Você está na página 1de 48

NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

No Mundo, A Cidadania Em Atenas E Em Roma

O que conhecemos por Grécia Antiga refere-se à união de diversas regiões politicamente independen-
tes (as chamadas cidades-Estados gregas), mas que possuíam aspectos que as unificavam cultural-
mente: o fato de possuírem o mesmo idioma, costumes semelhantes e aproximações históricas são
alguns destes elementos.

Neste mundo grego, as duas cidades-Estados de maior destaque, Atenas e Esparta, possuíam siste-
mas de governo frontalmente diferentes. Enquanto esta última era administrada por uma oligarquia
militarizada, a cidade de Atenas esteve alicerçada em bases mais democráticas, cabendo a todos os
seus cidadãos o direito de debater os destinos da coletividade. O próprio sistema educacional ateni-
ense, compromissado com uma formação baseada na reflexão e debate acerca da realidade, salienta
este traço da política de Atenas.

Entretanto, não podemos esquecer que a noção de cidadania ateniense era extremamente limitada se
comparada aos dias de hoje. As mulheres, por exemplo, eram normalmente excluídas dos debates
políticos, assim como escravos, estrangeiros e indivíduos não-abastados. De tal modo, o cidadão ate-
niense era necessariamente do sexo masculino, livre e detentor de propriedades, o que afastava a
maioria da população da política estatal e detinha nas mãos de poucos o direito à educação.

Hoje, vamos abordar os aspectos que caracterizam a constituição da cidadania clássica e o regime
democrático ateniense. Em Atenas (capital da Grécia), nem todos os habitantes da cidade eram consi-
derados cidadãos. Em uma população que somava aproximadamente 400 mil pessoas, apenas 40
mil eram consideradas cidadãs.

Para os gregos, a noção de cidadania estava completamente vinculada à defesa militar da cidade. Isso
significa que somente os que estavam aptos para combater e arriscar suas próprias vidas para defender
a cidade eram considerados cidadãos. Assim, nessa categoria, estavam todos aqueles guerreiros que
também fossem proprietários de terras, ou seja, que fossem capazes de se equipar às suas próprias
custas. Dessa forma, as crianças e as mulheres, embora fossem leais à cidade, não eram consideradas
cidadãs por não serem combatentes. Os escravos, como não poderiam adquirir terras, também não
eram considerados cidadãos

Se compararmos esse conceito de Atenas com o nosso conceito moderna de democracia, percebere-
mos como os gregos viviam em um regime bastante limitado, uma vez que a maioria da população era
excluída das decisões políticas. Além disso, a democracia grega era uma democracia direta, enquanto
a nossa é uma democracia representativa.

A civilização grega sempre foi considerada a mais expressiva e refinada da antiguidade. No entanto,
há dois aspectos básicos que devem ser levados em consideração quanto analisamos essa civilização:
a democracia e a escravidão. É sobre isso que falaremos a seguir.

Escravidão E Democracia Ateniense

A importância da escravidão foi significativa de tal modo que os autores marxistas consideravam a
Roma e a Grécia sociedades com modos de produção bem definidos, uma vez que essas sociedades
vivenciaram o modo de produção escravista de maneira dominante e absoluta.

Não haveria ciências gregas, artes gregas ou o Estado grego se não houvesse a escravidão. Não
haveria o Império Romano e a base do helenismo se não houvesse a escravidão. Por fim, sem ela, não
haveria o mundo moderno tal qual conhecemos hoje.

Já a democracia, por sua vez, é considerada a maior contribuição dos gregos para o nosso mundo
moderno.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 1
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

No entanto, para alguns críticos, é estranho que Atenas falasse em democracia quando as mulheres,
as crianças e os escravos não possuíam nenhum direito político. Assim, é necessário considerar a
questão sob o ponto de vista daquela época, de modo que não podemos julgar a democracia grega
com base em nossos conceitos modernos.

No estudo das sociedades clássicas costumamos destacar especialmente o incisivo papel em que as
práticas e instituições nascidas no mundo grego influenciaram a formação do mundo contemporâneo.
Entre as várias instituições consolidadas no mundo grego, a noção de democracia é uma das que mais
despertam nosso interesse na busca por paralelos que aproximem o mundo antigo do contemporâneo.

A história da democracia ateniense pode ser compreendida à luz de uma série de transformações so-
fridas pela sociedade e economia ateniense. Até os séculos VII e VI, o poder político ateniense era
controlado por uma elite aristocrática detentora das terras férteis de Atenas: os eupátridas ou “bem
nascidos”.

Nesse meio tempo, uma nascente poderosa classe de comerciantes, os demiurgos, exigia participação
nos processos decisórios da vida política ateniense. Além disso, pequenos comerciantes e proprietários
acometidos pela escravidão por dívidas, exigiam a revisão do poder político ateniense. Com isso, os
eupátridas viram-se obrigados a reformular as instituições políticas da cidade-Estado.

Um grupo de legisladores foi responsável por um gradual processo de transformação política. Em 621
a.C., Drácon resolveu estabelecer um conjunto de leis escritas que dariam lugar às leis orais anterior-
mente conhecidas pelos eupátridas. Mesmo não enfraquecendo o poder da aristocracia essa primeira
medida possibilitou uma nova tradição jurídica que retirava o total controle das leis invocadas pelos
eupátridas.

A partir de 594 a.C., Sólon, o novo legislador, ampliou o leque de reformas políticas em Atenas, eliminou
a escravidão por dividas e resolveu dividir a população ateniense por meio do poderio econômico de
cada indivíduo. Dessa forma, os comerciantes enriquecidos conquistaram direito de participação polí-
tica. Além disso, novas instituições políticas foram adotadas.

A Bulé ou Conselho dos Quinhentos era um importante órgão legislativo que dividia as funções antes
controladas pelo Areópago ateniense controlado pelos aristocratas. A Eclésia foi uma instituição mais
ampla onde os cidadãos poderiam aprovar ou rejeitar as leis elaboradas pela Eclésia. Por último o
Helieu seria composto por juízes incumbidos de julgar os cidadãos atenienses de acordo com as leis
escritas.

Em resposta, as elites agrárias atenienses rivalizaram com esse primeiro conjunto de mudanças. A
agitação política do período deu margem para que ações golpistas abrissem espaço para a ascensão
dos governos tirânicos. Os principais tiranos foram Psístrato, Hiparco e Hípias. No fim do século VI a.C.
a retração dos direitos políticos mais amplos incentivou uma mobilização popular que levou à ascensão
política de Clístenes, em 510 a.C..

Em seu governo, os atenienses passavam a ser divididos em dez tribos que escolhiam seus principais
representantes políticos. Todo ateniense tinha por direito filiar-se a uma determinada tribo na qual ele
participaria na escolha de seus representantes políticos no governo central. Dessa maneira, o grau de
participação entre os menos e mais abastados sofreu um perceptível processo equalização.

Outra ação importante, a medida de Clístenes foi a adoção do ostracismo. Por meio desta, todo e
qualquer indivíduo considerado uma ameaça ao governo democrático seria banido por dez anos. Ape-
sar de seu isolamento, o punido ainda teria direito de posse sobre suas terras e bens. De forma geral,
esse foi um importante dispositivo que impedia o surgimento de novos tiranos em Atenas.

Aparentemente, podemos concluir que Clístenes foi o reformador capaz de estabilizar o regime demo-
crático ateniense.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 2
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Alem disso, ficamos com a ligeira impressão de que a igualdade entre os cidadãos de Atenas fora
realmente alcançada. Porém, o conceito de cidadania dos atenienses não englobava, de fato, a maioria
da população.

Somente os homens livres, de pai e mãe ateniense, maiores de 18 anos e nascidos na cidade eram
considerados cidadãos. As mulheres, escravos e estrangeiros não desfrutavam de nenhum tipo de
participação política. Dessa forma, a democracia ateniense era excludente na medida em que somente
um décimo da população participava do mundo político ateniense.

Cidadania Romana

Pedro Paulo Funari, no terceiro capítulo do livro História da Cidadania(organizado por Jaime Pinsky e
Carla Bassanezi Pinsky; 6a. ed.; São Paulo; Contexto; 2013; 573 páginas), afirma que, “no sentido
moderno, cidadaniaé um conceito derivado da Revolução Francesa, em 1789, para designar o conjunto
de membros da sociedade que têm direitos e decidem o destino do Estado. Esta cidadania moderna
liga-se de múltiplas maneiras aos antigos romanos, tanto pelos termos utilizados como pela própria no-
ção de cidadão”.

Em latim, a palavras ciuis gerou ciuitas, “cidadania”, “cidade”, “Estado”. Cidadania é uma abstração de-
rivada da junção dos cidadãos e, para os romanos, cidadania, cidade e Estado constituem um único
conceito – e só pode haver esse coletivo se houver, antes, cidadãos.

Se para os gregos havia primeiro a cidade, polis, e só depois o cidadão, polites, para os romanos era
o conjunto de cidadãos que formava a coletividade. Se para os gregos havia cidade e Estado, politeia,
para os romanos a cidadania, ciuitas, englobava cidade e Estado.

Os etruscos eram um aglomerado de povos que viveram na península Itálica na região a sul do rio Arno
e a norte do Tibre, mais ou menos equivalente à atual Toscana, com partes no Lácio e a Úmbria.
Desconhece-se ao certo quando os etruscos se instalaram aí, mas foi provavelmente entre os anos 1
200 a.C. e 700 a.C.. A sua língua, que utilizava um alfabeto semelhante ao grego, era diferente de
todas as outras, e ainda não foi decifrada. A religiãoera diferente tanto da grega como da romana.

A Etrúria era composta por cerca de uma dúzia de cidades-estados, muito civilizadas que tiveram
grande influência sobre os Romanos. Os últimos três reis de Roma, antes da criação da república em
509 a.C., eram etruscos.

Segundo a tradição, a cidade de Roma foi fundada em 753 a.C. e caracterizou-se desde as origens
pela diversidade de povos e costumes. A bipartição social foi transferida da sociedade etrusca a Roma
na posterior consolidação de dois grupos sociais, os patrícios (detentores da “nobreza de sangue”, he-
reditária) e os plebeus. Outra característica da cidadania legada pelos etruscos foi o relevante papel
feminino na sociedade.

Os patrícios formavam uma oligarquia de proprietários rurais e mantinham o monopólio dos cargos pú-
blicos e mesmo dos religiosos. Eram, assim, os únicos cidadãos de pleno direito. O restante da popu-
lação romana era formada por subalternos excluídos da cidadania. Pouco a pouco, foram adquirindo
um nome próprio, “povo” (populus). Em grande parte, a história de Roma pode ser vista como uma luta
pelos direitos sociais e pela cidadaniaentre aqueles que tinham direitos civis e os demais grupos.

Grandes proprietários rurais, os oligarcas romanos desprezavam as atividades urbanas e mesmo o


fruto do trabalho na terra que não fosse feito por escravos ou agregados subalternos. Entre o restante
da população, havia o “povo” e a “plebe”, palavras que se ligam à ideia de multidão, massa. A noção
de plebe como grupo surgiu no processo histórico de luta contra os privilégios dos patrícios. Na sua
base estavam os camponeses livres de poucas posses, aos quais se juntaram os artesãos urbanos e
os comerciantes. A plebe incluía também descendentes de estrangeiros residentes em Roma.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 3
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Para além da dicotomia entre patrícios e plebeus, havia mais dois grupos: os clientes e os escravos. Os
clientes, “aqueles que obedecem a um patrício”, mantinham relação de fidelidade ao patrono, a quem
deviam serviços e apoios diversos e de quem recebiam terra e proteção. Já os escravos, até o século
III a.C., eram basicamente domésticos. Integravam o conjunto de propriedades do patriarca e faziam
parte da família. A pobreza de camponeses e trabalhadores urbanos levava-os à escravidão.

As consequências sociais da expansão imperial romana, na primeira metade do século II a.C., foi o
aumento do número de escravos e das propriedades fundiárias, com resultante crise na pequena agri-
cultura que transformou parte do campesinato livre em proletários – aqueles cidadãos cujos bens resu-
miam-se à prole. A riqueza de alguns levava à pobreza de muitos, o que não tardou a gerar novas lutas
pelos direitos civis.

O período da República romana testemunhou um grande avanço nas possibilidades de iniciativas jurí-
dicas dos cidadãos. Por exemplo, segundo uma lei datada de 122 a.C., os cidadãos comuns podiam
recorrer dos abusos de autoridade cometidos pelos poderosos. Foram estabelecidos dois princípios
basilares da cidadania:

A possibilidade de recorrer do abuso;

O amplo acesso à informação dos direitos através da fixação público de inscrições que os garantissem.

As lutas pela cidadania continuaram nos anos seguinte, com a crescente polarização da sociedade
romana em dois grandes grupos: os populares e os oligarcas. Os proletários puderam chegar ao exér-
cito e conseguiram, nas décadas sucessivas, a concessão de terras, na forma de colônias, aos vetera-
nos do exército. Os cidadãos-soldados passaram, no entanto, a estar mais ligados a determinados ge-
nerais que à República.

Restrições aos direitos civis, contudo, afloraram com frequência, pois as disputas entre populares e
oligarcas levaram às ditaduras de general, apoiado pelo Senado. Isso ocorreu no final da República e,
principalmente, no Principado, regime baseado no poder do Exército. Neste contexto, houve a revolta
de Espártaco, liderando uma imensa sublevação de escravos em 73 a.C..

Subjacente ao direito da cidadania encontra-se a própria noção de liberdade, definida como a não sub-
missão ou sujeição a outra pessoa. O amor à liberdade estava na base da cidadania romana. A mo-
derna cidadania, na base mesma da democracia, fundamenta-se na distinção romana da chamada li-
berdade negativa, ou seja, a liberdade de não se submeter à vontade de outrem.

Nesta definição estão os fundamentos da liberdade individual moderna. Se, em uma sociedade civil,
somos todos livres ou subordinados, então um cidadão livre deve ser aquele que não está sob o domí-
nio de nenhuma outra pessoa. É, portanto, capaz de agir segundo seu próprio juízo e direito.

A questão central consiste em que a liberdade é condicionada pela subordinação, o que leva a uma
maneira original de encarar as relações entre a liberdade dos cidadãos e a constituição do Estado civil,
que deve refletir a opinião dos cidadãos. Deriva desses conceitos, cruciais não apenas para a revolução
Puritana Inglesa do século XVII, mas também para as revoluções Norte-americana e Francesa do sé-
culo XVIII, a noção de que só existe liberdade individual se existir uma cidadania que governe a si
mesma. Viver como súditos de um governante é viver na subordinação, no limite, como escravos. O di-
reito romano consiste, portanto, em fundamento essencial das reflexões modernas sobre a cidadania.

A conversão do imperador Constantino ao cristianismo, no século IV, foi seguida da constituição do Im-
pério Romano Cristão, prenunciando o declínio acentuado das prerrogativas da cidadania clássica.
Consolidou-se, contudo, a compilação do Direito Romano, legado ao mundo moderno na forma do
Código de Justiniano.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 4
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

A vida política romana era menos controlada pela aristocracia do que se imaginava. De certa ma-
neira, Roma apresentava diversas características em comum com as modernas noções de cidadania
e participação popular na vida social.

Os patriarcas fundadores dos Estados Unidos da América tomaram como modelo a constituição ro-
mana republicana, com a combinação de Senado e Câmara, esta no lugar das antigas Assembleias.

A invenção do voto secreto, em Roma, tem sido considerado a pedra de toque da liberdade cidadã. O
Fórum pode ser considerado o símbolo maior de um sistema político com forte participação da cidada-
nia. Lá, os magistrados defendiam seus pontos de vista e tentavam conseguir o apoio dos cidadãos. O
poder dependia desse apoio.

Como na Grécia, em Roma o exercício de cidadania estava ligado com a capacidade exercer direitos
políticos e civis. A cidadania romana era atribuída somente aos homens livres (nem todos os homens
livres eram considerados cidadãos).

Os cidadãos tinham o Direito: a ser sujeito de Direito privado (jus civile); ao acesso aos cargos públicos
e às magistraturas; à participação das assembleias políticas; e às vantagens fiscais.

Na sociedade romana as pessoas eram diferenciadas entre livres e escravos. Os cidadãos não eram
considerados todos iguais e livres, e se dividiam em categorias de classes. A participação nas ativida-
des político-administrativas era restrita a uma parcela mínima, aos cidadãos ativos; além do que, nem
todos podiam ocupar cargos políticos e administrativos.

Independência dos Estados Unidos

Região colonizada por potências europeias a partir do processo de expansão marítima iniciado em
meados do século XV, o continente americano viria a ser, muitos anos depois, palco de inúmeros mo-
vimentos coloniais emancipacionistas. Mais precisamente ao longo do século XVIII, no mesmo contexto
de crise do Antigo Regime na Europa e de fortalecimento dos ideais iluministas, o Novo Mundo foi
assolado por diversas insurreições contrárias às determinações das Coroas europeias. Se por um lado
algumas dessas revoltas apenas reivindicavam alterações no pacto colonial, outras radicalizavam e
exigiam a ruptura total com suas metrópoles.

Os movimentos de independência das colônias americanas ganharam força à medida que as Coroas
europeias ampliaram a carga tributária cobrada sobre essas regiões, além de expandir todo o sistema
de fiscalização que ali funcionava.

Tais medidas, que na ótica do colonizador buscavam somente ampliar sua arrecadação, ao olhar do
colono se mostravam como ações intoleráveis e que atacavam frontalmente suas liberdades e direitos.
Nesses termos, o pacto colonial se transformava em um acordo inaceitável.

Ao mesmo tempo, a propagação dos valores liberais do Iluminismo nas Américas contribuiu para in-
cendiar ainda mais o cenário explosivo que se desenvolvia nessas colônias. Difundidos por americanos
que iam estudar em universidades europeias e depois retornavam, nas lojas maçônicas ou mesmo
através de livros e jornais que chegavam a essas regiões, estes ideais foram interpretados pelos colo-
nos como justificativas que legitimavam a luta pela independência.

A primeira região americana a conseguir sua independência foi aquela formada pelas Treze Colônias
Inglesas.

Situadas na América do Norte, essas colônias gozavam de uma autonomia bastante incomum dentro
do sistema colonizador europeu. Mais especificamente as “colônias do norte” usufruíam dessa liber-
dade, possibilitada pelo relativo afastamento que a metrópole inglesa tinha em relação aos negócios
por elas desenvolvidos.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 5
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

No transcorrer do século XVIII, no entanto, esta “Negligência Salutar” que caracterizava as relações
entre a Inglaterra e suas colônias do norte foi corrompida, com a metrópole ampliando drasticamente a
carga tributária sobre essas áreas. Medidas como a Lei do Açúcar, a Lei do Selo e a Lei do Chá não
apenas aumentaram a quantidade de impostos pagos pelos colonos, mas também coibiram a liberdade
comercial que até então se fazia presente nessas regiões.

