 23. Erecteion 24. Partenon
25. Stoa de Atalo

De acordo com Vidal Naquet e Austin em Economia e Sociedade na Grécia Antiga, a exploração da atividade
econômica com fins fiscais remonta à época arcaica. Na época clássica:

Atenas utilizará esses métodos com tanto mais êxito quanto, com a expansão do poderio ateniense, depois das
guerras médicas, o Pireu se tornou, não só, o mais importante porto militar da bacia oriental do Mediterrâneo, mas também
o maior centro econômico. O poderio e a prosperidade de Atenas atraíam a ele comerciantes vindos de todos os lados à
procura de um mercado onde tudo se podia vender e comprar. As fontes atenienses da época clássica não deixam de
sublinhar a variedade de todos os produtos estrangeiros, que se encontravam em Atenas. Mesmo depois do desastre da
guerra do Peloponeso, o Pireu não perdeu de modo nenhum o seu papel de grande centro econômico; foi em parte isso
que permitiu a Atenas ultrapassar os momentos mais graves da crise financeira que rebentou após a guerra do
Peloponeso. O principal imposto no Pireu era a taxa no valor do cinquentésimo (dois por cento), cobrada sobre todos os
produtos, exportados e importados, e fosse qual fosse a sua origem. Outros impostos eram cobrados sobre as mercadorias
vendidas na ágora de Atenas, sobre os estrangeiros que aí vinham praticar o comércio, sobre as vendas pelo Estado de
bens que lhe pertenciam (por confiscação, por exemplo), etc.”[2]

Na sua forma mais simples, a ágora pode ser definida como uma grande praça aberta utilizada para funções
públicas. Era nesse local que um grande número de cidadãos se encontravam para diversas atividades, assembléias,
festivais, eleições, competições atléticas, desfiles, mercados, e similares. Assim sendo, a ágora tornou-se o centro da pólis,
pois os edifícios públicos da cidade foram sendo construídos ao redor do lugar onde as pessoas freqüentemente se
encontravam.

Podemos dizer que a ágora grega foi a precursora do fórum imperial


romano, das grandes “piazzas” e praças das capitais da Europa. Ao redor
dessa praça, acontecia um grande número de atividades religiosas, sociais,
comerciais, judiciais, legislativas e administrativas, que tornaram a ágora o
coração de uma cidade antiga. Dessa forma, como todas, a ágora de Atenas
acomodava todos os aspectos da vida antiga.
As primeiras ágoras eram abertas para a comunidade e o acesso era
livre. Havia uma tendência de se estabelecer esse “ponto de encontro” nas
encruzilhadas ou nas principais vias da cidade. De acordo com Finley:

“(…) A região rural grega estava cheia de pessoas, mas arquiteturalmente vazia. Excetuando alguns complexos ocasionais
de templos construídos longe das cidades, o edifício significativo só existia nos grades centros. Com o decorrer dos
tempos, a população foi aumentando de tal forma que o conjunto adquiria por norma uma configuração muito desordenada.

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As muralhas eram fortes, mas, irregulares e as portas muitas vezes não levam às principais artérias interiores. (…) As ruas
eram estreitas e tortuosas. A praça pública, a ágora, tendia a tornar-se num caos em redor das esquinas, porque os
edifícios se apertavam uns aos outros, havia uma invasão das mesas do mercado e as estátuas e pedras dedicatórias eram
colocadas por todo lado. Atenas é um bom exemplo: aparte a existência de uma superfície aberta sem pavimento, com
cerca de dez acres, em pleno centro, não consegue discernir-se uma única idéia por detrás da arquitetura de sua ágora. Ou
então, a desordem de Delfos onde, o Caminho Sagrado - que levava à colina do principal Templo de Apolo - era delimitado
por edifícios e objetos dedicatórios que se acumulavam século após século, enquanto os antigos se desfaziam e alguns
eram demolidos.”[3]

Em meio a todo esse “caos” urbano, a ágora surgiu como um espaço aberto que aos poucos foi se fechando, pois,
com o passar do tempo a cidade antiga foi se organizando e esta passou a ter um tamanho delimitado de acordo com os
quarteirões e o plano ortogonal. Esta idéia de um plano regular foi atribuído – na tradição clássica – a Hipodamo – natural
da região de Mileto e, que teve seu auge em meados do século V a.C – Hipodamo surgiu como um reformador, um
planificador e um teórico político utópico. Aparentemente, foi lhe concedida alguma oportunidade de aplicar as suas idéias
no Pireu (porto de Atenas) e talvez ainda em outros sítios. No entanto, a resistência foi forte e, por algum tempo, com êxito.
Tal resistência se devia ao fato de sua abordagem ser demasiado abstrata e formalmente matemática, pouco ligada ao
terreno grego - muito irregular como habitualmente era - ou à maneira como os gregos viviam e funcionavam.

