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OPO – Origens do Pensamento Ocidental

Sumários

 08/10:
O que é o Ocidente?
Discussão sobre o conceito: coordenadas geográficas, espaço
geopolítico, sistema de valores, referências e modo de estar constituído
por um contínuo histórico de acumulação de experiências e de
conhecimentos, receção e transformação criativa de um legado.
Definir “O que é o Ocidente” implica estabelecermos fronteiras e limites, sendo,
portanto difícil conjugar estas ideias a um tão vasto conceito, visto que se aplica a
tantas culturas diferentes entre si, mas com elementos em comum, que esses sim
valem a pena ressaltar.
A ideia de continuidade, de algo contínuo que perdura acumulando e transmitindo a
experiência, enriquecendo-se, complexificando-se e adaptando. Esta aprendizagem,
fruto das tradições (tradição de traditio, “o que vem de trás”) que o Homem cultiva, ele
próprio uma experiência artificial, de identidade fabricada, um ganho fabricado,
opondo-se à natureza.
A terra dos Ocidentais, é onde o sol se põe. A terra dos Orientais, é onde o sol nasce.
No entanto, esta ideia depende da nossa localização, sendo relativa. Esteve presente
nas conceções representativas do planeta Terra, onde o mundo é plano tendo apenas
três continentes: Ásia, Europa e África. Apenas assim é concebível.
No início, não havia uma admiração pelos orientais, não havia uma oposição. Mas
com o passar do tempo, no segundo milénio a.C., começou a gerar-se uma
progressiva idolatração pelo Oriente, terra das coisas boas, terra das sociedades
complexas, das grandes invenções, do nascimento das primeiras leis, da
domesticação, da agricultura. Nasceu o Ocidente então 3000 anos depois do Oriente,
nasceu o Mundo Cretense/Minoico, antecessor do Mundo Grego. Inspirados pelo
Oriente, pelo Mundo Egípcio, copiando algumas das suas invenções como a moeda, a
escrita.
Os pontos cardeais são pontos de referência para os Ocidentais, o Oriente o Norte são
referências significativas, que perduram até na linguística como desnorteados
(“perdemos o Norte”, como “estamos perdidos”).

Os três pilares: Atenas, Roma e Jerusalém.


Os três pilares, são os eixos culturais do Ocidente, que definiram e definem a vida e
quotidiano ocidental.
O mundo Grego e Romano, são experiências tardias, vivendo de experiências do
Oriente.
O mundo Grego, distingue-se pelo pensamento racional e científico, pelas artes, pela
escultura, pela pintura, pela literatura (com Homero, o 1ºautor e “pai da Literatura
Europeia”, e “educador da Grécia”), pela multiplicidade de cidades, pela multiplicidade
de deuses, pela democracia.
O mundo Romano, distingue-se por coisas materiais concretas, o Direito, a política,
modelo de cidade, define-se por ser difundir para outras religiões.
O mundo de Jerusalém, cidade sagrada que conflui três religiões monoteístas, é uma
cidade que serve de ponto de partida para a expressão do cristianismo. É uma
experiência única ocidental. Define-se pela Bíblia, um produto judaico, que perdurou
até aos nossos dias.

 12/10:
Leitura e comentário da Introdução de Ph. Nemo O que é o Ocidente?.
Os fundamentos gregos e romanos no "produto" que é o Ocidente: a
invenção da cidade, o primado da lei, da ciência e da escola para os
Gregos, a invenção do Direito, da propriedade privada, da noção de
pessoa, para os romanos, a revolução ética e escatológica do judeu-
cristianismo, nascida no mundo antigo.
Segundo Philippe Nemo, a morfogénese cultural do Ocidente define-se por cinco
acontecimentos essenciais distintos.
Estes são: a invenção da cidade, da liberdade graças ao primado da lei, da ciência, e
da escola pelos Gregos; a invenção do direito, da propriedade privada, da “pessoa” e
do humanismo por Roma; a revolução escatológica da Bíblia, a caridade que
ultrapassa a justiça e a instauração de um tempo linear, o tempo da História e da
escatologia; a “Revolução Papal” dos séculos XI a XIII, que escolheu utilizar a razão
humana nas duas formas da ciência grega e do direito romano, para integrar a ética e
a escatologia bíblicas na história, realizando-se pela primeira vez a primeira verdadeira
síntese entre “Atenas”, “Roma” e “Jerusalém”; e por último, a promoção da democracia
liberal, realizada pelo que se convencionou chamar as grandes revoluções
democráticas (na Holanda, na Inglaterra, nos Estados Unidos e em França, e, depois,
sob uma forma ou outra, em todos os outros países da Europa Ocidental). Sendo o
pluralismo mais eficiente, nos três domínios da ciência, da política e da economia, do
que qualquer ordem natural ou artificial, este último acontecimento deu ao Ocidente
uma capacidade de desenvolvimento sem precedentes, que lhe permitiu gerar a
modernidade.
Estes são momentos de progressão histórica, mas sobretudo cultural, saltos evolutivos
que transformados através de diversos povos no que hoje identificamos como
Ocidente.
O primeiro acontecimento, o “Milagre Grego”, pode ser dividido em três invenções
fundamentais: a invenção da cidade, a invenção da escola e da ciência.
A invenção da cidade, decorre de sucessivos eventos que promovem um progresso
civilizacional, após a queda da civilização micénica (por volta do século XIII a.C.).
Neste contexto, durante a “Idade das Trevas Grega” (desde c. século XIII a.C. até ao
séc. VIII a.C.) surgiram um conjunto de mudanças e de progressos que moldaram a
cidade grega para o futuro do Mundo Grego. Primeiro, houve a perda do poder do rei e
da perda da importância dos palácios como sociedades estruturadas. O poder
transgride para uma base coletiva, deixando de estar somente num rei. Em segundo
lugar, aparece a ágora e a palavra e a razão passam a ser valorizados neste clima
público.
A segunda invenção, a isonomia. Os membros da sociedade, passam a ser visto como
iguais, perante a lei. Ao mesmo tempo, “inventam a religião”, apartir da desvinculação
da religião com a ordem da sociedade, passando a ser um motivo de identidade do
Estado (como a deusa Atenas, que é símbolo da cidade Atena, sendo objeto de culto).
Aparece a noção de nomos, a lei artificial como fonte de ordem social, embora
submetida à mudança e à crítica em prol da melhoria (em detrimento da physis).
A terceira invenção, a ciência surge após a racionalidade crítica e a criação do
conceito de isonomia. A génese desta “pré-ciência” grega poderá estar na aplicação
das mesmas leis aplicadas na sociedade a processos da physis. Físicos como Tales,
Anaximandro e Anaxímenes, provavelmente o fizeram em prol de por em hipótese leis
naturais universais, a que todos os elementos obedeciam.
A quarta invenção, a escola, estabelecida nos tempos de Alexandre “O Grande” e
Aristóteles, com o intuito de ensinar alguma ciência, dedicada a transmitir algo a uma
juventude (o espírito científico).

A oposição physis/nomos como basilar na conceção do ser humano


como resultado de uma cultura de progressivos processos de aculturação e de
aprendizagem.
A norma physis é substituída pela norma nomos. Nomos, a lei artificial, criado pelo ser
humano, sendo por isso submetida à crítica e a mudanças em prol de melhorias na
ordem social.
Surge nos dois últimos terços do século V a.C., no tempo dos Sofistas, substituindo a
physis, a ordem natural que é intangível pelos homens.
O Nomos é um fenómeno de aculturação, produto da artificialidade humana, produto
da aprendizagem humana, sendo fruto de uma progressiva aprendizagem e
aculturação.

A noção de schola e de paideia.


O étimo latino schola, é mais usado no sentido de “adestrar” num sentido militar, de
disciplina, de ordem, de inserção do Homem numa realidade artificial, uma elevação
de estatuto que ultrapassa a natureza e o insere na sociedade, uma realidade artificial.
O étimo grego paideia, é mais usado é o termo mais aproximado do termo atual
“educar”, no sentido de dirigir alguém, conduzi-la a algo predefinido, de ser cumprido
um ideal de humanidade.

Os regimes políticos: a democracia e a república como formas de estado


nascidas no mundo antigo.

A evolução em continuidade: o ocidente como o resultado de um


processo de acumulação transformadora.
 15/10:
O Milagre grego, a cidade e a ciência.
Traços constitutivos da cidade grega.
Encontrar hoje, na cultura europeia e ocidental, os traços civilizacionais do
mundo grego: a crise de soberania com a derrocada do mundo micénico.
O aparecimento do espaço público (ágora, fórum, praça).
A importância da palavra como modo de estruturação do pensamento
racional e como veículo de negociação interpessoal.
O diálogo, a discussão e as sínteses.
A liberdade sob a lei e a igualdade perante a lei: conceitos de aplicação
relativa no mundo antigo, que deixaram a sua inspiração para as concretizações
modernas e contemporâneas.
A noção de sophrosyne 'moderação' vs a hybris 'excesso' como fundamento
para o equlíbrio individual face ao grupo.
O lugar contido da religião no mundo antigo: a base para a liberdade
religiosa e para a separação entre a igreja e o estado.
A explosão da ciência e da filosofia no mundo grego como consequência
desta atitude relativizadora do fenómeno religioso na Grécia.

NB: disponibilizámos nos materiais de apoio MHR Pereira, Estudos de História


da Cultura Clássica. Para o ponto "Homero, educador de Grécia e da Europa"
ler pp. 31-109 (o pdf omite as pp menos relevantes).

 19/10:
A Geografia do berço da cultura ocidental.
A Grécia geograficamente fica situada na Península Balcânica, no extremo oeste do
continente europeu, ligando-se à Península Asiática pelo estreito de Istambul.
É definida por duas massas terrestres, a Grécia Continental, Grécia Insular e Jónica
(Grécia Oriental, na atual Turquia)

Espaços e Povos.

A importância do Mar Negro e do Mar Mediterrâneo como eixos


agregadores do mundo grego e do mundo romano.
Tanto o Mar Negro como o Mar Mediterrâneo estão consagrados por um estreito,
Mediterrâneo pelo Estreito de Gibraltar a este, que define a fronteira com o Oceano
Atlântico, e o Mar Negro, que é definido pelo Estreito de Istambul a este e pelo estreito
da Crimeia a Oeste.
Ambas as civilizações, grega e romana, tomaram partido dos mares como meios
socioculturais e socioeconómicos para estabelecer.
Ambos os Mares Negro e Mediterrâneo são referências para as civilizações grega e
romana.

Caraterização geográfica do espaço europeu.


A interação com o mar; o recorte das zonas costeiras, o olhar a Oriente (a
definição de Ocidente passa pelo olhar de quem fita o Oriente).

A história e a geografia da Grécia: dois momentos de expansão: o período


das colonizações das costas do Mar Negro e do Mediterrâneo (séc. VIII a.C.); a
expedição de Alexandre e a expansão da cultura helenística pelo interior da Ásia
e pelo Egipto (fim do séc. IV a.C.).
O Mundo Grego pode definir-se em dois momentos de expansão, um primeiro ao
longo da Grécia Jónica, a Grécia Oriental, na atual Turquia, onde se estabeleceram
comunidades gregas desde o século VIII a.C., e nos séculos seguintes para as regiões
da Grécia Ocidental, no Mar Mediterrâneo, como a Magna Grécia, o sul da Itália, a
Sicília, o Sul de França, o Levante de Espanha, e as costas do Norte de África.
Quando Alexandre III da Macedónia “O Grande”, começa a reinar como rei em 343
a.C., dedica-se a expandir para oriente o seu Império. Derrota os Persas na Batalha
de Galgamelas, entrando pela Ásia a dentro. O seu Império que tem como limites o
Rio Indo. O seu Império, consegue instituir um momento único na história do Mundo
Grego, a coesão político-cultural, onde a fragmentação típica do sistema de cidades-
estados gregas foi evitado, e em vez, a união socio-político-cultural. No entanto, este
paradigma utópico da vida do Mundo Grego altera-se após a morte de Alexandre em
323 a.C. em Persépolis, sendo o seu império dividido sucessivamente em reinos
helenísticos.

O acolhimento da cultura grega no mundo político romano (31 a.C.,


Batalha de Áccio).

Os Minoicos.
Arthur Evans.
Arthur Evans, descobriu a civilização minoica, após a descoberta do palácio de
Cnossos na Ilha de Creta. É sobretudo aclamado pela descoberta dos minoicos, a
“mãe civilização europeia”.

História, caraterísticas, vestígios.


Povo de origem indo-europeia, que constituía a primeira civilização complexa. Chegou
à região grega vindo do Oriente em cerca do segundo milénio a.C. e estabeleceu-se
na Grécia Insular (sendo a mais conhecida, Cnossos, atual Creta).
Eram uma civilização que vivia numa cultura de palácios (numa palasocracia),
arquitetados e extremamente avançados e complexos para o seu tempo, ricamente
decorados, com frescos e pinturas (cf, pinturas no palácio de Cnossos). Nestes
palácios, viveria um rei, junto das suas populações, uma inteira sociedade dedicada.
Já teriam sistema de escrita (Linear A), na pintura, nos frescos teriam temas próprios
(como a mulher como o centro do mundo, com maquilhagem e símbolo de
sofisticação; representação de figuras naturais marítimos; mito do minotauro).
No entanto, devido a uma catástrofe natural, por volta de meados do século XVI a.C.,
houve uma catástrofe natural que dizimou a civilização monoica, possivelmente uma
erupção vulcânica do vulcão Tera (na caldeira da ilha de Santorini), que provocou
sucessivos tsunamis, embora relacionados com o mito da Atlântida.

