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AULA 1

GESTÃO SOCIOAMBIENTAL E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

Prof. Rodrigo Berté


TEMA 1 – DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS APLICADOS AO MEIO AMBIENTE

O termo meio ambiente, também chamado apenas de ambiente, envolve


todas as coisas vivas (elementos bióticos) e não vivas (elementos abióticos) que
ocorrem no planeta Terra. O termo apresenta diversas definições na literatura,
podendo ser caracterizado pelo conjunto de fatores químicos, físicos e biológicos
que envolvem os seres vivos. A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA)
define meio ambiente como "o conjunto de condições, leis, influências e interações
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas" (Brasil, 1981).
A palavra ecologia é derivada do grego oikos (“casa” ou “lugar de
habitação”), e logia, que significa “estudo”, sendo a ciência que estuda as relações
entre os seres vivos e o meio em que vivem, além de suas interações. O local
onde ocorrem as relações recebe o nome de meio ambiente. Se observarmos o
nosso entorno com atenção, seremos surpreendidos com a estreita correlação
que existe entre os elementos naturais (físicos-químicos-biológicos) presentes no
planeta Terra. Por exemplo, quando um animal consome determinado vegetal,
este acaba não alimentando somente o animal, mas também as bactérias que se
encontram presentes no animal; ao mesmo tempo, uma parte do vegetal acaba
sendo transformada em proteínas, que serão absorvidas pelo ser humano que
consumirá o animal.
O ser humano apresenta uma relação de dependência com o meio
ambiente para a sua sobrevivência, pois dele são extraídos os recursos naturais
para o seu consumo, como a água e os alimentos que compõem o seu sustento.
Por muitos séculos, imperava a noção de que o meio ambiente era uma fonte
inesgotável de recursos naturais, pois quando algum recurso natural, em
determinada região em que o ser humano havia se estabelecido, se tornava
escasso, bastava se deslocar até uma outra região vizinha, onde os recursos
seriam novamente abundantes, e a natureza seria incumbida de reparar o local
explorado anteriormente. Esse ideal de meio ambiente como fonte inesgotável de
recursos naturais foi sendo transmitido ao longo das gerações; porém, com o
grande desenvolvimento tecnológico recente, sobretudo a partir da revolução
industrial, somado ao grande crescimento demográfico dos últimos séculos,
algumas regiões no planeta terra passaram a vivenciar ambientais inimagináveis
até então.

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Os impactos ambientais trazem consigo inúmeros problemas, que reduzem
a qualidade de vida das próprias populações humanas de maneira significativa,
visto que o ser humano é parte integrante do meio ambiente. Dessa forma, suas
ações sobre os ambientes naturais geram consequências para si próprio, assim
como para os demais seres vivos que compõem a biosfera.
Há evidências de que as primeiras cidades surgiram há cerca de 5.000
anos, na Mesopotâmia; no entanto, a intensificação da urbanização no mundo
ocorreu, sobretudo, a partir da Revolução Industrial, já que as atividades
econômicas passaram a atrair inúmeras pessoas para as grandes cidades, em
busca de melhores condições de sobrevivência, fenômeno que ficou conhecido
como êxodo rural.
Com uma concentração cada vez maior das populações humanas nas
grandes cidades, ou grandes centros, o meio ambiente desses locais e do seu
entorno passou a sofrer inúmeras consequências, por conta das ações humanas,
como alterações na paisagem natural, contaminação dos rios, solos e do ar etc.
Outro grande problema oriundo do êxodo rural foi a incapacidade de promover
uma infraestrutura adequada nas grandes cidades, o que fez com que inúmeras
pessoas passassem a viver em determinados locais, especialmente nas
periferias, com ausência de saneamento básico, o que amplia o contato com
agentes patogênicos capazes de gerar diversos agravos à saúde humana e
animal.
Considerando que uma parte considerável da população mundial habita em
cidades, é possível verificar que a ocorrência de problemas ambientais
decorrentes da má-gestão urbana, além da ausência de consciência ambiental
por parte de uma parcela da sociedade, acaba refletindo em degradação da
qualidade de vida das próprias populações humanas desses locais. Esse fato nos
leva a refletir sobre os desafios presentes em ação, com vistas à superação desse
cenário, já que envolve a alteração das formas de agir e pensar sobre as questões
ambientais.
De acordo com Souza e Andrade (2014), o desenvolvimento econômico do
país, por meio da industrialização e valorização do consumo gera grandes
demandas de produção, fazendo com que a postura consumista da sociedade
promova o hábito de descarte de produtos com grande rapidez, para que novos
produtos sejam adquiridos. Tal postura, consequentemente, resulta no descarte
de uma grande quantidade de materiais. Sabemos que inúmeras substâncias

