Você está na página 1de 13

Apontamentos John Stuart Mill – On Liberty

Capítulo 1 – Introdução
John Stuart Mill indica que irá falar sobre a liberdade civil/social: sobre a natureza/limites de
poder que podem ser legitimamente exercidos pela sociedade sobre o indivíduo.

Começa por indicar que a Liberdade Civil não é coisa nova, dividindo a humanidade desde
tempos remotos, sendo que, agora no progresso do tempo e da civilização requer um
tratamento diferente, estando o conceito sempre em evolução.

O autor indica que o conflito entre a liberdade e a autoridade é típico ao longo da história, da
Grécia, Roma até à Inglaterra. Nos tempos antigos era sobre o individuo (ou grupo de
indivíduos) e o Governo, com a liberdade nestes tempos significando a “proteção contra a
tirania dos governos políticos”, que assumiam sempre/necessariamente uma posição
antagónica contra o povo. O poder era necessário, mas perigoso, logo o objetivo dos
patriotas/povo era impor limites aos poderes do governante, tentando isto de duas maneiras:

 Liberdades Políticas ou Direitos: reconhecimento de imunidades, cuja infração pelo


governante justificaria uma resistência específica ou rebelião geral.
 Estabelecimento Salvaguardas Constitucionais: o consentimento da comunidade (ou
órgão que a representa) era condição necessária para alguns atos do poder
governante.

Maior parte do tempo, na Europa, tentou se submeter os governantes ao primeiro ponto, mas
não ao segundo, levando a que muitas vezes a população fosse governada por um amo,
apenas na condição que estivesse mais ou menos salvo da tirania, sem perseguir o segundo
ponto. Mas observa-se agora um progresso em direção ao segundo objetivo, de estabelecer os
representantes do Estado como representantes da comunidade, identificando-se com o povo,
e que o seu interesse fosse o da nação (pois a nação não necessita de ser protegida contra a
sua vontade – “não se receava que a nação governasse tiranicamente contra si”)

Esta era a maneira de pensar da última geração de liberalismo, predominante na Europa


continental, no entanto, John Stuart Mill denota “o sucesso revela falhas e fraquezas que o
fracasso poderia ter escondida da observação”, indicando que a ideia que o povo não tem de
limitar o seu poder sobre si mesmo foi abalado pela Revolução Francesa e suas aberrações.

“O governo de si mesmo” ou “o poder do povo sobre si mesmo” percebeu-se que o povo que
exerce o poder não é sempre o mesmo povo sobre quem o poder é exercício, onde o “governo
de si” é na verdade o governo de cada um por todos os outros e não por si mesmo. Onde a
maioria é apenas uma parte do povo a querer suprimir a outra parte, com o autor indicando
que é preciso precauções contra isto (como qualquer outro abuso de poder. – Conclui que a
limitação do poder do governo também deve também ocorrer para impedir a “tirania da
maioria”.

Esta “tirania da maioria” é pior que as outras, pois deixa menos meios para escapar, não
prendendo ninguém, escraviza a alma. Logo é preciso não só a proteção contra a tirania da
magistratura, como contra a tendência da sociedade para impor, por outros meios que não
punições civis, as suas próprias ideias e práticas como regra de conduta geral, que restringe o
desenvolvimento. É necessário encontrar o limite da interferência da opinião pública na
independência individual – necessário para as boas relações humanas, como a proteção contra
o despotismo político – um ajuste entre independência individual e controlo social.

Logo para isto deve ser imposto regras pela lei e aquilo que não é objeto de lei, pela opinião.
Mas que regras devem ser estas? As regras colocadas muitas vezes são autoevidentes para as
pessoas, tornando-se um hábito, para o qual as pessoas não fornecem razões para o porquê de
ser hábito, considerando desnecessário dar razões. O que leva ao desenvolvimento das regras
de conduta de cada pessoa é que a outra tem de ser obrigada a agir como ela (e com quem ela
simpatiza), com o autor indicando que aspetos de conduta não suportados pela razão são
apenas preferências justificada por gosto pessoal. Ou seja, as opiniões das pessoas sobre o que
é uma louvável ou culpável conduta são determinados por: preconceitos e superstições,
sentimentos sociais e anti sociais (inveja e ciúmes), interesse próprio, e por vezes razão.

A moralidade do país é então criada pelos interesses e sentimentos de superioridade da classe


dominante, em que as várias relações na história, como Príncipes e Súbditos são
caracterizados por interesses e sentimentos de classe, onde os sentimentos gerados depois
exercem influencias nos sentimentos dos membros da classe dominante no que diz respeito às
relações mútuas. Exemplo: em sítios de classes previamente dominantes ou com domínio
impopular, vem os sentimentos morais prevalentes num degrado impaciente contra a
superioridade.

Ou seja, as preferências e aversões da sociedade, simpatias e antipatias originadas pelo


interesse e não pela razão, constituem a principal fonte das regras estabelecidas sob punição
da lei ou opinião. Muitos pensadores, comenta o autor, apenas pensaram sobre o que a
sociedade devia ou não gostar, mas nunca questionaram se as preferências e aversões da
sociedade devia ser lei para os indivíduos, apenas preocupando-se sim em alterar os
sentimentos da sociedade naquilo que eles (os pensadores) eram heréticos (tinham um
pensamento contra a maior parte da sociedade (imaginemos: A sociedade acreditava na
Geocentrismo, mas o pensador no heliocentrismo)), mas não em defesa da liberdade (há
apenas casos de defesa pela liberdade religiosa – onde quem ao defendeu, defendia liberdade
de consciência como direito absoluto).