Os Micénicos.
H. Schliemman e a historicidade dos Aqueus e de Tróia.
No século XIX, Heinrich Schliemman, um comerciante alemão, vai-se inspirar nos
poemas homéricos para procurar vestígios da cidade de Troia. É um dos pioneiros na
área do estudo aos poemas homéricos, uma vez que na sua época, consideravam-se
fantasiosos, aos mesmo tempo que neste período, está a decorrer a formação da
nacionalidade e da pátria grega (após a independência em 1821).

História.
Por volta do século XVI a.C. provenientes da europa continental (não eram indo-
europeus) ocupam a Grécia continental estabelecendo-se em Micenas, Pilos, Esparta,
entre outras, mas na sua maioria no sul da Grécia. Nos próximos séculos expandem-
se, incorporando os territórios minoicos, dominando e absorvendo as suas técnicas e
algumas das suas características.
No entanto, por volta do século XII a.C. desaparecem, iniciando o período da “Idade
das Trevas Grego”. As causas não são muito claras.

Caraterísticas.
Absorveram o modo de vida dos minoicos, vivam à sua semelhança em palácios. É
uma cultura megalitista (“tudo grande”, desde cidades até muralhas, tudo era em
gigantes proporções) Igualmente absorveram as características da pintura de frescos,
desaparecendo alguns temas (como os marítimos). Eram uma cultura guerreira, mais
continental, e com a principal arte, a ourivesaria e a manipulação do ouro e de metais,
sendo característica da arte funerária (que por sua vez, caracteriza uma sociedade
estratificada, em ordem vertical).
É uma civilização utilizadora de uma forma de escrita mais avançada, o Linear B.
Vestígios.
Existem alguns vestígios da presença micénica, especialmente na parte sul da Grécia,
onde terão tido maior presença.

Grécia e Itália: a redescoberta do mundo antigo fundador da cultura


ocidental como consequência do retomar da soberania Grega e da constituição
da unidade italiana no séc. XIX.
Os trabalhos de Schliemman ajudaram a consolidar a soberania grega, bem como o
patriotismo grego (visto que a independência como país, haveria sido tomado
recentemente, apenas em 1821). Com a descoberta dos vestígios arqueológicos dos
poemas homéricos, há uma redescoberta da cultura greco-romana, não apenas na
Grécia, mas também em Itália, que estava na mesma situação política.

 22/10:
Homero, educador da Grécia e da Europa.
Homero é o primeiro autor da literatura europeia, sendo também uma das fontes da
identidade cultural ocidental, relatando organização política, costumes, valores,
hábitos, que constroem a sociedade micénica. No entanto, este não se identifica nos
poemas que escreve.
Homero é uma “bússola cultural” para os gregos, constrói apartir dos poemas
homéricos ideais e valores ético-morais, e ensina ao seu povo a escrita e a leitura,
sendo a fonte de uma cultura literária por gerações. Os poemas homéricos são os
educadores socioculturais da Grécia Arcaica.

A historicidade dos Poemas Homéricos: um fundo de realidade histórica,


documentada arqueologicamente, que deixou traços na memória cultural de
gerações, ao longo dos séculos.
Durante muitos séculos e gerações, os poemas homéricos foram tratados como
fantasiosos, poemas inventados sem nenhum propósito específico. Heinrich
Schliemman veio mudar o paradigma da historicidade e historiografia dos poemas
homéricos. Confirmou nos seus estudos e nas suas descobertas arqueológicas os
conteúdos históricos presentes nos poemas de Homero.
Troia, cidade principal dos acontecimentos na Ilíada, situada na planície de Ílion, foi
um lugar constantemente ocupado pela mão humana, encontrando-se entre a VI e VII
camada da estratigrafia regional.

O que quer dizer "composição" dos Poemas Homéricos" no séc. VIII? A


passagem ao código escrito de uma criação literária oral. O aparecimento do
alfabeto como uma evolução e uma sofisticação dos sistemas de escrita.
Os trabalhos homéricos são um trabalho de composição/criação oral, sobre a forma de
cultura popular. Nasceram anteriormente pelo registo oral, durante a Idade das Trevas
da Grécia Arcaica, fruto de trabalhos orais. Esta altura, designada por “período de
abaixamento civilizacional” levava não só consigo os problemas socioeconómicos
(como fomes, doenças) mas também o tempo para produzir a cultura. Era um período
de desespero e de sobrevivência.
Por volta do séc.VIII a.C., com a introdução da escrita e do alfabeto, os trabalhos
homéricos foram então compostos. A escrita surge do ócio e do sedentarismo, não só
com a componente prática do registo, mas também para a produção cultural. Neste
sentido, a introdução do alfabeto foi uma revolução cultural na Grécia Arcaica, sendo
não só importante à época, mas também para os nossos dias (estando na base da
escrita atual).

Marcas da oralidade nos Poemas Homéricos: a linguagem paratática.


Os poemas homéricos contêm uma linguagem paratática, por conterem conjunções/
locuções copulativas (e, mas, ou seja, …), que indiciam uma génese proveniente da
oralidade.

As fórmulas.
Os poemas homéricos contêm igualmente versos em que se evidenciam
fórmulas na forma de rimas. Através da repetição de rimas iguais, que já se sabe que
rimam de certa forma, por exemplo “coração” com “mão”.
Nos poemas homéricos existem igualmente recursos que demonstram a génese
destes na oralidade com o inciso descritivo. É um recurso usado para o poeta
recuperar (o fôlego, a respiração, as ideias, entre outros) divagando, descrevendo um
momento.
Outro recurso é o símile (de parecido/semelhante), começa normalmente com “tal
como…” e acaba com “assim é…”, servindo para comparar uma cena compósita com
outra cena compósita.

Os epítetos.
Outro recurso é um epíteto, uma espécie de intitulação com atributos
distintivos/significativos, com conjuntos adjetivais, que no fundo, servem para o poeta
ir fazendo rimas (usando em conjunto as fórmulas, de modo a acrescentar um
elemento que ajude a rimar).
Por exemplo: “(…) Zeus, senhor da égide.” (Ilíada, Canto XV, v.175)

A métrica e a musicalidade.
Os poemas homéricos são constituídos por hexâmetros dactílicos, 6 pés métricos
(dáctilos, como sequências de uma silaba longa e duas silabas curtas, sendo
sequências deliberadas de silabas breves e longas; como por exemplo: um espondeu
é uma sílaba longa, uma curta e uma longa).

Milman Parry e os seus estudos acerca da poesia popular narrativa dos


Balcãs.
Milman Parry, um etnólogo e antropólogo, fez uma pesquisa sobre os povos dos
Balcãs, na antiga Jugoslávia, e encontrou tradições narrativas orais de poetas, que
percorriam de terras em terras cantando extensos poemas (por horas). Estes além de
terem excelente memória e resistência, eram idolatrados pela população. Estas
tradições deram origem aos poemas homéricos.

O tema e o assunto dos Poemas Homéricos.

Troia, o eixo em torno do qual giram as epopeias da Antiguidade.


As epopeias da Ilíada, Odisseia e Eneida giram em torno da cidade de Troia. A
Ilíada, passa-se diretamente sobre a cidade de Troia e sobre a guerra dos Aqueus
contra os Troianos, a Odisseia, sobre a volta de Ulisses da cidade de Troia para a sua
cidade, Ítaca; e a Eneida, sobre a fundação da cidade de Roma, após a derrota de
Eneias, um troiano na Guerra de Troia.

Breves referências à matéria narrada e caraterização do espaço e das


personagens principais: Aquiles, Agamémnon, Ulisses.
As epopeias homéricas são a Ilíada e a Odisseia.
A Ilíada passa-se em Troia, na planície de Ílion, é uma cidade localizada na Grécia
Jónica (atual Turquia), localizada no estreito de Dardanelos.
A Ilíada narra o final da Guerra de Troia as últimas duas semanas do último de dez
anos da Guerra, que corresponde a um episódio ocorrido. É uma epopeia mais bélica,
retrata a tragédia humana através de conflitos.
Aquiles é o personagem principal da Ilíada, é um herói grego, retratado como o
homem mais forte de toda a Grécia. É um homem no geral, sanguinário, rígido,
insensível e inflexível.
Agamémnon é o rei de Micenas, irmão de Menelau (que é o marido de Helena e rei de
Esparta). É o comandante-chefe dos exércitos Aqueus.
A Odisseia, passa-se pós-Guerra de Troia. Retrata a viagem de volta de Ulisses da
Guerra de Troia para a sua terra Ítaca (uma ilha na Mar Jónico), onde é rei. Segundo
esta epopeia de Homero, este, demora 10 anos a retornar, após muitas aventuras por
diversas zonas do Mundo Grego. É uma epopeia com uma maior sensibilidade
humana (narra a sensibilidade de um homem que quer retornar ao seu lar, onde é rei,
para junto de sua mulher e de seu filho, que deixou á 10 anos), mas, igualmente, narra
a sua astúcia e a inteligência perante os problemas durante a sua viagem. É uma
epopeia de aventura e de exploração do Mundo Grego, narra os acontecimentos de
uma viagem no mar, onde este explora as terras, encontrando criaturas mitológicas e
fantasiosas.

Ulisses, ou Odisseu é o protagonista da Odisseia. É um herói grego, um homem


versátil (flexível, ágil, adaptável, inteligente), diferente de Aquiles pela sua
sensibilidade, humanidade.

 26/10:
Leitura dos versos iniciais do canto I da Ilíada e da Odisseia.
O canto I da Ilíada é uma introdução ao assunto da epopeia. Homero, começa por
pedir a uma Deusa ajuda a cantar a cólera de Aquiles, “Canta, ó deusa, a cólera de
Aquiles,(…)” (v.1). A cólera de Aquiles, advém primeiramente do conflito provocado
pelo rei/comandante dos Aqueus “o Pelida” Agamémnon, que enfurece o Deus Apolo
que lança uma peste sobre o exército aqueu, após este desrespeitar o sacerdote
Crises, “Enfurecera-se o deus/ contra o rei e por isso espalhara entre o exército/ uma
doença terrível de que morriam as hostes,/ porque o Atrida desconsidera Crises, seu
sacerdote.” (vv.9-12). Este desrespeito vem depois de Agamémnon recusar entregar a
filha de Crises (que foi capturada como espólio de guerra), mesmo com um resgate,
“Mas libertai a minha filha e recebei o resgate (…)” (v.20). Este desacordo gerou
atritos entre os exércitos Aqueus e o seu chefe Agamémnon “Então todos os outros
Aqueus aprovaram estas palavras:/ que se venerasse o sacerdote se recebesse o
glorioso resgate./ Mas tal não agradou ao coração do Atrida Agamémnon;/ (…)”
(vv.22-24). O sacerdote retorna, mas na mesma hora ora a Apolo para que solte uma
peste em forma de flechas contra os Aqueus “Assim, foi a sua oração, e ouviu-o Febo
Apolo./ Desceu dos cumes do Olimpo, de coração irado, trazendo aos ombros o arco e
a aljava toda fechada; à medida que ele avançava, as flechas retiniam/ no ombro do
deus enfurecido”(v.43-46). E durante nove dias este lançou flechas “Durante nove
dias, os dardos divinos correram o exército.” (v.53), sendo que no dia seguinte Aquiles
convocou um reunião “Ao décimo, Aquiles convocou o povo para uma reunião:” (v.54).
Nesta reunião, falou-se sobre as causas desta peste lançada, adivinhada por Calcas
Testória, um áugure “(…) mas por causa do sacerdote, que Agamémnon desonrou,/
pois não libertou a sua filha nem recebeu o resgate./ Por isso o deus que acerta o alvo
vos deu e dará ainda sofrimentos,/ e não afastará dos Dânaos o flagelo afrontoso,/
antes que ao pai querido se dê a donzela de olhos negros, sem paga e sem resgate, e
se leve uma hecatombe sagrada/ a Crise: sé então poderemos torná-lo propício e
convencê-lo.”” (vv.94-100). Seguido deste discurso, Agamémnon recusa-se a entregar
Criseida (filha de Crises), “Tenciono, não obstante, entregá-la, se for melhor assim.”
(v.116). Este, ainda tenciona receber um prémio pela sua perda “Mas preparem-me já
um prémio, sem detença, a fim de que não seja eu, /sozinho entre os Argivos
destituído de presente, (…)” (vv.118-119). Aquiles desconsidera o que Agamémnon
disse, dizendo que os prémios já foram divididos igualmente, sendo pago depois da
entrega de Criseida a Crises, “De quantas cidades arrasámos, tudo se repartiu,/ e não
parece bem ir reclamar ao povo o que lhe demos./ Por agora, entrega essa mulher ao
deus; e logo nós, os Aqueus, te pagaremos o triplo e o quádruplo, se algum dia Zeus
nos conceder/ tomarmos a cidade de Troia, de fortes muralhas.” (vv.125-129).
Agamémnon discorda de Aquiles e promete vingar-se de Aquiles, reclamando o seu
prémio, Briseida, “Mas eis do que te ameaço:/ como Febo Apolo me arrebata
Criseida,/ e eu a mando no meu navio com os meus homens, assim eu irei em pessoa
à tua tenda buscar Briseida de rosto formoso,/ o teu prémio, para que saibas bem
quanto mais valho do que tu,/ (…)” (vv.181-185). Agamémnon capturou assim
Briseida, “Assim falou.” (v.188), no entanto, Aquiles munido de raiva acaba por pensar
duas vezes antes de matar Agamémnon pela sua raiva (devido à influência da Deusa
Atena, fazendo-o restringir a sua ira),e em vez disso chama-o à atenção, “Doeu-se o
filho de Peleu, e no seu peito/ viril o coração oscilava-lhe entre duas decisões:/ ou
desembainhava ao longo da coxa a espada aguçada,/ e faria levantar os outros,
enquanto matava o Atrida, (…)” (vv.188-191) “Enquanto deliberava assim no seu
espírito e no seu ânimo,/ e tirava da bainha a enorme espada, desce Atena do céu;
(…)” (vv.193-194), “Vamos! Cessa a tua fúria, não desembainhes a espada com tua
mão./ Ultraja-o com palavras, anuncia-lhe o futuro que o espera./ O que eu te vou
dizer é o que há-de cumprir-se./ Terás um dia três vezes mais presentes esplêndidos,/
por causa desta insolência. Domina-te e obedece-nos.”/ Em resposta, declarou-lhe
Aquiles de pés velozes:/ Força é, o deusa, observar as vossas ordens, por muito irado/
que este esteja o nosso ânimo. (…) logo enfiou a grande espada na bainha, e não
desobedeceu às palavras de Atena; (…)”(vv.210-221). Continua…
O Canto I da Odisseia retrata o assunto da epopeia. Pretende historiar Ulisses, “(…)
do homem fértil em expedientes, que muito vagueou, depois que destruiu a cidadela
sagrada de Troia., / (…)” (vv.1-2). Narra o regresso/retorno de Ulisses à sua terra,
sendo o único herói que não regressou da Guerra de Troia “já então todos os outros,
que haviam escapado à morte ruinosa/ se encontravam em casa, livres da guerra e do
mar. /Só ele, que desejava o regresso e a sua mulher”(v.11-13), Ítaca, e de expulsar
os pretendentes a tomar o seu lugar como rei, como marido e todos os seus bens. No
entanto, o Odisseu estava encarcerado nas grutas da ilha de Ogídia, pela Ninfa
Calipso por esta se ter apaixonado por esta “(…) estava cativo de Calipso, a ninfa
venerável, divina entre as deusas,/ no recôncavo das suas grutas, pois almejava tê-lo
por esposo.” (vv.14-15).

