Quando falamos da questão ambiental e do meio ambiente, temos
tendência de visualizar automaticamente grandes espaços verdes ou regiões de natureza pouco ou nada modificada pelo homem. Porém também sabemos que estamos de alguma forma envolvidos nessa questão. Considerando que mais da metade da população do mundo vive em áreas urbanas, quantidade esta que é ainda mais expressiva nos países mais industrializados, devemos tomar consciência de que o meio que é o ambiente em que vivemos é o meio ambiente urbano, originalmente dependente do meio ambiente rural, que, por sua vez, depende mais diretamente dos elementos e das forças da natureza.
Tudo que fazemos na sociedade urbana gera impactos diretos sobre
todo o meio ambiente, seja na forma de sua degradação ou de sua preservação. Assim, cada pequeno gesto do cotidiano tem relação direta com a natureza da qual dependemos.
De onde vêm todos os elementos do cotidiano que consumimos? Para
onde vão? Como estamos construindo nosso futuro em comum? Como sobrevivemos neste planeta? Aula 1
Visão geral sobre problemas ambientais
O termo poluição designa qualquer alteração prejudicial provocada no
meio ambiente; pode ser em um ecossistema natural ou agrário, um sistema urbano ou até mesmo, em microescala, no interior de uma casa. Essas alterações podem ser, inicialmente, apenas das proporções ou das características de um dos elementos que formam o próprio meio, causando desequilíbrio. É o caso do aumento da concentração de gás carbônico, naturalmente presente na atmosfera. A poluição também pode ser entendida com base no resultado da introdução de substâncias naturais, porém estranhas, a determinados ecossistemas, muitas vezes causando contaminação. É o caso do despejo de matéria orgânica no leito de um rio ou do derrame de petróleo bruto no mar. A introdução de substâncias artificiais – portanto estranhas a qualquer ecossistema –, como a deposição de agrotóxicos no solo ou nas águas e de recipientes plásticos no solo e o lançamento de elementos radioativos artificiais na atmosfera, no solo e nas águas, também pode ser entendida como causa de desequilíbrios ambientais. Muitas vezes, esse tipo de poluição causa também contaminação do meio ambiente, porque em geral esses elementos não são degradáveis, ou seja, não se decompõem em sustâncias inócuas. Entretanto não somente a poluição pode ser entendida como motivadora de desequilíbrios ambientais.
Figura 1: Charge com abordagem crítica a cerca dos problemas ambientais
O uso indiscriminado dos recursos do planeta causam inúmeros prejuízos não somente para o meio ambiente, resultando inclusive em problemas sociais. Como exemplo disso podemos citar o desmatamento, o tráfico de animais e o uso irresponsável dos recursos hídricos, dentre outros. Aula 2
A relação ser humano-natureza e as relações sociais
A vida na Terra é dinâmica e não existe separação entre o homem e o
meio ambiente. Os seres vivos, com seus modos de vida, estão a todo momento promovendo transformações na paisagem em distintos níveis. O homem também promove transformações na paisagem, só que de forma muito mais intensa. Para o ser humano, essa promoção de transformações na paisagem é consciente, segue diferentes motivações e o domínio de tecnologias alcançado por essa espécie torna essas transformações muito mais intensas e impactantes.
Em cada momento histórico a relação do homem com o espaço se deu
de maneira diferente. Cada civilização buscou formas de adaptar o ambiente natural às suas necessidades; em períodos mais remotos, isso significava sua subsistência.
O domínio das técnicas de manejo das plantas e da agricultura e a
domesticação dos animais, dentre outros fatores, foram determinantes para a transformação no modo de vida do ser humano e para as transformações promovidas nas paisagens. As atividades de cultivo e produção de alimentos fixaram o homem à terra, e o desenvolvimento das tecnologias de produção fez com que o excedente pudesse ser comercializado e consumido por terceiros, o que possibilitou o surgimento do modo de vida urbano.
A partir do início da Revolução Industrial na Europa, que posteriormente
se espalhou pelo mundo, todo elemento natural transformou-se em um potencial produto. A partir daí, o espaço contendo matérias importantes para o processo produtivo teve importância estratégica na lógica capitalista de produção.
