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Fernandes, Raquel
SST História do direito I / Raquel Fernandes
Local: 2020
nº de p. : 11
Apresentação
Iniciamos nosso estudo com um desafio permanente: a definição de Direito. Trata-
se de uma dificuldade, pois, como será possível observarmos nesta unidade,
percepções e costumes humanos são subjetivos, ou seja, são oriundos de
sociedades e pensamentos próprios. E, para que seja possível entendermos o Direito,
será necessário conhecermos a sua história, uma vez que ela é a manifestação de
relações sociais, ideologias e valores, que o integram.
Pode-se dizer que o Direito é reflexo das relações sociais existentes em determinada
sociedade e sempre esteve relacionado com o poder e com o domínio, conforme
estudaremos a seguir.
Assim, nas sociedades pré-modernas (China, Índia, Grécia e Roma), a estrutura social
fez com que o Direito fosse um instrumento de dominação direta, ou seja, o dono
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da terra e os negociadores em mercados eram os detentores do domínio e a eles
cabia exercer o direito. O comerciante não precisava ter relações de parentesco com
organizações familiares ou de clãs para poder negociar no mercado.
O Direito, então, passa a regular os comportamentos sociais, o que faz com que
surjam formas de jurisdição, como juízes, tribunais, advogados, réu, autor etc. Assim,
os comportamentos também são jurídicos, acarretando o aparecimento dos juristas,
os quais são especializados em entender os comportamentos de uma sociedade e
perceber se são adequados ou não.
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O Direito Romano merece destaque em nosso estudo, uma vez que os
desenvolvimentos que aconteceram no Direito, no período romano, exercem forte
influência nos dias de hoje. Ele apresenta um conjunto de princípios e lei utilizados
por Roma e seus domínios. Vamos conhecer mais a respeito na sequência.
O Direito Romano foi aplicado desde a fundação da cidade de Roma, em 753 a.C., até
a morte do imperador Justiniano, em 565 d.C. O sistema jurídico romano constituiu
um dos mais importantes do mundo e até hoje exerce influência em diversas
culturas.
• Período Régio: vai desde a fundação da Cidade de Roma até a República. Nes-
se período, o Direito era baseado nos costumes (chamados de mores);
• Período Republicano: vai desde 510 a.C. até o período imperial com Augusto,
em 27 a.C. No período de Augusto, prevalecia o Direito Sagrado, religioso e a
boa-fé. Esse Direito era comum a todos os povos do Mediterrâneo;
• Período do Principado: é conhecido como o período do Direito Clássico, que
vai do reinado de Augusto até o imperador Diocleciano. Nesse período, há
forte participação dos jurisconsultos, que é como os juristas dos dias de hoje.
Surge a administração da justiça de aplicação particular do imperador;
• Período da Monarquia Absoluta: acontece após o imperador Diocleciano e vai
até a morte do imperador Justiniano. Nesse período, surge o Direito Pós-clás-
sico, o qual é marcado pela ausência de grandes jurisconsultos e pela adapta-
ção das leis à nova religião predominante, o Cristianismo. Ocorre a formação
do Direito Moderno.
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Diante desse contexto histórico, é possível identificar que o Direito está em
movimento com os costumes de uma sociedade e, por isso, não é linear, já que estão
em constante modificação. É por esse motivo que se afirma que o Direito faz parte
da sociologia, da filosofia, da antropologia, da política etc.
Curiosidade
A Declaração Universal do Direitos Humanos traz a ideia de que,
por meio do ensino e da educação, é possível promover o respeito
aos direitos e às liberdades.
Direito contemporâneo
É importante reforçar que o Direito está em constante transformação, além de ser
resultado de fatos históricos. Na atualidade, ele assume a função de regulamentar
as relações sociais e mercantis por meio de um conjunto de regras que nasceram
dos costumes e das organizações sociais de determinada sociedade.
Existem muitas discussões entre juristas sobre ele ser jusnaturalista ou positivista. A
teoria jusnaturalista traz a ideia de que os direitos são inerentes aos seres humanos,
são “direitos naturais”, e não criações de legisladores, tribunais ou juristas. Assim,
direitos não poderiam deixar de existir, uma vez que são universais, imutáveis e
invioláveis. Já a teoria positivista traz a ideia de que os direitos são decorrentes
de ordens normativas, ou seja, são somente aqueles expressos na legislação de
determinada sociedade; normas emanadas pelo Estado. A esse respeito, o Brasil
adotou a corrente da teoria positivista.
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Teoria positivista: Direito decorrente de normas emanadas pelo Estado
Conceitos importantes
Afinal, o que é Direito? Analisando a sua história, percebemos que ele nos protege
do poder arbitrário, proporciona oportunidades iguais e ampara os vulneráveis.
Entretanto, se usado de maneira prejudicial e sem levar em consideração os diversos
contextos existentes em uma sociedade, pode ser instrumento de manipulação que
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frustra as expectativas dos vulneráveis e, por conta de sua complexidade muito
requintada e burocrática, torna-se acessível somente a uma pequena camada da
sociedade.
• O Direito é ciência?
Essa é uma das perguntas que mais causa debate entre os juristas. Nesse
aspecto, é comum ouvir os profissionais dessa área dizendo que as atividades que
desenvolvem são ciência do Direito.
O grande debate que existe sobre ele ser ou não uma ciência envolve o pensamento
de que, se é considerado ciência, torna-se empobrecido, uma vez que será visto
como uma estrutura mecânica, estagnada e vazia.
Sobre a ciência do Direito, há a ideia de que um discurso pode ser construído como
uma forma de dominação da ideologia jurídica, uma vez que poderá ser um discurso
conectado e inteligente. Porém, esse pensamento leva o jurista para um Direito
reduzido; para uma pequena parcela do que ele é.
Nesse sentido, Hans Kelsen, por exemplo, apontou que a norma jurídica, advinda do
Estado, é o que constitui o Direito e deve ser analisada por uma ciência do Direito.
Aqui, o pensamento seria de que não se deve fazer juízo de valor sobre as normas
serem boas ou ruins, pois essa ciência se resumiria somente em estudar essas
normas. Você percebe que esse pensamento não faz sentido diante do que estamos
vendo até agora sobre o Direito?
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Dialética
Existe outra discussão acerca da característica do Direito sobre o fato dele ser
dogmático ou zetético. Quando o seu enfoque é dogmático, há o entendimento de
que as situações devem ser de determinada maneira, sem muitas chances para
discussões, sendo diretivo, ligado a conceitos fixos. Nesse caso, ele se preocupa
em possibilitar uma decisão e orientar uma ação. Já quando o enfoque é zetético,
entende-se que determinada situação será questionada, havendo especulação e,
assim, indo na direção de entender o que é aquela situação, aquele ser ou aquela
coisa.
Nesse aspecto, vale conhecer o exemplo que Ferraz Júnior traz em seu livro
Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação.
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Seu questionamento é, pois, finito. Assim, enquanto a Filosofia se revela
como um saber especulativo, sem compromissos imediatos com a ação,
o mesmo não acontece com a Teologia, que tem de estar voltada para a
orientação da ação nos problemas humanos em relação a Deus. (FERRAZ
JÚNIOR, 2016, p. 20)
Fechamento
Como foi possível observarmos nesta unidade, a definição de Direito não é tão
simples e a sua história pode ser importante para se conseguir apreender o seu
conceito. Um dos primeiros passos para a sua compreensão é analisar o seu
desenvolvimento histórico, no seu acontecer desde as sociedades da antiguidade.
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Referência
FERRAZ JUNIOR, T. S. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação.
8. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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