Leitura de excertos do canto XXIV da Ilíada e da Odisseia.


O Canto XXIV da Ilíada, marca o término da narração da história da Ilíada,
sendo o último canto. Começa com a súplica de Príamo pelo corpo de Heitor, pedindo
mesericórdia a Aquiles, durante a refeição deste e de outros Aqueus, “Eram só dois: o
herói Autemedonte e Álcimo, vergôntea de Ares,/ que o serviam. Ele acabara há
pouco a refeição, parara/ de comer e beber. A mesa estava ainda ao seu lado./
Despercebido deles entrou o grande Príamo; acercou-se/ e com as mãos agarrou os
joelhos de Aquiles e beijou/ as terríveis mãos assassinas, que tantos filhos lhe
mataram.” (vv.474-479). Este suplica pelo corpo de Heitor, comparando a situação,
pedindo a compreensão de Aquiles, pedindo para se colocar na sua pele, “Pensa no
teu pai, ó Aquiles semelhante aos deuses!/ Ele que tem a minha idade, na soleira da
dolorosa velhice./ Decerto os que vivem à volta dele o tratam mal, e não há ninguém
que dele afaste o vexame e humilhação./ Porém quando ouve dizer que tu estás vivo,
alegra-se no coração e todos os dias sente esperança/ de ver o filho amado,
regressado de Troia./ Mas eu sou totalmente amaldiçoado, que gerei filhos
execelentes/ a ampla Troia, mas afirmo que deles não me resta nenhum./ Eram
cinquenta, quando chegaram os filhos dos Aqueus. Dezanove nasceram do mesmo
vente materno;/ (…)E o único que me restava, ele que sozinho defendia a cidade e o
povo,/ esse tu mataste quando ele lutava para defender a pátria:/ Heitor. Por causa
dele venho ás naus dos Aqueus/ para te suplicar, e trago incontáveis riquezas./
Respeita os deuses, ó Aquiles, e tem pena de mim, lembrando-te do teu pai. Eu sou
mais desgraçado que ele, e aguentei o que nenhum outro terrestre aguentou,/ pois
levei à boca a mão do homem que me matou o filho.” (vv.486-506). Aquiles, comovido
pelas palavras de Príamo, lembrando-se de seu pai e do seu primo Pátroclo, “E ambos
se recordavam: um deles de Heitor matador de homens/ e chorava amargamente,
rojando-se ao pés de Aquiles;/ porém Aquiles chorava pelo pai, mas também, por
outros lado,/ por Pátroclo. (…)”(vv.509-512). De seguida, concede o pedido de Príamo,
entregando o corpo mutilado “Mas deixaram lá duas vestes e uma túnica bem tecida,/
para que Aquiles vestisse o morto e entregasse para ser levado/ para casa.(…)”
(vv.580-582). Concederia ainda onze dias para a cerimónia da sepultura do defunto
pedidos por Príamo “Nove dias quereríamos lamentá-lo no palácio,/ ao décimo
sepultá-lo e dar ao povo o banquete fúnebre./ No undécimo erigíamos um túmulo
sobre ele./ Ao duodécimo poderemos combater, se tal for necessário.” (vv.664-667)
“Também isso te será concedido, é velho Príamo, como desejas:/ susterei a guerra
tanto tempo quanto aquele que pretenderes.” (vv.669-670). Assim o final da Ilíada
marca a mudança de comportamento de Aquiles, de um herói quase desumano,
enfurecido, raivoso, frio e insensível para uma personagem mais humanizada, sensível
e misericordiosa, imagem que não demonstrou ao longo da epopeia.
Canto XXIV da Odisseia, marca o término da narração.

Comparação entre os dois heróis e as duas epopeias: A Ilíada: da cólera


funesta de Aquiles à humanização do herói (episódio do encontro entre Príamo
suplicante e Aquiles (Ilíada, Canto XXIV vv.448).
No final da epopeia da Ilíada vemos o desenvolvimento de Aquiles, de um herói
quase desumano, sem sentimentos, frio, insensível, raivoso e enfurecido, tomado pela
cólera provocada por Agamémnon, para um herói comovido ao lembrar o seu pai
Peleu, e o seu primo Pátroclo, transformando-se numa personagem mais humanizada,
mais sensível, sentimental, misericordioso perante a súplica de Príamo.
No final da epopeia da Odisseia vemos o finalizar da vingança do Odisseu/ de
Ulisses. Em contraste com Aquiles, um herói que durante toda a epopeia mostrou ser
uma personagem humanizada, sensível, tomada pelo nostos de querer regressar á
sua ilha de Ítaca, e uma personagem sofredora neste contexto. No final vemos o
despertar da vingança, de uma cólera semelhante à de Aquiles, no sentido de lhe
tentarem retirar algo seu por direito, a sua mulher, os seus bens e o seu poder, após
este estar desaparecido por vinte anos da sua terra.

A Odisseia: da humanidade sofredora e desejosa de regressar a casa de


Ulisses à fúria do guerreiro vingativo (Odisseia, Canto XXIV vv.472).

Caraterização de Ulisses: poluthlas "o que muito sofreu"; polumetis "o de mil
astúcias"; polumechanos, polutropos (o de muitas habilidades).

A figura de Telémaco, um adolescente em aprendizagem nos cantos I-V da


Odisseia.
Durante os cantos I a V, chamados de Telemaquia, é descrita a jornada de Telémaco,
filho de Odisseu/Ulisses. Nestes, é narrada a jornada de tentativa de encontrar o pai
por outras cidades de retornados da Guerra de Troia.
No excerto “Projetos de Telémaco” do Canto II, é possível formular o projeto de
Telémaco. “(…) uma nau veloz e vinte companheiros,/ que façam comigo o trajeto
todo,/ pois eu vou a Esparta e à arenosa Pilos, para me informar do regresso de meu
pai, que há tanto partiu, (…)” (vv.212-215), Telémaco procurava informações sobre
seu pai que fora para a Guerra de Troia quando este ainda era uma criança, indo
procura-lo por Esparta e Pilos.

A Odisseia, um poema de nostos.


A Odisseia, é uma narrativa de nostos. É uma narrativa que pode ser descrita pelo
étimo grego nostos, pelo “regresso”, a Odisseia é uma narrativa de “regresso a um
ponto”. Pode-se relacionar com o termo moderno nostalgia, no sentido em que
Ulisses, o protagonista da Odisseia, poderá ter uma “dor do regresso”, uma
dor/saudade de um ponto, do que deixou para trás quando foi para a Guerra de Troia.

Análise e comentário dos passos lidos: v. 10 "destas coisas, a partir de um


ponto qualquer, [...] fala-nos também a nós": a narrativa in medias res: uma
caraterística das epopeias homéricas transmitida às epopeias suas sucessoras.
Narrar “in media res” é uma característica formal típica das epopeias inspiradas nos
modelos clássicos. Significa que a epopeia está narrada “apartir do meio”, ou seja, a
narração começa a meio da ação/acontecimento.
Perdurou como característica formal das epopeias, como por exemplo em “Os
Lusíadas”, Camões começa a narração na estância 19 do Canto I, quando a armada
de Vasco da Gama já está a meio da viagem entre Lisboa e a Índia.

 29/10:
Leitura e comentário de: "A beleza de Helena" (Canto III, ll.146-
160); "Noturno" Canto VIII, ll.553-565); "A Taça de Nestor", (Canto XI, ll.632-637);
"Receção a um suplicante" (Odisseia Canto VIII, ll.73-96); "O dever de
hospitalidade" (Odisseia Canto IV, ll.20-64).
O excerto “A Beleza de Helena”, põe em causa a génese da Guerra de Troia. Num
conselho de anciãos “junto de Príamo, Pântoo e Timetes, de Lampo, de Clítio e
Hicetáon, vergôntea de Ares, (…)” (vv.147-149), que discutem se realmente o cativo
de Helena em Troia é uma boa opção e se não seria uma boa opção retorná-la a onde
desta veio (“(…) apesar da sua beleza, que embarque nos navios, que não deixem
aqui para castigo nosso e dos nossos filhos” (vv.159-160)), pondo em causa que era
mais fácil acabar a guerra e poupar o povo de Troia, do que continuá-la para mal
destes e de tanto outros.
O excerto “Noturno”, através do recurso a um símile, compara duas realidades
compósitas, de universos distintos. Compara as estrelas do céu, “(…) como no céu
cintilam (…)”(v.555), com a “(…) luz incandescente (…)” (v.563), das fogueiras acesas
na planície de Ílion.
O excerto “A Taça de Nestor”, confronta a realidade ficcional com provas
arqueológicas, através da descrição da Taça: “(…) ornada de áureos pregos; quatro
eram suas asas, e, à volta de cada uma, duas pombas douradas debicavam alimento;
por baixo, havia dois suportes.” (vv.633-635), diferenciando-se por ter a descrição
ligeiramente alterada, já que não são quatro asas, mas duas asas. Confronta
igualmente a ficção com a realidade através da descrição do esforço quase sobre-
humano de Nestor “Quando estava cheia, a qualquer outro custaria levantá-la da
mesa; o velho Nestor, porém, erguia-a sem esforço.” (vv.634-635).
O excerto “

A forma dos Poemas Homéricos: o hexâmetro dactílico.


A epopeia é construída em verso, constituída em hexâmetros dactílicos - 6 pés
métricos (dáctilos, sequência de uma silaba longa e duas silabas curtas; um espondeu
é uma longa, e uma curta e uma longa); é uma sequência deliberada sequencia de
silabas breves e longas.

Ética e valores da sociedade em Homero: a aretê: o perfil de excelência


humano medido pela beleza, pela valentia em combate e pelo dom da palavra.
O conceito de Aretê, é a excelência de um indivíduo, profundamente enraizada no
valor de uma homem na sociedade homérica. É uma virtude. Este valor pode ser
demonstrado pela coragem/valentia reconhecida numa batalha, que se tranforma em
glória. É a sabedoria no uso das palavras, o dom de bem falar.
Um exemplo é a glória de Aquiles. É lhe oferecido duas opções, ou viver uma
longa vida simples, sem glória e sem aretê, ou participar na Guerra de Troia, sendo
lembrado e glorificado após a sua morte trágica, o que se realiza.

O conceito da kalokagathia "belo e bom".


Os gregos consideravam a “beleza como o espelho da alma”, associando a beleza
física às qualidades. Esta é a kalokagathia, o “belo e bom”. É o respeito pela
integridade física e pela beleza, “o Homem não é só o que pensa, mas como se
mostra aos outros”, demonstra a importância do sentido estético, a importância da
beleza.
O étimo grego kalokagathia, vem de kalo- + kai- + -agathos.