Entre outras coisas, como Aristóteles sublinhou “(…), levantavam-se objeções graves de um ponto de vista militar: a
velha disposição desordenada das ruas e construções, sempre confundia e enredava os invasores, quer ao tentarem
entrar, quer ao procurarem encontrar saída.” [4] E, em um plano mais geral, as cidades-estado gregas se deparavam com
um outro problema; a falta de organização e finanças para por em prática tais esquemas. O fizeram ao longo do tempo na
dependência das circunstâncias, dos estados de ânimo e do estado do tesouro em todo momento.

Um exemplo interessante e raríssimo é a cidade de Olinto - construída na segunda metade do século V a.C, na
margem nordeste do Mar Egeu – trata-se de uma cidade clássica com uma disposição regular. No entanto, a mudança
decisiva se deu na época helenística que contemplou o triunfo da regularidade planeada, anunciada pela reconstrução de
Priene na Ásia Menor, iniciada pouco antes de Alexandre.

De acordo com Finley:

“Quando se examinam com maior cuidado os projetos helenísticos, surge um outro traço muito significativo. A ágora
apresenta-se agora fechada nos quatro lados, como que para proclamar através desta simples evolução arquitetônica que
a livre movimentação e reunião do povo eram coisas do passado. Não só era esta a regra nas novas fundações dos

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monarcas e dos tiranos helenísticos, mas também se espalhou por todo mundo grego antigo. Em Atenas, a construção que
mais dramaticamente caracteriza a nova era é a stoa de dois andares, com mais de 125 jardas de comprimento, doada por
Atalo II, rei de Pérgamo de 159 a 138 (…). Simples, de início, a stoa tornou-se gigantesca, cheia de lojas nas traseiras, o
edifício dominante da ágora.”[5]

A ágora era circundada por longas stoai, que nada mais eram do que
largos pórticos abertos que protegiam o visitante do frio e do calor ao mesmo tempo
em que traziam luz e ar. Além disso, as stoai preenchiam importante função social
na vida da cidade, pois eram nesses locais que os cidadãos se encontravam para
discutir negócios, política, ou filosofia.

Nos edifícios como a Stoa Real e a Stoa do sul I, estavam os responsáveis


pela administração diária da cidade. Os legisladores atenienses diariamente se
encontravam no Bouleuterion localizado em toda a extensão do lado oeste da
praça. Já no Metroon estavam guardados os arquivos centrais. Os Foruns estavam localizados na parte nordeste e sul da
praça; o que nos mostra uma conexão entre a ágora e o poder judiciário. Todos os dias aconteciam atividades comerciais
nessa área nas formas de grandes mercados, em pequenas lojas particulares, nas ruas, e na própria praça.

“Havia também um certo número da magistraturas que se ocupavam da atividade econômica em geral, tais como, na
Atenas dos século IV, os agoránomos, os metrónomos, os sitofílacas e os inspetores do porto comercial. Estas
magistraturas exerciam diversas funções. Alguns deles velavam, como vimos, pelo abastecimento de trigo (os sitofílacas e
os inspetores do porto), outros ocupavam-se mais em geral da política dos mercados; nenhuma preocupação estritamente
econômica aqui, mas simplesmente de vigilância e de ordem. Era à mesma preocupação de ordem que correspondia, sem
dúvida, a prática, atestada muitas vezes, de estabelecer mercados especiais fora da cidade quando se encontrava de
passagem exércitos estrangeiros que pediam para se abastecerem. Por vezes, em certos Estados oligárquicos, a
preocupação de controlar a atividade econômica obedecia a móbeis mais profundos, era a própria atividade econômica que
se tratava de dominar.”[6]

A ágora também servia com um importante centro religioso, juntamente


com o Hephaisteion (templo localizado na colina oeste), a praça possuía um grande
número de altares e pequenos santuários, muitos eram dedicados aos semideuses
conhecidos como heróis. Como esses santuários estavam localizados justamente
no centro da vida cotidiana, na maioria das vezes acabavam recebendo uma
atenção mais regular do povo do que os grandes edifícios de culto erigidos pelo
Estado na Acrópole.

