Você está na página 1de 5

MÓDULO 4 11º ano

1. A Europa dos Estados Absolutos e a Europa dos Parlamentos


1.1. Estratificação social e poder político nas sociedades do Antigo Regime
Caracterizar a sociedade do Antigo Regime

A sociedade de Antigo Regime (século XVI – finais do século XVIII) era constituída por
ordens ou estados (por contraposição com a sociedade de classes que a substituiu a partir de finais do
século XVIII).
A ordem ou estado era uma categoria social definida pelo nascimento e pelas funções sociais
que os indivíduos pertencentes a essa ordem desempenhavam.
Era uma sociedade fortemente hierarquizada, pelo que a mobilidade social (capacidade de
transitar-se para outro grupo) era escassa.
As três ordens ou estados em que se dividia a sociedade de Antigo Regime eram o Clero, a
Nobreza e o Terceiro estado, sendo as duas primeiras privilegiadas e a última não-privilegiada.

Diferenciar as três ordens, a sua composição e o seu estatuto

A expressão “a nobreza luta, o clero reza e o povo trabalha”, com que se resumia, já na Idade Média, o
estatuto de cada grupo social, impôs-se na longa duração do Antigo Regime, com alguma diversidade
social interna.
1. O Clero, ou primeiro estado:
- era considerado o mais digno (porque era mais próximo de Deus e protetora de toda a ordem social);
- era composto por elementos de todos os grupos sociais, dividindo-se em alto clero(composto,
sobretudo, pelos filhos segundos da nobreza que se tornavam cardeais, arcebispos, bispos e abades,
pois apenas os filhos primogénitos tinham direito a herança) e baixo clero (párocos e frades oriundos
da população rural);
- era o único grupo cujo estatuto não se adquiria pelo nascimento;- gozava de vastos privilégios: tinha
foro próprio (direito de ser julgado em tribunal próprio), isenção de impostos, direito de asilo, recebia
os dízimos (1/10 de toda a produção agrícola) e doações dos crentes que lhe permitia viver com
desafogo económico e, até, no caso do alto clero, de maneira luxuosa; exercia cargos na administração,
na corte e no ensino, era grande proprietário de terras.

2. A Nobreza, ou segundo estado:


- retirava o seu enorme prestígio da antiguidade da sua linhagem (famílias de origemmuito antiga) e da
proximidade em relação ao rei;
- dedicava-se à carreira das armas (era a velha nobreza, chamada de nobreza desangue ou de espada)
ou a cargos públicos merecedores de um titulo de nobreza (era aburguesia enobrecida, chamada
nobreza administrativa ou de toga);
- ocupava os cargos mais elevados da administração e do exército;
- gozava de um regime jurídico próprio (por exemplo, o nobre não podia ser açoitado nem enforcado);
- não pagava impostos ao rei (exceto em caso de guerra);
- detinha grandes propriedades;
- fornecia os elementos que integravam o alto clero.

3. Povo ou Terceiro Estado:


- era a ordem mais heterogénea, abarcando a elite burguesa (homens de letras, mercadores, boticários,
joalheiros), os ofícios manuais (lavradores, artesãos, trabalhadores assalariados) e, por último, os
mendigos e vagabundos;
- dedicava-se, na sua maioria (80%), à agricultura, como camponeses;
- pagava impostos.

Reconhecer, nos comportamentos, os valores da sociedade de ordens


Na sociedade hierarquizada de Antigo Regime, todos os comportamentos estavam rigidamente
estipulados para cada uma das ordens sociais. Assim, o estatuto jurídico, o vestuário, a alimentação, as
profissões, as amizades, os gastos, os divertimentos, as formas de tratamento deviam refletir a pertença
a cada uma das ordens: por exemplo, apenas o nobre usava a espada e apenas o membro do clero usava
a tonsura (corte de cabelo que deixa uma coroa rapada no alto da cabeça).
Esta preocupação em tornar visível a diferenciação social exprimia os principais valores
defendidos na sociedade de ordens: a defesa dos privilégios pelas ordens sociais mais elevadas, a
primazia do nascimento como critério de distinção e a fraquíssima mobilidade social.