A Lei do Selo cumpria ainda uma outra importante função dentro dos esforços ingleses em controlar as
mobilizações coloniais: ao determinar que todo documento escrito só pudesse circular oficialmente no
espaço colonial após receber o “selo metropolitano”, a Inglaterra buscava não apenas angariar mais
impostos, mas igualmente fiscalizar a possível divulgação de ideais revolucionários através desses
textos.

Ao conceder o monopólio da venda de chá nas Treze Colônias à Companhia das Índias Orientais, a
Lei do Chá estabelecia a exclusividade da venda do lucrativo produto por uma empresa metropolitana,
o que naturalmente causou grande insatisfação nos colonos. Em resposta, estes organizaram o saque
de navios ingleses que, aportados em Boston, traziam em seus porões grandes cargas de chá. Tal
episódio ficou conhecido como Boston Tea Party (a Festa do Chá em Boston).

Entre os anos de 1756 e 1763 a Inglaterra se envolveu em um conflito com a França pela disputa do
controle de terras localizadas na América do Norte. Auxiliados por destacamentos das Treze Colônias,
os ingleses saíram vitoriosos, consolidando seu domínio na região. Os gastos de guerra, no entanto,
foram grandiosos. Como forma de compensá-los, a Inglaterra ampliou a cobrança de impostos sobre
os mesmos colonos que haviam lhe ajudado no combate, contribuindo evidentemente para o aumento
da insatisfação dos americanos.

O descontentamento dos colonos com o governo metropolitano atingiu seu ápice com o estabeleci-
mento das Leis Intoleráveis. Através desse conjunto de leis, a Inglaterra determinava, por exemplo, o
fechamento do porto de Boston e o financiamento dos custos oriundos da manutenção do exército
metropolitano na colônia pelos próprios colonos.

Frente a este cenário de medidas repressoras, os colonos começaram a desenvolver uma reação mais
organizada. Em meados de 1774, representantes das treze colônias reuniram-se, então, no Primeiro
Congresso da Filadélfia. Embora não apresentasse um caráter separatista, este evento foi fundamental
ao processo de independência ao estabelecer a formação de um exército colonial.

Com o fracasso das tentativas de negociação entre as Treze Colônias e sua metrópole por um pacto
colonial mais flexível, a relação entre as partes ficou insustentável. Os primeiros confrontos armados
começaram em abril de 1775, com a Batalha de Lexington. Semanas depois, os colonos voltaram a se
reunir no Segundo Congresso da Filadélfia, quando toda a população local foi convocada a lutar pela
independência.

Declarada oficialmente em 04 de julho de 1776, a independência das Treze Colônias Inglesas só viria
a ser reconhecida pela Inglaterra em 1783, através do Tratado de Paris. Anos depois, em 1787, o agora
já chamado Estados Unidos da América elaboraram sua primeira constituição. Claramente influenciada
pelos ideais iluministas, instituía a república presidencialista como sistema de governo, a tripartição dos
poderes e o Estado Laico. O federalismo também foi adotado com o objetivo de conciliar os diferentes
interesses das ex-colônias que agora passavam a integrar a mesma nação.

O Socialismo

O Socialismo é um sistema político-econômico ou uma linha de pensamento criado no século XIX para
confrontar o liberalismo e o capitalismo. A idéia foi desenvolvida a partir da realidade na qual o traba-
lhador era subordinado naquele momento, como baixos salários, enorme jornada de trabalho entre
outras.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 6
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Nesse sentido, o socialismo propõe a extinção da propriedade privada dos meios de produção e a
tomada do poder por parte do proletariado e controle do Estado e divisão igualitária da renda.

Os precursores dessa corrente de pensamento foram Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-
1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858), conhecidos como criadores do socialismo
utópico.

Outros pensadores importantes que se enquadram no socialismo científico são os conhecidos Karl
Marx e Friedrich Engels.

Apesar das idéias socialistas terem sido criadas ainda no século XIX, foram somente no século XX
colocadas em vigor. O primeiro país a implantar esse regime político foi a Rússia, a partir de 1917,
quando ocorreu a Revolução Russa, momento em que o governo monarquista foi retirado do poder e
instaurado o socialismo. Após a Segunda Guerra Mundial, esse regime foi introduzido em países do
leste europeu, nesse mesmo momento outras nações aderiram ao socialismo em diferentes lugares do
mundo, a China, Cuba, alguns países africanos e outros do sudeste asiático.

Diante de todas as considerações, a seguir os principais aspectos do socialismo que deixam claro a
disparidade com o sistema capitalista.

• Socialização dos meios de produção: todas as formas produtivas, como indústrias, fazendas entre
outros, passam a pertencer à sociedade e são controladas pelo Estado, não concentrando a riqueza
nas mãos de uma minoria.

• Não existem classes, ou seja, existe somente a classe trabalhadora e todos possuem os mesmos
rendimentos e oportunidades.

• Economia planificada: corresponde a todo controle dos setores econômicos, dirigidos pelo Estado,
determinando os preços, os estoques, salários, regulando o mercado como um todo.

O socialismo que foi desenvolvido no decorrer do século XX e que permanece em alguns países até
os dias atuais é conhecido por socialismo real, em outras palavras foi executado de forma prática.

Por outro lado, o socialismo ideal é aquele desenvolvido no século XIX, que pregava uma sociedade
sem distinção e igualitária, que acabava com o capitalismo. Os pensadores dessa vertente socialista
eram em sua maioria anarquistas.

O principal pensador do socialismo foi Karl Marx, para ele esse regime surgiu a partir do capitalismo e
seus meios de produção, tendo seu controle desempenhado pelo proletário, assim como o Estado, que
posteriormente seria extinto, dando origem ao comunismo que corresponde a uma sociedade sem go-
verno, polícia, forças armadas entre outros, além de não possuir classes sociais e economia de mer-
cado.

Após o declínio do socialismo, a partir de 1991 com a queda da União Soviética, o sistema perdeu força
no mundo, atualmente poucos países são socialistas, é o caso da China, Vietnã, Coréia do Norte e
Cuba.

O socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu entre o fim do século XVIII e a primeira
metade do século XIX, no contexto da Primeira Revolução Industrial.

Baseada sobretudo no princípio de igualdade, a corrente socialista emergiu como uma forma de repen-
sar o sistema capitalista que vigorava na época. De uma forma geral, quando falamos em socialismo
frequentemente associamos o termo à corrente marxista, mas essa não é a única forma de socialismo
existente.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 7
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

A partir do século XX, ocorreram no mundo várias tentativas de implementação de regimes socialistas.
Atualmente, alguns países afirmam apresentar um sistema baseado em tais princípios, mas será que
eles são mesmo socialistas? Descubra como funciona o socialismo, quais são os seus principais pen-
sadores e de que formas essa doutrina se apresenta no mundo contemporâneo.

No final do século XVIII, a Europa passava por um processo que gerou mudanças em todas as esferas
da sociedade: a Revolução Industrial. Essa revolução não só modificou a economia dos países euro-
peus, mas também causou grandes transformações sociais. Com a modificação dos meios de produção
e, por consequência, o surgimento do ambiente fabril, o sistema capitalista entrava em uma nova fase:
ele deixava de ser o capitalismo comercial mantido desde o século XV para assumir a forma de um
novo capitalismo industrial.

Com a crescente expansão das indústrias, as cidades cresciam rapidamente, sem qualquer planeja-
mento. Ao mesmo tempo, muitos trabalhadores migraram do meio rural para as cidades, onde a pro-
dução fabril empregava a maior parte da mão-de-obra.

Enquanto isso, a sociedade europeia se dividia entre dois grandes grupos: de um lado, um proletariado
que nada possuía além da própria mão-de-obra; do outro, uma classe burguesa que detinha a maior
parte da riqueza produzida. Essa segregação social se refletia na organização da cidade, com os tra-
balhadores pobres sendo deslocados para as margens da área urbana, onde predominava a miséria.

Esse novo proletariado fabril encontrava-se sob as mais duras condições de trabalho, onde não existia
qualquer meio legal de proteção: os salários eram baixos e as jornadas diárias de trabalho chegavam
a 16 horas, não possuíam direito a nenhum dia de descanso; não existia limite de idade, as crianças
trabalhavam desde cedo e os idosos não tinham direito à aposentadoria; além disso, contavam com
péssimas condições de segurança no ambiente de trabalho.

Neste contexto de pleno desenvolvimento do capitalismo, mas ao mesmo tempo de rápido aumento da
miséria, alguns intelectuais passaram a buscar alternativas que pudessem melhorar esse cenário so-
cial. Foi em resposta a esses problemas que pensadores criaram a teoria socialista, como um caminho
para organizar uma sociedade onde não houvesse desigualdades.

Os primeiros pensadores dessa corrente foram Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen. Cada um
à sua maneira, esses autores fizeram parte da primeira forma de apresentação da ideologia socialista,
mais tarde denominada socialismo utópico. Posteriormente, surge o socialismo científico, tendo
como teóricos mais notáveis os alemães Friedrich Engels e Karl Marx.

O socialismo é um sistema político e econômico baseado naigualdade. Por isso, o socialismo propõe a
distribuição igualitária de renda, extinção da propriedade privada, socialização dos meios de produção,
economia planificada e, além disso, a tomada do poder por parte do proletariado.

O socialismo visa uma sociedade sem classes onde bens e propriedades passam a ser de todos. O
objetivo é acabar com as grandes diferenças econômicas entre os indivíduos, ou seja, a divisão entre
pobres e ricos.

História do Socialismo

O socialismo surgiu no século XVIII como forma de repensar o sistema vigente, neste caso, o capita-
lismo. Para tanto, o primeiro estudioso a utilizar o termo socialismo foi Henri de Saint Simon (1760-
1825), filósofo e economista francês.

Ele propôs a criação de um novo regime político-econômico, no qual os homens repartissem os mes-
mos interesses e recebessem adequadamente pelo seu trabalho. Tudo isso, pautado no progresso
industrial e científico.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 8
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Anarquismo

O anarquismo foi um movimento contemporâneo às teorias socialistas desenvolvidas por Karl Marx e
Friedrich Engels. Um dos primeiros a lançar as primeiras idéias anarquistas foi William Godwin (1756
– 1836), que propôs uma radical transformação nas bases organizacionais da sociedade. Ele acredi-
tava na criação de uma organização comunitária fundada na abolição da propriedade privada e o repú-
dio a qualquer tipo de lei ou governo. A razão seria o guia maior dessa nova sociedade e a total liber-
dade ética e política deveriam ser garantidas.

Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865) foi outro importante pensador anarquista. Em sua principal obra
“O que é propriedade?”, propôs críticas contundentes ao sistema capitalista.

Inspirado por alguns pressupostos do socialismo utópico, ele defendia a criação de um regime político
que seria guiado por uma “república de pequenos proprietários”. Bancos e cooperativas deveriam ser
criadas para fornecer, sem juros, recursos a toda e qualquer atividade produtiva realizável em peque-
nas propriedades.

O termo anarquismo tem origem grega, e não consiste em um sinônimo de desordem ou baderna. Sua
significação mais simples é “sem governo” e, na verdade, resume a oposição política a qualquer forma
de poder que limite as liberdades individuais. Os indivíduos na sociedade anarquista devem adotar
formas de cooperação voluntária e autodisciplina, capazes de estabelecer um equilíbrio ideal entre a
ordem social e as liberdades do indivíduo.

Mikhail Bakunin (1814 – 1876) foi um dos maiores seguidores das teses de Proudhon. Discordante das
teorias marxistas, Bakunin não aceitava a idéia de que o alcance de uma sociedade comunista passava
pela manutenção de um Estado transitório. Para Bakunin, a abolição do Estado deveria ser imediata.
Por isso, ele defendeu o uso da violência para que os governos fossem rapidamente extinguidos. Nem
mesmo os partidos políticos eram vistos como vias de representação da liberdade de pensamento hu-
mano.

Essa oposição do anarquismo às instituições se inspira na idéia de que o homem precisa ser comple-
tamente livre para o alcance da liberdade. Em outras palavras, o anarquismo defende que a liberdade
humana parte dos próprios homens e não de suas instituições. A responsabilidade do indivíduo deveria
tomar o lugar das regras dos líderes e governos. Inspirando diversos trabalhadores pelo mundo, a
ideologia anarquista atuou fortemente nos sindicatos e mobilizações trabalhistas, entre o fim do século
XIX e o início do século XX.

Fascismo e do Nazismo

A ascensão do Fascismo e do Nazismo aconteceu no período entreguerras, ou seja, um tempo de cri-


ses e de descrédito na Europa, entre 1919 e 1939. A Primeira Guerra Mundial acabou com as crenças
em prosperidade no mundo ocidental, especialmente no continente europeu.

O século XIX foi marcado pela euforia com o progresso, as descobertas científicas, o avanço da Revo-
lução Industrial e a hegemonia europeia no mundo por meio do colonialismo e do imperialismo. No final
no século XIX, com a Conferência de Berlim, as potências europeias partilharam entre si o continente
africano com a intenção de explorar suas matérias primas para a indústria em expansão. Além disso,
lutaram pelo fim do tráfico atlântico na evidente intenção de fomentar novos mercados consumidores e
vivenciaram assim um período de enriquecimento e expansão econômica, e o otimismo fazia parte da
realidade das nações europeias.

Durante o período posterior à Primeira Guerra Mundial o poder econômico europeu foi diminuindo,
enquanto novas potências cresciam. Os Estados Unidos da América mantiveram sua economia forte,
e na Ásia o Japão se industrializou e se tornou imperialista. Portanto, o centro do mundo – como acre-
ditavam os europeus – não era mais o Velho Continente.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 9
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

As crises – sociais, políticas e econômicas – estavam presentes em uma Europa já em descrédito, que
aos poucos via o número de conflitos sociais crescerem. Desta forma, vários foram os movimentos de
esquerda que surgiram neste cenário, onde os sindicatos exerceram importante papel.

Desta forma a euforia e o otimismo tão presentes no século XIX abriram espaço para o pessimismo e
para o descrédito espalhados por toda a Europa. Isso começou a fazer parte das propostas e ideias
para a saída da crise e um nacionalismo agressivo surgido como solução foi uma dessas propostas
que acabou ganhando força, especialmente na Alemanha e na Itália. Violência e ditadura passaram a
significar solução. A justificativa do uso da força e da instauração de governos ditatoriais foi usada
diversas vezes na história como argumento para conter momentos de crise e desordem.

A Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial, viu nas ideias nazistas de Adolf Hitler uma solução
para sua recuperação. Já a Itália, mesmo vitoriosa na Primeira Guerra, viu em Benito Mussolini o líder
que através do fascismo salvaria a Itália da crise.

Hitler e Mussolini conseguiram formar grupos de extrema direita compostos por ex-militares, estudantes
e profissionais liberais, para quem as ideias nacionalistas e racistas fizeram sentido, pois atribuíam ao
outro a culpa pela crise.

Os líderes alemão e italiano acabavam com comícios e qualquer tipo de manifestação socialista através
de organizações paramilitares que combatiam – com o aval do Estado – o que chamavam de perigo
vermelho.

Pode-se perceber que a construção do medo do comunismo, do socialismo e de ideias de esquerda


estiveram presentes em vários processos históricos ao redor do mundo. A falta de informação leva,
inclusive, pessoas a acreditarem até hoje que o Partido Nazista, por carregar o nome de Partido Naci-
onal Socialista dos Trabalhadores Alemães, estava ligado às ideias socialistas. É sabido que o socia-
lismo e o comunismo foram grandes inimigos dos regimes totalitários e a utilização dos termos socia-
lista e trabalhadores foi uma estratégia para conquistar os trabalhadores afastando-os do que conside-
ravam perigoso: as ideias de esquerda que se alastravam no mundo

O Nazismo na Alemanha

Regime político de caráter autoritário que se desenvolve na Alemanha durante as sucessivas crises da
República de Weimar (1919-1933).

O Nazismo baseia-se na doutrina do nacional-socialismo, formulada por Adolf Hitler (1889-1945), que
orienta o programa do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP). A essência
da ideologia nazista encontra-se no livro de Hitler, Minha Luta(Mein Kampf). Nacionalista, defende o ra-
cismo e a superioridade da raça ariana; nega as instituições da democracia liberal e a revolução soci-
alista; apóia o campesinato e o totalitarismo; e luta pelo expansionismo alemão.

Ao final da 1ª Guerra Mundial, além de perder territórios para França, Polônia, Dinamarca e Bélgica, os
alemães são obrigados pelo Tratado de Versalhes a pagar pesadas indenizações aos países vencedo-
res.

Essa penalidade faz crescer a dívida externa e compromete os investimentos internos, gerando falên-
cias, inflação e desemprego em massa. As tentativas frustradas de revolução socialista (1919, 1921 e
1923) e as sucessivas quedas de gabinetes de orientação social-democrata criam condições favoráveis
ao surgimento e à expansão do nazismo no país.

Utilizando-se de espetáculos de massa (comícios e desfiles) e dos meios de comunicação (jornais,


revistas, rádio e cinema), o partido nazista consegue mobilizar a população por meio do apelo à ordem
e ao revanchismo.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 10
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Em 1933, Hitler chega ao poder pela via eleitoral, sendo nomeado primeiro-ministro com o apoio de
nacionalistas, católicos e setores independentes. Com a morte do presidente Hindenburg (1934), Hitler
torna-se chefe de governo (chanceler) e chefe de Estado (presidente). Interpreta o papel de führer, o
guia do povo alemão, criando o 3º Reich (Terceiro Império).

Com poderes excepcionais, Hitler suprime todos os partidos políticos, exceto o nazista; dissolve os
sindicatos; cassa o direito de greve; fecha os jornais de oposição e estabelece a censura à imprensa ;
e, apoiando-se em organizações paramilitares, SA (guarda do Exército), SS (guarda especial) e Ges-
tapo (polícia política), implanta o terror com a perseguição aos judeus, dos sindicatos e dos políticos
comunistas, socialistas e de outros partidos.

O intervencionismo e a planificação econômica adotados por Hitler eliminam, no entanto, o desemprego


e provocam o rápido desenvolvimento industrial, estimulando a indústria bélica e a edificação de obras
públicas, além de impedir a retirada do capital estrangeiro do país. Esse crescimento deve-se em
grande parte ao apoio dos grandes grupos alemães, como Krupp, Siemens e Bayer, a Adolf Hitler.

Desrespeitando o Tratado de Versalhes, Hitler reinstitui o serviço militar obrigatório (1935), remilitariza
o país e envia tanques e aviões para amparar as forças conservadoras do general Franco na Espanha,
em 1936. Nesse mesmo ano, cria o Serviço para a Solução do Problema Judeu, sob a supervisão das
SS, que se dedica ao extermínio sistemático dos judeus por meio da deportação para guetos ou campos
de concentração. Anexa a Áustria (operação chamada, em alemão, de Anschluss) e a região dos Su-
detos, na Tchecoslováquia (1938). Ao invadir a Polônia, em 1939, dá início à 2ª Guerra Mundial (1939-
1945).