O autor indica que na Inglaterra o jugo da lei é mais leve, mas o da opinião mais pesado em
comparação com o resto da Europa, havendo, no entanto, mesmo assim, repugnância
considerável pela interferência do poder legislativo ou executivo na conduta privada, mas não
devido à preocupação pela independência do individuo, mas pela visão antiga que o interesse
do governo é o contrário ao do público – a maioria não aprendeu a sentir o poder do governo
como seu.

Mas mesmo que o autor seja pela restrição ao poder do governo, ele indica que esta repugnância contra o
envolvimento do governo no privado vem do sentimento e não da reflexão se é ou não matéria de
intervenção – as pessoas decidem por uma matéria de preferência pessoal. O autor conclui nisto que então
parece-lhe que devido à ausência de regra/princípio tanto o lado que defende como é contra intervenção
governamental é errado, sendo a intervenção mal condenada e mal invocada.

O objetivo do ensaio é estudar o princípio de que o único fim para o que as pessoas têm justificação
(individual e coletiva) para interferir na liberdade dos outros é a autoproteção, de prevenir dano a outros.
Este é o único fim em que o poder pode ser corretamente exercido sobre alguém, onde o seu próprio bem
físico ou psicológico é justificação insuficiente. Mesmo assim argumenta que ninguém pode ser obrigado a
fazer algo que se “ache melhor para ela”, pode se debater ou criticar, mas não forçar, apenas podemos
forçar se a sua conduta provocar mal a outro. A única parte da conduta que uma pessoa responde perante
a sociedade é o que diz respeito aos outros. A conduta que apenas diz respeito a si mesmo tem
independência absoluta, com o individuo sendo soberano do seu corpo e mente.

Isto apenas se aplica a humanos em maturidade de faculdades, não a crianças ou pessoas que estão num
estado que necessitem que se tome conta, que tem de ser protegidos contra as suas ações e danos
externos.

De forma semelhante, o autor argumenta que, no entanto, considera que para o


desenvolvimento e progresso, o governante poderá usar qualquer meio para desenvolver, o
despotismo torna-se assim uma forma legítima quando se lida com bárbaros desde que o
verdadeiro objetivo seja o desenvolvimento. A liberdade, enquanto princípio, não tem
qualquer aplicação nas Eras antes do Humano desenvolver a capacidade de discussão livre e
equitativa. Mas no momento que as pessoas tenham a capacidade de ser conduzidas pelo
próprio desenvolvimento (estado atual da sociedade), a coação, direta ou indireta, torna-se
injustificável como um meio para o próprio bem, apenas justificável para garantir a segurança.

A utilidade surge no sentido amplo, baseada nos interesses permanentes das pessoas em
desenvolvimento. Uma pessoa que produza dano a outra, poderá ser punida ou por
desaprovação geral. Mas também há, diz o autor, momentos em que alguém pode ser
obrigado a realizar algo para benefício dos outros, como ser testemunha em tribunal ou salvar
a vida de outro (coisas que há dever de fazer). São exemplos onde o individuo pode ter de se
submeter ao “controlo externo” para o bem de outro e sociedade. O autor defende isto ainda
indicando que as pessoas podem provocar mal a outro não só pelas suas ações, mas pela
inação (aqui ele diz que temos de analisar estas questões com cuidado, pois há
particularidades que podem levar alguém a não agir que tem de ser tomadas em conta).

A esfera da liberdade humana (esta esfera abrange apenas o indivíduo ou se afeta os outros é
devido ao consentimento voluntário)., que abrange o domínio interior da consciência (requer
liberdade de consciência, liberdade pensamento e sentimento, opinião e todos os outros
assuntos científicos, teológicos e morais).

A liberdade de expressão pode parecer que diz respeito a outro princípio, já que diz respeito a
outras pessoas, mas o autor defende que tem quase tanta importância como a liberdade de
pensamento, baseando-se nos mesmos princípios, logo é inseparável da liberdade de
pensamento.

Em segundo lugar, a esfera da liberdade humana requer liberdade de gostos e objetivos, de


fazer o que queremos na nossa vida, sem qualquer obstrução. Em terceiro lugar, dentro desta
liberdade de cada individuo surge a liberdade de um grupo de indivíduos, que tem a liberdade
de união desde que não envolva dano a outros e que os membros do grupo lá estejam
voluntariamente e sejam maiores de idade.

Nenhuma sociedade onde isto não é respeito é livre, qualquer seja o governo. A liberdade de
procurar o nosso próprio bem à nossa maneira sem prejudicar os outros – “cada qual é o justo
guardião da sua própria saúde”, com o autor argumentando que as pessoas ganham mais em
deixar as outras viver do que as controlando.

