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8 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS

Em busca de garantia de espaço no mercado globalizado, o processo de inúmeras


transformações de ordem econômica, política, social e cultural que, por sua vez, buscam
novas políticas de recursos humanos vêm adotando programas participativos nas
instituições e mercados, organizações e sociedade. As mudanças nas condições ambientais,
a aproximação dos interesses das organizações e dos da sociedade resultam em esforços
para o atendimento de objetivos compartilhados. As metas econômicas e sociais fazem com
que os modelos de organizações se preocupem com a elevação do padrão de qualidade de
vida de suas comunidades, desenvolvendo o processo denominado responsabilidades
socioambientais, tema que será tratado a partir das próximas seções.

8.1 Conceito

É a integração voluntária de preocupações socioambientais nas operações do dia a


dia das organizações, e na sua interação com todas as partes interessadas. É um modo de
contribuir para a sociedade de forma positiva, e de gerir os impactos sociais e ambientais da
organização, assegurando e aumentando a competitividade. Diz-se, ainda, que a
responsabilidade socioambiental é a qualidade de ser responsável, responder por atos
próprios ou de outros, satisfazer os seus compromissos ou de outrem.

As empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais
justa e para um ambiente mais limpo. Com base nesse pressuposto, a gestão das empresas
não pode, e/ou não deve, ser norteada apenas para o cumprimento de interesses dos
proprietários das mesmas, mas também pelos de outros possuidores de interesses como,
por exemplo, os trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as
autoridades públicas, os concorrentes e a sociedade em geral.

O impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente não é um fenômeno


recente. Historicamente, tem-se observado um desencadeamento de fatos contribuintes e
agravantes da degradação ambiental vivenciada globalmente, que vai desde o advento do
desenvolvimento das atividades agrícolas, passando pela Revolução Industrial, até culminar
no atual modo de vida capitalista.

Em paralelo a esse cenário, a preocupação ambiental surge como pauta de


discussões, em termos mundiais, somente em tempos recentes. Esta disciplina tem como
objetivo discutir teoricamente os aspectos evolutivos da preocupação ambiental ao longo do
tempo, bem como alguns reflexos destes no ambiente dos negócios.

Para realizar tal intento, empreendeu-se uma revisão da literatura pertinente,


tomando como marcos iniciais deste estudo a publicação do Relatório Limites do
Crescimento (elaborado pelo Clube de Roma) e a I Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1972.

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8.2 Antecedentes Históricos

Antes da discussão central do trabalho, faz-se necessária uma breve apresentação


de um panorama histórico precedente.
A primeira grande mudança no modo de vida do homem, até então
marcado principalmente pelas atividades de caça e pesca para a
subsistência, foi o desenvolvimento da agricultura. Sua expansão,
juntamente com o aumento populacional, contribuiu para os primeiros
desmatamentos, não somente para a obtenção de terras cultiváveis como
também para a utilização de árvores como combustível (JUNQUEIRA, 2002
apud BORGES, 2007).
De acordo com Morandi e Gil (2000 apud BORGES, 2007), outra grande mudança se
deu com o desenvolvimento da manufatura, no período que vai do século XVI até o XVII, o
que implicou em mudanças radicais sob todos os aspectos nas relações sociais e de trabalho.
Conforme explicitam os autores, esse período histórico caracterizou-se pelo surgimento de
uma forma de vida muito dependente de energia não renovável.

Para Barbieri (2004 apud BORGES, 2007), um fator importante, que estimula a
exploração dos recursos naturais e, com isso, eleva a quantidade de resíduos gerados
atribui-se ao aumento da escala produtiva. Neste sentido, a partir da Revolução Industrial,
surge uma diversidade de substancias e materiais diversos que antes não existiam na
natureza. A produção e o consumo estão sendo conduzidos de maneira que são exigidos
maiores recursos, gerando resíduos igualmente em grande quantidade, ambos se tornando
uma ameaça à capacidade de suporte do planeta.

É notória a melhoria na qualidade de vida material, advinda do desenvolvimento


tecnológico, bem como do aumento da produtividade durante a Revolução Industrial.
Todavia, ainda na primeira metade do século XX já se observavam os danos que as
novidades tecnológicas poderiam causar ao meio ambiente.

Conforme Hawken; Lovins e Lovins (1999 apud BORGES, 2007), durante este
período, a humanidade presenciou uma degradação ambiental sem precedentes, a partir do
povoamento das cidades e a mecanização da produção agrícola. Barbieri (2004 apud
BORGES, 2007), por outro lado, advoga que o nível de produção que o ambiente pode
sustentar tem gerado fortes polêmicas há muito tempo e que os posicionamentos e as
propostas relativas a essa questão variam dentro de um continuum que se estende do
otimismo ao pessimismo extremado.

O primeiro economista a prever os limites de crescimento causados pela escassez


de recursos naturais foi Malthus, e, diante do contexto acima exposto, surge, então, a sua
teoria. Ele expressou a teoria dos limites ambientais a partir restrições de suprimento de
terras férteis, de boa qualidade e dos resultantes retornos decrescentes na produção
agrícola. Dá-se o nome de malthusianas àquelas pessoas pessimistas no que tange ao futuro,
com respeito ao descompasso existente entre recursos e necessidades e à dificuldade de
conter o crescimento profissional.

Numa outra ponta se encontram aqueles que demonstram um otimismo exagerado


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em relação aos recursos necessários à vida humana, tendo como premissa básica que,
mediante qualquer problema de escassez no presente ou no futuro próximo, sempre haverá
a possibilidade de aumento de produtividade, substituição de insumos e melhoria de
processos produtivos, por meio da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico.

