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Nozick

A justiça libertária
O embate contra o igualitarismo
• Nozick direciona sua crítica as teorias igualitárias, principalmente a de
Rawls, que tinham como pressuposto um Estado ativista, destinado a
fundamentar as estruturas básicas da sociedade e garantir princípios
de justiça igualitários a todos.
• Constrói então uma teoria da justiça bem distinta; sua teoria vai
requerer um Estado bem menos ambicioso quanto a suas pretensões:
um Estado mínimo (como ele denomina) dedicado exclusivamente a
proteger as pessoas contra o roubo, a fraude e o uso ilegítimo da
força, e a amparar o cumprimento dos contratos celebrados entre
esses indivíduos.
Também contra o Estado de natureza
• Preocupado em restringir ao mínimo as intervenções do Estado, deve
ir além de suas críticas ao Estado igualitarista onicompreensivo: deve
saber explicar ao anarquista por que não continua avançando em seu
desmantelamento teórico do Estado igualitarista, até conseguir seu
desaparecimento.
• Ou seja, deve justificar por que é preferível o Estado mínimo ao
Estado inexistente.
O indivíduo como fim de si mesmo
• Pretende assim refutar o anarquista, refutar o igualitarismo, e mostrar
que sua proposta é capaz de ser atraente inclusive para o utopista:
defenderá uma sociedade organizada como um "ambiente para a
utopia" - um ambiente no qual quem queira viver de acordo com as
normas liberais, conservadoras, comunistas, socialistas poderá fazer
isso contanto que saiba respeitar os direitos dos demais.
• A teoria defendida por Nozick é, como a de Rawls, uma teoria
deontológica, que afirma a existência de certos direitos básicos
invioláveis, e que, como tal, rejeita a possibilidade de que os direitos
de algum indivíduo sejam deturpados em favor do maior bem estar
de outros.
O Estado amplo fere a liberdade
• Os direitos "naturais" pensados por ele fundamentam-se em uma intuição
básica, que é a da propriedade de cada um sobre si próprio- cada um é o
legítimo proprietário de seu corpo.
• Seu caráter de direitos "naturais" parece derivar da importância que têm, a
fim de assegurar que cada pessoa possa moldar sua própria vida a sua
maneira - que cada um tenha garantidas as condições necessárias para
poder levar adiante uma vida significativa.
• Dessa característica fundamental dos direitos individuais vai contra 3
grandes fontes de ação dos Estados modernos que estão presentes em
geral; Contra o paternalismo, justificando que o Estado não pode proteger
a pessoa contra si mesma; O Estado não tem nenhum direito de legislar
sobre a moral; nenhuma redistribuição de renda ou de riqueza.
Direitos negativos
• Os direitos admitidos distinguem--se por três características
fundamentais: são apenas direitos negativos, atuam como restrições
laterais às ações dos outros e são exaustivos.
• Afirmar que os direitos são apenas negativos implica crer
exclusivamente em direitos de não interferência - direitos a que
outros não me prejudiquem, em um sentido amplo do termo - e, ao
mesmo tempo, rejeitar a existência de direitos positivos, isto é,
direitos a que outros me assistam em algumas necessidades básicas -
direito a que me abasteçam do que necessito para viver.
Os direitos positivos
• Os únicos direitos positivos concebíveis são aqueles que resultam das
transações voluntárias entre as pessoas (como os que surgem quando
contrato determinado serviço assistencial).
• Por outro lado, dizer que direitos atuam como restrições laterais às
ações de outros implica defender o critério liberal segundo o qual a
esfera dos direitos deve ser inviolável ante as pretensões dos demais.
Essa esfera deve ser protegida independentemente das
consequências (negativas para o chamado "bem comum" ou "bem-
estar geral") que essa proteção possa gerar.
Direitos positivos que violam o indivíduo
• Isso inclui dizer que qualquer tipo de redistribuição de renda e em si
coercitivo e, portanto, é uma ofensa moral. (retirar dinheiro do Elon
Musk com base no princípio utilitarista é uma ofensa ao direito
individual de Musk.
• Mesmo que pelo ideal utilitarista se utilize algum tipo de efeito
marginal sobre a renda como justificação para redistribuição de
renda, qualquer redistribuição é sempre injusta porque viola o direito
do indivíduo de fazer o que quer com sua propriedade.
A tributação como escravidão
• As regulamentações estatais (regulação do emprego, Previdência, contra a
discriminação) são sempre infrações estatais do direito dos indivíduos.
• Afinal, o que haveria de errado em taxar grandes fortunas por exempl? Os
fundamentos morais vão além do dinheiro. O que está em questão, é nada
menos do que a liberdade humana.