Identificar as vias de mobilidade social


Ao longo do Antigo Regime a mobilidade social era muito reduzida. Porém, lentamente, o
Terceiro Estado conseguiu ascender socialmente. As vias de mobilidade ascendente da burguesia eram,
de uma forma geral:
- o estudo;
- o casamento com filhas da velha nobreza;- os lucros do grande comércio (o dinheiro);
- a dedicação aos cargos do Estado.
Esta última via deu origem à chamada nobreza de toga, através da concessão de títulos
nobiliárquicos. Já na época, alguns autores demonstravam saber que a esperança na mobilidade social
era o garante da ordem social e da resignação dos grupos considerados inferiores.

Referir as características do poder absoluto


O Antigo Regime caracterizou-se, a nível político, pelo sistema de monarquia absoluta, que
atingiu o expoente máximo nos séculos XVII e XVIII. Segundo Bossuet (clérigo e teórico do
absolutismo), o poder do rei tinha quatro características:
1. Era sagrado (monarquia de direito divino, segundo a qual o rei apenas tinha de prestar contas dos
seus atos a Deus).
2. Era paternal (o rei devia satisfazer as necessidades do seu povo como se fosse um pai).
3. Era absoluto (livre de prestação de contas), mas deveria assegurar a ordem e garantir os privilégios
da Igreja e da Nobreza. O rei concentrava em si os três poderes do Estado – legislativo, executivo e
judicial – por isso Luís XIV, o Rei-Sol, terá afirmado “O Estado sou eu”.
4. Era sujeito à razão (à sabedoria do rei).
Os monarcas absolutos não reuniam os órgãos de representação da sociedade (na França, os
Estados Gerais; em Portugal, as Cortes) apesar de não abolirem essas instituições para não afrontarem
diretamente as ordens sociais privilegiadas.

Sublinhar o papel desempenhado pela corte no regime absolutista


Na monarquia absoluta, o rei utilizava a vida em corte para mais facilmente controlar a
Nobreza e o Clero. O grupo que rodeava o rei (sociedade da corte) estava constantemente sujeito à
vigilância deste. Em França, o centro da vida de corte desenrolava-se no Palácio de Versalhes, onde
habitavam o rei e a alta nobreza. O Palácio era, simultaneamente, lugar de governação, de ostentação
do poder e de controlo das ordens privilegiadas.

Esclarecer o significado da expressão “encenação do poder”


Todos os atos quotidianos do rei eram ritualizados, “encenados” de modo a endeusar a sua
pessoa e a submeter as ordens sociais, Cada gesto tinha um significado social ou político, pelo que,
através da etiqueta, o rei controlava a sociedade. Um sorriso, um olhar reprovador assumiam um
significado político, funcionando como recompensa ou punição de determinada pessoa. Nobert Elias
descreveu magnificamente o cerimonial do acordar do rei Luís XIV, conhecido por “entradas”, através
do qual o Rei-Sol submetia a corte a uma hierarquia rigorosa.

Evidenciar a preponderância da nobreza fundiária em Portugal


A restauração da independência nacional, em 1640, por iniciativa da nobreza (liderada pelo
duque de Bragança, que daria inicio à quarta e última dinastia de Portugal) concedeu a esta ordem de
grandes proprietários de terras um papel social importante, reforçado pelos cargos na governação, na
administração ultramarina e no comércio. Deste modo, as principais características da sociedade de
ordens em Portugal são, por um lado, a preponderância política da nobreza de sangue e, por outro lado,
o afastamento da burguesia das esferas do poder. A debilidade da burguesia portuguesa deveu-se, em
grande parte, à centralização das atividades mercantis nas mãos da Coroa e da Nobreza e à perseguição
de judeus e cristãos-novos (judeus forçados a converter-se ao cristianismo) pela Inquisição.

Caracterizar o “cavaleiro-mercador”
Em Portugal, a nobreza mercantilizada (dedicada ao comércio) dá origem à figura do
“cavaleiro-mercador”, o qual investe os lucros do comércio, não em atividades produtivas, mas em
terras e bens de luxo. Deste fenómeno decorrem duas consequências: a primeira, uma difícil afirmação
da burguesia portuguesa (a qual, só muito mais tarde, na segunda metade do século XVIII, graças à
ação do Marquês de Pombal, ganhará preponderância); a segunda, o atraso económico de Portugal em
relação a vários países da Europa.

