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Mestrado em [área]

Semestre 1/4
Disciplina:

Tema da aula: Data:

Referência Bibliográfica

LEFF, Enrique. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia


participativa e desenvolvimento sustentável. x. ed. Local: Editora, ano.

Fichamento

● Sobre o autor

Base teórica marxista que cria modelos em forma de binômios e essas teorias se
enfrentam. Criam teorias que se enfrentam, como por exemplo capital e trabalho e a partir
da explicação oposicionista.

Materialismo historicamente construído que é o que alimenta as estruturas de classe ao


longo das próximas gerações. Em Marx o binômio é burguesia/proletariado, Leff puxa
esse binômio para a área ecologia/cultura. O autor trabalha esses conceitos a partir de
uma base sociológica levando em conta o paradigma histórico.

Leff aborda muito a dicotomia racionalidade econômica x racionalidade ambiental.


● Objetivos
○ .
● Conceitos

A racionalidade ambiental caracterizar-se-ia pela reunião de três aspectos. Primeiro, e


desde uma perspectiva técnica, a procura de uma ecotecnologia, baseada nos ritmos e
ciclos ecológicos. O exemplo que melhor ilustra isso seria, segundo o autor, a
agroecologia (Altieri, 1999). Segundo, e desde uma perspectiva humanista, uma produção
destinada à satisfação das necessidades básicas, a qual seria contrária a lógica do
mercado. Por último, e é este o aspecto mais importante a ressaltar na posição de Leff,
uma racionalidade social diferente da mercantil-produtivista. Essa nova racionalidade
deveria basear-se numa reapropriação social da natureza a partir de formas de
democracia participativa direta não a tradicional democracia representativa. Por sua vez,
essa gestão direta dos recursos naturais estaria baseada em práticas tradicionais
resultantes das cosmovisões e culturas que têm um comportamento mais harmônico
(sustentável) com a natureza.

● Principais referenciais
○ .
○ .
● Metodologia
○ .
○ .
● Anotações

Fichamento

Os princípios de racionalidade ambiental reorientam as políticas científicas e tecnológicas


para o aproveitamento sustentável dos recursos visando a construção de um novo
paradigma produtivo e de estilos alternativos de desenvolvimento. (Leff, 2009 p.30)

Estas práticas produziram, como consequência, a erosão e a diminuição da produtividade


natural de muitas terras, afetando as condições de subsistência das populações rurais.
(Leff, 2009 p.31)

A vinda do colonizador e suas práticas manufaturadas de cultivo e exploração afetaram


profundamente as culturas que viviam em várias regiões. Muitos desses grupos sociais já haviam
desenvolvido seus próprios meios de cultivo e exploração das suas terras, munidos de saberes
ancestrais e conhecimentos centenários, sua forma de exploração era bem menos predatória. Isso
sem falar nos benefícios da exploração que ficaram todos com os colonizadores, cabendo aos
explorados a fome, miséria e doença.

As transformações culturais geradas por este modo de exploração foram sepultando uma
enorme quantidade de conhecimentos práticos elaborados durante séculos de
experiência produtiva pelas comunidades autóctones destas regiões (Leff, 2009 p.33)

Esse uso indiscriminado dos recursos naturais por pessoas sem conhecimento da região gerou o
que o autor chama de “irracionalidade produtiva”, onde se explora sem medida e isso gera
crescentes custos ambientais.

O subdesenvolvimento é o resultado dos processos de degradação ambiental que sofrem


os países do terceiro mundo devido a sua dependência tecnológica do exterior e a
deformação do seu modelo de desenvolvimento, sujeito às condições históricas impostas
pela expansão da racionalidade econômica em nível nacional e internacional (Leff, 2009
p. 35)

Este "modelo" de desenvolvimento econômico produziu desequilíbrios tanto no nível


nacional como no regional e local, gerando efeitos de desintegração cultural e
degradação ecológica. (Leff 2009 p.35)

Como resultado disso houve desequilíbrio no desenvolvimento bem como no aproveitamento de


recursos naturais e avanço da pobreza de forma absoluta, basta que vejamos o quanto os centros
urbanos muitas vezes estão inchados enquanto as áreas rurais são povoadas por latifundiários
que subempregam pequenos produtores que não têm mais como garantir seu sustento. O modelo
também faz com que práticas tradicionais de cultivo e aproveitamento de recursos naturais se
percam em detrimento de soluções mais rápidas e que gerem maior fonte de renda.

