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Em defesa da liberdade de fala

Autores: Thomas Rikelme Soares Figueiredo


Samuel Lourenço Mendes Silva

Este artigo visa abordar um tema essencial para a manutenção de uma sociedade
democrática moderna, a liberdade de fala. O artigo irá abordar os limites
estabelecidos ao direito e suas consequências morais e estruturais com foco na
realidade brasileira e estadunidense, mostrando as diferenças entre as
interpretações legais e sociais em cada país.

Palavras-chave: liberdade, fala, expressão, direito, estado, discurso.


Liberdade de fala é o direito de opinar e expressar ideias sem restrições
governamentais.
Visamos por meio deste artigo abordar os limites impostos ao direito fundamental
que todo ser humano possui por natureza, o direito à fala. Um direito que não pode
ser concedido por nenhum grupo ou governo já que é inalienável e natural ao
homem. Com este texto visamos defender a liberdade com argumentação lógica e
exemplos práticos das situações teorizadas, exercitando nosso direito para defender
o de outrem
Existem duas interpretações base da liberdade de fala. A interpretação de que o
estado deve apenas proteger o direito natural de cada indivíduo em sua totalidade e
a interpretação de que o estado deve limitar e reprimi-lo para manter a ordem social.
A ideia da defesa por completo da liberdade de expressão se baseia muito na
aplicação americana do conceito, onde o direito é protegido pela primeira emenda,
presente na Bill of Rights — documento que declara os direitos do cidadão em
relação ao estado e limita os poderes da federação em relação ao indivíduo — sem
as limitações presentes em diversos países como o Brasil. Nos Estados Unidos não
é possível ser processado ou preso por um discurso considerado inflamatório,
ofensivo ou, como é definido em outros países, “discurso de ódio”.
Uma análise da interpretação americana aponta para o conceito enraizado na
cultura local de liberdade acima de tudo, estabelecida por um povo traumatizado
com a dominação do estado inglês e que visava se distanciar dessa realidade.
Vemos a demonstração deste conceito na frase famosa de George Washington
“Quando a liberdade de fala nos é tirada, então estúpidos e calados seremos
levados, como ovelhas indo para o abatedouro” que foi o primeiro presidente do
país e um dos founding fathers essenciais para a construção sociocultural dos EUA.
A interpretação Em outros países segue um caminho totalmente diferente, impondo
pesadas limitações ao direito. No Brasil, o humorista Rafael Bastos perdeu, em
2011, um processo movido pela cantora Wanessa Camargo em 150 mil reais por
fazer uma piada considerada ofensiva. Um humorista famoso que possui recursos
para pagar o processo e é conhecido o bastante para não ser sufocado pela
polêmica possui, diferentemente do cidadão comum, a possibilidade de resolver a
situação com menos dificuldades, já quando a censura estatal ameaça alguém que
não possui tudo isso a sua disposição a situação se torna muito mais perigosa.
É imoral a tentativa de limitar uma liberdade essencial para todo ser humano sob a
justificativa de proteger a honra de outro indivíduo, visto que todos temos o direito
de nascença à liberdade de expressão, mas o mesmo não pode ser dito sobre a
honra ou o direito de ser protegido, pelo estado, de ofensas. Quando o estado
passa a limitar liberdades essenciais baseando-se em um conceito completamente
dúbio e subjetivo entra-se num perigoso meandro de totalitarismo anti-democrático e
totalitarista.
O renomado autor George Orwell estabelece “Se a liberdade significa alguma coisa,
será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.
Limitar um direito essencial baseando-se nesse conceito arbitrário de que alguém
poderia se ofender é algo perigosíssimo por diversos motivos.
Abre-se precedentes legais para que o estado controle a oposição por meio de
censura.
Pessoas com recursos para contratar advogados ou pagar pelo processo se
tornarão mais livres do que as outras, visto que podem buscar apoio legal para
silenciar discursos dos quais desgostam e terão a capacidade de se defender
legalmente se forem acusados de algo. Enquanto o cidadão que não possui os
mesmos recursos financeiros precisa se manter calado ante o medo de ser
processado.
O instrumento social de mudança mais importante é a fala. Não há como uma
sociedade evoluir se o discurso for controlado, limitado. Não é possível medir a ética
de uma sociedade quando sua moral não é posta à prova. Quando um discurso
amoral é propagado cabe ao indivíduo que enxergue a invalidez do argumento a
partir de seu próprio julgamento. Se o discurso é interpretado como danoso pela
maioria, torne-o mal visto aos olhos do todo sem a necessidade de interferência
estatal. Quando uma sociedade se protege de discursos ofensivos, esta se coloca
numa situação de fragilidade, onde um discurso inflamatório ou radical, por não ser
tratado pelo todo, se torna mais forte por debaixo dos panos.
É também antiético censurar o que é ofensivo. Mesmo que houvesse um consenso
total no que constitui um discurso ofensivo — Que não há — não existem bons
motivos para que o estado interfira no direito de ser ofensivo que o indivíduo possui.
Mesmo que o discurso cause algum nível de mal-estar entre certos grupos o estado
não deve impor censura ao indivíduo.
A ideia de lutar por liberdade é bem clara, deixe que o indivíduo decida o que é
melhor para si. Como já não dizia Voltaire — a frase a seguir nunca foi dita pelo
mesmo, apesar de ser atribuída a ele em diversas fontes — “Posso não concordar
com nenhuma das palavras que disseres, mas defenderei até a morte seu direito de
dizê-las”.
É óbvio que alguém pode dizer algo ofensivo, talvez essa pessoa se torne um pária
social, perca seu emprego ou enfrente outras consequências, tudo sem a
necessidade da intervenção governamental, provando a autonomia do indivíduo.
Por fim percebemos o quão perigoso e delicado é impor limites à uma liberdade tão
fundamental. Obviamente existem limites, mesmo a legislação americana — que foi
citada neste texto como muito libertária e protetora do direito — possui a definição
de call to action (chamado para ação), algo definido pela suprema corte em 1969
como um discurso “direcionado a incitar diretamente ações ilegais e que,
provavelmente venha a causar as mesmas”, algo que constitui, por exemplo, uma
ameaça de morte ou alguém pedindo diretamente que outrem cometa uma ação
ilegal (como em “quero que X mate Y por mim”).
Mesmo que hajam pequenas limitações é importante uma atenção constante por
parte da população para vigiar qualquer tentativa de movimentos sociais ou grupos
políticos que pretendem limitar suas liberdades sob a justificativa da manutenção da
ordem e do bem maior.

e-mail para contato:


thomrik@hotmail.com

Referências:
Globo, Extra
<https://extra.globo.com/famosos/processado-por-wanessa-rafinha-bastos-faz-piada
-com-gravidez-de-camilla-camargo-23382087.html>

Orwell, George, Orwell on freedom - 1st ed. 2018

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