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presentes em produtos que fazem parte do nosso cotidiano têm a capacidade de
contaminar o solo e a água, gerando consequências negativas para a saúde
humana e para o meio ambiente. O modo particular de apropriação e de
dominação dos recursos naturais das sociedades industriais evidencia-se, hoje,
nos conflitos ou problemas relacionais emergentes, comuns a toda humanidade.
É evidente que, atualmente, vivemos uma crise em nossa civilização, sendo
que muitos valores têm sido revistos e reformulados, trazendo a necessidade de
que algumas técnicas, processos e produtos sejam abandonados. No entanto,
não é necessário, até que se prove o contrário, adotarmos o ideal de crescimento
zero, já que existem muitas pessoas, em diversos países, que não têm condições
mínimas de bem-estar, ou garantias de trabalho, alimentação, saber,
engrandecimento espiritual e mobilidade social. É necessário compreender que
todos devem ser chamados a participar do banquete da vida; porém, existe a
necessidade de que as ações sejam tomadas com prudência ecológica e sem
comprometimento da qualidade ambiental.

TEMA 2 – MEIO AMBIENTE E RELATOS HISTÓRICOS

A crise ambiental foi caracterizada e reconhecida por diferentes grupos


sociais, em distintas regiões do planeta Terra, no período entre o final da década
de 1960 e início de 1970, quando algumas ações foram realizadas com o intuito
de compreender o processo. Tais ações têm sido formadas por tarefas
elementares, contudo extensas, como o mapeamento e a identificação das
distintas situações de impactos ambientais, até o desenvolvimento de atividades
mais ousadas, com o intuito de realizar uma busca de modelos explicativos que
permitam a compreensão da base dos padrões de relação das sociedades
humanas com os demais elementos que compõe o meio ambiente.
No mundo contemporâneo, observamos a predominância, em uma parcela
considerável da população, do paradigma que estabelece uma visão
antropocêntrica, ou seja, segundo a qual o ser humano é considerado superior
aos demais organismos presentes no planeta Terra e senhor da natureza, que é
considerada um sistema mecânico e morto, e não um sistema que apresenta vida.
Essa visão leva à fragmentação da natureza, da sociedade e do homem, do
universo, além dos recursos naturais, que passam a ser dominados e explorados
ilimitadamente, com base em uma concepção de progresso como acumulação de
bens e riquezas.

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De acordo com Silva (2012), as discussões sobre o meio ambiente não são
recentes. Já no ano de 1896, a comunidade científica já vinha demonstrando
interesse e preocupação com os efeitos da industrialização e da poluição sobre a
natureza e seus ecossistemas. O livro Primaveras Silenciosas (Carson, 1969)
trouxe à tona uma discussão sobre o acúmulo de elementos nocivos, como o
pesticida DDT, na saúde dos ecossistemas, rompendo com a ideia de que a
natureza poderia absorver toda e qualquer mudança provocada pelo homem.
Nesse contexto, o grande destaque da década de 1970 foi o Relatório
intitulado Limites do Crescimento, apresentado por Meadows, Meadows e
Randers durante a Reunião do Clube de Roma, em Estocolmo no ano de 1972,
baseado em uma série de simulações que previram o colapso do planeta dentro
de 100 anos, caso não fossem adotadas medidas drásticas para a redução do
impacto ambiental. A principal crítica ao trabalho foi feita por Solow (1974);
segundo o autor, era injusto impedir o desenvolvimento de países
subdesenvolvidos por conta de problemas que não haviam sido criados por eles.
Avançando na discussão, surge a Declaração de Cocoyok, divulgada no
ano de 1973, fruto da reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio-
Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (Unep). Apontava que os países industrializados contribuíam para os
problemas de subdesenvolvimento, devido ao seu alto grau de consumo, que
demandava utilização excessiva de recursos naturais. O Relatório Dag-
Hammarskjöld (1975), estudo elaborado pela Unep, em conjunto com
pesquisadores e políticos de 48 países, veio para reforçar a Declaração de
Cocoyok, angariando a rejeição dos países desenvolvidos e de pesquisadores
mais conservadores (Cavalcanti et al., 1994).
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, no ano de 1983,
criou uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida
por Gro Harlem Brundtland, cujo relatório, intitulado “Nosso Futuro Comum”,
apresentava estratégias ambientais de longo prazo, com a finalidade de se obter
um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 em diante. Também
recomendava maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se
traduzisse em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre
países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social, levando à
consecução de objetivos comuns e interligados, que considerem inter-relações
entre pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento (Layargues, 1997).

