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Klemens Laschefski
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Essa “dívida ecológica” (MARTINEZ-ALIER, 1997: 216) dos países ricos poderia
então ser vista como um contrapeso à dívida econômica dos países pobres. Este conceito
combinou a crítica dos limites do crescimento do atual modelo de desenvolvimento com a
questão da justiça entre “Norte” e “Sul”, o que permitia também a vinculação da questão
ambiental com as abordagens dos teóricos latinoamericanos ao analisarem a dependência
estrutural dos países “da periferia”. Desta forma, alguns autores utilizam o conceito de
troca econômica-ecológica desigual (MONTIBELER, 2004, RICE, 2007, ROBERTS,
PARKS, 2008) como alegoria ao termo “troca socioeconomica desigual”, usado pela escola
da teoria da dependência. Segundo essas abordagens estruturalistas, a redução do consumo
nos países ricos seria necessária como forma de permitir que os países “dependentes”
consigam elevar o consumo interno para garantir as condições dignas de vida para toda a
população. A este propósito, Pádua (1999) sublinhou as desigualdades sociais internas em
países como o Brasil, lembrando que a questão não se refere necessariamente às diferenças
entre Estado-nações, mas, de modo geral, às elites ricas que vivem às custas do espaço
ambiental dos segmentos mais pobres no seu próprio país.
1 O espaço ambiental é definido pela quantidade de energia, recursos não-renováveis, água, madeira e área
cultivada com produtos agrícolas.
quantitativa. Desta forma, fornecem subsídios às abordagens que visam a transformação da
sociedade industrial, questionando o consumo material nas sociedades ditas modernas.
Outras vertentes chamam atenção para o fato de que o sistema capitalista - e suas
contradições - seria o responsável pela desigualdade na distribuição dos recursos e sua
concentração nas mãos de alguns poucos. Conseqüentemente, elaboram o discurso da troca
ecológica desigual para reivindicar a superação do capitalismo por um sistema eco-
socialista.
Notas
1
Aquino, Y.; Lima, D. Dilma diz que recursos do pré-sal vão acelerar redução da pobreza. In:
AGÊNCIA BRASIL, 29 set. 2009. Disponível em:
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/09/29/materia.2009-09-29.3397896837/view.
Acesso em: 28 out. 2009.
2
A noção de conflitos ambientais surgiu na corrente da ecologia política que se preocupava com a
justiça ambiental, movimento que surgiu nos anos 1980, nos Estados Unidos (Robbins, 2004). A
discussão foi trazida para o Brasil por Henri Acselrad (2004).
3
O I Seminário Nacional sobre Desenvolvimento e Conflitos Ambientais foi realizado pelo Grupo
de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
no período de 2 a 4 de abril de 2008, na UFMG, em Belo Horizonte.
Referências
LASCHEFSKI, K.; FRERIS, N. Saving the wood from the trees. The Ecologist, v. 31, n. 6,
July-Aug. 2001.
RICE, James. Ecological unequal exchange: international trade and uneven utilization of
environmental space in the world system. Social Forces, v. 85, n. 3, p. 1369-1392, Mar.
2007.
ZHOURI, A. Trees and people: an anthropology of British campaigners for the Amazon
Rainforest. PhD Thesis – Department of Sociology, University of Essex, 1998.