Terminado o conflito, instala-se na cidade alemã de Nuremberg um Tribunal Internacional para julgar
os crimes de guerra cometidos pelos nazistas. Realizam-se 13 julgamentos entre 1945 e 1947. Juízes
norte-americanos, britânicos, franceses e soviéticos, que representam as nações vitoriosas, condenam
à morte 25 alemães, 20 à prisão perpétua e 97 a penas curtas de prisão. Absolvem 35 indiciados. Dos
21 principais líderes nazistas capturados, dez são executados por enforcamento em 16 de outubro de
1946. O marechal Hermann Goering suicida-se com veneno em sua cela, pouco antes do cumprimento
da pena.

O Fascismo Na Itália

Regime político de caráter autoritário que surge na Europa no período entreguerras (1919-1939). Ori-
ginalmente é empregado para denominar o regime político implantado pelo italiano Benito Mussolini ,
no período de 1919 a 1943.

Suas principais características são o totalitarismo, que subordina os interesses do indivíduo ao Estado;
o nacionalismo, que tem a nação como forma suprema de desenvolvimento; e o corporativismo, em
que os sindicatos patronais e trabalhistas são os mediadores das relações entre o capital e o trabalho.

Camisas pretas – O fascismo nasce oficialmente em 1919, quando Mussolini funda, em Milão, o movi-
mento intitulado Fascio de Combatimento, cujos integrantes, os camisas pretas (camicie nere), opõem-
se à classe liberal.

Em 1922, as milícias fascistas desfilam na Marcha sobre Roma, e Mussolini é convocado para chefiar
o governo em uma Itália que atravessa profunda crise econômica, agravada por greves e manifestações
de trabalhadores urbanos e rurais.

Em 1929 há um endurecimento do regime, que significa cerceamento à liberdade civil e política, derrota
dos movimentos de esquerda, limitações ao direito dos empresários de administrar sua força de traba-
lho e unipartidarismo. A política adotada, entretanto, é eficiente na modernização da economia indus-
trial italiana e na diminuição do desemprego.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 11
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Outras formas – Regimes semelhantes surgem em outros países. Na Alemanha (1933-1945), com Hi-
tler , nasce o nazismo ; na Espanha (1939-1975), com o general Francisco Franco , surge o franquismo,
e em Portugal (1929-1974), com o então primeiro-ministro António de Oliveira Salazar, desenvolve-se
o salazarismo. No Brasil, o fascismo acompanha o Estado Novo (1937-1945).

O período do entre - guerras (1919-1939) foi a época do descrédito e da crise da sociedade liberal.
Essa sociedade, agora desacreditada, havia sido forjada no século XIX, com a afirmação do capitalismo
como sistema econômico "perfeito".

Na segunda metade deste século, o mundo absorvia os progressos da segunda fase da Revolução
Industrial cujo auge se situa entre 1870 e 1914. O imperialismo e colonialismo europeu deram aos
principais países desse continente a hegemonia do mundo e, por isso, uma ótica de encarar o futuro
de forma entusiástica e otimista.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), pólos de poder acabaram (Alemanha, Inglaterra, França,
Rússia, etc.). Na América, os Estados Unidos, com sua economia intacta, se tornaram os "banqueiros
do mundo". Na Ásia, após a Revolução Meiji (1868), o Japão se industrializara se tornou imperialista e
aproveitou o conflito mundial para estender seu poderio na região.

Na descrença dessa sociedade pós-guerra, os valores liberais (liberdade individual), política, religiosa,
econômica, etc. começaram a ser colocados sob suspeita por causa da impotência dos governos para
fazer frente a crise econômica capitalistas que empobrecia cada vez mais exatamente o setor social
que mais defendia os valores liberais: a classe média.

Concomitantemente, as várias crises provocaram o recrudescimento dos conflitos sociais e, o mundo


assiste imediatamente após a guerra, uma série de movimentos de esquerda e um fortalecimento dos
sindicatos. O movimento operário já havia se cindido entre socialistas ou social-democratas (marxistas
que haviam abandonado a tema de luta armada e aderiram à prática político-partidária do liberalismo)
e comunistas (formados por frações que se destacaram do movimento operário seguindo os métodos
bolchevistas vitoriosos na Rússia (1917). Esse dois grupos eram antagônicos.

Toda a euforia e otimismo foi substituído por um pessimismo que beirava o descontrole após a guerra.
Esse pessimismo era sentido entre os intelectuais de classe média, e se manifestou principalmente no
antiplarlamentarismo, no irracionalismo, no nacionalismo agressivo e na proposta de soluções violentas
e ditatoriais para solucionar os problemas oriundos da crise.

Os países mais afetados pela política social-democrata foram a Alemanha (derrotada), a Itália (mesmo
vitoriosa, insatisfeita com os resultados da guerra) onde, a crise se manifestou de forma mais violenta.
Nesses países o liberalismo não conseguira se enraizar. Ambos possuíam problemas nacionais laten-
tes, por isso, a formação de grupos de extrema-direita, compostos por ex-militares, profissionais libe-
rais, estudantes, desempregados, ex-combatentes, etc., elementos que pertenciam a uma classe mé-
dia que se desqualificava socialmente e eram mais sensíveis aos temas antiliberais, nacionalistas, ra-
cistas, etc.

Na Itália, Mussolini e na Alemanha, Hitler formavam organizações paramilitares que utilizavam a vio-
lência para dissolver comícios e manifestações operárias e socialistas, com a conivência das autorida-
des, que viam no apoio discreto ao fascismo um meio de esmagar o "perigo vermelho", representado
por organizações de extrema-esquerda, mesmo as moderadas como os socialistas.

De início, esses grupos que eram mais ou menos marginalizados se valiam de tentativas golpistas para
a tomada do poder como foi o caso do "putsh" de Munique, dado pelo Partido Nazista na Alemanha.

À medida que a crise se aprofundava e o Estado não a debelava assim como se mostrava incapaz de
sufocar as agitações operárias, essas organizações fascistas e nazistas viam aumentar seus quadros
de filiação partidária.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 12
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Os detentores do capita passaram a financiar essas organizações de direita, vendo na ascensão delas
um meio de esmagar as reivindicações da esquerda e a possibilidade de se posta em prática uma
política imperialista no sentido de abertura de novos mercados. Por essa atitude dos capitalistas en-
tende-se porque tanto Mussolini quanto Hitler chegaram ao poder por vias legais.

Declaração Universal Dos Direitos Dos Homens

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, juntamente com os decretos de 4 e 11 de agosto


de 1789 sobre a supressão dos direitos feudais, é um dos textos fundamentais voltados pela Assem-
bléia Nacional Constituinte, formada em decorrência da reunião dos Estados Gerais.

Adotada em seu princípio antes de 14 de julho de 1789, ela ocasiona a elaboração de inúmeros proje-
tos. Após exaustivos debates, os deputados votam o texto final em 26 de agosto de 1789.

Ela é composta de um preâmbulo e 17 artigos referentes ao indivíduo e à Nação. Ela define direitos
"naturais e imprescritíveis" como a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. A
Declaração reconhece também a igualdade, especialmente perante a lei e a justiça. Por fim, ela reforça
o princípio da separação entre os poderes.

Ratificada apenas em 5 de outubro por Luís XVI por pressão da Assembléia e do povo que se dirigiu a
Versalhes, ela serve de preâmbulo à primeira Constituição da Revolução Francesa, adotada em 1791.

Embora a própria Revolução tenha, em seguida, renegado alguns de seus princípios e elaborado duas
outras declarações dos direitos humanos em 1793 e 1795, foi o texto de 26 de agosto de 1789 que se
tornou referência para as instituições francesas, principalmente as Constituições de 1852, 1946 e 1958.

No século XIX, a Declaração de 1789 inspira textos similares em numerosos países da Europa e da
América Latina. A tradição revolucionária francesa também está presente na Convenção Européia dos
Direitos do Homem, assinada em Roma em 4 de novembro de 1950.

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e


de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros
que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que mulheres e homens
gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade
foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o
ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamen-
tais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do homem
e da mulher e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liber-
dade mais ampla,

Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Na-


ções Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades fundamentais do ser humano e a observân-
cia desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância
para o pleno cumprimento desse compromisso,

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 13
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Agora portanto a Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por
meio do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção
de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Países-Membros quanto en-
tre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo 1

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta De-
claração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional
do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tu-
tela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo 3

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibi-
dos em todas as suas formas.

Artigo 5

Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo 6

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo 7

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos
têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os
atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo 9

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 14
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Artigo 10

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um
tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer
acusação criminal contra ele.

Artigo 11

1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a
sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham
sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam de-
lito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo 12

Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua corres-
pondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei
contra tais interferências ou ataques.

Artigo 13

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado.
2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar.

Artigo 14

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros paí-
ses.
2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de
direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 15

1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade.


2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionali-
dade.

Artigo 16

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao ca-
samento, sua duração e sua dissolução.
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.
3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do
Estado.

Artigo 17

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.


2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 15
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Artigo 18

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo en-
sino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.

Artigo 19

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.

Artigo 20

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.


2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21

1. Todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país diretamente ou por intermé-
dio de representantes livremente escolhidos.
2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; essa vontade será expressa em eleições
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure
a liberdade de voto.

Artigo 22

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo es-
forço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Es-
tado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvol-
vimento da sua personalidade.

Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favorá-
veis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe asse-
gure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus inte-
resses.

Artigo 24

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e
a férias remuneradas periódicas.

Artigo 25

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde,
bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indis-
pensáveis e direito à segurança em caso de desemprego, doença invalidez, viuvez, velhice ou outros

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 16
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.


2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nas-
cidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social.

Artigo 26

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementa-
res e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será aces-
sível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do


fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religio-
sos e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus
filhos.

Artigo 27

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as
artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer
produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo 28

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades esta-
belecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo 29

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de
sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações
determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos
direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do
bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos ob-
jetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo 30

Nenhuma disposição da presente Declaração poder ser interpretada como o reconhecimento a qual-
quer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato desti-
nado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

Declaração Dos Direitos Da Mulher

Mães, filhas, irmãs, mulheres representantes da nação reivindicam constituir-se em uma assembléia
nacional. Considerando que a ignorância, o menosprezo e a ofensa aos direitos da mulher são as
únicas causas das desgraças públicas e da corrupção no governo, resolvem expor em uma declaração
solene, os direitos naturais, inalienáveis e sagrados da mulher.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 17
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Assim, que esta declaração possa lembrar sempre, a todos os membros do corpo social seus direitos
e seus deveres; que, para gozar de confiança, ao ser comparado com o fim de toda e qualquer institui-
ção política, os atos de poder de homens e de mulheres devem ser inteiramente respeitados; e, que,
para serem fundamentadas, doravante, em princípios simples e incontestáveis, as reivindicações das
cidadãs devem sempre respeitar a constituição, os bons costumes e o bem estar geral.

Em conseqüência, o sexo que é superior em beleza, como em coragem, em meio aos sofrimentos
maternais, reconhece e declara, em presença, e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direi-
tos da mulher e da cidadã:

Artigo 1º

A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem. As distinções sociais só podem ser baseadas
no interesse comum.

Artigo 2º

O objeto de toda associação política é a conservação dos direitos imprescritíveis da mulher e do homem
Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e, sobretudo, a resistência à opressão.

Artigo 3º

O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação, que é a união da mulher e do homem
nenhum organismo, nenhum indivíduo, pode exercer autoridade que não provenha expressamente de-
les.

Artigo 4º

A liberdade e a justiça consistem em restituir tudo aquilo que pertence a outros, assim, o único limite
ao exercício dos direitos naturais da mulher, isto é, a perpétua tirania do homem, deve ser reformado
pelas leis da natureza e da razão.

Artigo 5º

As leis da natureza e da razão proíbem todas as ações nocivas à sociedade. Tudo aquilo que não é
proibido pelas leis sábias e divinas não pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer
aquilo que elas não ordenam.

Artigo 6º

A lei deve ser a expressão da vontade geral. Todas as cidadãs e cidadãos devem concorrer pessoal-
mente ou com seus representantes para sua formação; ela deve ser igual para todos.
Todas as cidadãs e cidadãos, sendo iguais aos olhos da lei devem ser igualmente admitidos a todas
as dignidades, postos e empregos públicos, segundo as suas capacidades e sem outra distinção a não
ser suas virtudes e seus talentos.

Artigo 7º

Dela não se exclui nenhuma mulher. Esta é acusada., presa e detida nos casos estabelecidos pela lei.
As mulheres obedecem, como os homens, a esta lei rigorosa.

Artigo 8º

A lei só deve estabelecer penas estritamente e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido
senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada
às mulheres.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 18
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Artigo 9º

Sobre qualquer mulher declarada culpada a lei exerce todo o seu rigor.

Artigo 10

Ninguém deve ser molestado por suas opiniões, mesmo de princípio. A mulher tem o direito de subir
ao patíbulo, deve ter também o de subir ao pódio desde que as suas manifestações não perturbem a
ordem pública estabelecida pela lei.

Artigo 11

A livre comunicação de pensamentos e de opiniões é um dos direitos mais preciosos da mulher, já que
essa liberdade assegura a legitimidade dos pais em relação aos filhos. Toda cidadã pode então dizer
livremente: "Sou a mãe de um filho seu", sem que um preconceito bárbaro a force a esconder a ver-
dade; sob pena de responder pelo abuso dessa liberdade nos casos estabelecidos pela lei.

Artigo 12

É necessário garantir principalmente os direitos da mulher e da cidadã; essa garantia deve ser instituída
em favor de todos e não só daqueles às quais é assegurada.

Artigo 13

Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração, as contribuições da mulher


e do homem serão iguais; ela participa de todos os trabalhos ingratos, de todas as fadigas, deve então
participar também da distribuição dos postos, dos empregos, dos cargos, das dignidades e da indústria.

Artigo 14

As cidadãs e os cidadãos têm o direito de constatar por si próprios ou por seus representantes a ne-
cessidade da contribuição pública. As cidadãs só podem aderir a ela com a aceitação de uma divisão
igual, não só nos bens, mas também na administração pública, e determinar a quantia, o tributável, a
cobrança e a duração do imposto.

Artigo 15

O conjunto de mulheres igualadas aos homens para a taxação tem o mesmo direito de pedir contas da
sua administração a todo agente público.

Artigo 16

Toda sociedade em que a garantia dos direitos não é assegurada, nem a separação dos poderes de-
terminada, não tem Constituição. A Constituição é nula se a maioria dos indivíduos que compõem a
nação não cooperou na sua redação.

Artigo 17

As propriedades são de todos os sexos juntos ou separados; para cada um deles elas têm direito
inviolável e sagrado. Ninguém pode ser privado delas como verdadeiro patrimônio da natureza, a não
ser quando a necessidade pública, legalmente constatada o exija de modo evidente e com a condição
de uma justa e preliminar indenização.

Universal Dos Direitos Das Crianças

Você sabia que desde 1959 existe um documento que orienta os países do mundo inteiro a respeitarem
as necessidades básicas das crianças?

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 19
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Esse texto, batizado como Declaração Universal dos Direitos das Crianças, foi aprovado por unanimi-
dade, no dia 20 de novembro daquele ano, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
O cumprimento desses preceitos é fiscalizados pela UNICEF, que é um organismo unicelular da ONU,
criada com o fim de integrar as crianças na sociedade e zelar pelo seu convívio e interação social,
cultural e até financeiro conforme o caso, dando-lhes condições de sobrevivência até a sua adolescên-
cia

Declaração Universal Dos Direitos Das Crianças

A 20 de Novembro de 1959, em reunião desta Assembléia e aprovada, passa a vigorar a seguinte


declaração:

Toda Criança Tem Direitos

Princípio I - À Igualdade, sem Distinção de Raça, Religião ou Nacionalidade.

A criança desfrutará de todos os direitos enunciados nesta Declaração. Estes direitos serão outorgados
a todas as crianças, sem qualquer excepção, distinção ou discriminação por motivos de raça, cor, sexo,
idioma, religião, opiniões políticas ou de outra natureza, nacionalidade ou origem social, posição eco-
nômica, nascimento ou outra condição, seja inerente à própria criança ou à sua família.

Princípio II - Direito A Especial Proteção Para O Seu Desenvolvimento Físico, Mental E Social.

A criança gozará de protecão especial e disporá de oportunidade e serviços a serem estabelecidos em


lei e por outros meios, de modo que possa desenvolver-se física, mental, moral, espiritual e socialmente
de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade. Ao promulgar leis
com este fim, a consideração fundamental a que se atenderá será o interesse superior da criança.

Princípio III - Direito A Um Nome E A Uma Nacionalidade.

A criança tem direito, desde o seu nascimento, a um nome e a uma nacionalidade.

Princípio IV - Direito À Alimentação, Moradia E Assistência Médica Adequadas Para A Criança E


A Mãe.

A criança deve gozar dos benefícios da previdência social. Terá direito a crescer e desenvolver-se em
boa saúde; para essa finalidade deverão ser proporcionados, tanto a ela, quanto à sua mãe, cuidados
especiais, incluindo-se a alimentação pré e pós-natal. A criança terá direito a desfrutar de alimentação,
moradia, lazer e serviços médicos adequados.

Princípio V - Direito À Educação E A Cuidados Especiais Para A Criança Física Ou Mentalmente


Deficiente.

A criança física ou mentalmente deficiente ou aquela que sofre de algum impedimento social deve
receber o tratamento, a educação e os cuidados especiais que requeira o seu caso particular.

Princípio VI - Direito Ao Amor E À Compreensão Por Parte Dos Pais E Da Sociedade.

A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua per-
sonalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais,
mas, em qualquer caso, em um ambiente de afeto e segurança moral e material; salvo circunstâncias
excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe.

A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abando-


nado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência. Convém que se concedam sub-
sídios governamentais, ou de outra espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 20
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Princípio VII - Direito À Educação Gratuita E Ao Lazer Infantil.

O interesse superior da criança deverá ser o interesse diretor daqueles que têm a responsabilidade por
sua educação e orientação; tal responsabilidade incumbe, em primeira instância, a seus pais.

A criança deve desfrutar plenamente de jogos e brincadeiras os quais deverão estar dirigidos para
educação; a sociedade e as autoridades públicas se esforçarão para promover o exercício deste direito.

A criança tem direito a receber educação escolar, a qual será gratuita e obrigatória, ao menos nas
etapas elementares. Dar-se-á à criança uma educação que favoreça sua cultura geral e lhe permita -
em condições de igualdade de oportunidades - desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu
senso de responsabilidade social e moral. Chegando a ser um membro útil à sociedade.

Princípio VIII - Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes.

A criança deve - em todas as circunstâncias - figurar entre os primeiros a receber proteção e auxílio.

Princípio IX - Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho.