A dificuldade de incorporar as condições culturais e ambientais destes países


dependentes à racionalidade econômica e tecnológica dominantes mostra a
impossibilidade de eles alcançarem um desenvolvimento autodeterminado e sustentado.
(Leff, 2009 p. 37)

Este processo de “mau desenvolvimento“ deformou o aparelho produtivo para satisfazer


as demandas de uma esfera de alto consumo. (Leff, 2009 p.37)

A má gestão e o mau uso dos recursos naturais alimentaram uma máquina que atendia apenas a
uns enquanto deixava outros à míngua. O abuso desses recursos foi prejudicial aos povos que já
viviam naquelas áreas e ainda provocou o efeito que podemos chamar de “deseconomia”.
Devemos pensar nesse termo no contexto em que tiramos de um país subdesenvolvido seu
recurso, sua capacidade de desenvolver-se por conta própria para alimentar países que já estão
em desenvolvimento, esgotaram seus próprios recursos e buscam em outros locais os meios para
continuar crescendo.

A dependência cultural reforça os efeitos da dependência econômica. (Leff, 2009 p.38)

A aceitação passiva destes padrões tecnológicos (por falta de uma política eficaz de
assimilação e produção autônoma de tecnologias) levou os países "subdesenvolvidos" a
adotar estratégias de desenvolvimento subordinadas à inércia geral do desenvolvimento
capitalista, gerando uma crescente polarização entre nações e grupos sociais. (Leff, 2009
p.38)

O investimento do excedente disponível em técnicas intensivas em capital induziu a um


processo econômico incapaz de satisfazer a demanda crescente de empregos e impeliu a
perda do poder aquisitivo das classes trabalhadoras e a maior pauperização da
população urbana e rural marginalizada do processo econômico formal. (Leff, 2009 p.39)

A dependência tecnológica repercute na diminuição do trabalho assalariado,


incrementando os lucros do capital. (Leff, 2009 p.40)

Cria-se um ciclo vicioso onde não importa quantos se qualifiquem, sempre haverá zonas de baixo
desenvolvimento e locais a serem explorados para fomentar o crescimento de outros. Quem mais
sofre são os que estão do lado fraco, muitas vezes que possuem conhecimentos diferentes do que
o mercado espera e costumes que não se encaixam no mundo dito “globalizado”. Fato é que
muitos tomaram para si o modelo exploratório feito pelos colonizadores e deixaram de buscar por
soluções sustentáveis e tecnologias que servissem para garantir um futuro melhor para os seus,
hoje, muitos pagam o preço por essas escolhas.

A degradação ambiental não é um resultado direto da pressão demográfica sobre a


capacidade de carga dos ecossistemas, mas das formas de apropriação e usufruto da
natureza. (Leff, 2009 p.42)

Sem poder discernir a contribuição específica da tecnologia para a destruiçãoda base de


recursos e degradação ambiental, esta se manifesta nos problemas ambientais mais
críticos da região e na perda da fertilidade dos solos. (Leff, 2009 p.43)

A destruição ecológica dos países tropicais não consiste só na perda de recursos naturais
e espécies biológicas, mas também na alteração de funções ecológicas reguladoras, das
quais depende o “suporte vital” dos ecossistemas e que são fundamentais para a
produtividade sustentada dos processos silvoagropecuários com valor econômico. (Leff,
2009 p.46)

A crise ambiental não só se manifesta na destruição do meio físico e biológico, mas


também na degradação da qualidade de vida, tanto no âmbito rural como no urbano.
(Leff, 2009 p.47)

O saber técnico e científico é um recurso raro, que deve criar-se e administrar-se para
impulsionar o desenvolvimento da produção sustentável dos recursos tropicais. (Leff,
2009 p.49)

O homem precisa aprender a gerenciar os saberes técnicos e científicos sem esquecer-se dos
saberes tradicionais. É preciso levar em conta a contribuição desses povos, valoriza-los para
incluir esses saberes e promover uma troca de experiência, um diálogo que consiga hibridizar os
saberes científico e local.
O processo capitalista de produção, fundado na propriedade privada dos meios de
produção e na tendência para a maximização dos lucros privados no curto prazo levou a
reverter os custos de produção da empresa para a sociedade, contaminando o meio
ambiente e deteriorando as bases de sustentabilidade do processo econômico. (Leff,
2009 p.51-52)

Moramos em uma zona tropical que adotou o sistema de exploração de bens de zonas
temperadas. Nosso modelo econômico é importado, não foi feito para condizer com a realidade da
América Latina. Foi assim no início da colonização e segue assim, na grande maioria dos casos,
até hoje. Apesar dos investimentos em pesquisa e tecnologias que valorizam os saberes
tradicionais e a contribuição de quem vive nessa área, pouco se falou em interromper ou diminuir a
exploração predatória. Muito pelo contrário, os índices de poluição, desmatamento e degradação
aumentam a cada dia mais, fruto de uma ganancia desmedida que não vê os prejuízos que vai
acarretar.