Este posicionamento é observado na obra de Adam Smith, A Riqueza das Nações,


quando o autor ressalta que, independentemente do solo, clima ou extensão territorial de
uma determinada nação, a abundância ou escassez de bens que essa vai dispor dependerá
de duas circunstâncias: habilidade, destreza e bom senso com que o trabalho é executado e
a proporção entre os que executam o trabalho útil e os que não executam. Talvez em
deco
econômicos nos quais apenas o trabalho e o capital foram considerados fatores de
produção.

8.3 As Questões Ambientais Chamam a Atenção do Mundo

A partir da Conferência Científica da ONU sobre Conservação e Utilização de


Recursos que aconteceu no final dos anos 40, e também a Conferência sobre a Biosfera, que
se realizou em Paris, no final dos anos 60. No entanto, os grandes acontecimentos que
marcam o início de uma consciência ecológica mundial se deram a partir da publicação do
Relatório de Limites do Crescimento, que foi elaborado pelo Clube de Roma e a Conferência
de Estocolmo, que aconteceu em 1972. Esta última objetivou conscientizar os países acerca
da importância da conservação ambiental como fator fundamental para a manutenção da
espécie humana. Neste encontro, o tema mais tratado foi a poluição, sobretudo a industrial
(ANDRADE; TACHIZAWA e CARVALHO, 2000 apud BORGES, 2007).

De acordo com Borges (2007), o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a


partir da publicação do relatório Nosso Futuro Comum em 1987, e ganhou, ao longo dos
anos, crescente importância nas políticas nacionais, internacionais e corporativas. Mas o
autor salienta que é preciso conhecer os marcos históricos, descritos a seguir, que deram
origem ao desenvolvimento sustentável, antes que se possa traçar aqui a sua definição.

a) Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano e Relatório de


Limites do Crescimento;
b) Relatório Nosso Futuro Comum;
c) Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e o
Protocolo de Kyoto.

8.3.1 Os Limites do Crescimento e a Conferência de Estocolmo

Em 1968, um grupo composto por pessoas de países diferentes, entre educadores,


cientistas, economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos, de nível nacional e
internacional, se reuniu para discutir sobre os dilemas que a humanidade estava vivenciando
e sobre aqueles que poderiam surgir ao longo dos anos. Surge, então, o Clube de Roma, cujo
objetivo principal era promover o entendimento dos componentes variados, porém
independentes, como os econômicos, políticos, naturais e sociais, formadores do sistema
global. Além disso, queriam chamar a atenção daqueles que tinham o poder de decisão e do

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público mundial (MEADOWS et al., 1972 apud BORGES, 2007).

O objetivo do projeto é examinar o complexo de problemas que afligem os


povos de todas as nações tais como: pobreza, degradação ambiental,
expansão urbana descontrolada, insegurança de emprego, transtornos
econômicos e monetários dentre outros. Os elementos, aparentemente
divergentes, possuem três características essenciais: ocorrem até certo
ponto em todas as sociedades; contêm elementos técnicos, sociais,
econômicos e políticos; e, o fator mais importante, atuam uns sobre os
outros (MEADOWS et al., 1972 apud BORGES, 2007, p. 17).

Para Borges (2007), os relatórios do Clube de Roma contribuíram para divulgar o


pessimismo sobre as possibilidades de a Terra sustentar o crescimento econômico. Dentre
eles estava o relatório de Limites do Crescimento, publicado no início de 1970, que
sustentavam o pessimismo dos relatores a partir de simulações realizadas num modelo de
sistema mundial.

Meadows et al. (1972 apud BORGES, 2007) sustentam que tal modelo fora
construído para investigar cinco grandes tendências de interesse global, a saber:

a) o ritmo acelerado de industrialização;


b) o rápido crescimento demográfico;
c) a desnutrição generalizada;
d) o esgotamento dos recursos naturais não-renováveis; e,
e ) a deterioração ambiental.

Tais tendências, argumentam os autores, se inter-relacionam de muitos modos, e


seu desenvolvimento se mede em décadas ou séculos, mais do que em meses ou anos. A
partir deste modelo, os seus formuladores tentaram compreender as causas que motivam
estas tendências, suas inter-relações e implicações ao longo do tempo.

De acordo com o relatório, caso não houvesse mudanças significativas nas relações
físicas, econômicas e sociais observadas até à época, a produção industrial e a população
cresceriam rapidamente para decrescer depois, no decorrer do próximo século, devido à
diminuição de recursos, pela elevada taxa de mortalidade, advinda da diminuição dos
alimentos e dos serviços médicos. Borges e Tachibana (2005) ressaltam que, embora os
recursos naturais fossem duplicados, isto não impediria o colapso populacional, dado que o
elevado crescimento industrial, decorrente da maior oferta de recursos, elevaria o nível de
poluição para além da capacidade de assimilação do meio ambiente, aumentando, assim, a
taxa de mortalidade e reduzindo a produção de alimentos.

Em 1972, em Estocolmo, capital da Suécia, aconteceu a I Conferência das Nações


Unidas para o Meio Ambiente Humano. Este evento reconheceu a importância do
gerenciamento ambiental e o uso da avalição ambiental como uma ferramenta de gestão.
Deu-se, então, um grande passe para a formação conceitual do desenvolvimento
sustentável.

