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Farsa:
Género teatral em que se caracteriza pelo tom cómico e satírico. A farsa é um tipo de peça
curta em que se encenam situações do quotidiano a fim de representar e criticar
comportamentos e grupos socias de uma comunidade.
Estrutura interna: A farsa estrutura-se a partir de quadros que podem ser organizados da
seguinte forma:
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Português 10ºAno
Argumento da Farsa:
“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”
Que aceda às 2
suas vontades
Português 10ºAno
Resumo:
Inês Pereira é uma moça bonita e solteira que se vê obrigada a passar o dia nas tarefas
domésticas e encara o casamento como a oportunidade de se livrar dessa vida. Por isso
idealiza o noivo como sendo um moço bem-educado, cavalheiro, que soubesse cantar e
dançar, enfim, que fosse um fidalgo capaz de lhe dar uma vida feliz.
Um dia, Lianor Vaz, a casamenteira, chega a casa de Inês dizendo que tinha sido atacada por
um clérigo, mas que conseguira escapar. Porém, isto não passava de uma desculpa pois só
pretendia dizer a Inês que Pero Marques, um rico camponês, queria casar com ela.
A moça lê a carta que Pero escreveu com as suas intenções de casamento, mas não se
conforma com a rusticidade do moço e concorda em recebe-lo só para se rir da cara dele.
Lianor vai então buscar Pero e, enquanto isso, a mãe de Inês aconselha-a a receber bem o
pretendente. Quando o rapaz chega comporta-se de modo ridículo e demonstra não ter
nenhum traquejo social e, vendo-se à sós com ele, Inês desencoraja-o quanto ao casamento e
o moço vai embora. Logo de seguida informa a mãe de que tinha contratado dois judeus
casamenteiros para encontrar um noivo que tivesse boas maneiras.
Entram em cena Latão e Vidal, os dois judeus casamenteiros, que vieram oferecer Brás da
Mata, um escudeiro. Armado o encontro entre os dois jovens, Brás da Mata planeja ir à casa
de Inês acompanhado de seu criado, o Moço, e os dois combinam contar uma série de
mentiras para enganar a moça e conseguirem dar o “golpe do baú”. Já na casa de Inês, Brás da
Mata age conforme ela queria: trata-a de modo distinto com belas palavras, pega na viola e
canta. Ele pede-a em casamento, mas a mãe diz que a moça não deve fazê-lo, ao que os judeus
contra-argumentam elogiando Brás de todas as formas.
Os dois casam-se e a mãe presenteia os noivos com a casa. A sós com Brás, Inês começa a
cantar de felicidade, mas ele irrita-se e manda-a calar-se. Brás começa, então, a impor uma
série de regras e exige que a moça fique trancada o dia inteiro em casa, proibindo-a até
mesmo de olhar pela janela e de ir à missa. Pouco tempo depois, Brás informa ao Moço que
partiria para a guerra, ordenando que ele vigiasse Inês e que ela deveria ficar trancada à chave
dentro de casa. Trancada em casa e não fazendo nada além de costurar, Inês lamenta a sua
sorte e deseja a morte do marido para que pudesse mudar seu destino.
Passado algum tempo, o Moço aparece com uma carta do irmão de Inês onde ele informa que
Brás havia morrido covardemente tentando fugir do combate. Feliz, Inês despede Moço, que
vai embora lamentando seu azar. Então, sabendo que Inês tinha ficado viúva, Lianor Vaz
retorna oferecendo novamente Pero Marques como novo marido. Dessa vez Inês aceita e os
dois casam.
Com a ampla liberdade que o marido lhe dava, Inês parecia levar a vida que sempre desejou.
Um dia, chega em sua casa um Ermitão a pedir esmola e Inês vai atendê-lo. Porém, este é um
falso padre e o deus que ele venerava, na realidade, era Cupido. Inês reconhece o moço, que
tinha sido um antigo namorado seu e ele diz que só se tinha tornado ermitão porque ela o
havia abandonado. Começa então a insinuar-se para Inês, acariciando-a e pedindo um
encontro entre os dois. Ela aceita e os dois marcam um encontro.
No dia marcado, Inês pede a Pero Marques que a leve à ermida dizendo que era por devoção
religiosa. O marido consente e os dois partem de imediato. Para atravessar um rio que havia
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no meio do caminho, Pero Marques carrega a mulher nas costas e essa vai cantando uma
canção alusiva à infidelidade dela ao marido e à mansidão dele. Pero segue cantando o refrão,
terminando como um tolo enganado.