Esta degradação ambiental, crítica para a reprodução do próprio sistema capitalista, não
pode ser controladas nos países do Norte, os quais transferem seus efeitos mais
negativos para os países do Sul, gerando um processo progressivo de aquecimento e
mudanças climáticas globais que põem em risco o equilíbrio ecológico do planeta. (Leff,
2009 p.54)

A integração dos processos naturais e tecnológicos aponta para uma racionalidade


produtiva alternativa aplicável ao desenvolvimento das forças produtivas das regiões
tropicais. (Leff, 2009 p.55-56)

Leff aponta que esse aproveitamento dos recursos naturais se dará quando houver articulação dos
níveis produtivos complementares: natural e tecnológico. Neste ponto, mais uma vez o autor
mostra que a tecnologia tem que trabalhar a favor de cada região, respeitando suas
particularidades.

A investigação científica aplicada ao conhecimento do potencial produtivo destes recursos


deve ser a base para desenvolver investigações tecnológicas que deem como resultado a
criação de um sistema de técnicas apropriadas para sua transformação. (Leff, 2009 p.56)

Pequenas modificações nas condições do meio ou das comunidades originais podem


transformar-se em perturbações importantes da sua estabilidade. (Leff, 2009 p.62)

O elemento perturbador mais importante dos ecossistemas naturais atuais é o processo


de acumulação capitalista. (Leff, 2009 p.63)

Na atualidade não existe nenhum ecossistema que não seja afetado pela acumulação
capitalista, seja por servir-lhe diretamente de substrato material, seja por sua articulação
com outras formações sociais e pelas interconexões entre sistemas ecológicos. (Leff,
2009 p.64)

A utilização da natureza para uma formação social na perspectiva de um desenvolvimento


sustentável deve ser congruente com os processos de reprodução de seus recursos.
(Leff, 2009 p.71)

A história econômica moderna não nos legou um conhecimento suficiente para implantar
estar estratégias de aproveitamento dos recursos naturais. (Leff, 2009 p.73)

Os colonizadores que chegaram as terras tropicais não estavam em busca de aprender sobre os
meios utilizados pelos povos que já estavam aqui. Os povos originários da América Latina foram
tratados como populações inferiores de forma geral, sua principal serventia era como mão de obra
escrava, além disso, seu conhecimento sobre o terreno e os locais onde se podiam encontrar
minerais preciosos também foi útil aos exploradores, ademais, o colonizador importou tudo o que
conhecia sobre exploração de recursos naturais de um modelo que já caminhava para o abuso
desses recursos.
A ocupação do território nas florestas tropicais deve se assentar num processo de
reconhecimento, revalorização e assimilação do meio. (Leff, 2009 p.74)

A geração e a seleção de alternativas tecnológicas para a exploração e aproveitamento


dos recursos disponíveis num processo de desenvolvimento social como este é,
certamente, matéria para um complexo processo de criação, assimilação e aplicação de
conhecimentos científico-tecnológicos, assim como do seu cruzamento com saberes e
práticas tradicionais. (Leff, 2009 p.80)

O conceito de produtividade econômica contrapõe-se ao de produtividade ecotecnológica.


(Leff, 2009 p.81)

É impossível haver preservação ambiental e evolução respeitando os limites naturais em um


conceito de produtividade econômica. Esta última pressupõe a exploração dos recursos naturais e
humanos com foco único de gerar a mais-valia, portanto, ainda não há comprovação de situação
em que a produtividade ecotecnológica gere produtividade econômica ou de algum meio termo
entre as duas finalidades.

As estratégias de ecodesenvolvimento fundamentam-se, pois, numa reorganização


produtiva, que integra os níveis de produtividade natural e tecnológica. (Leff, 2009 p.81)

A apropriação real da riqueza gerada nas zonas rurais pelas próprias comunidades
dependerá, fundamentalmente, da participação que tenham os produtores diretos na
organização dos processos produtivos. (Leff, 2009 p.84)

Apesar de haver essa necessidade de tomada de posse dos produtores dos processos produtivos,
a caminhada até alcançar esse patamar é longa, principalmente pela falta de interesse em produzir
meios científicos/tecnológicos para se alcançar essa realidade. Com um modelo produtivo que
prioriza a tecnologia aplicada a meios intensivos em capital, a ecotecnologia acaba sendo deixada
à margem.

