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GESTÃO SOCIOAMBIENTAL E
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
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Os impactos ambientais trazem consigo inúmeros problemas, que reduzem
a qualidade de vida das próprias populações humanas de maneira significativa,
visto que o ser humano é parte integrante do meio ambiente. Dessa forma, suas
ações sobre os ambientes naturais geram consequências para si próprio, assim
como para os demais seres vivos que compõem a biosfera.
Há evidências de que as primeiras cidades surgiram há cerca de 5.000
anos, na Mesopotâmia; no entanto, a intensificação da urbanização no mundo
ocorreu, sobretudo, a partir da Revolução Industrial, já que as atividades
econômicas passaram a atrair inúmeras pessoas para as grandes cidades, em
busca de melhores condições de sobrevivência, fenômeno que ficou conhecido
como êxodo rural.
Com uma concentração cada vez maior das populações humanas nas
grandes cidades, ou grandes centros, o meio ambiente desses locais e do seu
entorno passou a sofrer inúmeras consequências, por conta das ações humanas,
como alterações na paisagem natural, contaminação dos rios, solos e do ar etc.
Outro grande problema oriundo do êxodo rural foi a incapacidade de promover
uma infraestrutura adequada nas grandes cidades, o que fez com que inúmeras
pessoas passassem a viver em determinados locais, especialmente nas
periferias, com ausência de saneamento básico, o que amplia o contato com
agentes patogênicos capazes de gerar diversos agravos à saúde humana e
animal.
Considerando que uma parte considerável da população mundial habita em
cidades, é possível verificar que a ocorrência de problemas ambientais
decorrentes da má-gestão urbana, além da ausência de consciência ambiental
por parte de uma parcela da sociedade, acaba refletindo em degradação da
qualidade de vida das próprias populações humanas desses locais. Esse fato nos
leva a refletir sobre os desafios presentes em ação, com vistas à superação desse
cenário, já que envolve a alteração das formas de agir e pensar sobre as questões
ambientais.
De acordo com Souza e Andrade (2014), o desenvolvimento econômico do
país, por meio da industrialização e valorização do consumo gera grandes
demandas de produção, fazendo com que a postura consumista da sociedade
promova o hábito de descarte de produtos com grande rapidez, para que novos
produtos sejam adquiridos. Tal postura, consequentemente, resulta no descarte
de uma grande quantidade de materiais. Sabemos que inúmeras substâncias
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presentes em produtos que fazem parte do nosso cotidiano têm a capacidade de
contaminar o solo e a água, gerando consequências negativas para a saúde
humana e para o meio ambiente. O modo particular de apropriação e de
dominação dos recursos naturais das sociedades industriais evidencia-se, hoje,
nos conflitos ou problemas relacionais emergentes, comuns a toda humanidade.
É evidente que, atualmente, vivemos uma crise em nossa civilização, sendo
que muitos valores têm sido revistos e reformulados, trazendo a necessidade de
que algumas técnicas, processos e produtos sejam abandonados. No entanto,
não é necessário, até que se prove o contrário, adotarmos o ideal de crescimento
zero, já que existem muitas pessoas, em diversos países, que não têm condições
mínimas de bem-estar, ou garantias de trabalho, alimentação, saber,
engrandecimento espiritual e mobilidade social. É necessário compreender que
todos devem ser chamados a participar do banquete da vida; porém, existe a
necessidade de que as ações sejam tomadas com prudência ecológica e sem
comprometimento da qualidade ambiental.
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De acordo com Silva (2012), as discussões sobre o meio ambiente não são
recentes. Já no ano de 1896, a comunidade científica já vinha demonstrando
interesse e preocupação com os efeitos da industrialização e da poluição sobre a
natureza e seus ecossistemas. O livro Primaveras Silenciosas (Carson, 1969)
trouxe à tona uma discussão sobre o acúmulo de elementos nocivos, como o
pesticida DDT, na saúde dos ecossistemas, rompendo com a ideia de que a
natureza poderia absorver toda e qualquer mudança provocada pelo homem.
Nesse contexto, o grande destaque da década de 1970 foi o Relatório
intitulado Limites do Crescimento, apresentado por Meadows, Meadows e
Randers durante a Reunião do Clube de Roma, em Estocolmo no ano de 1972,
baseado em uma série de simulações que previram o colapso do planeta dentro
de 100 anos, caso não fossem adotadas medidas drásticas para a redução do
impacto ambiental. A principal crítica ao trabalho foi feita por Solow (1974);
segundo o autor, era injusto impedir o desenvolvimento de países
subdesenvolvidos por conta de problemas que não haviam sido criados por eles.
Avançando na discussão, surge a Declaração de Cocoyok, divulgada no
ano de 1973, fruto da reunião da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio-
Desenvolvimento (UNCTAD) e do Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (Unep). Apontava que os países industrializados contribuíam para os
problemas de subdesenvolvimento, devido ao seu alto grau de consumo, que
demandava utilização excessiva de recursos naturais. O Relatório Dag-
Hammarskjöld (1975), estudo elaborado pela Unep, em conjunto com
pesquisadores e políticos de 48 países, veio para reforçar a Declaração de
Cocoyok, angariando a rejeição dos países desenvolvidos e de pesquisadores
mais conservadores (Cavalcanti et al., 1994).
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, no ano de 1983,
criou uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida
por Gro Harlem Brundtland, cujo relatório, intitulado “Nosso Futuro Comum”,
apresentava estratégias ambientais de longo prazo, com a finalidade de se obter
um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 em diante. Também
recomendava maneiras para que a preocupação com o meio ambiente se
traduzisse em maior cooperação entre os países em desenvolvimento e entre
países em estágios diferentes de desenvolvimento econômico e social, levando à
consecução de objetivos comuns e interligados, que considerem inter-relações
entre pessoas, recursos, meio ambiente e desenvolvimento (Layargues, 1997).
