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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 3.445 DO DIA 19/11/2003

MATERIAL DIDÁTICO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E
SUSTENTABILIDADE

Impressão
e
Editoração

31 3667-2062
www.faved.com.br
2

SUMÁRIO
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ............................................................................. 3

UNIDADE 2 - A RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA: HISTÓRICO E


ABORDAGEM DE PROGRESSO SUSTENTÁVEL .......................................... 5

UNIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...................................... 8

UNIDADE 4 - VIVER DE FORMA SUSTENTÁVEL ......................................... 11

UNIDADE 5 - PASSOS PARA SE CONSTRUIR UMA SOCIEDADE


SUSTENTÁVEL ............................................................................................... 13

UNIDADE 6 - RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DOS SERES


VIVOS .............................................................................................................. 14

UNIDADE 7 - MELHORAR A QUALIDADE DA VIDA HUMANA .................... 17

UNIDADE 8 - CONSERVAR A VITALIDADE E A DIVERSIDADE DO


PLANETA TERRA ........................................................................................... 23

UNIDADE 9 - PERMANECER NOS LIMITES DA CAPACIDADE SUPORTE


DO PLANETA TERRA ..................................................................................... 33

UNIDADE 10 - MODIFICAR ATITUDES E PRÁTICAS PESSOAIS ................ 37

UNIDADE 11 - PERMITIR QUE AS PESSOAS CUIDEM DO SEU PRÓPRIO


MEIO AMBIENTE ............................................................................................ 39

UNIDADE 12 - GERAR UMA ESTRUTURA NACIONAL PARA A


INTEGRAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAÇÃO ...................... 42

UNIDADE 13 - CONSTITUIR UMA ALIANÇA GLOBAL ................................. 48

UNIDADE 14 - APLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS DESCRITOS - AÇÕES


PARA UMA VIDA SUSTENTÁVEL ................................................................. 52

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 78
3

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO

Como definição, desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento


capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o
desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
O enfoque principal de todo o desenvolvimento sustentável consiste em
modificações de comportamentos e a aquisição de novas tecnologias para
melhorar a qualidade de vida para todos e conservar o meio ambiente. É
preciso compreender que conservação não é o oposto de desenvolvimento,
mas para isso é necessário assumir compromissos com a nova ética
sustentável e, acima de tudo, colocar em prática seus princípios.
A Gestão e Planejamento Ambiental é uma grande aliada nesse
processo de conscientização ecológica e mobilização das organizações, e o
setor público tem enorme responsabilidade para que o desenvolvimento
sustentável dê certo, pois está diretamente envolvido na formulação e
cumprimento das leis tanto para os setores públicos como privados.
O planeta Terra tem seus limites, e o crescimento populacional aliado ao
consumismo irresponsável vem provocando impactos ambientais negativos. A
vida sustentável exige que nos tornemos mais conscientes dos efeitos de
nossas decisões sobre as sociedades, que entendamos que somos parte de
uma grande comunidade de vida.
Medidas legais, sociais, econômicas e técnicas devem ser integradas no
planejamento e ação visando a sustentabilidade. Os programas educacionais e
campanhas informativas têm um papel fundamental de orientar as pessoas a
essa nova ética.
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Buscou-se aqui fazer um levantamento dos passos que direcionem para


uma vida sustentável e, é claro, como as comunidades do Planeta Terra são
diferentes, é possível que se faça uma adaptação seguindo ações e princípios
básicos de conservação aliada ao desenvolvimento econômico.
Os princípios aqui descritos e suas respectivas ações nos põe a refletir
sobre os cuidados que devemos ter com as outras pessoas e o respeito com
todos os outros seres que fazem parte do Planeta Terra.
As questões aqui levantadas devem ser consideradas para assegurar o
progresso da humanidade, e serem encaradas como desafios a todos aqueles
que levam a sério a necessidade de caminhar ao encontro da sustentabilidade.
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UNIDADE 2 - A RELAÇÃO HOMEM-NATUREZA:


HISTÓRICO E ABORDAGEM DE PROGRESSO
SUSTENTÁVEL

Os problemas ambientais atuais como aquecimento global,


desmatamentos, cultura consumista entre tantos outros começam a surgir no
momento em que o homem se posiciona como “Dominador da Natureza”. Com
esta mentalidade podia-se tirar o máximo possível de recursos naturais,
acelerar o desenvolvimento econômico irresponsável e deixar espalhado pelo
planeta os resíduos desse processo produtivo, um depósito de lixo atmosférico,
aquático, terrestre, cósmico.
No entanto, essa relação do homem com o seu meio ambiente (que
caminham juntos desde a origem da humanidade), nem sempre foi tão
devastadora. A ligação íntima com o meio natural, através de rituais, mitos,
tornava a natureza e o homem a mesma coisa. A intervenção no meio era
respeitosa, mesmo que devido ao temor da vingança divina, como Deus-Sol,
Deus-Chuva, e outros.
Há mais ou menos 2600 anos atrás, na Grécia Antiga, as teorias dos
pré-Socráticos inclinaram-se ao estudo da natureza de maneira racional, pois
esta tinha relação direta com os seres.
Mas com o surgimento das Cidades-Estado Gregas, a discussão sobre
natureza foi substituída pela discussão do comportamento humano (ética,
política, costumes). Para completar, na Idade Média, o Cristianismo distancia o
espírito da matéria, ou seja, a relação homem-natureza e o Renascimento, com
o Antropocentrismo, favorece a perda de integração com a natureza.
A ruptura dessa ligação espiritual com a Mãe-Terra, separando o homem
da natureza e o desejo pelo poder e dinheiro foram ganhando espaço e
moldando uma nova forma de civilização.
No século XIX, Darwin com sua ousada Seleção Natural, aproxima a
natureza do homem e, no século XX, a Ecologia mostra a necessidade de
revalorizar a integração humana da sua natureza interior com a natureza
exterior.
6

A discussão ecológica entra em cena quando se faz necessária achar


alternativas entre progresso e meio ambiente, ou seja, um progresso
sustentável. Ecologia e economia caminham juntas, promovendo uma análise
dos recursos disponíveis e seus custos/benefícios.
A atual visão ecológica apresenta uma base técnica, racional e lógica
buscando oportunidades de crescimento econômico com responsabilidade
ambiental.
Uma outra questão que afeta diretamente o meio ambiente é o
crescimento populacional. No início da era Cristã, a população no mundo era
cerca de 250 milhões. Em 1850 alcançou 1,1 bilhão de pessoas e 3 bilhões em
1965. Hoje, somos aproximadamente 6,5 bilhões, sendo que a previsão para
2012 são 7 bilhões de indivíduos, podendo chegar em alguns anos a 12
bilhões.
Como esse aumento enorme do número de vidas humanas poderá ser
sustentado sem causar prejuízos ao planeta? (não nos esquecendo que já
degradamos e poluímos o suficiente para que a nossa qualidade de vida esteja
afetada). Claro que não é pelo nosso modo de vida atual e também não o é por
meio das políticas rotineiras de empreendimentos.

O crescimento populacional aliado ao consumismo irresponsável vem


provocando impactos ambientais negativos. No entanto, devemos observar que
o ritmo do desenvolvimento capitalista não é igual em todos os países, sendo
que alguns consomem exageradamente e outros não tem o que pôr no prato
para se alimentar.
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Assim não se pode comparar o consumo de um americano com o de


um africano, que em sua maioria, consome o mínimo. Apesar desse vasto
assalto à natureza, centenas de milhares de pessoas lutam em meio à
pobreza, sem o mínimo de qualidade de vida, sem água potável e uma
alimentação suficiente para nutrir as necessidades vitais.

Devemos ter o cuidado de não homogeneizar a relação homem-


natureza, atribuindo a culpa de todos os problemas ambientais de forma
igualitária. Temos que lembrar que essa relação acontece diferentemente ao
redor do planeta e é influenciada por vários fatores como classe social, cultura,
economia, etc.
No entanto, não podemos ignorar que estamos pressionando o planeta
Terra até os limites de sua capacidade. Desde a revolução industrial, o
crescimento populacional vem aliado ao do consumismo. Isso tem causado
enormes impactos ao meio ambiente, desde poluição atmosférica
principalmente pelos gases metano e gás carbônico, como poluição do ar, solo,
mananciais de água e oceanos afetando diretamente a saúde dos humanos e
outras espécies.
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UNIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o


desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.

Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de
harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação
ambiental.
O desenvolvimento sustentável tem como convicção que as pessoas
podem modificar comportamentos quando percebem que isso resultará em
alguma melhoria, pessoal e para a comunidade. Se desejarmos realmente
cuidar do planeta construir uma melhor qualidade de vida para todos,
precisamos de valores, economias e sociedades diferentes da maioria que
existe no mundo hoje.
O enfoque é: conservação não é o oposto de desenvolvimento. Enfatiza
que a conservação engloba tanto a proteção quanto o uso racional dos
recursos naturais, sendo fator fundamental para o sucesso dos povos a
9

obtenção de uma vida digna e para a garantia de bem-estar das gerações atual
e futuras.
Primeiro é necessário assegurar um amplo e profundo compromisso
com uma nova ética sustentável e colocar em prática seus princípios. Em
segundo lugar, integrar conservação e desenvolvimento: a conservação para
limitar as nossas atitudes à capacidade da Terra, e o desenvolvimento para
permitir que as pessoas possam levar vidas longas, saudáveis e plenas em
todos os lugares.
Para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado, temos que
reconhecer que os recursos naturais são finitos e que o planejamento é
essencial, pois desses recursos dependem a existência humana, a diversidade
biológica e o próprio crescimento econômico.
É de vital importância o desenvolvimento econômico para países mais
pobres, mas não é possível que os modelos de crescimento sejam os dos
países industrializados.
Os países do Hemisfério Norte, que possuem apenas um quinto da
população do planeta, consomem 70% de energia, 75% dos metais e 85% da
produção de madeira mundial e ainda detêm quatro quintos dos rendimentos
mundiais.
É curioso o relato que, segundo contam, Mahatma Gandhi faz ao ser
perguntado se, depois da independência, a Índia perseguiria o estilo de vida
britânico. Ele responde: “(…)a Grã-Bretanha precisou de metade dos recursos
do planeta para alcançar sua prosperidade; quantos planetas não seriam
necessários para que um país como a Índia alcançasse o mesmo patamar?”
Assim, para que o desenvolvimento sustentável aconteça de fato, deve haver
redução do uso de matérias-primas e a busca de alternativas ecológicas
viáveis, como reciclagem, reutilização, entre outros.
A Gestão e Planejamento Ambiental é uma grande aliada nesse
processo de conscientização ecológica e mobilização das organizações, pois
busca a melhoria constante dos produtos, serviços e ambiente de trabalho,
levando em conta o fator ambiental. Além de estimular a qualidade do
ambiente, também colabora na redução de custos, como desperdício de água,
energia e matérias-primas.
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Segundo Barbieri “Os termos administração, gestão do meio ambiente,


ou simplesmente gestão ambiental serão aqui entendidos como as diretrizes e
as atividades administrativas e operacionais, tais como, planejamento, direção,
controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter
efeitos positivos sobre o meio ambiente, quer reduzindo ou eliminando os
danos ou problemas causados pelas ações humanas, quer evitando que eles
surjam.” (BARBIERI, José Carlos. GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL –
Conceitos Modelos e Instrumentos).
Sabemos que o setor público tem grande responsabilidade na
consolidação do desenvolvimento sustentável, pois define leis e normas que
estabelecem critérios ambientais que serão (supostamente) cumpridos tanto
pelos órgãos públicos como privados. Também tem a função de fiscalização,
por isso precisa ser coerente ao comprometer-se com o princípio de
sustentabilidade, adequando suas ações à ética socioambiental.
Sustentável é um termo usado com diversas combinações, e é preciso
diferenciá-las aqui para entendermos sua abrangência. Quando dizemos uso
sustentável aplica-se somente aos recursos renováveis em quantidade
compatível com sua capacidade de renovação. Desenvolvimento sustentável
tem como definição melhorar a qualidade de vida humana dentro da
capacidade suporte dos ecossistemas. E economia sustentável é produto de
um desenvolvimento sustentável.
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UNIDADE 4 - VIVER DE FORMA SUSTENTÁVEL

Viver de forma sustentável depende da aceitação do dever da busca de


harmonia com as outras pessoas e com a natureza. E isso requer uma
mudança drástica para a maioria das pessoas.
A vida sustentável exige que nos tornemos mais conscientes dos efeitos
de nossas decisões sobre as sociedades, que entendamos que somos parte de
uma grande comunidade de vida. Mudar hábitos não é tarefa fácil, exige
esforço, dedicação, aperfeiçoamento e ética.
Mas como sugerir essa mudança quando muitos vivem na penúria, sem
os elementos básicos da vida? Precisamos de um novo tipo de
desenvolvimento que melhore rapidamente a qualidade de vida dos menos
afortunados.
O planeta Terra tem seus limites e para viver dentro desses limites,
admitindo que aqueles que hoje têm menos passem a ter mais, duas coisas
são necessárias: reduzir o crescimento populacional e estabilizar e reduzir o
consumo de recursos dos povos mais ricos.
A vida sustentável deve ser o novo padrão de indivíduos, comunidades,
nações, mundo. A mudança deve partir de todos e os programas educacionais
têm grande responsabilidade nas campanhas informativas para a difusão
dessa ética.
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O progresso na direção da sustentabilidade tem sido lento devido à ideia


de que conservação e desenvolvimento são polos opostos. Medidas legais,
sociais, econômicas e técnicas devem ser integradas no planejamento e ação
visando a sustentabilidade.
Muito do que há por ser feito, tem abrangência mundial e requer uma
resposta mundial.
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UNIDADE 5 - PASSOS PARA SE CONSTRUIR UMA


SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

O objetivo é o desenvolvimento que proporcione melhor qualidade de


vida humana e que, ao mesmo tempo, conserve a vitalidade e diversidade do
planeta Terra. Pode parecer utópico, mas é factível.
As sociedades humanas diferem entre si, por essas razões, as ações e
princípios a seguir devem ser adaptados a cada comunidade. Os caminhos
podem ser diferentes, mas o objetivo é o mesmo: uma sociedade sustentável.