Quanto mais complexo seja o ecossistema, as formas de assentamento humano e o


desenvolvimento de atividades produtivas serão mais dependentes da aquisição
progressiva de conhecimento a respeito do potencial produtivo de suas múltiplas espécies
que permitam uma integração harmônica das práticas produtivas com o meio. (Leff, 2009
p.88)

O manejo sustentável dos recursos deve fundamentar-se no conhecimento das inter-


relações complexas do meio físico e ecológico. (Leff, 2009 p.93)

Uma racionalidade produtiva fundada em princípios de produtividade ecotecnológica


precisa desenvolver os meios e instrumentos necessários para a sua realização. (Leff,
2009 p.97)

As diferentes culturas que povoaram as Américas geraram diversas estratégias produtivas


e um conjunto de ecotécnicas para o manejo múltiplo e integrado de recursos naturais.
(Leff, 2009 p.119)

Mais uma vez Leff aponta a importância da valorização dos saberes tradicionais, neste ponto,
porém, ele vai além e afirma que esse conjunto de saberes de cada povo em regiões diferentes faz
parte de uma “cultura ecológica” que está integrada às relações sociais e às forças produtivas das
comunidades rurais.

As temporalidades das atuais práticas de aproveitamento e a intensidade de uso dos


recursos que o sistema econômico mundial imprime ultrapassam os ritmos de
transformação da natureza das comunidades indígenas tradicionais. (Leff, 2009 p.120)

O tempo é diferente dentro de cada cultura, em um contexto exploratório de larga escala seria
impossível que comunidades tradicionais conseguissem acompanhar. Porém, gerar resultado mais
rápido está longe de significar resultados duradouros. Leff mostrou com vários exemplos que a
exploração em larga escala beneficia apenas uns enquanto que outros além de perder os recursos
ainda precisam lidar com as consequências da exploração.

A cultura converte-se, assim, em parte integral das condições gerais da produção, no


sentido de que a preservação e reinvenção das identidades étnicas e dos valores
culturais, assim como a gestão participativa das próprias comunidades em seu ambiente
é condição para a conservação ecológica da base de recursos para um desenvolvimento
sustentável. (Leff, 2009 p.121)

Quando todos passaram a colaborar e trocar experiências sobre suas formas de manejo, a
integração entre os conhecimentos promoveu o intercâmbio de saberes e fez com que os
territórios e as possibilidades fossem ampliadas. Aqui não há imposições, como percebe-se no
modelo implementado a força para geração de lucro, neste formato a troca de saberes coletivas é
em prol do coletivo.

Estes sistemas de saberes, conhecimentos e práticas entrelaçam os complexos sistemas


taxonômicos de diversas culturas. (Leff, 2009 p.122)

A organização cultural de cada formação social regula a utilização dos recursos para
satisfazer as necessidades dos seus membros. (Leff, 2009 p.123)

É a organização cultural que faz derivar as normas jurídicas, propriedades de recursos e divisões
de trabalho. Esse intercâmbio de saberes faz com que a roda que move a sociedade gire não
apenas para fazer funcionar as estruturas metafísicas e não palpáveis (como os conjuntos de leis
e moral), mas também faz com que o palpável (a divisão de trabalhos e posse de terras) seja
executado dentro de um determinado grupo.

A natureza converte-se, assim, num recurso econômico e num patrimônio cultural. (Leff,
2009 p.124)

A cultura ecológica, em seu sentido atual, pode definir-se como um sistema de valores
ambientais que reorienta os comportamentos individuais e coletivos, relativamente às
práticas de uso dos recursos naturais e energéticos. (Leff, 2009 p.124)

A expansão internacional da economia induziu processos de destruição ecológica e


étnica, pelo fato de a natureza e a cultura não terem valores contabilizáveis dentro da
racionalidade econômica prevalecente. (Leff, 2009 p.126)

Nesse ponto o autor é incisivo ao salientar que a cultura está excluída dos paradigmas da
economia. Ele considera cultura, nesse contexto, não apenas como o conceito geral da palavra,
mas também como os saberes de manejo de recursos, valores e práticas tradicionais passados
pelos povos de geração em geração. Para a economia, nada disso importa, o que ela visa é o
lucro, a produção em larga escala e a exploração desmedida desses recursos.