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Na sequência, o Relatório Bruntland apresentou deu ênfase especial às
consequências da pobreza em relação ao meio ambiente, afirmando que a
pobreza é uma das principais causas e um dos principais efeitos dos problemas
ambientais a nível global. Portanto, é ineficaz tentar abordar esses problemas sem
uma perspectiva mais ampla, que englobe os fatores subjacentes à pobreza
mundial e à desigualdade internacional.
Um dos resultados mais perceptíveis das conferências internacionais nas
últimas décadas foi a incorporação da sustentabilidade nos debates sobre
desenvolvimento. Governos, universidades, agências multilaterais e empresas de
consultoria técnica introduziram, em escala e extensão crescentes, considerações
e propostas que refletem a preocupação com o “esverdeamento” de projetos de
desenvolvimento e a “democratização” dos processos de tomada de decisão.
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No Brasil, as discussões são coordenadas pela Comissão de Políticas de
Desenvolvimento Sustentável (CPDS). Gadotti (2003) traz a ressalva de que a
Agenda 21 não é somente uma agenda ambiental, mas um documento que
promove um novo modelo de desenvolvimento, um desenvolvimento sustentável,
que apresenta a capacidade de satisfazer as necessidades do presente com
justiça e igualdade, sem comprometer as gerações futuras.
A Agenda 21 brasileira é fruto de discussões que buscam um planejamento
participativo, visando o desenvolvimento sustentável e compatibilizando os eixos
econômico, ambiental e social. Seis temas foram escolhidos para compor a
Agenda 21 brasileira:
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• Alicerces da construção: neste capítulo, a metodologia adotada para a
construção da Agenda 21 brasileira é exposta de modo sucinto,
estruturando os pontos de vista que foram expostos nas rodadas de
discussão sobre o marco conceitual do desenvolvimento sustentável, com
as especificidades inerentes a cada tema.
• Entraves à sustentabilidade: neste capítulo, são expostos os entraves
encontrados no caminho que leva à sustentabilidade, na visão de distintos
segmentos da sociedade, com relação às problemáticas que envolvem os
aspectos sociais, ambientais e econômicos da atualidade.
• Propostas para a construção da sustentabilidade.
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Sob o prisma econômico, desenvolvimento é basicamente aumento do
fluxo de renda real, isto é, incremento na quantidade de bens e serviços por
unidade de tempo à disposição de determinada coletividade (Furtado, 1961).
Herculano (1992) ressalta que a temática do desenvolvimento ficou mais evidente
no início da década de 1960, no contexto da Guerra Fria, predominantemente nos
Estados Unidos, que propunha o desenvolvimento ou a modernização das
sociedades “tradicionais” ou “atrasadas”, de forma a construir uma “sociedade
internacional aberta”. A intenção era manter as sociedades sob a esfera de
influência norte-americana, barrando eventuais avanços do bloco soviético,
abrindo assim espaços para a expansão capitalista.
Com o novo conceito de países desenvolvidos, surgiram na sociedade
outros conceitos relacionados ao desenvolvimento, entre eles os de
subdesenvolvimento, terceiro mundo, periferia e países emergentes. Os países
desenvolvidos seriam a referência de onde e para onde os demais países
deveriam olhar se quisessem alcançar o tão sonhado desenvolvimento – ou seja,
países industrializados passaram a se tornar um exemplo a ser seguido pelos
demais países, desejosos do tão sonhado desenvolvimento.
Empresas de grande porte possuem interagem com o ambiente e as
comunidades do entorno da área de operação, demandando, muitas vezes,
grandes quantidades de investimento financeiro. O crescente número de leis e
regulamentações criadas nos últimos anos fez com que as questões sustentáveis
se tornassem praticamente obrigatórias para essas organizações. De acordo com
Trevisan et al. (2008, p. 2), a “responsabilidade socioambiental deixou de ser uma
opção para as organizações, ela é uma questão de visão, estratégia e, muitas
vezes, de sobrevivência”.
De acordo com Oliveira, Martins e Lima (2010), o papel das empresas é
fundamental para alcançar a meta do desenvolvimento sustentável. As empresas
influenciam as fontes de matérias-primas, os processos de produção e de
distribuição, as respostas dos consumidores e os métodos de eliminação de
resíduos através de suas atividades.
Países divergem de opinião de acordo com poder econômico, o que cria
grupos com interesses distintos. Nesse contexto, as indústrias são pressionadas
a investir em soluções para aprimorar seus processos de produção, com a
finalidade de preservar o meio ambiente. Além desse fato, as organizações
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compreenderam, ao longo dos anos, que ser “ecologicamente correto” gera
ganhos positivos para a sua imagem perante os consumidores.
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• Socioambiental: priorização do uso de recursos naturais renováveis,
pesquisa, desenvolvimento e utilização de tecnologias menos poluidoras,
conservação e reciclagem de recursos e energia, legislação efetiva de
proteção ambiental, controle, mitigação e compensação dos impactos
ambientais negativos, educação ambiental.
• Econômico-ambiental: alocação e gestão de recursos de forma eficiente,
macrossocial, com aporte de maior fluxo de investimentos.
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REFERÊNCIAS
REID, W.V. et al. Earth System Science for Global Sustainability: Grand
Challenges.Environment and Development, v. 330, n. 6006, p. 916-917, 2010.
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SILVA NETO, B.; BASSO, D. A ciência e o desenvolvimento sustentável: para
além do positivismo e da pós-modernidade. Ambiente & Sociedade, v. 3, n. 2, p.
443-454, 2010.
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