Normas de relacionamento e de boas maneiras protegidas pelos deuses: a


Hospitalidade; a Súplica.
A hospitalidade, é um conjunto de comportamentos ao nível do acesso a cuidados
básico (comida, bebida, dormida).
A súplica, é um comportamento de implorar, pedir encarecidamente algo. Um
suplicante é alguém que implora, que faz um pedido formal, humilhando-se,
colocando-se numa situação de à mercê do outro. O ritual da súplica é composto pelo
beijo das mãos, e abraçar os joelhos, de elogiar o outro e de seguida fazer o pedido. É
uma forma de diplomacia, de partes desencontradas encontrarem um espaço comum,
é uma suspensão dos conflitos e um momento de paz/tréguas.

O imperativo de respeitar os mortos e de lhes dar sepultura.


O respeito pelos mortos, dando-lhe uma sepultura digna é um valor social grego. É um
valor que tem como imperativo o respeito pelo corpo, pela integridade física.
Um exemplo da aplicação deste valor, é na Ilíada, após a Aquiles matar Heitor e
profanar o seu cadáver, Príamo, suplica pelo seu corpo e por um funeral digno.

A presença e a função destes condicionantes comportamentais na evolução


da trama dos Poemas Homéricos: o episódio de Glauco e Diomedes em
combate; o reconhecimento da hospitalidade passada (Ilíada, Canto VI, vv.119-
129 e vv.144-149), "Deveres de Hospitalidade" (Ilíada, Canto VI, vv.212-236).
O excerto de “Glauco e Diomedes” (Canto VI, vv.119-129), retrata a hospitalidade
grega.

A Guerra de Troia e a sua causa profunda na ofensa à hospitalidade de


Menelau por Páris; O encontro entre Príamo e Aquiles e a súplica pelo cadáver
de Heitor.
A Ilíada é uma obra épica que retrata a violação do valor da hospitalidade. Esta,
acontece quando após um encontro diplomático, no qual, Helena é raptada por
Príamo.

 02/11:
"O Escudo de Aquiles".
Inserido no Canto XVIII da Ilíada, representa um momento de mudança de paradigma
no comportamento de Aquiles. Até este momento, Aquiles está amuado por causa da
morte de seu primo Pátroclo e porque não tem armas para lutar, ficando enraivecido e
furioso.
Neste contexto, Tétis, mãe de Aquiles suplica a Hefesto que fabrique para Aquiles
armas para que possa lutar (“É por isso que estou perante os teus joelhos, na
esperança/ de que queiras dar a meu filho de rápido destino um escudo, um elmo,
belas cnémides bem ajustadas aos tornozelos/ e uma couraça. (…)” (vv.457-460).
Hefesto, aceita realizar esses trabalhos, discursando entre os versos 462 e 467.
Leitura, análise e comentário do excurso descritivo: o trabalho de Hefesto.
Apartir dos versos 467, começa a narração do fabrico da armadura para Aquiles,
através de uma suspensão da narração anterior através da inserção descritiva do
escudo. Começa por descrever os materiais que constituem o escudo, “Lançou para o
fogo bronze renitente e estanho/ e ouro precioso e prata.” (vv.474-475), que
contrastam com a fantasia da narração, atribuindo a esta uma dimensão real, sendo
um escudo parecido a escudos de outros guerreiros, mas feito por um deus.

A mundividência do poeta; a representação-resumo da sociedade homérica e


da totalidade da vida para além da Guerra: a cosmologia; a cidade em paz:
casamentos; julgamento.
O episódio do fabrico do escudo de Aquiles, representa a mundividência do poeta, o
conhecimento e perceção do mundo no tempo do poeta (e não no tempo de Troia,
onde se passa a epopeia). Assim, o escudo de Aquiles é um momento distinto da
narração da epopeia, uma alusão ao tempo de Homero, como uma síntese poética da
vida na época.
Hefesto forjou uma cosmologia no escudo, a primeira imagem da descrição do escudo,
“Nele forjou a terra, o céu e o mar;/ o sol incansável e a lua cheia; e todas as
constelações, grinaldas do céu:/ as Plêiades, as Híades e a Força de Órion; e a Ursa,
a que chamam Carro; cujo curso revolve sempre no mesmo sítio, fitando Oríon./ Dos
astros só a Ursa não mergulha nas correntes do Oceano.” (vv.483-489), neste,
descrevendo uma imagem astronómica do mundo com recurso a constelações.
Apartir do verso 490, é descrito a forja de duas cidades no escudo, onde na primeira
se celebra um casamento “(…) Numa havia bodas e celebrações:/ as noivas saídas
dos tálamos sob tochas lampejantes/ eram levadas pela cidade; muitos entoavam o
canto nupcial.” (vv.491-493), e junto destas celebrações, com música e dança,
“Mancebos rodopiavam e dançar; e no meio deles/ flautas e liras emitiam o seu som.”
(vv.494-495). Mas também ver que na época de Homero, já está institucionalizada a
noção de cidade, a presença do nomos com a resolução de problemas de justiça e a
vida social e civil já era regularizada. Desde os versos 497 até 508, vemos a aplicação
do nomos na resolução de problemas, e a transferência da esfera individual, para a
esfera comunitária/ institucional, através da decisão da causa (indeminização pelo
assassinato), em que o povo participa, e os anciãos decidiam a sentença.
Apartir do verso 509, decorre a descrição da segunda cidade.

A cidade em guerra: guerra convencional, oposição de dois exércitos


(representação do conflito de Troia?)

Guerra de saque e guerrilha: o assalto aos pastores.


Os trabalhos agrícolas: lavra, ceifa, vindima, pastorícia (gado graúdo, gado
miúdo), o lazer.

O rio Oceano a envolver a totalidade da experiência humana.

Significado deste longo excurso na economia do Poema: momento central da


obra, em que o herói retoma o combate.

Ver: Taplin, O. The shield of Achilles... (material de apoio).


Ilustrar: reconstituição de K. Vail, 2018
https://theshieldofachilles.net/. https://www.amazon.com.br/Reconstructing-Shield-
Achilles-English-Kathleen-ebook/dp/B07HPDKNRB

A Odisseia.
Leitura e análise do episódio de Ulisses e o Ciclope (canto IX) e do
episódio de Ulisses e as Sereias (canto XII).

Ver no material de apoio os excertos em causa. (tp1 pbdias Ulisses e o Ciclope


sereias). Contextualização da narrativa de Ulisses ao rei Alcínoo das suas aventuras
passadas.
Presença do fantástico e do maravilhoso nas descrições dos errores de
Ulisses.

A justaposição entre a realidade e a fantasia.

A semelhança com as narrativas populares e orais presentes em todas as


culturas. Caraterização de Polifemo, um monstro que não se assemelha
aos homens e que não conhece a hospitalidade.

Ulisses e as Sereias.

A ajuda de Circe no ultrapassar deste desafio.

Ulisses, entre a curiosidade e o temor.

Os estratagemas do sagaz Ulisses.


A promessa e a tentação das sereias: deleite e conhecimento.

 05/11:
1.2 A escrita da razão: a prosa científica e historiográfica.
Hesíodo, o homem e a obra: Teogonia.
Hesíodo, um poeta da época de transição da época arcaica para a época clássica
(estando no encontro do “despertar da razão”). Foi educado pelos ensinamentos de
Homero (vai utilizar características formais dos poemas homéricos).
Escreveu os “Trabalhos e Dias” e a Teogonia (teo – deuses; gonia – génese; génese
dos deuses).
Trabalhos e Dias: breve descrição, tema, caraterísticas formais.
“Trabalhos e Dias” foi uma obra escrita por Hesíodo para o seu irmão Perses, para o
ajudar a trabalhar a terra. É uma “espécie” de almanaque para trabalhos agrícola,
provindo informações e conhecimentos sobre a agricultura.
Utiliza o hexâmetro dactílico, influenciado pelos ensinamentos de Homero. Utiliza os
recursos que Homero utiliza, como os epítetos.

A singularidade de Hesíodo: a reivindicação da individualidade poética.


Uma característica que distingue Hesíodo de Homero é o individualismo poético. Ao
contrário deste, Hesíodo, dá-se a conhecer nas suas obras, tem uma “consciência
autoral”.
Um exemplo desta individualidade é na Teogonia, quando aparece no prólogo, pela
primeira vez uma biografia numa obra escrita. Dá informações sobre si.

A poesia como fonte de deleite e de transmitir conhecimento.


O poeta como produtor cultural, não é apenas uma voz para entretenimento, mas
também para a transmissão de saberes. Ser poeta era ter a voz para ensinar e
deleitar, e também para transmitir algo. Homero, além de produtor de cultura era
também de certa forma um “professor” ao transmitir por gerações uma forma de
garantir os valores ideológicos ético-morais para a sociedade grega, bem como uma
forma de aprender a ler e escrever. Hesíodo, da mesma forma, através das suas obras
como em “Trabalhos e Dias” além de entreter quem lê, ensina sobre como trabalhar a
terra.

A invocação às musas (prólogo de Teogonia).


No prólogo da Teogonia surgem os critérios em como algo vai ser cantado e quem vai
cantar, uma forma de logo individualizar quem canta. Ao contrário de Homero, que na
Invocação das suas obras, apenas introduz o tema da obra e não a si.
Começa por cantar as “Musas Helicónias”(v.1) da “montanha do Hélicon”(v.2) que
“uma vez ensinaram um belo canto a Hesíodo”(v.22), enquanto este era apenas um
pastor com os seus cordeiros no Hélicon (v.23). No momento seguinte, dão a Hesíodo
“como bordão um soberbo ramo de louro em flor”(v.30). “(…); inspiram-me um canto
divino, para eu glorificar o presente e o passado, e mandaram-me cantar a raça dos
bem-aventurados, que duram sempre; e celebrá-las sempre a elas também, no
princípio como no fim.” (vv.31-34), dão-lhe a tarefa de glorificar no tempo, os deuses,
imortais (“que duram sempre”), como as musas.
A mensagem das musas. "As falsidades que se parecem com a verdade" como uma
definição da literatura.
As musas dirigem-se a Hesíodo, reprimindo os “homens que só têm estômago”(v.26),
dizendo que sabem dizer verossemelhanças, mas também verdades. Este incisivo
descritivo, é indiretamente uma definição de literatura por Hesíodo. Retrata um
“contrato” entre o autor e o leitor. O autor, suspende a verdade nas suas obras
escritas, o fantasioso passa a ser verdadeiro, com a presença da verossemelhança, e
o leitor concorda com o que está escrito. Defende distinções entre a realidade da
escrita e a realidade vivida. Para Hesíodo, a escrita é uma realidade imaginária, onde
se podem aplicar conceitos observáveis trazidos da realidade, e misturá-los com a
imaginação, criando verossemelhanças, digamos que “falsidades verídicas”. Nessa
realidade, tudo pode ser verdadeiro, se for acreditado.

Confronto com as palavras das Sereias no episódio de Ulisses (Odisseia,


canto XII).

A origem dos deuses: uma cosmogonia a anteceder a Teogonia


(Teogonia, vv.116-130).
Hesíodo, abre o poema com uma cosmogonia, a génese do cosmos.
Por ordem de nascença, primeiro o Caos, a desordem, depois a Terra, e depois Eros o
primeiro deus.
Do Caos nasce o Érebo e a Noite, e da Noite, o Éter e o Dia.
A Terra gerou o Céu Constelado (onde vivem os Deuses), as Montanhas (onde
habitam as Ninfas).
Hesíodo, descreve então por grau de importância, primeiro a Natureza, os elementos
naturais, e de seguida os Deuses, que a esta são submissos. Primeiro nascem os
elementos naturais e depois nascem os Deuses, havendo uma relativização da
posição dos deuses. Os Deuses não pré-existem à criação cosmológica, não são os
deuses que tudo geram, são gerados, e por isso são imortais mas não eternos, algo os
antecedeu.
Outra característica, e que os Deuses são celestes, “A Terra gerou primeiro o Céu
constelado,/ com o seu tamanho, para que a cobrisses por todo/ e fosse para sempre
a mansão segura dos deuses bem-aventurados.” (vv.126-128), vivem no Céu
constelado.

Confronto com a descrição do cosmos no Escudo de Aquiles e com a


narrativa das origens contida no Génesis (capítulo 1 e capítulo 2).

O estatuto dos deuses, enquanto seres criados e imortais.


Os deuses assumem um estatuto “secundário” ou relativizado como seres imortais,
mas não eternos, como seres criados/ pós-existentes à criação de elementos naturais.
Esta premissa é um pavio para o pensamento filosófico e científico em perguntas que
relativizam a génese dos deuses (Quem criou os Deuses? Como foram os Deuses
criados?).
textos a ler: Tp1 Hesíodo e prosa filosófica. TP1 O mito das 5 idades.
Bibliografia recomendada (está no material de apoio):
Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de História da Cultura Clássica, vol I Cultura
Grega 296-305 (Mito); 155-168 (Hesíodo);
Hesíodo, Teogonia.
Trabalhos e Dias. Introdução de Maria Helena da Rocha Pereira.
Tradução e notas de Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira. INCM 2005: 7-17, 96-
99.
A prosa filosófica:
Ler: EL PENSAMIENTO FILOSÓFICO Y EL DESCUBRIMIENTO DEL COSMOS, p.
140 e ss. de W. Jaeger, Paideia, 15ª ed. (trad. esp.) México (no material de apoio, com
remissão para a aula de hoje e para a de dia 9)

 09/11:
1.2 A escrita da razão: a prosa científica e historiográfica.
O mito enquanto forma provisória e pré-científica de organização do
conhecimento e de ordenação do mundo.
Antes da criação da ciência, a explicação dos processos incompreendidos pelo
Homem era tomada por mitos, por explicações mitológicas, que tinham como base
conceções religiosas ou mesmo fantasiosas (criativas, imaginativas).
A ciência grega, uma “pré-ciência”, nasce da aplicação de princípios do nomos a
fenómenos naturais, da physis. Assim, dessa forma, os gregos põem hipóteses
(apesar de não serem teorias, por não terem as ferramentas necessárias pra provar as
suas hipóteses) como uma forma de organizar os acontecimentos naturais, como
forma de organizar o conhecimento do mundo e de tentar explicar os processos
naturais, até agora apenas explicados por mitos fantasiosos.