A preservação das identidades étnicas, dos valores culturais e das práticas tradicionais de
uso dos recursos aparece como condição de uma gestão ambiental e do manejo
sustentável dos recursos naturais em escala local. (Leff, 2009 p.127)

Muitas vezes, o contato da população autóctone com os processos de modernização gera


uma reafirmação de seus valores tradicionais; mas noutros conduz à negação de sua
identidade étnica e valores culturais, pelo desejo de assimilar a cultura dominante. (Leff,
2009 p.128)

A racionalidade ambiental gera espaços de produção sustentada, fundados na gestão


participativa dos povos e na capacidade ecológica de sustentação da base de recursos de
cada região. Estes processos estruturam um sistema de recursos naturais culturalmente
definido e geram um conjunto de práticas de produção e consumo sustentáveis. (Leff,
2009 p.129)

A degradação ambiental gerada pela racionalidade econômica e tecnológica dominante


converteu-se numa das maiores preocupações sociais do nosso tempo. (Leff, 2009 p.143)

A internalização dos problemas ambientais na racionalidade social vai além da


incorporação de “variáveis” ou “dimensões” ambientais a processos de planificação e
tomada de decisões, dominados pela setorização da administração pública e pela
compartimentação disciplinar do saber. (Leff, 2009 p.145)

As atividades de investigação científica e desenvolvimento tecnológico encaminharam-se


para a inovação de processos produtivos adaptados à disponibilidade dos “fatores
produtivos” de diferentes regiões e ao desenho de tecnologias “limpas” ou “apropriadas”
para reduzir o grau de contaminação, mais que para a construção dos conhecimentos e
técnicas que sirvam de suporte a uma racionalidade produtiva. (Leff, 2009 p.146)

O homem não está preocupado em investir nas tecnologias que possam mudar o formato de
exploração baseado na racionalidade econômica. Mesmo com a ampliação da capacidade
tecnológica vinculada à questão ambiental, o intuito é sempre fazer com que os recursos
explorados durem mais e não mudar a forma de exploração para algo mais sustentável.

O domínio da natureza através da ciência e da tecnologia aparece assim como a via


privilegiada de acesso a um “reino da liberdade” que ultrapassaria as fronteiras das
necessidades que surgem do princípio de escassez de recursos, o qual fundamenta a
ciência econômica e a ideologia da civilização moderna. (Leff, 2009 p. 147)

Esta racionalidade ambiental encontra o seu suporte material não só nos novos valores e
direitos do ambiente, mas também na articulação de processos ecológicos, tecnológicos e
culturais que constituem um paradigma de produtividade ecotecnológica. (Leff, 2009 p.
149)

O autor aponta que com o desenvolvimento da ideia de racionalidade produtiva, o


ecodesenvolvimento abre caminho para gerar novos estilos de desenvolvimento
econômico.

Os camponeses e as comunidades indígenas - cujos ecossistemas, valores culturais e


práticas tradicionais foram destruídos no processo de “modernização” destes países -
veem-se forçados a empreender uma série de práticas não sustentáveis para a sua
sobrevivência. (Leff, 2009 p. 154)

Segundo o autor, para construir uma racionalidade ambiental que supra a necessidade social dos
insumos ambientais é necessário o desdobramento em três processos: O primeiro trata sobre uma
questão mais cultural e aborda os conhecimentos étnicos para realizar o manejo dos recursos
naturais, segundo Leff “a preservação de sua identidade étnica e sua autonomia cultural contribui
para a conservação e desenvolvimento do potencial produtivo de seu ambiente.” (p.159) O
segundo aborda a produtividade tecnológica como forma de tornar as adaptações ecológicas mais
eficientes para assim aproveitar ainda mais as propriedades de certos recursos, por último, a
produtividade tecnológica cujo objetivo, defende Leff, é promover uma racionalidade ambiental.