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A I Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em


Estocolmo no ano de 1972, reconheceu a importância do gerenciamento ambiental e o uso
da avaliação ambiental como uma ferramenta de gestão e representou um grande passo
para o desenvolvimento do conceito de desenvolvimento sustentável, conforme ressalta
Mebratu (1998 apud BORGES, 2007). Um marco deste evento foi o fato de que, a partir daí,
a questão ambiental passou a fazer parte das agendas oficiais e das organizações
internacionais, com foco na necessidade de se tomarem medidas efetivas de controle dos
fatores que causam a degradação.

Segundo Barbieri (2004 apud BORGES, 2007), I Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente Humano caracterizou-se pelo antagonismo entre dois blocos: de um
lado, os países desenvolvidos, preocupados com a poluição e o esgotamento de recursos
estratégicos; do outro lado, os demais países, que lutavam pelo direito de usar os seus
recursos para fins de crescimento, visando o acesso aos padrões de bem-estar alcançados
pela população daqueles já desenvolvidos. No entanto, estes entraves não atrapalharam e
vento, que resultou em avanços positivos, tais como a aprovação da Declaração sobe o
Ambiente Humano, constituída de dez recomendações, promovendo maior envolvimento por
parte da Organização das Nações Unidas (ONU) quanto às questões ambientais de caráter
global.

A partir da implementação deste plano de ação, deu-se início à constituição de uma


infraestrutura internacional para a gestão ambiental global, com destaque para:

a) criação de observatórios com vistas ao monitoramento e avaliação do estado do


meio ambiente;
b) maior envolvimento dos bancos multilaterais e regionais de desenvolvimento (BID
e BIRD); e,
c) criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Panuma).

É importante salientar a contribuição da Conferência de Estocolmo, que gerou um


novo entendimento sobre os problemas ambientais e a maneira como a sociedade provê a
sua subsistência. Os acordos ambientais multilaterais que foram firmados depois deste
evento procuraram incluir esta nova visão a respeito das relações entre ambiente e
desenvolvimento. Para Barbieri (2004) e Mebratu (1998) (apud BORGES, 2004), uma das suas
principais contribuições foi a de colocar em pauta a relação entre meio ambiente e
desenvolvimento, de modo que, desde então, não seria mais possível tratar profundamente o
desenvolvimento sem considerar o meio ambiente e vice-versa. A partir de relação entre
desenvolvimento e meio ambiente surge, então, o conceito, ainda recente, segundo os

8.3.2 O Relatório Nosso Futuro Comum e o Conceito de Desenvolvimento Sustentável

De acordo com Borges (2007), destaca-se também como importante acerca das
questões de cunho ambientalista o Relatório Brundtlandt , conhecido como Nosso Futuro
Comum, que foi criado em 1987 pela Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio
Ambiente (CMDM). Este documento compreende, segundo o autor, a definição de
Desenvolvimento Sustentável, tornando-se um ponto de partida na compreensão do vínculo
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entre desenvolvimento e meio ambiente: desenvolvimento sustentável é aquele que


atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
de atenderem às suas próprias necessidades
BARBIERI, 2004 apud BORGES, 2007, p. 21).

Este relatório sugere uma lista de ações a serem tomadas pelos Estados e definem as
metas a serem realizadas em nível internacional, tendo as diversas instituições multilaterais
como seus principais agentes. Segundo Mebratu (1998 apud BORGES, 2007), a comissão da
ONU responsável pelo documento destaca uma forte ligação entre a redução da pobreza,
melhoria ambiental e equidade social, a partir do crescimento econômico sustentável.

A relação meio ambiente e desenvolvimento foi enfatizada com a apresentação e


difusão do conceito de desenvolvimento sustentável, que se caracteriza por ser aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras de atenderem as suas próprias necessidades. Esta definição foi elevada a um
patamar de elemento central nos discursos ambientalistas, com grande aceitação, como
afirma Borges (2007).

8.3.3 Rio-92

Um dos mais importantes movimentos voltados para a discussão das questões


acerca do tema se deu no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1992: a II Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Rio-92. Este encontro envolveu 178
países, e teve a aprovação de documentos importantes com foco para os problemas
socioambientais, tais como:

a) a declaração do Rio de Janeiro sobre o meio ambiente e o desenvolvimento;


b) a convenção sobre mudanças climáticas;
c) a convenção da biodiversidade; e,
d) a agenda 21 sendo este o principal documento elaborado durante o encontro.

A importância desta conferência se deu pelo fato de ela ter representado o primeiro
passo de um longo processo de entendimento entre as nações sobre as medidas concretas
que buscam reconciliar as atividades econômicas com a necessidade de proteger o planeta e
assegurar um futuro sustentável para todos os povos (JACOBI, 1999 apud BORGES, 2007).

A partir da Rio-92, se estabeleceu uma nova e equitativa parceria mundial, com a


criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chave da sociedade e a
pessoas, objetivando acordos internacionais em que fossem respeitados os interesses de
todos, protegendo-se a integridade do ambiente e o do desenvolvimento global,
reconhecimento a natureza integral e interdependente da Terra (BARBIERI, 2004 apud
BORGES, 2007).

O documento que mais importante e que trouxe mais contribuições durante esta foi
a Agenda 21. Nela continham recomendações específicas para os diversos níveis de atuação,
desde o internacional ao organizacional, quer sejam sindicados, empresas, instituições de
ensino, pesquisa, organizações governamentais, contendo assentamentos humanos, ações

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voltadas para a erradicação da pobreza, os problemas de desertificação, a escassez de água


doce, a questão atmosférica, a saúde dos oceanos, poluição de uma forma geral e demais
questões socioambientais, já tratadas em documentos e eventos passados. Pode-se afirmar
que a Agenda 21 é uma consolidação das resoluções tomadas anteriormente, como
argumenta Borges (2007), que foram estruturadas para facilitar a sua implementação nos
diversos níveis de abrangência.