Princípios da Sociedade Sustentável


A regra básica é que a humanidade não deve tomar da natureza mais do
que ela é capaz de repor. Isto significa ter estilos de vida e caminhos para o
desenvolvimento que respeitem e funcionem dentro dos limites da natureza.
Não é necessário deixar os muitos benefícios da tecnologia, mas a tecnologia
também tem que funcionar dentro de tais limites. É um passo ao futuro e não
uma volta ao passado.
O primeiro princípio é o que proporciona base ética para os outros. Os
quatro princípios seguintes definem critérios e os quatro últimos, os caminhos a
seguir para se chegar à sociedade sustentável, a nível individual, local,
nacional e internacional.
Esses princípios nos fazem refletir sobre os cuidados que devemos ter
para com as outras pessoas, o respeito e o cuidado com a natureza. Muitas
culturas e religiões do mundo têm reconhecido isso há séculos.
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UNIDADE 6 - RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE


DOS SERES VIVOS

É um princípio ético e significa que o desenvolvimento não pode ocorrer


em detrimento de outros grupos ou de gerações futuras. Deveríamos ter como
objetivo a partilha justa de benefícios e custos do uso de recursos e da
conservação do meio ambiente.
Toda a vida na Terra faz parte de um grande sistema interdependente
que influencia e que está sujeito aos componentes como rochas, água, solo e
ar. O prejuízo de uma das partes afeta o todo. Essa ética reconhece a
interdependência das comunidades humanas e o dever de cada um com seus
semelhantes e com as gerações futuras. Temos responsabilidades com as
outras formas de vida que compartilhamos com o Planeta.
Conseguir apoio para a ética de viver de forma sustentável é importante
porque está moralmente correto e sem ela o futuro da humanidade está em
risco. Os resultados de cada um podem combinar-se num todo para haver
resultados globais.
A introdução dessa ética requer muitos apoios, inclusive das religiões do
mundo e de grupos preocupados com a natureza e os princípios que deveriam
guiar as relações entre as pessoas. Tais alianças são oportunas e adequadas.
Temos direito aos benefícios da natureza, porém esses não estarão
disponíveis se não cuidarmos do sistema que os fornecem. Além disso, todas
as espécies e sistemas da natureza merecem respeito.
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O respeito à natureza fica muito evidente em sociedades que vivem em


contato com a natureza e em consonância com suas tradições antigas de
cuidados para com ela.
Ações prioritárias
A proteção dos direitos humanos e do restante da natureza é uma
responsabilidade de âmbito mundial, que transcende as fronteiras culturais,
ideológicas e geográficas. A responsabilidade é tanto coletiva quanto individual.
Abaixo, algumas ações para serem divulgadas e aplicadas à filosofia da
ética mundial:
 Estabelecer verdadeira comunicação entre líderes religiosos e
pensadores, filósofos, líderes de organizações envolvidas com a
conservação e o desenvolvimento, políticos, escritores aliados aos
princípios de conduta humana;
 Mobilizar pessoas através das organizações não-governamentais
humanitárias preocupadas com o meio ambiente;
 Estabelecer novas coalizões a nível nacional e ligadas a uma cadeia
internacional simples e pouco dispendiosa através da qual haverá
informação mútua do progresso de cada um. Poderiam ser chamados
grupos como WWF, UICN (União Internacional para a Conservação da
natureza), entre outros;
 Os governos deveriam adotar um comprometimento com a ética
mundial pela vida sustentável e definir respectivos direitos e
responsabilidades. Também deveriam incorporar esses princípios em
sua legislação nacional ou nas Cartas Constitucionais;
As ações a serem realizadas devem incluir todos os setores da sociedade:
 O ensinamento dos pais aos filhos para agir com respeito às outras
pessoas e espécies;
 Incorporação da ética mundial no trabalho dos educadores;
 Envolvimento das crianças na mudança de atitude;
 Utilização dos meios de comunicação para inspirar pessoas ao respeito
pelo próximo e natureza;
 Ampliação do conhecimento em relação aos ecossistemas e sua
capacidade suporte;
 Avaliação pelos advogados das implicações legais da ética mundial;
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 Novas tecnologias e filosofias empresariais e econômicas para


implementar a nova ética;
 Um trabalho simultâneo de políticos, legisladores e administradores para
avaliar as mudanças e introduzi-las;
A introdução da ética mundial é um trabalho lento e árduo. Muitas
pessoas não perceberão a necessidade de mudar e outras resistirão às
mudanças, por pensarem que trazem uma ameaça aos seus interesses
pessoais, portanto precisamos de mecanismos para superar os obstáculos
mais difíceis.
A criação de uma organização mundial poderia garantir a observância da
ética mundial por todos os países. Poderia ser um movimento independente,
comprometido com a ética e fazendo o possível para divulgá-la e evitar que
houvesse violações. O primeiro passo seria definir o que seriam as violações à
ética.
Essas ações devem levar à criação de códigos de conduta que
introduzam com a ética mundial no contexto cultural de cada sociedade.
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UNIDADE 7 - MELHORAR A QUALIDADE DA VIDA


HUMANA

É o principal objetivo do desenvolvimento, e torna possível os seres


humanos obter autoconfiança, dignidade, satisfação. O crescimento econômico
é um importante componente do desenvolvimento, porém não deve ser um
objetivo isolado. Alguns objetivos das pessoas são universais, tais como vida
longa e saudável, educação, acesso aos recursos necessários para um padrão
de vida digno, liberdade política, garantia de direitos humanos e de proteção
contra a violência. O desenvolvimento só é verdadeiro quando melhora a nossa
vida em todos os aspectos.
Os indicadores de desenvolvimento mostram que muitos países de menor
renda tiveram melhorias em alguns indicadores. No entanto, as necessidades
básicas de alimentação, moradia e saúde ainda não são satisfatórias.
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De acordo com o novo Índice de Pobreza Multidimensional (MPI), o número


de pessoas consideradas pobres no mundo chega a 1,7 bilhão de pessoas. O
Níger é o país com maior proporção de pobres no mundo (92,7%), seguido da
Etiópia (90%), Mali (87,1%) e República Centro-Africana (86,4%). (Dados da
BBC – 14/07/2010)
Embora a produção mundial de alimentos tenha crescido, o aumento está
concentrado onde há excesso, enquanto a fome espalha sofrimento e morte
em países onde há carência.
O analfabetismo e o desemprego escravizam o pobre à miséria. A
qualidade de vida depende de oportunidade e capacidade de se ter um lugar
na comunidade.

O desemprego e o subemprego ainda são graves problemas de alguns


países, e resulta em perda de recursos humanos, provocando inquietação
social e insatisfação pessoal. Os países mais pobres e mais endividados são
os que têm maior dificuldade para o desenvolvimento humano e são os que
mais necessitam dele. O aumento de pressão sobre os recursos da natureza,
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especialmente nos países mais pobres, causa degradação o que vem a anular
perspectivas a longo prazo.
Muitos países não podem (ou não querem) investir em programas
sociais ou ambientais nos níveis necessários. Muitas são as causas da falta de
recursos financeiros. Faz-se necessário maior auxílio financeiro internacional
(com fiscalização) para fins sociais e para conservação e recuperação da
natureza e dos recursos naturais essenciais. A ajuda na área social é mais
importante do que a ampliação dos recursos financeiros (pelo menos no
primeiro momento). O cancelamento da dívida e incentivos à exportação
também são um caminho.
Todos os governos devem rever suas prioridades orçamentárias e
muitos deveriam redistribuir riquezas que possuem para financiar o
desenvolvimento humano e os cuidados para com o meio ambiente. As
políticas para amparar ou recuperar a economia são, portanto, essenciais para
os países de baixa renda. Uma vez que todas as economias são baseadas nos
recursos naturais e sistemas de sustentação da vida, medidas e políticas
sociais e econômicas devem ser complementadas e devem conservar o meio
ambiente e impedir a perda dos recursos naturais.
Políticas sociais dirigidas adequadamente se fazem necessárias, pois
sabemos que a relação aumento do Produto Interno Bruto pode não ser
sinônimo de melhor qualidade de vida. Por exemplo, a riqueza de alguns
países de alta renda não protegem os indivíduos da violência, drogas, doenças
entre outros.
Os países de maior renda terão como meta especialmente o
desenvolvimento humano. Atingido tal objetivo, o principal desafio é estender
qualidade de vida para todos, para isso é necessário redução do consumo de
energia e de recursos. Também deverão diminuir a emissão de gases
poluentes do efeito estufa e outros. É uma difícil tarefa, especialmente
mantendo níveis de emprego e a atividade industrial.
Nenhuma nação, que passe por um desenvolvimento sustentável ficará
isenta de sofrer amplos ajustes. E estes ajustes devem começar dando ênfase
na melhoria da qualidade de vida humana. Um dos ajustes poderia ser a
redução dos gastos militares para mínimo necessário à segurança. Isso não é
tarefa fácil, mas deveria ser feito pelo interesse das pessoas do mundo todo. O
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primeiro passo é assegurar aos governos que a segurança de suas fronteiras e


a ordem interna podem ser mantidos com menor investimento e que sua
própria economia se beneficiaria com esta mudança. Já os países que ganham
com vendas de armamentos teriam que ser incentivados a investir em outros
setores.

Ações prioritárias
Redirecionar as prioridades do desenvolvimento é uma estratégia para
melhorar a qualidade de vida as pessoas de forma a proporcioná-las:
 Acesso aos recursos necessários para um padrão de vida digna em
bases sustentáveis;
 Vida longa e saudável com nutrição de qualidade;
 Educação que permita cada pessoa explorar seu potencial intelectual e
se torne capaz de contribuir para a sociedade;
 Oportunidade de empregos que sejam compensadores.
A melhoria da qualidade de vida depende também do aumento e
manutenção de produtividade, qualidade do ambiente e da estabilização da
população humana e de recursos.

Ações imediatas para os países de menor renda


 Serviços básicos de saúde e educação para todos;
 Complementação de renda; subsídios par alimentação; programas
especiais de nutrição; programas de conservação e serviços de
educação que serão mais detalhados em outros itens;
 Aumentar o crescimento econômico para acelerar o desenvolvimento
humano aliado a conservação ambiental. Uma das estratégias é a
abertura de mercados nacionais;
 Abertura de mercados internacionais;
 Investimento em ciência, tecnologia, educação e treinamento;
 Destinação de mais recursos para áreas rurais;
 Incentivo à educação e saúde pública com programas de nutrição para
escolas, por exemplo;
 Especial atenção às comunidades nativas. A tomada de decisões deve
acontecer em conjunto com estas comunidades;
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 Investimento para melhorar o plano institucional e regulador de


administração do meio ambiente;
 Assegurar à mulher condições de participar plenamente no processo de
desenvolvimento nacional;
 Oportunidades de emprego para aumento de renda. A industrialização
deve ser implementada de forma a salvaguardar o meio ambiente;
 Incentivo ao crescimento de pequenos e médios negócios;
 Transferência de tecnologia de países mais avançados para viabilizar
uma industrialização que agrida menos o meio ambiente;
 Controle da situação do meio ambiente, saúde e educação.

Ações para os países de maior renda


Nesses países as pessoas desfrutam de um alto padrão de vida material
que não é sustentável em termos globais.
O desafio para estes países também é grande. Devem-se encontrar
meios para garantir a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzir o
consumo de recursos, o uso de energia e seu impacto no meio ambiente.
Também têm a obrigação de ajudar os países de menor renda a atingir o
desenvolvimento de que necessitam.
Os governos deveriam adaptar as políticas nacionais de
desenvolvimento para assegurar a sustentabilidade. Os itens abaixo são ações
que poderiam contribuir para isso:
 Melhoria no padrão de vida dos mais pobres;
 Reduções na poluição das águas e do ar e, principalmente, impor
restrições à emissão dos gases do efeito estufa que contribuem para a
mudança climática;
 Conservação da diversidade biológica e cultural;
 Informações ao público e campanhas educativas voltadas à
sustentabilidade;
 Novas filosofias de relações internacionais econômicas, políticas e de
comércio que possam ajudar países mais pobres a atingir seu
desenvolvimento;
 Progresso na conservação e utilização de energia, bem como mudança
para fontes de energia renováveis;
22

 Campanha para reciclagem e menor perda de materiais na produção;


 Industrialização com tecnologia menos ou nada poluente;
 Usos de meios de comunicação como Internet, telefones e outros ao
invés de viagens a negócio.
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UNIDADE 8 - CONSERVAR A VITALIDADE E A


DIVERSIDADE DO PLANETA TERRA

A conservação somente proporcionará benefícios duradouros se estiver


integrada com formas corretas de desenvolvimento.
Deve incluir providências no sentido de proteger a estrutura, as funções
e a diversidade dos sistemas naturais do planeta. Para isso devemos:
 Conservar os sistemas de sustentação da vida.
São processos ecológicos que determinam o clima, eliminam resíduos
do ar e água, regula o fluxo de água, reciclam elementos essenciais, permitem
a autorrenovação do ecossistema. Enfim, são estes sistemas que mantêm o
planeta adequado para vida.
As atividades humanas estão provocando mudanças radicais nesses
processos através da poluição global e destruição ou modificação dos
ecossistemas. De acordo com modelos climáticos, a temperatura média da
Terra deve aumentar 1ºC até 2025 e 3ºC antes do final do século.
Pode não parecer muito, mas pode fazer mudanças consideráveis, por
exemplo, regiões climáticas vão mudar, assim como os índices de precipitação.
Haverá aumento do nível dos oceanos e intensificação de secas e tempestades
anormais.
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Acompanhado essas consequências do efeito estufa, também temos a


eliminação da camada de ozônio que contribui para novas ameaças mundiais.
Fora os velhos problemas de poluição das águas, do solo, desmatamentos de
florestas e várzeas, represamento e canalização da água corrente e introdução
de espécies não-nativas.
Os ecossistemas costeiros estão se deteriorando rapidamente devido ao
controle deficiente do desenvolvimento urbano, industrial, comercial, turístico,
agrícola e a falta de controle da disposição dos resíduos.
 Conservar a biodiversidade
Diversidade biológica é a variedade total de classes genéticas, espécies
e ecossistemas. Está em contínua mudança. À medida que a evolução traz
novas espécies, novas condições ecológicas causam o desaparecimento de
outras. Isto sempre ocorre, pois a natureza é mutável, mas as atividades
humanas vêm acelerando o esgotamento e a extinção das espécies e
modificando as condições para a evolução. A diversidade biológica deve ser
conservada porque todas são componentes de sustentação da vida e, por
princípio, merece respeito, independentemente da sua utilização pela
humanidade.
As plantas e os animais, evoluindo por centenas de milhares de anos,
tornaram o planeta adequado para as formas de vida que conhecemos hoje.
Ajudam a manter o equilíbrio químico da Terra e a estabilizar o clima.
Sabemos pouco acerca da importância dos diferentes ecossistemas e
das espécies que os compõem. E todas as sociedades, rurais e urbanas,
continuam a lançar mão de vários ecossistemas para satisfazer suas
necessidades.
A diversidade biológica é fonte de toda riqueza, nos fornece o alimento,
muitas das matérias-primas, variedades de bens e serviços. O material
genético usado na agricultura, medicina e indústria vale bilhões de dólares ao
ano. E muitas pessoas gastam bilhões de dólares para apreciarem a beleza da
natureza através do turismo e recreação.
Embora não saibamos exatamente quantas espécies existam, alguns
especialistas calculam que, se persistir a tendência atual, pode haver redução
de até 25% das espécies do mundo até meados deste século. Muitas espécies
estão perdendo uma parte considerável de sua variação genética.
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 Assegurar o uso sustentável de recursos renováveis


Recursos renováveis são a base de todas as economias, incluem o solo,
a água, produtos que retiramos de seu estado natural, tais como madeira,
castanhas, plantas medicinais, peixe, carne e couro de animais selvagens,
espécies domesticadas criadas pela agricultura, aquicultura e silvicultura; e
ecossistemas, tais como os dos campos, florestas e águas. Se forem usados
de forma sustentável, tais recursos renovar-se-ão perpetuamente.
No entanto, devido à atual insustentabilidade de grande parte da pesca,
exploração de florestas, entre outros, o futuro de muitas comunidades está
ameaçado.
Erosão, irrigação mal administrada, salinização, alcalinização já
destruíram enormes áreas de solo que antes eram férteis.
A retirada de água no mundo tem aumentado cada vez mais, sendo que
muitas áreas áridas e semiáridas já sofrem com a escassez de água. A
concorrência crescente de usuários de água ameaça a capacidade
administrativa que cuida da água e sua distribuição. Em países de menor
renda, a causa principal de mortalidade são elementos patogênicos
provenientes da água.
O desmatamento de florestas tropicais para algum tipo de cultivo ou
pastagem está reduzindo a diversidade biológica, e assim, aniquilando com
fontes de riquezas e beleza ainda desconhecidos. As florestas temperadas e
boreais são altamente estáveis, todavia a poluição do ar, a derrubada de
madeira e a urbanização estão fragmentando tais recursos.
A pesca excessiva combinada com oscilações naturais têm resultado na
diminuição de algumas áreas de pesca. Muitas áreas de pesca são exploradas
além dos níveis considerados sustentáveis a longo prazo. Podemos dizer que o
uso é sustentável quando se mantêm dentro da capacidade de renovação
daquele recurso.
 Ações prioritárias
Para conservar a vitalidade e diversidade do Planeta Terra em seu
próprio direito e como fator fundamental do ser humano, é necessário a prática
das seguintes ações:
 impedir a poluição;
 recuperar e manter a integridade dos ecossistemas do nosso planeta;
26

 conservar a diversidade biológica;


 assegurar que os recursos renováveis sejam usados de forma
sustentável.