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Na sequência, o Relatório Bruntland apresentou deu ênfase especial às
consequências da pobreza em relação ao meio ambiente, afirmando que a
pobreza é uma das principais causas e um dos principais efeitos dos problemas
ambientais a nível global. Portanto, é ineficaz tentar abordar esses problemas sem
uma perspectiva mais ampla, que englobe os fatores subjacentes à pobreza
mundial e à desigualdade internacional.
Um dos resultados mais perceptíveis das conferências internacionais nas
últimas décadas foi a incorporação da sustentabilidade nos debates sobre
desenvolvimento. Governos, universidades, agências multilaterais e empresas de
consultoria técnica introduziram, em escala e extensão crescentes, considerações
e propostas que refletem a preocupação com o “esverdeamento” de projetos de
desenvolvimento e a “democratização” dos processos de tomada de decisão.

TEMA 3 – ECO-92 E AGENDA 21

A Eco-92, Rio 92, também conhecida como Cúpula da Terra, ocorreu 20


anos após a Conferência de Estocolmo (1972). Nesse momento, já existia um
ambiente mais favorável para discussões ambientais, comparativamente. Assim,
dentre os principais objetivos da Conferência, estava o comprometimento de todos
os países na busca de um padrão de desenvolvimento sustentável, conceito que
havia sido criado há poucos anos, com a publicação do Relatório Bruntland:
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades.
Com base nas discussões que ocorreram na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-92), foi instituída a
Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 21.
A Agenda 21 global é um documento que evidencia a importância de que
cada país se comprometa em refletir, de forma global e local, a forma como
empresas, governo e ONGs, além dos demais segmentos da sociedade, podem
cooperar em busca da solução dos problemas socioambientais. A partir de então,
cada país desenvolveu a sua Agenda 21 Nacional, cuja elaboração se baseia nas
especificidades de cada país, de modo a evitar, por exemplo, que países com uma
situação econômica fragilizada sucumbissem diante de interesses de países mais
desenvolvidos. Além da Agenda 21 Nacional, cada país criou a Agenda 21 Local,
com a abrangência de cidades ou localidades, observando as suas características
e peculiaridades.

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No Brasil, as discussões são coordenadas pela Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável (CPDS). Gadotti (2003) traz a ressalva de que a
Agenda 21 não é somente uma agenda ambiental, mas um documento que
promove um novo modelo de desenvolvimento, um desenvolvimento sustentável,
que apresenta a capacidade de satisfazer as necessidades do presente com
justiça e igualdade, sem comprometer as gerações futuras.
A Agenda 21 brasileira é fruto de discussões que buscam um planejamento
participativo, visando o desenvolvimento sustentável e compatibilizando os eixos
econômico, ambiental e social. Seis temas foram escolhidos para compor a
Agenda 21 brasileira:

• Agricultura sustentável: consiste em práticas que visam a produção de


alimentos associada à conservação dos recursos naturais, ao passo que
fornecem produtos mais saudáveis para o consumo humano.
• Cidades sustentáveis: as cidades devem ser planejadas sem agredir os
recursos naturais e os patrimônios culturais;
• Infraestrutura e integração regional: é necessária uma revisão estratégica
do financiamento e da gestão integrada da infraestrutura, que se encontram
intimamente vinculados.
• Gestão dos recursos naturais: gestão sustentável dos recursos naturais
necessita de posturas abrangentes dos governos e sociedade, tendo em
vista medidas de controle da qualidade ambiental, que visam a perpetuação
da disponibilidade desses recursos ao longo das gerações.
• Redução das desigualdades sociais: criação de mecanismos estratégicos
que visam a promoção de alternativas de trabalho e geração de renda,
sobretudo para as populações menos favorecidas.
• Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável: estreitar os laços
entre conhecimento científico, inovações tecnológicas e mudanças sociais,
em busca da sustentabilidade econômica, social e ecológica.

O documento que visa a sistematização das discussões que ocorreram na


Agenda 21 foi separado em quatro capítulos:

• Desafio da sustentabilidade no Brasil: neste capítulo, são demonstrados os


desafios a serem enfrentados pelo governo e pela sociedade no caminho
que visa a busca do triple bottom line da sustentabilidade, ou seja, a
consonância dos aspectos sociais, ambientais e econômicos.

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• Alicerces da construção: neste capítulo, a metodologia adotada para a
construção da Agenda 21 brasileira é exposta de modo sucinto,
estruturando os pontos de vista que foram expostos nas rodadas de
discussão sobre o marco conceitual do desenvolvimento sustentável, com
as especificidades inerentes a cada tema.
• Entraves à sustentabilidade: neste capítulo, são expostos os entraves
encontrados no caminho que leva à sustentabilidade, na visão de distintos
segmentos da sociedade, com relação às problemáticas que envolvem os
aspectos sociais, ambientais e econômicos da atualidade.
• Propostas para a construção da sustentabilidade.

Conjunto de propostas com intenções expressas da sociedade constam


nos documentos temáticos, servindo para a ampliação do debate, com vistas à
construção de um projeto para o país, com a participação de todas as camadas
da sociedade brasileira. As propostas reconhecidas devem ser discutidas pela
sociedade, visando a superação dos desafios encontrados na busca pelo
desenvolvimento sustentável.

TEMA 4 – PRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Atualmente, as sociedades humanas vivem um período de transformações,


provocadas pelo esgotamento do modelo de desenvolvimento economicista, que
prima somente pelo aspecto econômico, em vez da tríade socioeconômico-
ecológica, tal como preconiza o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade
ambiental nas empresas é caracterizada pelo conjunto de ações que uma
corporação toma, com vistas à manutenção da qualidade ambiental. Para que
uma empresa ou empreendimento seja considerado sustentável ambientalmente,
deve adotar práticas que possibilitem crescimento econômico com as questões
ambientais.
O desenvolvimento urbano deve ser realizado de forma sustentável, para
que os impactos no meio ambiente, e consequentemente na saúde, sejam os
mínimos. No entanto, essa ainda é uma realidade distante no Brasil, pois, apesar
do conhecimento da relação entre esses dois fatores, ainda são realizadas ações
desconexas – por exemplo, os profissionais de saúde não realizam ações visando
a preservação do meio ambiente, mesmo sabendo que se trata de um
determinante e condicionante da saúde.