Um bom exemplo disso ocorreu na reconstrução, após a invasão persa,


quando os atenienses ocuparam-se primeiro da ágora, ignorando a Acrópole. A escolha foi sem dúvida, motivada pela
urgência de restabelecer ordenadamente a vida cotidiana, talvez também devido a fundos limitados. Mas surge a tentação
de ver igualmente uma razão psicológica, expressa numa citação conhecida e feliz de Aristóteles: (…) “‘Uma cidadela
(acrópole) adequa-se a oligarquia e à legislação de um só homem, o terreno plano à democracia.’” [7] Em menos de uma
geração, contudo, a posição modificou-se. A democracia triunfante, rica, auto-suficiente e imperialista, governada por
Péricles, voltou à Acrópole, que era um local venerável, fazendo dela não apenas o seu maior centro religioso, mas também
o símbolo visível do poder e a da glória de Atenas.

De maneira geral, uma ágora típica era o ponto focal da vida pública de uma cidade-estado grega , o principal centro
do comércio interno, aquele que se alimentava através das vias terrestres. Na ágora, cada negociante possuía seu lugar
determinado e devidamente pago. Para entendermos melhor o movimento comercial no interior da ágora de Atenas, nos
utilizaremos da magistral descrição de Gustave Glotz em História Econômica da Grécia:

“(…) Mas o centro do comércio interior é a ágora. Aí palpita durante todo o dia a vida política, social e econômica da grande
cidade. Nas extremidades da praça erguem-se as repartições dos magistrados, com os editais que atraem os curiosos. A
multidão abriga-se debaixo dos pórticos de finas colunatas. Passa diante dos frescos do ilustre Polignoto e aflui aos
‘hermes’, onde os homens de negócio debatem as cotações, os interessados pela política discutem a ordem do dia da
próxima assembléia, os basbaques ouvem os pregoeiros públicos, os ociosos cavaqueiam, agitando os seus bordões

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nodosos, os jovens elegantes fazem flutuar com gracilidade as pregas das


suas compridas túnicas brancas. Cruzam-se em todos os sentidos todos os
que têm alguma coisa para vender: escravos com fazendas que acabam
de fabricar, artífices do Cerâmico, de Mélite, ou das Escambônidas, saloios
que partiram da sua aldeia antes da alba, megáricos a guiarem porcos,
pescadores do lago Copais. Pelas aléias plantadas da árvores
encaminham-se para os setores reservados às diversas mercadorias e
separados por divisórias móveis. Sucessivamente, às horas fixadas pelo
regulamento, abrem-se os mercados de legumes e hortaliças, de frutas, de
queijo, de peixe, de carne, de carne de porco, de aves da capoeira e de
caça, de vinho, de lenha, de olaria, de objetos de segunda mão, de
quinquilharia. Há até um canto para os livros. Cada mercador tem o seu
lugar, que o pagamento de um direito lhe garante; à sombra de um toldo ou dum guarda-sol, expõe os seus artigos em
mesas, ao pé da sua carroça e dos seus animais que estão a descansar. Os fregueses circulam; os vendedores interpelam-
nos; os moços de recados e de fretes oferecem os seus serviços. Pregões, juras e alterações; os agorânomos não sabem
para que lado hão de voltar. Quando acabam os mercados ao ar livre, a clientela passa à praça coberta, bazar à oriental.
Ao fundo estão os balcões. Todos estes vendedores em relato têm má fama. Os fregueses queixam-se da sua violência e
grosseria. As mulheres que ganham a vida na rua ou na ágora e as taberneiras são suspeitas de comportamento imoral; a
lei não admite ações de adultério contra este gênero de pessoas. Mas aos pequenos comerciantes censuram-se sobretudo
os seus hábitos de rapacidade, de deslealdade, de mentira. Pedem preços exorbitantes, falsificam os gêneros, enganam no
peso, roubam nos trocos.”[8]

A citação acima nos dá uma visão geral do cotidiano na ágora, bem como nos revela a imutabilidade de certos
aspectos da psicologia humana. Entretanto, a ágora de Atenas tem um significado muito mais amplo, e diversos aspectos a
diferenciam de outros grandes centros cívicos explorados até agora na Grécia.