Relacionar a eficiência do aparelho burocrático com a efetiva centralização do poder


Nos séculos XVII e XVIII, os reis portugueses procederam a uma centralização do poder que se
caracterizou pelas seguintes etapas:
1. Século XVII – após o domínio filipino, D. João IV, o primeiro rei da dinastia de Bragança, viu-se
na necessidade de reestruturar os órgãos da administração central e de enfrentar a situação de
guerra. Assim, não sendo um rei de tipo absolutista, criou órgãos (como as secretarias e os
conselhos) em quem delegava poderes. Assim, ao longo do século XVII as resoluções tomadas em
Cortes tinham cada vez menos importância para o destino do Reino e a sua convocação foi-se
tornando cada vez mais rara, ate se extinguirem praticamente, a partir de 1697 (data da ultima
reunião dos três Estados, senão se contar com a aclamação de D. Miguel nas Cortes de 1828).

2. Século XVIII – a figura mais marcante do absolutismo português, o rei D. João V, teve um papel
muito interventivo na governação, remodelando as secretarias criadas por D. João IV e rodeando-
se de colaboradores de confiança. Porém, a reforma da burocracia do Estado não se traduziu por
uma maior eficiência para os súbditos: por um lado, faltava estabelecer uma ligação entre a
administração central e a administração local; por outro lado, a dependência, para todas as
decisões, da aprovação do rei, tomava qualquer pedido num processo muito lento. Na prática, a
burocracia central afastava o povo do seu rei.

Caracterizar o absolutismo joanino


O fenómeno a que se chamou a “encenação do poder” estava, também, presente na monarquia
absoluta portuguesa, em particular no reinado de D. João V. Tal como o Rei-Sol (Luís XIV de França),
D. João V realçava a figura régia através da magnificência (luxo) permitida pelo ouro e diamantes do
Brasil, da autoridade e da etiqueta, de que se salientam os seguintes aspetos:- subordinação das ordens
sociais (manifestada, por exemplo, na recusa de reunir Cortes);- apoio às artes e às letras (criando, por
exemplo, a Biblioteca da Universidade de Coimbra e a Real Academia de História);- envio de
embaixadas ao estrangeiro (destacando-se, pela sumptuosidade, a de 1709,ao Papa);- distribuição de
moedas de ouro pela população (que lhe valeu o cognome de o Magnânimo, ou seja, generoso).-
Politica de grandes construções (em especial a do palácio-convento de Mafra, obra que se tornou no
símbolo do seu reinado e cuja construção envolveu 45 000 trabalhadores, além dos recrutamentos
forçados por todo país. O escritor José Saramago, na sua obra Memorial do Convento, recriou a pompa
da colocação da primeira pedra do Convento de Mafra em 1717: no centro do acontecimento estava o
rei, rodeado pela nobreza e pelo clero. Excluída do grande evento, fora da igreja e de joelhos, na lama,
estava o povo, a massa de homens à custa de quem foi erguido o dispendioso monumento).
1.2. A recusa do Absolutismo na sociedade inglesa
Mostrar a fusão do poder político com o poder económico nas Províncias Unidas
Foi o dinheiro que abriu à burguesia das Províncias Unidas as portas da ascensão social.Com o
tempo, a ascensão da burguesia de negócios foi consolidada pela educação, pelo casamento e pela
dedicação aos cargos do Estado: graças à descentralização administrativa, eram os chefes das famílias
burguesas quem dominava os conselhos das cidades e das províncias formando uma elite governante.
Foram-se quebrando, desta forma, os princípios da sociedade de ordens baseados nos privilégios do
nascimento. Deve-se salientar, em particular, o caso de ascensão social da família de Witt, a qual,
aplicando os lucros do negócio da madeira na Companhia das Índias Orientais, conseguiu preparar os
seus filhos para o exercício de cargos na administração da Republica e, na terceira geração, conseguiu
que Jan de Witt personificasse o domínio claro da burguesia ao assumir o cargo de Grande Pensionário
(uma espécie de Primeiro-Ministro).

Contextualizar a teoria do mare liberum


O Tratado de Tordesilhas, de 1494, havia ratificado o monopólio de Espanha e Portugal sobre
os mares e as terras, restando a opção de corso (pirataria autorizada pela autoridade de um país) aos
outros estados.
No entanto, no século XVII, a doutrina do Mare Clausum (mar fechado) foi vivamente
contestada, após a captura da nau Santa Catarina (embarcação portuguesa) por um almirante da
Companhia das Índias Orientais holandesa, em 1602. Hugo Grotius, na sua obra Mare Liberum,
de1608, argumentava que não se podia impedir as nações de comerciarem entre si e que o mar não
podia ser pertença de ninguém. A polémica manteve-se acesa durante cerca de um século, com
Serafim de Freitas a representar os interesses portugueses, para os quais reivindicava o “direito
histórico” (direito aos territórios descobertos ou conquistados).A defesa de mare liberum (mar livre),
por Hugo Grotius, era, também, uma forma de legitimar as pretensões holandesas ao comércio
internacional, uma vez que no século XVII foi, para esta nação, uma época de grande prosperidade.

