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Desenvolvimento Econômico, Sustentabilidade e Meio Ambiente

John Lennon Lima e Silva1

A realização do debate sobre crescimento econômico e preservação do meio ambiente se


tornou mais frequente nas últimas décadas. A importância dessa discussão ganhou
notoriedade sobretudo, após a culminância de graves crises ambientais e sociais,
decorrente do processo de desenvolvimento urbano e tecnológico, assim como o aumento
exacerbado do consumo e a busca por novas fontes de energia. O que de fato enaltece
essa problemática é a grande dificuldade que os países têm tido em conseguir desenvolver
políticas que equilibrem o desenvolvimento econômico e o crescimento sustentável com
preservação do meio ambiente.
Desde as pautas criadas nas reuniões onde as nações passaram a dialogar sobre
essa questão, foi se percebendo a grande dificuldade de lhe dar principalmente com o que
Alvez e Martirne (2015) refletem em seu trabalho. O “tripé” discutido por eles, mostra o
quanto se tornou difícil conciliar nas agendas, principalmente das nações desenvolvidas,
novas perspectivas de consumo, preservação e bem-estar social. Esse debate, segundo
eles, desde o século XIX ganhou novos rumos sobretudo partindo do crescimento
demográfico advindo da urbanização e industrialização. Nesse momento, a economia
passou a ser focada em oferecer uma produção para o grande mercado que se consolidava,
porém ampliou-se as diferenças sociais, e aumentou consideravelmente o uso de recursos
não renováveis.
A relevância dos encontros para se discutir o futuro do planeta, se dá também pelas
mudanças climáticas no último século. A queima de combustíveis fosseis acelerou o
processo de aquecimento do planeta e originou o chamado efeito estufa, e com ele, uma
nova demanda de problemas ocasionados sobretudo pela displicência das nações em
respeitar parâmetros sobre a emissão de gases para a atmosfera terrestre. A situação atual
obrigou todos a ampliar o olhar sobre essas questões, e com isso, renovar os acordos para
uma ação sustentável. O grande impasse gerado aqui, veio principalmente sobre o viés
econômico, pois o interesse do grande capital financeiro usa prerrogativas que se limitam