A criança deve ser protegida contra toda forma de abandono, crueldade e exploração. Não será objeto
de nenhum tipo de tráfico.

Não se deverá permitir que a criança trabalhe antes de uma idade mínima adequada; em caso algum
será permitido que a criança dedique-se, ou a ela se imponha, qualquer ocupação ou emprego que
possa prejudicar sua saúde ou sua educação, ou impedir seu desenvolvimento físico, mental ou moral.

Princípio X - Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça


entre os povos.

A criança deve ser protegida contra as práticas que possam fomentar a discriminação racial, religiosa,
ou de qualquer outra índole. Deve ser educada dentro de um espírito de compreensão, tolerância,
amizade entre os povos, paz e fraternidade universais e com plena consciência de que deve consagrar
suas energias e aptidões ao serviço de seus semelhantes.

Declaração Sobre Os Direitos Das Pessoas Pertencentes A Minorias Nacionais Ou Étnicas, Religiosas
E Linguística

Reafirmando que um dos objectivos fundamentais das Nações Unidas, conforme proclamados na
Carta, consiste na promoção e no estímulo do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fun-
damentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião,

Reafirmando a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana, na


igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas,

Desejando promover a realização dos princípios consagrados na Carta, na Declaração Universal dos
Direitos do Homem, na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, na Con-
venção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, no Pacto Inter-
nacional Sobre os Direitos Civis e Políticos, no Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, So-
ciais e Culturais, na Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discrimina-
ção Baseadas na Religião ou Convicção e na Convenção sobre os Direitos da Criança, bem como em
outros instrumentos internacionais pertinentes adoptados a nível universal ou regional e nos celebrados
entre diversos Estados Membros das Nações Unidas,

Inspirada pelas disposições do artigo 27.º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos
relativas aos direitos das pessoas pertencentes a minorias étnicas, religiosas e linguísticas,

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 21
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Considerando que a promoção e protecção dos direitos das pessoas pertencentes a minorias nacionais
ou étnicas, religiosas e linguísticas contribuem para a estabilidade política e social dos Estados onde
vivem essas pessoas,

Sublinhando que a constante promoção e realização dos direitos das pessoas pertencentes a minorias
nacionais ou étnicas, religiosas e linguísticas, como parte integrante do desenvolvimento da sociedade
no seu conjunto e num enquadramento democrático baseado no princípio do Estado de Direito, contri-
buem para o reforço da amizade e cooperação entre povos e Estados,

Considerando que as Nações Unidas têm um importante papel a desempenhar no que diz respeito à
protecção das minorias,

Tendo presente o trabalho até agora desenvolvido pelo sistema das Nações Unidas, em particular pela
Comissão dos Direitos do Homem, Subcomissão para a Prevenção da Discriminação e Protecção das
Minorias e órgãos estabelecidos em virtude dos Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos e outros
instrumentos internacionais de direitos humanos pertinentes, na área da protecção dos direitos das
pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e linguísticas,

Tendo em conta o importante trabalho desenvolvido por organizações intergovernamentais e não go-
vernamentais na área da protecção das minorias e da promoção e protecção dos direitos das pessoas
pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e linguísticas,

Reconhecendo a necessidade de assegurar a aplicação ainda mais efectiva dos instrumentos interna-
cionais de direitos humanos no que diz respeito aos direitos das pessoas pertencentes a minorias na-
cionais ou étnicas, religiosas e linguísticas,

Proclama a presente Declaração sobre os Direitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou


Étnicas, Religiosas e Linguísticas:

Artigo 1.º

1. Os Estados deverão proteger a existência e a identidade nacional ou étnica, cultural, religiosa e


linguística das minorias no âmbito dos seus respectivos territórios e deverão fomentar a criação das
condições necessárias à promoção dessa identidade.

2. Os Estados deverão adoptar medidas adequadas, legislativas ou de outro tipo, para atingir estes
objectivos.

Artigo 2.º

1. As pessoas pertencentes a minorias nacionais ou étnicas, religiosas e linguísticas (doravante deno-


minadas “pessoas pertencentes a minorias”) têm o direito de fruir a sua própria cultura, de professar e
praticar a sua própria religião, e de utilizar a sua própria língua, em privado e em público, livremente e
sem interferência ou qualquer forma de discriminação.

2. As pessoas pertencentes a minorias têm o direito de participar efectivamente na vida cultural, religi-
osa, social, económica e pública.

3. As pessoas pertencentes a minorias têm o direito de participar efectivamente nas decisões adopta-
das a nível nacional e, sendo caso disso, a nível regional, respeitantes às minorias a que pertencem
ou às regiões em que vivem, de forma que não seja incompatível com a legislação nacional.

4. As pessoas pertencentes a minorias têm o direito de criar e de manter as suas próprias associações.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 22
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

5. As pessoas pertencentes a minorias têm o direito de estabelecer e de manter, sem qualquer discri-
minação, contactos livres e pacíficos com os restantes membros do seu grupo e com pessoas perten-
centes a outras minorias, bem como contactos transfronteiriços com cidadãos de outros Estados com
os quais tenham vínculos nacionais ou étnicos, religiosos ou linguísticos.

Artigo 3.º

1. As pessoas pertencentes a minorias poderão exercer os seus direitos, nomeadamente os enuncia-


dos na presente Declaração, individualmente bem como em conjunto com os demais membros do seu
grupo, sem qualquer discriminação.

2. Nenhum prejuízo poderá advir a qualquer pessoa pertencente a uma minoria em virtude do exercício
ou não exercício dos direitos consagrados da presente Declaração.

Artigo 4.º

1.Os Estados deverão adoptar as medidas necessárias a fim de garantir que as pessoas pertencentes
a minorias possam exercer plena e eficazmente todos os seus direitos humanos e liberdades funda-
mentais sem qualquer discriminação e em plena igualdade perante a Lei.

2. Os Estados deverão adoptar medidas a fim de criar condições favoráveis que permitam às pessoas
pertencentes a minorias manifestar as suas características e desenvolver a sua cultura, língua, religião,
tradições e costumes, a menos que determinadas práticas concretas violem a legislação nacional e
sejam contrárias às normas internacionais.

3. Os Estados deverão adoptar as medidas adequadas para que, sempre que possível, as pessoas
pertencentes a minorias tenham a possibilidade de aprender a sua língua materna ou receber instrução
na sua língua materna.

4. Os Estados deverão, sempre que necessário, adoptar medidas no domínio da educação, a fim de
estimular o conhecimento da história, das tradições, da língua e da cultura das minorias existentes no
seu território. Às pessoas pertencentes a minorias deverão ser dadas oportunidades adequadas para
adquirir conhecimentos relativos à sociedade em seu conjunto.

5. Os Estados deverão considerar a possibilidade de adoptar medidas adequadas a fim de permitir a


participação plena das pessoas pertencentes a minorias no progresso e desenvolvimento económico
do seu país.

Artigo 5.º

1. As políticas e programas nacionais deverão ser planeados e executados tendo devidamente em


conta os interesses legítimos das pessoas pertencentes a minorias.

2. Os programas de cooperação e assistência entre Estados devem ser planeados e executados tendo
devidamente em conta os interesses legítimos das pessoas pertencentes a minorias.

Artigo 6.º

Os Estados devem cooperar nas questões relativas às pessoas pertencentes a minorias, nomeada-
mente através do intercâmbio de informações e experiências, a fim de promover a compreensão e
confiança mútuas.

Artigo 7.º

Os Estados devem cooperar a fim de promover o respeito dos direitos consagrados na presente De-
claração.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 23
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Artigo 8.º

1. Nenhuma disposição da presente Declaração deverá impedir o cumprimento das obrigações inter-
nacionais dos Estados relativamente às pessoas pertencentes a minorias. Em particular, os Estados
deverão cumprir de boa-fé as obrigações e compromissos assumidos em virtude dos tratados e acordos
internacionais de que sejam partes.

2. O exercício dos direitos consagrados na presente Declaração não deverá prejudicar o gozo por todas
as pessoas dos direitos humanos e liberdades fundamentais universalmente reconhecidos.

3. As medidas adoptadas pelos Estados a fim de garantir o gozo efectivo dos direitos consagrados na
presente Declaração não deverão ser consideradas prima facie como contrárias ao princípio da igual-
dade enunciado na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

4. Nenhuma disposição da presente Declaração poderá ser interpretada no sentido de permitir qualquer
actividade contrária aos objectivos e princípios das Nações Unidas, nomeadamente os da igualdade
soberana, integridade territorial e independência política dos Estados.

Artigo 9.º

As agências especializadas e demais organizações do sistema das Nações Unidas deverão contribuir
para a plena realização dos direitos e princípios consagrados na presente Declaração, no âmbito das
respectivas áreas de competência.

Pobreza, Exclusão Social E Direitos Humanos

Muitas são as indagações que podem ser trazidas à análise do tema da pobreza, da exclusão social e
da questão do acesso e exercício de direitos na sociedade moderna, seja ela urbana e industrializada
ou agrícola.

O que caracteriza a pobreza, o que faz dela um problema social, que traços a diferem da pobreza de
outrora, o que permite falar em exclusão social, o que cabe à sociedade e ao Estado nesse processo
e, em particular, em que medida está associado o tema da pobreza com o Direito e os direitos?

Estas são algumas das perguntas que este trabalho pretende responder para demonstrar a importância
do Estado nos processos que geram e mantêm a desigualdade social e a necessidade dos direitos
econômicos, sociais e culturais para possibilitar aos 'menos iguais' o exercício ativo dos direitos civis e
dos direitos políticos relevantes para a democracia efetiva.

As discussões acadêmicas e políticas vêm proliferando neste campo, após se verificarem que as ques-
tões de gênero, de raça, de origem, de idade, todas constituintes de problemas sociais de séria gravi-
dade convergem ao problema da pobreza e da desigualdade econômica.

É nestas circunstâncias que mulheres, negros, índios, velhos, crianças, deficientes, migrantes e imi-
grantes compartilham em geral de desigualdades comuns à carência econômica e não raro à pobreza
absoluta: a desigualdade de saúde, de moradia, de ocupação social, de bem-estar e, traço comum, a
desigualdade política.

A pobreza, nas suas feições de desigualdade de renda e de acesso a recursos, repercute claramente
na participação política. Barreiras efetivamente sólidas se acumulam, obstando a participação na de-
mocracia e aprofundando os problemas que fazem dissolver a integração social.

O caso brasileiro bem reflete as conseqüências da pobreza no acesso e no exercício de direitos funda-
mentais. Como líder às avessas no processo de distribuição de renda no mundo, campeão da concen-
tração da renda nas mãos de poucos, o Estado brasileiro distribui a mais da metade de sua população

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 24
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

doenças, ausência de moradia, educação insuficiente que não permite trespassar a barreira do analfa-
betismo funcional, desemprego e desagregação cultural.

Largos extratos da população sofrem não somente a ausência do Estado, mas a omissão ativa, que
privilegia parcelas reduzidas e aquinhoadas da sociedade, caracterizando verdadeira violação dos di-
reitos humanos, em franca oposição aos fins legitimadores da razão de constituição e de existência do
Estado.

Nossos números são efetivamente estarrecedores. A despeito de o Brasil ter garantido sua posição de
oitava economia do mundo no 22º Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento (1999), elaborado pelo
Banco Mundial e seu PIB per capita em 1998 ser de US$ 4.750,00 (o da Bolívia foi US$ 1,00 e da
Colômbia US$ 2,60) o Brasil permanece líder na desigualdade de renda.

Dos números citados, vê-se que a renda nacional é suficiente para satisfazer as necessidades mínimas
de cada pessoa. Nossa pobreza deriva de mecanismos econômicos e sociais perversos de distribuição
extremamente desigual da renda.

Segundo estudo da economista Sonia Rocha, do IPEA, órgão do governo federal, os 50% mais pobres
do país detêm cerca de 13% da renda nacional, parcela equivalente ao que os 1% mais ricos detêm.
Em 1997, antes do país mergulhar na crise financeira que resultou na adoção de políticas ainda mais
recessivas, o país contava 51,84 milhões de pessoas vivendo na pobreza absoluta, na indigência.

O abismo na distribuição nacional da renda continua aumentando. Só na região metropolitana de São


Paulo, em 1994 o extrato de 5% das famílias mais ricas auferia renda mensal 37,4 vezes superior às
5% mais pobres. Quatro anos depois, em 1998, essa mesma faixa ganhava 45 vezes mais do que os
5% mais pobres. Isso em tempos de estabilidade econômica.

Lembremos que após outubro de 1998 o desemprego aumentou, chegando a 19% em São Paulo e o
nível da atividade econômica se reduziu. Considera-se, então que São Paulo teria 24,5% de sua popu-
lação abaixo da linha de pobreza, enquanto o Rio de Janeiro teria 35% e Minas Gerais 51%.

Os outros Estados estão em situação bastante pior para produzir a cifra nacional de 54% de pobres no
Brasil. O Estado de São Paulo teria 10% de sua população (3,4 milhões de pessoas) abaixo da linha
de pobreza absoluta, ganhando cada um menos de R$ 73,00.

A linha da pobreza relativa estaria até o limite de renda em torno de R$ 149,00, por pessoa. Acima
disso, deveria a pessoa ser considerada, pelos critérios governamentais, não-pobre, ou seja, perten-
cente à classe média.

Entretanto, é difícil dizer que esse valor possa satisfazer as necessidades mais elementares de alimen-
tação, saúde, moradia, vestimentas e lazer para atestar a existência de uma vida digna em regiões
urbanas com elevado custo de vida.

Pelas observações acima, há que se ter bem claro que os números oficiais indicadores da pobreza
devem ser considerados como uma referência, e não um espelho fiel da realidade. Não é imparcial a
utilização de critérios distintos para a aferição da distribuição da renda. A seleção desses critérios
presta-se exatamente a produzir resultados ou imagens de realidade mais favoráveis à sua imagem.

Destremau salienta que o discurso público sobre a pobreza, incluindo a manipulação das medições dos
níveis e da extensão da pobreza, constitui um ato político, que visa tanto à legitimidade quanto ao
controle. E pode desempenhar diferentes funções, como por exemplo: um número elevado do pobres
pode ser percebido como falha do Estado em integrá-los e promover seu bem-estar, como também
pode contribuir para a construção da imagem de um "país pobre" para estimular programas internacio-
nais de doações ou financiamentos a custo reduzido para iniciativas de combate à pobreza.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 25
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Não cabe aqui analisar exaustivamente a racionalidade que faz mover o Estado de forma a manter
mecanismos de reprodução de desigualdade e a implementar políticas e projetos que beneficiem agen-
tes econômicos - muitas vezes estrangeiros. Basta que se relacione o modo de funcionamento do sis-
tema capitalista brasileiro e internacional, os mercados e o Estado.

Autores como Habermas, Claus Offe e, entre nós, Alaôr Caffé Alves e Eros Grau já estudaram e iden-
tificaram o papel do Estado na constituição e reprodução dos mercados, por meio da proteção institu-
cional da propriedade e do contrato para a viabilização da circulação mercantil.

O Estado também ampara o mercado oferecendo-lhe os meios e condições necessárias à sua repro-
dução pelo estabelecimento das infra-estruturas, como construção de estradas, ferrovias, portos, hi-
drelétricas, além de formação e capacitação de mão-de-obra, subsídios, proteções tarifárias, etc.

Aliada a essa racionalidade de privilégio a determinados setores produtivos, a corrupção e o nepotismo


terminam por macular a legitimidade que deu ensejo à consolidação do Estado como guardião dos
direitos e da liberdade de todos os membros da sociedade.

Cabe-nos analisar a racionalidade que deve nortear a identificação da pobreza como uma disfunção
relacional que viola a autonomia da pessoa, a dignidade, o respeito e que impede pessoas situadas
nesse âmbito de se desenvolver plenamente como pessoa dentro da sociedade, ou seja, dentro do
jogo das relações e exigências sociais da atualidade.

As Faces De Um Conceito

O termo 'pobreza' traz significações diversas e é frequente vê-lo acompanhado de qualificativos que
alteram seu sentido. Assim é que se lê pobreza absoluta, pobreza relativa, pobreza estrutural, pobreza
urbana, pobreza rural, além da expressão nova pobreza, correlata a 'novos pobres'.

Outras expressões são empregadas como equivalentes a pobreza, como miséria, indigência, carência
e, mais recentemente, desigualdade, exclusão, destituição, precariedade e vulnerabilidade.

A indagação do que faz com que uma pessoa possa ser incluída dentro do grupo de pessoas denomi-
nadas pobres não porta resposta simples.

José Bengoa observa que "pobreza é um conceito difícil de definir, mas que todo mundo entende
quando se o menciona. Talvez porque cada qual, cada indivíduo sabe perfeitamente o que seria para
ele e sua família uma situação de pobreza.

Para um poderia ser não comer; para outro, vestir-se pobremente, para um terceiro, baixar seu nível
de vida habitual. São muito imprecisas, portanto, as definições habituais sobre a pobreza. Fala-se que
a 'pobreza absoluta' seria aquela em que a pessoa não pode alimentar-se com o mínimo suficiente para
sua manutenção fisiológica.

A antropologia demonstrou a relatividade destes mínimos fisiológicos, pois que estão sempre determi-
nados culturalmente. Por isso, quando falamos de 'pobreza' poucas vezes nos referimos aos níveis
absolutos. Trata-se, pois, de um conceito essencialmente relativo. A pobreza é, em geral, o olhar dos
não-pobres sobre os pobres. É um olhar estereotipado, cheio de temores, ansiedades, visões etnocên-
tricas e, mais ainda, com uma proposta implícita de homogeneização cultural e integração ao consumo.
Esta conceituação é mais clara na literatura que vê a pobreza como 'carência', isto é, como ausência
total ou parcial de bens, serviços, acesso à cultura e à educação, enfim, à falta de integração à socie-
dade. Não é por acaso que em todas as investigações realizadas, as pessoas que tecnicamente pode-
riam ser denominadas 'pobres' não se reconhecem como tais. Ao se lhes perguntar se são pobres,
afirmam que não o são, e que os pobres são outras pessoas mais próximas da 'pobreza absoluta'.
Ninguém quer ser estigmatizado com a definição de carência. O pobre que reconhece sua pobreza e a
aceita, renuncia à sua superação e faz da mendicância seu ofício e da lástima seu discurso".

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 26
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Se por um lado a avaliação da pobreza possui um caráter subjetivo e contingente, variando em conte-
údo ou intensidade conforme o 'outro' na comparação, fazendo-nos pensar na pobreza somente como
um conceito relativo, por outro lado, devido à situação de extrema indignidade em que elevada parcela
da população mundial vive, pela falta de recursos, pela ausência de políticas públicas, pela sujeição
étnica e social e pela absoluta destituição material de direitos, passou-se a utilizar o conceito de po-
breza absoluta para permitir a aferição dos níveis de destituição, ainda que imperfeita, para fins de
desenvolvimento e implementação de políticas sociais, permitindo, também, a possibilidade de compa-
ração entre diferentes regiões e países.