A explicação sobre um presente sombrio.


De acordo com o Mito de Pandora, havia uma vasilha indestrutível onde estavam
guardados os males que no passado teriam amaldiçoado a humanidade. Eram as
desgraças, os penosos trabalhos, doenças, que em conjunto traziam a morte aos
homens. “Mas a mulher, com as suas mãos, ergueu a grande tampa da vasilha, e
dispersou-os, preparando à humanidade funestos cuidados.” (vv.94-95). Tudo o que
era de males saíram, ficando apenas a Esperança dos homens na vasilha. Zeus,
abafou ainda as vozes dos que sofriam, de forma a que não fosse possível evitar o
que estaria destinado por este.
O Mito de Pandora é uma forma de pré-ciência e uma forma de pensamento científico.
Formula uma hipótese, embora com um pessimismo existencial com uma visão
negativa sobre a existência humana. Organiza com elementos racionais o Mito, de
acordo com o tempo, passado, onde a vasilha continha os males, e o presente onde
os males estão livres. E assim, tenta explicar o presente, através de uma cronologia.

Misoginia e visão patriarcal em "Mito de Pandora".


Outra característica, é a misoginia e a visão patriarcal. A mulher é quem levanta a
tampa da vasilha, e é quem tem a culpa dos males que estão a acontecer no Mundo, e
de certa forma, culpada também da existência humana.

Confronto com "Adão e Eva" de Génesis.


O segundo capítulo do livro de Génesis da Bíblia, narra após a criação do universo e
da Terra, a criação do Homem, e como seria o seu destino. Retrata o Jardim do Éden,
À semelhança com o Mito de Pandora, o mito bíblico de Adão e Eva, também tem uma
visão misoneica e patriarcal do Mundo. A mulher, Eva, é vista como a causadora dos
males para a existência humana após dar o fruto proibido por Deus, a Adão.

A partilha comum entre os dois mitos de origem (grego e bíblico) de um


substrato mítico ancestral de origem sumérica e oriental.

As inovações de Hesíodo: as quatro idades em escala descendente.

O inciso racionalista e de consciência da historicidade constituído pela


"Idade dos Heróis".
Hesíodo introduz o mito das cinco idades de uma forma racionalizada, através
de uma ordem, é um inciso racionalista que ao mesmo tempo introduz uma
consciência histórica, através de uma sucessão de idades, de uma cronologia histórica
do passado, tendo a necessidade de explicar o passado, e de explicar a “Idade dos
Heróis” não como uma época decadente.

Descrição e caraterização de cada idade com base no modo de vida,


relacionamento entre si, relação com os deuses, destino final.
De acordo com Hesíodo no mito das cinco idades, o Homem vivera em cinco idades.
A primeira idade descrita por Hesíodo foi a Idade do Ouro, criada por imortais, é a
Idade governada por Cronos, enquanto este ainda vivia no Céu. Foi a primeira idade
perfeita, a idade onde à semelhança dos deuses, os homens viviam despreocupados,
na paz e na harmonia, havendo abundância (de alimentos).
A segunda idade descrita por Hesíodo é a Idade da Prata, sucedendo-se à Idade do
Ouro, pior do que a anterior. Era uma idade onde não se vivia muito além da
juventude, em sofrimento devido à loucura. Foi uma era marcada por uma imperfeição,
culpa e castigo de Zeus, devido aos homens terem desrespeitado os deuses, por
terem desrespeitado o culto aos deuses.
A terceira idade descrita por Hesíodo é a Idade do Bronze, a idade pior à anterior, a
idade dos humanos que eram mais selvagens, mais fortes, inquebráveis, utilizadores
apenas de bronze, pois desconheciam o ferro.
A quarta idade descrita por Hesíodo é a Idade dos Heróis, é a única idade conceituada
por Hesíodo que não representa um metal, e a única que sucede em melhoria á
anterior. É a idade dos semideuses, a idade dos acontecimentos de Tebas e Troia, a
idade dos homens que Zeus concedeu um lugar especial nas “Ilhas dos Bem-
Aventurados”, lembrados além Oceano (transfiguração da memória de heróis, que
ultrapassa o mundo conhecido).
A quinta idade descrita por Hesíodo é a Idade de Ferro, a Idade em que este vive. É a
pior idade do Homem, é a pior altura da existência humana, a altura onde os homens
nascem de cabelo grisalho, a altura onde reina o mal, a injustiça, os valores sociais
estão trocados, já não existe apoio, nem misericórdia, mas os filhos deixam os pais a
morrer à fome, reina a violência, a inveja e a mentira. Esta raça é a esquecida pelos
Deuses

O presente de Hesíodo.
O mito das cinco idades serve como justificação para o presente difícil de Hesíodo, um
presente de condenação vitalícia ao trabalho e aflições diretas.

O Pessimismo existencial.
Hesíodo explicita o seu presente através de um pessimismo existencial,
através de um descrédito, de uma desconfiança, de um pessimismo associado ao
futuro progresso da humanidade.
Marcadores deste pessimismo: desordem das relações sociais e
familiares, inversão dos valores, violência, injustiça.
A Idade de Ferro, a idade de Hesíodo, é marcada pela disnomia. Os homens já
não são os mesmos de antigamente, não há amor entre irmãos, os pais são
abandonados pelos filhos, idosos deixados para morrer à fome. Já não há justiça
clara, já não há o bem como um valor vitalício, mas agora há a mentira, a justiça é a
violência, a vida marcada pela inveja e já não há a vergonha.

Hesíodo e a alvorada de uma consciência historiográfica e de uma


racionalização do mito.

 12/11:
A prosa filosófica e historiográfica: Xenófanes, Heródoto e Anaxágoras.
Xenófanes e "O elogio da sabedoria".
Xenófanes, é um autor do séc. IV-V a.C. é um autor que pensa por si, reflete
individualmente sobre os assuntos, discordo sobre o que lhe é mostrado, mostra
impiedade, critica conceitos e assim diferencia-se.
No excerto “Elogio da sabedoria”, Xenófanes, critica as conceções do seu tempo, que
considera serem erradamente concebidas. Para Xenófanes, “Pois melhor do que a
força de homens e corcéis é a nossa sabedoria.” (vv.12-13), é mais correto louvar a
sabedoria dos homens do que a força.

Crítica do filósofo aos valores consagrados do seu tempo: Os Jogos


Olímpicos e a sua popularidade no mundo grego, contrapostos aos valores
enunciados pelo poeta: a sabedoria, a boa ordem e a prosperidade no governo
da cidade.
Xenófanes critica os valores da sociedade em que vivia, argumentando que a força
demonstrada durante os Jogos Olímpicos (nos vários desportos como o pentáculo,
pugilato, pancrácio, entre outros) não traz nem boa ordem nem prosperidade
económica, ao contrário da sabedoria. Para Xenófanes, a sabedoria pode trazer a
eunomia (eu de boa, e nomia de nomos, de ordem/lei), sendo uma mais-valia o
sentido racional e não o sentido estético e prático-funcional.

"O Primeiro mestre" - Homero na génese da educação dos gregos.


O fragmento de Xenófanes revela Homero como o “educador dos gregos”, todos
aprenderam por Homero, a escrever e a ler.

Dúvida e críticas às conceções gregas acerca dos deuses: a pluralidade


de Deuses; o antropomorfismo.
O fragmento “Os deuses Homéricos” com um excerto de Xenófanes, constata e
descreve a realidade que observa, que nos textos de Homero e Hesíodo, os seres são
seres caprichosos, vergonhosos e censuráveis. Argumenta que são seres caprichosos
errantes, mas igualmente sendo estes com estas qualidades deploráveis, relativiza o
conhecimento vindo deles. Se os deuses roubam, se os deuses cometem adultério, se
os deuses mentem, porque razão deve-se acreditar no que nos dizem ou porque os
idolatramos.
O fragmento “O antropomorfismo” e o excerto “Relatividade da Crença” relativiza a
crença nos deuses gregos por Xenófanes. Este, argumenta no primeiro excerto, uma
fragilidade dos deuses, o facto de terem sido gerados após a natureza. Logo têm um
princípio, não são pré-existentes, não são eternos, nasceram de algo/alguém. O resto
do excerto à semelhança do segundo refere que os gregos concessionam os deuses à
sua imagem e semelhança, sendo concebidos à imagem humana. Põem em causa a
veracidade do antropomorfismo dos deuses. Exemplifica com os adereços, como a
roupa, a voz, o corpo, mas exemplifica também que se outros animais tivessem mãos
como o ser humano, pintariam ou esculpiriam seres da mesma forma que os seus, ou
com características semelhantes.

A fundamentação da crítica no exercício da razão individual.


"Progresso da humanidade".
Xenófanes, é mais positivo acerca da existência humana. De acordo com este autor
no excerto “Progresso da Humanidade”, este acredita que a humanidade está aos
poucos a progredir, argumentando com bases míticas, referindo que os deuses não
revelaram tudo aos seres humanos no início, que o fazem aos poucos, e por isso, à
medida que o tempo passa, o progresso é maior na qualidade de vida humana.

A visão progressiva e ascendente acerca do homem, em contraponto ao


modelo mítico regressivo de Hesíodo, em "Mito das 5 Idades".
Ao contrário de Hesíodo, Xenófanes, propõe uma visão progressiva e ascendente da
existência humana. Propõe que os deuses revelaram de início pouco aos humanos, e
que à medida que o tempo passa, o progresso humano é maior, porque os deuses vão
revelando mais.

Prenúncios de um monoteísmo.
No excerto “Prenúncios de monoteísmo”, Xenófanes argumenta sobre um deus só,
uma espécie de “Deus-Ideia”, um deus sem corpo e espírito, acima de homens e
deuses, responsável por tudo o que acontece no espaço-tempo, seria a fonte de tudo.
Xenófanes, põe em causa o politeísmo grego, afastando da ideia de vários deuses,
propondo a ideia de um único deus.

A cosmogonia e a especulação filosófica sobre a constituição da matéria.


Os fragmentos do excerto “Cosmogonia”, remetem-nos para as preocupações
filosóficas dos autores pré-socráticos. Estes autores, preocupam-se não em provar,
mas em contemplar e formular hipóteses, preocupam-se em especular sobre e
apresentar ideias sobre os fenómenos naturais que observam. Preocupam-se com a
explicação dos fenómenos do physis (matéria), sobre a sua constituição, os seus
elementos, o seu funcionamento, a sua origem.
Estas ideias pré-científicas, tem origem na aplicação universal do nomos aos
processos naturais, da physis, que ocorrem.

Heródoto, o pai das ciências sociais.


Heródoto, além do “pai da História” é o “pai das ciências sociais”, é a primeira fonte de
informação sobre a etnologia, a sociologia, a antropologia. Escreveu e recolheu
informações sobre costumes, tradições de diversos povos.

Breves notas sobre a sua obra.


O assunto principal das Histórias.
Heródoto escreveu em prosa historiográfica sete livros as “Histórias” de Heródoto,
cada um representado por uma musa, representando o conhecimento.

A preservação da memória, exaustividade, imparcialidade e interpretação


como recursos utilizados por Heródoto nas suas Histórias.
No excerto “Conceito de História”, Heródoto no Prólogo das Histórias, reflete a função
da História. Para este, a História tem a função de preservar a memória, expondo
informações (como feitos grandiosos, entre outros) de modo a que não sejam
esquecidos pelo tempo. A História também é imparcial, reflete acontecimentos e
causas de ambos os lados, sem os tomando-os como factos, mas não tomando
posições. A História é também interpretação dos factos ocorridos, e até da sua
exposição, para que os mais certos sejam louvados e os mais errados, sejam
reprimidos e lembrados para que não se repitam. A História é também exaustiva, trata
todos os aspetos dos acontecimentos, sendo um estudo detalhado e exaustivo.

Para que serve a ciência? "O eclipse previsto por Tales de Mileto e seu
distinto impacto entre Persas e Jónios.
No excerto “O eclipse predito por Tales”, Heródoto, conta a história da guerra entre
Jónicos e Persas que acabou ao fim de seis anos num tratado de paz, após a previsão
de um eclipse.
A ciência de acordo com Tales de Mileto, serve como

Homero e Hesíodo, "inventores" dos deuses, dos seus nomes e das suas
atribuições.
Segundo Heródoto no excerto “Homero e Hesíodo na religião grega”, considera que os
poetas Homero e Hesíodo inventaram os Deuses. Através da invenção da teogonia,
atribuíram aos deuses, nomes e os seus ofícios, e a sua forma.

