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ATHON ENSINO SUPERIOR


BACHARELADO EM DIREITO

JOSIELMA DRAGO RIBEIRO

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

SOROCABA
2024
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JOSIELMA DRAGO RIBEIRO

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Trabalho apresentado à Athon Ensino


Superior como exigência parcial para
aprovação na matéria Direito Civil I –
Teoria Geral ministrada pela Professora
Doutora Daniele Pavin

SOROCABA
2024
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Liberdade de Expressão

As liberdades podem parecer maiores quando consideradas isoladamente, sem


o controle de algum agente ou elemento externo à vontade do ser humano. Contudo, a
vida em sociedade, notadamente aquelas que envolvem muitos indivíduos e que
funciona de maneira complexa, faz com que tenhamos que renunciar a uma parte dessa
liberdade absoluta em nome de um interesse maior que podemos chamar de equilíbrio.

Temos por necessária a criação de regras claras e tão impessoais quanto possível
para que as relações sociais entre os indivíduos e deles com seus bens e direitos sejam
disciplinadas de forma a manter o que passamos a chamar de ordem. Sendo o Estado,
uma figura social que toma para si o monopólio da criação dessas regras, surge o Direito.

Nas palavras de Miguel Reale:


No caso das ciências humanas, talvez o caminho mais
aconselhável seja aceitar, a título provisório, ou para princípio de
conversa, uma noção corrente consagrada pelo uso. Ora, aos
olhos do homem comum o Direito é lei e ordem, isto é, um
conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social
graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus
membros. Assim sendo, quem age de conformidade com essas
regras comporta-se direito; quem não o faz, age torto.
Direção, ligação e obrigatoriedade de um comportamento, para
que possa ser considerado lícito, parece ser a raiz intuitiva do
conceito de Direito. A palavra lei, segundo a sua etimologia mais
provável, refere-se a ligação, liame, laço, relação, o que se
completa com o sentido nuclear de jus, que invoca a idéia de
jungir, unir, ordenar, coordenar.
Podemos, pois, dizer, sem maiores indagações, que o Direito
corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma
convivência ordenada, pois nenhuma sociedade poderia subsistir
sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade.
É a razão pela qual um grande jurista contemporâneo, Santi
Romano, cansado de ver o Direito concebido apenas como regra
ou comando, concebeu-o antes como "realização de convivência
ordenada".
De "experiência jurídica", em verdade, só podemos falar onde e
quando se formam relações entre os homens, por isso
denominadas relações intersubjetivas, por envolverem sempre
dois ou mais sujeitos. Daí a sempre nova lição de um antigo
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brocardo: ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade está o


Direito). A recíproca também é verdadeira: ubi jus, ibi societas, não
se podendo conceber qualquer atividade social desprovida de
forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra jurídica que não se
refira à sociedade. (REALE: 2001)1

A Reforma Protestante: Durante a Reforma Protestante no século XVI, líderes


religiosos como Martinho Lutero desafiaram as doutrinas da Igreja Católica Romana e
divulgaram suas ideias por meio de escritos, sermões e debates públicos. Este
movimento não só levou à diversificação do Cristianismo, mas também promoveu a
liberdade religiosa e a liberdade de expressão em muitas partes da Europa. Para alcançar
o maior número de fies Martinho Lutero utilizou como instrumento de propagação a
prensa de Gutenberg, para aquela época, a invenção da imprensa com tipos moveis era
uma nova tecnologia que pode ser comparada ao advento da internet e das redes sociais.

A Primavera Árabe: Nos anos 2010, a Primavera Árabe testemunhou uma onda de
protestos e movimentos populares em vários países do Oriente Médio e do Norte da
África, impulsionados em grande parte por meio das mídias sociais e da liberdade de
expressão online. Esses movimentos buscavam reformas políticas, sociais e
econômicas, desafiando governos autoritários e reivindicando os direitos democráticos.