8.3.4 O Protocolo de Kyoto

Realizado e aprovado em 1997, na cidade de Kyoto, no Japão, o Protocolo de Kyoto


foi outro grande evento que marcou a discussão sobre os problemas de caráter
ambientalista. Tinha como principal objetivo reduzir as emissões dos seis gases 2 que mais
provocam o efeito estufa na atmosfera, em média, 5,2%, entre os anos de 2008 e 2012. No
que diz respeito aos países signatários do Protocolo, observam-se as seguintes categorias:

a) países que assinaram e ratificaram-no, por exemplo: Brasil, Argentina, Peru,


Tanzânia, Austrália, alguns países da União Europeia;
b) países que assinaram e não o ratificaram, por exemplo: Estados Unidos, Croácia,
Cazaquistão;
c) países que não o assinaram, bem como não o ratificaram, por exemplo: Vaticano,
Andorra, Afeganistão, Taiwan, Timor-Leste; e,
d) países que não assumiram nenhuma posição no Protocolo, tais como:
Mauritânia, Somália.

Após sete anos o acordo fora ratificado juridicamente para os 141 países
signatários, em 16 de fevereiro de 2005, incluindo, desta feita, a Rússia, visando estabelecer
medidas concretas na luta contra o aquecimento global do planeta (REDAÇÃO TERRA, 2005;
BARSA, 2005 apud BORGES, 2007). Considera-se o Protocolo de Kyoto como um grande
avanço no que diz respeito à gestão ambiental, pela fixação de metas e, sobretudo, por ter
criado mecanismos importantes para implementá-las, como afirma Barbieri (2004 apud
BORGES, 2007).

8.4 Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico

Como se observou, ao longo da história, a temática ambiental foi crescendo,


alcançando patamares significativos nas pautas das discussões governamentais e dos órgãos
internacionais. Tudo esse cenário, cujo enfoque principal é a relação desenvolvimento e
meio ambiente, tem interferência direta nas atividades empresariais, dado que estas estão
no centro de todo o processo que envolve a utilização de recursos naturais, a geração de
resíduos e a capacidade de suporte do planeta.

Desde então, a necessidade de uma regulamentação que proteja o meio ambiente


tem sido objeto de grande aceitação, porém relutante: ampla, porque todos querem um
planeta habitável; relutante, em razão da crença persistente de que a regulamentação

2
Dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, hidrofluocarbono, perfluorocarbono e o hexafluorocarbono de
enxofre.

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ambiental solapa a competitividade. Desta forma, estes autores prosseguem salientando o


surgimento de um dilema: economia versus ecologia, no qual um lado luta por um
retrocesso na regulamentação, enquanto o outro se empenha por normas mais severas.

A visão tradicional de que a regulamentação ambiental afeta a competitividade é


errônea. As empresas operam em um ambiente dinâmico e, continuamente, descobrem
soluções inovadoras para conter pressões de todos os tipos - impostas pelos concorrentes,
por consumidores ou pelo governo. As empresas industriais que buscam manter ou
melhorar suas posições competitivas se defrontam cada vez mais com a exigência de novas
posturas no que diz respeito às variáveis ambientais, de acordo com Sanches (2000 apud
BORGES, 2007).

De acordo com Paixão (2009), no entanto, observa-se a necessidade de se fazer


um paralelo entre crescimento e desenvolvimento. A diferença é que o crescimento não
conduz automaticamente à igualdade nem à justiça sociais, visto que, necessariamente, não
leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida, a não ser o acúmulo de
riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. O
desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas, sim, mas tem o
objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em
consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta.

Acredita-se que isso tudo seja possível, e é exatamente o que propõem os


estudiosos em Desenvolvimento Sustentável (DS), que pode ser definido como: equilíbrio
entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos grupos sociais de uma nação e
também dos diferentes países na busca da equidade e justiça social. De acordo com Tenório
(2004, p. 25 apud PAIXÃO, 2009):

Nessa abordagem, o desenvolvimento sustentável é composto pelas


dimensões econômica, ambiental e empresarial. O objetivo é obter
crescimento econômico por meio da preservação do meio ambiente e pelo
respeito aos anseios dos diversos agentes sociais, contribuindo assim para a
melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Para Mendes (2008 apud PAIXÃO, 2009), para que o Desenvolvimento Sustentável
seja alcançado, deve-se entender a proteção do ambiente como parte integrante do
processo de desenvolvimento e não isoladamente. Para o autor, o Desenvolvimento
Sustentável tem seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como metas:

a) a satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação,


saúde, lazer, etc.);
b) a solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que
elas tenham chance de viver);
c) a participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da
necessidade de conservar o ambiente e cada um a parte que lhe cabe para tal);
d) a preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc.);
e) a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e

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respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre


de populações oprimidas, como por exemplo, os índios); e,
f) a efetivação dos programas educativos.

Segundo Dowbor (2007 apud BORGES, 2007), a questão que se levanta é com a
degradação dos solos e mares, o aquecimento global, a liquidação da biodiversidade (fauna
e flora), a generalizada polarização entre pobres e ricos e a progressiva perda de capacidade
do governo, ou seja, com a própria capacidade de governança e governabilidade, o foco
rapidamente se volta para uma associação com o sentido da palavra.