A seguir detalhes de cada ação:

Impedir a poluição

A poluição é o processo de sobrecarga dos ecossistemas da Terra com


materiais prejudiciais ou energia desperdiçada. Evoluiu de um incômodo local
para uma ameaça mundial. Portanto, governos, municípios e indústrias, de
todos os países do mundo, devem tomar providências.
As emissões para o ar, as descargas nos rios e oceanos e a disposição
dos resíduos sólidos deveriam ser controladas por um único órgão
governamental ou ligado a ele, investido de poderes e recursos para impor a
execução de melhores padrões. O controle integrado da poluição evita o risco
de que os materiais poluentes simplesmente sejam transferidos de um meio
para outro.
Municípios e empresas de utilidade pública deveriam ser investidos de
poder, recursos e orientação para manter a boa qualidade do ar e saneamento
básico eficiente em suas áreas. As indústrias podem fazer muito para impedir
a poluição, usando melhor a tecnologia disponível e desenvolver processos
que não emitam gases poluentes. Devem também utilizar métodos mais
eficientes de reaproveitamento de recursos úteis e descartar adequadamente
produtos perigosos.
27

Fazendeiros deveriam diminuir consideravelmente ou totalmente a


quantidade de fertilizantes e defensivos que são carregados pelas águas das
chuvas. A Europa e América do Norte são os maiores responsáveis pela
emissão mundial de gases poluentes causadores do efeito estufa e chuva
ácida. À medida que países de menor renda forem se industrializando os
problemas se agravarão.
Veículos motorizados são a principal fonte emissora de monóxido de
carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio. Conversores catalíticos
podem ajudar muito, mas as indústrias devem intensificar seus esforços na
produção de motores menos poluentes (queima limpa).
A mudança climática é uma das maiores ameaças à sustentabilidade. A
responsabilidade pela redução das emissões de dióxido de carbono cabe,
especialmente, aos países industrializados, uma vez que são eles a maior fonte
de emissão total do dióxido de carbono, além de possuírem recursos
econômicos e capacidade técnica para providenciarem a ação corretiva.
A indústria e serviços públicos devem, quando possível, substituir o
carvão por gás natural ou outras fontes menos poluidoras. Governo e indústria
devem acelerar a utilização de energia solar, eólica e outros sistemas de
energia renovável.
É recomendável o fechamento de instalações antigas e mais poluentes,
e também o plantio de árvores em número suficiente para retenção de uma
quantidade equivalente de carbono. As florestas devem ser mantidas, ou se
possível, expandidas. Para proteção da camada de ozônio devem ser
eliminadas a produção e utilização do clorofluocarboneto.
Governantes e instituições devem trabalhar juntos para reduzirem
emissões de gás metano, como por exemplo: melhorar a manutenção dos
sistemas de produção de petróleo e gás natural, para reduzirem vazamentos
de metano; reciclagem de resíduos incineráveis; melhorem a manutenção dos
aterros sanitários.
Os governantes também devem desenvolver e implementar planos
nacionais para redução das emissões de gás estufa pela atividade agrícola.
Uma das providências é reduzir emissões de óxido nitroso pelo uso de adubos
e compostos animais. Também áreas cultivadas que sejam adequadas apenas
a uma colheita anual, deveriam ser convertidas em plantações perenes.
28

Há um amplo consenso de que, mesmo tomando providências imediatas


para diminuição de emissão de gases “estufa”, é inevitável um aquecimento do
clima do planeta Terra, portanto, há que se estudar urgentemente medidas de
adaptação a essa nova situação.
Os governantes devem rever seus planos de desenvolvimento e
conservação com base nas mudanças climáticas. Deve fazer ajustes focando o
uso da terra, aumento do nível do mar, mudanças na agricultura (reservando as
plantas de culturas mais adequadas para gerações futuras), adotar medidas
para manter as defesas naturais como recifes de corais e mangues, rever
planos para atendimento de calamidades e situações de emergências. Os
órgãos internacionais devem oferecer ajuda na preparação de tais revisões e
assistência em caso de calamidades.

Recuperação e manutenção da integridade dos ecossistemas da Terra


Os governantes e os órgãos devem, na medida do possível, usar as
bacias hidrográficas como unidades naturais de gerenciamento de terra e da
água.
A água interliga as atividades das comunidades humanas entre si e com
as de animais e plantas. A política para a água deve ser baseada na
capacidade suporte de bacias hidrográficas, e deve prever todos os tipos de
uso adequado. A utilização dos recursos hídricos deve ser aliada à
manutenção dos ecossistemas que desempenham um papel fundamental no
ciclo da água, tais como as florestas.
Dentro da conservação, a tarefa mais difícil é chegar ao correto
equilíbrio entre os usos alternativos do meio ambiente. A sustentabilidade
depende da conversão, para uso intensivo do homem, somente daquelas áreas
que possam suportar tal uso, conservando os sistemas naturais onde possam
proporcionar benefícios maiores, ou seja, essenciais à manutenção da
diversidade e das funções ecológicas.
Os governantes devem proteger os ecossistemas naturais
remanescentes; recuperar ecossistemas degradados; desenvolver formas de
utilização sustentável dos ecossistemas; considerar todos os custos sociais e
benefícios ao analisar a conversão de terras para agriculturas ou sistemas
urbanos.
29

Devido ao aumento populacional, as terras usadas na agricultura terão


que ser cultivadas mais intensamente. Mostra-se como prioridade o
desenvolvimento de técnicas para uma atividade agrícola mais intensiva e
sustentável. O manejo engloba ações como: melhoramento das condições do
solo; controle de pestes e pragas de forma economicamente eficiente e
ecologicamente saudável; conservar habitats dos polinizadores de culturas e
inimigos naturais das pestes.
Quanto ao desmatamento, é imprescindível que os governantes tenham
como meta detê-lo, revendo a política nacional de concessões para exploração
de madeira em cada região. Devem proteger grandes áreas de florestas
antigas, buscando uma negociação internacional que apoie a ação conjunta
para conservar as florestas do mundo e buscar manejo sustentável de áreas
para reflorestamento para uso da madeira.
A ação global conjunta para conservação de florestas torna-se crucial
devido ao valor das florestas com seus recursos, biodiversidade e manutenção
do equilíbrio do clima.

Conservar a diversidade biológica

As áreas protegidas são estabelecidas para salvaguardar exemplares


importantes da herança natural ou cultural, tem como finalidade a conservação
dos sistemas de sustentação da vida e da diversidade biológica e para
apreciação humana. Há muitos tipos de áreas protegidas, cada uma com seus
benefícios próprios.
30

Cabe ao governo estabelecer ou manter órgãos especializados com a


finalidade de fornecer orientação, infraestrutura administrativa, pessoal treinado
e fundos para planejamento e cuidados da rede nacional de áreas protegidas.
Os sistemas nacionais de áreas protegidas devem ser regidos por uma
clara política e pessoas especializadas, assegurando que haja um plano
administrativo eficiente, que envolva a comunidade local e assegure que estas
sejam participantes da conservação e dos benefícios (com retorno financeiro)
da economia sustentável da área protegida.
As áreas protegidas podem ter especial importância para o
desenvolvimento, quando proporcionam:

 conservação da água e do solo em zonas propensas a grande erosão,


caso a vegetação original seja removida, principalmente encostas
íngremes de cabeceiras e as margens de rios;
 controle e purificação do fluxo de água;
 defesa às pessoas contra desastres naturais, tais como enchentes,
aumento do nível do mar;
 manutenção da vegetação natural essencial em solos de baixa
produtividade;
 manutenção dos recursos genéticos selvagens ou espécies importantes
para a medicina;
 proteção de espécies e populações altamente sensíveis à influência
humana;
 criação de habitats para reprodução, alimentação ou descanso para
aquelas espécies migratórias usadas pelo homem ou ameaçadas de
extinção;
 rendimentos e oportunidades de emprego, provenientes principalmente
do turismo, o chamado atual ecoturismo.
As espécies ameaçadas merecem a devida atenção dos governantes e
ONGs. Cada país deve fazer o possível para evitar sua extinção.
As espécies invasivas causam importantes perdas da biodiversidade e
seu controle é difícil e às vezes impossível, por isso, as espécies não-nativas
(exóticas) de animais, plantas e elementos patógenos devem passar por
rigorosas medidas e sua liberação deve ser impedida.
31

O conhecimento das espécies e sua inter-relação é fator importante para


a conservação do ecossistema. A pesquisa biológica e o monitoramento devem
ser voltados principalmente para a conservação da diversidade, buscando
promover o intercâmbio entre universidades nacionais e internacionais. O
recenseamento aéreo e terrestre de áreas protegidas é outro recurso que deve
ser mais implantado, de modo a estruturar um banco de dados de conservação
nacionais, que possa ser de fácil acesso a todos e estar interligado com o
Centro Mundial para Monitoramento da Conservação. Este Centro tende a se
tornar o repositório mundial de todos os dados relativos à diversidade biológica.
A maior prioridade da conservação da diversidade biológica é a
conservação in situ de espécies em seus habitats naturais. No entanto, em
alguns casos os habitats tornaram-se tão degradados ou o tamanho da
população diminuiu a tal ponto que não é possível garantir a sobrevivência da
espécie em estado selvagem. Sob essas circunstâncias, um programa de
conservação genética pode abranger tais espécies, podendo ser in situ ou ex
situ.
Muitos grupos de espécies, particularmente pássaros, peixes, répteis e
certas plantas ameaçadas de extinção mundial, são mantidos em coleções
particulares, em razoáveis quantidades de população. Esse fato deve constar
dos acordos regionais e internacionais e devem ser inspecionados e
aprovados.

Assegurar que os recursos renováveis sejam usados de forma


sustentável
32

Os incentivos para uso dos recursos naturais de forma sustentável dependem


dos direitos de propriedade dos usuários. Pessoas com direito específico para
a pesca têm incentivo para limitar sua retirada, de forma a conservar o recurso.
Portanto, a exclusividade, a duração e outros direitos de propriedade têm
profunda influência no incentivo dos usuários para conservar os recursos.
Governantes e comunidades locais deveriam desenvolver
conjuntamente uma política para a administração do recurso renovável. A
comunidade local ser atuante, criar instituições e ser encorajada a participar do
processo. Deve estar incluso suporte aos projetos de desenvolvimento rural,
conservação e uso sustentável das espécies e ecossistemas selvagens.
Em muitos países as espécies selvagens e ecossistemas são recursos
que podem ser usados com controle, ou seja, sustentavelmente. Para isso, é
preciso que a pesquisa e o controle sejam priorizados pelos governantes.
Deve-se dar ênfase às espécies economicamente importantes. Assegurar que
a retirada de um determinado recurso não exceda sua capacidade de sustentar
a exploração.

Minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis.

São recursos não-renováveis os minérios, petróleo, gás e carvão. Usá-


los de forma sustentável não é possível, mas podemos “prolongar sua vida”
através de processos como reciclagem, redução de consumo ou substituição
(quando possível) por um recurso renovável.
33

UNIDADE 9 - PERMANECER NOS LIMITES DA


CAPACIDADE SUPORTE DO PLANETA TERRA

O impacto máximo que o Planeta ou qualquer ecossistema pode tolerar


é sua capacidade suporte. Se o homem não chegar ao equilíbrio entre o nível
de exploração dos recursos e a capacidade suporte da Terra a obtenção de
sustentabilidade será impossível.
Mesmo sendo difícil ter a exatidão da capacidade suporte dos
ecossistemas, sabemos com toda certeza que há limites para a capacidade
que ecossistemas e biosfera conseguem tolerar sem uma deterioração
arriscada. E, se por um lado sabemos que tais limites existem, por outro, não
sabemos exatamente onde estão tais limites. E acima de tudo, é importante
ressaltar que buscamos melhoria sustentável na qualidade de vida de bilhões
de pessoas, não somente a sobrevivência.
Essa capacidade suporte varia de região para região e está diretamente
relacionada com a quantidade de pessoas, quantidade de alimentos, água,
energia e matérias-primas que cada pessoa utiliza ou desperdiça. Poucas
pessoas consumindo muito podem causar tanto prejuízo quanto muitas
pessoas consumindo pouco.
As providências para nos mantermos dentro da capacidade suporte da
Terra vão variar de país para país, e mesmo de uma comunidade para outra
dentro do próprio país. Mas, no planejamento da estratégia do desenvolvimento
devem ser considerados:
34

 Uma minoria de pessoas, localizada principalmente em países de


maior renda, consomem exageradamente energia, alimentos e
outros recursos. Essa minoria tem condições de reduzir seu
consumo com qualidade de vida. Sabemos que não será fácil
fazê-las reduzir espontaneamente;
 A maioria das pessoas, habitantes principalmente em países de
menor renda, tem padrão de vida que varia do miserável ao
tolerável. Usam apenas uma pequena parcela dos recursos da
Terra;
 As taxas de crescimento populacional são mais altas onde a
pobreza é maior.
A esta situação, devemos nos posicionar para que as disparidades no
consumo de recursos e taxas de crescimento populacional sejam superados.
Esforços conjuntos são necessário para reduzir o consumo de recursos e
energia nos países de maior renda. A redução pode ser favorecida pelo
desenvolvimento de tecnologias que otimizem a produção de energia e
materiais, incluindo reciclagem, e pela demanda de produtos com menores
impactos.
O consumo de energia comercial por pessoa é uma medição útil do
impacto ambiental. Isto porque é a energia que possibilita a retirada dos
recursos renováveis e não-renováveis dos ecossistemas para retornar aos
ecossistemas na forma de resíduos. Quanto mais poluente for a fonte de
energia, maior será o impacto.
Em média, o habitante de um país de “alto consumo” gasta 18 vezes a
energia comercial usada por um habitante de um país de “baixo consumo”.
A maioria dos países de alta renda tem populações quase estáveis, mas
o consumo de recursos continua aumentando. Já a maioria dos países de
baixo consumo tem altas taxas de fertilidade. O crescimento populacional
rápido prejudica as perspectivas de um crescimento sustentável, pois os
governos precisam suprir as necessidades básicas da população.
Um dos maiores desafios para a sustentabilidade está na estabilização
das populações humanas e o consumo de recursos em bases mais equitativas
e sustentáveis. Precisamos, para isso, mudar nossos estilos de vida
35

(principalmente países com maior renda) em benefício de um padrão de vida


digno para todos e um futuro digno para nossos descendentes.