Motivações como a comercialização de produtos, dominação e
exploração dos recursos naturais, assim como razões socioculturais e políticas, facilitadas pelo desenvolvimento de tecnologias (ferramentas, transportes, armamentos e muitos outros) promoveram, e até hoje promovem, distintas dinâmicas de ocupação do solo e consequente modificação, transformação, destruição e reconstrução das paisagens.
Desse modo, vemos que a relação do homem com a natureza foi se
modificando ao longo dos tempos e, embora a dependência do homem em relação a ela seja fundamental para sua sobrevivência, percebemos que a preocupação com a preservação dos recursos ou mesmo com os impactos, mesmo os mais simples – como o cuidado com o lixo doméstico –, parece não fazer parte do cotidiano do ser humano atual.
Figura 2: Evolução do homem e sua relação com a natureza.
Fonte: http://meioambientetecnico.blogspot.com/2014/03/relacao-homem-e-natureza-parte- 4.html. Acesso em 12 jul. 2020.
A Figura 2 reflete um pouco como essa relação vem se desenvolvendo.
Seria isso um reflexo da urbanização? O homem urbano teria “esquecido” seus laços com o meio natural e sua dependência em relação a ele?
Temos, portanto, na Educação Ambiental, o desafio de despertar
novamente a relação de pertencimento e responsabilidade do sujeito com relação ao seu meio. Aula 3
Evolução histórica, bases conceituais e práticas da Educação
Ambiental
Historicamente, foi com a criação dos Ministérios do Meio Ambiente nos
países desenvolvidos que o meio ambiente passou a ocupar um lugar no debate político. A partir dos anos 1970, começam a surgir esses ministérios, com a criação, em 2 de dezembro de 1970, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos durante a administração Nixon, seguida, em janeiro de 1971, pela França e em maio do mesmo ano pela Austrália. Aos poucos, todos os países desenvolvidos passaram a ter um ministério de Meio Ambiente com mais ou menos importância, muitas vezes resultado de uma tragédia ambiental, como foi na Alemanha após o desastre de Chernobyl.
Desde então, a defesa do meio ambiente tem tido papel crescente no
debate político, com a criação de partidos Verdes. O desempenho eleitoral desses partidos em países desenvolvidos tem geralmente aumentado da década de 1980 aos dias de hoje. A questão ambiental tornou-se uma questão política muito importante.
A conscientização quanto aos efeitos devastadores de um crescimento
industrial desordenado e o medo em relação à falta de garantia de um futuro seguro para a humanidade levaram à internacionalização do fenômeno e seu papel crescente no mundo da política. Ações internacionais relacionadas ao meio ambiente se multiplicaram, com cúpulas internacionais, acordos e protocolos, dia mundial, evolução das leis etc.
Com relação à Educação Ambiental e seu contexto, Rufino e Crispim
(2015, p. 4) mostram que,
no Brasil, o alavanque da EA, em termos legais, aconteceu em
1994, momento em que Ministério da Educação (MEC), Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA), com a interveniência do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e o Ministério da Cultura (minC), formularam o Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea). Culminou com a assinatura, pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, da Política Nacional de Educação Ambiental, regida pela Lei nº 9.795, de 27 de maio de 1999.
A lei supracitada dispõe:
Art. 1º - Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 2º - A Educação Ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (BRASIL, Lei nº 9.795, 1999).
Desse modo, vemos que a Educação Ambiental emerge no final da
década de 1990 em meio às cada vez mais constantes Conferências das Partes (CoP) e demais eventos que possuem como pano de fundo a temática ambiental.
Veremos posteriormente mais detalhes relativos à aplicação da
Educação Ambiental no Brasil.
Referências bibliográficas
ACSELRAD. H.; MELLO. C. C. A. Conflito social e risco ambiental: o caso de
um vazamento de óleo na Baía de Guanabara. In: ALlMONDA, I. (Org.). Ecologia política – naturaleza, sociedad y utopia. Buenos Aires: Clacso, 2002. p. 293-317.
CAVALCANTI, Renata Neme. A efetividade dos instrumentos jurídicos para
a proteção ambiental: o caso do licenciamento. 2010.
RUFINO, Bianca; CRISPIM, Cristina. Breve resgate histórico da Educação
Ambiental no Brasil e no mundo. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO AMBIENTAL. Porto Alegre, 2015.
RYFF, Carlos Eduardo Machado. Expansão urbana e conflito ambiental: o
caso Downtown. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e Regional), IPPUR, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.