• Ele explica sua tese da seguinte forma: “A taxação dos rendimentos do
trabalho é o mesmo que trabalho forçado.”(p.188) Quando o Estado se
julga no direito de exigir uma parte dos meus rendimentos, ele também se
atribui o direito de exigir uma parte do meu tempo. Em vez de tirar,
digamos, 30%da minha renda, o Estado pode, da mesma forma, me obrigar
a passar 30% do meu tempo trabalhando para ele. E se o Estado pode me
forçar a trabalhar para ele, está essencialmente declarando seu direito de
propriedade sobre mim.
O dever do Estado
• Por fim, a ideia de que os direitos são exaustivos significa que eles vencem
ante qualquer outra consideração moral. A ideia, nesse caso, é que "a
filosofia política [só] se ocupa das obrigações exigíveis e que elas se
esgotam com os direitos": não existe a possibilidade de dar, por exemplo,
prioridade moral à preservação do meio ambiente, substituindo algum
direito de propriedade já atribuído.
• Para o liberalismo conservador, a única coisa que o Estado deve assegurar é
a chamada "liberdade negativa" das pessoas. Ou seja, o Estado deve vigiar
para que ninguém interfira nos direitos básicos de cada um (a vida, a
propriedade, etc.).
• O Estado, por outro lado, não deve se preocupar com a chamada
"liberdade positiva". Isto é, ele não tem a obrigação de fornecer nada aos
indivíduos, para que possam levar adiante seus planos de vida.
O direito a propriedade de si
• Quando parte do esforço de alguns é destinada a melhorar o destino
de outros, deturpa-se o princípio da auto propriedade, a tal ponto
que ganha sentido falar de uma nova forma de escravidão, defendida
em nome da justiça.
• “Apoderar-se do produto do trabalho de alguém equivale a apoderar-
se de horas do seu tempo, obrigando-o a exercer várias atividades. Se
o governo o força a executar um determinado trabalho, ou um
trabalho não remunerado, durante certo período de tempo, ele está
decidindo o que você deve fazer e quais são os propósitos do seu
trabalho, sem levar em conta suas decisões. Isso (...) dá a ele o direito
parcial de propriedade sobre você.” (p.191)
O Estado de natureza de Locke
• Disto se volta a discussão, porque um estado mínimo é melhor que o
estado de natureza?
• Em princípio, os aspectos preocupantes do Estado de natureza
parecem numerosos, tal como John Locke os descrevera: sem uma
autoridade mediadora entre elas, as pessoas tenderão a tirar o valor
das queixas dos demais contra si, ao mesmo tempo que tenderão a
fazer uma defesa obstinada - e muitas vezes indevida - de suas
próprias pretensões.
• Não havendo uma forma efetiva de resolver as disputas, será
esperável a vingança de uns contra outros, assim como o predomínio
dos mais fortes.
O problema do estado de guerra
• Perante a trágica situação descrita, o surgimento do Estado não
parece especialmente sugestivo. No que constitui seu principal traço -
concentrar o uso legítimo da força-, o Estado parece violar o direito
de cada um a sua autodefesa (direito este imediatamente derivado
dos direitos à vida, à liberdade e à propriedade).
• Por outro lado, em seu segundo traço - o de que a proteção que
dispensa se estenda a todos os seus habitantes-, o Estado também
parece pôr em risco certos direitos: se deve proteger tanto ricos como
pobres, quem pagará pela proteção dos últimos senão os primeiros,
que, desse modo, verão seus direitos de propriedade violados?
As associações de proteção
• Dessa forma parece surgir o Estado mínimo, por meio de um processo de
"mão invisível", progredindo suave e respeitosamente ante os direitos de
cada um.
• A ideia é que, perante o desamparo e os abusos distintivos do Estado de
natureza, os indivíduos podem achar conveniente, em princípio, reunir-se
em "associações de proteção mútua".
• Essas novas" associações" permitem que os indivíduos melhorem sua
situação inicial limitando, por exemplo, certas reivindicações não razoáveis
dos indivíduos mais poderosos, perante os quais antes estavam indefesos.
Mas essas associações não são tão vantajosas quanto parecem, sobretudo
devido aos enormes custos que elas impõem a seus membros. Daí que
essas associações abram uma passagem para outras novas, especializadas
na referida tarefa protetora.
O proto Estado
• Entretanto, chegando a essa situação, pode-se esperar que cada
indivíduo pretenda unir-se à associação protetora mais forte, e que
diferentes órgãos se unam até se concentrar, enfim, em uma última e,
então, única organização.
• Uma vez que essa concentração se realize, ficamos, de fato, diante de
um proto-Estado, que pode ser denominado estado "ultra mínimo".
Esse estado assemelha-se aos estados que conhecemos, porque,
como estes, monopoliza o uso legítimo da força.
• No entanto, não é, ainda, um estado “moderno” porque não garantiu
que todos os indivíduos ali presentes estejam cobertos pela proteção
que ele oferece.
O Estado mínimo
• Por isso, o Estado mínimo constitui-se enquanto dá um passo a mais,
e aquele proto-Estado proíbe os indivíduos mais fortes existentes de
usar seu direito de autodefesa, e os compensa assegurando, a eles
também, os benefícios de sua proteção.