Os governos das antigas repúblicas tentavam regular toda a conduta privada, algo que o autor
indica que podia naquele tempo ser aceitável face aos perigos existentes e ao seu tamanho
reduzido, mas no mundo moderno, com a grande dimensão das comunidades e separação da
Igreja e Estado (separação entre aqueles que orientavam consciências e quem controla o
Estado) preveniu a interferência do Estado nos pormenores da vida privada. Mas mesmo
assim, a os mecanismos de repressão moral são mais árduos sobre assuntos que só aos
próprios dizem respeito, do que sobre a discordância de assuntos sociais. O autor exemplifica
isto com o facto da religião tem sido quase sempre governada pela ambição de uns que deseja
controlar toda a conduta humana (e maior parte dos reformadores modernos seguem os
mesmos passos).

John Stuart Mill indica ainda que existe uma tendência/inclinação crescente para alargar os
poderes da sociedade sobre o individuo, tanto pela força da opinião como pela legislação. Indo
na direção de fortalecer a sociedade e diminuir o poder do indivíduo. O autor indica que isto é
um mal que vai tornando-se cada vez mais alarmante.

A vontade da população em impor aos outros as suas opiniões e desejos como regra de
conduta é apoia pelos melhores e piores sentimentos da natureza humana, que é muito
raramente mantida sob controlo por outra que não a falta de poder, e como o poder está a
aumentar, então, a menos que se ergue uma barreira de convicção moral, é de esperar que
isto de intensifique. (o que se intensifica é a vontade de impor opiniões e desejos aos outros).

Devido a isto, o autor vai introduzir o segundo capítulo – a liberdade de pensamento


(inseparável da de expressão – escrever e falar), indicando que, mesmo que esta liberdade
esteja presente nos vários países com tolerância religiosa e instituições livres, é preciso falar
sobre as bases filosóficas e práticas desta liberdade, que não são muito conhecidas ou
valorizadas pela sociedade. O autor indica que quando se compreende estas bases, vê-se que
têm uma aplicação muito mais extensa do que apenas uma base.
Capítulo II – Sobre a Liberdade de Pensamento e Discussão
O autor começa por dizer que já passou o tempo quando era necessário defender a liberdade
de expressão como salvaguarda contra a Tirania, nem que não é necessário elaborar mais
contra legislaturas e executivos que não governem a favor dos interesses do povo, tudo isto já
foi extensamente elaborado. O perigo da lei inglesa agir contra a liberdade da discussão
política é escasso (exceto se houver um pânico temporário como uma insurreição), e tal é
comum noutros países constitucionais, onde não há perigo que o governo tente controlar a
liberdade de expressão (a menos que ao fazê-lo seja para se tornar o órgão de intolerância
geral do público).

O autor diz para supormos que o governo se identifica completamente com o povo e que
jamais pensa em exercer o poder de coerção, a não ser em concordância com a vontade do
povo. Mas ao mesmo tempo, nega ao povo o direito de exercer tal coerção, quer através do
povo ou do governo. O poder é ilegítimo, e nem o melhor governo ou o pior tem direito a ele.
Usar este poder é tão repugnante quando exercido contra a opinião pública, como quando é
exercido por ela (podendo até ser mais repugnante quando usado pela própria opinião
pública). Ou seja, 99 em 100 pessoas tivessem uma opinião e apenas 1 pessoa tivesse a opinião
contrária, as 99 tinham tanta justificação para calar a 1 pessoa, como a 1 pessoa as 99.

Silenciar a expressão ou opinião é um roubo à humanidade, tanto atual como do futuro, pois
se ela estiver correta, ficam sem a oportunidade de trocar o erro pela verdade; se for
incorreta, perdem a oportunidade de fortalecer a verdade através da confrontação com o erro.
“Nunca podemos ter a certeza de que a opinião que procuramos amordaçar é falsa; e mesmo
que tivéssemos, amordaçá-la seria ainda assim um mal”.

Primeiro Argumento: Se a opinião for a correta, ficarão privados da oportunidade de


trocar o erro pela verdade (a opinião que se tenta suprimir pela autoridade é possivelmente verdadeira):
Quem desejar suprimi-la nega a verdade, e além disso, não tem autoridade para resolver a
questão por toda a humanidade ou de retirar a possibilidade de outras pessoas a ajuizarem
sobre a questão. Além disso proibir uma opinião por que tem a certeza que é falsa é achar que
se tem a certeza absoluta.

Silenciar uma discussão é uma pressuposição de infalibilidade. E mesmo assim, mesmo que as
pessoas saibam que são falíveis, poucos acham necessário tomar precauções contra isso ou
acham que as suas opiniões podem estar erradas. Como por exemplo, os príncipes absolutos
que sentem a sua opinião com confiança plena.

Acontece também que mesmo as pessoas que estão habituadas a ter a sua opinião disputada,
com falta de confiança no seu juízo solitário, colocam a confiança infalível no mundo, sendo
que para cada indivíduo, o seu mundo é com quem ele contacta (quer seja o seu partido,
igreja, classe social), e mesmo sabendo que existem outros “mundos” (partidos, igrejas,
classes) parece que a sua confiança não é abalada, transferindo para o seu “mundo” aa
confiança e responsabilidade de ter toda a certeza, mesmo nunca pensando que foi o mero
acaso que o colocou nesse “mundo”.

O autor recorda que as épocas, como os “mundos”, são tão falíveis como os indivíduos. Muito
o que é dito numa época, é visto como falso e absurdo no futuro, muito do que dizemos hoje,
será reprovado amanhã.