Relativamente equivalente às idéias de indigência e miséria, a noção de pobreza absoluta foi cunhada
por Robert McNamara, quando presidente do Banco Mundial, para diferenciar do tipo de pobreza veri-
ficado em países desenvolvidos.

Segundo ele, a extrema pobreza consiste "na condição de vida caracterizada por má-nutrição analfa-
betismo, doenças, entornos esquálidos, alta mortalidade infantil e baixa expectativa de vida, tudo abaixo
de qualquer definição razoável de decência humana".

Essa conceituação permite ver melhor, por contraposição, as nuances da pobreza relativa, visto que
muitas vezes, aqueles qualificados como pobres em relação à riqueza de seus próximos, podem estar
em situação confortável se comparados aos pobres de uma outra região ou de outro país.

Essa análise mostra a pobreza em seu sentido relativo, ou seja, indicando o extrato de uma população
que tem acesso aos bens e serviços que garantem a sobrevivência e respeitam os limites objetivos de
uma vida digna, mas que vive em circunstâncias e condições bastante inferiores aos que estão no outro
extremo da linha de riqueza.

Questão Social e Pobreza

Pobreza e privação são termos próximos, mas não exatamente sinônimos. Há uma distinção entre a
'privação', em suas várias formas, conseqüências, sentimentos e sofrimentos a ela relacionados e 'po-
breza' como um discurso construído, cuja forma lhe é dada pelas definições que recebe. Assim, por
exemplo, a definição de uma linha de pobreza estabelece uma linha administrativa e artifical entre
pobres e não-pobres.

É por isso que surgem problemas com a idéia de pobreza relativa, assim como com a fixação do critério
de estabelecimento da linha da pobreza extrema ou absoluta, demonstrando que a questão não é sim-
ples e as respostas que lhe são dadas podem trazer conseqüências bastante significativas, positiva ou
negativamente.

Amartya Sen observa que a privação relativa no âmbito da renda pode significar privação absoluta no
campo das capacidades de realização, visto que em um país afluente, maior quantidade de renda pode
ser necessária para a aquisição de bens suficientes para a consecução da 'mesma funcionalização
social', como 'aparecer publicamente com dignidade, sem envergonhar-se'. O mesmo vale para a ca-
pacidade de 'tomar parte na vida da comunidade ".

O Brasil não foge a esse panorama, em vista do custo de vida razoavelmente elevado em comparação
a outros países pobres. Para aqueles que ainda estão incluidos no mercado formal de trabalho, a lei
prevê patamares mínimos de renda.

Entretanto, o salário-mínimo nacional, hoje em torno do equivalente a US$ 65,00 não basta a suprir
minimamente as necessidades de alimentação de uma família vivendo em área urbana, menos ainda
se lembrarmos que, por norma constitucional inscrita no artigo 7º, IV da Constituição Federal, seu valor
deveria bastar para satisfazer as necessidades de alimentação, moradia, educação, saúde, lazer, ves-
tuário, higiene, transporte e previdência social.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 27
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

A dificuldade de conversão da renda oriunda de salário nesse valor em 'capacidade' de realização e


ação em sociedade é evidente. Todavia, os mesmos US$ 65,00 poderiam satisfazer as necessidades
mínimas acima elencadas em outro país com custo de vida menor, como em alguns países vizinhos ao
nosso ou países do Oriente ou da África.

Outro aspecto que cabe lembrar tange a importância de não se limitar a compreensão da pobreza
somente como falta ou insuficiência de renda.

Como Amartya Sen aponta, a pobreza é sobretudo, e na sua parte mais sensível, uma questão de
inadequação dos meios econômicos da pessoa para a sua realização na sociedade (por realização
podemos também dizer sua expressão como pessoa, seu acontecimento, com a possibilidade de efe-
tivo desenvolvimento de sua personalidade).

Assim, por exemplo, uma pessoa que possui metabolismo alto, ou é de grande compleição física, ou
ainda sofre de alguma parasitose que absorve seus nutrientes estará em desvantagem quanto à capa-
cidade de realizar-se em relação à outra pessoa que receba a mesma renda, mas que não tenha essas
peculiaridades.

O mesmo vale para mulheres grávidas, que demandam mais nutrientes, pessoas doentes, que neces-
sitam de cuidados especiais e de medicamentos, pessoas que habitam bairros ou cidades que reque-
rem gastos elevados com transporte ou segurança, pessoas muito jovens ou muito idosas, que têm
necessidades próprias, famílias numerosas e outras circunstâncias que, ainda que temporárias, afetam
a capacidade de realização e de exercício de direitos, especialmente em sociedades individualistas
onde a solidariedade e a mútua ajuda constituem exceções.

Características pessoais, como a idade, doenças ou certas deficiências, que interferem na obtenção
de renda pela via normal de inserção da pessoa na sociedade, o trabalho, afetam também a conversão
da renda em 'capacidades'. Em consequência, tem-se que a vulnerabilidade das pessoas pobres é
multifacetária.

As causas que culturalmente obstam o pleno acesso às atividades econômicas ou ao mercado de


trabalho - o preconceito - impedem também a conversão ótima da renda em capacidades na sociedade.
Dentre os pobres, os mais pobres, aqueles outrora chamados miseráveis ou indigentes, são os que
menos possibilidade têm de uma vez excluídos, serem resgatados para dentro do pacto social.

É por isso que o critério da baixa renda, por ser independente das condições pessoais, não serve para
avaliar coretamente o universo das pessoas denominadas pobres. Mais apropriado a um conceito re-
levante da pobreza é o critério da inadequação da renda para a geração das capacidades minimamente
aceitáveis.

Falando de outro modo, a renda é fundamental para afastar a pobreza, mas o estabelecimento de um
critério único e objetivo para fixação de quem pertence ou não a essa faixa social conduz a resultados
equivocados por recusar o reconhecimento das diferenças pessoais que podem fazer com que uma
pessoa de maior renda, que hipoteticamente a situaria fora da linha de pobreza, possa ser de fato mais
pobre que outra com menor renda, mas com menor demanda de determinados recursos ou 'insumos'.

Daí porque tantas políticas públicas de redução da pobreza não obtêm o resultado esperado: suas
premissas de ação são falhas, incompletas ou, por tratarem uniformemente destinatários tão diversos,
são erradas.

Cabe notar que, pela forma com que Amartya Sen enfrenta a problemática da pobreza e a insere como
o eixo em torno do qual devem girar das discussões acerca da desigualdade, a questão não se resolve
com a simples fixação de uma linha hipotética de pobreza com base na renda mínima.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 28
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

O critério das 'capacidades', transcendente da visão limitada da renda, permite melhor apreender a
complexidade da realidade social dos que vivem em condições abaixo do necessário para a realização
eficiente das faculdades humanas na sociedade atual.

E sua análise, contextualizada à nossa realidade, não pode prescindir da premissa de que as causas
que obstam o acesso ao mercado de trabalho, aos bens primários da sociedade e que aprofundam a
desigualdade na distribuição da renda estão intimamente ligadas a preconceitos contra grupos sociais
e a variadas formas de opressão, inclusive a violência.

Exclusão Social

Se o termo pobreza pode ser construído a partir da definição que recebe, incluindo ou deixando de
incluir grupos sociais, o termo recente 'exclusão social', ainda que tenha significação certamente difusa
e polimorfa, tem o condão de iluminar justamente o espaço social, jurídico e político perdido frente ao
estado de destituição de recursos de toda espécie - econômicos, sociais, jurídicos, culturais.

A destituição se apresenta como um monstro tentacular, absorvendo qualquer possibilidade de atuação


no espaço social às pessoas pobres, grupo em que se incluem as mulheres, os negros, deficientes,
índios, velhos, crianças - e todos aqueles que não conseguem partilhar do controle do poder social. O
estado de exclusão social oblitera a tal ponto esse espaço que mesmo a capacidade de insurgência e
de organização contra os mecanismos que o originam são mirrados.

O termo 'exclusão social' surgiu na década de 60, mas a partir da crise dos anos 80 passou a ser
intensamente utilizado, integrando discursos oficiais para designar as novas feições da pobreza nos
últimos anos.

A expressão, por ser relativamente recente, está longe de ser unívoca, mas está sempre relacionada
às concepções de cidadania e integração social. Normalmente é empregado para designar a forma de
alijamento dos frutos da riqueza de uma sociedade e do desenvolvimento econômico ou o processo de
distanciamento do âmbito dos direitos, em especial dos direitos humanos.

Enquanto a pobreza constitui eixo temático das discussões anglo-americanas, a exclusão social passou
a centralizar as discussões no continente europeu, particularmente na França. Há autores que enten-
dem que a distinção entre os dois conceitos está relacionada ao modo de se abordar a questão da
desigualdade.

Segundo essa perspectiva, a noção de pobreza focaliza aspectos distributivos, como indica uma de
suas definições mais comuns "a falta de recursos à disposição de um indivíduo ou de uma família". A
idéia de exclusão social, por sua vez, está centrada nos aspectos relacionais, isto é, "na participação
social inadequada, a ausência de proteção social, ausência de integração social e ausência de poder".

Outros autores, por outro lado, passaram a perceber também a pobreza como resultado de certo padrão
de relações entre as pessoas e não simplesmente uma acumulação insuficiente de produtos ou bens.
Como Geneviève Azam aponta, "é sem dúvida por se esquecerem que a pobreza é o sintoma de uma
relação entre os homens que as sociedades modernas esperaram poder erradicá-la por meio de uma
produção frenética e ilimitada".

Portanto, a diferença específica entre os dois conceitos não reside neste ponto. A Comissão Européia
aproximou a noção de exclusão social da idéia da realização inadequada ou insuficiente dos direitos
sociais. Room aponta o trabalho do Observatório Europeu para o Combate à Exclusão Social, que tem
por função analisar a efetividade das diferentes políticas locais, regionais e nacionais, a partir da cons-
tatação de que processos de investimento (não só financeiro) ou desinvestimento interferem e mesmo
provocam fenômenos de exclusão ou de reinserção social, incluindo investimentos e desinvestimentos
em recursos e equipamentos comunitários locais.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 29
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Os obstáculos postos às pessoas ao exercício de seus direitos e as conseqüências daí decorrentes


quanto à não participação nas instituições principais da sociedade são os aspectos-chave da exclusão
social.

O trabalho desse Observatório permite ver mais claramente a extensão do sentido dessa nova expres-
são, não só para identificar os processos geradores da exclusão, mas também para identificar as polí-
ticas mais adequadas à solução ou ao tratamento desses processos.

O termo exclusão social é, portanto, mais do que um modismo, ou um simples sinônimo de algo já
existente. Seu arco de sentidos é mais amplo que o do termo 'pobreza', pois abrange a idéia de direitos
perdidos, não acessíveis ou exercíveis, ao menos nos mesmos moldes e extensão de outras pessoas
consideradas 'incluídas'.

Esse enfoque sobre as relações que determinam a exclusão social permite que se afaste definitiva-
mente a idéia, por vezes arraigada, de que a pobreza e a exclusão social decorrem naturalmente da
vida em sociedade ou do inelutável progresso.

Ou de que, por razões biológicas ou psicológicas, algumas pessoas não são capazes de se ambientar
favoravelmente dentro das relações capitalistas. Ocorre que, quando metade da população do país é
de tal modo pobre que não consegue exercer plenamente seus direitos humanos, algo não pode estar
correto nesse tipo de raciocinar.

Nessa linha, é como se, como bem observa azam, as atividades econômicas tivessem o condão de,
por si, criar uma sociedade harmoniosa. O naturalismo fatalista se estende, ainda, ao caráter das leis
econômicas.

A sociedade é apresentada como submetida às leis econômicas que não mais se originariam das es-
colhas humanas. A exclusão passa a ser vista como natural e mesmo inerente, reforçando a crença no
progresso contínuo, sob uma racionalidade instrumental que faz das pessoas, assim como do meio
ambiente, nada mais do que recursos ou meios para a obtenção do maior lucro, à margem das escolhas
políticas e sociais.

Inclusão/exclusão e pobreza/riqueza são dicotomias relacionadas à desigualdade e, portanto, ao tema


da igualdade. Por via de conseqüência, são relações e não estados, relações estas ligadas à oposição
feita entre liberdade e igualdade, que estariam uma para outra como que numa gangorra. Esta oposi-
ção, no entanto, é indevida e encontra justificativa no modo individualista - e mesmo hedonista - de
mirar a liberdade.

Ocorre, porém, que as desigualdades sociais não se dão exclusivamente na esfera das relações priva-
das, isto é, entre particulares. Não estão situadas - e nem podem estar - fora da dimensão da esfera
pública.

É indevido associar-se a liberdade ao público e a igualdade ao privado, de forma a situar somente a


liberdade no plano da regulação estatal para a sua proteção, especialmente pelo direito civil e pelo
direito penal. Nada há no sistema jurídico que permita comparar o nível de proteção da liberdade com
o nível de proteção da igualdade, em seu sentido material.

A igualdade formal permanece somente como o eixo legitimador do sistema liberal de atribuição de
direitos.

Porém, exatamente porque o exercício da igualdade material está geneticamente ligado ao exercício
da liberdade, torna-se a primeira (a igualdade) de fundamental relevância para a esfera pública, im-
pondo a ação do Estado para sua proteção, especialmente com a implementação de políticas sociais
e econômicas.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 30
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Jamais se poderá falar, por conta do modo como opera o sistema capitalista - que faz maximizar o lucro
com a desvalorização da mão-de-obra -, que a desigualdade existe por conta da preguiça ou da au-
sência de vocação para o trabalho e para a riqueza, mantendo certo número de pessoas na miséria.
Este darwinismo social é argumento próprio dos que vêm a desigualdade na distribuição da riqueza
como natural ao primado da liberdade - em sua acepção absoluta.

Ao se tratar um tema tão complexo, não se pode recorrer a simplificações que, conquanto facilitem a
análise e, muitas vezes, possibilitem ver com clareza os aspectos mais agudos, de fato obscurecem a
percepção e o tratamento de uma realidade rica e de múltiplas faces. A verdade é que a redução da
complexidade de um problema - especialmente se social ou econômico - freqüentemente conduz ao
desperdício de recursos com políticas públicas de escassa eficácia.

O Dever De Proteção Contra Todas As Formas De Destituição

O combate à pobreza e à exclusão social, como formas de desigualdade que repercutem em todas as
dimensões da pessoa, constituem imperativos éticos e, como parte importante da questão social atual,
repercutem nas políticas socialistas e mesmo nas neoliberais, interna e internacionalmente. Sendo as-
sim, refletem nos sistemas jurídicos que trazem positivados como obrigação jurídica deveres de inclu-
são social e de erradicação das causas geradoras da desigualdade.

A Constituição Federal promulgada em 1988 ergue no artigo 3º a igualdade, em várias de suas mani-
festações, como objetivo fundamental da República.

Os quatro incisos desse artigo são explícitos em determinar os aspectos que devem constituir a priori-
dade da atuação pública e privada para a consolidação do Estado Democrático de Direito. É o artigo
3º que, por oposição, se reconhecem as disfunções de nossa sociedade e se coloca como meta sua
correção:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

Plasmados dessa maneira, tais objetivos revestem a razão de ser do Estado brasileiro, as cláusulas do
nosso pacto social, para o qual os direitos fundamentais são os meios para sua consecução e o sistema
jurídico, em sua inteireza, garante os modos para o seu necessário atingimento.

Não se tratam, pois, de meras normas programáticas, destinadas simplesmente a pacificar o conflito
social pela positivação, e cuja ausência de efetividade deve ser objeto de puro conformismo. Esses
objetivos fundamentais da República constituem obrigações de resultado que o poder público e a soci-
edade devem conjuntamente buscar.

Com vistas à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, princípio dos quais os demais rela-
cionados no artigo 3º são corolários diretos, a Constituição estabelece os direitos à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, em todas as suas formas e meios descritos no artigo 5º; os
direitos sociais como a educação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, à proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, como previsto nos artigos 6º a 9º e em todo
o Título VIII -Da Ordem Social (arts. 193 a 222). A Constituição também impõe aos agentes econômicos
a obrigatoriedade de operar conforme os objetivos fundamentais mencionados, como decorre do artigo
170 e incisos III, VII e VIII.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 31
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Quanto ao Poder Público, a Constituição explicitamente atribui no artigo 23, inciso X, competência co-
mum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios "combater as causas da pobreza e os fatores de
marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos".

O artigo 23 traz cristalinamente caber aos três níveis da Federação não somente implementar medidas
de redução ou alívio da pobreza, mas adotar e perseguir políticas efetivas que combatam as causas
que a provocam, assim como os fatores que favorecem a marginalização, aliando a isso o dever de
promover a integração social dos setores desfavorecidos.

No âmbito internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 estabelece que os
direitos econômicos, sociais e culturais são indispensáveis à dignidade da pessoa e ao livre desenvol-
vimento da personalidade e que sua realização constitui direito de cada membro da sociedade (art.

XXII). A Declaração prevê os direitos ao trabalho, ao lazer e ao repouso, à saúde e à instrução, sempre
contextualizados para o livre desenvolvimento da personalidade das pessoas. É interessante notar que
seu texto não coloca o trabalho como única forma de 'redenção' social, mas como um dos meios de
proteção social. A leitura dos artigos XXIII e XXV o demonstram claramente:

Art. XXIII - 1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e
favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Toda pessoa que trabalha tem o direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim
como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se
necessário, outros meios de proteção social.

Art. XXV - 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família
saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços socais
indispensáveis, o direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou
outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais e o Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos explicitam em preâmbulo de idêntica redação a relação entre a privação no âmbito
econômico e o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, ao dispor que os Estados-Partes
reconhecem "que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o ideal do ser
humano livre, liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado a menos que se criem condições
que permitam a cada um gozar de seus direitos econômicos, sociais e culturais, assim como de seus
direitos civis e políticos."

Sem que entremos em considerações sobre as razões políticas que determinaram a elaboração de
dois tratados ao invés de um único documento, o fato é que os direitos garantidos em cada um dos
Pactos são completares recíprocos entre si. Ou seja, não é possível conceber o pleno exercício dos
direitos civis e políticos se os direitos econômicos, sociais e culturais não estiverem garantidos e efeti-
vados - e vice-versa. Como dito no preâmbulo aos Pactos, enquanto o ser humano não estiver liberto
do temor e da miséria, permanecerá subjugado, não será livre e não terá meios de desenvolver livre-
mente sua personalidade. Em uma palavra, não será pessoa.

A Declaração e o Programa de Ação de Viena trazem expressamente que "a existência de situações
generalizadas de extrema pobreza inibe o pleno e efetivo exercício dos direitos humanos" (I - 14).