Expor os acontecimentos mais relevantes da história política inglesa, no século XVII


A luta histórica entre o povo – representado pelo Parlamento – e os soberanos ingleses remonta
à Idade Média (com a Magna Carta, primeiro documento que protegia os Ingleses das arbitrariedades
do poder real), porém, é no século XVII que vinga o parlamentarismo, por meio de duas revoluções
importantes:
1. Instauração da República Inglesa – Apesar de ter assinado a Petição dos Direitos, em1628,
que o forçava a respeitar a vontade popular (ao determinar que o rei ou os seus herdeiros não podiam
decretar impostos sem o seu consentimento nem atentar contra os seus súbditos sem julgamento), o
soberano Carlos I pagou com a vida as suas tentações absolutistas (1649). Foi, então, abolida a
monarquia e instaurada uma República, chefiada por Cromwell. Este acabaria por impor um regime
repressivo (sob o título de LordProtector), restaurando-se a monarquia, após a sua morte (1658), na
pessoa de Carlos II (marido da princesa portuguesa Catarina de Bragança, filha de D. João IV de
Portugal).
2. Revolução Gloriosa – Ainda no século XVII, em 1688, a Revolução Gloriosa do rei
Guilherme de Orange consagra a vitória do regime parlamentar contra o poder autoritário de Jaime II.
O novo soberano comprometeu-se a respeitar solenemente as liberdades do povo consignadas na
Declaração dos Direitos (Bill of Rights) de 1689. Este é um texto fundamental da monarquia inglesa,
pois, ao contrário do que acontecia nos países de regime absolutista, estabelecia limites ao poder real,
protegendo os direitos dos súbditos, o que fazia com que o filósofo francês Montesquieu declarasse
que este país era “o mais livre do Mundo”.
Evidenciar o carácter liberal do regime parlamentar
Nos países onde o poder absoluto dos monarcas foi limitado pela vontade dos cidadãos, como
as Províncias Unidas e a Inglaterra, o regime parlamentar assume-se como defensor das liberdades
politicas, económicas e religiosas. O cidadão, protegido das arbitrariedades do governo, substitui o
súbdito, e os poderes legislativo, executivo e judicial são divididos por vários órgãos de poder.

Aplicar a filosofia política de Locke ao parlamentarismo inglês


O filósofo John Locke foi responsável pela justificação teórica do parlamentarismo, ao
defender que todos os homens se encontram naturalmente num “estado de perfeita liberdade” e num
“estado de igualdade” ao qual renunciam, apenas, em favor da coletividade, quando se fazem
representar pelos seus governantes: “só então, nasce uma sociedade política ou civil”.
O “poder supremo do Estado” era, segundo Locke, o poder legislativo, exercido pelo
Parlamento. No entanto, Locke frisava que, se o poder legislativo fosse exercido de maneira absoluta
ou prejudicando o bem comum, então os governados retomariam o direito à sua liberdade original,
podendo depor os seus governantes. A teoria de Locke enquadra-se, por um lado, na justificação dos
acontecimentos políticos de Seiscentos (em especial a Revolução Gloriosa de 1688) e, por outro lado,
no contexto social de ascensão da burguesia, a qual apoiava o regime parlamentar, defensor da
propriedade privada, da ordem e da segurança.

Contrapor o modelo sociopolítico absolutista ao modelo parlamentar

Modelo Absolutista:
→ o rei detém o poder absoluto, concentrando em si os poderes legislativo, executivo e
judicial;
→ o rei raramente convoca Cortes (em França, Estados Gerais);
→ o rei detém um poder sagrado, paternal, absoluto e submetido apenas à Razão;
→ o rei usa a vida de corte como palco de uma encenação do poder de forma a controlar as
ordens privilegiadas;
→ os cargos de chefia são entregues à nobreza e ao clero, mesmo se a burguesia detém poder
económico.

Modelo Parlamentar:
→ o poder encontra-se repartido entre o rei e o Parlamento;
→ o Parlamento ocupa o lugar central na estrutura governativa;
→ a burguesia ocupa cargos importantes na administração do Estado;
→ os critérios sociais baseados no nascimento esbatem-se ou anulam-se.

Você também pode gostar