Face a este facto, alguém poderia argumentar que não há maior pressuposição de infalibilidade em proibir
a propagação do erro do que qualquer outra coisa feita pela autoridade pública usando seu juízo, pois o
juízo é dado às pessoas para o usarem, então, dado que ele pode ser usado erroneamente, então vamos
proibir as pessoas de o usarem? John Stuart Mill responde; ao proibir o que as pessoas acham de
prejudicial, as pessoas não reivindicam estar isentas de erro, mas apenas a cumprir o seu dever, embora
sendo falíveis, de agir com base na sua convicção conscienciosa. Se nunca agíssemos porque achávamos
que a nossa opinião estava erra, negligenciávamos os nossos interesses.

Tanto os governos como indivíduos têm o dever de formar as opiniões mais verdadeiras que possam, mas
não tem o dever nem direito de as impor aos outros. Poder-se-ia dizer que se eles tivessem a razão da sua
certeza, seriam cobardes em permitir a existência de doutrinas erradas e perigosas para o bem-estar da
humanidade fossem difundidas (só porque outras pessoas em tempos passados e menos esclarecidas
condenaram opiniões que agora se veem como verdadeiras).

Um exemplo é: os governos e as nações tem instituído maus impostos e feito guerras injustas, devemos
então não instituir qualquer imposto e não fazer qualquer guerra? Não. As pessoas e os governos têm de
agir no máximo das suas capacidades, mas sempre sabendo que não existe certezas absolutas, apenas
garantias suficientes para agir. Ou seja, para agir (e não ficarmos parados) temos de pressupor que a nossa
opinião é a verdadeira para efeitos de conduzir a nossa conduta (mas não podemos proibir os outros de
propagar as suas opiniões, mesmo que falsas).

O autor adiciona ainda que há uma grande diferença presumir que uma opinião é verdade porque não foi
refutada em qualquer oportunidade que houve para contestar e pressupor que a sua verdade para impedir
refutação. Aquilo que possibilita presumir a verdade da nossa opinião para efeitos de continuar a nossa
ação é também a liberdade completa de contradizer e provar a sua falsidade – e ninguém pode ter a
garantia racional de ter a razão.

Sabendo que ao longo da História a maioria das pessoas defendiam ideias erradas e aprovavam coisas
absurdas, porque é que será que hoje há uma predominância de opiniões e condutas racionais – se é que
há? Fica a dever-se ao facto de os erros serem corrigíveis, através da discussão e experiência. No entanto,
só se pode ter confiança no juízo humano quando os meios de correção, factos e argumentos, experiência e
discussão, tem de estar à mão.

Uma pessoa que merece real confiança, mereceu isto pois manteve mente aberta a todas as críticas e
opiniões, tirando proveito das críticas justas, refletindo, corrigindo-se a si e aos outros e estudando todos
os ângulos – “nenhuma pessoa sábia alguma vez adquiriu a sua sabedoria por outro modo que não este;
nem está na natureza do intelecto humano tornar-se sábio de qualquer outro modo”. É a única forma de
construir confiança no nosso pensamento.

Não é pedir demais que então se aplique semelhante processo à restante população. É através deste
raciocínio que as nossas crenças devem ser testadas, a forma de “assentar” uma teoria é através de
convidar o mundo inteiro a provar que elas não têm fundamento. Se mantivermos as crenças em aberto, é
certo que se houver uma verdade melhor, será encontrada.
É esta a única forma de alcançar a “quantidade máxima de certeza alcançável por um ser falível”.

É estranho que as pessoas aceitem a livre expressão, mas se oponham a que seja levada ao extremo. O
autor indica ser estranho que estas pessoas permitam a livre expressão em todos os temas que achem
duvidosos, mas proíbam algum princípio/doutrina de que achem estar de certeza certos. Surgem assim
como juízes da certeza, chamando certa a uma proposição, mesmo havendo quem discordasse.

John Stuart Mill, partilhando um raciocínio de outro autor, chama a sua Era “destituída de fé, mas com
pavor do ceticismo” (talvez também a nossa), onde as pessoas se sentem certas não porque as suas
opiniões são verdadeiras, mas porque não saberiam o que fazer sem elas. – Isto leva a que as opiniões
sejam protegidas pelo ataque pública pela sua importância para a sociedade. São estas crenças que se
alega serem tão importantes para o bem-estar, que se torna o dever do governo as defender.

Muitas defendem isto dizendo que só “pessoas más” podem querer enfraquecer estas crenças e que não
há nada errado em impor restrições ou proibir práticas dessas pessoas (a restrição que querem impor não é
uma questão sobre a verdade das doutrinas, mas da sua utilidade).

Quem acredita nisto (que há livre expressão, exceto para aqueles que a levam ao extremo ou põem em
causa credos assentes na sociedade), apenas transfere a infabilidade de um ponto para outro – a utilidade
de uma opinião é tão disputável como a opinião.

A verdade de uma opinião é apenas parte da sua utilidade, e quando o público não permite que a verdade
de uma opinião seja posta em causa, há também pouca tolerância em relação a uma rejeição da sua
utilidade.