Anaxágoras e a sua reflexão acerca da Génese do mundo: a génese da


matéria, especulação sobre os elementos que a compõem, sobre os distintos
estados da matéria, sobre as forças de mudança "revolução" atuantes na
matéria e no tempo.
Anaxágoras preocupa-se com a relação entre os elementos, as dinâmicas
entre os elementos naturais. Especula sobre a dinâmica dos elementos, a mudança
constante dos elementos.

Bibliografia: além da indicada na aula do dia 5/11, acrescenta-se Pereira, Mª


H. Estudos de História da Cultura Clássica, (várias edições disponíveis, e por isso se
indicam os capítulos): A prosa. A filosofia e a Ciência. A Historiografia: O Dealbar da
Filosofia e da Ciência; O Despertar da consciência Histórica.
Ver no material de apoio, reprodução integral da obra.
3- Mitos e Heróis na Grécia
sistematização das caraterísticas dos deuses gregos e romanos (ver material de
apoio: TP1 PBDias: caraterísticas dos Deuses)

 16/11:
Mitos, Deuses e Heróis na Grécia antiga (conclusão).
Conceitos de iconismo, antropomorfismo e superlativização.
O iconismo é uma característica dos deuses helénicos. É uma prática religiosa que é
associada a dar uma representação física-material a uma entidade, como aos deuses
helénicos.
O antropomorfismo é uma característica dos deuses helénicos. É uma prática religiosa
que designa o ato de dar uma forma física a um deus, ou a deuses de acordo com as
conceções humanas, de acordo com a perceção humana, com características
humanas.
A superlativização é uma característica dos deuses helénicos. É uma característica
que constitui os deuses helénicos, que sobrepõem os deuses em relação ao ser
humano, os deuses são sempre superiores aos seres humanos em qualquer
característica, seja em força, inteligência, altura, entre outras.

A sucessão da geração dos deuses como uma caminhada ascendente:


Urano, Cronos e Zeus.
No mundo dos deuses, há uma sucessão ascendente entre as gerações dos deuses
helénicos. Desde o momento anterior à teogonia, onde reinava o Caos, até à criação
da Terra, até ao Mundo dos Ciclopes, até ao tempo dos Titãs, até ao tempo de Urano,
até ao tempo de Cronos, e até ao momento de Zeus.

A divisão da soberania dos deuses entre Zeus, Hades e Poseidon.


A soberania dos deuses é entregue por herança: Zeus, é Deus da superfície, da Terra
e dos Céus; Poseidon, Deus que “abala a Terra”, dos Mares, dos Cavalos; Hades,
Deus do Subterrâneo.

Os deuses olímpicos.

O conceito de "Heróis", seres híbridos, entre homens e deuses.


Heróis são seres híbridos, filhos do Deus Zeus e de Humanos. Tal como os deuses
têm atributos especiais, mas são também perseguidos pela ira de Era.

Helena e Héracles.
Helena, é uma heroína filha de Zeus e da rainha Leda. A sua maior qualidade era
a sua beleza, sendo conhecido por ser a mulher mais bonita do mundo, durante o
tempo em que viveu.
Hércules, filho do Deus Zeus e de Alcmena. O seu maior atributo era a sua força,
sendo o que o distinguia dos humanos normais.

O percurso singular de Héracles.


Hércules como herói vive condenado aos trabalhos de Zeus, sendo doze trabalhos.
O modo de funcionamento da religiosidade grega: a fusão entre função sacerdotal
e função política; o santuário (ex. o santuário de Zeus Olímpico, em Olímpia; o
santuário de Delfos, em honra de Apolo; o templo como espaços de convergência e de
encontro entre os homens e o sagrado; o sacrifício como forma de ritual básico da
religiosidade grega.

Os festivais.

Os Jogos Olímpicos; As Panateneias; As Grandes Dionisíacas.


Os Jogos Pan-Helénicos eram quatro. Os jogos Olímpicos realizavam-se no
santuário de Olímpia em Olímpia. Os Jogos Ístmicos, realizavam-se no istmo de
Corinto. Os Jogos Píticos realizam-se em Delfos. Os Jogos Nemeus realizavam-se em
Nemeia, em honra de Hércules (que matou o leão de Nemeia).
Atenas tinha os jogos próprios da cidade, as Panateneias e os Grandes Dionísios.

A estreita ligação entre religião e comunidade nas Pólis.

4. Polis e Democracia.
Definição do conceito e caraterísticas da Polis.
A pólis é uma unidade política, social e económica, que vive da cooperação entre
aldeias (entretanto uma delas ganha mais relevância, ficando mais urbanizada,
representando as outras nos aspetos principais).

Origens.
As pólis começaram a surgir no século VIII a.C., após os finais da “Idade das Trevas
Grega”.

Soberania; Autarcia; união cidade-campo; horizontalidade de relações.


Cada pólis tinha o seu modelo de soberania, cada pólis tinha o seu modelo
governativo.
Uma das características da pólis é a autarcia, é a “capacidade se se bastar a si
próprio”, é autossuficiência, cada pólis era independente das outras.
A Pólis não é apenas uma cidade, visto que é dependente de outros recursos
(como os agrícolas e alimentares), sendo que inclui as aldeias, sendo uma destas uma
cidade mais evoluída e mais urbana (incluía uma ágora, lugares de culto, lugares de
representação política, e espaços comerciais),

Organização.
As evidências materiais de urbanismo reveladora de um sistema de vida
organizado em polis: a ágora, um centro urbano.

Os templos.
Simbolizam o poder religiosos numa pólis.
Os lugares do exercício político.
Os espaços para trocas comerciais.

Instituições nucleares da Polis (cf. cidade em paz em "Escudo de


Aquiles): o Conselho; a assembleia; os magistrados.
As instituições nucleares de qualquer pólis, são o Conselho, a Assembleia, os
Magistrados. Estas variam de nome dependendo da cidade (em Atenas era
respetivamente o Areópago, a Eclésia e os Arcontes; em Esparta eram respetivamente
a Gerúsia, a Apela e os Éforos). Juntas eram uma forma “primitiva” de divisão dos
poderes, uma teorização sobre a moderna forma democrática.

As designações destas instituições em Atenas e em Esparta.


Em Atenas era respetivamente o Areópago, a Eclésia e os Arcontes.
Em Esparta eram respetivamente a Gerúsia, a Apela e os Éforos.

A Polis Ideal
O excerto “Pólis Ideal” refere a opinião de Aristóteles sobre as proporções ideais de
uma pólis, quanto à sua quantidade de grandeza. Se uma pólis for demasiado
pequena não conseguirá alcançar a autarcia, caso seja grande demais terá a
dificuldade de abastecer a sua população, e terá uma constituição representativa,
exercendo-se a democracia indireta e não direta, não sendo um forma ideal de
democracia. Aristóteles defende que há um limite demográfico pra esta forma de
governo. Defende ainda que caso a população seja em demasia, pode haver o risco
de ser usurpadas as leis, exemplificando com metecos e estrangeiros que poderão
passar despercebidos.

A Polis Perfeita
O excerto “Pólis Ideal” refere a opinião de Aristóteles sobre as proporções ideais de
uma pólis, quanto à sua quantidade de grandeza. Se uma pólis for demasiado
pequena não conseguirá alcançar a autarcia, caso seja grande demais terá a
dificuldade de abastecer a sua população, e terá uma constituição representativa,
exercendo-se a democracia indireta e não direta, não sendo uma forma ideal de
democracia, defende que os cidadãos devem ser os suficientes para se conhecerem,
visto que assim sabem quem vai governar. Aristóteles defende que há um limite
demográfico pra esta forma de governo. Defende ainda que caso a população seja em
demasia, pode haver o risco de ser usurpadas as leis, exemplificando com metecos e
estrangeiros que poderão passar despercebidos.

Polis, comunidade Perfeita


O excerto “Pólis: A Comunidade Perfeita” de Aristóteles debate a natureza da pólis
como uma comunidade perfeita, por nascer e viver de acordo das suas necessidades
(sendo estas favorecidas pelas aldeias), sendo as aldeias de que esta se forma um
meio para um fim, a autarcia.

A Polis é o povo
A legitimidade do poder na polis
Contextualização do passo na obra de Sófocles: o dilema em causa: é legítimo
formular uma lei que proíba sepultar um morto?.

Oposição nomos/physis
O desacordo entre nomos (a lei do soberano- a legalidade) e thesmos (os princípios,
os valores, os costumes radicados no respeito aos deuses- a legitimidade).
O excerto “Oposição nomos/physis”, reflete um argumento de Antifonte sobre o
relativismo do Nomos, como lei passível de mudanças, e de crítica. Por esse motivo,
tudo o que não é lei é possível fazer, sendo lacunas possíveis de exercer. A lei para
Antifonte é algo que é possível de transgredir sem testemunhas dos nossos atos, é
apenas efetiva para mais do que uma pessoa. Contrariando, da lei natural, da physis é
impossível escapar ou criar lacunas, porque são necessidades universais, produzidas
sem ter controlo.
O primado da lei na pólis: a oposição nomos/physis (natureza): o conceito de nomos é
obra dos cidadãos, um contrato, uma convenção procurada entre cidadãos em função
do que é belo, justo e útil: a procura do bem comum.

Importância da lei

 /11:
A pólis, comunidade perfeita para a Hélade.
A pólis é uma unidade harmoniosa, organicamente organizada, existem instituições
que gerem e governam a vida política.

Unidade na diversidade: a unidade civilizacional dos Helenos associada à


diversidade das soberanias políticas.
As pólis são regidas por sistema de politeias, “formas de governo” particulares,
podendo diferir de pólis para pólis, variando de democracias, oligarquias, aristocracias,
tiranias.

Fatores de unidade entre os Gregos: a língua; a religião; a cultura: a


mesma memória do passado; o mesmo património literário (Homero, Hesíodo).
A Hélade é uma unidade civilizacional cultural, partilham a mesma língua, a mesma
cultura, a mesma memória de um passado (e a mesma tradição literária), os jogos
pan-helénicos e a mesma religião.

Elementos de aproximação e de vinculação entre os Gregos: Os Jogos


Pan-Helénicos: os concursos desportivos e literários associados ao culto dos
deuses oficiais: Os Jogos Olímpicos, Píticos; Ístmicos; Nemeus: lugares,
frequência, deus cultuado.

Os santuários congregadores: Santuário de Apolo em Delfos; Santuário


de Asclépio, em Epidauro.

As celebrações religiosas em Atenas, sua capacidade de atração pan-


helénica e sua utilização como instrumento político de afirmação do poder de
Atenas a partir da tirania de Pisístrato:

As Panateneias - a grande procissão.

As Grandes Dionísias e o concurso de teatro que lhe está associado: a


convergência entre as motivações cívicas, motivações religiosas e motivações
culturais.

O Teatro, instrumento educador da pólis: a composição da poesia


dramática a cargo de tragediógrafos e comediógrafos; a dança; o canto; a
performance.

Creonte e o seu descolamento em relação ao povo que governa.

A pólis é administrada por quem governa segundo leis emanadas dos


cidadãos não é pertença do governante.
Antifonte, fr. 44 "A oposição Nomos/physis", Demóstenes, Contra Aristogíton I. 15-16
"A importância da lei" (id. ibid. p. 56, 7)
Bibliografia:
Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de História da Cultura Clássica, vol I Cultura
Grega (Op. Cit) 169-192
Jose Ribeiro Ferreira, Civilizações Clássicas I Grécia. Univ Aberta, 1996: 73-87
José Ribeiro Ferreira, A Grécia Antiga. Sociedade e Política, Lisboa, 1992: 13-39

 23/11:
A democracia Ateniense: contextualização histórica: fatores internos - A
instabilidade na Pólis ateniense do séc. VII-VI.
Sólon, o legislador, e a instituição da liberdade sob a lei num regime político
de contornos aristocráticos.
Sólon, um legislador do séc.VI a.C, institui a
A procura de equilíbrios, a aplicação da justiça (eunomia) e o alívio das
condições de vida dos mais pobres entre os cidadãos.
As reformas políticas de Clístenes e a assunção da igualdade entre os
cidadãos.
Fatores externos: As Guerras Medo-Persas e a resposta dos Gregos à ameaça
Persa.
A vitória dos Atenienses em Maratona (490) e Salamina (480).
Democracia e sucesso militar: a orientação de Temístocles na preparação da
armada ateniense.
O aumento da base censitária dos cidadãos.
Séc. V 508/7- 406 a.C. - o século do apogeu de Atenas, nos planos
económicos, culturais e artísticos.
O século V a.C. é o século de ouro de Atenas, é o século de Péricles, durante este
período, Atenas é a cidade mais rica, a cidade mais poderosa e a cidade com a maior
importância cultural-artística.

O imperialismo ateniense e a reação das cidades-estado ao cercear da


liberdade intrínseca das pólis - A Guerra do Peloponeso, a ensombrar o último
terço do séc. V ateniense.
O imperialismo ateniense surge de um argumento comum entre as diversas pólis, o
inimigo

Caraterísticas da Democracia ateniense: A igualdade como princípio


fundamental, nas suas três frentes: a isonomia; a isocracia; a isegoria.
Formas de atingir os princípios fundamentais: a "mistura" dos cidadãos
conseguida através do seu agrupamento em tribos segundo critérios arbitrários.
A tiragem à sorte como mecanismo de escolha dos representantes.
A colegialidade.