1
Historiador, especialista em história contemporânea e mestrando em Psicologia Social pela
Universidade Federal do Pará – Brasil
ORCID - https://orcid.org/0000-0001-8059-0538
a diminuição do desenvolvimento de suas nações, além da queda dos lucros advindos da
exploração dos mercados consumidores.
Deste modo, Alvez e Martine sem indagam se de fato o tripé: Economia, sociedade
e meio ambiente seriam a fórmula do desenvolvimento da sociedade moderna, e
questionam como esse equilíbrio parece ainda ser um grande desafio para as políticas
ambientais. Assim, de tripé, essa perspectiva passaria a um enorme trilema no século
XXI, trazendo consigo o abismo de diferenças ocasionadas pela má gestão dos recursos
em pró do lucro. Como crescer sem destruir? Como desenvolver o bem-estar da sociedade
sem que isso culmine no fim de florestas, rios e culturas primordiais? Esses
questionamentos seriam bem mais elucidados se não fosse a grande barreira da não
conscientização. A sociedade do consumo e do prazer pela posse está cada vez mais
seduzida pela satisfação momentânea, e transformam necessidades em mera cobiça por
comprar, usar, descartar etc. A preocupação por um planeta onde as próximas gerações
possam usufruir das riquezas naturais que possuímos, se materializa nas catástrofes
antrópicas: Desmatamento, morte de rios, quebra de barragens de dejetos entre outros.
Sobre isso, mostra-se presente a enorme necessidade de uma reeducação
ambiental e formação crítica sobre as questões ambientais. A formação cidadã precisa ir
além das demandas éticas e morais comuns, assim como é necessário se ampliar uma
abordagem pedagógica visando suprir a falta dessa conscientização sobre o planeta e a
urgência em ajuda-lo. De fato, é dever dos educadores propor alternativas que possam se
manifestar em uma ordem prática e participativa de auxílio ao meio ambiente.
Pensando nisso, Souza (2015) nos mostra o quanto pode ser presente o papel da
educação nessa mudança de pensamento e postura, partindo do ambiente escolar. Para
ele, é sempre necessário incluir em todas as demandas educacionais, a reflexão sobre essa
problemática e para isso, o mesmo aborda sobre o dialogo possível sobre a disciplina
história e o meio ambiente, ressaltando como uma área rica nessa formação crítica das
ações humanas e suas consequências, pode desenvolver um trabalho capaz de articular
tempo x meio ambiente. A escola vem se tornando muitas vezes o palco de primeiro
contato nessa renovação de pensamento sobre a natureza e o homem e como se pode a
partir de pequenas ações, assumir uma conduta de respeito e preservação. Pensamento
sustentável e ação cidadã é o desafio dos educadores do novo milênio, e revela um quadro
importante dessa realidade: quanto mais se reeduca ambientalmente, mais a próximas
gerações poderão usufruir desse bem-estar.
O momento pelo qual o planejamento econômico passou a ser direcionado para o
crescimento sustentável, nos mostra que as luzes vermelhas foram acessas e que medidas
emergenciais devem ser tomadas. A conduta da produção em larga escala e do consumo
exagerado de matéria prima não renovável, mostra a face mais desafiadora da
globalização e sua postura obsessiva por lucro e rentabilidade financeira. O desrespeito
pela dignidade humana e ambiental chega em lugares que deveriam emanar a
conscientização do desenvolvimento sustentável, como a Amazônia, por exemplo, que
indiscutivelmente se tornou objeto de cobiça das grandes corporações e objetificação da
riqueza. Essa corrida pela exploração da riqueza amazônica levanta uma problemática
que muitas vezes é colocada de lado aos olhos da justiça social, onde a propriedade a terra
de populações tradicionais é violada e consequentemente tem seu modo de vida e cultura
destruídos.
Essa conduta de desrespeito se potencializou nos conflitos do sertão amazônico,
que historicamente foi construída a base de sangue de inocentes e de ativistas que se
prontificaram a defender o interesse de seu povo e seu lugar. Podemos colocar aqui a luta
de Chico Mendes e da missionaria Dorothy Stang, assassinados a mando de pessoas
ligadas a terra e ao controle financeiro local. No filme Amazônia em Chamas (1994),
podemos acompanhar as ações de Chico Mendes em pró da terra, contra a elite financeira
exploratória, ressaltando o cotidiano dos trabalhadores na floresta, que muitas vezes
deixavam suas terras natais em busca de uma vida melhor em meio a mata, mas tinham
suas vidas controladas pelos abusos dos grandes proprietários. Chico é um dos
personagens que se apresentam como agente conscientizador da realidade sofrida que
muitas famílias viviam, mas que passa ser alvo de escarnio e ódio por quem o vê como
uma ameaça aos negócios. Chico não foi o primeiro e nem o último que teve sua história
interrompida pelo processo predatório do capital e obviamente sua luta não foi esquecida
e tão pouco apagada.
Isso nos mostra o reflexo dessa problematização entre crescer e desenvolver,
sempre ligada a um interesse pelo capital que mata, pune, desmata e destrói. Precisamos
participar mais desse debate e criar uma narrativa para o futuro que se apresenta tão
sombriamente em relação a natureza. As histórias de Chicos e Dorothys precisam ser
espelhos do descaso e ganancia que a floresta vem se tornando.
REFERENCIAS

CARVALHO, N. L. de; KERSTING, C.; ROSA, G.; FRUET, L.; BARCELLOS, A. L.


de. Desenvolvimento sustentável x desenvolvimento econômico. Monografias
Ambientais, Santa Maria, v. 14, n. 3, p. 109-117, dez. 2015. Quadrimestral.

FRANCO, José Luiz de Andrade. A história ambiental no Brasil e seus clássicos.


Soc.estado, Brasilia, v.18 n, 1-2, Dec. 2003.

MARTINE G, ALVES JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé
ou trilema da sustentabilidade? Rev. bras. estud. popul. 2015;32(3):433-460.

SOUZA, Francisco. História e meio ambiente: um diálogo possível e necessário.


PERSPECTIVA, Erechim. v. 39, n.148, p. 123-132, dezembro/2015.

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