Ações prioritárias
A seguir, algumas ações para nos mantermos dentro dos limites da
capacidade de suporte do Planeta Terra:
 Manejar seus recursos ambientais de forma sustentável;
 Tratar de forma integrada assuntos como crescimento populacional e
consumo de recursos;
 Reduzir consumo e desperdício excessivo;
 Fornecer melhores serviços de informação, planejamento familiar e
assistência médica.
Governantes, órgãos educativos e grupos não-governamentais devem
dar suporte e promover a educação formal e informal no sentido de
conscientizar as pessoas que a capacidade de suporte do Planeta não é
ilimitada.
A introdução de impostos muito bem estruturados para energia deve vir
a incentivar tecnologias mais eficientes e o uso de fontes alternativas que
emitam menos dióxido de carbono e outros poluentes. A fonte de energia mais
limpa deveria ser tributada somente em grau que permita sua eficiência, ao
passo que outras fontes devem ser tributadas em taxas progressivamente
maiores, de forma a deter a poluição. Os impostos sobre matérias-primas
poderiam seguir o mesmo procedimento para incentivar o uso de tecnologias
mais eficientes, de recursos renováveis e de produtos mais duráveis.
Os consumidores (especialmente de países de maior renda) podem usar
seu poder de compra para fortalecer produtos que causem menos prejuízo ao
ambiente. Podem se tornar “consumidores verdes”. Mas, também para isso, há
necessidade de informação segura acerca de produtos e serviços.
Para estabilizar a população, alguns fatores precisam ser trabalhados,
como: informações sobre serviços de planejamento familiar e acesso a estes
serviços; renda e segurança familiar; assistência médica à gestante e à
criança; condição da mulher na sociedade; educação para homens e mulheres;
fatores religiosos e culturais. As pessoas limitam o tamanho das famílias
quando isto lhes convém social e economicamente. A educação para as
36

mulheres precisam ser melhoradas, pois quanto maior o grau de escolaridade,


menos filhos elas possuem.

O planejamento familiar é altamente desejável, pois estima-se que


poderia salvar 200.000 mulheres e 5 milhões de crianças, através de
assistências aos casais para espaçar seus filhos e evitar gestações de alto
risco. Mulheres de localidades com menor renda como África, Ásia e América
Latina sofrem constantemente por falta desta assistência e enfrentam situações
desastrosas onde muitas das gestações acabam em aborto.
Onde as unidades de assistência ao planejamento familiar foram
instaladas, houve considerável redução da fertilidade. Cabe ao governo,
administração local e órgãos de ajuda ao desenvolvimento assegurar a
inclusão do planejamento familiar em todos os programas urbano e rural,
alocando recursos para isso em seus orçamentos.
37

UNIDADE 10 - MODIFICAR ATITUDES E PRÁTICAS


PESSOAIS

Reexaminar valores e alterar comportamentos são pontos de partida


para viver com sustentabilidade. Apoiar atitudes que promovam a modificação
de atitudes é fundamental e a difusão de informações por meio de sistemas
formais e informais de educação se faz necessário para que essa nova ética
seja explicada e entendida por todas as pessoas.
Muitas pesquisas demonstram que a preocupação com a deterioração
ambiental está largamente difundida em todos os países. Entretanto, outras
pesquisas demonstram que as pessoas “cansam-se” rapidamente dessas
mensagens destrutivas e seguem com seus estilos de vida, seja o consumo
excessivo (países com maior renda) ou a retirada de matérias-primas dos
ecossistemas para sobrevivência (países com menor renda). Outras pessoas
simplesmente não veem como a modificação de seu comportamento poderia
ajudar outras pessoas. Algumas pessoas mudam seus estilos de vida em
alguns aspectos.
Até mesmo governantes conscientes da importância do meio ambiente
são tentados a abrandar as regras quando enfrenta uma recessão ou
desemprego crescente. As pessoas adotarão a ética da vida sustentável
quando forem persuadidas de que é necessário e correto fazê-lo.
A educação é um importante fator na consecução dessas mudanças,
seja ela formal ou informal. A educação formal deveria não somente ser
proporcionada de forma ampla, mas também modificada em seu conteúdo.
38

Deveriam ser iniciados no conhecimento e nos valores que permitirão viver de


forma sustentável. Isso requer que a Educação Ambiental esteja aliada à
Educação Social. Quanto à educação informal deve haver o aproveitamento do
poder e influência dos meios de comunicação, como jornais, programas de
televisão, rádio, revistas e lugares de entretenimento.

Ações prioritárias
Os planos de ação devem constituir-se em iniciativas conjuntas de
governantes, instituições educacionais, ONGs, meios de comunicação e o setor
de negócios e ter como objetivo difundir os princípios da sustentabilidade,
como:
 Identificar as características específicas de cada sociedade como a
história local, traços culturais, ecossistemas, símbolos e planejar os
programas educacionais com base na cultura e meio ambiente desta
sociedade em questão.
 Inserir a educação ambiental na educação formal em todos os níveis de
escolaridade. O ensino nas escolas deveria ser prático e teórico, e estar
ligado a projetos de campo. Ter como meta a lição de que a
sustentabilidade vale a pena ser levada para casa;
 Professores treinados nas Ciências Sociais deveriam trabalhar juntos
com educadores ambientais, usando métodos para incluir a
conscientização no contexto da sustentabilidade. Já os cursos de nível
secundário e superior deveriam fornecer treinamento nas habilidades
técnicas e administrativas para se viver em uma economia sustentável.
É crucial que todas as escolas ensinem técnicas corretas para a vida
sustentável;
 Oficinas de treinamento de novas técnicas e como usar os recursos de
forma sustentável e lucrativa para trabalhadores como agricultores,
pescadores, entre outros.
39

UNIDADE 11 - PERMITIR QUE AS PESSOAS CUIDEM


DO SEU PRÓPRIO MEIO AMBIENTE

As comunidades organizadas e bem informadas podem contribuir em


muito para decisões que as afetam diretamente e ao mesmo tempo
desempenham papel indispensável na formação de uma sociedade
sustentável.
40

É necessário se organizar para trabalhar pela sustentabilidade em sua


própria comunidade representando uma força poderosa e eficaz, independente
e ser uma comunidade rica, pobre, urbana ou rural.
Uma comunidade sustentável cuida do seu próprio ambiente e não
danifica o alheio. Utiliza os recursos de forma sustentável, recicla materiais,
conserva os sistemas de sustentação da vida e a diversidade dos
ecossistemas locais, diminui resíduos e reconhece a necessidade de trabalhar
em conjunto com outras comunidades.
O principal objetivo é promover a sustentação do meio ambiente local
produtivo, administrando o solo, a água, e a diversidade biológica de modo a
favorecer a população.
No plano da comunidade deve estar inserido a conservação, o controle
da poluição e a recuperação de ecossistemas degradados. Para que as ações
sejam efetivas, a comunidade deve ser orientada para a ética da vida
sustentável e ter acesso a recursos para a administração local. Todos os
cidadãos da comunidade têm direito de participar das decisões que os afetam.
As comunidades apresentam variações em sua capacidade de cuidar do
meio ambiente. Deve-se levar em consideração a falta de habilidades,
conhecimentos, práticas adequadas e outros recursos que podem prejudicar
essa capacidade.
Os problemas para o desenvolvimento sustentável na comunidade
podem ser decorrentes das políticas locais, nacionais, internacionais,
legislação e situação econômica. Também podem aparecer conflitos entre os
indivíduos da própria comunidade.

Ações prioritárias
 Proporcionar às comunidades um maior controle de suas próprias vidas,
incluindo acesso aos recursos, direito de participação nas decisões,
educação e treinamento.
 Permitir que as comunidades supram suas necessidades de forma
sustentável;
 Permitir as comunidades conservar o seu meio ambiente.
Os órgãos governamentais deveriam dar suporte à administração
comunitária de recursos. Se as normas locais forem insuficientes para
41

assegurar a sustentabilidade, os governantes podem precisar interferir, por


exemplo, no estabelecimento de padrões de administração comunitária. As
autoridades ligadas à administração da terra deveriam dar suporte à concessão
de direitos de propriedade em cada comunidade, legalizando a posse e
fornecendo registro de propriedade.
É imprescindível fazer uso do conhecimento local, integrando-o aos
resultados dos estudos científicos. É preciso envolver a comunidade fazendo
com que essa perceba a utilidade de compartilhar conhecimentos. As
tecnologias saudáveis ao meio ambiente são melhores quando desenvolvidas
em conjunto com a comunidade.
A participação plena é essencial, deve ser assegurada por todos no
processo, especialmente nas decisões administrativas dos recursos naturais.
Os governates locais são elementos-chave para o cuidado com o meio
ambiente. Suas responsabilidades incluem o planejamento de uso da terra,
controle de desenvolvimento, suprimento de água, tratamento de esgoto,
assistência médica, transporte público e educação. São os que possuem maior
contato com os cidadãos locais e por isso deveriam encabeçar o
desenvolvimento sustentável junto à comunidade.
As ações em comunidades de menor renda poderiam estar centradas
em projetos comunitários nas áreas de agroecologia, agroflorestas,
conservação do solo e água, artesanato, recuperação do solo degradado,
ecoturismo. Esses projetos deveriam ser constantemente avaliados e os
objetivos, se necessário, reexaminados e redefinidos. A avaliação se torna útil
para que as pessoas desenvolvam suas experiências, que podem ser
repassadas a outras pessoas.
Governos, ONGs, grupos religiosos, universidades nacionais e
internacionais deveriam melhorar as condições e dar suporte para as ações
comunitárias pelo meio ambiente. Incentivos econômicos podem motivar as
comunidades a usarem os recursos de forma sustentável.
42

UNIDADE 12 - GERAR UMA ESTRUTURA NACIONAL


PARA A INTEGRAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E
CONSERVAÇÃO

Para que uma sociedade seja sustentável, é necessário haver a


integração do desenvolvimento humano com a conservação ambiental. É
importante que haja um enfoque no âmbito nacional, devendo os governantes
fornecer uma estrutura nacional, abrangendo as instituições políticas
econômicas, leis e regulamentos nacionais, e um banco de informações.
Muitos dos órgãos especiais estabelecidos pelo governo para a proteção
do meio ambiente têm orçamentos inadequados e poderes limitados. A política
ambiental tem sido reativa, respondendo a problemas somente após a sua
ocorrência, sendo o custo da reparação muito mais alto do que as medidas
preventivas.
As leis relativas ao meio ambiente são ferramentas importantes na
implementação da política necessária para a sustentabilidade. Uma importante
função da lei é a aplicação de sanções aos infratores e desencorajamento do
comportamento antisocial. A lei fortalece a ação dos administradores
ambientais, dando-lhes poder ou obrigando-os a desempenhar as suas
funções, além de equipá-los com mandato e autoridade para que possam agir.
A legislação ambiental determina os padrões de comportamento social e
a vigência das políticas. A legislação ambiental, baseada, por sua vez, no
entendimento científico e na análise clara dos objetivos sociais, deveria
43

estabelecer normas de conduta humana para levar as comunidades a viverem


dentro dos limites de capacidade da Terra.
Os governantes deveriam assegurar que suas nações tenham sistemas
amplos de legislação ambiental abrangendo, no mínimo, os seguintes itens:
 planejamento de uso da terra e controle do desenvolvimento;
 uso sustentável de recursos renováveis e consumo sem desperdício de
recursos não-renováveis;
 prevenção da poluição, salvaguardando a saúde humana e os
ecossistemas;
 uso eficiente de energia;
 controle de substâncias perigosas;
 descarga de resíduos, minimizando perdas e promovendo a reciclagem;
 conservação das espécies e dos ecossistemas através da administração
do uso da terra;
 uso da melhor tecnologia disponível, quando tiverem sido estabelecidos
os padrões para prevenção da poluição;
 auditoria ambiental periódica para indústrias, departamentos e órgãos do
governo;
 garantir acesso público aos dados de auditoria ambiental, resultados de
monitoração, informações sobre produção, uso e descarga de
substâncias perigosas.
As leis e medidas devem ser efetivamente cumpridas, sendo que
sanções, punições devem ser severas o bastante para desestimular as
contravenções. A implementação da legislação ambiental dependem da
educação e do treinamento dos advogados, administradores, industriais,
homens de finanças e cientistas. Tal treinamento deveria ser prioridade nos
sistemas educacionais nacionais.
Embora os padrões nacionais devessem ser estabelecidos e seguidos,
as nações deveriam aceitar que medidas de proteção ambiental pudessem ser
promulgadas a nível local. As autoridades locais deveriam ser incentivadas a
fazer uso de seus próprios poderes para proteger o meio ambiente,
especialmente quando o envolvimento da comunidade na formulação e
implementação das medidas possa torná-las mais eficazes.
44