Observa-se que apesar da importância que se credita ao crescimento econômico,


ele também é portador de desequilíbrios: de um lado, chamam a atenção a riqueza e fartura
do mundo, mas, por outro lado, a degradação ambiental, a poluição e a miséria continuam
crescendo a passos largos. Tendo todo o sistema em que se vive pautado no capitalismo
explorador, não há dúvidas das consequências advindas destes desequilíbrios. Uma das
saídas principais para a conciliação das mudanças nas ações organizacionais,
desenvolvimento sustentável, crescimento econômico e participação social, foi a
Responsabilidade Socioambiental Corporativa, advoga Paixão (2009).

8.5 A Inclusão Social e o Desenvolvimento de Projetos que Evidenciam a


Responsabilidade Socioambiental das Empresas

Conforme Guima (2008 apud PINTO; LELIS; MAGALHÃES e LINHARES, 2008), as


empresas, antes acostumadas à maximização do lucro, vêm sofrendo com as transformações
socioeconômicas nos últimos 26 anos. Segundo as autoras, o setor privado destaca-se cada
vez mais na criação de riqueza, gerando para si próprias, em contrapartida, grandes
responsabilidades, sobretudo aquelas voltadas para o contexto socioambiental.

8.5.1 Empresas Cidadãs (Responsabilidade Socioambiental e Empresarial)

Em 2003, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas


Empresas (Sebrae), o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social elaborou um
manual intitulado Responsabilidade Social Empresarial para as Micro e Pequenas Empresas:
passo a passo, onde apontou as seguintes diretrizes para a responsabilidade social
empresarial:

a) a adoção de valores e trabalhe com transparência (missão e visão, ética e


transparência, direitos humanos);
b) a valorização dos empregados e colaboradores (local de trabalho, diversidade,
assédio sexual, desenvolvimento profissional, delegação de poderes, gestão
participativa, remuneração e incentivo, demissões, trabalho e família, saúde,
bem-estar e segurança);
c) o fazer sempre mais pelo meio ambiente (política e operações, minimização de
resíduos, prevenção da poluição, uso eficaz de energia e água, projeto ecológico,
gestão ambiental do negócio);
d) o envolvimento com os parceiros e fornecedores (parceria);
e) a proteção dos clientes e consumidores (produtos e serviços, o cliente em foco);

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f) a promoção da comunidade (visão geral da comunidade, filantropia, educação,


políticas de boa vizinhança); e,
g) o comprometimento com o bem comum (posicionamento político, participação,
reconhecimento público).

Cada uma destas diretrizes elenca suas categorias e, dentro destas, estabelece as
suas estratégias de ação voltadas para a criação de ambientes comprometidos com a
responsabilidade social de sua organização e da comunidade na qual estão inseridos.

8.5.2 Estratégias de Gestão Socioambiental nas Empresas

Carroll (1990 apud SCHERER; GOMES; MADRUGA e CRESPAM, 2009) afirma que, nos
anos 1980, o interesse pela responsabilidade socioambiental não se esvaiu, mas sofreu
reformulações em seus conceitos e teorias alternativas, que na década seguinte, se
transformaram em outros temas, tais como a teoria ética dos negócios e cidadania
corporativa.

No que se refere à questão ambiental, as décadas de 1960 e 1970 destacam-se pela


intensificação da consciência voltada para o meio ambiente, contando com a participação
ativa de grupos que passaram a reivindicar mas atenção às questões ambientais por parte
das empresas (ASHLEY, 2003 apud SCHERER; GOMES; MADRUGA e CRESPAM, 2009.

Desta forma, como afirma Dias (2003 SCHERER; GOMES; MADRUGA e CRESPAM,
2009), o setor empresarial, um dos principais responsáveis pelos problemas ambientais, foi
chamado a assumir suas responsabilidades no que diz respeito à manutenção da qualidade
de vida, desviando olhar voltado apenas para o progresso material e desenvolvimento
econômico, vigente até aquele momento.

De acordo com Ashley (2003 SCHERER; GOMES; MADRUGA e CRESPAM, 2009),


fatores internos e externos podem motivar a adoção de estratégias de gestão ambiental
pelas organizações. Os fatores externos estão relacionados aos governos, à legislação
ambiental, ao público consumidor, aos acionistas, aos movimentos ambientalistas e às
instituições financeiras. Quanto aos fatores internos, observam-se aqueles voltados à
economia advinda da redução do desperdício ou reciclagem, ao menor consumo de energia e
substituição de insumos.

Para Macedo e Oliveira (2005), as razões que motivam as a adotar medidas voltadas
para a melhoria de sua performance ambiental, são:

a) o regime regulatório internacional, que sofria mudanças em direção a exigências


crescentes relacionadas à proteção ambiental;
b) a mudança do mercado, tanto com relação aos fatores quanto aos produtos; e
c) o conhecimento em crescente mudança, com amplas descobertas e publicidade sobre
as causas e consequências dos danos ambientais.

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8.6 Meio Ambiente como Oportunidades de Negócios

Matos (2003) afirma que um pré-requisito para as empresas continuarem


competitivas e buscarem reconhecimento internacional tem sido a preocupação constante
com a natureza e os impactos de suas operações. Neste sentido, os investimentos no meio
ambiente ganham cada vez mais importância a abrem oportunidade para os chamados
negócios verdes, que se referem às consultorias de investimentos e auditorias, cujos
especialistas oferecem serviços de análise, apontando as oportunidades de investimentos
em projetos verdes ou empresas ecologicamente limpas.