O rotativismo na ocupação dos cargos.


O rotativismo na ocupação dos cargos é uma característica da democracia ateniense.
Nenhum cidadão poderia ocupar um cargo
Governar e ser governado à vez.
O ideal do cidadão interventor no espaço público: político e soldado
Os órgãos da democracia
Os três princípios fundamentais: isegoria, isocracia e isonomia.
A relação entre isonomia, democracia e eunomia.
Mecanismos que asseguravam a isocracia.
“O demos”, Xenofonte, Memoráveis, 4.2.36-37, Polis. Antologia de Textos
Gregos, 128.
“A lei sobre a hybris”, Demóstenes, Contra Mídias 45-48, Polis. Antologia de
Textos Gregos, 145-146.
“Péricles institui a mistoforia”, Plutarco, Péricles, 9.2-3, Polis. Antologia de
Textos Gregos, 135.
“O retrato de Péricles”, Tucídides 2. 65.5, Polis. Antologia de Textos Gregos,
135.
“Qual a melhor forma de constituição política” Heródoto, Histórias, 3.80, Hélade:
254-257.

Bibliografia
*José Ribeiro Ferreira, Civilizações Clássicas I Grécia, Univ. Aberta, 1996: 135-160
*IDEM, A Grécia Antiga, Ed. 70, Lisboa, 1992: 85-125 “A democracia ateniense. A
busca da igualdade”
Links para o material vídeo exibido
Greek Direct Democracy: https://www.youtube.com/watch?v=dj5VZ0tUhOg
Ancient Greek Democracy - https://www.youtube.com/watch?v=D9xz2zLjfnk
Pede-se aos estudantes que vejam em casa: https://www.youtube.com/watch?
v=dj5VZ0tUhOg

Diagrama do sistema político da democracia ateniense (a partir de Aristóteles,


Constituição dos
Atenienses https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Political_System_Ancient_Athens.
svg
Alexandre e o mundo helenístico.

 26/11:
Alexandre e a oikoumene helenística.
A cultura helenística, um mundo global.
A universalização do Helenismo
2. O mundo romano: formação e caracterização do modelo imperial,
sociedade e valores.
Após a morte de Alexandre “O Grande” em 323 a.C., o seu império helenístico é
subdividido em reinos helenísticos. Roma vai se fundir num desses reinos.
Roma, referências sumárias sobre a história e o espaço da civilização
romana.

Das origens ao Mare Nostrum


2.1 O estado romano e a evolução das formas de organização política: a
monarquia; a república; o principado

 03/12:
O estado romano e as formas de organização política: a monarquia; a
república; o principado.
Panorâmica resumida sobre a cronologia e o espaço da civilização
romana. A era A.V. C. (Ab Urbe Condita - desde a fundação de Roma).
Periodização de acordo com os regimes políticos: 753-509 a.C.
Monarquia.
A Monarquia perdura entre 753-509 a.C., sendo Rómulo, o fundador de Roma, o
primeiro rei.
Não se sabe muito bem sobre os seguintes reis de Roma, não há vestígios suficientes
para poder provar as suas existências.

Entre o mito e a História: Rómulo e de Remo, sua relação com o mito da


fundação de Eneias, a presença de motivos típicos das narrativas populares: a
rejeição dos filhos e os irmãos rivais.
A lenda da formação de Roma, foi formulada em base de elementos típicos de
narrativas populares. Ambos Rómulo e Remo foram alvos de rejeição pela mãe, e
criados por uma loba. Ambos Rómulo e Remo foram irmãos rivais, supostamente onde
seria fundada a futura cidade de Roma, tendo Rómulo morto o seu irmão Remo, e
fundado Roma, nascendo supostamente em 753 a.C., marcando o início formal da
civilização romana.

Paralelismo com alguns contos populares.

A ascendência e influência etruscas sobre os primeiros séculos de Roma.


A civilização etrusca teve grande influência durante os primeiros séculos de Roma,
principalmente na introdução do abecedário como forma de escrita.
O fim da monarquia: o termo de um regime político autocrático e o fim da
influência estrangeira.
A monarquia romana teve o final após uma revolução popular no ano de 509 a.C. Esta
revolução teve origem após se espalhar o boato que o filho do rei Lúcio Tarquínio
(Soberbo), Sexto Tarquínio ter imposto a Lucrécia (esposa de Colatino) mentir sobre
ter cometido adultério (o que não aconteceu, acabando no suicídio desta). Neste
sentido, Colatino junto com mais três conspiradores, fecharam os portões de Roma
quando o rei estava fora da cidade, impondo um regime republicano. Os Tarquínios
foram exilados (e o mesmo Colatino, por ser um Tarquínio acabou ele mesmo exilado,
ironicamente).

Quem foram os Etruscos? Breve caraterização.


Os Etruscos eram um povo da região da Etrúria (atual Toscânia), chamados de Tusci,
autóctones da Itália (não sendo por isso indo-europeus).
Durante os primeiros séculos da existência romana mandaram nestes.

A importação do alfabeto grego para a Península Itálica.


Os Etruscos importaram o alfabeto grego para a península itálica, adaptando-o.

Os Etruscos, os criadores do abecedário que viria a ser utilizado pelos


Romanos na escrita da sua língua.
Ambas as línguas latina e grega são línguas indo-europeias, familiares, e por isso
próximas, com características semelhantes.
Os etruscos adaptaram o alfabeto grego, criando o alfabeto etrusco, e de seguida
sendo adaptado para os romanos, com o alfabeto romano.

A República (509-29 a.C.).


A progressiva harmonização entre os grupos socioeconómicos distintos
numa solução política de compromisso: os aristocratas (patrícios, nobiles; as
gentes- os descendentes dos companheiros de Rómulo, proprietários da terra,
divididos em famílias)- sua caraterização.
A república trouxe consigo uma hierarquização da sociedade com base nas origens
mitológicas de Roma. A classe/grupo social da aristocracia era formado por patrícios,
nobiles e gentes.
Os patrícios, eram uma forma de nobreza.
As gentes, eram os descendentes dos companheiros de Rómulo, sendo proprietários
as terras e divididos em famílias.
A Plebe (homens livres, adventícios).
A classe/grupo social dos plebeus era um grupo social constituído por homens livres e
adventícios. Constituem os tribunos da Plebe.
Os homens livres são todos os homens que não têm terras e que não conseguem
“traçar as suas origens”.
Os adventícios são homens provenientes de outras terras (fora de Roma).

A ameaça da secessão da plebe e a instituição dos Tribunos da plebe.


O aparecimento da Lei das XII tábuas - um marco estruturante do atual
Direito Civil e do Direito das Coisas (Ius Ciuilis; Ius Rerum) até à atualidade.
O aparecimento da Lei das XII tábuas, em 451 a.C. é um marco no direito civil e no
direito das coisas, instituiu as relações jurídicas entre pessoas e coisas, das
propriedades. Focam-se em aspetos práticos da vida romana, conferindo uma grande
estabilidade e organização à vida romana.

A extensão do direito de casamento (Ius Conubii) à plebe.


Em 445 a.C., ocorre a extensão do direito de casar entre corpos cívicos, entre plebe e
aristocracia, sendo o casamento um contrato social, de construir e legitimar a
passagem de terras associadas.
Roma, da cidade-estado ao Império: as fases da expansão de Roma pelo
espaço do Mediterrâneo.
A integração da península Itálica.
O Mediterrâneo Ocidental: a rivalidade com Cartago e as três Guerras
Púnicas.
Os Cartagineses eram um povo do Norte de África, com sede em Cartago (atual
Tunísia), um povo muito mediterrânico, muito comercial, com colónias espalhadas
pelas costas do mediterrâneo.
Apartir do século III a.C. e durando até meio do século II a. C, decorrem as Guerras
Púnicas com os Cartagineses. No final das três guerras púnicas, Roma ganha e
destrói a civilização cartaginesa.
O Mediterrâneo oriental e a Ásia: o domínio da Grécia e a gradual
expansão para os antigos reinos helenísticos.
Estratégias da expansão de Roma.
A Guerra.
A ingerência nos assuntos internos de reinos independentes e a
diplomacia de influência: os casos de Pérgamo e da Judeia.

material de apoio: ver PBDias tpI: mapas e esquemas dos regimes políticos. Ver
Cronologia do mundo romano.
Bibliografia:
Pereira, M. H. "A Lei das XII tábuas", Estudos de História da Cultura Clássica, t. II
Roma, FCG.
TP1 "História del Alfabeto", em especial Alfabeto Grego- alfabeto etrusco e latino.
TP1 PBDias José Ribeiro Ferreira "A República em Roma"
Consultar JL Brandão, História de Roma, desde as Origens até à Morte de Júlio César
https://digitalis.uc.pt/en/livro/hist%C3%B3ria_de_roma_antiga_volume_i_das_origens_
%C3%A0_morte_de_c%C3%A9sar

 10/12:
II Roma
Valores tradicionais romanos e helenização: experiências de simbiose
(Cícero, Virgílio, Horácio)
Autores do período final da República (à exceção de Políbio, que é do meio da
República)/ primeiros anos do Principado como Cícero, Virgílio Horácio são do período
augustano testemunhando
Cidades, administração e vida quotidiana no império romano:
a romanitas no Ocidente

II Roma, da República ao Império.


Apartir do século II a.C. a República entra numa crise de crescimento

Evolução das soluções políticas.

II Roma: A romanização do império e a helenização de Roma.


tp1 PBDIAS reflexões sobre Roma e a sua missão Cícero, Políbio, Virgílio.
O final do período republicano e o início principado como o contexto ideal
para refletir acerca da identidade e da missão de Roma.
Alguns testemunhos:
Cícero, A República, 2.3.5 "Escolha do lugar de Roma", Rómulo, um
fundador previdente, escolhe o lugar de Roma como propício para centro de um
Estado duradouro.

Cícero, A República "A Constituição ideal é a Romana"- elogio da


república romana.
Cícero escreve “A República” inspirada na “República” de Platão, argumentando
parcialmente para o lado romano, explicando o sucesso romano através da forma da
sua constituição. Esta, do tipo misto,

As qualidades da equabilidade, estabilidade, moderação.


A constituição romana
A submissão aos melhores cidadãos- A república romana como síntese
das formas de governo naturais definidas por Platão, e que, como tal,
degeneram para as suas corrompidas: monarquia/tirania.
Aristocracia/oligarquia. Democracia/oclocracia

Cícero e a influência grega sobre Roma.


Cícero inspira-se em modelos romanos, no entanto não deixa de defender Roma.

"A cultura grega no tempo de Anco Márcio" (A República, 2.19.34) O


reconhecimento do magistério grego nas ciências e nas técnicas (doctrina et
ars).
Os romanos têm uma admiração quase “platónica” pela Grécia, sendo fonte de
informação, um lugar de cultura (monumentos, arte, literatura, entre outras coisas), no
entanto, não perdem a originalidade da sua civilização, através de uma “assimilação
sensata” de uma “sabedoria prática”. Assim, os romanos assimilam o que é prático e
útil para estes, pondo em prática, ao contrário dos próprios gregos que só praticam a
teoria.

"Admiração pelos Gregos" (As Leis, 2.2.4)- Identidade de Tito Pompónio


Ático, amigo próximo de Cícero e personagem dos seus diálogos, conhecido
pelo seu filo-helenismo.
Tito Pompónio “Ático” (“O Ático”, epíteto dado por se ter encantado pela Ática, uma
província grega), amigo de Cícero, que tem uma postura de “admiração platónica” pela
Grécia.

Admiração por qual Grécia? Atenas vista pelos romanos do final da


República: um lugar de cultura, refinamento, marcado pelos monumentos, arte e
a memória dos homens notáveis do passado.
Uma visão cristalizada das maravilhas da Grécia Antiga.
Cícero descreve uma visão cristalizada da Grécia, uma visão nostálgica, como uma
“relíquia” de tempos áureos passados, uma visão idealizada e estética, de um
passado, que no presente pertence aos romanos.
"Roma, Pátria comum" As Leis, 2,2,5: a cidadania segundo o direito e
segundo a natureza.
Roma como unidade política é uma pátria inclusiva, acolhe e recebe cidadãos de
outras cidades, regiões, povos. “Cidadão da minha cidade, mas de Roma.”. Por esta
razão, os romanos têm dupla cidadania, a geográfica e a cidadania patriótica romana.

Comparação com as noções atuais de nacionalidade e de naturalidade, ou


da dupla cidadania, nacional e municipal.

As formas de administração do território romano.

A importância das cidades e da soberania dos municípios como uma das


chaves do sucesso da romanização.

A replicação do modelo político, administrativo, urbanístico, económico e


social pelas províncias do império romano.

A romanização como uma experiência de uniformização cultural segundo


o modo romano de vida.
A romanização constituía-se como um processo de ordenação cultural, de
uniformização cultural, do qual Roma trazia aos povos o seu modo de vida.

O legado de Roma: Cidades e vias romanas na base da rede de cidades e


de vias de comunicação na Europa atual.