A política econômica pode ser um eficaz instrumento para a sustentação


dos ecossistemas e dos recursos naturais. Todas as economias dependem do
meio ambiente como fonte de serviços de sustentação da vida e de matérias-
primas. Os sistemas convencionais lidam com o meio ambiente como sendo
ilimitados ou gratuitos; dessa forma, incentivam as pessoas a exaurir os
recursos e a degradar os ecossistemas. Por isso, novos modelos que
incorporam valores éticos, humanos e considerações econômicas estão sendo
criados para enfrentarmos o desenvolvimento humano sustentável.
A causa pela conservação ganha força quando os recursos ambientais
são corretamente valorizados e incluídos nos levantamentos nacionais, e os
custos de seu esgotamento tornam-se evidentes.
Os governos deveriam adotar e implementar taxas, impostos sobre
recursos, licenças negociáveis para que a indústria opere dentro dos padrões
ambientais da forma mais eficiente em termos de custos. Na verdade, tais
incentivos fazem uso das forças de mercado para que produtores e
consumidores sintam-se motivados a perseguir os objetivos ambientais.
Estimulam o desenvolvimento da tecnologia e prática sustentáveis.
As políticas, padrões e subsídios de preços, podem ser usados para
motivar a indústria a adotar tecnologias que utilizem recursos com maior
eficiência. Energia, água e matérias-primas a preços altos podem estimular a
conservação de recursos.
Os instrumentos regulamentares e econômicos, tais como impostos,
taxas, subsídios, licenças negociáveis, etc. ajudam a corrigir os desvios
causados pela fixação de preços que subavaliam os sistemas de suporte à vida
e recursos naturais, podem estimular o desenvolvimento de novos produtos
saudáveis ao meio ambiente e gerar renda. Os instrumentos econômicos e
reguladores são vários e podem ser adequados às circunstâncias.
Se os governos estiverem dispostos a entender os efeitos de suas
políticas, terão que adotar procedimento para a contabilidade ambiental e de
recursos. É necessário incluir os custos do prejuízo ambiental e do
esgotamento de recursos para se obter um demonstrativo da verdadeira (e
sustentável) renda. Um problema a resolver é a conversão dos valores de
certos bens naturais para termos monetários, para possibilitar a adequada
comparação de valores.
45

A economia e a lei devem trabalhar juntas. A lei estabelece as regras e


os padrões. O mercado assegura que a sociedade opere dentro das regras e
padrões, com a máxima eficiência possível. É preciso que a base do
conhecimento relativo ao meio ambiente seja fortalecida e esteja acessível a
todos.
As instituições de pesquisa deveriam ser revistas e providenciar os
seguintes itens:
 identificar e definir as tarefas principais;
 planejar e realizar as investigações apropriadas;
 criar um ambiente de estimulo à pesquisa;
 participar de programas internacionais;
 difundir e aplicar os resultados da pesquisa.
Nos últimos anos, as instituições de pesquisa têm sofrido redução de
apoio. É preciso reverter este processo, em especial nas ciências do meio
ambiente e nos países de menor renda.
As políticas e os programas pela sustentabilidade devem ser baseados
no conhecimento científico dos fatores que serão afetados. A pesquisa deve
ser constante, pois aumentará a compreensão do meio ambiente.
A informação aumenta as oportunidades. Trata-se de um bem essencial
e um dos principais meios de fortalecer as pessoas, contanto que sejam
comunicadas de forma facilmente inteligível. O acesso às informações relativas
ao meio ambiente deve estar disponível.
Os governantes deveriam estabelecer os sistemas nacionais de
monitoração, que poderiam abranger as principais características físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente e a condição dos recursos naturais.
Todos esses fatores são importantes por sua própria natureza ou como
indicadores do bem-estar e da qualidade de vida do meio ambiente.
É necessária uma cooperação internacional para se desenvolver
métodos padronizados, promover o estabelecimento de monitoração e centros
de dados nacionais, em especial nos países de menor renda. Também é
necessária uma rede mundial para a monitoração do meio ambiente, com
pontos de transferência de dados; dessa forma, as informação de nível
nacional podem contribuir para uma visão mundial. No nível internacional,
implantar sistemas baseados em satélites para contínua monitoração do meio
46

ambiente, como distribuição das principais formações ecológicas, da biomassa


e da produtividade da vegetação, como também mudanças nos padrões de uso
da terra. Embora esses sistemas sejam caros e de interpretação nem sempre
fácil, são o meio mais barato de se obter uma visão ampla do estado dos
ecossistemas da Terra.
Poderia ser instituído um programa nacional de auditoria ambiental, com
relatórios apresentados regularmente pelos governantes sobre a situação de
seu meio ambiente.

Ações prioritárias
Estas ações estão voltadas para a integração do desenvolvimento
humano com a conservação ambiental:
 instituições que ofereçam condições para que as decisões sejam
tomadas de forma integrada e participativa, considerando os fatores
presentes e futuros;
 políticas eficazes e planos legais amplos que salvaguardem os direitos
humanos, os interesses das gerações futuras, a produtividade e a
diversidade do Planeta Terra;
 políticas econômicas e tecnologias aperfeiçoadas que aumentem os
benefícios de um determinado grupo de recursos e mantenham, ou até
aumentam, as riquezas naturais;
 conhecimento comprovado baseado na pesquisa e no controle.
Os governantes deveriam estabelecer como principal objetivo a criação
de uma sociedade sustentável, assegurando que setores e órgãos
componentes do governo, deem a devida consideração às mudanças para o
desenvolvimento sustentável, adotando uma política ambiental integrada.
Promover ações conjuntas pela instituição de fóruns para a discussão de
políticas, reunindo representantes do governo, grupos ambientalistas, comércio
e indústria, povos indígenas e outros interessados, todos em condição
igualitária e cooperativa. Tais fóruns podem tornar-se órgãos permanentes de
consulta e ter poderes amplos, ou grupos de trabalho formados para lidar com
uma questão específica.
Outra meta a ser alcançada é o desenvolvimento de estratégias para a
sustentabilidade através de planejamento regional e local. Cada plano deveria
47

ser um projeto conjunto do governo e dos moradores da região. Também os


planos deveriam integrar políticas rurais e urbanas que estão intimamente
ligados.
O EIA (Estudo de Impacto Ambiental) é o termo usado para prever e
identificar as prováveis consequências ambientais de uma determinada
atividade proposta. Poderia significar “Avaliação do impacto do
desenvolvimento”, já que os efeitos sociais e econômicos também deveriam ser
examinados. O EIA é um meio importante de identificação e prevenção de
problemas, sendo uma etapa fundamental do planejamento. Poderia ser
aplicado em projetos de desenvolvimento demonstrando uma probabilidade
prévia de impactos ambientais, sociais ou econômicos e estar sujeito à revisão.
Os órgãos de ajuda internacional deveriam dar prioridade à assistência
aos países para que possam desenvolver sua capacidade de implementar e
avaliar os EIAs.
Informação e conhecimento são imprescindíveis para o progresso de
forma racional. Um programa nacional deve ser flexível, capaz de redirecionar
seu curso com base na experiência e novas necessidades. Para que medidas
de âmbito nacional sejam incorporadas, devem-se levar em consideração os
seguintes pontos:
 considerar cada região como um sistema integrado;
 reconhecer que cada sistema influencia e é influenciado por
outros sistemas, sejam ecológicos, econômicos, sociais ou
políticos;
 considerar o indivíduo como o centro do sistema;
 promover tecnologias que possibilitem uma utilização mais eficaz
dos recursos.
48

UNIDADE 13 - CONSTITUIR UMA ALIANÇA GLOBAL

É imperativo que as nações reconheçam seu interesse comum no meio


ambiente mundial. A sustentabilidade de uma nação depende frequentemente
de acordos internacionais para administração de recursos compartilhados.
A mudança climática, a destruição da camada de ozônio e a poluição do
ar, dos rios e dos oceanos constituem-se em ameaças globais. Riqueza e
poder não são proteção contra essas ameaças e por isso Estados soberanos
devem parar de olhar para si próprios como unidades autossuficientes e aceitar
a condição futura de serem peças componentes de um sistema global.
A interdependência é um dos fenômenos atuais de maior impacto no
destino das nações. A civilização humana está a caminho de se tornar uma
nação mundial, em várias dimensões como social, econômica, cultural e
política. Mas a transição não é tranquila, ao contrário, é cheia de conflitos e
turbulências.
Para que possamos evoluir da condição nacional para a global,
precisamos reorganizar as leis, de tal forma que reflitam a necessidade da vida
sustentável para todos os povos, como também os deveres das nações com
relação ao planeta que compartilham. A nova aliança deve conter em seu
âmago o entendimento de que todos têm um papel a desempenhar na
salvaguarda do Planeta Terra, e aqueles que possuem maiores recursos
econômicos e sociais devem dar uma contribuição maior.
A dívida externa de alguns países é gigantesca e forçam os países a
movimentos simultâneos de redução do padrão de vida, aceitação da pobreza
crescente e exportação de quantidades maiores de recursos escassos, o que
49

acelera a destruição ambiental. Apesar dessas pressões, muitos países de


menor renda investem mais na conservação ambiental, proporcionalmente ao
seu PNB, do que países de maior renda.
A maioria dos países de baixa renda obtém 3/4 ou mais de sua receita
de exportação, a partir de commodities primárias. Os preços desses produtos,
incluindo cobre, minério de ferro, açúcar, borracha, algodão e madeira têm
decrescido nos últimos anos. Tais preços não incluem os custos de usuário e
os custos ambientais decorrentes da produção dos recursos. Assim, a riqueza
natural dos países exportadores está subsidiando os importadores.
Para aumentar a capacidade de autossustentação econômica dos
países de baixa renda – e, desta forma, promover seu desenvolvimento
sustentável e proteger seu meio ambiente – devem ser reduzidas as dívidas
desses países e melhoradas as suas condições de comércio.
A ética do cuidado com a Terra aplica-se em todos os níveis,
internacional, nacional e individual. Todas as nações têm a ganhar com a
sustentabilidade mundial e todas estão ameaçadas caso não consigamos essa
sustentabilidade.

Ações prioritárias
Para que se obtenha uma verdadeira aliança global, cada país deve
aceitar sua parcela de responsabilidade e ter compromisso de agir na
proporção de seus meios disponíveis. A aliança exigirá a existência de
instituições internacionais, intergovernamentais e não governamentais
adequadamente organizadas. Além disso, devem ser tomadas as seguintes
providências:
 cada nação deveria aceitar o dever de viver sustentavelmente, apoiando
novas leis internacionais;
 deve se chegar a um acordo sobre como conservar os bens comuns
mundiais, e como dividir seus benefícios de forma equitativa;
 os países de maior renda deveriam reduzir seu consumo de recursos,
especialmente através do aumento de sua eficiência;
 a dívida dos países de menor renda deveriam ser reduzidas e
melhoradas suas condições de negociação.
50

Já existe um conjunto importante de leis ambientais internacionais. É


fundamental que tais medidas sejam apoiadas e implementadas. É preciso
fortalecer os acordos internacionais existentes sobre a conservação dos
sistemas de sustentação da vida e da diversidade biológica, ficando claro que a
existência de recursos financeiros adequados é essencial para o sucesso
desses acordos e convenções.
A Antártica e Oceano Austral são uma das poucas vastas áreas em
estado selvagem que ainda restam no mundo, sendo também uma zona
internacional de paz e cooperação, por ser desmilitarizada e livre da presença
nuclear. A atividade científica e o turismo têm se expandido rapidamente e
estão causando uma poluição importante em termos locais. Tais atividades
devem ser devidamente controladas.
O Sistema do Tratado Antártico tem diversas lacunas, além de
necessitar de melhoria em várias das medidas previstas, é necessário
regulamentar a administração logística, científica, de descarga de resíduos e
turística, como também a administração de áreas protegidas.
Uma aliança global eficaz tem que fazer uso de todos os recursos da
humanidade para enfrentar os enormes desafios das próximas décadas. Todos
devem trabalhar juntos: órgão intergovernamentais, organizações não-
governamentais, o mundo dos negócios, a indústria e o comércio. Entidades
como a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza),
compostas por membros dos setores governamentais e não-governamentais e
também o WWF com seus fortes vínculos com a comunidade empresarial
podem dar importantes contribuições.
É imprescindível também o fortalecimento e envolvimento do sistema
das Nações Unidas para que se tenha atuação efetiva na sustentabilidade
mundial.
A filosofia tradicional da administração do meio ambiente tem sido
setorial, lidando com agricultura, administração florestal, zonas pesqueiras,
conservação natural, prevenção da poluição, uso e conservação de energia,
indústria, planejamento de assentamentos humanos e outros componentes do
sistema mundial, como se fossem entidades independentes. Todavia, muitos
dos problemas ambientais que enfrentamos hoje decorrem do excesso de
setorialismo na administração de recursos e na divisão de responsabilidades
51

entre departamentos de governo e entre agências internacionais. Devemos


entender o meio ambiente como um sistema interativo que fornece o alicerce
para o desenvolvimento e como o determinante máximo da sustentabilidade e
da qualidade de vida.
Por tais razões os princípios descritos seguiram uma filosofia de
integração, explorando suas implicações na ética e na conduta pessoal, na
ação social para melhorar a qualidade de vida, conservar a biosfera e manter o
Planeta Terra dentro dos limites de sua capacidade de suporte, e na ação de
indivíduos, comunidades locais, de governos e da comunidade internacional.
52

UNIDADE 14 - APLICAÇÕES DOS PRINCÍPIOS


DESCRITOS - AÇÕES PARA UMA VIDA SUSTENTÁVEL

1. Energia

O consumo de energia comercial tem aumentado em ritmo acelerado e


crescente, sendo esta fundamental para o desenvolvimento. A produção e o
uso da energia comercial causam também graves impactos sobre o meio
ambiente, na forma de efluentes ácidos, emissões de metano e resíduos de
mineração; vazamentos de óleo de instalações em terra ou em alto-mar, e de
navios; poluição do ar por dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e dióxido de
carbono, resultantes da queima de carvão, petróleo ou gás. As indústrias de
energia são também as maiores usuárias de recursos não-renováveis.
Há muito desperdício na indústria de energia comercial e no uso de seus
produtos. Por exemplo, os sistemas elétricos de aquecimento utilizam fonte de
calor de alta temperatura para produzir pequenos acréscimos de baixas
temperaturas. Isto é, funcionam para tornar a temperatura interna apenas
poucos graus diferentes da temperatura do meio ambiente mais próximo.
Muitas usinas de força emitem o calor desperdiçado para o meio ambiente, na
forma de água quente, ar quente ou vapor. Só recentemente as usinas de
produção combinada de calor e energia começaram em muitos países, a
vender a sua produção de energia térmica em baixa temperatura para
aquecimento dos prédios próximos. Muitos processos industriais ainda utilizam
energia muito além do necessário para seu funcionamento. Os veículos
motorizados consomem cerca de um terço do petróleo usado no mundo. São
53

notavelmente ineficientes além de se constituírem numa das maiores fontes de


poluição.
A otimização do uso de energia e a prevenção da poluição decorrente da
queima de combustíveis fósseis são objetivos fundamentais para todos os
países. O planejamento deveria começar pela análise das necessidades do
homem e pelo exame de como supri-las de forma mais eficiente e equitativa.
Ocorre atualmente que, enquanto o uso eficiente de energia tem sido
aperfeiçoado em muitos países de alta renda, a eficiência tem declinado em
diversos países recém-industrializados.
As agências de assistência ao desenvolvimento e os bancos de
desenvolvimento multilateral deveriam colocar menor ênfase na concessão de
recursos para projetos convencionais de suprimento de energia e fornecer mais
ajuda para novas técnicas e fontes renováveis que melhorem a eficiência e a
conservação. A otimização do setor energético é, portanto, um fator
fundamental para a sustentabilidade mundial.
As estratégias de uso nacional de energia devem ser claras, onde o
enfoque principal seria atingir a meta de redução no consumo individual de
energia. Também reduzir o uso de combustíveis fósseis, as perdas na
distribuição de energia e a poluição decorrente da geração de energia
comercial.
Para isso, desenvolver fontes de energia renovável e outras fontes de
energia combustível não-fóssil torna-se necessário. Sabemos que qualquer
fonte de energia que seja explorada acarretará algum impacto ambiental, por
exemplo, a energia hidrelétrica envolve a construção de barragens, as quais
podem ocasionar o deslocamento de comunidades inteiras, ou, se localizadas
em região montanhosa, podem criar conflitos com a conservação da paisagem
e da diversidade biológica. A utilização da força eólica, da energia solar e da
força das ondas só é possível através da construção de usinas, as quais
podem afetar os habitats ou características de uma região. O uso de materiais
vegetais (biomassa) para gerar álcool combustível envolve plantio e colheita e,
portanto, é uma concorrente ao uso da terra pela agricultura, administração
florestal ou conservação da natureza. A preocupação com a energia nuclear
decorre do medo de acidentes e também pela segura descarga dos resíduos.
54