A questão ambiental transformou-se, nos últimos tempos, em algo muito amplo e


complexo para que as empresas se encarreguem dela sozinhas ou adotem soluções internas,
de acordo com Matos (2003), o que justifica a necessidade de contratação destas
consultorias especialistas em negócios verdes. O Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), o número de empresas no Brasil, certificadas
pela ISSO 14001, aumentou de 48, em 1998, para 189, em setembro do ano 2000, e que ao
final daquele ano chegaria a 500. O que leva a crer num elevado aumento desde então até
os dias atuais.

O autor afirma, ainda, que em vários escritórios de advocacia, desde o ano 2000,
existiam equipes de profissionais trabalhando apenas com consultas ambientais. E não
apenas em casos de emergência, como o de indústrias, cujos riscos de danos à natureza
fazem parte do negócio. Até os dias atuais, são raras as decisões corporativas que não
enfrentam algum tipo de questão ambiental. A legislação tornou-se cada vez mais rígida e o
comércio internacional já não tolera mais empresas irresponsáveis ambientalmente.

8.6.1 Os Setores Voltados para o Gerenciamento Ecológico

Os setores que mais se ocupam do gerenciamento ecológico são as indústrias de


cosmético, as de geração de energia e as aquelas de reciclagem.

Lopes et al. (2001 apud MATOS, 2003) afirmam que o setor cosmético direciona
fortemente suas ações para o gerenciamento ecológico, dado que comunicar um produto
destinado à beleza e que não prejudique o meio ambiente sofre influência positiva junto aos
consumidores, uma vez que estes percebem que estão lidando com produtos saudáveis e
que, com isto, também colaboram para o bem da natureza.

No setor de geração de energia, os mesmos autores advogam que se encontra aqui


uma boa oportunidade de negócios verdes. A energia pode ser gerada utilizando-se do sol
ou vento, recursos estes abundantes na natureza. No Brasil, por exemplo, a possibilidade
gerar energia a partir do bagaço da cana provindo das destilarias surgiu também uma grande
oportunidade de viabilização de negócios verdes, podendo-se ganhar com a energia
combustível e, além disto, podendo gerar também a energia elétrica para o uso das usinas e
para a alimentação da rede pública.

No que diz respeito à indústria de reciclagem, para Lopes et al. (2001 apud MATOS,
2003), um dos benefícios de que se tem referência pode ser observado com a reciclagem de

ADMINISTRAÇÃO/LOGÍSTICA MÓDULO 1
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latas de alumínio, que reduz a utilização de matéria-prima, proporcionando ganho


energético substancial, dado que em uma tonelada de latas recicladas economizam-se 95%
da energia que seria necessária para produzir a mesma quantidade de alumínio, seu
processo primário.

8.7 Gestão dos Resíduos Sólidos

O Brasil é um país eminentemente urbano, onde mais de 80% de sua população


residem em áreas urbanas. Este fato é um forte motivo de preocupações na medida em que
a falta de saneamento básico gera problemas de saúde na população, além da
degradação dos recursos naturais, principalmente o solo e os recursos hídricos. Nesse
sentido, a gestão dos resíduos sólidos, cuja atribuição pertence à esfera da administração
pública local, merece uma atenção especial.

Barakat (2009) advoga que o desequilíbrio ambiental é uma alteração significativa


em um determinado território, decorrente de empreendimentos humanos não
comprometidos com os princípios do desenvolvimento sustentável. A ruptura do equilíbrio
das paisagens se dá tanto pela alteração de suas condições físicas (térmicas, químicas e
mecânicas) como por alterações sociais ou ecológicas. Para o autor, o equilíbrio requer a
redução das descargas ambientais do sistema de gestão dos resíduos, buscando-se sempre
um nível aceitável de custos.

saneamento ambiental prevê um conjunto


de ações integradas e articuladas para promover e assegurar a salubridade do meio
ambien A lei No 11.445/07, que institui a política nacional de saneamento, é responsável
pela gestão dos serviços de saneamento, envolvendo também o abastecimento de água,
esgoto e o manejo dos resíduos sólidos e das águas pluviais urbanas. Ela se ocupa de
alcançar a universalização do acesso aos serviços públicos de saneamento básico. De acordo
com a lei, todos têm direito à vida em ambiente salubre, sendo o poder público e a
coletividade responsáveis pela sua promoção e preservação.

Para McDougall et al. (2004 apud BARAKAT, 2009), os resíduos são produtos
inevitáveis da sociedade. Neste sentido, a preocupação com o seu manejo deveria ser
atividade corriqueira.

Inicialmente, as práticas de manejo de resíduos sólidos se desenvolveram


para evitar os efeitos adversos sobre a saúde pública, causados por
quantidades crescentes de resíduos sólidos deixados sem contar com os
métodos de coleta e disposição apropriados. O manejo desses resíduos de
maneira mais efetiva, atualmente representa uma necessidade que a
sociedade tem que resolver, implicando em requisitos básicos do manejo
de resíduos como: gerar menos resíduos, com continuo desenvolvimento e
implemento de um sistema efetivo para manejar os resíduos que se
produzem de maneira inevitável (BARAKAT, 2009, p. 16)

Dito isto, Barakat (2009) afirma que o sistema de manejo de resíduos deve ser
sustentável em termos ambientais, econômicos e sociais, integrado, com orientação de
mercado, flexibilidade e operado em escala regional. Neste sentido, os sistemas de gestão,
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193

conforme preconiza o autor, devem combinar os fluxos de geração de resíduos com os


métodos de coleta, tratamento e disposição final, de modo que possa alcançar os
benefícios ambientais, com economia e aceitação pela sociedade.