• O Estado pode surgir sem violações de direitos (o que parece claro no
processo de mão invisível); e é conveniente para todos, perante as
alternativas que poderiam ser apresentadas em caso de sua
inexistência: a alternativa do Estado de natureza (em que todos
estavam expostos aos abusos dos outros) e a das "associações de
ajuda mútua" (onerosas demais em termos de tempo e esforço para
seus membros).
O problema do Estado igualitário
• Uma vez que justifica as virtudes do Estado mínimo contra a não-existência
do Estado, é necessário demonstrar por que esse Estado mínimo é
preferível a outros modelos de Estado, mais robustos e comprometidos
com a igualdade de seus membros.
• Em princípio, Nozick não se opõe à ideia de igualdade, mas ao
estabelecimento de normas que pretendam impô-la. Não há nada de mal
no fato de as pessoas se organizarem e formarem uma sociedade de iguais.
• O que parece incorreto é que sejam impostas aos outros, contra sua
vontade, normas igualitárias. Nesse ponto é que residem os males do
Estado igualitário - aquele Estado cujos limites se estendem além dos
definidos pelo Estado mínimo.
Justiça nas transações
• O problema de Chamberlain como transação voluntária.
• Em grande parte, cabe notar, a teoria baseia suas intuições na justiça
das transações voluntárias entre adultos. Toda transação feita entre
adultos voluntariamente é justa. Qualquer intervenção estatal neste
campo é injusta.
• Mesmo em condições paupérrimas em que um indivíduo aceita um
contrato de trabalho menor do que o valor esperado é justo. Ele não
foi forçado a escolher aquele trabalho.
A única injustiça é a coerção
• Só se poderia falar de uma situação forçada no caso de estarem
presentes as duas seguintes condições. Por um lado, deve acontecer
que as opções de uma pessoa estejam restringidas pelas ações de
outra. Além disso, e, por outro lado, deve ocorrer que tais ações
violem os direitos da primeira.
• A moral seria a seguinte: pode-se considerar moralmente censurável
uma situação na qual certo trabalhador é obrigado a trabalhar em
benefício de algum outro, por exemplo, sob a mira de um revólver;
porém, não há nada moralmente incorreto no fato de um
desempregado assinar um contrato desvantajoso para ele
(desvantajoso em termos de justiça ideal).
Transferências legítimas
• Outro alicerce fundamental de sua teoria buscar compreender a
validade das apropriações capitalistas. Isto é, se uma pessoa vende,
digamos, 10 hectares de terra a outra, e essas terras não lhe
pertenciam, então, evidentemente, a transferência não pode ser
considerada válida. Uma transferência legítima depende de uma
prévia aquisição legítima.
• Essa conclusão óbvia, portanto, implica a necessidade de uma teoria
das aquisições, já que, sem ela, a justiça de todos os acordos entre
adultos ficaria ameaçada. Daqui há a necessidade de se compreender
a validade não apenas da auto propriedade ou da propriedade de si
próprio mas sobre a propriedade de recursos externos.
A teoria da propriedade de Locke
• Para formular uma teoria da propriedade, ele vai se basear nos
pressupostos de Locke buscando demonstrar que uma apropriação é justa
em primeiro lugar como consequência normativa da teoria do valor-
trabalho que associa o trabalho do indivíduo com uma propriedade
externa e em segundo lugar uma condição que classifica essa primeira
afirmação. Todos tem direitos a coisas que criaram o valor.
• Mas critica essa postura e busca reformular de forma mais densa.
• Cada pessoa pode tomar para si quantidades ilimitadas de recursos
naturais se, desse modo, não prejudica ninguém (a condição de outros não
é piorada). Não é relevante que o lote de terra do qual me aproprio seja o
último lote fértil ou cultivável.
O princípio da retificação
• Se, digamos, eu semeio milho e planto árvores frutíferas, e depois
você acaba adquirindo bens mais baratos do que os que costumava
comprar, então, você também se beneficia da minha aquisição. Sem
ela, o preço dos alimentos não teria podido baixar.
• Diante de algumas críticas a teoria da apropriação, formula o
princípio da retificação buscando solidificar melhor sua teoria.
• É possível que algumas transferências ou apropriações possam ter
sido realizadas de modo inadequado, e admite que essas situações
precisam de reparação, se é que se trata de apresentar uma teoria da
justiça coerente.
O princípio da retificação
• O princípio da retificação é o que exige reparações quanto a possíveis
injustiças cometidas por meio das prévias aquisições e transferências.
• Por exemplo, se alguém se apropriou de certo objeto violando os
direitos de um terceiro, o princípio de justiça na retificação exige
voltar atrás e reparar o dano cometido, para impedir que a sociedade
se institua a partir de uma série de atos de apropriação injustificados.
• A exposição geral portanto gravita sempre em torno do objeto central
da liberdade individual.

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