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HISTÓRIA A – 10.

º ANO

Módulo 2 (RESUMOS)
Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade, cidadania e império na antiguidade clássica

1. O modelo romano
Roma cidade-estado localizada no centro da Península Itálica, empreendeu, desde o século VI a. C., um
processo de conquista, e anexação que, depois de submeter os seus vizinhos (cidades d? Lácio etruscos e
gregos do sul), conseguiu estender o seu domínio a todo o Mediterrâneo Central, Ocidental e,
posteriormente, Oriental.
No século I a. C., o Império Romano caracteriza-se pela sua vasta extensão geográfica e heterogeneidade
cultural. A Roma estão submetidas civilizações brilhantes (gregos) e poderosas (cartagineses), populações
mais atrasadas (Península Ibérica, França) ou civilizações orientais de relevo (egípcios). Império construído
em torno do Mediterrâneo, nele o mar desempenha um papel unificador, elemento de ligação entre as
populações, espaço atravessado pelos navios romanos que o cruzam em todas as direcções e o
transformam no eixo preponderante de uma economia unificada e monetarizada. Por outro lado o mar
articula-se com uma extensa rede viária que, ligando Roma aos confins do Império, facilita a
administração das províncias.

2.1. Roma, cidade ordenadora de um Império urbano.


O Império Romano constituía uma federação de cidades a que Roma, de forma progressiva, conferiu
unidade política, social, económica, cultural e urbanística, onde a urbe do Lácio desempenhava o papel de
centro. Ou seja, partindo de uma situação caracterizada pela diversidade, Roma logrou estender a todo o
império o seu próprio modelo de organização.

2.1.1. A unidade do mundo imperial: o culto a Roma e ao Imperador, a codificação do Direito, a


progressiva extensão da cidadania.
A institucionalização da ordem imperial, iniciada no ano 27 a. C. por Octávio, constituiu um processo
lento, no qual é possível descortinar um sentido: o da progressiva centralização do poder nas mãos de um
chefe que o exerce de modo pessoal. A nova ordem construiu-se sobre as instituições republicanas
tradicionais (Senado e Comícios) que Octávio, pelo menos na aparência, prometeu respeitar, mas perante
as quais, com base no seu prestígio pessoal e na força do exército, ele se afirmou como Príncipe, isto é, o
primeiro de todos os magistrados.
Em 27 a. C., o Senado atribuiu a Octávio o título de Augusto, um título reservado aos deuses e pelo qual
passou a ser objecto de culto em todo o Império. A divinização da figura do imperador constituiu um
importante elemento de coesão, já que uniu em torno do imperador todas as populações do Império.
Nesse ano, foi-lhe também atribuído o império proconsular pelo qual lhe foi entregue a autoridade civil,
militar e judicial nas províncias recentemente conquistadas (Espanha, Gália e Síria), designadas províncias
imperatoriais. Em seguida (23 a. C.), o povo e o Senado estenderam o império proconsular a todo o
espaço do Império e atribuíram-lhe o Poder Tribunício, através do qual adquiriu o direito de propor leis,
vetar decisões do Senado ou dos magistrados e a inviolabilidade da sua pessoa. Finalmente (12 a. C.), foi
designado Sumo Pontífice, espécie de intermediário entre os deuses e o Estado, pelo qual passou a
presidir à vida religiosa, a nomear os sacerdotes ou a interpretar a vontade dos deuses.
O aparelho administrativo central adquiriu uma configuração caracterizada pela criação de novas
instituições sobre as tradicionais, em consequência do processo de centralização do poder, o que, em
conjunto, se traduziu por uma significativa complexificação da administração.
Mantiveram-se órgãos de administração provenientes do regime republicano, embora genericamente
tivessem visto as suas competências diminuídas. O Senado viu os seus membros serem reduzidos (eram
900 durante a República), perdeu a condução da diplomacia e da política externa, embora tenha mantido
a administração das províncias já pacificadas (senatoriais), a competência da cunhagem de moedas de
bronze e o consolo de impostos senatoriais (o erário). Os Comícios perderam o poder de legislar e eleger
os magistrados, tendo-lhes restado a capacidade de conferir o poder tribunício. Quanto às magistraturas,
passaram a ser escolhidas pelo Senado com a participação do Imperador, tendo os magistrados perdido
parte substancial dos seus poderes.
Entretanto, surgiram órgãos dependentes da nomeação, confiança e controlo do imperador. Assim, este
criou o Conselho Imperial, constituído por conselheiros por si nomeados, investido de vastas
competências de natureza administrativa e judicial. Por outro lado, instituiu um corpo de funcionários,
com funções paralelas às dos antigos magistrados, com atribuições na administração central e local: as
finanças, política externa e tesouro eram dirigidos por três Procuradores; a ordem na cidade era
assegurada pela prefeitura da cidade; a prefeitura do pretório responsabilizava-se pelo
aprovisionamento das legiões e a administração da justiça em toda a Itália; a prefeitura das vigílias tinha
a seu cargo o policiamento nocturno e a luta contra os incêndios; a prefeitura da anona responsabilizava-
se pelo controlo dos preços e aprovisionamento de trigo, bem como pela sua distribuição gratuita pelos
pobres; os curadores, finalmente, estavam encarregados da manutenção das estradas, obras públicas e
distribuição de águas.
O direito constituiu outro elemento fundamental na organização e unidade do Império, tendo-se revelado
um importante legado romano, pela sua preocupação de codificação das leis no sentido de facilitar a sua
aplicação com carácter universal. As suas origens remontam à Lei das Doze Tábuas, um código do século V
a. C. No Império, a organização jurídica sofreu algumas alterações, entre as quais a diminuição das
funções dos magistrados responsáveis durante a República pela administração da justiça (os preteres). As
fontes de direito passaram a ser os decretos do Senado (senatus consulta), embora progressivamente em
perda de influência, e, sobretudo, as disposições e resoluções do Imperador (decretos imperiais). O
costume manteve-se igualmente como fonte de direito, de que derivou o Direito Consuetudinário. As
regras de justiça para aplicação uniforme em todo o Império foram compiladas num código do século II, o
Édito Perpétuo.
A extensão do direito de cidadania tornou-se igualmente num importante factor de coesão interna do
Império. No início, a condição de cidadão romano estava reservada aos habitantes da cidade de Roma e
aos seus descendentes. As populações do Império possuíam um estatuto social inferior, embora variável,
consoante a cidade. À medida que se realiza o processo de integração das populações no Império, o
direito de cidadania também se vai progressivamente alargando. Em meados do século I a. C., foi
estendido às cidades da Itália. Finalmente, em 212, o imperador Caracala atribuiu o direito de cidadania a
todos os homens livres do Império, facto que não deixou de contribuir poderosamente para a unidade do
mundo romano.