A Constituição Foi criada em um momento de Transição Político-social. Em que


havia muita preocupação em restaurar e garantir Direitos Fundamentais do Indivíduo e
da própria Sociedade, tais como a Igualdade, o Direito de ir e vir, o Direito de Reunião e
Associação, a liberdade de Pensamento e o direito de Expressão. Tudo o que descreve o
artigo 5º da Constituição Federal.

Sobre o Direito de expressão, parece-nos acertado entender que a Constituição,


em sentido figurado, retirou a mordaça que calava o cidadão. Nesse sentido a primeira
escolha e sobre o bem protegido, “falar” qualquer coisa ou ter a liberdade para falar.
Essas expressões não precisam soar como sinônimos.

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O que o Constituinte pretendeu garantir era a liberdade da pessoa dizer o que


sente, o que pensa. Sem que fosse livre a ofensa desmedida, o ódio, a desqualificação e
o abuso.

O Brasil da Ditadura Militar vivia com pouca Liberdade de expressão, pois o


pensamento intelectual, a música, o cinema, a televisão, a imprensa escrita viviam sob
constante censura. Nesse contexto a criatividade andava junto com o risco sendo
exemplos dessa relação:

1. A música Cale-se de Chico Buarque, é um grito desesperado e silencioso por


socorro diante da censura;
2. As matérias Jornalísticas censuradas eram substituídas por Versos de Camões
ou Receitas Culinárias com intuito de informar aos leitores que ali uma notícia foi
censurada.

NOTÍCIA CENSURADA DÁ LUGAR A CAMÕES. Memorial da Democracia. Disponível em: <


http://memorialdademocracia.com.br/card/noticia-censurada-da-lugar-a-camoes >. Acesso
em: 25/0/2024.

Ter liberdade de expressão significa ter o direito fundamental de expressar


livremente opiniões, ideias e crenças sem censura ou restrições impostas pelo governo,
instituições ou indivíduos. Isso inclui a liberdade de falar, escrever, protestar, criticar e se
manifestar de diversas formas, desde que (limite) não infrinja os direitos ou a
segurança de outros.
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Como ensina o Professor Mario Cortella:


“Liberdade não é licença! Eu sou livre para dizer o que eu penso, e tenho
que arcar com as responsabilidades disso. Liberdade de Expressão é
escolha. O fato de eu ser livre não é o que me autoriza a fazê-lo.
Ex: Eu sou livre para dirigir depois de ter consumido bebida alcoólica,
mas eu não tenho licença para isso. Devemos sempre fazer uma
separação entre Opinião e acusação.
Qual o Limite da Liberdade de Expressão?
O Limite é o que a sociedade combinar. Quem constrói o Limite é
conjunto Social
Ex: Nesta casa não se humilha, nesta casa não se conta piada racista,
nesta casa não se fala Palavrão! _ Há mais eu não concordo.... Então não
fica nesta casa.”2
O Brasil apareceu em queda livre no Ranking internacional de Pesquisa como um
país de liberdade de expressão restrita. Esse direito a voz é fundamental para a
democracia e está na Declaração universal de Direitos Humanos da ONU, artigo 19
definida como “a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por qualquer meio independentemente de fronteiras.
Essa garantia de falar sem medo de violência é fundamental.

No Brasil esse direito é garantido na Nossa Constituição, com uma ressalva.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”
A liberdade de expressão prevista no inciso, segundo o STF, representa
tanto o direito de não ser arbitrariamente privado ou impedido de
manifestar seu próprio pensamento quanto o direito coletivo de receber
informações e de conhecer a expressão do pensamento alheio.3

A vedação do anonimato existe para que o sujeito que expressa seu pensamento,
tenha que fazê-lo se identificando e assim respondendo pelo que constitui abuso. Cabe
mencionar que a manifestação anônima não tem proteção constitucional.
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Na sociedade atual, é comum alguém expressar uma opinião reclamando para si


um suposto direito absoluto de “dizer o que quiser”, mesmo que sejam ofensas ou
quaisquer outros absurdos, tudo em nome LIBERDADE DE EXPRESSÃO.