É importante dar prosseguimento à pesquisa e ao desenvolvimento para


o uso eficiente de fontes de energia renovável. Os governos deveriam dar
suporte a este trabalho.
Há um enorme campo para economia de energia e dinheiro através de
uma maior eficiência no uso de energia nos lares, indústria, escritórios e
transportes. Há cálculos que demonstram que só o aumento da eficiência no
uso da energia poderia reduzir as emissões de dióxido de carbono entre 1% e
2%. Por exemplo, em muitos países, cerca da metade da energia comercial
fornecida é para aquecer os locais que as pessoas vivem e trabalham. Com
frequência, esse aquecimento é altamente ineficiente. Os padrões de
isolamento das construções são deficientes, como também os controles que
garantem o suprimento de calor e de luz somente quando as pessoas deles
necessitam.
Faz-se necessário promover campanhas publicitárias que promovam a
conservação de energia. A educação ambiental na escola pode ser uma
grande aliada.

2. Negócios, indústria e comércio

Muitas empresas têm reconhecido que cuidar do meio ambiente é um bom


negócio. E não é apenas questão de relações públicas. A eficiência no uso de
energia, a redução do desperdício e a prevenção da poluição podem aumentar
os lucros.
Os países de menor renda devem expandir seu parque industrial para
sair da pobreza e adquirir sustentabilidade. Mas este desenvolvimento deve
seguir um padrão diferente daquele que contaminou o meio ambiente e impôs
pesados custos sociais em muitas áreas dos países de mais alta renda. A
industrialização já está causando graves danos, como na China.
55

A responsabilidade pela garantia de uma industrialização limpa está


dividida entre os governantes, na qualidade de reguladores e administradores
da política econômica, os especialistas ambientais, como conhecedores da
capacidade suporte e recuperação do planeta Terra, e o setor industrial, por ser
a principal fonte de conhecimento tecnológico. Será necessário o
desenvolvimento de novas tecnologias para redimir os erros do passado, e
obter uma nova forma de crescimento industrial livre de danos.
O setor empresarial deve fazer da ética da vida sustentável uma parte
integrante de suas metas, atentando para que suas práticas, processos e
produtos sejam regidos pela conservação de energia e de recursos, e tenham
um impacto mínimo nos ecossistemas. As indústrias baseadas em recursos
naturais, como minério, madeira, fibras e alimentos, ou que dependam da
qualidade do meio ambiente como o setor de turismo, têm uma parcela
especial de responsabilidade.
À medida que as sociedades assumirem seu compromisso para com a
sustentabilidade, as práticas que hoje são limitadas a poucas empresas
preocupadas com o futuro vão tornar-se universais.

Não somente os processos industriais devem ser acompanhados de


perto, mas também as atividades das indústrias de serviços, do setor financeiro
e do turismo, por terem elas importantes relações com o meio ambiente e os
recursos naturais.
A indústria do turismo é difundida mundialmente, tendo um importante
significado no desenvolvimento econômico dos países de menor renda. Esse
setor tanto depende quanto afeta a diversidade cultural e natural. Para que o
turismo possa desenvolver-se de forma sustentável, há que se integrar
56

conservação e desenvolvimento e coordenar os diversos e diferentes setores e


interesses.
As autoridades reguladoras deveriam estabelecer padrões, procurando a
melhor opção ambiental praticável, revendo seus efeitos em solos, ar, água, e
minimizando riscos para o ambiente como um todo. Esses padrões deveriam
ser revistos continuamente por essas mesmas autoridades, com base nos
avanços técnicos. Também seria fundamental assegurar que novas indústrias e
empreendimentos empregassem a melhor tecnologia disponível. Outro fator a
considerar seria a exigência que todas as emissões para o meio ambiente
fossem monitoradas, e seus resultados abertos ao conhecimento público.
Os governos têm a obrigação de rever os atuais incentivos econômicos
concedidos a indústria e ao empresariado, e assegurar que promovam a
conservação de energia, materiais e água, e minimizem a poluição e o
desperdício. Exigir que todo novo empreendimento industrial proposto fosse
submetido a um Estudo de Impacto Ambiental, e que todas as atividades
industriais existentes, incluindo a produção e consumo de bens e serviços,
passassem por uma auditoria ambiental.
Cabe também aos governantes assegurarem uma eficiente legislação
nacional relativa à administração de resíduos e à identificação, embalagem,
comércio e descarga de substâncias perigosas. É preciso continuar a busca de
novos e mais seguros substitutos de substâncias químicas tóxicas.
A indústria mineral enfrenta um desafio específico: minimizar o
esgotamento dos recursos não-renováveis e usá-los de forma eficiente. Isso
significa que o ritmo da atividade extrativista deveria ficar mais lento, para a
conservação de reservas para o futuro. Tal medida é difícil de ser tomada em
um sistema mercadológico competitivo. As indústrias que usam os produtos
das florestas, agricultura, zonas pesqueiras têm responsabilidade especial
quanto ao uso dos recursos. O fornecimento de madeira tropical já está
ameaçado pelo fracasso de administradores das florestas tropicais. A indústria
da baleia e o comércio internacional de marfim foram destruídos pela
ilegalidade e controles deficientes.
A indústria biotecnológica é um caso especial. É nova e está crescendo
rapidamente, usa material genético de formas completamente inéditas. Faz-se
necessário um acordo internacional para estabelecer procedimentos de exame
57

quanto à segurança e à aceitação ambiental da biotecnologia e seus produtos.


Tal acordo poderia ser baseado no Código de Conduta para a Biotecnologia
redigido pela FAO a pedido da Comissão sobre Recursos Genéticos Vegetais.

O setor de turismo é outro caso especial. Trata-se de um setor não-


extrativo: isto é, não retira recursos da natureza. Todavia, ele próprio e sua
infraestrutura de hotéis, transporte e outros elementos podem, como o setor
extrativo, provocar um importante impacto sobre o meio ambiente.
Governantes, organizações de conservação e o setor de turismo deveriam
trabalhar juntos para assegurar que o turismo seja planejado e regulado de
forma a controlar seu impacto sobre a natureza e manter sua base de recursos.
Os empreendimentos turísticos deveriam estar sujeitos a Estudos de Impacto
Ambiental. Também, faz-se necessário controlar o impacto do turismo sobre
as pessoas. A corrosão de culturas pela ação do turismo já está amplamente
difundida. As pessoas afetadas pelo turismo devem participar nas decisões
relativas a novos empreendimentos e ter o poder de modificar propostas, e até
mesmo impedir aqueles projetos que venham a prejudicar o seu estilo de vida e
o seu meio ambiente.
58

Se administrado corretamente, o turismo nas áreas protegidas pode vir a


se tornar um instrumento bastante eficiente para a conservação da natureza,
como também uma fonte de financiamento dessa conservação. É fundamental
educar turistas e operadores quanto às suas responsabilidades para com o
meio ambiente e promover a conscientização da beleza da natureza e a
necessidade de sua conservação.

3. Assentamentos humanos
A proporção de moradores urbanos vem aumentando cada vez mais e
com grande rapidez e consequentemente as cidades vão ficando maiores. A
falta de oportunidades de trabalho e de acesso à terra nas zonas rurais e o
fornecimento de educação e serviços públicos melhores, combinados a
maiores oportunidades de emprego, levaram um número cada vez maior de
pessoas a mudar para as cidades.

As cidades geram e acumulam riqueza, sendo os principais centros para


educação, novos empregos, novas ideias, cultura e maior oportunidade
econômica. Todavia, são também imensas consumidoras de recursos naturais.
Esterilizam a terra –embora um planejamento adequado pudesse impedir que
isso acontecesse – consomem enormes volumes de água, energia, alimentos e
matérias-primas. Geram poluição, que contamina a água, o ar e o solo, muito
59

além dos seus limites. Portanto, muitos problemas do meio ambiente rural
estão inevitavelmente ligados ao suprimento das necessidades urbanas.
A anatomia de uma cidade é fundamental para seu funcionamento.
Sistemas de transporte devem operar adequadamente para que produtos e
pessoas circulem com facilidade. Infelizmente, quase todas as cidades
estabeleceram-se antes de os veículos motorizados tornarem-se comuns. Na
verdade, muitas cidades precisam parar de crescer devido ao
congestionamento urbano, além do barulho e poluição. O hidrocarboneto e o
óxido de nitrogênio emitido pelos veículos movidos à gasolina reagem sob a luz
do sol, criando uma névoa oxidante e irritativa, que é prejudicial à saúde
humana e danosa à vegetação. A poluição do ar é particularmente nociva nas
cidades e o tráfico urbano lento desperdiça energia.
Poucas cidades possuem sistemas de transporte público eficientes,
seguros, limpos e atraentes, e que as pessoas desejam usar.
Apesar de serem os centros da indústria e do comércio, muitas cidades
mostram extrema pobreza e degradação ambiental. Nos países de menor
renda, a proporção dos habitantes urbanos que sofrem por pobreza e
degradação ambiental é muito maior do que nos países de alta renda. A falta
de políticas efetivas para o desenvolvimento sustentável das econômicas rurais
força os mais jovens a abandonar o campo e irem em busca da cidade. Para a
maioria, o fornecimento de água, saneamento, coleta de lixo e acesso à
assistência médica são serviços altamente insatisfatórios. Esses problemas
são devidos mais às falhas governamentais, em todos os níveis, do que ao
rápido crescimento populacional.
O desenvolvimento urbano sustentável depende de novas parcerias do
povo local, de grupos de cidadãos, do setor de negócios e dos governos. Os
planos de desenvolvimento devem ser equitativos, sustentáveis, práticos,
sensíveis às normas e culturas locais e bem recebidos pelas pessoas
interessadas. Cidadãos, políticos, administradores e profissionais urbanos
deveriam ser treinados para trabalharem dentro de um plano de ação.
Os governos locais precisam receber delegação de poderes e
desenvolver uma capacidade efetiva de ação. Precisam administrar mudanças,
dentro de um contexto ecológico, para que as cidades possam dar suporte a
economias mais produtivas, estáveis e inovadoras, mantendo, ao mesmo
60

tempo, um meio ambiente de alta qualidade, serviços adequados para todos os


setores da comunidade e uso sustentável dos recursos. Essas condições só
poderão ser conseguidas se todos os grupos interessados vierem a participar,
se o governo for ativo, descentralizado e representativo, e esse apoiar os
esforços de seus cidadãos.

4. Áreas agrícolas e pastagens


O número de vítimas da fome é grande e continua aumentando. Calcula-
se que 815 milhões, em todo o mundo, sejam vítimas crônicas ou grave
subnutrição, a maior parte das quais são mulheres e crianças dos países em
vias de desenvolvimento. O flagelo da fome atinge cerca de 777 milhões de
pessoas nos países em desenvolvimento, 27 milhões nos países em transição
(na ex-União Soviética) e 11 milhões nos países desenvolvidos.
61

A subnutrição crônica, quando não conduz apenas à morte física, mas


implica frequentemente uma mutilação grave, nomeadamente a falta de
desenvolvimento das células cerebrais nos bebês, e cegueira por falta de
vitamina A. Todos os anos, dezenas de milhões de mães gravemente
subnutridas dão à luz dezenas de milhões de bebês igualmente ameaçados.
A falta de alimentos é mais crítica na África sub-Saariana e no sul da
Ásia. Em muitos países de menor renda, a agricultura tem sido solapada por
uma dependência crescente de alimentos importados, pela priorização das
colheitas para exportação, pelo provimento inadequado de condições para
pesquisa e atividades correlatas, e pela degradação do solo.