Isso se deve ao fato da proeminência da Atenas, pois a maior parte dos textos, da literatura e da história que foram
preservados, são de origem ateniense e sua ágora serviu como palco e pano de fundo para muitos eventos significativos da
história grega. Entre as muitas pessoas associadas com os maiores feitos da civilização grega clássica, muitas nasceram
em Atenas e outras são provenientes de todo o Mediterrâneo, deram sua contribuição para um período notável de grandes
realizações intelectuais e artísticas. Homens de Estado, autores de peças teatrais, historiadores e artistas, filósofos e
oradores, como Tucídides, Ésquilo, Sófocles, Demóstenes, Fídias e Práxiteles, surgiram na Grécia nos séculos V e VI a.C.,
quando a mais poderosa cidade-estado de Grécia era Atenas. Juntos, estes homens foram responsáveis por plantar as
sementes das civilizações ocidentais, e ambos freqüentavam a ágora – que foi usada para performances teatrais,
procissões religiosas, competições atléticas e desfiles. Sob a liderança de Sólon, Clístenes e Péricles, a instituição política
da democracia também tem na ágora suas raízes. Mesmo quando a significância política, econômica e militar não era mais
evidente, Atenas permaneceu como influência cultural e educacional por séculos, atraindo professores e alunos de filosofia,
lógica e retórica até o século VI d.C.

Como vimos anteriormente, a ágora, antes do século IV a.C era um espaço físico onde as discussões aconteciam,
era um local de culto e era um lugar de comércio. Ela não era uma ágora especializada. Isso nos mostra que nesse tipo de
sociedade, as relações políticas, sociais e econômicas estavam inter-relacionadas. Não era a economia que regia a
sociedade, mas a posição social do indivíduo em relação aos meios de produção. Os vários aspectos da sociedade se
encontram misturados e eram inseparáveis. No entanto, a partir do século IV a.C, as ágoras começaram a se especializar.
Aristóteles considerava importante que houvesse essa especialização, para ele, o melhor seria que houvesse uma ágora
para as discussões, outra para os negócios e uma terceira para o lazer. “Na Tessália, por exemplo, as diferentes funções da
ágora (originalmente local de reunião da comunidade, antes de se tornar centro econômico) estão deliberadamente
separadas: há uma ágora ‘livre’, reservada à atividade cívica e política e da qual está excluída qualquer função econômica.
Esta última está concentrada numa ágora especial, a ágora comercial.” [9] Já Platão, nas suas Leis, prescreve que não se
recebam os comerciantes estrangeiros senão fora da cidade, e que se tenha um mínimo de relaçãos com eles. Encontram-
se aqui, uma vez mais, velhos preconceitos, em parte dirigidos contra a atividade econômica enquanto tal, em parte contra
o estrangeiro e tudo o que ele comporta como riscos de influências nefastas vindas do exterior.

Assim sendo, com passar do tempo a ágora foi sofrendo transformações, se em época grega começou a se
especializar, em época romana isso aconteceu de forma ainda mais intensa. Então teremos uma ágora para negócios, uma

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para política e outra para o lazer. Também em época romana teremos a ágora monumental - uma praça de propaganda
política e de culto ao imperador.

Em nenhum outro lugar foi encontrada uma história tão ricamente ilustrada como aquela que se tem na ágora. Na
área aberta da grande praça, monumentos foram erigidos para comemorar os triunfos, ao seu redor, edifícios cívicos foram
construídos para a administração da democracia, ao mesmo tempo, em que além dos seus limites, a ágora era repleta de
casas e oficinas daqueles que faziam de Atenas a cidade mais proeminente da Grécia.