Podemos não concordar as essas ideias dos outros, mas é importante garantir que
as pessoas tenham a liberdade de expressar o que pensam. As palavras carregam um
peso e têm o poder de inspirar e gerar mudanças. Por outro lado, as palavras ferem e
ofendem, por vezes, com gravidade. Por isso, a lei prevê limites e punições, por exemplo,
diante de opiniões racistas, incitação à violência, calúnia, difamação e injúria.

O equilíbrio entre liberdade de expressão e censura acaba sendo um dos grandes


desafios do Estado e da sociedade atuais. Muitos defendem a liberdade de expressão
total, enquanto outros, pedem o regramento estatal como forma necessária de limitação.

Limites da Liberdade de Expressão

A sociedade que tolera os abusos pode vivenciar um efeito paradoxal que, no


pensamento de Karl Popper, se apresenta como um processo de falta de reação à ideia-
pensamento de que se discorda, ou seja, a tolerância ilimitada faz com a ação dos
intolerantes seja permitida e permaneça sem oposição a tal ponto que a própria tolerância
desapareça.

Hoje, na Alemanha, negar que o Holocausto aconteceu é proibido. Fazer a


saudação Nazista com o braço estendidos é crime. Cada vez mais, as opiniões
polêmicas e polarizadas ganham espaço porque geram mais engajamento. Elas fazem
as pessoas passarem mais tempo nas redes sociais é isso vale muito dinheiro. Nas redes
sociais, nem todos querem debater, existem grupos organizados que espalham
desinformação que, às vezes, podem causar tumulto, danos de todo tipo.

As empresas proprietárias das redes sociais começaram a remover conteúdos


ofensivos e que, de maneira geral violam as regras definidas por elas mesmas e pelas
normas estatais como forma de controle dos abusos. Exemplo disso é o que aconteceu
com uma live do ex-presidente Jair Bolsonaro, removida do facebook e do youtube em
outubro de 2022. Quando o então mandatário falou sobre uma suposta relação entre as
vacinas anticovid e a AIDS.
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Algumas perguntas emergem desse contexto:


1. Como lidar com essas situações?
2. O que é melhor, censura contra desinformação ou liberdade absoluta de
expressão?
3. Como identificar cada caso?
O Supremo Tribunal Federal abriu um inquérito contra um suposto “Gabinete do
Ódio” que seria formado por grupos e apoiadores do então Presidente Jair Bolsonaro que
se dedicariam a espalhar fake news e atacar desafetos. Muitos perfis nas redes sociais
foram investigados e suspensos a pedido do Poder Judiciário.

Houve também a polêmica no Festival Lollapalooza 2022 que o TSE classificou as


manifestações de vários artistas durante as apresentações no palco como campanha
política contra Bolsonaro e a favor de Lula, causando indignação de pessoas do meio
musical e até juristas.

As mentiras seriam um dos principais motivos para a desinformação. É o que diz


uma ONG chamada “Artigo 19”, criadora de um ranking dedicado a medir a liberdade de
expressão, colocando o Brasil como destaque negativo, dizendo que, nos últimos cinco
anos, o Brasil caiu da posição de ser um dos países com maiores notas, para ser um país
em meio a uma crise de democracia e de liberdade de expressão, notadamente por sofrer
com: Populismo autocrata, Desinformação, Desigualdade Aguda e Controle tecnológico.

As liberdades de informação e de expressão distinguem-se pelos seguintes


termos: a primeira diz respeito ao direito individual de comunicar livremente fatos e ao
direito difuso de ser deles informado; a segunda destina-se a tutelar o direito de externar
ideias, opiniões, juízos de valor, em suma, qualquer manifestação do pensamento
humano.