Estima-se que 6 a 7 milhões de hectares de terra produtiva tornam-se


improdutivos a cada ano, devido à erosão. Ocorrências de encharcamentos,
salinização e alcalinização reduzem a produtividade. Grande parte dessas
terras agrícolas perdeu-se pela ocupação humana.
A degradação das terras de pastagem só será revertida quando a
quantidade de cabeças que nelas se alimentam corresponder à sua
capacidade de suporte. Todavia, existe uma resistência muito grande à
redução dos rebanhos.
62

São diferentes os problemas das diversas áreas onde as florestas foram


desmatadas para formação de pasto. A perda de nutrientes, a erosão e a
capacidade diminuída de retenção de água são fatores que se combinam para
tornar muitas dessas terras improdutivas e propensas à degradação ainda
maior. Tal processo tem sido encorajado por incentivos tributários, subsídios e
concessão de títulos de posse de terras desmatadas. No Brasil, os incentivos
econômicos que impulsionaram esse processo foram retirados recentemente.
Outros países deveriam seguir este exemplo.
A maior parte das terras “sem uso” tem um potencial agrícola muito
pequeno, devido à pobreza do solo e ao baixo índice pluviométrico. Portanto,
essas terras servirão melhor como mantenedoras da biodiversidade e de
sistemas de suporte à vida, e também para produção de madeira, carne de
caça, castanhas e outros recursos selvagens.
No outro extremo há uma enorme produção agrícola na maior parte da
Europa e da América do Norte. Essa superprodução subsidiada pode ter um
alto custo econômico e ecológico. Ela tem reduzido a diversidade biológica e a
beleza de muitas paisagens rurais. A distribuição subsidiada da produção
excedente permite a extensão de ajuda alimentícia a áreas atingidas pela fome.
Isso, todavia, faz baixar os preços de mercado para a produção local, além de
minar o potencial de desenvolvimento agrícola dos países de menor renda.
Nos países de alta renda, as fazendas familiares estão dando lugar a
empresas rurais. Nos países de menor renda, os programas para aumento da
produção agrícola têm sido concentrados nas fazendas maiores, localizadas
em vales e planícies com água abundante e solo relativamente fértil, onde a
oportunidade de ganhos é imediata. A situação dos pequenos proprietários de
terra tende a piorar se não forem tomadas medidas alternativas viáveis.
A maioria dos agricultores percebe que para manter sua renda e padrão
de vida, precisam conservar a produtividade do solo, cuidar do suprimento de
água e controlar as pragas.
63

O solo e a água devem ser administrados de forma integrada, para que


ambos sejam conservados, além de possibilitar melhores condições para o
enraizamento e boa produção e minimizar os impactos ambientais.
A matéria orgânica do solo precisa ser conservada. A perda da matéria
orgânica reduz o suprimento de nitrogênio do húmus nativo, diminui a
capacidade de retenção de água do solo e aumenta a sua suscetibilidade à
compactação e erosão. Os fertilizantes devem ser aplicados para manter a
produção. Todavia, os fertilizantes minerais não substituem as características
biológicas e físicas da matéria orgânica e podem não substituir os nutrientes
essenciais à planta. É importante a reciclagem da matéria orgânica em
qualquer sistema agrícola. Há muitas formas tradicionais de reciclagem como:
uso de esterco; adubo natural composto; rodízio de culturas; sistemas de
alqueive (arar a terra e deixá-la descansar para que adquira força produtiva);
culturas diversificadas. Tais métodos devem ser mantidos e aperfeiçoados,
especialmente nos países de menor renda, onde a produção sustentável deve
ser não apenas mantida, mas aumentada.
Os países deveriam manter uma estratégia nacional pela
sustentabilidade na produção agrícola. Os governos poderiam mapear e
controlar as áreas mais produtivas de terras rurais e adotar políticas de
64

planejamento e zoneamento, de forma a evitar a perda de terras nobres para


assentamentos urbanos.
Há como opção o sistema de agroflorestamento, que incluem as árvores
como um importante componente no processo de culturas variadas. As árvores
protegem o solo do impacto da chuva e da insolação. Algumas espécies de
árvores fixam o nitrogênio atmosférico e enriquecem o solo, enquanto as
árvores de enraizamento profundo evitam a perda de nutrientes do sistema, e
os levam para a superfície. A interação entre as árvores e os outros
componentes do sistema resulta na boa proteção do solo e na conservação de
água e nutrientes. Nesse sentido, os sistemas agroflorestais comportam-se de
forma similar aos ecossistemas naturais de camadas múltiplas. A desvantagem
é que a produção das culturas combinadas é geralmente menor que nas
monoculturas.
Deve –se considerar o agroflorestamento nas terras marginais, que
originalmente foram florestas, agora usadas para produção,
independentemente de estarem localizas em áreas de baixo ou alto índice
pluviométrico, ou do nível de sua elevação.

Controlar o uso de pesticidas e fertilizantes é uma medida


importantíssima a ser adotada. Os resíduos de pesticidas viajam longas
distâncias e se instalam na cadeia alimentar, afetando, portanto, humanos e
outras espécies em locais muito distantes de onde foram aplicados. Os
pesticidas matam ou prejudicam um enorme número de organismos como
peixes, pássaros, insetos que polinizam as lavouras e animais que se
alimentam desses organismos.
Os fertilizantes também tiveram um importante papel no aumento da
produtividade agrícola. Em contrapartida, seu uso excessivo também tem
causado sérios problemas. Faz-se necessário achar um equilíbrio.
65

Uma das metas é manter as pestes abaixo dos níveis que acarretam um
inaceitável prejuízo econômico e fazer isso de uma forma economicamente
eficiente e ecologicamente saudável. Pode ser incluso controles biológicos;
controles culturais, tais como o corte ou a erradicação de ervas daninhas; uso
de variedades cultivadas que sejam resistentes ou tolerantes; uso de pesticidas
microbianos, ferormônios.
Os níveis permitidos de poluentes (incluindo os resíduos de pesticidas)
nos alimentos e na água potável, bem como a licença para comércio, o manejo
e a aplicação de pesticidas devem ser controlados por regulamentos que sejam
adequadamente cumpridos e monitorados. Tal tarefa seria atribuída a órgãos
nacionais de proteção ambiental.
A variabilidade genética dentro das espécies é essencial para o
desenvolvimento agrícola, pois fornece a matéria-prima da domesticação, do
cultivo de plantas, da criação de animais e da biotecnologia. Devem-se
promover esforços rápidos para a conservação dos recursos genéticos, com
envolvimento e participação de todos os países da Comissão sobre Recursos
Genéticos Vegetais.
Alguns dos problemas da agricultura podem ter sua solução facilitada
por medidas econômicas e sociais. Em alguns países, é altamente prioritária a
criação de oportunidades de trabalho alternativo nas áreas rurais. Em outros, é
necessária a adoção de incentivos para os ajustes necessários no uso da terra
ou, ainda, ajuda à implementação de programas combinados de suporte
financeiro e técnico.
Os governos deveriam dar suporte a programas para a geração de
empregos durante os períodos ociosos de entressafra. Obras públicas com
taxas de retorno muito baixas para atrair investidores do setor privado são
especialmente úteis. Tais obras, essenciais para o desenvolvimento
sustentável, poderiam incluir: construção e manutenção de estradas rurais,
reflorestamento, sistemas de conservação do solo e da água, instalação de
encanamentos de água, construção ou manutenção de sistemas de controle de
enchentes ou de canais de irrigação.
Especialmente nos países de alta renda, os governos deveriam substituir
os subsídios de preços para commodities por incentivos para proteger os
66

ecossistemas não-cultivados, recuperar a produtividade da terra e adotar


métodos sustentáveis de produção.
O reforço das práticas tradicionais de uso de recursos, a concessão de
títulos de posse de terra e o acesso a crédito são medidas essenciais para
estimular os agricultores a tomarem os cuidados ambientais básicos.

5. Áreas florestais

O termo “florestas” nesse enfoque aqui discutido descreve ecossistemas


de floresta, os quais além de árvores incluem o solo, a água e a variedade de
animais, microorganismos e outras plantas que compartilham esses
ecossistemas.
As florestas e as matas são encontradas desde regiões litorâneas até
áreas subalpinas, dos trópicos até a região subártica. Elas existem numa
extraordinária variedade de formas: perenefólias e decíduas (que perdem
folhas), coníferas e latifoliadas, úmidas e secas, florestas fechadas ou abertas.
As árvores predominantes variam de gigantes maciços a anões retorcidos, com
muitas gradações e combinações. A maior parte das terras hoje cultivadas e
habitadas esteve um dia coberta de florestas, e grande parte da agricultura
desenvolve-se em solos que se formaram sob florestas.
As florestas naturais e modificadas fornecem uma quantidade enorme de
benefícios ao ser humano. Elas são parte integrante dos sistemas de suporte à
vida do Planeta Terra, influenciam a atmosfera e o clima e são o principal
estoque de carbono.
As florestas moderam os climas locais, gerando condições mais brandas
e úmidas. Controlam o ciclo hidrológico local, protegendo o solo da erosão
excessiva e reduzindo as cargas de sedimentos para os rios, diminuindo a
67

velocidade do escoamento superficial de água e moderando as enchentes e


outras flutuações prejudiciais no fluxo dos rios. A vegetação que recobre bacias
fluviais regula o escoamento de água e ajuda a manter o habitat de desova
para peixes e sustentar a pesca.
As florestas são ecossistemas altamente variados e fornece uma grande
quantidade de recursos. A produção mundial de madeira para todos os fins
aproxima-se de 3,3 bilhões de m3 por ano. Seis países produzem mais da
metade de toda a madeira do mundo: Estados Unidos, China, Índia, Brasil,
Indonésia e Canadá. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de madeira,
participando com 6% do total. A maior parte da produção mundial é de
biomassa para uso energético (lenha e carvão vegetal). O comércio mundial
(importações + exportações) de madeira e derivados é de cerca trezentos
bilhões de dólares por ano.
As florestas produzem grandes quantidades de forragem, de alimentos
para animais e plantas, elementos medicinais, fibras, peles e couros, óleos
essenciais, gomas, ceras, látex e resinas. É difícil calcular o total desses
produtos em volume e valor, mas decerto geram um volume substancial de
renda e de empregos, sendo fatores importantes na economia doméstica de
muitos lares e comunidades.
As florestas são uma parte importante da base de recursos do turismo e
tem um valor cultural inestimável: são fontes de beleza e de grandiosidade para
contemplação, recreação, encantamento, religião, arte, música e poesia.
Na construção de sociedades sustentáveis, surgem duas importantes
questões. A primeira, dado o aumento inexorável da população humana nas
próximas décadas, quantas áreas mais de florestas terão que ser convertidas
para a agricultura e outros usos, para suprir as necessidades essenciais
humanas? A segunda, como deveriam ser administradas as áreas das florestas
que restarão?
Agora elas estão sendo destruídas ou degradadas em quase todo o
mundo. A maior parte das florestas já foi modificada e as áreas de floresta
natural que ainda restam estão sendo excessivamente pressionadas.
Em muitas florestas temperadas do hemisfério norte, a derrubada e o
desbastamento de árvores têm ocorrido por meio de uma série de rodízios e
parece fornecer produções sustentáveis de madeira de corte. Isso acontece
68

quando a coleta é seletiva e adota-se o procedimento de pequenas derrubadas


nas espécies de crescimento rápido.
A produtividade das florestas européias vem diminuindo principalmente
devido à poluição que vem por duas vias: a primeira é a chuva ácida,
decorrente do óxido de enxofre e do óxido de nitrogênio emitidos pelas usinas
de força e por grandes centros industrializados, e a segunda são os oxidantes
produzidos por reações químicas, envolvendo emissões de veículos
motorizados.
São dois os principais fatores a determinar a degradação das florestas
boreais e temperadas. O primeiro é a falta de uma política florestal apropriada.
A maioria das chamadas políticas florestais são, na verdade, políticas de
produção de madeira de corte, e não visam manter e aumentar os valores
florestais. O segundo fator é o crescimento urbano deficientemente controlado
e a excessiva poluição do ar.
As florestas e matas tropicais são desmatadas e destinadas a cultivo
migratório e insustentável, assentamentos, formação de fazendas e outros
esquemas agrícolas. Além disso, o corte de madeira combustível está
consumindo seriamente os recursos das florestas. O desmatamento das
florestas tropicais é responsável por 1/5 das emissões globais de gases de
efeito estufa, número superior às emissões do setor de transportes em todo o
mundo. Desde 1997, até dados de 2007, cerca de 13 milhões de hectares de
florestas (principalmente as tropicais) foram destruídos – o equivalente a uma
área do tamanho da Grécia destruída a cada ano.
Na América Latina, o desmatamento ocorre para dar lugar à criação de
gado, especulação da terra, assentamentos não-planejados nas áreas
adjacentes às novas estradas em construção, e à agricultura migratória e
insustentável. Essas mudanças destrutivas têm sido favorecidas por políticas
implementadas para promover o crescimento econômico e a colonização da
terra.
O corte seletivo das árvores é a prática costumeira nos trópicos é uma
atividade que frequentemente resulta na degradação, às vezes muito grave, da
floresta, prejudicando a semeadura da espécie e de outras árvores. Tais
problemas são piorados pelo corte prematura de árvores, não permitindo a
69

recuperação adequada da floresta. Práticas melhoradas de corte seletivo


trariam a solução para estes problemas.
Diversos fatores influenciam a destruição de florestas tropicais. Um
deles é a distribuição desigual da terra e o poder político e econômico, que
permitem aos abastados liquidar as florestas para obtenção de lucro, e forçam
grande número de sem-terras e outros desfavorecidos a colonizar as florestas
e tentar cultivar a terra insustentável para a agricultura. Milhares de
comunidades locais e povos indígenas dependem das florestas para manter
seu modo de vida tradicional.
A propriedade florestal mundial precisa ser vista e avaliada como um
recurso natural sem preço, a ser mantido para o benefício a longo prazo de
toda a humanidade. Faz-se necessária uma ação internacional para criar e
manter mercados para os produtos provenientes de florestas administradas de
forma sustentável, e para ajudar os países de menor renda a retirar o máximo
de benefícios do uso sustentável de seus recursos de floresta.
Cada país deveria:
 preparar um levantamento de seus recursos florestais e uma estratégia
para sua administração;
 proteger áreas de floresta natural, manter florestas modificadas e usá-las
sustentavelmente, e estabelecer plantações de coleta sustentável;
 envolver as comunidades locais na administração florestal.
A terra deve ser destinada ao uso que lhe for ecologicamente
sustentável, considerando os fatores sociais e econômicos envolvidos. Cada
país deveria fazer uma estimativa econômica dos serviços ambientais, recursos
biológicos, madeira e outros produtos fornecidos pelas florestas. Esse estudo
permitirá a inclusão de indicadores de sustentabilidade no orçamento nacional,
como também o levantamento objetivo de custos e benefícios de usos
alternativos de florestas e terras florestais. Os benefícios decorrentes de
produtos não provenientes da madeira, fornecidos pelas florestas naturais e
modificadas, podem constituir-se em um forte incentivo econômico para a
conservação das florestas.
Em muitos países, os recursos florestais estão esgotados a tal ponto que
será impossível estabelecer um sistema adequado de floresta antiga protegida.
Nesse caso, a melhor opção para se atingir os objetivos de conservação será o
70

estabelecimento de cinturões de floresta quase natural em torno das áreas


salvaguardadas.
A plantação de florestas deveria ocorrer como elemento adicional às
florestas naturais e modificadas já existentes, e não em substituição às últimas.
Os locais prioritários são as terras degradadas e aquelas a serem retiradas da
agricultura. Esta plantação contribui para a sustentabilidade e para a economia,
através da concentração da produção de madeira de corte em áreas próximas
a mercados e meios de transporte. Nos países de menor renda como o Quênia
ou Ruanda há muitos exemplos de casos bem-sucedidos de aumento de
produção de madeira combustível.
Os recursos genéticos da floresta incluem o germoplasma das árvores e
o material genético de outros organismos da floresta. É necessário que ambos
sejam conservados, e isso requer o conhecimento do grau e da distribuição da
variação genética dentro das espécies envolvidas. Idealmente, também seria
necessário um plano de conservação genética para cada uma das espécies.
A reciclagem e o uso eficiente da madeira, e os usos duradouros de
madeira processada que vão manter o carbono armazenado por longos
períodos, deveriam ser incentivados. Nos países de alta renda, grandes
quantidades de madeira são perdidas nas construções e na demolição de
prédios. Essa madeira deveria ser reciclada.
Os preços de produtos florestais deveriam refletir seu custo social total.
A receita teria que ser reinvestida na conservação, pesquisa e administração
de florestas.