Afirma, também, que "a pobreza extrema e a exclusão social constituem uma violação da dignidade
humana e que devem ser tomadas medidas urgentes para o conhecimento maior do problema da po-
breza extrema e de suas causas, particularmente aquelas relacionadas ao problema do desenvolvi-
mento, visando a promover os direitos das camadas mais pobres, pôr fim à extrema pobreza e à exclu-
são social e promover uma melhor distribuição dos frutos do progresso social.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 32
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

É essencial que os Estados estimulem a participação das camadas mais pobres nas decisões adotadas
em relação às suas comunidades, à promoção dos direitos humanos e aos esforços para combater a
pobreza extrema."

Além destes, vários outros ítens mencionam situações de desigualdade jurídica, social, econômica e
política de minorias étnicas e religiosas, mulheres, idosos, crianças e pessoas e grupos que se tornaram
vulneráveis.

Esta breve descrição nos permite perceber o abismo existente no Brasil entre o ser e o dever-ser em
sede de direitos humanos.

Desigualdade de Direitos

As situações relacionadas à pobreza e à exclusão não constituem um bem, algo que se deseje de modo
espontâneo.

Intuitivamente, não é algo que se queira para si ou para outra pessoa, havendo alternativas dignas,
pois, sabemos, ou ao menos intuímos, que a escassez de recursos a ela inerente não permite o acesso
a numerosos bens imprescindíveis à sobrevivência pessoal e em sociedade ou valorizados socialmente
como necessários para manter o respeito como pessoa frente aos outros.

Dentre os bens imprescindíveis à subsistência elencam-se não somente aqueles necessários à própria
existência física no mundo, mas também os necessários a que o ser humano possa ser reconhecido
como uma pessoa, com direitos e com deveres face aos demais na comunidade, que tenha a possibi-
lidade de, sempre que quiser, participar ativamente na conformação e confirmação das regras que
governam a todos.

Se é algo que não se quer para si ou para os outros, decorre um dever ético de combatê-la, assim
como aos mecanismos e processos que a geram.

O Estado, na sua obrigação de dar a todas as pessoas acesso e meios de exercício dos direitos, e com
especial ênfase dos direitos fundamentais expressos na Constituição Federal e nos Tratados Interna-
cionais de Proteção de Direitos Humanos, estabelece garantias constitucionais para esse acesso e
exercício - especialmente o mandado de segurança e o habeas-corpus - , assim como desenvolve e
implementa políticas públicas sociais e econômicas.

Todavia, persiste nos três Poderes, inclusive nos tribunais - em reflexo da ideologia vigente por quem
pode sustentá-la - o viés privatista que faz da propriedade e do contrato - direitos econômicos que
sequer constaram do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - institutos mais
sólidos do que todos os direitos sociais e do que grande parte dos direitos civis.

O fato de se apenar o crime contra o patrimômio com pena privativa de liberdade evidencia o paradoxo
- mais grave ainda é em países que mantêm a pena de morte para essa mesma hipótese.é o patrimônio
valorado como superior à liberdade e mesmo à vida.

A inexistência de limites à 'riqueza extrema' , assim como a possibilidade da propriedade desvinculada


da atividade econômica de vários imóveis ou de grandes extrações de terra, ao lado de milhões de
pessoas sem terra para cultivar ou sem meios de arcar com a própria moradia constitui outro paradoxo.

Práticas percebidas como normais à livre iniciativa, como encerramento da fábrica na qual trabalha a
população economicamente ativa de toda uma cidade, a substituição de plantios de feijão por soja ou
hortaliças por flores ou a aquisição de uma série de pequenas propriedades afetam negativamente os
direitos e a qualidade de vida de grande número de pessoas.

Henry Shue observa a propósito de práticas dessa espécie que a concepção, o desenvolvimento e a
manutenção de instituições que protejam a subsistência das pessoas contra os maus ou insensíveis -

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 33
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

ou simplesmente contra os mais fortes - está na mesma medida da concepção e execução de progra-
mas de controle de crimes violentos contra a pessoa. Mais ainda, ele salienta que as práticas que
possam alterar a oferta de gêneros de que dependa a subsistência das pessoas devem ser controladas
e acompanhadas.

E, se necessário, o Estado deve fazer cumprir o dever da sociedade de proteção às pessoas contra a
perda da capacidade da própria subsistência promovida por ação ou omissão dos outros. Se fossem
implantados mecanismos jurídicos para a proteção da subsistência - integrante do direito à vida digna
- a necessidade de políticas públicas para a compensação por privações seria menor.

A bem dizer, mecanismos jurídicos existem no próprio Código Civil, que poderiam ser utilizados para
dar efetividade ao direito à vida digna, para que ações dos que detêm poder não degradassem as
condições de vida dos não-ricos, sendo o artigo 159 o exemplo primeiro, quanto ao dever de indenizar
que cabe àquele que causar dano a terceiro por ação ou omissão, intencionalmente, ou por negligência,
imprudência ou imperícia.

Além disso, não é demaisado lembrar que já Ruy Barbosa entendia adequado o uso do interdito pos-
sessório para a proteção de direitos pessoais - e não só para a posse de direitos reais.

Porém, é exatamente esse privatismo propriamente elitista que impede a articulação do direito para a
distribuição do poder político e econômico para todos as pessoas e, mais do que isso, opera para
conservar a distribuição desigual do poder e da riqueza.

Note-se que se é conservador o direito e se tem ele a função de atribuir forma às relações de produção
da sociedade capitalista, intervindo na sua constituição, funcionamento e reprodução , são os opera-
dores do direito, contrariando a letra expressa da lei, que fazem da propriedade valor superior à liber-
dade, em todas as suas formas, e superior aos direitos à saúde, à moradia, à educação, e tantos outros
que são fundamentais para que a pessoa possa agir em sociedade, possa ser reconhecida como
agente dotado de autonomia e possa ser respeitada como tal.

Vale ressaltar, é a leitura equivocada e parcial do princípio da liberdade - liberdade como livre iniciativa
- que tem causado, mantido e aprofundado as desigualdades, em ofensa ao princípio gêmeo do pri-
meiro, o princípio da igualdade.

Assim, se avanços existem, ainda há muitos outros a serem conquistados, mesmo no aspecto formal,
do reconhecimento de direitos.

A privação dos recursos necessários a garantir e preservar a dignidade da pessoa importa a retirada
da possibilidade do pleno desenvolvimento da personalidade da pessoa.

Retira-lhe a possibilidade do desenvolvimento da essência humana por excelência, a criatividade. O


agir criativo, que permite ao ser humano transformar o seu meio, sempre aprimorando-o, é faculdade
que deve estar continuamente livre e acessível materialmente a todas as pessoas, e não somente a
algumas.

Hannah Arendt trata extensamente sobre esse tema em sua obra, demonstrando como os sistemas
totalitários se articulam para cerrar a possibilidade da vita activa às pessoas.

O estado de destituição que decorre da desigualdade econômica implica necessariamente desigualda-


des que se estendem aos níveis social, cultural e político, como apontado no início deste trabalho.

A desigualdade econômica conduz a outras desigualdades em virtude da racionalidade vigente nos


espaços sociais da atualidade, em que valor maior é atribuído ao 'o que' se tem e 'quanto', ao invés do
o que se é e como. Essa racionalidade consumista somente confere identidade ao ter e não ao ser.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 34
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Ela é individualista e baseada na competição, na concorrência entre as pessoas, não contribuindo para
a estabilidade dos liames de integração social que permitem o agir construtivo de cada um em socie-
dade. A solidariedade é de plano expurgada para o campo da moral, esta mais e mais fragilizada pelos
ditames da dinâmica dos mercados.

Em uma sociedade em que a racionalidade das relações é consumista, as relações entre as pessoas
também passam a se pautar pelo consumo, ou seja pela relação desigual em que um dos lados pre-
tende obter do outro tudo o que ele pode lhe oferecer de útil, até o seu esgotamento. Ocorre que, nesse
quadro, as pessoas absolutamente pobres, de tudo destituídas, pouco ou nada têm a oferecer à outra
parcela.

Importa explicitar que a desigualdade econômica grave e a destituição que lhe é correlata cerceiam o
acesso material aos direitos fundamentais da pessoa, garantidos formalmente pelos instrumentos in-
ternacionais de proteção de direitos humanos, pela Constituição Federal e pelas leis e regulamentos
infraconstitucionais.

A situação de pobreza viola, a um só tempo, os direitos civis e políticos, assim como os econômicos,
sociais e culturais. A pessoa destituída de recursos, que se encontra além do estado de vulnerabilidade
ou de precariedade não tem elementos próprios e meios para dar início ao exercício de seus direitos
fundamentais e, muitas vezes, sequer sabe de sua existência enquanto tal.

Por isso, o pobre, expressão adjetiva que se substantivou, é vítima de numerosas violações de direitos
humanos e sequer se dá conta disso, sobretudo quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais.

Quanto aos direitos civis e políticos, a despeito de sempre violados, existe ao menos a consciência da
violação, sendo ela mais um elemento a confirmar na pessoa o sentimento de impotência e aniquilando
ainda mais seu auto-respeito e o respeito que os outros poderiam - porque já não podem - ter por ela.

O reverso do jogo entre os níveis econômico e social também é produtor de destituições. A desigual-
dade social que decorre de preconceitos culturalmente arraigados também impõe à pessoa limitações
na capacidade de auferir renda pelos meios normais de inserção e de convertê-la em realizações pes-
soais em sociedade.

A questão de gênero é bastante conhecida e sabidamente o preconceito contra a mulher restringe-lhe


as oportunidades de emprego e de ascensão, e ainda lhe nega iguais salários para iguais atividades.
Considerando esses aspectos e somando-se ao fato que as atividades estereotipadas como femininas
igualmente representam limitações ao desenvolvimento pleno da pessoa segue-se que as desigualda-
des sociais vêm passo a passo com a desigualdade econômica.

O mesmo vale para a questão racial, para o problema da idade e para os deficientes. Preconceitos
culturais produtores de desigualdades sociais aprofundam a desigualdade econômica e não raro, ani-
quilam as chances de inserção social, salvo poucas exceções.

A possibilidade de resgate é tão mais difícil quanto maiores as desigualdades socialmente impostas.
Assim, as chances de sair do estado de destituição para uma mulher são mais difíceis se ela for negra,
mais ainda se também idosa.

Em virtude disso, conclui-se que a pobreza e a exclusão não surgem por geração espontânea e não
contituem situações estáticas e autoreferenciadas, mas são resultado do modo de relação entre pes-
soas e grupos.

A situação econômica desfavorável de uma pessoa ou de um grupo maior ou menor de pessoas se dá


em virtude da natureza das relações presente numa sociedade e pelas racionalidades que a dominam,
em especial quando presentes mecanismos e práticas de exploração econômica, social e cultural.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 35
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Tais mecanismos se verificam concomitantemente nas três esferas e se acham entranhados na socie-
dade a ponto de serem considerados padrões normais de relacionamento entre os grupos, dificultando
a transformação social e a emancipação pessoal de cada um desses membros submetidos ou excluí-
dos.

Estado E Políticas Públicas

Se a exclusão social e a pobreza que a ela está associada decorrem de relações em sociedade e sendo
o Estado o mediador por excelência dessas relações, segue-se cristalinamente que o Estado desem-
penha papel importante na própria existência da desigualdade, seja ela econômica, social ou política.

Ao analisar suas causas, Blandine Destremau lembra que a pobreza é produzida e reproduzida por
meio de um processo de diferenciação social e econômica afetando a distribuição da propriedade, as-
sim como de bens educacionais, sociais e simbólicos - seguindo o pensamento de Pierre Bourdieu.

Daí segue que a pobreza é parte integrante de um sistema e de funções que são intrinsecamente
moldadas por essas diferenciações e pela distribuição desigual de riquezas, renda, poder, valorização
social e meios de atuação em sociedade.

O Estado desempenha, no presente jogo de forças sociais, papel fundamental para a manutenção da
ordem e de algum tipo de estabilidade, de onde também extrái sua legitimidade. Nesse processo, o
Estado assume o jogo - sujo - de manter em níveis administráveis e suportáveis as desigualdades e
especialmente as tensões que surgem dessas desigualdades, a exploração do trabalho e a pobreza.

O Estado desempenha atividades inescapavelmente ligadas à manutenção e controle da pobreza, por


meio de políticas que direta ou indiretamente, impedem o desenvolvimento livre das pessoas em soci-
edade, a curto ou médio prazos.

Assim foi com a política educacional do regime militar, instituida pela Reforma do Ensino em 1971 que
privilegiava o ensino fundamental somente dos 7 aos 14 anos - em tese até a 8ª série - e assim é com
a política de saúde praticada, os projetos de habitação, que raramente alcançam os mais pobres e
assim por diante.

Explicitando os modos de atuação do Estado na função de gerenciamento da pobreza, identifica-se


caber ao Estado a implementação de normas e práticas sociais e econômicas em vários níveis, em
especial quanto à (a) definição da pobreza e conformação de atitudes sociais como parte de relações
discursivas, inclusive dentro das relações econômicas; (b) quanto à distribuição e alocação de recursos;
e (c) quanto às ações das instituições e dos agentes públicos que de algum modo lidam com a pobreza
e com os excluídos.

Blandine Destremau observa acertadamente que as principais instituições vinculadas à produção da


pobreza podem ser consideradas como sendo o poder judiciário, as instituições econômicas e as insti-
tuições de bem-estar social, todas instrumentalizadas pelo direito.

Nessa linha, como é o modo de funcionamento e como se materializa o acesso do sistema jurídico e
seus institutos, entendidos não somente como sistema de direitos e obrigações, e também do Poder
Judiciário aos pobres?

O olhar simples permite evidenciar a existência de modos desiguais de acesso aos mecanismos jurídi-
cos, em desfavor dos que não detêm poder econômico ou poder social.

É também inquestionável a incipiência dos meios de proteção oferecidos aos grupos mais vulneráveis
e mais fracos da sociedade; assim como das oportunidades oferecidas para a melhoria de sua quali-
dade de vida por meio de ações judiciais e para a ascensão econômica e social.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 36
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Os meios oferecidos pelo sistema jurídico para o acesso e a realização do conjunto dos direitos huma-
nos, civis, políticos, econômicos, sociais e culturais esse sistema jurídico é indubitavelmente mais frágil
em relação aos mais pobres.

As principais instituições econômicas também operam como produtoras e reprodutoras da exclusão: o


modo de ordenação da propriedade, do sistema financeiro, do sistema tributário e da política monetária,
tudo contribui para a consolidação da desigualdade sofrida por este país.

A assistência social, um direito constitucional, ainda é tratada como caridade não só pela sociedade,
como pelo Estado também. As dificulades de acesso aos benefícios instituídos pela regulamentação
à Lei de Organização Assistência Social constituem prova contundente da exclusão promovida pelo
próprio Estado.

As relações do Estado com a pobreza são, portanto, sistêmicas. Sendo assim, para que se possam
desenvolver políticas públicas eficientes para a redução ou a erradicação da pobreza, que não sejam
meramente assistencialistas, ou seja, compensatórias das disfunções do mercado, é necessário dar
relevo e compreender as funções do Estado na produção, reprodução e administração/gerenciamento
da pobreza.

Sem essa compreensão e sem a percepção que as relações que produzem e reproduzem a pobreza
são relações de poder entre grupos sociais mediadas pelo Estado, a implantação de políticas que per-
mitam reduzir ou mesmo erradicar a pobreza não será factível.

Partindo dessa premissa, do modo sistêmico entre Estado e pobreza, é que se poderá pensar adequa-
damente a regulação social, econômica - pela via do direito - das relações atinentes à pobreza, regu-
lações estas envolvendo mecanismos e estruturas que permitem aos sistemas político, econômico e
social se autoreproduzirem e de modo a evitar crises mais graves.

Note-se que esta é a perspectiva que pressupõe e aceita a dinâmica capitalista e seu modo de produ-
ção - e exploração - e que vê necessidade na redução da pobreza para a própria continuidade do modo
capitalista de produção. Para a erradicação da pobreza e das desigualdades, objetivo fundamental da
República constitucionalizado no artigo 3º da Constituição Federal, é necessário modificar-se os pa-
drões de relações culturais e econômicas que as provocam e que aprofundam a exclusão, inclusive as
sustentadas pela atividade estatal na implementação de políticas públicas, na formulação de leis e no
julgamento das demandas levadas aos tribunais.

A adoção de ações afirmativas e de políticas compensatórias, como a renda mínima , são necessárias,
mas apenas como parte de um conjunto maior de políticas públicas de fundo, que possibilitem trans-
formar as relações de poder em sociedade.

As medidas e políticas públicas destinadas a dar efetividade ao artigo 3º da Constituição, que neces-
sariamente devem tocar o modo de ordenação da atividade econômica, não podem, ademais, ser pa-
ternalistas.

O paternalismo anula a autonomia da pessoa e, em conseqüência, a possibilidade da ação criativa, da


participação da pessoa na sua própria construção e na construção da comunidade social e política.

Aristóteles aponta, na Política, o exemplo dos cartagineses que mantinham políticas de solidariedade
entre ricos e pobres, em que os nobres proporcionavam aos pobres meios de trabalho e o exemplo de
Tarentum, em que o povo compartilhava o uso de suas propriedades com os pobres. Na mesma pas-
sagem, Aristóteles observa que "a extrema pobreza diminui o caráter da democracia e que, portanto,
medidas devem ser adotadas para lhes proporcinar prosperidade duradoura; e que é igualmente do
interesse de todas as classes que os proventos das receitas públicas devem ser acumulados e distri-
buídos entre os pobres, se possível em quantidades que os possibilite adquirir um sítio ou, ao menos,
iniciar um comércio ou plantação".

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 37
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Delmas-Marty bem observa que "não se trata mais de assistência, mas de integração à sociedade, com
o estatuto de cidadão. Não se trata mais de sobreviver, mas de viver plenamente, com os outros e ser
reconhecido como um semelhante".

Sem que todas as pessoas possam agir com autonomia na esfera privada, nas relações sociais e com
autonomia na esfera pública, na dinamização dos direitos políticos na participação da gestão da coisa
pública, não se poderá falar em democracia. A permanência da exclusão, da pobreza e das demais
formas de opressão social são inconciliáveis com a idéia de república e com a materialização da de-
mocracia.

Direitos Humanos E Desigualdades

A compreensão da desigualdade que marca profundamente a sociedade brasileira é um exercício difí-


cil, sobretudo se nos propusermos a uma abordagem que exceda à descrição factual e caminhe na
direção de refletir sobre as motivações fundamentais. O exercício fica ainda mais difícil se nos propu-
sermos a fazer a leitura sob a ótica dos direitos humanos.

A dificuldade se nos configura como desafio de ensaiar uma leitura, dando por conhecidas diversas
realidades subjacentes. Por dever metodológico lembramos que uma leitura é sempre e so-
mente uma leitura e não a leitura.

É sempre em perspectiva ou, dito de outra forma, interessada, ideológica (no bom sentido). É sempre,
e nunca mais do que isso, mais uma palavra. Sendo assim, desde sua origem, está aberta ao diálogo,
à crítica. Este é o espírito que nos move a tomar parte do diálogo proposto sobre uma agenda para o
Brasil.