O Supremo Tribunal Federal já tratou da liberdade de expressão em diversos


julgados e, nesse contexto trazemos a anotação seguinte:

A Democracia não existirá e a livre participação política não florescerá


onde a liberdade de expressão for ceifada, pois esta constitui condição
essencial ao pluralismo de ideias, que por sua vez é um valor
estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático.
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A livre discussão, a ampla participação política e o princípio


democrático estão interligados com a liberdade de expressão, tendo por
objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também
opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes
públicos, no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida
coletiva.
São inconstitucionais os dispositivos legais que tenham a nítida
finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento
crítico, indispensável ao regime democrático. Impossibilidade de
restrição, subordinação ou forçosa adequação programática da
liberdade de expressão a mandamentos normativos cerceadores
durante o período eleitoral.
Tanto a liberdade de expressão quanto a participação política em uma
Democracia representativa somente se fortalecem em um ambiente de
total visibilidade e possibilidade de exposição crítica das mais variadas
opiniões sobre os governantes.
O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona
somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis
ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas,
condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas
pelas maiorias.
Ressalte-se que, mesmo as declarações errôneas, estão sob a guarda
dessa garantia constitucional. Ação procedente para declarar a
inconstitucionalidade dos incisos II e III (na parte impugnada) do artigo
45 da Lei 9.504/1997, bem como, por arrastamento, dos parágrafos 4º e
5º do referido artigo.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.451, Relator Ministro Alexandre
de Moraes, j. 21-6-2018, p. DJE de 6-3-2019

O Ministro Alexandre de Moraes enfatiza a importância da liberdade de expressão


para o funcionamento saudável da democracia. Para que a democracia funcione bem, é
necessário que todos possam participar ativamente. Isso significa discutir, debater e
expressar diferentes pontos de vista sobre os governantes e as políticas públicas.
O julgador argumenta que leis que tentam controlar ou limitar a liberdade de
expressão são inconstitucionais. Durante as eleições, essa liberdade deve ser
preservada para que os cidadãos possam formar opiniões informadas. A liberdade de
expressão e a participação política se fortalecem quando as opiniões são visíveis podem
ser criticadas. Mesmo opiniões impopulares têm proteção constitucional.
Em resumo, a liberdade de expressão é essencial para uma democracia saudável,
permitindo que todos participem e expressem suas opiniões, independentemente de
concordância ou discordância. O texto conclui que certos dispositivos legais são
inconstitucionais e declara sua inconstitucionalidade.
A Constituição e as Leis são criadas em momentos diferentes e por poderes
diferentes, assim, podem existir leis anteriores a Constituição que a contrariem, bem
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como, podem ser criadas leis posteriores a constituição que por defeitos no processo
legislativo contrariem a constituição Federal.
Em qualquer dos casos a eventual contrariedade de uma lei em face da
constituição é tratada como inconstitucionalidade, ou seja, uma nulidade que deve ser
reconhecida para que sejam evitados prejuízos aos direitos e garantias que a
constituição Federal protege.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.451, Relator Ministro Alexandre de Moraes,
j. 21-6-2018, p. DJE de 6-3-2019.

CORTELLA, Mário Sérgio (Canal do Cortella). Liberdade de Expressão - Mario


Sergio Cortella & Rafinha bastos. YouTube, 11/05/2023. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wO_LBksfVMk

NOTÍCIA CENSURADA DÁ LUGAR A CAMÕES. Memorial da Democracia.


Disponível em: < http://memorialdademocracia.com.br/card/noticia-censurada-da-
lugar-a-camoes >. Acesso em: 25/0/2024.

POPPER, Karl. A sociedade aberta e seus inimigos. Tradução de: Milton Amado.
56. ed. São Paulo: Itatiaia Ilimitada, 1974 in GONÇALVES, Nathália Leal; TAVEIRA
Ana Celuta Fulgêncio. A liberdade de expressão perante o paradoxo da tolerância.
Novos Direitos, Goiânia: Unifan, v.10, n.1, p.1-16, jan.- jun. 2023.

REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25ª ed. São Paulo: Saraiva. 2001.

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