A exploração arqueológica da ágora tem colaborado para uma compreensão maior não apenas de um lugar
específico, mas sobre vários aspectos da civilização grega clássica. A cidade de Atenas nos fornece uma grande
quantidade de material para o entendimento da ágora e de suas construções. Construções estas tão pobremente
preservadas que muitas de suas ruínas mal podem ser observadas na superfície. No entanto, “fontes escritas nos
descrevem a respeito de encontros e julgamentos ocorridos ali, apresentações de filósofos ou pinturas que decoram as
paredes. São encontradas, em autores da antigüidade, inúmeras referências que mencionam especificamente a ágora e
seus monumentos, e em nenhum outro lugar da Grécia as fontes enriqueceram tão bem o nosso entendimento sobre as
ruínas.”[10]

Dentre muitos dos escritos preservados da Antigüidade, o de Pausânias, Descrição da Grécia, é muito útil aos
arqueólogos, pois foi escrito como um guia entre os anos 150 e 175 d.C. e descreve em detalhes as cidades e os
monumentos da Grécia conforme eram vistos no século II d.C.. E a descrição de Pausânias sobre a ágora é a principal
fonte para identificar muitas das suas estruturas.

Dentre outras fontes literárias, há também as inscrições. A democracia ateniense exigiu registros extensivos e
permanentes, por isso Atenas, mais do que qualquer outra cidade, escreveu sua história em pedras. Dessa forma,
inúmeras inscrições foram encontradas na ágora, eram: leis, acordos, decretos honorários, dedicatórias, descrições de
construções, inventários sobre templos, pedras demarcatórias, e bases de estátuas. Estas, quando estudadas juntamente
com os registros literários, aumentam o nosso entendimento sobre as construções, que com o passar dos séculos foram
deixadas em estado deplorável.

Entretanto, quando não dispomos de inscrições e fontes escritas, a cronologia do desenvolvimento da ágora, e suas
construções é baseada em análises estilísticas. A grande maioria dos elementos como a cerâmica, a escultura, a
arquitetura, as moedas, etc. mudaram com o passar do tempo. Sendo assim, um olhar treinado pode datar um fragmento
de cerâmica ou de mármore. No entanto, o mais útil e confiável indicador é a cerâmica, pois era feita em grande quantidade
e era praticamente indestrutível. Muitos fragmentos de cerâmica são encontrados em todos os níveis de escavações. Seu
formato, brilho e decoração permitem-nos datar as peças e a camada com um considerável grau de precisão. De fato, as
escavações da ágora produziram materiais em cerâmica datáveis em abundância.

Desta forma, e por essas várias razões, as escavações da ágora contribuíram substancialmente, não somente para
o nosso conhecimento sobre Atenas, mas também para quase todos os aspectos da Grécia na Antigüidade, desde o
período neolítico até o período medieval. É inevitável, quando se procura as origens da cultura, da arte e do pensamento
político ocidentais, retornamos a Atenas Clássica, onde a ágora era o coração e a alma da cidade.

Bibliografia

CAMP, John M. The Athenian Agora: excavations in the heart of classical Athens. Londres: Thames & Hudson, 1986.

FINLEY, M. I.. Economia e Sociedade da Grécia Antiga. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984.

FLORENZANO, Maria Beatriz Borba. O Mundo Antigo: economia e sociedade. 2.ª reimpressão, São Paulo: Editora
Brasiliense, 1998.

GLOTZ, Gustave. História Econômica da Grécia. Lisboa: Edições Cosmos, 1946.

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MOSSÉ, Claude. O Homem e a Economia. IN VERNANT, Pierre (dir.) O Homem Grego. 1.ª edição, Lisboa: Editorial
Presença, 1994 pp. 23 a 45.

VERNANT, Jean Pierre (dir.). O Homem Grego. 1.ª edição, Lisboa: Editorial Presença, 1994.

VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986.

[1]
CAMP. JOHN M. The Athenian Agora: exacavations in the heart of classical Athens. London: Thames and Hudson, 1986, p. 14.
[2]
VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 124.
[3]
FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984, pág. 133.
[4]
FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Esdições 70, 1984, p. 134.
[5]
Idem, p. 135.
[6]
VIDAL NAQUET, Pierre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade na Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 125.
[7]
FINLEY, M. I.. Os Gregos Antigos. Lisboa: Edições 70, 1984, pág. 137.
[8]
GLOTZ, Gustave. História Econômica da Grécia. Lisboa: Edições Cosmos, 1946, pp. 254 e 255.
[9]
VIDAL NAQUET, Peirre e AUSTIN, Michel. Economia e Sociedade da Grécia Antiga. Lisboa: Edições 70, 1986, pág. 125.
[10]
CAMP. JOHN M. The Athenian Agora: exacavations in the heart of classical Athens. London: Thames and Hudson, 1986, p. 14.

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