A transformação cultural e tecnológica dos ecossistemas para a produção dos valores de


uso socialmente necessários vai constituindo um sistema de recursos naturais. (Leff, 2009
p.162)

Podemos definir um sistema tecnológico apropriado como aquela tecnoestrutura que,


caracterizada por sua adequação e integração às condições impostas pelo nível ecológico
de produtividade. (Leff, 2009 p.163)

O sistema de recursos naturais e tecnológicos define-se através das relações de poder


entre os sistemas de valores culturais e as condições políticas e econômicas com as
quais as comunidades se debatem pela apropriação de seus recursos naturais. (Leff,
2009 p.164)

Leff reforça, a todo momento, a importância dos saberes tradicionais enquanto patrimônio e mais
ainda, como um caminho para a construção de uma nova realidade de aproveitamento dos
recursos, segundo ele “a valorização do patrimônio natural e cultural conduz a construção de uma
nova racionalidade produtiva, que incorpora os processos culturais e ecológicos ao processo
produtivo, como condição para alcançar um desenvolvimento sustentável. (Leff, 2009 p.166)

O conceito de produtividade ecotecnológica aparece como uma utopia que mobiliza a


ação social para a construção de uma racionalidade produtiva alternativa, a partir dos
processos materiais das significações culturais, dos conhecimentos científicos e das
forças produtivas potencialmente disponíveis. (Leff, 2009 p.167)

A dinâmica econômica gerou um progressivo processo de degradação ambiental,


acompanhado de uma distribuição social desigual dos custos ecológicos. (Leff, 2009
p.171)

O autor ainda defende que a nova realidade do pensamento de aproveitamento dos recursos
naturais fundamenta-se “no conceito do ambiente com um potencial produtivo, mais que como um
custo do desenvolvimento e como lugar de depósito de resíduos.” (Leff, 2009 p.171)

A produção e distribuição da riqueza nesse novo paradigma produtivo dependeria das


formas de acesso, propriedade e apropriação dos recursos, assim como da inovação nas
formas alternativas de produção e consumo. (Leff, 2009 p.174)

Apesar de ter havido avanços metodológicos e conceituais notáveis, estes não se


inseriram nas novas políticas públicas para se conseguir um ordenamento ecológico das
atividades produtivas e um manejo sustentável dos recursos. (Leff, 2009 p.177)

Pela falta de uso desses avanços metodológicos no sentido de repensar a exploração dos
recursos naturais é que a forma de retirar esses insumos permanece a mesma. Ainda pior é ver
que a dependência econômica dos países subdesenvolvidos/ em desenvolvimento persiste, isso
leva a um endividamento externo, o que gera ainda mais pressão sobre os ritmos de exploração
dos recursos nesses locais, pensemos no contexto brasileiro, mas também não podemos esquecer
de outras realidades como por exemplo a Índia, que quase não suporta mais o contingente de
população que possui, além de ser um dos países com maior disparidade social, mas que continua
avançando tecnologicamente.

Apesar dos esforços para construir um conceito de capital natural que internalize as
externalidades socioambientais no cálculo ambiental, a economia de mercado é incapaz
de dar critérios racionais para o investimento de recursos limitados, num horizonte de
tempo maior. (Leff, 2009 p.179)

A economia da contaminação avalia a degradação ambiental como equivalente a uma


“quantidade de recursos que tem de se destinar para devolver o ambiente ao seu estado
natural”. (Leff, 2009 p.181)

Na produtividade econômica a mentalidade sustentável está voltada para uma perspectiva


economicista do ambiente. O foco não é a verdadeira sustentabilidade, mas sim fazer com que o
meio continue produzindo insumos suficientes para garantir a exploração predatória pelo maior
tempo possível. Esse fator, Leff aponta, é limitante da capacidade produtiva de um crescimento
econômico a curto e médio prazo. (Leff, 2009 p.182)

O custo do esgotamento dos recursos e da degradação do ambiente é analisado em


termos do gasto necessário para proteger os ecossistemas, assim como para reciclar os
subprodutos e resíduos dos processos produtivos e de consumo. (Leff, 2009 p.183)

O autor ainda aponta que os custos ambientais gerados pelo processo de desenvolvimento
irracional e não sustentável não são internalizados, ou seja, não são levados em consideração
pela perspectiva da racionalidade econômica ou por um sistema de planificação centralizada. (Leff,
2009 p.185)

Os mecanismos de mercado são insuficientes para gerar condições de crescimento


econômico. (Leff, 2009 p.186)

Como solução para esse problema, Leff propõe uma política de fortalecimento das comunidades
para assim fomentar o surgimento de uma globalidade e modernidade alternativas, portanto, o
desenvolvimento sustentável necessitaria de um “novo campo de concertação entre o Estado e os
agentes econômicos e os grupos sociais. (Leff, 2009 p.187)

As políticas ambientais deverão compreender novos instrumentos capazes de avaliar os


efeitos ecodestrutivos conjugados de diferentes agentes sociais e processos produtivos.
(Leff, 2009 p. 189)

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