O autor dá um exemplo: imaginemos o debate sobre a Crença num Deus e na vida após a morte (onde o
argumento contra a liberdade de opinião, tanto na verdade como na utilidade é o mais forte). Um
adversário injusto teria grande vantagem no debate, pois diria: “será a crença num Deus uma daquelas
opiniões acerca das quais consideras que se temos a certeza então estamos a partir do princípio de que
somos infalíveis? (Não é o facto de ter a certeza que uma doutrina é verdadeira que é o pressuposto da
infalibilidade, é o propósito de decidir essa questão pelos outros, sem que lhes seja permitido ouvir o que
de diz em favor do lado contrário).

Alguém a impedir que se ouça uma defesa de opinião estará a pressupor que é infalível, algo que o autor
diz ser tão ou mais perigoso do que uma opinião imoral – é onde as gerações passadas cometem os erros
que levam a ver sua Era com horror, onde a lei erradicou e calou os mais sábios. Hoje, diz o autor, vemos
aquelas doutrinas que os antepassados tentavam calar a tentar calar outras novas.

O autor usa o exemplo de Sócrates: o filósofo, era o mais sábio do seu tempo e professor de virtude, entrou
em conflito com as autoridades legais e a opinião pública e foi condenado à morte por impiedade (negou os
deuses reconhecidos pelo Estado) e imoralidade (“corromper a juventude”). Calvário, de enorme grandeza
moral, foi condenado à morte por ser blasfemo (hoje, diz o autor, quem o condenou à morte é que é dito
como blasfemo). John Stuart Mill, após estes dois exemplos indica que estes dois indivíduos não eram más
pessoas e eram elevados indivíduos morais e patrióticos, mas foram mal jogados e calados no seu tempo,
pare serem depois prezados como sábios.

Outro exemplo é o de Marco Aurélio, absoluto imperador de imaculada justiça e coração terno, foi melhor
cristão, diz o autor, que quase todos os soberanos ditos cristãos, mesmo tendo perseguido o cristianismo.
Incorporava ideais cristãos na sua moral, mas não previa que o Cristianismo era um bem para a sociedade,
perseguindo-o, pois, iria romper os já degradados laços que uniam a sociedade (não vendo que se esses
laços fossem rompidos, outros surgiriam, diz o autor). O Cristianismo não lhe parecia verdade e assim, o
“mais gentil e afável dos filósofos e governantes” autorizou a perseguição do cristianismo”. O fundamento
da perseguição usada pelo Marco Aurélio contra os cristãos é o mesmo usado pelos últimos contra os ateus
ou anticristãos.

Por sua vez, os inimigos da liberdade religiosa, não podendo usar a punição nem restrições, dizem que os
próprios perseguidores do cristianismo estavam certos, por que se a crença está certa ultrapassará a
barreira das punições. O autor responde que apesar de não podermos chamar a esta teoria
intencionalmente hostil à receção de novas verdades, podemos criticá-la pela sua falta de generosidade em
relação ao tratamento das pessoas. Além disso, ele adiciona que recompensar os mártires (apenas
recompensando-os após morte) para quem é contra a liberdade religiosa e defende isto é o normal e
justificável, que os mártires deviam “ficar com uma corda à roda do pescoço”, em vez de serem tratados
com legitimidade.

John Stuart Mill responde ainda que o ditado que “a verdade triunfa sempre sobre a perseguição” é apenas
uma falsidade agradável e confortante, indicando que a história está cheia de verdade esmagadas pela
perseguição que só se revelam após séculos, enumerando depois múltiplos casos históricos em que isto
aconteceu.

Revelar ao mundo algo que lhe interessa profundamente e era desconhecido ou provar-lhe errado é um
dos mais importantes serviços que um ser humano poder prestar.

A verdadeira vantagem da verdade é quando uma opinião é verdadeira, pode ser extinta muitas vezes, mas
no decorrer do tempo as pessoas irão a redescobrir e haverá um momento que escape à perseguição.

Apesar de já não se condenar à morte aqueles de opinião contrária, ainda há perseguição legal, leis e
castigos por opinião, com imposição não tão rara. Com o autor referindo que em Cornualha houve um
homem condenado a 21 meses por palavras ofensivas ao Cristianismo ou um estrangeiro que viu recusada
justiça por ser ateu, enquanto outros não puseram ser júris pela mesma razão. Tudo isto provém naquele
tempo de que quem não era religiosa, estava como fora da proteção dal ei, pois o seu juramento não tem
valor. Uma regra própria dita por o autor como “suicida”, já que aceita o ateu que mentir sobre o seu
posicionamento religioso e condena o que diz a verdade.

As punições legais fortalecem o estigma social, levando ao perigo do ressurgimento do “reacionismo”, de


os reacionários se levantarem e perseguirem os que têm opiniões contrárias. É este o estigma que, segundo
o autor, expressar opiniões proscritas pela sociedade é menos comum na Inglaterra que noutros países,
devido ao perigo de punição, fazendo não só mal a essas pessoas, como a quem tem o estigma, incapaz de
ouvir a verdade.