Instrumentos de romanização: o exército. a língua (o latim). o modelo


urbano. as vias de comunicação.
O exército é um importante instrumento de romanização, sendo uma “espada de dois
gumes”, de um lado, o papel na guerra e da manutenção da paz, através da conquista
de territórios através de incursões, ou através de eliminação de ameaças/resistências.
Por outro lado, o papel na paz, que quando colocado em províncias atrai cidadãos
dessas mesmas regiões (devido às necessidades de manutenção de um exército),
estabelecendo-se nos lugares, apoiando atividades económicas, desde agrícolas,
coleção de minérios, trocas comerciais.
A língua, o latim, é um instrumento de romanização, através da sua difusão e da sua
presença em outros povos (por exemplo nos povos anglo-saxónicos), deixando as
línguas românicas como legado (francês, romeno, italiano, português, entre outras).
A urbanização através da introdução do modelo de cidade é outro instrumento de
romanização. A criação de um sistema de cidades
As vias de comunicação é outro instrumento de romanização. Através da introdução
de estradas, facilitavam-se as deslocações (quer seja para o comércio, como para as
funções de manutenção de paz do exército).

Políbio, séc. II a.C. ("A grandeza de Roma" 1.4-2.1.7.8 ).


Políbio, historiador grego, autor do meio da república, vem para Roma como espólio
de guerra.
Reflete sobre o poder romano, sobre o impacto de Roma na civilização grega, um
olhar único sobre o domínio romano.

Motivação para a composição das Histórias por Políbio, um autor grego a


viver sob domínio romano: contar e explicar o sucesso e a eficácia romanos na
conquista de quase todo o mundo habitado conhecido, experiência sem igual no
mundo anterior.

 15/12:
Conteúdo: Roma e a Helenização: experiências de simbiose.
Os testemunhos de Virgílio e Horácio.
Virgílio, Tito Lívio e Cícero viveram numa época de período final da
república/início do Império. Por esse motivo, beneficiam do contacto da cultura
romana com os reinos helenísticos, resultando numa experiência de assimilação
(“simbiose num mundo clássico” – ligação da cultura grega e romana, integrar
como um ganho).
Virgílio, foi um poeta da Corte de Augusto (séc.I d.C – 8 séculos após a fundação de
Roma) que compôs três obras com fonte de inspiração os modelos gregos.

A síntese virgiliana: a imitação dos géneros literários primordiais da


literatura grega: As Geórgicas, um poema acerca do trabalho da terra (cf.
Hesíodo); As Bucólicas inspiradas nas formas líricas de sucesso da literatura
helenística (Idílios de Teócrito).
Virgílio escreveu com fonte de inspiração nos modelos gregos, as suas três obras. As
Geórgicas, uma obra de poemas bucólicos sobre como cultivar a terra de inspiração
de Hesíodo (da obra “Trabalhos e Dias”), “As Bucólicas”, com o tema da pastorícia, à
semelhança de Teócrito, que em “Idílios” o mesmo o fez originalmente.

A Eneida, a síntese entre os temas da Ilíada e da Odisseia.


Outra obra de Virgílio, e a mais conhecida, a Eneida, teve como modelo as epopeias
homéricas, a Odisseia e a Ilíada. Faz uma “síntese de Homero”, ao escrever sobre
Eneias, um herói perdido em busca de uma nova casa (em analogia, Ulisses, na
Odisseia, andar perdido em busca da sua casa, Ítaca), e numa segunda fase,
encontra-se em guerra, já na sua nova casa, em Itália (em analogia, na Ilíada, uma
epopeia homérica que retrata a Guerra de Troia, onde Aquiles, o herói da epopeia,
batalha).

Eneias, um Ulisses e um Aquiles.


Eneias, herói da Eneida, é uma personagem resumo de ambas as epopeias
homéricas. Por um lado, é parte Ulisses, marinheiro, um homem que procura uma
nova morada, enquanto vagueia pelos mares, após a derrota em Troia. E por outro,
Aquiles, porque batalha na guerra, após encontrar a sua nova residência na Península
Itálica.

O homem pré-figurador da identidade romana.

A singularidade de Eneias face aos modelos épicos gregos.

Material de apoio: TP1 PBDias Virgílio Eneida Cortejo dos heróis romanos. O escudo
de Eneias.
"Cortejo dos Heróis romanos" Eneida, VI 760-798: Uma antevisão da
história romana proporcionada por Anquises: Eneias, Rómulo e Augusto César,
três homens e a partilha do mesmo destino enquanto líderes de um povo.
A vocação para reger uma cidade e para reger um império.

"O escudo de Eneias" (Eneida, 625-731).


Da mesma forma que se inspira nas epopeias homéricas, Virgílio, inspira-se no
artifício literário da obra da Ilíada, especificamente no episódio descritivo do Escudo de
Aquiles.
Apartir dos versos 626, começa à semelhança de Homero na Ilíada, um incisivo
descritivo sobre a função do escudo. Descreve o caráter profético do escudo “Sabedor
de profecias e conhecedor do futuro,/ aí forjara o Deus Ignipotente os Ítalos feitos/ e os
Romanos triunfos; aí forjara a raça toda/ da estirpe futura, descendente de Ascânio, e
as guerras na sua ordem.” (vv.626-629), como este reflete profecias sobre o futuro
vitorioso de Roma.
Nos versos 630 a 634, descreve a lenda fundacional da cidade de Roma, “(…) a loba
(…)”(v.630) que criou os irmãos Rómulo e Remo “(…) as duas crianças/ (…)” (v.631).
Nos versos 635 o relato do “(…) rapto ilegal das Sabinas.”.
No verso 649 até ao verso 654, o relato histórico de Horácio Cocles.
No verso 685, degrine a civilização egípcia (como reino helenístico), Cleópatra e
António. “Do lado oposto, António, com bárbaros recursos e armas diversas,/ o
vencedor dos povos da Aurora e das praias do Mar Negro, arrasta consigo o Egipto
com os homens do Oriente e a Bactriana lá do extremo; segue-o – coisa nefasta – a
Egípcia sua esposa.” (vv.685-688). No verso 697, a referência à morte de Cleópatra
“(…) sem ver ainda as duas serpentes por detrás dela.”.

O modelo literário anterior (Cf. o regresso de Aquiles ao combate na


Ilíada).
Virgílio faz uso do modelo homérico, mas utiliza-o de uma forma diferente.
Virgílio, descreve o escudo de Eneias, com recurso á representação histórica recente
de Roma. Explica a vitória/desforra de Roma, em relação à Grécia com um
encadeamento histórico, uma vingança que foi lembrada pela derrota em Troia.

As cenas gravadas no escudo de Eneias: a antevisão da história futura de


Roma.
Entre os versos 729 e 731: “Tais são as cenas que Eneias admira no escudo,/ dádiva
materna; dos factos é ignaro, mas a imagem lhe apraz;/ a fama dos fados dos seus
pósteros carrega aos ombros.”, Eneias admira o escudo que lhe é dado pela sua mãe,
no entanto desconhece a sua missão que tem pela frente e a glória dos seus
sucessores.

No centro do escudo, a batalha de Áccio.

Um confronto cósmico: a missão civilizadora de Augusto contra a


desordem primitiva dos seus opositores.

Ideologia política e valores pátrios na obra de Virgílio: a novidade da


epopeia romana, em oposição à natureza individualista dos heróis épicos
gregos.

" A missão dos romanos" (Eneida, Canto VI, vv.272-282) (Material de


apoio TP1 PBDias A Missão de Eneias)
Durante o Canto VI, Eneias recebe o conselho de seu pai Anquises, quando este vai
ao inferno.
O excerto “A missão dos romanos” faz referência ás diferenças entre gregos e
romanos.
Os gregos primeiramente são descritos como os bons nas artes, como escultores
“Outros modelarão, bem o creio, bronzes com vida/ e sem dureza; extrairão do
mármore seres animados;” (vv.847-848), como bons na arte da retórica, “(…)
defenderão melhor as causas; (…)” (v.849), serão bons astrónomos “medirão com o
compasso/ o curso dos céus e anunciarão o nascer dos astros.” (vv.849-850), como o
reconhecimento das habilidades científicas e da importância da ciência.
No entanto, descreve Eneias “Tu (…)” (v.851) como destinado a governar povos,
colocando a ordem aos conquistados, sendo estes os ofícios romanos “(…) - estas
serão as tuas artes – (…)” (v.851).

A missão de Eneias é a missão dos Romanos.


Um dos contrastes entre a Eneida e os poemas homéricos, é o herói que tem uma
missão coletiva, e não uma missão individualista.
Neste sentido, Eneias é uma personagem mais coletiva, a missão deste é a missão
que vai prosseguir gerações futuras, como romano.

A mensagem implícita nas palavras que Anquises dirige ao seu filho:


-A cultura romana a categorizar a incorporação civilizacional grega como
uma incorporação da ciência, da arte, da retórica.

Contraponto entre os talentos dos Gregos "outros..." e do Romano "tu,


Romano": a vocação para governar, civilizar, impor a paz.

Horácio, Ep. 2.1.5.156: o princípio da Graecia Capta "A Grécia capturada


capturou o seu feroz vencedor, e no agreste Lácio introduziu as artes".
A máxima Graecia Capta “A Grécia capturada capturou o seu feroz vencedor, e no
agreste Lácio introduziu as artes. (*”introduziu as artes” como “artes intulit”). Significa,
que embora tivesse conquistado a Grécia como província, primeiramente já a Grécia
tinha capturado Roma ao nível das artes, dos ofícios. Roma antes de se tornar o
grande império e a grande civilização vivia de ensinamentos transmitidos pela Grécia.

Horácio adaptou a lírica grega à lírica romana, imitou processos.

Interpretação destes versos.

Modos de incorporação do helenismo em Roma: a traductio. a imitatio.


aemulatio.
A incorporação de elementos gregos na cultura romana dá-se de três processos
distintos.
O traductio (da latim “tradução”), é uma ação de “trazer para”. Como exemplo, os
romanos, apropriam-se de elementos gregos, tal como Lívio Andronico traduziu do
grego as obras homéricas para o latim.
O imitatio (do latim “imitação”), como exemplo as obras de Virgílio, que foram imitadas
das obras homéricas.
O aemulatio (do latim “emulação”), é a admiração de um modelo, mas procura ao
mesmo tempo ultrapassar o modelo, com uma ideia de rivalidade. Um exemplo é
quando Cícero adapta a filosofia de Platão e do pensamento especulativo numa
atitude de admiração, mas profere “A Constituição Romana é a ideal!”, descreve a
República, experiência prática sem ajuda de tratados filosóficos. Na Grécia, não há a
aplicação prática de filosofias, são apenas tratados, o que Roma faz é inovar,
implementar esses tratados de forma prática.

A formação da síntese clássica na experiência história e cultural do


mundo greco-romano, uma civilização bilingue.

A arte, a literatura, a ciência, a filosofia grega incorporada no modelo


político e administrativo romano.

 17/12:
Tito Lívio, Ab Urbe Condita.
Tito Lívio foi o Historiador de Roma, escreveu a História de Roma até ao seu tempo,
desde a fundação de Roma, centrada nos seus protagonistas.

Valores ético-morais atribuídos ao caráter romano incorporados na


galeria dos heróis e dos episódios-chave da fundação de Roma e da emergência
da República.
Os valores romanos associados são a dedicação a uma causa e o
autossacrifício.

Cincinato, o agricultor-ditador-novamente agricultor.

Servir a república como líder político e militar e trabalhar os campos.

O mesmo labor.

Prefácio de "As lendas romanas” I.6-7 e l.10-11.


Tito Lívio, como Historiador de Roma, não quer refutar nem confirmar algo
anteriormente dito em lendas poéticas acerca da fundação de Roma ou de como esta
ocorreu (l.6-7). Mas justifica que deixará de misturar o plano divino com o humano,
através da História, à semelhança de Heródoto, contemplar os acontecimentos
históricos (imparcialmente), extrair modelos a seguir e censurar atos vergonhosos,
tanto pelas causas como pelas consequências, para evitar que aconteçam novamente,
ensinando e para servir de reflexão futura (l.10-11).

Comparação entre o tema do historiador Heródoto e o tema do


Historiador Tito Lívio.
Tito Lívio, embora parcialmente, fundamenta a sua função de historiador com a sua
identidade como romano (apesar de não se mostrar nas suas obras), exaltando o quão
exemplar Roma é neste contexto. Por esta razão diferenciando-se de Heródoto, por
este nem relatar acontecimentos englobados na História da Grécia (visto que sendo
constituídos por cidades-estados, não era uma unidade territorial, mas unidades
independentes entre si). Tito Lívio relata acontecimentos numa época onde Roma já
estava consolidada (em cerca do século I a.C).

Semelhanças (o propósito formador e fornecedor de exemplos da


história; a isenção do historiador; a ausência de interferências fantásticas
ou mitológicas) e as diferenças (Heródoto não escreve a história da
Grécia).
Tito Lívio escreve a História de Roma: reflexos desta dimensão na solidez da
identidade política da unidade romana contraposta à sua ausência na civilização
grega. Os valores romanos da austeridade (paupertas), e da parcimónia (capacidade
de viver com pouco, autodisciplina)

"O rapto das sabinas"; As Sabinas estabelecem a paz"; "Lucrécia".

Protagonismo e poder de intervenção na esfera pública das heroínas


romanas.

O estatuto da mulher na civilização romana e sua projeção para o modelo


civilizacional europeu e ocidental.

Horácio Cocles.

Múcio Cévola.
Heróis da revolta contra a monarquia.

Modelos de coragem, perseverança e sacrifício pela causa coletiva.

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