Mãe – personagem secundária, que, em estreita ligação com Inês, representa o contraponto
da sua fantasia e irresponsabilidade. Moderada, prudente e pragmática, a Mãe manifesta a
sua descrença em relação ao casamento com o Escudeiro, antecipando alguns problemas que
virão a acontecer. Contudo, quando a filha opta por casar com Brás da Mata, a Mãe
desaparece, discretamente, sem discussões, censuras ou vinganças, e ainda lhe oferece a
casa onde viviam. A filha aprenderá à sua custa.
Pêro Marques – outra figura intimamente ligada a Inês: representa na peça o papel de asno
que leva a mulher às costas; de visita a um antigo pretendente (o ermitão). É um lavrador,
ingénuo e bronco, trabalhador e honesto, que tem alguns bens. Oriundo do meio rural e
desconhecedor de algumas regras de convivência, cai no ridículo, não só pela maneira como
se veste, mas também pela maneira de falar e agir. É a personagem cómica da peça, que
contrasta com Inês (por quem é ridicularizado) e com o escudeiro.
Lianor Vaz – é quem apresenta Pêro Marques a Inês, através de uma carta. Mostra grande
capacidade de persuasão, experiência e oportunidade no desempenho do seu papel de
comadre casamenteira, quando, após a morte do Escudeiro, regressa para relembrar Inês do
seu anterior pretendente.
Escudeiro (Brás da Mata) – é uma figura muito importante, que contrasta flagrantemente
com Pêro Marques (compara-se a carta e o comportamento de Pêro Marques com o discurso
do Escudeiro, quando apresentado a Inês). Mostra-se elegante, culto e astuto. É uma
personagem com grande influência no desenrolar da história, já que é o seu comportamento
tirânico que vai fazer com que Inês venha a aceitar Pêro Marques para se vingar das
frustrações do primeiro casamento que ela idealizou e falhou. O Escudeiro, pobre e covarde,
ostenta perante Inês qualidades que não tem. Antes de casar, apresenta-se como um grande
senhor, rico, culto e bem-falante. Depois de casar, revela-se um tirano mesquinho que deixa a
esposa à guarda do criado e parte para África com o objetivo de ser armado cavaleiro, onde
acaba por ser morto por um mouro pastor, quando desertava de uma batalha.
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Judeus casamenteiros (Latão e Vidal) – são quem apresenta o Escudeiro a Inês. Preocupados
em receber o seu dinheiro, empenham-se em elogiar os méritos do Escudeiro perante Inês e as
qualidades desta perante aquele. São desonestos, falsos e materialistas.
Personagens-tipo:
Inês: moça do povo, casadoira, que pretende ascender socialmente; preguiçosa; ambiciosa;
fantasiosa e leviana;
Mãe: pragmática e materialista, quer ver a filha bem “arrumada” com um marido com
estabilidade económica, desprezando ideias de amor, sonhos ou caprichos;
Pêro Marques: homem do campo com pouca educação; o asno, o inadaptado à sociedade:
objeto de vingança de Inês;
Cómico:
Cómico de Caráter - associado à personalidade e às características da personagem.
Ex: concretiza-se nas figuras de Pêro Marques (provinciano e bronco nitidamente deslocado
junto de Inês e da Mãe) e do Escudeiro pobre e cobarde, mas dissimulando na elegância do
seu discurso, na variedade das suas prendas (canta e toca) e na fanfarronice solene todas as
suas fraquezas.
Ex: quando Pêro Marques se senta na cadeira ao contrário e de costas para Inês e para a Mãe;
na fala dos Judeus casamenteiros, que, na sua sofreguidão e calculismo para conseguirem
casar Inês com o Escudeiro, se interrompem, repetem e atropelam constantemente; e no
episódio final quando Pêro Marques, descalço, transporta Inês às costas, e para cúmulo, aceita
cantar uma cantiga que o apelida de “marido cuco”.
Ex: quando Pêro Marques entra com a sua linguagem recheada de termos e expressões
provincianas; quando os Judeus produzem o seu discurso repetitivo e arrastado; quando Inês
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se refere a Pêro Marques dizendo “Ei-lo se vem penteando/será com algum ancinho?”; na
ironia do Moço desmascarando a pelintrice do Escudeiro.
Dimensão satírica:
Objetivos da satírica
Recursos expressivos:
Tratando-se de um texto literário, está permeado de recursos expressivos que lhe conferem
novos sentidos, para além do óbvio. Assim, nesta farsa, podemos identificar, entre outros, os
seguintes recursos expressivos:
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