Este estigma não mata nem erradica, mas faz as pessoas absterem-se de difundir ideias, com muitas ideias,
como heréticas, “ardendo em lume brando”, não ganhando ou perdendo terreno, sem iluminar a sociedade
com uma luz que pode ser verdadeira ou falsa. É um apaziguamento intelectual que permite não precisa de
recorrer a multas ou prisões, mas sacrifica a coragem moral do Humano, com os intelectos ativos e curiosos
guardando as opiniões para si em vez de as partilharem com o público, impedindo dar origem a
personalidades abertas e destemidas, lógicos e consistentes de outrora. Um “mundo mundano”, cheio de
oportunistas da verdade, que se restringem a não entrar no reino dos princípios e a falar no que não
acreditam.
Aqueles contra a liberdade de expressão ou hereges deviam perceber que: não há discussão justa e exaustiva das opiniões
contrárias/hereges; as opiniões falsas/hereges que não suportariam o debate não desaparecem; não é o espírito do que não
falam/hereges que é o mais prejudicado, mas aos não hereges, ficando com um desenvolvimento mental limitado,

Ninguém é um Grande Pensador sem seguir o seu intelecto e conclusões – a verdade ganha mais com os erros, daquele que sem o
estudo pensa por si do que com opiniões verdadeiras daqueles que só as têm por se impedem a si mesmo de pensar. A liberdade
de pensamento é necessária não apenas para formar grandes pensadores, mas também para elevar as pessoas comuns a uma
estatura mental mais elevada, pois sem esta liberdade não há um povo intelectualmente ativo.

Onde não há discussão sobre questões que a humanidade acha encerrada ou onde há uma convecção tácita sobre princípios não
disputados, não há elevada atividade mental nem História notável. Sem abalar as fundações do espírito do povo com controvérsias,
não haverá um impulso para elevar as pessoas.

Houve três momentos na História Europeia, depois da Reforma, o movimento especulativo do século XVIII e a fermentação
intelectual da Alemanha durante Goethe e Fichte, onde o jugo da autoridade foi quebrado e o despotismo mental abandonado,
havendo um impulso que levou a uma melhoria da mente humana e das instituições – “o impulso dado nestes três períodos fez da
Europa o que agora é”.

Segundo Argumento: Presumamos que as preposições são verdadeiras e


o que acontece se não forem discutidas abertamente:
Uma verdade se não for discutida é apenas um dogma morto. Há quem considere que é
suficiente concordar com o que se acha verdadeiro, sem duvidar, mesmo que não se saiba os
fundamentos dessa opinião e que não se consiga defender num debate. Estas pessoas acham
que não resulta nenhum bem debater/questionar uma verdade, não deixando que uma
posição dominante seja rejeitada de modo ponderado e sábio, podendo ser rejeitada de forma
ignorante, pois uma crença verdadeira se não for testada e não se souber os seus
fundamentos, facilmente é derrotada em debate por um fraco argumento contrário.

Imaginemos agora que a opinião verdadeira permanece na mente como um preconceito e


crença independente de argumentos/provas contra-argumentos contrários – esta não é a
forma que um ser racional deva sustentar a verdade, não é conhecer a verdade, é uma
superstição apenas.

O intelecto tem de ser cultivado, consistindo em aprender os fundamentos das nossas


opiniões, as pessoas têm o dever de serem capazes de defender o que acreditam das objeções
comuns. “as pessoas que aprendem geometria não se limitam a decorar teoremas, mas
entendem e aprendem também as demonstrações”.

Em assuntos mais complicados como a política, ética, religião três quartos dos argumentos
baseiam-se em dissipar as aparências do adversário. Cícero estudava o caso e argumento do
adversário com tanto afinco como o seu, e isto tem que ser imitado por todos para chegar à
verdade. Os que sabem apenas do seu lado, sabem pouco do seu lado, pois aquele que não
sabe refutar as opiniões contrárias ou nem sabe quais são, não conhece a opinião oposta, nem
a sua. É preciso então que as pessoas estudem opiniões opostas, de forma independente, sem
os seus professores, mas diretamente dos adversários.

Sem isto, nunca saberá se a sua opinião é a verdadeira ou a falsa, não sabendo o verdadeiro
sentido daquilo que proferem.

Caso não exista adversários das verdades importantes, devemos “criá-los” e dar-lhes fortes
argumentos.

Imaginemos agora que um inimigo da livre expressão argumenta que não é necessário a
humanidade perceba tudo o que foi dito ou que as pessoas comuns sejam capazes de
argumentar, que é apenas suficiente haver uma autoridade capaz de responder por elas. Ainda
assim, o argumento a favor da livre expressão não é derrotado, pois este argumento
reconhece que as pessoas têm de ter uma garantia racional de que as objeções foram
respondidas. E além disso, como hão de ser respondidas se aquilo que precisa de ser
respondido não foi dito ou não se deu liberdade aos objetores de contra argumentar.

Se o público não for familiarizado com as desconcertantes dificuldades e oposições à sua


opinião então pelo menos sejam os filósofos, diz o autor, através da livre expressão de
opiniões opostas. A Igreja Católica fazia precisamente isto, havendo alguns clérigos que se
podia confiar plenamente que contactavam com argumentos opostos. Isto reconhece como é
benéfico saber a posição do inimigo para os professores, mas nega ao resto do mundo.
Permite cultura mental sem liberdade mental.

Nos países Protestantes isto é negado, com cada um sendo responsável pelas suas crenças e
respetiva defesa, além disso, atualmente é impossível esconder os escritos do mundo.