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Sob o prisma econômico, desenvolvimento é basicamente aumento do
fluxo de renda real, isto é, incremento na quantidade de bens e serviços por
unidade de tempo à disposição de determinada coletividade (Furtado, 1961).
Herculano (1992) ressalta que a temática do desenvolvimento ficou mais evidente
no início da década de 1960, no contexto da Guerra Fria, predominantemente nos
Estados Unidos, que propunha o desenvolvimento ou a modernização das
sociedades “tradicionais” ou “atrasadas”, de forma a construir uma “sociedade
internacional aberta”. A intenção era manter as sociedades sob a esfera de
influência norte-americana, barrando eventuais avanços do bloco soviético,
abrindo assim espaços para a expansão capitalista.
Com o novo conceito de países desenvolvidos, surgiram na sociedade
outros conceitos relacionados ao desenvolvimento, entre eles os de
subdesenvolvimento, terceiro mundo, periferia e países emergentes. Os países
desenvolvidos seriam a referência de onde e para onde os demais países
deveriam olhar se quisessem alcançar o tão sonhado desenvolvimento – ou seja,
países industrializados passaram a se tornar um exemplo a ser seguido pelos
demais países, desejosos do tão sonhado desenvolvimento.
Empresas de grande porte possuem interagem com o ambiente e as
comunidades do entorno da área de operação, demandando, muitas vezes,
grandes quantidades de investimento financeiro. O crescente número de leis e
regulamentações criadas nos últimos anos fez com que as questões sustentáveis
se tornassem praticamente obrigatórias para essas organizações. De acordo com
Trevisan et al. (2008, p. 2), a “responsabilidade socioambiental deixou de ser uma
opção para as organizações, ela é uma questão de visão, estratégia e, muitas
vezes, de sobrevivência”.
De acordo com Oliveira, Martins e Lima (2010), o papel das empresas é
fundamental para alcançar a meta do desenvolvimento sustentável. As empresas
influenciam as fontes de matérias-primas, os processos de produção e de
distribuição, as respostas dos consumidores e os métodos de eliminação de
resíduos através de suas atividades.
Países divergem de opinião de acordo com poder econômico, o que cria
grupos com interesses distintos. Nesse contexto, as indústrias são pressionadas
a investir em soluções para aprimorar seus processos de produção, com a
finalidade de preservar o meio ambiente. Além desse fato, as organizações

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compreenderam, ao longo dos anos, que ser “ecologicamente correto” gera
ganhos positivos para a sua imagem perante os consumidores.

TEMA 5 – A EVOLUÇÃO NO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE

Há cerca de três décadas, os economistas estavam pouco preocupados


com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, pois esperava-se que a
humanidade iria entrar no século dourado através do progresso tecnológico. Logo
depois, surgiu a consciência de que os problemas ambientais já haviam atingido
tal grau de tensão, representando um imenso desafio à sobrevivência da
humanidade. Isso contribuiu para o desenvolvimento mais rápido dos estudos
relacionados com os conceitos de sustentabilidade e de medidas de
desenvolvimento sustentável.
Desde 1970, surgiram várias visões sobre desenvolvimento sustentável,
claramente distintas daquelas que dão suporte a um processo de crescimento
econômico guiado pelo mercado e pelo estado da tecnologia (mesmo que o
processo seja danoso ao meio ambiente). Certas posições defendem crescimento
e administração da conservação de recursos, enquanto outras rejeitam
explicitamente a ideia de crescimento. Assim, uma minoria de revisionistas de
ciências econômicas desejava alterar o núcleo do programa da ciência, de
maneira a acelerar sua evolução em direção a um paradigma relevante para uma
sociedade de crescimento zero. Outros tinham uma visão intermediária, com
vistas a acomodar as implicações ambientais de uma economia e sociedade de
crescimento com um conjunto de modelos econômicos modificados, mas não
radicalmente diferentes. A visão majoritária permaneceu otimista em relação ao
crescimento futuro, acreditando que a escassez de recursos naturais seria
compensada por tecnologias e processos mais eficientes (Canelas, 2005, p. 4).
Três grandes tendências conceituais foram identificadas na evolução da do
conceito de sustentabilidade, em geral caracterizadas por ações nos seguintes
eixos (Garcia et al., 2007):

• Socioeconômico: redução da desigualdade entre os padrões de vida,


melhor distribuição de renda, atendimento às necessidades materiais e
imateriais, busca de processos de produção que mantenham e respeitem
as raízes e as particularidades de cada cultura e de cada local, com
controle, mitigação e compensação dos impactos negativos.

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• Socioambiental: priorização do uso de recursos naturais renováveis,
pesquisa, desenvolvimento e utilização de tecnologias menos poluidoras,
conservação e reciclagem de recursos e energia, legislação efetiva de
proteção ambiental, controle, mitigação e compensação dos impactos
ambientais negativos, educação ambiental.
• Econômico-ambiental: alocação e gestão de recursos de forma eficiente,
macrossocial, com aporte de maior fluxo de investimentos.