A construção da reflexão se socorre em vários subsídios. Por isso, para uns pode parecer repetitiva e
até remissiva. Mesmo assim, optamos por fazê-la desta forma, uma espécie de reforço à memória
numa abordagem diferente para as mesmas questões.

O tema que nos foi proposto será refletido nos seguintes pontos: o primeiro se dedica a elucidar o
enfoque da leitura; o segundo se dedica a apresentar ironicamente algumas questões, que são mais
contradições da situação; o terceiro se dedica a identificar o que entendemos sejam desafios progra-
máticos para subsidiar a luta pelos direitos humanos.

Posicionando O Olhar

A leitura da relação entre desigualdade e direitos humanos toma como objeto histórico a desigualdade
e os direitos humanos como um enfoque de leitura. Por isso, antes de mais nada, convém que coorde-
nemos o foco de nossa leitura, expondo elementos que balizarão a atenção que daremos à desigual-
dade.

O núcleo dos direitos humanos radica-se na construção de reconhecimento. Dizer isso significa posi-
cionar os direitos humanos como relação – antes de posicioná-los como faculdade dos indivíduos.

Isto significa dizer que mais do que prerrogativa disponível, direitos humanos constituem-se em cons-
trução que se traduz em processo de criação de condições de interação multidimensional.

A interação, esquematicamente, dá-se em planos ou dimensões diversas e múltiplas: interpessoal (sin-


gular), grupal-comunitária (particular), genérico-planetária (universal), conjugando cotidiano e utopia,
cultura e natureza, ação e reflexão, entre outras. Em outras palavras, os direitos humanos nascem da
alteridade, nunca da mesmice ou da mesmidade.

Em termos históricos, os direitos humanos afirmam-se através da luta permanente contra a exploração,
o domínio, a vitimização, a exclusão e todas as formas de apequenamento do humano.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 38
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Constituem a base das lutas pela emancipação e pela construção de relações solidárias e justas. Por
isso, o processo de afirmação dos direitos humanos sempre esteve, e continua, profundamente imbri-
cado às lutas libertárias construídas ao longo dos séculos pelos/as oprimidos/as e vitimados/as para
abrir caminhos e construir pontes de maior humanidade. Isto porque, a realização dos direitos humanos
é um processo histórico, assim como é histórico seu conteúdo.

O conteúdo dos direitos humanos pode ser circunscrito sob dois domínios, ambos como racionalidade
prática (isto não significa que não estejam implicados aspectos de natureza teórica): um normativo
(ético e jurídico), outro político.

O conteúdo normativo contribui para determinar o agir. Quando dizemos que o normativo se desdobra
em ético e jurídico, com isso pretendemos localizar os direitos humanos num intervalo – como reserva –
crítico entre a Ética e o Direito – mesmo que muitas posições insistam em tê-los ou como éticos ou
como políticos; em nosso entendimento localizá-los em um ou outro destes extremos significa reduzir
seu conteúdo.

Comumente se encontra posições que insistem em advogar a centralidade do aspecto jurídico. Toda-
via, todo o processo de positivação de direitos é também de seu estreitamento.

Contraditoriamente, toda institucionalização dos direitos gera condições, instrumentos e mecanismos


para que possam ser exigidos publicamente, mas também tende a enfraquecer a força constitutiva e
instituinte, como processo permanente de geração de novos conteúdos, de novos direitos, e de alarga-
mento permanente do seu sentido.

Ademais, a positivação dos direitos não significa, por si só, garantia de sua efetivação; por outro lado,
se não fossem positivados haveria ainda maior dificuldade, já que a sociedade não disporia de condi-
ções públicas de ação.

No sentido ético, direitos humanos constituem-se em exigências basilares referenciadas na dignidade


humana dos sujeitos de direitos. Isto significa dizer que não transacionáveis em qualquer das circuns-
tâncias e, ao mesmo tempo condições postas a toda efetivação histórica. Por isso que insistimos em
dizer que direitos humanos, sob o ponto de vista normativo, estão num intervalo crítico entre Ética e
Direito.

O aspecto político dos direitos humanos nos remete para dois desdobramentos: o primeiro que con-
templa os aspectos implicados em sua realização; o segundo que denota uma carga de escolhas ne-
cessárias.

No primeiro sentido, os direitos humanos são entendidos como parâmetro dos arranjos sociais e políti-
cos, visto que sua realização (ou não) é indicativa da qualidade política e social da vida de um povo.
Ou seja, a realização dos direitos humanos, como responsabilidade fundamental do Estado, que deve
garantir, respeitar, promover e proteger todos os direitos, alem de reparar as violações dos direitos,
põe-se como tarefa política (e neste sentido concreta, cotidiana e, ao mesmo tempo, utópica).

O Estado, neste sentido, passa a se constituir no espaço público por excelência, a quem cabe desen-
volver ações (políticas públicas, com o perdão da redundância, já que seria impossível qualquer política
que não fosse pública) pautadas pelos direitos humanos: os direitos humanos, por um lado, ao limitarem
o poder do Estado, exigem que supere a posição de soberano plenipotenciário que dirige a cidadania
(ou a não-cidadania) e seja entendido como dirigido pela cidadania e para a cidadania; por outro, exi-
gem do Estado que seja agente realizador (nunca violador, como é comum em nossas plagas) dos
direitos – é seu dever fundamental realizar direitos. Em matéria de direitos humanos a ação política
estaria centrada na presença de todos os agentes, tanto na deliberação como na implementação, como
sujeitos (autores, portanto, nunca somente atores). Isto significa que a cidadania em geral, e especial-
mente a cidadania ativa e organizada, ganha centralidade fundamental no processo político.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 39
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

É ela instituinte de forma permanente. Note-se que é da constituição fundamental da cidadania ser
plural, ou seja, há uma diversidade constitutiva da cidadania que não a deixa ser enquadrada em mo-
delos simplificadores e negadores; antes, exige a visibilidade e a presença dos diversos no espaço
comum.

Neste sentido, os direitos e a participação da cidadania no processo político, antes de ser uma conces-
são, é um direito – para lembrar da já clássica expressão de Hannah Arendt da cidadania como direito
a ter direitos. A dimensão política dos direitos humanos convoca todos os agentes à ação.

No segundo sentido, a realização dos direitos humanos exige escolhas políticas. O primeiro aspecto
da escolha remete para a dimensão da garantia e da promoção dos direitos humanos. A base da es-
colha remete para a decisão que dá primazia às pessoas, em detrimento das coisas, dos bens, do
patrimônio.

Isto significa, em termos concretos, vocacionar o processo de desenvolvimento da sociedade cen-


trando-o na pessoa, o que torna as relações privadas, de mercado, de propriedade e de patrimônio
secundárias, a serviço das pessoas – os modelos capitalistas de desenvolvimento em geral modelam
as vontades para que entendam a escolha pelas coisas como uma escolha pelos direitos humanos.

O segundo aspecto da escolha remete para a dimensão da proteção e da reparação dos direitos hu-
manos.

A base da escolha remete para o reconhecimento da existência de seres humanos em situação de


maior vulnerabilidade (o que já é, de alguma forma, indicação de desigualdade), além do reconheci-
mento de que existem violações dos direitos e que estas violações geram vítimas – seja as vítimas
sistêmicas da histórica exploração e expropriação, sejam as vítimas, hoje banalizadas, da violência.

Vítimas existem em consequência da negação de direitos, de sua não realização. Isto porque, vítimas
são todos os seres humanos que estão numa situação na qual é inviabilizada a possibilidade de pro-
dução e reprodução de sua vida material, de sua corporeidade, de sua identidade cultural e social, de
sua participação política e de sua expressão como pessoa, enfim, de seu ser sujeito de direitos.

Vítimas e grupos vulneráveis existem porque a reprodução da vida (humana e em geral) está interditada
pela postura predatória, patrimonialista, privatista e individualista; porque vale mais o “poder de compra”
– capacidade de consumo – do que a pessoa (às vezes tão ou mais descartável que as coisas); porque
a racionalidade hegemônica é cínica e ignora as vítimas e as alteridades, é a racionalidade calculista e
instrumental, essencialmente concorrencial – o outro é “inimigo”; porque o crescimento das “burocra-
cias privadas e privatistas” constrange os Estados (e a cidadania) e inviabiliza a atenção aos direitos,
pondo-os a serviço da segurança da reprodução do próprio capital e da manutenção dos interesses
privados – sobretudo as transnacionais – em detrimento das demandas públicas e universais por direi-
tos, que passam a ser entendidos puramente como serviços; e finalmente, porque as posições contes-
tatórias ou mesmo os problemas graves e comuns a todos (como a questão ambiental, por exemplo)
são entendidos como desajustes sistêmicos a serem por ele absorvidos (como controle de risco) ou
simplesmente eliminados, combatidos (vide a criminalização da luta social, por exemplo).

Reconhecer a existência de vítimas e de grupos vulneráveis exige postar a ação no sentido de protegê-
los e repará-los. Todavia, isto, de longe, pode ser pautado por posturas ingênuas que se traduzem em
clientelismos e paternalismos de todo o tipo. Esperamos, pelo exposto, ter angariado elementos para
subsidiar o enfoque do tema da desigualdade à luz dos direitos humanos.

A segunda parte da reflexão dedica-se à identificação das contradições fundamentais que ainda aguar-
dam respostas. Diríamos que são aqueles pontos cruciais da agenda de direitos humanos que persis-
tem.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 40
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

As transições vividas pela sociedade brasileira nos últimos anos se configuram quase que como parti-
das de um lugar para um não-lugar, ou para lugar algum, que seja efetivamente novo e que abra espaço
para a justiça social e a efetivação dos direitos humanos.

A problemática brasileira dos direitos humanos, neste sentido, é mais persistente do que emergente –
mesmo sabendo que sua persistência se apresenta como emergência e indica a urgência de seu en-
frentamento, sobretudo se a pretensão estiver calcada na busca efetiva de sua realização na vida de
cada uma e de cada um dos brasileiros/as.

Como já dissemos no início, mais do que descrever as questões – o que já fizemos em outros lugares –
nos atemos a enunciar questões que ajudem a refletir sobre a situação.

O alerta sobre a desigualdade estruturante que constitui um fosso que cinde a sociedade brasileira já
é antigo e já foi diagnosticado por Machado de Assis, no início do século passado, quando dizia que um
é o Brasil oficial e outro é o Brasil real. Abordaremos as questões com uma carga, talvez exagerada de
ironia, recurso clássico – Sócrates é um bom exemplo – para “desnudar” e para abrir o diálogo.

O Brasil Optou Pela Desigualdade

A desigualdade não é um fenômeno circunstancial no Brasil, seja sob o aspecto da organização social,
econômica, política ou cultural. Ela parece ser uma opção estruturante da vida brasileira que se repro-
duz como estratégia de integração (ou de desintegração) social. Dois exemplos são estruturantes para
a compreensão do que estamos dizendo. Vamos a eles.

A colonização eliminou indígenas – processo que traz as raízes coloniais até nossos dias – por terem
sido considerados inaptos e renitentes à submissão das formas de trabalho. Em troca destes foi à
África. A escravidão separou os “bem nascidos” do trabalho e submeteu ao trabalho, à força, milhões
de expatriados, comercializados como “peças” (coisas).

A herança da Casa Grande e Senzala, como bem diagnosticou Sérgio Buarque de Hollanda, não foi
resolvida como integração social e cooperação com o advento da abolição – aliás, uma das últimas no
Continente – que, pelo contrário, pela estratégia do branqueamento, novamente optou por manter as
elites apartadas do trabalho e atrair milhões de imigrantes europeus (depois asiáticos) para substituir a
mão-de-obra agrícola, depois convocada às cidades massiçamente. Os milhares de negros africanos
e seus descendentes ficaram literalmente descartados.

O mito da democracia racial contribuiu para amalgamar o fosso, construindo a idéia de que a cordiali-
dade é característica das relações: racismo, isto não existe, é conversa de negros desajustados – o
discurso é exatamente o mesmo hoje, quando entra na pauta o Estatuto da Igualdade Racial ou as
cotas para o ingresso de afro-descendentes nas universidades, por exemplo. O Brasil optou por (não)
integrar negros e indígenas. Aqui está uma das raízes da desigualdade.

O sexismo se reproduziu de forma aviltante para as mulheres, via de regra consideradas “necessárias”
à reprodução biológica, não mais do que isso. A mesma separação que reduziu o espaço de vida das
mulheres ao privado, enquanto homens (brancos e “bem nascidos”) faziam a vida pública se mantém
como diferença crassa de remuneração entre mulheres e homens no trabalho, na baixíssima presença
de mulheres em postos de direção da política e da economia.

Do mundo da casa, as mulheres, aceitas no trabalho, foram confinadas a tarefas extensivas às do lar
como o cuidado da casa dos outros (trabalho doméstico), das crianças, idosos e pessoas com defici-
ência (serviços sociais em geral), para ficar em dois exemplos emblemáticos.

A força da violência doméstica e sexual a qual milhões de mulheres são diariamente submetidas é não
mais do que uma versão perversa do sexismo machista que separa as mulheres da integração coope-
rativa da sociedade.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 41
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Não é de estranhar, portanto, que a pobreza e a miséria, manifestações generalizadas da desigualdade


– e da violação sistemática dos direitos humanos – nunca possam ser tomadas de forma genérica no
Brasil. Têm cor e sexo. Ademais, tentativas de sua superação – e nos últimos anos o esforço para tal
tem sido óbvio – parecem sempre redundar insuficientes visto que, em geral, parecem chegar a resul-
tados positivos na redução da desigualdade nos indicadores gerais, porém, manter-se praticamente
inalteradas quando lidas com cor e sexo.

Honestamente, é difícil de acreditar que o Brasil já fez uma opção fundamental pela superação da
desigualdade – mantendo-se fazia a consagrada expressão liberal da igualdade de todos perante a lei.
Pelo contrário, um olhar macro-histórico e micro-histórico parece evidenciar exatamente o contrário. O
problema da desigualdade parece continuar sendo um problema para os mais fracos, os que nunca
saíram do lugar onde nasceram (nem mesmo para registrar-se ou para serem registrados), os que
ainda não conhecem os Estados Unidos ou a Europa.

Problema deles. Afinal, é patente sua falta de iniciativa, sua preguiça congênita. Parecem vocacionados
à pobreza. Quando se levantam para exigir lugar na sociedade, o fazem de forma equivocada – usam
a força, ocupam a propriedade privada, querem ficar em lugares que atrapalham grandes e necessários
projetos de desenvolvimento, querem cotas, reparação, cadeia para maridos e companheiros – daí ser
legítima a repressão, a criminalização...

a eliminação. É incrível como arranjam motivos para que a sociedade os mantenha (ou os elimine) de
forma legítima fora da sociedade como um problema social. A minoridade das minorias, a rigor, é obra
delas mesmas, visto ainda não terem tomado em suas próprias mãos a tarefa da maioridade. Cinismo
crasso, hipocrisia pura, nomes que traduzem posturas e leituras deste tipo.

Cinismo e hipocrisia estão na base da opção pela desigualdade que é também uma opção contra os
direitos humanos, ou melhor, contra os direitos humanos como universais – eles até existem, mas não
para certos tipos que só supostamente são humanos (Atenção, este discurso é tão significativo que é
exatamente o mesmo que esteve na base das justificativas de Auschwitz).

O Brasil Optou Pela Violência

A violência também não é um fenômeno social contemporâneo – por mais que agregue facetas e cru-
eldades particulares em nossos tempos. A violência é marca estruturante das relações sociais, políti-
cas, econômicas e culturais do Brasil. Os mesmos aspectos apontados como bases da desigualdade
são mostras da recorrência histórica da violência.

O Brasil foi constituído na base da violência (da cruz e da espada). A violência, assim como a desigual-
dade tem cor, idade, sexo e classe. São os homens negros, jovens e pobres as maiores vítimas da
violência atual e também o maior contingente da população carcerária (sem incluir as instituições sócio-
educativas para adolescentes).

A tortura e a impunidade estão disseminadas na cultura e constituem um circulo vicioso que alimenta
a violência. A presença da tortura de forma disseminada e sistemática nas delegacias e nas casas de
detenção é mostra concreta da forma arcaica de abordagem da estrutura de segurança. Associada a
ela estão os grupos de extermínio e as execuções sumárias e extrajudiciais, patrocinadas tanto por
civis quanto por policiais.

A impunidade se alastra em função da baixa resolutividade do sistema de Justiça e Segurança e, so-


bretudo, quando atinge os mais pobres, com baixa escolaridade, negros e pardos, gerando a sensação
de que basta ter dinheiro para não ser pego.

Casos emblemáticos de chacinas, quando não resolvidos satisfatoriamente, geram, em escala, a idéia
de que há tolerância para certos crimes, sobretudo os cometidos contra os mais pobres, de um lado,
ou os patrocinados pelos mais ricos, por outro.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 42
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

A resposta à violência, em geral é tão ou mais violenta, além de espasmódica. Ou seja, sempre que
um fato grave e amplamente divulgado ocorrer, as instituições aparecem sempre com o mesmo dis-
curso: endurecimento das penas, ampliação do encrceramento, redução da maioridade penal. Passado
o espasmo, tudo continua como dantes.

Por isso, é deveras estranho dizer que a violência é uma opção. Sim, é uma opção quando a sociedade
não resolve o mais fundamental da violência, que são suas raízes. Sim, é uma opção quando a socie-
dade não dota o Estado de uma política consistente, permanente e pautada pelos direitos humanos.

Sim, é uma opção quando os dirigentes do País parecem não encontrar outra solução para o problema
que não seja a repressão, a repressão, a repressão – necessária para certos tipos de violência, sobre-
tudo a organizada; insuficiente para boa parte da chamada eufemisticamente de violência mi-
úda. Dessa forma, a violência segue sendo uma forma contraditória de (des-)integração social, que
funcionalmente colabora para resolver (pela contenção) as mazelas da desigualdade.

O Brasil Optou Pelo Conservadorismo Recessivo

Há uma compreensão recorrente e disseminada de que defender direitos humanos é fazer a defesa de
“bandidos e marginais” – discurso que está na base da criminalização da luta social.

Ela se amplia em momentos de crise. A tendência da opinião pública, patrocinada em grande medida
por setores da mídia e por lideranças políticas, é de reagir com propostas que advogam o endureci-
mento das medidas penais e a tolerância com o recrudescimento da ação policial – é o velho hábito de
tratar questão social como caso de polícia.

As posturas autoritárias e conservadoras que marcam as relações sociais e institucionais insistem em


educar a cidadania para que não seja cidadã. Renova o discurso do soberano auto-instituído (ou posto
como representante de alguma divindade) como detentor exclusivo dos direitos a quem a cidadania (ou
a não-cidadania) deve obrigações.