Continuando, havendo apenas a opinião verdadeira sem discussão, esquece-se os


fundamentos e o significado dessa opinião, dizendo apenas palavras vazias de ideias, dizendo-
as como máquina, palavras de “casca inútil”. As diversas doutrinas, quando surgem, os seus
defensores estão cheios de vitalidade e significado, quando há luta e debate, a vitalidade
mantém-se, mas se prevalecer e tornar-se opinião geral, o progresso para, com os que
acreditam nela herdando-a apenas, não a adotando, fica-se apático. Entra-se em declínio do
“poder vivo da doutrina”. “Enquanto o credo está ainda a lutar pela sobrevivência: até os
combatentes mais fracos sabem e sentem aquilo por que lutam”.

Segundo o autor, isto é exemplificado por maior parte dos crentes do Cristianismo, onde o
autor afirma que nem um cristão em mil orienta a sua conduta segundo as leis cristãs.

Surge apenas como máximas éticas dadas por uma sabedoria infalível como regras de
orientação e um conjunto de juízos e práticas do dia a dia, acabado num compromisso entre o
credo Cristão e as tentações mundanas, com o cristão prestando vassalagem ao primeiro e
verdadeira lealdade com o outro. Eles acreditam no que lhes foi dito, mas nunca discutido,
mas sem uma crença viva, pois é apenas hábito as praticarem. Por lado contrário, os primeiros
cristãos não eram assim, sentiam vivamente o seu credo.

Tudo isto advém do facto dos ensinamentos cristãos coabitarem pacificamente em seus
espíritos, não havendo quaisquer efeitos, apenas ouvir palavras gentis e reconfortantes. As
doutrinas religiosas peculiares, fruto do constante debate, são, por outro lado, mais “vivas” no
interior dos seus apoiantes. Enquanto sem inimigo os crentes “adormecem no posto”.

Mas há outras razões para a ausência de discussão: há coisas que é apenas plenamente
quando plenamente vivido e experienciado é que podemos atribuir significado (o autor indica
para lembrar-nos de provérbios que passamos a vida a ouvir, mas quando algo nos acontece
dizemos “se tivesse seguido o provérbio que me diziam não tinha acontecido nada”).

“A tendência falta da humanidade para deixar de pensar sobre uma coisa quando já não é
duvidosa é a causa de metade dos seus erros”.

Será necessário persistir no erro para que as pessoas percebam a verdade? Será que a crença deixa de ser
plenamente vivida quando é aceita pela generalidade? Uma verdade morre quando aceite por todos? O autor
responde que não afirma tal coisa, dizendo que há medida que evoluímos as verdades inquestionáveis
aumenta, com o bem-estar humano podendo ser medido pela quantidade de crenças incontestadas, indicando
que a redução gradual dos limites à diversidade de opinião é inevitável, mas não estamos obrigados a concluir
que só vem daí benefícios: perder a compreensão vivida duma verdade e a necessidade de a explicar a
adversários acaba por não ser suficiente para contrabalançar o benefício de uma verdade universalmente
reconhecida, mas o autor admite que gostava de ver os futuros professores tentarem arranjar uma estratégia
para esta vantagem (um substituto para manter viva a verdade e crença no nosso interior).

Perdemos muitas destas estratégias: dialética socrática, diálogos platônicos, as disputas escolásticas,
necessárias para isto. Na atualidade a argumentação negativa (a que aponta fraquezas numa teoria) morreu, e
até isto voltar, haverá poucos grandes pensadores e uma média intelectual baixa fora das áreas matemáticas.

“Se há quaisquer pessoas a contestar uma opinião dominante, ou que o farão se a lei e a opinião os deixarem,
agradeçamos-lhe por isso (…) fiquemos felizes pelo facto de que há alguém para fazer por nós o que caso
contrário teríamos o dever de fazer”.

Terceiro argumento: As doutrinas em conflito partilham a verdade entre si:


Pode ocorrer que ambas as opiniões partilhem a verdade.

As opiniões populares não palpáveis aos sentidos são frequentemente verdadeiras, mas sem
toda a verdade, separadas das verdades que deviam estar acompanhadas ou restringidas. “O
espírito humano ver tudo de um só ponto de vista tem sido a regra e ver tudo de vários pontos
a exceção”.

Exemplo: As opiniões heréticas por vezes são as verdades suprimidas e procuram reconciliar
com a verdade contida na opinião comum.

“O progresso que devia acrescentar verdades, em geral só substitui uma verdade parcial e
incompleta por outra”, com o novo fragmento da verdade estando mais bem-adaptado à
realidade que o outro. Toda a opinião que detenha um meia-verdade, mesmo com erros, é
preciosa,

É necessário que a verdade impopular tenha defensores, que são tendenciosamente mais
energéticos, e que assim obrigam a prestar atenção a ambas verdades.

No século XVIII, quase todos os intelectuais e seus seguidores sentiam-se encantados com todo
o progresso na civilização, mas os paradoxos de Rosseau obrigou-os, com a sua parte da
verdade, a reagrupar melhor e com mais verdades e menos erros.

A política é também local onde isto acontece, há partidos de ordem e estabilidade e partidos
de progresso ou reforma, ambos saudáveis para a política saudável, até que um se torne os
dois em simultâneo através do alargamento intelectual. Cada um dos partidos deriva o seu
pensamento dos defeitos do outro, com o debate sendo racional. Mas como tudo, a menos
que todas as questões em debate sejam expressas em igual liberdade e talento energético, um
lado da balança irá subir e outro descer constantemente.