6. Água doce

A vida no planeta Terra depende da água. É um excepcional solvente


que carrega nutrientes essenciais à vida. Em movimentação contínua, acima e
71

abaixo da superfície do solo, a água mantém e representa um elo de ligação


entre os ecossistemas do Planeta.

A maneira como as pessoas usam a terra e modificam seus


ecossistemas, afeta a qualidade, o movimento, e distribuição da água. E a
forma como as pessoas utilizam a água, afeta a qualidade e quantidade da
água e, em consequência, a integridade da terra e dos ecossistemas aquáticos.

Estima-se que as retiradas totais de água tenham aumentado mais de


35 vezes durante os últimos três séculos, e que devem aumentar muito mais.
Os níveis atuais de uso da água doce não poderão ser mantidos se a
população humana atingir aproximadamente 10 bilhões em 2050. Muitos
países já sofrem com falta de água.
Na maioria dos países, a agricultura irrigada é o principal consumidor,
responsável por aproximadamente 70% da retirada de água do mundo. A área
de terra irrigada quase triplicou desde 1950. Ela fornece um terço do alimento
mundial, porém menos de 40% da água suprida através de irrigação contribui
para o crescimento das culturas, sendo o restante perdido. Esquemas de
irrigação mal-administrados arruinaram grandes áreas de solos originalmente
férteis, pela ação de encharcamento e salinização.
Em grande parte do mundo (praticamente todo), a qualidade da água
está prejudicada, às vezes seriamente, pela poluição e pelo uso inadequado da
água e da terra. Os patógenos transportados pela água são a principal causa
de mortalidade e doenças nos países de menor renda. Os nutrientes da água
descartada e do escoamento de fertilizantes resultam em eutrofização e em
blooms de algas, reduzem a potabilidade da água subterrânea e de superfície,
prejudicam a pesca e diminuem a diversidade biológica. A salinização
decorrente da irrigação torna a água inadequada para consumo e reduz a
produção agrícola. A poluição por metais pesados, a contaminação por
pesticidas orgânicos, a acidificação das águas pela chuva ácida são, hoje,
problemas importantes da Europa, América do norte e partes da Ásia.
À medida que crescem as populações, a sustentabilidade do uso
humano de água depende fundamentalmente da adaptação das pessoas ao
ciclo da água. As sociedades humanas precisam desenvolver a habilidade –
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conscientização, conhecimento, procedimentos e instituições – para administrar


seu uso da terra, como também da água, de forma integrada e abrangente, de
modo a manter a qualidade e a quantidade do suprimento de água para as
pessoas e para os ecossistemas que as suportam.
A vida sustentável implica uma responsabilidade maior dos usuários de
água para sua conservação. Para que os usuários possam modificar suas
atitudes e práticas, devem dispor de informações, orientação, programas
educativos e campanhas e conscientizarem que a água não é infinita e nem
tampouco gratuita. A inovação administrativa e tecnológica será necessária
para desenvolver e implementar planos de uso sustentável da água e dos
recursos aquáticos.
Muitos países não têm condições necessárias para tomar essas
medidas, para isso, faz-se necessária a extensão de programas de treinamento
na administração da água e dos ecossistemas aquáticos. As instituições de
treinamento deveriam fornecer programas relativos à administração integrada
de recursos hídricos e a preparação e implementação de estratégias baseadas
na água para o uso sustentável da terra.
O aumento da eficiência de uso da água com instrumentos econômicos
deveriam ser implementados, e examinar a infraestrutura municipal para
verificar possíveis vazamentos na rede de distribuição. Os sistemas de
irrigação deveriam ser recuperados para eliminar perdas de água.
Grande parte da legislação existente de licenciamento refere-se apenas
a retiradas de água e à navegação. O reconhecimento de questões como o uso
de água para fins de recreação e a conservação de recursos e ecossistemas
aquáticos é deficiente ou inexistente. A legislação deveria ser modificada para
reconhecer e precaver-se com relação a todos os usos.
Quanto às bacias hidrográficas, verificamos que são sistemas
complexos, nos quais os efeitos das atividades humanas sobre o ciclo
hidrológico são enviados a jusante (rio abaixo) para as comunidades e
ecossistemas. Todos os usos da água e da terra afetam a qualidade e o fluxo
da água, desde a cabeceira até a zona costeira. A política da água, dentro da
bacia hidrográfica, deveria basear-se na avaliação da capacidade de suporte.
Os ecossistemas de cada bacia estão interligados pela água. A boa
administração das florestas de cabeceira e das terras alagáveis ajuda a manter
73

o fluxo de água, pois as várzeas e muitos ecossistemas ribeiros dependem da


manutenção qualitativa e quantitativa do fluxo fluvial. É essencial que se proteja
as cabeceiras e que se mantenha o fluxo fluvial.
As autoridades ligadas à água deveriam exigir a preparação de
auditorias ambientais pelas indústrias e definir e implementar práticas
ambientais para a segurança das instalações industriais e para prevenção de
acidentes. Os procedimentos para amparar a resposta a acidentes deveriam
incluir regulamentos administrativos de segurança, nacionais e internacionais,
planos de monitoração e contingência, providências para a segurança de
reservatórios e estabelecimentos de serviços de emergência de limpeza e
contenção da poluição.
É necessário proporcionar às comunidades locais um maior controle
sobre a administração dos recursos aquáticos e fortalecer sua capacidade de
uso desses recursos.
Considerando que em torno de 40% da população mundial vive em
bacias hidrográficas compartilhadas por dois ou mais países, a obtenção da
sustentabilidade requer a solução amigável de demandas concorrentes do uso
da água. É importante a administração de conflitos, solução de disputas sobre
os recursos hídricos.
Não podemos nos esquecer que os mananciais de água doce suportam
muitas espécies de plantas, peixes e invertebrados endêmicos de áreas
específicas ou bacias hidrográficas. Seu habitat as tornam vulneráveis a
mudanças no regime da água e à poluição, sendo que muitas delas encontram-
se hoje ameaçadas. Tal diversidade genética deveria ser conservada.
A introdução intencional ou acidental de espécies exóticas de peixes e
outras espécies estão afetando a fauna nativa e já resultou em numerosa
extinção.
As águas de muitos dos maiores rios do mundo nascem nas montanhas.
Os habitantes das montanhas incluem alguns dos povos economicamente mais
pobres, porém culturalmente mais ricos do mundo. O meio ambiente montês
precisa ser mantido em condição mais próxima possível da natural, para
maximizar os valores de conservação a nível mundial, nacional e local. A
conservação das regiões montanhosas exige uma cooperação internacional
onde as fronteiras cruzam as cordilheiras.
74

7. Oceanos e áreas costeiras

Os oceanos predominam na superfície de nosso Planeta, cobrindo mais


de dois terços da área e tendo um papel fundamental no ciclo hidrológico, na
química da atmosfera e na formação do clima e das condições do tempo. De
provedores de alimentos, rede de rotas para navegação e fonte de recreação,
mais recentemente os oceanos tornaram-se fornecedores de energia, minerais
e remédios. Tais contribuições crescerão à medida que avançaram a
tecnologia e se tornaram mais escassos os recursos da terra.
A vastidão dos oceanos sugere que as pessoas não devem prejudicá-
los. Sua riqueza biológica está concentrada ao longo de uma faixa
relativamente estreita, formadas pelas plataformas continentais, margens
costeiras e estuários. Aqui estão as principais zonas de pesca, produzindo
mais de 80% da pesca do mundo. Aqui também estão os habitats mais
produtivos e diversos dos oceanos: estuários, restingas, recifes de corais.
Esses habitats são vitais para a proteção costeira e fornecem alimento e abrigo
para uma grande variedade de organismos, incluindo peixes, crustáceos e
moluscos.
A zona costeira, entre as margens voltadas para o mar das plataformas
continentais (até uma profundidade de aproximadamente 200 metros) e os
limites continentais das planícies costeiras, possui a maior produtividade
biológica do Planeta Terra. É também o lar da maioria da população mundial,
que depende de seus recursos e tem um amplo poder de determinar o seu
estado de saúde ecológica. Tais pressões, aliadas a um consumo de recursos
sempre crescente aos impactos previstos da mudança climática e do aumento
do nível do mar, terão fortes influências na zona costeira.
75

Como resultado das atividades humanas no continente e na costa, os


ecossistemas e recursos costeiros e marinhos estão se deteriorando
rapidamente em muitas partes do mundo. Mais de três quartos da poluição
marinha provêm de fontes terrestres, através dos rios, descargas diretas e da
atmosfera. O restante vem dos navios, de derramamentos e da mineração e
produção de petróleo em alto-mar. E mais de 90% de todos os produtos
químicos, resíduos e outros materiais que adentram as águas costeiras, lá
permanecem nos sedimentos, mangues, recifes da costa e em outros
ecossistemas costeiros.
A pesca excessiva, facilitada por novas tecnologias e combinada com as
flutuações naturais de população, conduziu ao declínio de algumas zonas de
pesca e à maior instabilidade de outras. Uma pressão muito grande poderia
reduzir a diversidade genética e a adaptabilidade das colônias.

Muitas zonas de pesca também estão sendo colocadas em risco, devido


à degradação do habitat. A aquicultura quando inadequadamente localizada
tem provocado enormes danos aos habitats. Um problema que ocorre de forma
mais geral com a aquicultura é a disseminação de pestes e doenças,
representando um sério risco para as colônias selvagens, como também para o
sustento dos pescadores.
Os recursos marinhos são normalmente tratados como propriedade
comunitária ou estatal. Os ecossistemas e recursos do mar aberto, para além
de 200 milhas da costa, ainda são recursos de livre acesso, não existindo
qualquer regime legal eficaz e abrangente para regular o seu uso. O
estabelecimento de Zonas Econômicas Exclusivas – ZEEs – que colocaram
extensos recursos sob o controle das nações costeiras representa a maior e
mais pacífica transferência de posse de recursos já existente. Mas a tradição
de propriedade comum persiste, e mesmo dentro das ZEEs, muitos países não
76

conseguem controlar eficientemente o acesso e o uso dos recursos vivos.


Muitas nações assinaram e ratificaram convenções sobre mares regionais,
convenções e acordos regionais sobre áreas de pesca, e outros acordos e
planos de ação para proteger os ecossistemas e recursos costeiros e
marinhos. Todavia muitas nações são desprovidas de programas, instituições
ou recursos para cumprir as obrigações envolvidas.
Em geral, ainda não captamos os conceitos necessários para
administrar as relações entre as pessoas e os oceanos, principalmente a
necessidade de enxergar os ecossistemas da zona costeira como um todo, e
de perceber os benefícios da administração dos impactos ambientais, tomando
como base as bacias hidrográficas.
O desafio da administração dos oceanos é tornar possível o uso dos
recursos e serviços fornecidos pelo meio ambiente marinho para atingir os
objetivos do desenvolvimento, sem a simultânea degradação da qualidade do
meio ambiente a exaustão dos recursos vivos. Para se obter uma mudança no
planejamento do desenvolvimento, que reconheça o integral valor dos recursos
oceânicos e marinhos, serão necessários novos instrumentos que possibilitem
a avaliação adequada dos recursos e serviços ambientais proporcionados
pelos mares. Também será importante a consecução da reestruturação das
instituições nacionais e internacionais.
A manutenção e o uso sustentável da riqueza natural das zonas
costeiras e dos oceanos exigem maior conscientização da importância dessas
áreas e os impactos humanos sobre eles. É preciso que haja uma abordagem
integrada das administrações costeira e oceânica e que estejam envolvidos a
comunidade local na administração dos recursos.
Os países deveriam fazer uso da melhor tecnologia e experiência para
lidar com áreas costeiras vulneráveis ao aumento do nível do mar. A principal
preocupação seria a manutenção dos ecossistemas costeiros, como mangues
e outras terras alagadiças, os recifes de coral, barreiras costeiras e lagoas, e
os processos costeiros naturais, como a sedimentação e o crescimento de
manguezais que são a melhor defesa contra mudanças adversas.
Promover áreas marinhas protegidas, que se encontram muito menos
desenvolvidas que a terrestre para salvaguardar ecossistemas costeiros e
marinhos representativos. Essas áreas protegidas serviriam como áreas de
77

reabastecimento de recursos marinhos e poderiam manter a diversidade


genética das espécies em risco.
Buscar a prevenção da poluição marinha proveniente de fontes
terrestres, navios e de instalações em alto-mar. Caso aconteçam acidentes
como derramamento de óleo, estabelecer procedimentos claros e eficientes
antecipadamente.
A pesquisa sobre os ecossistemas marinhos deve ser de natureza
interdisciplinar, exigindo a interação de cientistas, como oceanógrafos,
estudiosos dos peixes, meteorologistas, ecologistas e cientistas sociais. A
pesquisa para a administração da zona costeira requer a integração das
ciências terrestres, marinhas e dos estuários. Também precisam ser estudadas
as dimensões a nível social, econômico e político relativas ao uso de recursos.

Muitos documentos já apontaram o caminho em direção à


sustentabilidade. Muitas ações já foram desencadeadas. O mundo tem feito
grandes avanços no entendimento das necessidades e prioridades ambientais
desde o encontro das nações em Estocolmo, em 1972. As questões aqui
levantadas devem ser consideradas para assegurar o progresso da
humanidade, e serem encaradas como desafios a todos aqueles que levam a
sério a necessidade de caminhar ao encontro da sustentabilidade.
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REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS (Brasil) (ANA). Sistemas de informações


hidrológicas. Disponível em: http://hidroweb.ana.gov.br/hidroweb. Acesso
em: março 2011.

BERMANN, Célio. Limites e perspectivas para um desenvolvimento


sustentável. Tempo e presença. São Paulo, 1992.

COIMBRA, J. Á. A. O outro lado do meio ambiente. São Paulo: CETESB,


1985. 204p.

COHEN, J. E. How many people can the earth support? New York: WW
Norton & Company, 1995.

IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza; PNUMA,


Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; WWF, Fundo Mundial
para a natureza. Cuidando do Planeta Terra.São Paulo: Editora CL-A Cultural,
1991.

MARTINE, G. (org.). População, meio ambiente e desenvolvimento: verdades e


contradições. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993.

MIRANDA, E. E. de; MATTOS, C. de O.; MANGABEIRA, J. A. de C. Na força


das idéias - indicadores de sustentabilidade agrícola na Amazônia, o caso de
Machadinho d´Oeste, Rondônia. Campinas : ECOFORÇA/NMA-EMBRAPA,
95p. 1995.

RIBEIRO, Wagner Costa. A Ordem Ambiental Internacional. São Paulo.


FFLCH/USP, 1999.

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