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Módulo 2 – Unidade 2 O Espaço Português

Pais Urbano e Concelhio


A Reconquista e a definição de fronteiras do reino de Portugal foi acompanhada pela defesa e
fixação de novos povoadores cristãos nas terras agora conquistadas.

Além dos senhorios laicos e eclesiásticos, principais detentores de terras, comunidades de


vilãos, homens-livres e não privilegiados, possibilitaram, sobretudos aos monarcas
portugueses, criar uma outra forma de organização territorial, os concelhos, que permitia aos
seus moradores a capacidade de se organizarem de forma autónoma e servia para que os reis
combatessem assim o poder senhorial.

A Multiplicação de vilas e concelhos


Ao longo do século XII e XIII, monarcas e alguns senhores foram concedendo numerosas cartas
de foral, assistindo-se, por isso a uma proliferação de concelhos, quer urbanos, quer rurais, por
todo o país.
Os concelhos eram comunidades rurais ou urbanas dotadas de autonomia administrativa,
podendo eleger os seus magistrados, e que dispunham de um regime fiscal e judicial próprio,
bem como da possibilidade de explorar a terra e exercer atividades comerciais.
Estes eram estabelecidos pelas cartas de foral, outorgadas a comunidades já estabelecidas ou
a novas comunidades, nascendo assim os concelhos.
Na carta de foral estavam definidas as relações, direitos e obrigações entre os habitantes do
concelho, denominados vizinhos, nomeadamente direitos e liberdades dos moradores, posse
de bens, impostos e multas, bem como o serviço militar a cumprir, e entre estes e quem tinha
outorgado o documento, na maioria dos casos, o rei.

Carta de Foral

Entre as normas consagradas numa carta de foral destacam-se:


• Permissão aos povoadores de se governarem a si próprios e de acordo com as disposições
estabelecidas;

• Regulação da administração do concelho;

• Direitos e deveres dos moradores;

• Determinação do tipo de relações sociais;

• Direito à propriedade;

• Estipulação das cargas fiscais a pagar a quem concedera o foral;

• Proteção aos moradores contra o abuso dos senhores.

Espaço Concelhio e Seus Símbolos

O Concelho possuía sempre duas zonas distintas, quer fosse urbano, quer fosse rural.
A vila ou cidade que era a sede do concelho e o seu termo ou alfoz.
O espaço urbano era o centro político-administrativo do concelho; o termo era composto
pelos povoados dispersos (aldeias) e pelas terras de cultivo e baldios, sendo o termo
subordinado à sede do concelho, dependendo todo o concelho, em termos de subsistência, da
produção agrícola do seu termo.

Os três principais símbolos de um concelho eram:


• Pelourinho ou picota, coluna erguida na praça pública que simboliza a autonomia judicial do
concelho, servindo a mesma, em caso de infração, como local de punição;

• Bandeira que identificava a comunidade concelhia

• Selo que validava a documentação produzida pelos órgãos do concelho.

O exercício do Poder Concelhio

O exercício do poder local nos concelhos era um elemento fundamental na vida destas
comunidades.

Esse poder era da responsabilidade dos vizinhos (todos os habitantes do concelho). Contudo,
só alguns é que o exerciam, nomeadamente os mais ricos, os chamados homens-bons.
Em termos de estrutura organizativa, o concelho era constituído pela comunidade dos
vizinhos. O seu órgão representativo e legislativo era a assembleia de homens bons. O poder
executivo de governação era exercido pelos magistrados.

Existiam diferentes tipos de magistrados:

• Vereadores – tirados à sorte, uma vez por ano, entre os homens-bons o concelho, eram
responsáveis pelo controlo dos bens do concelho, pela verificação e reparação de caminhos,
fontes e pontes, assinatura das cartas e colocação do selo;
• Almotacés – encarregados da vida económica do concelho, regulam os preços de compra e
venda dos produtos, definem o abastecimento, fiscalizam o comércio;

• Algoz – responsável pela execução das sentenças judiciais;

• Mordomo (vigário ou almoxarife) – encarregue da cobrança de impostos destinado ao rei,


cobrar multas e executar penhoras;

• Procuradores do concelho – defendem direitos concelhios e os representam mas Cortes;


• Alcaide ou Juíz de fora – de nomeação régia, têm funções militares ou judiciais,
respetivamente;
• Outros oficiais régios no concelho além dos alcaides e juízes de forma, eram os corregedores
(solução de conflitos a nível local e com o poder central) e ps meirinhos (correção de
irregularidades judiciárias).

Estrutura social de um concelho


A comunidade concelhia era composta por diversos grupos sociais, diferenciados e
hierarquizados.

No topo os cavaleiros-vilãos, proprietários de casas, terras e gado, podendo também estar


ligados ao comércio, detinham isenções fiscais. Dentro destes eram escolhidos os
homens-bons que assumiam magistraturas concelhias.
Depois existiam os peões, homens livres mas que não tinham isenções fiscais. Eram sobretudo
trabalhadores da terra, sua ou arrendada, podendo também exercer um mester (artesanato ou
comércio).
Na base estavam os dependentes, aqueles que trabalham à jorna (ao dia) em atividades
ligadas à agricultura ou pastorícia, tendo por isso, baixos rendimentos.

Organização espaço citadino


Apesar de o mundo medieval ser iminentemente rural, os espaços urbanos foram ganhando,
sobretudo na Baixa Idade Média, cada vez mais importância.
Essa importância deveu-se ai seu carácter defensivo e posição geográfica, sendo polos de
atração e aglutinação de pessoas; ao crescimentos demográfico dos séculos XV e XII; outorga
de cartas de foral e cartas de feiras, dinamizando o comércio e o artesanato, bem como
circulação de moeda e gerador de riqueza; afirmação de centros religiosos; presença da corte
itinerante.

A cidade medieval era constituída por um conjunto de homens livres que tinham privilégios
especiais que os diferenciavam dos outros habitantes do mundo rural e senhorial.
A cidade era constituída pelo centro, amuralhado, zona de arrabalde, espaço de crescimento
do núcleo urbano primitivo e pelo termo.
Normalmente encontra-se rodeada de muralhas, símbolo de prestígio mas que também lhe
confere segurança.

O centro da cidade era uma zona com várias funções, onde se encontram os edifícios do poder
e das elites locais.
Entre os diversos equipamentos urbanos, destacam-se o castelo ou a torre, a sé ou igreja, os
paços do concelho; o rossio ou praça onde funciona o mercado; as ruas de ligação das portas
da cidade abertas nas muralhas; ruas secundarias, normalmente tortuosas, sendo que muitas
atividades se encontravam organizadas ou dispostos pelos arruamentos. Havia também locais
de assistência, como hospitais e gafarias (leprosos), albergarias e mercearias, bem como locais
de ensino como escolas e universidade.

As cidades possuíam ainda bairros de minorias étnico-religiosas, como as mourarias e as


judiarias

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