A opinião da minoria deve ser encorajada e apoiada, é a opinião negligenciada e o lado do


bem-estar humano que está mais em perigo de não obter o que merece. Só através da
diversidade de opinião é que há uma disputa justa entre todas as partes duma verdade, as
pessoas que são uma exceção à maioria, mesmo que a maioria esteja certa, a minoria que
discorda tem algo que valha a pena ouvir, que a verdade perderia no seu silêncio.

O autor em seguida indica que o Cristianismo é reativo, um protesto contra paganismo e é


mais negativo do que positivo, e mais abstinência do mal que procura pelo bem – “não farás”
predomina ao “farás, é uma doutrina de obediência passiva e submissão a todas as
autoridades.
No Cristianismo, diz John Stuart Mill, não dá grande importância ao aspeto do dever ao Estado
(ao contrário das religiões pagãs (presumo que asiáticas) que o Estado tem um peso tão
elevado que cerca a liberdade do individuo), enquanto o Alcorão que se diz quem peca contra
Deus peca contra o Estado, com a parte do dever ao Estado no Ocidente prevenindo da Grécia
e Roma.

Com isto o Autor defende que apesar de os ensinamentos de Cristo serem tudo o que Cristo
pretendia, o Cristianismo é apenas uma parte da verdade, onde muitas morais não foram
referidas, logo indica que é um erro procurar no Cristianismo uma regra completa para a nossa
orientação.

Para o autor, moldar o espírito e sentimentos apenas pela religião excluindo padrões
seculares, é um erro, dando origem a Pessoas servis e de carácter baixo. Logo o autor acredita
que fontes não cristãs têm que existir lado a lado com o Cristianismo para regenerar a
moralidade da humanidade, e que no Cristianismo tem que haver diversidade de opiniões e
verdades.

A aspiração de tornar meia-verdade a única verdade tem de ser contestada, é algo injusto,
logo cristãos tem que ensinar infiéis a respeitar e vice-versa.

John Stuart Mill reconhece que a livre discussão não cura a tendência para as opiniões se
tornarem facciosas, e por vezes até pode intensificar, mas é quem é o espectador que vence. O
alarmante, para o autor, não é o conflito violento de ideias/verdades, mas sim a supressão de
uma das partes (de uma das metades da verdade). Há sempre esperança enquanto as pessoas
ouvirem ambos os lados e sempre erros quando só presta atenção a um.

A verdade não tem hipóteses de vencer enquanto todas as partes da verdade sejam
igualmente defendidas e ouvidas escutar.

A liberdade de opinião e expressão é condição necessária para o bem-estar da humanidade,


baseando-se então em quatro fundamentos:

 Uma opinião silenciada pode ser, quanto sabemos, verdadeira, nega é prossupor a
nossa própria infalibilidade
 Uma opinião silenciada errada, pode conter uma porção da verdade, é apenas pelo
conflito das opiniões, que a verdade completa vem ao de cima.
 Mesmo que a opinião dominante seja verdade completa, a não ser que seja
contestada, será mantida como um preconceito incompreendido e sem sentimento
sobre seus fundamentos racionais.
 O próprio significado de uma doutrina está em perigo de ser pedido ou enfraquecido,
tornando-se um dogma/crença formal ineficaz para o bem, estorvando o
aparecimento de uma convicção real e sentida.

Livre Expressão de todas as opiniões desde que com moderação não se ultrapasse a
discussão justa:
Em primeiro lugar é impossível fixar esses limites e a experiência mostra que haverá sempre alguém ofendido aquando de um
ataque eficaz e poderoso ou quando um oponente a puxar muito pelo outro lado (que está em dificuldades de responder) lhes
parecerá imoderado, bastando um sentimento forte.

O próprio modo de defender uma opinião é muitas vezes objetável e censurável, mesmo que a opinião seja verdadeira. Ofensas
desse género raramente produzem convicção. A mais grave das ofensas é argumentar sofisticamente, suprimindo factos e
argumentos, descrevendo de forma errada a opinião oposta. No entanto, isto é tanta vez feita por pessoas com “boa-fé” e
competentes que pro vezes há dificuldade em ver a representar tal atitude como imoral.

Geralmente o que se considera como discussão imoderada é o sarcasmo, ataques pessoais, ou outros exemplos, e só merecem
ser denunciadas se tal fosse para serem interditadas em ambos os lados. No entanto, vê-se muitas vezes serem usadas sem
desaprovação contra a opinião não prevalecente.

A pior ofensa é estigmatizar a oposição contrária como pessoas más e imorais, algo que estão suscetíveis por serem minoria sem
influencia. Mas estigmatizar a opinião prevalecente é um risco para a segurança pessoal e até prejudicava a sua própria causa.

Ou seja, em geral as opiniões não prevalecentes só podem ser ouvidas através de moderação linguística e cautela nas ofensas
desnecessárias, enquanto a opinião dominante muitas vezes usa uma vituperação desmedida que impede o lado contrário de
argumentar.

Logo para bem do debate e da verdade e justiça, é preciso restringir a utilização de linguagem vituperativa, mas mesmo que a lei
não tenha esse poder, a opinião deve o fazer, condenando, independentemente do lado, quem use malícia, intolerância, mentira
ou reacionarismo, defendendo a honra de quem merece.

Você também pode gostar