Os defensores do desenvolvimento sustentável, como uma estratégia para


garantir a sobrevida do modelo de crescimento econômico iniciado a partir da
Revolução Industrial, apontam um problema com os países em desenvolvimento:
seu desenvolvimento seria não-sustentável, marcado por determinados fatores,
entre eles avanços e recuos desenvolvimentistas, constantemente determinados
ao sabor da implementação de políticas de crescimento temporário. Para os
partidários dessa forma de interpretação, a sustentabilidade é entendida no
sentido trivial de “durabilidade”: não é a sobrevivência do ecossistema que
estabelece limites ao desenvolvimento, mas é o desenvolvimento que determina
a sobrevivência das sociedades.
Mikhailova (2004) nos mostra que o desenvolvimento sustentável pode
enfocar ações distintas em cada região do mundo, com esforços para a
construção de um modo de vida verdadeiramente sustentável, o que requer a
integração de ações em três áreas-chave:
• Crescimento e equidade econômica: os sistemas econômicos globais,
hoje interligados, demandam uma abordagem integrada para promover um
crescimento responsável de longa duração, assegurando ao mesmo tempo
que nenhuma nação ou comunidade seja abandonada.
• Conservação de recursos naturais e do meio ambiente: para conservar
nossa herança ambiental e recursos naturais para as gerações futuras,
soluções economicamente viáveis devem ser desenvolvidas, com o
objetivo de reduzir o consumo de recursos, deter a poluição e conservar os
habitats naturais.
• Desenvolvimento social: em todo o mundo, pessoas precisam de
emprego, alimento, educação, energia, serviços de saúde, água e
saneamento. Enquanto tais necessidades são discutidas, a comunidade
mundial deve assegurar às populações a rica matriz de diversidade cultural
e social, com direitos trabalhistas pertinentes, de modo que todos os
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membros da sociedade estejam capacitados a participar da determinação
de seus futuros.

Uma das abordagens recentes mais importantes na discussão das


dimensões de sustentabilidade foi desenvolvida por Sachs (2008), que apresenta
oito dimensões: a dimensão social deduz homogeneidade social, distribuição de
renda justa, qualidade de vida e igualdade social; a cultural pressupõe equilíbrio,
tradição e inovação, combinando confiança com abertura para o mundo; a
ecológica sugere a preservação do capital natural e a imposição de limites no uso
desses recursos; a ambiental promove o respeito aos ecossistemas naturais; a
territorial aborda o equilíbrio entre as configurações urbanas e rurais, com
melhoria do ambiente urbano e das estratégias de desenvolvimento de regiões; a
econômica trata de equilíbrio econômico, segurança alimentar e modernização
dos meios produtivos; a dimensão política nacional abrange a democracia, os
direitos humanos e a implantação de projetos nacionais em parceria com os
empreendedores; e, por fim, a dimensão política internacional trata da promoção
de paz e cooperação internacional, do controle financeiro internacional, da gestão
da diversidade natural e cultural, e da cooperação científica e tecnológica.
Segundo Jeffrey Sachs (2008, p. 13), “os desafios do desenvolvimento
sustentável – protegendo o meio ambiente, estabilizando o crescimento
demográfico mundial, reduzindo as diferenças entre ricos e pobres e acabando
com a miséria – tomarão o centro do palco”.
Atualmente, muitos são os problemas que atrasam o progresso rumo à
sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável. Os desafios, em geral, estão
relacionados aos seguintes critérios (Reid et al., 2010): (i) necessidade de
coordenação global; (ii) relevância para os tomadores de decisão; e (iii)
alavancagem. Ultrapassar esses desafios iniciais colabora com previsões de
condições ambientais futuras e suas consequências para as pessoas.
Em termos de desenvolvimento, não significa que a sociedade deva atingir
determinado estado específico, ou seguir uma determinada trajetória. Ao
contrário, o importante é considerar os fatores que condicionam a evolução da
sociedade, de forma que ela mantenha características consideradas desejáveis
para o bem-estar atual e futuro (Silva Neto; Basso, 2010).

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REFERÊNCIAS

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