Um sistema de gestão de resíduos sólidos sustentável deve ser: a) ambientalmente


efetivo, de modo que reduza as descargas ambientais associadas ao seu manejo; b)
economicamente factível, operando com um custo aceitável para a comunidade; e c)
socialmente aceitável, devendo operar em comunhão com a aceitação da maioria das
pessoas da comunidade (BARAKAT, 2009).

É importante observar, ainda de acordo com o autor, os benefícios que resultam da


redução e reaproveitamento de resíduos sólidos, tais como:

a) conscientização da comunidade sobre a não renovação dos recursos naturais e da


necessidade de proteção do meio ambiente;
b) menor exploração de recursos naturais e economia na importação de matéria-
prima;
c) geração de emprego e renda;
d) menor consumo de energia e de água nos processos de fabricação;
e) custos de produção de materiais mais baixos nas usinas de transformação;
f) diminuição da poluição do ar e das águas;
g) redução da quantidade de resíduos destinados aos aterros sanitários, resultando
no aumento de sua vida útil; e,
h) menor ocorrência de problemas ambientais decorrentes da destinação dos
resíduos sólidos.

gestão de resíduos sólidos deve ser feita observando as prioridades. Antes do


destino final, devem ser adotadas medidas, pela população e pelo poder público, para
reduzir, reutilizar e reciclar os resíduos sólido

Um sistema de gestão dos resíduos sólidos deve incluir um sistema otimizado de


coleta, com separação e classificação eficientes, contemplando ações tais como:

a) reciclagem de materiais;
b) tratamento biológico de materiais orgânicos;
c) tratamento térmico (como a incineração com recuperação de energia, incineração
de combustível derivado de resíduos e incineração de combustível derivado de
papel e plástico); e,
d) disposição final, uma prática que pode incrementar o valor de uma propriedade
via recuperação de terrenos, minimizando a contaminação e a perda de valor
comercial.

A minimização de resíduos deve ser orientada utilizando-se dos 3 Rs:

a) reduzir a geração de resíduos;


b) reutilizar os resíduos;
c) reciclar os produtos.

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194

Para a redução da geração de resíduos, uma das ações mais eficazes é a coleta
seletiva. Esta consiste em um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como
papéis, plásticos, vidros, metais, etc., que devem ser previamente separados em sua fonte
geradora. Tais produtos poderão ser vendidos às indústrias recicladoras ou aos sucateiros. A
coleta seletiva pode ser: domiciliar, em postos de entrega voluntária, postos de troca, nas
indústrias, escolas ou no mercado.

Para Mota (2006 apud BARAKAT, 2009), a redução da quantidade de resíduos


sólidos gerada é conseguida mediante ações de:

a) combate aos desperdícios de produtos e alimentos;


b) diminuição do uso de objetos descartáveis;
c) mudanças de sistemas industriais, buscando-se processos que resultem em
menor geração de resíduos;
d) diminuição do uso de materiais, muitas vezes, dispensáveis; e,
e) mudanças de comportamento da população com relação à geração de resíduos
sólidos.

Quanto à reutilização de um determinado produto, entende-se pelo


reaproveitamento sem qualquer alteração física, tais como:
a) utilização de embalagens não descartáveis, que serão usadas novamente, após
lavagem e esterilização, para acondicionar o mesmo produto (garrafas de vidro,
latas);
b) aproveitamento de embalagens de vidro, plásticos ou metálicos para
acondicionar outros produtos;
c) utilização de latas ou embalagens de plástico para acondicionar mantimentos;
d) a escrita utilizando os dois lados da folha de papel; e,
e) reaproveitamento de livros escolares.

Barakat (2009) afirma que o sucesso da coleta seletiva está diretamente associado
aos investimentos feitos para sensibilização e conscientização da população. É importante
observar a simbologia e as cores utilizadas como padrão na coleta seletiva. No Brasil, a NBR
13230, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), padroniza os símbolos que
identificam os diversos tipos de produtos, conforme Quadro 1 abaixo ilustrado.

Quadro 1 (8)- Cores utilizadas na coleta seletiva (continua)

Cores Materiais da reciclagem


AZUL Papel/papelão
AMARELO Metais
VERMELHO Plásticos
VERDE Vidros
PRETO Madeira
LARANJA Resíduos perigosos
BRANCO Resíduos de serviços de saúde
ROXO Resíduos radioativos
MARRON Resíduos orgânicos

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195

Cores Materiais da reciclagem


Resíduo geral não reciclável ou misturado ou contaminado não passível de
CINZA
separação.
Fonte: ABNT 13230 (apud BARAKAT, 2009)

Ainda de acordo com o autor, é importante salientar que, além de um bom


planejamento, para que os sistemas de gestão de resíduos operem de maneira efetiva, é
necessário envolver a participação pública. Todos devem entender seu papel e cooperar com
as autoridades locais.