2.2. A afirmação imperial de uma cultura urbana pragmática


Como se disse, Roma conseguiu alargar a todo o Império o seu modelo de organização, tendo daí
resultado uma padronização do urbanismo e a fixação de modelos arquitectónicos e escultóricos.

2.2.1. A padronização do urbanismo e a fixação de modelos arquitectónicos e escultóricos


A cidade romana desenvolvia-se em torno de uma praça pública - o fórum -, local situado na intersecção
das duas vias principais que atravessavam a cidade, o decumano máximo, que a cruzava no sentido
Nascente/Poente, e o cardo máximo, no sentido Norte/Sul. O fórum constituía o centro político, religioso
e económico em volta do qual se construíam edifícios públicos como a cúria, os templos e a basílica. Nos
arredores, localizavam-se outros monumentos, como os teatros, anfiteatro, circo, bibliotecas, termas e
arcos de triunfo. As preocupações urbanísticas manifestaram-se também na edificação de estruturas de
abastecimento de águas (aquedutos), esgotos ou banhos públicos (termas). O traçado das ruas era
fundamentalmente geométrico, em articulação com os dois eixos fundamentais.
Por outro lado, com um império constituído por populações de características culturais tão diferenciadas,
os Romanos souberam conferir à sua cultura um cunho de síntese dos contributos e influências culturais
recebidas (etruscas, orientais e sobretudo gregas), mas a que foram capazes de imprimir a sua
especificidade: a natureza instrumental da cultura, enquanto elemento de reforço da coesão e
solidariedade do Império e espaço de participação dos cidadãos nas manifestações organizadas.
Abandonando a concepção de beleza ideal dos Gregos, os Romanos enveredaram por uma concepção de
arte caracterizada pelo seu pragmatismo, utilitarismo e funcionalidade. De facto, termas, pontes,
aquedutos, anfiteatros, circos e teatros, constituindo exemplares de inegável valor estético, eram
simultaneamente construções que visavam responder a necessidades e expectativas de natureza social,
económica, política ou cultural. Isto é, conseguiam realizar a síntese entre "o belo", que dá prazer aos
sentidos, sem colocar de lado a preocupação pelo "útil", que satisfaz necessidades individuais e sociais.
Por outro lado, a cultura romana constituiu um instrumento de propaganda e afirmação do poder
político, podendo dizer-se que ela servia à encenação do poder, seja o do imperador, seja o dos
poderosos de todo o Império. A magnificência, grandiosidade e monumental idade do urbanismo e da
arquitectura acentuavam o carácter majestático e absoluto do imperador, perante o qual as multidões
ficavam estupefactas, fascinadas e submissas. Por todo o Império, termas, teatros ou bibliotecas,
mandados construir por notáveis locais, eram uma manifestação do orgulho cívico de elites apostadas em
afirmar a sua riqueza, opulência e fidelidade aos símbolos imperiais.
Estas características reflectiram-se igualmente na escultura, onde é manifesta a preocupação em exaltar
façanhas de heróis quer através do baixo-relevo quer em arcos do triunfo. Daí que seja notório um
acentuado individualismo, na medida em que os traços pessoais surgem de tal forma nítidos que é
possível observar um certo realismo nas figuras, denunciador da matriz psicológica da personagem.

