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I - Arquitectura Grega

a ilha Rodes com cerca de 40 mil soldados e a mais poderosa


máquina secreta, a referida helépolis, máquina com uma altura
de nove pisos e extensível até 50 metros de altura (cf. Diodoro
Sículo 20. 81-100). Apesar da derrota, este monarca, desejoso
de alcançar fama, mesmo a qualquer preço, oferece a torre de
assalto e demais armas aos Ródios, para que estes a vendessem
com o propósito de erigir um monumento comemorativo no
sítio da batalha. Como nos informa Plínio (História Natural,
34. 18. 41-42), assim o fizeram os Ródios: decidiram construir
uma colossal escultura no valor de 300 talentos em honra da
divindade padroeira da ilha, ao deus Sol, Hélios; tratava-se,
naturalmente, do famoso Colosso de Rodes, considerado uma
das Sete Maravilhas da Antiguidade, obra de Chares de Lindos,
aluno do famoso escultor Lisipo.
Ainda existem vestígios dessas fortalezas em vários locais: por
exemplo, as defesas de Egóstena, no Golfo de Corinto (figura 62), e as
de Messénia eram constituídas por muralhas ponteadas de torreões,
dispostos estrategicamente. Por outro lado, as fortalezas na Ática
formavam uma poderosa cadeia defensiva, datada do séc. IV a. C.

Figura 62
Sistema defensivo de
Epóstena.

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A Busca da Beleza. A arte e os artistas na Grécia Antiga

Aspectos do urbanismo grego

No âmbito desta tipologia dos edifícios gregos mais


significativos, parece conveniente fazer referência a dois ou três
aspectos do urbanismo grego. Gostaria em primeiro lugar de
sublinhar a importância na pólis da acrópole e da agora que em
todas elas existem e que têm papel marcante na sua vida.
A acrópole era a parte alta da cidade, de uma maneira
geral amuralhada. Era, portanto, uma cidadela a que se recolhia a
população em caso de um ataque inimigo. Aí se erigia o templo à
divindade políade ou protectora da cidade; aí se guardava o tesouro
público. É com frequência o centro religioso mais importante da
pólis, ou pelo menos o mais significativo. A mais famosa acrópole
é a de Atenas, que tratamos com algum pormenor mais adiante.
A Ágora era um recinto público, uma ampla praça que
ocupava um local central da cidade. Foi sempre um dos locais
nucleares da vida da pólis: vida política e cultural, vida lúdica e
económica, e também vida religiosa. As condições especiais do
clima na Grécia permitia ou convidava à vida ao ar livre. Era por
isso um centro cívico de grande importância. Podemos mesmo
afirmar que, praticamente, entre a ágora e a casa o Grego dividia
a sua vida. Tenha-se em conta que, terminada a formação básica,
a grande escola era o convívio social que tem significativa
importância educativa em qualquer pólis, mas com particular
saliência em Atenas. Ora a Ágora constituía um ponto fulcral
para esse o convívio – para não dizer o mais importante.
Em Atenas – para dar apenas o exemplo mais significativo
– a Ágora era um importante centro cívico, religioso e comercial
(figura 63). Na Ágora ficavam vários templos, altares, estátuas e
edifícios públicos de grande importância religiosa, política e social;
nela se realizavam as sessões da Assembleia (Ekklesia), antes de ser

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transferida no século V a. C. para a colina da Pnix, e as reuniões do


Conselho dos Quinhentos, ou Bulê (no Buleutério), dos tribunais
da Helieia; se encontrava o Pritaneu — ou Tholos — em que os
prítanes se reuniam e viviam permanentemente; num dos seus
pórticos, a Stoa basileios, exercia o seu magistério o arconte-rei —
julgar os casos relacionados com a religião e impiedade — e num
outro e no Pritaneu se encontravam gravados em pedra diversos
documentos, como o código de Sólon; aí, separado por um pórtico
central, decorria diariamente o mercado. Era, portanto, a ágora
um local de grande afluência, que os Atenienses procuravam para
conversar e discutir sobre diversos assuntos.
No domínio do urbanismo adquire importância uma
inovação surgida no séc. V a.C., devida a um famoso arquitecto
de Mileto, Hipodamo – o plano hipodâmico de urbanização, em
que as ruas se abriam, paralelas umas às outras, e se cruzavam na
perpendicular, de modo a formar quadrículas onde os edifícios
eram construídos. Dou como exemplos desse tipo de urbanização
Mileto e Priene, duas cidades da Iónia, na Ásia Menor.
O plano hipodâmico da cidade de Mileto (figura 64),
reconstruída depois de 479 a. C., mostra a aplicação do traçado
em tabuleiro de xadrez, com as suas vias ortogonais, tal como
tinha proposto o arquitecto teórico da sociedade grega. Qualquer
que seja o recorte da margem, o sistema rectilíneo aplica-se à
organização espacial que se desenrola em terreno plano.
Caso peculiar de urbanismo é o da cidade de Priene (figura
65), igualmente na Iónia, onde a aplicação do plano hipodâmico
atingiu os seus limites. Para determinar o traçado das ruas desta
cidade o arquitecto aplicou o seu esquema de ângulos rectos a
um relevo ao mesmo tempo inclinado e ondulado. Assim, certas
ruas, no sentido norte sul, transformaram-se em escadaria,
num sítio de acentuado desnivelamento, entre a parte baixa
da cidade e o topo da acrópole. A encosta era entrecortada por
longos pórticos (as stóai).

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A Busca da Beleza. A arte e os artistas na Grécia Antiga

Nestas duas cidades encontramos, como não podia


deixar de ser, os edifícios emblemáticos de qualquer pólis da
Grécia antiga: acrópole, ágora (as vezes mais do que uma),
templos, propileus, buleutério, pórticos, termas, teatros, ginásio
e palestra, estádio, etc.

Figura 63
Planta da Ágora de Atenas.
1: Estrategéion; 2: Tholos ou pritaneu; 3: Antigo Buleutério; 4: Buleu-
tério; 5: Templo da deusa Mãe; 6: Templo de Apolo Patroos; 7:
Pórtico ou Stoa de Zeus Eleuthérios; 8: Pórtico Real; 9: Hefestéion; 10:
Via das Panateneias ou de Elêusis; 11: Stoa Poikile ou Pórtico com
pinturas; 12: Altar dos Doze Deuses; 13: Praça com Peristilo; 14:
Casa da Moeda; 15: Pórtico sul; 16: Monumento aos Heróis epóni-
mos; 17: Helieia; 18: Prisão.

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Figura 64
Plano hipodâmico de Mileto
1: Porta dos Leões; 2: Termas Romanas; 3: Ágora Norte; 4: Te-
atro; 5: Palestra; 6: Ágora Sul; 7: Ágora Oeste; 8: Templo de Atena;
9: Estádio; 10: Porta Sagrada.

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A Busca da Beleza. A arte e os artistas na Grécia Antiga

Figura 65
Plano hipodâmico de Priene.
1: Acrópole; 2: Templo de Deméter; 3: Teatro; 4: Templo de Atena;
5: Buleutério; 6: Stoa ou Pórtico; 7: Ágora e Templo de Zeus; 8:
Ginásio; 9: Estádio.

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