A ABNT NBR 10.004 (1987 apud BARAKAT, 2009) classifica os resíduos sólidos pela
origem e pela natureza. No que diz respeito à origem, os resíduos sólidos classificam-se em:

a) resíduo urbano: formado por resíduos sólidos em áreas urbanas, incluindo


os resíduos domésticos, os efluentes industriais e domiciliares;
b) resíduo domiciliar: formado pelos resíduos sólidos de atividades residenciais, tais
como plástico, lata, vidro, entre outros;
c) resíduo comercial: resíduo sólido das áreas comerciais composto por matéria
orgânica, papéis, plástico, entre outros.
d) resíduo público: formado por resíduos sólidos gerados da limpeza pública
(areia, papéis, folhagem, poda de árvores, entre outros);
e) resíduos especiais: formado por resíduos geralmente industriais, que
requer em tratamento, manipulação e transporte especial, tais como pilhas,
baterias, embalagens de combustíveis, de medicamentos ou venenos;
f) resíduos industriais: os resíduos gerados pela indústria;
g) resíduo de serviço de saúde: os serviços hospitalares, ambulatoriais, farmácias.
São geradores dos mais variados tipos de resíduos sépticos, resultados de
curativos, aplicação de medicamentos, que, em contato com o meio ambiente ou
misturados aos resíduos domésticos, poderão ser patógenos ou vetores de
doenças. Este tipo de resíduo deve sofrer pré-tratamento antes de ser disposto
no meio ambiente;
h) resíduo agrícola: esterco, fertilizantes, entre outros.
i) resíduo atômico: produto resultante da queima do combustível nuclear,
composto de urânio enriquecido com isótopo atômico 235; e,
j) resíduo radioativo: resíduo tóxico e venenoso formado por substâncias
radioativas resultantes do funcionamento de reatores nucleares.

Quanto à natureza, os resíduos sólidos classificam-se em:

a) classe I perigosos: quando apresenta risco à saúde pública e ao meio


ambiente. As características que conferem periculosidade a um resíduo são:
inflamabilidade; corrosividade; reatividade; toxicidade; patogenidade. São
exemplos de resíduos perigosos alguns resíduos industriais e resíduos de saúde;
b) classe II inertes: classificam-se de acordo com suas propriedades:
combustibilidade; biodegradabilidade; solúveis em água. Os resíduos domésticos
são exemplos de resíduos não inertes; e,
c) classe III não inertes: aqueles resíduos que submetidos ao contato com a

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196

água não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados às concentrações


superiores aos padrões de potabilidade da água. Exemplo são tijolos, concreto,
entre outros.

8.8 A ISO 14001 e o Desenvolvimento Sustentável

A International Standardization Organization (ISO) é uma organização não


governamental que congrega os órgãos de normalização dos países. Em 1996 ela
desenvolveu a série ISO 14000, estabelecendo padrão internacional para um Sistema de
Gestão Ambiental (SGA).

A ISO 14001 é a norma que define as especificações para implantação do Sistema


de Gestão Ambiental (SGA) nas organizações. No Brasil, o representante na ISO é a ABNT. A
responsabilidade do conteúdo das normas é do comitê brasileiro e dos organismos de
normatização setorial. Neste sentido, a ISO 14001 tem por objetivo fornecer às organizações
os elementos de um sistema de gestão ambiental eficaz e passível de integração com os
demais objetivos da organização. Ela foi idealizada de modo a aplicar-se a todos os tipos e
partes de organizações, independentemente de suas condições geográficas, culturais e
sociais. Sua preocupação é equilibrar a proteção ambiental e a prevenção de poluição com
as necessidades socioeconômicas.

A norma permite a uma organização formular uma política e objetivos que levem
em conta os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais
significativos. Ela se aplica aos aspectos ambientais que possam ser controlados pela
organização e sobre os quais se presume que ela tenha influência. Para tanto, a organização
deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais de suas
atividades, produtos ou serviços que possam ser controlados por ela e sobre os quais se
presume que ela tenha influência, para que se possa determinar que tenham ou venham a
ter impacto significativo sobre o meio ambiente.

8.9 Exercícios Propostos

1- O homo corporativus foi um conceito que nasceu na década de 1960. Trace um


perfil de como ele é hoje e estime quais transformações ele sofrerá daqui a 15 anos.
2- O que é função socioambiental de uma empresa?
3- O que é sustentabilidade?
4- O que significa Responsabilidade Social Corporativa?
5- Toda empresa que investe em projetos sociais é socialmente responsável?
6- Por que o envolvimento das empresas nas questões de Responsabilidade Social?
7- O que é o "triple bottom line"?
8- O que a Responsabilidade Social Corporativa pode representar para os resultados
finais de uma empresa?
9- Por que os consumidores importam-se com Responsabilidade Social?
10- Qual a diferença entre Responsabilidade Social e Filantropia?
11- O que é Marketing Responsável?
12- O que é Marketing Socioambiental?
13- O que é Comunicação Comunitária?

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14- O que são "stakeholders"?


15- O que é ecoeficiência?
16- O que é a ISSO 14001?
17- Elabore seu próprio conceito de responsabilidade socioambiental
18- Esse conceito que você acabou de elaborar seria aplicável à empresa onde você
trabalha? Justifique sua resposta.

8.10 Estudo de Caso

Você é o Dirigente de uma indústria que produz gelatina, produto direcionado ao


público infantil. Esta fábrica localiza-se em um bairro residencial de uma cidade de pequeno
porte (35.000 hab.). Durante suas atividades a fábrica gera resíduos malcheirosos, faz
barulho em volume considerável e, nos horários de troca de turno da fábrica, o afluxo de
funcionários causa certa confusão no fluxo do trânsito local. Considerando que a ação de
uma empresa ultrapassa seus limites e atinge a sociedade como um todo, principalmente a
comunidade na qual está inserida, pede-se:

a) proponha ações que possam reforçar a imagem desta empresa como


socialmente responsável nesta comunidade;
b) crie um conceito para Responsabilidade Social;

ADMINISTRAÇÃO/LOGÍSTICA MÓDULO 1
198

REFERÊNCIAS

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