2.2.2. A apologia do Império na épica e na historiografia; a formação de uma rede escolar urbana
uniformizada
Noutros casos, a mensagem veiculada pela cultura assume um carácter didáctico, informando os
espíritos sobre as façanhas dos políticos ou formando as consciências na legitimação do poder, na
submissão dos povos ou em torno do orgulho nacionalista pela pertença a uma comunidade épica e
gloriosa. Assim acontece, por exemplo, com Virgílio, autor da Eneida, poema épico onde o autor exalta as
origens e os feitos romanos no mesmo contexto lendário que havia servido de base aos poemas
homéricos. Ou com a historiografia, onde homens como Tito Lívio perdem em rigor e objectividade,
vinculados que estão à exaltação do povo romano ou à procura dos argumentos legitimadores do governo
do "mundo" por Roma.
Importa, apesar destas características, reforçar a ideia de que a cultura romana contribuiu para a
afirmação individual. Assim, na poesia, poetas como Horácio ou Ovídio retratam sentimentos como a
alegria de viver, a felicidade ou o sofrimento. Na reflexão moral, filósofos como Séneca ou Marco Aurélio
defendem a virtude, a justiça, a clemência, a preocupação pelos humildes ou o respeito pela pessoa
humana como o modelo pelo qual o homem deveria orientar-se.
A organização de uma rede de escolas distribuída pelo Império constituiu uma preocupação fundamental
de Roma, consciente de que este seria um poderoso instrumento de unificação cultural das populações.
Para o efeito, incentivaram-se as cidades a criar as suas escolas, concederam-se privilégios e regalias aos
professores e a própria administração central se responsabilizou pelo pagamento de alguns professores.
Relativamente à organização, era possível distinguir três níveis no ensino romano. Assim, ao nível
elementar, as crianças dos 7 aos 11 anos aprendiam os fundamentos da leitura, da escrita e do cálculo,
bem como alguns princípios, valores e atitudes (obediência aos superiores, autodomínio). No nível
secundário, entre os 12 e os 15 anos, os jovens, sobretudo os de maiores rendimentos, aprendiam a
língua, literatura e, em menor grau, a história, a geografia, a matemática e a astronomia. Por último, a
partir dos 17 anos, os rapazes das elites frequentavam um nível superior, onde estudavam retórica e
direito, tendo em vista a preparação para uma carreira pública.