Daí a palavra fácil, em oposição aos direitos, de que somente há direitos em conseqüência de deveres,
sendo os deveres identificados a sujeição, tributo, submissão; e os direitos a concessões, benesses,
dádivas.

É deste tipo de consciência que nascem expressões como: direitos humanos sim, mas somente para
os humanos direitos. Em outras palavras, direitos humanos somente para os que cumprem bem seus
deveres e se adéquam a ordem estabelecida. Definitivamente, será possível querer direitos assim?
Querer direitos desta forma é, rigorosamente, não os querer.

Rigorosamente, posturas deste tipo são refratárias aos direitos humanos.

Insistem em rejeitar a idéia de que o advento dos direitos humanos abriu uma nova perspectiva para a
compreensão de tudo isso. Eles nasceram da rebeldia, da insurreição, da luta contra a ordem que não
abria espaço para o cidadão.

Sem muito esforço de memória, basta lembrar que foi num contexto deste tipo que foram proclamados
em uma de suas primeiras versões, pela Assembléia Nacional francesa pós- revolucionária. Mais re-
centemente, foi contra o arbítrio da ordem autoritária que gerou a segunda guerra mundial, que foram
invocados e reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). No Brasil, foi contra
a ditadura (eufemisticamente auto-proclamada de revolução) que foram invocados e semearam ger-
mens de liberdade e de igualdade.

Hoje, é contra os arbítrios, as exclusões, as opressões e os apequenamentos de todo tipo que são
exigidos. Mas, para posturas conservadoras, esta não é uma leitura aceitável, é acusada de ser uma
leitura “ideológica”.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 43
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Ela dificulta reconhecer que, em termos históricos, observa-se que desejar direitos é, acima de tudo,
não querer deveres, ou melhor, aceitar deveres como contraprestação de direitos. Isto talvez explique
porque direitos humanos são tão incômodos aos que supostamente se entendem humanos direitos,
portadores quase exclusivos da humanidade que distribuem a quem concordar com eles. É como se
houvesse uma “reserva” privada e privativa em questões de direitos humanos.

Na tentativa de escapar dos conservadorismos, e de seu cinismo dogmático, inclusive como forma de
advogar outras maneiras de enfrentar os dilemas da desigualdade e da violência, ensaiamos a seguir
três argumentos.

Primeiro: direitos humanos correlacionam direitos e deveres de uma nova maneira, dando ao dever um
sentido que se sustenta como contrapartida dos direitos: é porque há direitos, pessoas, sujeitos, cida-
dãos, com direitos que tem sentido os deveres (de quem tem a responsabilidade para garantir e realizar
os direitos e de todos os que têm direitos como devidos aos demais outros).

Isto significa que, no plano institucional, para garantir direitos exige-se que o agente público por exce-
lência, o Estado, cumpra deveres – é o soberano que está submetido ao dever, não a cidadania; no
plano interpessoal, os direitos de uns têm sentido como direitos dos outros, como direitos de todos.

Segundo: o querer direitos como um dever traduz o móbile básico da ação prática (ética e política). Ou
seja, querer direitos não é uma escolha que se faz pautando-se pela circunstância. Somente um querer
que pauta seu agir pela dignidade humana sempre como fim é um querer direitos como um dever.

Em outras palavras, se na base do agir está a preservação e a promoção da dignidade, resulta neces-
sário (um dever) que todo o agir esteja orientado pelo dever de preservar e promover a dignidade
humana em todas as circunstâncias.

Querer direitos como um dever limita, portanto, a liberdade como querer qualquer coisa e a qualquer
custo. A rigor, é a raiz da liberdade, porque a faz emergir da relação com o outro, que também é ser de
dignidade e direitos. A liberdade deixa de ser exercida como faculdade do indivíduo isolado e passa a
ser exercida como construção em relação com o outro – supera-se a idéia de que minha liberdade vai
até onde começa a do outro, ambas, se começam, é no mesmo lugar.

Terceiro: direitos humanos exigem pautar a atuação mais como instituinte do que como instituído. Em
outras palavras, querer direitos é mais do que pretender que normas ou padrões sejam efetivados –
por mais que isso seja necessário – e mantidos (o instituído); é agir para que todo o processo seja
permanentemente instituinte.

Querer direitos é, neste sentido, estabelecer relações práticas (institucionais e interpessoais) que mo-
bilizem permanentemente todos os quereres e todos os sujeitos dos quereres para manter aberto e em
construção o processo de alargamento do sentido de ter direitos e o sentido dos direitos. Na dimensão
institucional significa pôr a lei e a ordem a serviço da justiça e da paz; na interpessoal significa agir
sempre pautado pelo reconhecimento, cooperação e solidariedade.

Ora, se argumentos que aduzimos à complexidade da reflexão que abrimos têm algum sentido, então
fica compreensível porque é tão difícil aos humanos direitos compreender que direitos humanos não
são um privilégio, uma concessão.

Por outro lado, torna-se também muito difícil aos que são entendidos por aqueles como tortos aceitar
que direitos humanos são privilégio, concessão.

Sociedades democráticas ao menos garantem a uns e a outros que, sem querer direitos como dever,
seria impossível sequer divergir. Isto remete para o querer direitos como base, até para quem defende
que isto é um privilégio. Em suma, parece não ser possível um querer diferente do querer direitos para
todos, indistintamente.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 44
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Identificando Desafios

Os desafios que apontamos nascem do esforço de fazer convergir o enfoque e a leitura da situação e
os consideramos fundamentais para fortalecer a luta pelos direitos humanos no Brasil – sem prejuízo
de outros. É mais uma reflexão programática do que a apresentação de uma pauta para a ação imedi-
ata. Novamente recolhemos as propostas do mesmo texto que serviu de referência para o ponto ante-
rior, atendo-nos a um breve enunciado do sentido de cada desafio, sem reapresentar novamente os
argumentos que os justificam – remetemos mais uma vez ao texto já referido para o conhecimento
destes aspectos.

Fortalecimento Da Organização Popular

A organização popular é uma das expressões mais fortes da luta por reconhecimento da dignidade e
pela realização dos direitos humanos, para além da luta por interesses corporativos específicos.

Ou seja, são as organizações populares que mantém vivo o processo de resistência ao modelo de
desenvolvimento que exclui e propõe o alargamento do conteúdo dos direitos humanos e a ampliação
dos espaços de participação, dando visibilidade a sujeitos de direitos ignorados e vulnerabilizados pela
sociedade.

Daí que, fortalecer a organização popular é, sobretudo, ampliar as condições para a realização dos
direitos humanos. O fortalecimento da organização popular significa dar vazão e expressão às contra-
dições estruturais que marcam sociedades profundamente desiguais e assimétricas.

Significa gerar condições para lidar com a mediação de conflitos de forma participativa e programática.
Significa, sobretudo, acreditar que os sujeitos de direitos são todos os seres humanos e que somente
eles poderão saber qual é a melhor maneira para efetivamente realiza-los.

Novas Estratégias De Luta Pelos Direitos Humanos

A organização popular de luta pelos direitos humanos tem presença significativa na sociedade brasi-
leira. Nas últimas décadas têm se diversificado em formas e em estratégias de luta.

Junto às organizações que atuam especificamente em direitos humanos, surgem novos atores (ONGs
e Movimentos Sociais) que passam a incorporar a agenda dos direitos humanos, além de organizações
que tematizam e especificam os direitos humanos de forma consistente, sobretudo abrindo a exigência
para o diálogo com o tema da igualdade racial, de gênero, de orientação sexual, de geração.

Ademais, ampliam-se os espaços de articulação (redes, fóruns, e outros). Por outro lado, há segmentos
da organização social que ainda estão mais distantes da incorporação da agenda de direitos humanos
– o movimento sindical em geral, por exemplo.

Compreender o sentido e a diversidade das formas organizativas e das estratégias de luta é tarefa
fundamental para fazer avançar a luta pelos direitos.

Talvez o maior desafio na construção de novas estratégias de luta esteja na ampliação da capacidade
de mobilização social em torno da agenda de direitos humanos, enfrentando as travas culturais con-
servadoras consistentes na opinião pública.

Ampliar as fendas e, sobretudo popularizar a adesão positiva e o reconhecimento amplo da população


com os direitos humanos põe-se como desafio estratégico, seja para ampliar a base de apoio da luta,
seja, sobretudo, para gerar condições de ampliar a efetivação dos direitos.

As novas estratégias de luta pelos direitos humanos exigem a construção de uma nova agenda que
passa pela reflexão sobre o sentido dos direitos humanos – as concepções que são construídas a partir
delas – e, sobretudo, pela explicitação de novos conteúdos e de novas estratégias.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 45
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

Isto significa que a tarefa somente poderá ser cumprida se forem ampliadas a capacidade de diálogo e
a construção conjunta desses diversos agentes e processos organizativos. Apostar no sombreamento
ou na fragmentação só contribuiria para desmobilizar e abrir espaço para o oportunismo do retrocesso.

Nova Institucionalidade Protetiva Dos Direitos Humanos

A construção de uma institucionalidade pública protetiva dos direitos humanos exige enfrentar desafios
de fundo. Eles se desdobram no sentido da organização da forma de ação do Estado, quanto da efeti-
vação de espaços públicos (não-estatais).

O Brasil já deu passos significativos na direção de dotar a sociedade e o Estado de condições para
lidar com os direitos humanos, assumindo a responsabilidade com a realização dos direitos humanos,
bem como com a reparação de violações. Todavia, é preciso reconhecer que ainda está longe de efe-
tivamente dar conta do conjunto das demandas postas neste tema.

Nesta direção, assumir com força e consequência as deliberações da IX Conferência Nacional de Di-
reitos Humanos (de 2004) que acumulou um conjunto de propostas concretas e que caminham na
direção da efetivação do Sistema Nacional de Direitos Humanos é o primeiro grande desafio, visto que
a proposta, além de fazer um diagnóstico dos problemas institucionais de fundo, apresenta um conjunto
de medidas para enfrentar a situação, seja aprimorando instrumentos, mecanismo, órgãos e ações que
já existem, seja para efetivar outros.

Outro desafio é o de incorporação efetiva dos direitos humanos no conjunto das políticas públicas junto
com o aprimoramento e a ampliação de ações de políticas públicas específicas de direitos humanos. A
construção de uma política nacional de direitos humanos exige, entre outras medidas, a atualização do
PNDH, mas vai além dele, visto que o esforço maior está em, efetivamente, compreender e implementar
ações e direitos humanos em todos os espaços de ação pública, superando a idéia de que o órgão de
governo (federal) de direitos humanos (a SEDH) é que, sozinha deverá faze-lo.

Ou o processo resulta de um esforço do conjunto do governo e do Poder Público, ou permanecerá


como ação importante, mas à margem, pontual, residual e isolada. Entender que entre as tarefas pri-
meiras do Estado está o compromisso com os direitos humanos é um dos maiores esforços políticos
posto na agenda pública imediata.

Fazer este exercício com ampla e qualificada participação das organizações da sociedade civil é me-
diação essencial para que os sujeitos de direitos humanos sejam os autores e atores das medidas que
serão implementadas em vista de atender seus direitos.

Enfrentamento Do Modelo Excludente De Desenvolvimento

A exclusão social é marca histórica do processo de desenvolvimento implementado no Brasil. As es-


tratégias para enfrentá-la têm, via de regra, proposto para a sociedade que a saída é o crescimento
econômico. Todavia, mesmo com crescimento econômico positivo, ainda que baixo, o que se tem visto
é que sozinho não dá conta de enfrentar a desigualdade, até porque, resulta, em geral, no seu contrário,
o aumento da concentração.

Assim que, sem uma ampla e forte ação de distribuição da renda e da riqueza, o que não se faz somente
com políticas de transferência de renda como programa público, dificilmente se poderá reverter o pro-
cesso e garantir um desenvolvimento sustentável e solidário que seja capaz de abrigar a todos/as os
brasileiros/as. O aprofundamento do modelo neoliberal de organização do Estado e da economia e de
inserção do p

aís no processo de globalização tem contribuído mais para agravar a situação do que para enfrentá-la.
O cumprimento dos compromissos com o ajuste estrutural já não depende de acordos com instituições
internacionais (FMI, por exemplo), visto que parece ter sido incorporado à prática política.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 46
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

O Brasil ainda não foi capaz de construir uma alternativa de desenvolvimento que seja própria, feita a
partir da autodeterminação do seu povo e como um direito mais do que como uma ação unicamente
da iniciativa livre do mercado, como preceituam os instrumentos internacionais de direitos humanos.
Pensa-lo com estes pressupostos e no contexto da integração regional e de cada vez maior globaliza-
ção e com postura soberana é a questão que se põe.

Construir um amplo processo capaz de gerar novas bases para o desenvolvimento, entendido como
um direito humano e como uma mediação para a realização de todos os direitos humanos de todas as
pessoas é a urgência que se apresenta e que precisa se traduzir em compromisso dos agentes sociais,
políticos, econômicos e culturais.

Segurança É Um Direito Humano, Com Direitos Humanos

O enfrentamento da violência que marca profundamente as relações exige construir políticas de segu-
rança pública pautadas centralmente pelos direitos humanos.

Mais do que isso, está posto o desafio de encontrar estratégias e alternativas para enfrentar a violência
com práticas de mediação de conflitos, a exemplo de iniciativas que já existem em alguns lugares do
país. Implica uma abordagem integrada de políticas de diversas ordens como estratégia para enfrentar
a violência.

Uma das principais está exatamente na ampliação da oferta de serviços públicos fundamentais (pre-
sença do Estado), completada com o incentivo ao processo de organização social e comunitária através
de iniciativas diversas.

A reconstrução do tecido social, dilacerado pela pobreza, pela desigualdade e pela violência, exige
mais do que atuações de detenção ou de contenção – necessárias para o combate ao crime organi-
zado, entre outras formas, mas insuficiente para fazer frente à violência cotidiana, maior causadora de
sofrimento e morte.

A implementação de programas de capacitação de agentes públicos e das organizações da sociedade


civil para atuar na mediação de conflitos mostra-se como alternativa consistente e que ajuda a construir
processos de promoção da organização comunitária e de proteção social. Obviamente que estas me-
didas não são suficientes para fazer frente à violência, sobretudo àquela patrocinada pelo crime orga-
nizado – para a qual deverão ser construídas alternativas de abordagem baseadas na inteligência po-
licial, associadas à capacitação dos agentes de segurança.

Todavia, poderão abrir caminhos para que as próprias comunidades encontrem meios adequados e
redirecionem a própria ação dos agentes públicos de segurança a seu favor. O enfrentamento da vio-
lência exige mais do que força. Requer inteligência policial, organização comunitária e políticas públicas
adequadas e de ampla cobertura social, pelo menos.

Promoção Da Igualdade E Da Justiça Social No Centro Da Agenda

A promoção da igualdade e da justiça social está posta como grande desafio da sociedade brasileira.
É pressuposto fundamental desta tarefa: a compreensão de que a diversidade é marca da dinâmica
social e há que ser valorizada; o conflito é salutar e positivo como elemento de explicitação das dife-
renças de toda ordem e de busca de construção de consensos; a participação de todos os agentes
sociais é exigência; o enfrentamento dos entraves estruturais que reproduzem a desigualdade é urgên-
cia; a construção de alianças estratégicas para a transformação é fundamental.

Enfrentar a agenda da desigualdade exige conjugar, de forma consistente e profunda, os aspectos que
transversalizam o debate, sobretudo questões de gênero, étnico-raciais, geracionais e de classe. As
medidas a serem adotadas não podem pôr em confronto estes aspectos, forçando a sociedade a ter

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 47
NO MUNDO, A CIDADANIA EM ATENAS E EM ROMA

que optar por um deles, o que significa encontrar medidas de integração social que ultrapassem a
simples acomodação de interesses e o recorrente escamoteamento do debate.

Neste sentido, à luz dos direitos humanos, a inclusão social – sinônimo de enfrentamento das desigual-
dades – exige uma abordagem que preserve a diversidade e a promova, gerando espaço para que a
criatividade popular se desenvolva e ganhe lugar.

Mas isso implica enfrentar de forma consistente o tema da concentração da propriedade e da riqueza
(tanto da terra rural quanto urbana); da ampliação da oferta de trabalho – em diversas formas; e, so-
bretudo, da ampliação da oferta e do acesso a serviços públicos universais e de qualidade que sejam
efetivados como política pública de atenção aos direitos humanos.

Mais Ação, Menos Retórica Na Gramática Dos Direitos Humanos

Direitos Humanos pode se tornar um conteúdo retórico e facilmente ouvido das mais diversas bocas –
seja para promovê-los, seja para criticá-los. Há muitos agentes, com discursos diferentes. Nem todo
mundo que fala de direitos humanos refere-se ao mesmo conteúdo. A prática é o campo da política e
é nela que se pode identificar sua verdade.

Neste sentido, é exatamente agindo que se poderão superar as contradições estruturantes da vida
brasileira. A política não se esgota na técnica de compor interesses. Ela é bem mais do que isso, é a
prática de enfrentar de frente os conflitos e de construir os consensos baseados em argumentos. Por
isso, mais do que retórica, precisa-se de ação política.

Estas idéias gerais valem sobejamente para os direitos humanos. Nos últimos anos tem-se acumulado
muitas propostas, muitas sugestões, muitas análises, falta a coragem solidária para fazer com que as
intenções se transformem em ações.

Finalmente, Por Uma Nova Cultura Dos Direitos Humanos

A idéia que resume o conjunto dos desafios postos e o enfrentamento da situação à luz de uma com-
preensão dos direitos humanos traduz-se na necessidade de construção de uma nova cultura dos di-
reitos humanos. Como já dissemos em outros textos, falar de cultura é falar de construção de um modo
de ser, no sentido clássico, de um ethos, de uma nova ética, uma ética dos direitos humanos.

É dessa forma que se poderão reforçar, em termos de direitos humanos, as atitudes básicas que ca-
racterizam a humanidade: a indignação e a solidariedade. A primeira mobiliza para a reação; a segunda
para a ação. Juntas, põe em marcha a geração de condições para que a sociedade encontre caminhos
para a realização da dignidade de cada uma e de todas as pessoas.

Se isto não passa de uma crença, como preferem os céticos e os cínicos, sempre de plantão na exi-
gência de objetividade e de respostas prontas para tudo, que assim seja. Afinal, que seria do to-
pos, sem u-topos – o que seria do lugar atual, sem uma utopia – um ainda-sem-lugar!

Aliás, em matéria de direitos humanos talvez esta seja a maior aposta: acreditar sempre e de novo que
a humanidade vale mais, muito mais do que qualquer preço – melhor, vale exatamente por não ser
possível atribuir-lhe qualquer preço.

Até porque, construir uma cultura dos direitos humanos é reconstruir relações – superar a in-diferença
– e abrir espaços de diálogo em vista de maior humanização. Acreditar é condição para agir. Agir é a
mediação para transformar. Transformar tem sentido como construção do novo, sempre, de novo.
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 48

Você também pode gostar