2.3. A romanização da Península Ibérica, exemplo de integração de uma região


periférica no universo Imperial
Possuindo um enorme sentido prático e grande capacidade de realização, os Romanos levaram a cabo, ao
longo de oito séculos, um profundo processo de integração de todas as populações do Império. Este
processo, designado romanização, traduziu-se pela aceitação das estruturas, modos de vida, organização,
processos técnicos e realizações artísticas dos Romanos, tendo transformado, no caso de Portugal, radical
e duradouramente a configuração do território. Apesar disso, este processo não se desenrolou de forma
uniforme e homogénea ao longo do espaço português, sendo possível distinguir fundamentalmente duas
regiões: uma, a sul, limitada pelo rio Guadiana, o Tejo e o Atlântico, onde ele decorreu mais cedo; outra, a
norte do rio Tejo, em que aconteceu de modo mais lento e tardio.
Um dos factores da romanização consistiu na reorganização da administração de todo o Império. A
Hispânia foi, para efeitos administrativos, dividida em três províncias, à frente das quais estava um
governador, e estas subdivididas em conventos jurídicos, para a administração da justiça. O território
português actual coincide globalmente com os conventos Pacense, Escalabitano (Província Lusitânia) e
Brácaro (Província Tarraconense).
Paralelamente à organização das províncias, fixou-se a condição jurídica dos habitantes e o estatuto das
cidades. No século I, haveria no que é actualmente o território português cinco colónias romanas, 4
municípios (um de direito romano e três de direito latino) e 36 cidades estipendiárias. As cidades
estipendiárias estavam na inteira dependência de Roma, que, em virtude da maior resistência oferecida
ao ocupante, pagavam um tributo (estipêndio), sendo os seus habitantes considerados não-cidadãos. Os
municípios governavam-se de acordo com o modelo de Roma, possuindo magistrados eleitos localmente,
um Senado e uma Assembleia de cidadãos, embora apenas os habitantes das cidades de direito romano
fossem cidadãos plenos, isto é, apenas eles eram elegíveis para cargos da magistratura em Roma. As
colónias eram habitadas por cidadãos oriundos de Roma, antigos combatentes a quem eram atribuídos
lotes de terra, tendo esta corrente migratória sido um factor a ter em conta na integração das províncias.
A romanização foi garantida ainda pela conjugação de dois factores: o exército e o direito. A presença de
enormes efectivos militares romanos por todo o espaço imperial, estacionados em acampamentos ou em
guarnições nas cidades, constituiu uma garantia de segurança e estabilidade, pelo que a pax romana
contribuiu para a prosperidade e o desenvolvimento económico do Império. Contudo, o principal factor
de integração foi o direito, visto que a política dos Romanos se orientou no sentido do alargamento
progressivo dos municípios através da extensão do direito de cidade, processo culminado no princípio do
século III com o Édito de Caracala, como já se referiu. Em consequência deste alargamento dos
municípios, verdadeiras elites provinciais, formadas por homens abastados e magistrados locais, foram
crescendo em importância social e política de tal forma que alguns deles (Trajano, Adriano) vieram a
desempenhar cargos de destaque na administração imperial.
As transformações abarcaram também os modos de exploração económica. De uma economia assente
na pastorícia e na recolha de produtos dos bosques transitou-se para uma economia agrícola, baseada no
cultivo do trigo, vinha, oliveira e árvores de fruto. Em consequência, as populações do território,
acantonadas no alto das montanhas donde ofereceram ao longo de séculos resistência feroz, foram
deslocadas para a planície. O comércio, mercê da abundância de produtos e facilitado por uma complexa
rede de vias de comunicação, dinamizou-se. A circulação da moeda incrementou-se, levando à
monetarização da economia.
A língua constituiu outro importante factor de integração, com carácter duradouro, dada a influência do
latim na génese do português. O latim penetrou no território português por motivos ligados à guerra e
paz, à necessidade de contactos comerciais e humanos, à presença de soldados veteranos, aos
casamentos mistos e ainda às escolas introduzidas pelos Romanos. Tratava-se de um latim vulgar, que
manteve a sua relativa uniformidade até à desintegração do império, embora com algumas diferenças em
função das regiões, havendo mesmo quem assinale alguma intencional idade étnica e linguística na
constituição dos conventos jurídicos.
A Península Ibérica constitui o espaço do império onde a influência da cultura romana foi mais profunda,
obviamente a seguir à própria Itália. Vestígios como as pontes, as estradas, as villa, os templos, as termas,
os fóruns, os circos, os teatros continuam a atestar a intensa aculturação realizada no território
português, deixando indeléveis as marcas da padronização do urbanismo e dos modelos artísticos da
civilização romana.

3. O espaço civilizacional greco-latino à beira da mudança


A partir dos finais do século III, o Império Romano desagrega-se de uma forma irreversível, devido à
profunda instabilidade política e social interna, aos conflitos religiosos e à pressão dos "bárbaros". Afirma-
se então a Igreja Cristã, uma instituição nos primeiros tempos perseguida com ferocidade pelos
imperadores que, conseguindo sobreviver ao desmoronamento do império, contribuiu para a preservação
do legado cultural greco-romano e a sua transmissão aos actores emergentes na nova geografia
sociopolítica da Europa da época: os "bárbaros".

3.1. O império universal romano-cristão. A Igreja e a transmissão do legado político-cultural clássico


Apesar das perseguições que marcaram a presença do cristianismo no Império Romano durante os três
primeiros séculos da nossa era, a partir dos princípios do século IV verifica-se a afirmação progressiva da
nova religião. Assim, em 313, o imperador Constantino publicou o Édito de Milão, através do qual
atribuiu liberdade de culto aos cristãos e determinou a devolução dos bens que lhes haviam sido
anteriormente confiscados. Esta foi apenas a primeira intervenção de Constantino na religião, uma prática
política designada cesaropapismo que teve profundas repercussões posteriores. Em 325, Constantino
promoveu a convocação do Concílio de Niceia, onde se veio a ratificar o dogma do carácter divino de
Jesus Cristo, posto em causa pelo arianismo que expressamente negava a divindade de Cristo.
Simultaneamente, definiu- -se a organização da Igreja, que adoptou como modelo a própria organização
imperial: em Roma, ficou sediado o papa, a máxima autoridade religiosa; as províncias, governadas pelos
metropolitas, subdividiram-se em dioceses, à frente das quais se encontravam os bispos. Finalmente, em
380, o imperador Teodósio, pelo Édito de Tessalónica, ordenou a conversão das populações ao
cristianismo, transformando-o em religião oficial do Império. Desta forma, consolidou-se a aliança entre o
imperador e o cristianismo que transformou o Império Romano num império cristão e conferiu a esta
religião uma dimensão universal - a Igreja Romano-Cristã.
Estabilizadas a organização e os princípios doutrinários, os padres da Igreja dedicaram-se a uma intensa
actividade intelectual. Homens como Basílio de Cesareia, Gregório de Nisa, Santo Ambrósio, S. Jerónimo
ou Santo Agostinho interessaram-se vivamente pelo legado cultural clássico - a filosofia, o direito, a
literatura e a arte -, procurando nele encontrar respostas para fundamentar as suas opções filosóficas e
doutrinais, regular a vida administrativa da Igreja ou dar expressão a novas formas literárias e artísticas. O
seu trabalho contribuiu decisivamente para a difusão do legado greco-romano ao mesmo tempo que
preservava, necessariamente adaptados e recriados, os modelos culturais clássicos.

3.2. Prenúncios de uma nova geografia política: a presença do “Bárbaros” no império


No século III, a crise do Império parecia irreversível. Ela devia-se, fundamentalmente, à instabilidade
política provocada pela constante sucessão de imperadores efémeros colocados no poder ao sabor da
vontade dos exércitos e pela pressão dos "bárbaros", que ameaçavam romper em definitivo as fronteiras
do Império. Acreditando que a causa dos problemas residia na imensidão do Império, o imperador
Diocleciano, a partir de 286, introduziu profundas reformas administrativas e políticas, entre elas a
tetrarquia imperial. Através dela, os quatro dirigentes ou tetrarcas (dois "Augustos" e dois "Césares ")
fixaram-se em cidades distintas, responsabilizando-se pela organização administrativa e pela defesa das
províncias a seu cargo. E, embora Constantino, nos princípios do século IV, tenha fugazmente
restabelecido a unidade imperial, em 395, à morte do imperador Teodósio, o Império Romano dividiu-se
definitivamente, ficando a parte ocidental com a capital em Roma (por vezes, Ravena) e a parte oriental
em Constantinopla.
A parte ocidental do Império sucumbiu rapidamente perante as investidas dos "bárbaros", em 476, data
que marca igualmente o fim da Época Clássica. Em épocas anteriores já estas populações haviam entrado
no Império, umas vezes de forma pacífica, outras mais violenta, onde passaram a desempenhar funções
diversas, mesmo no exército romano como mercenários. No princípio do século V, porém, a pressão dos
Hunos - um povo oriundo da Ásia Central - sobre as tribos germânicas acantonadas para além das
fronteiras do Império (Visigodos, Suevos, Vândalos, Ostrogodos, Francos, Burgúndios, Anglos, Saxões)
empurrou-as para o interior do Império Romano do Ocidente. A geografia política do ocidente alterou-se
radicalmente com o estabelecimento de reinos "bárbaros", boa parte dos quais com fronteiras indefinidas
e de duração efémera. E no meio do caos político, social, económico e cultural que este processo
acarretou sobreviveu a Igreja, que, desde cedo, empreendeu acções no sentido de cristianizar as
populações recém-chegadas, a começar precisamente pelos seus chefes, e transmitir-lhes o legado
cultural greco-romano.

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