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AMBIENTALIZAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS E A ADEQUAÇÃO

"SUSTENTÁVEL" DA INJUSTIÇA AMBIENTAL AO CAPITAL

Environmentalization of social conflicts and the "sustainable"


adequacy of enviromental injustice to capital

Cleyton Gerhardt1
Lair Medeiros Araújo2

RESUMO
O artigo visa explorar dois fenômenos interconectados que estão intimamente vinculados à
construção do meio ambiente: de um lado, a reelaboração discursiva de movimentos e grupos
socais que passam a se “ambientalizar”, ao mesmo tempo em que lutam por justiça e equidade
ambiental ao se reconhecer como “atingidos” por projetos ditos de “desenvolvimento”; de
outro, a adequação do meio ambiente à lógica do mercado, processo marcado pela mediação do
conhecimento técnico-científico e pela produção de uma nova retórica destinada a produzir
consenso e dar conta dos conflitos advindos da socialização dos riscos ambientais e da
repartição desigual da riqueza produzida pela exploração da natureza. Por fim, examina-se um
aspecto transversal aos dois temas: a produção de “zonas de sacrifício” e “alternativas infernais”
em contextos envolvendo implementação de empreendimentos altamente impactantes em
termos ecológicos.

Palavras-chave: Ambientalização; Injustiça ambiental; Desenvolvimento sustentável;


Modernização ecológica.

ABSTRACT
The article aims to explore two interconnected phenomena intimately linked to the construction
of the enviroment as a new public issue: on the one hand, the discursive elaboration of
movements and social groups that “environmentalize” matters and, at the same time, fight for
justice and environmental fairness by recognizing themselves as “affected” by so called

1
Cientista social, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Endereço eletrônico: cleytonge@gmail.com
2
Historiadora e mestra em Desenvolvimento Rural. Endereço eletrônico: lair.medeiros@ufrgs.br

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“development” projects; on the other hand, the framming of the environment to the logic of
markets and the interests of governments and companies, a process mediated by technical-
scientific knowledge and the production of a new rhetoric designed to produce consensus and
to account for conflicts arising from the socialization of environmental risks and the unequal
distribution of wealth caused by the exploitation of nature.

Keywords: environmentalization; environmental injustice; sustainable development;


ecological modernization.

1. INTRODUÇÃO

A partir da literatura especializada nova retórica destinada a produzir consenso


sobre o tema, o artigo, explora dois e dar conta dos conflitos advindos da
fenômenos interconectados e vinculados à socialização dos riscos ambientais e
construção do meio ambiente como questão repartição desigual da riqueza produzida
pública: de um lado, a reelaboração pela exploração da natureza. Por fim, ao
discursiva de movimentos e grupos socais descrever e analisar como se deram ambos
que passam a se “ambientalizar” e, ao os processos ao longo dos últimos 40 anos e
mesmo tempo, lutar por justiça e equidade problematizar alguns de seus
ambiental ao se reconhecer como desdobramentos, examina-se um aspecto
“atingidos” por projetos ditos de transversal aos dois temas: a produção de
“desenvolvimento”; de outro, a adequação “zonas de sacrifício” e “alternativas
do meio ambiente à lógica do mercados e infernais” em contextos envolvendo
interesses de governos e empresas, processo implementação de empreendimentos
marcado pela mediação do conhecimento altamente impactantes em termos
técnico-científico e pela produção de uma ecológicos.

2. AMBIENTALIZAÇÃO, CONFLITOS E LUTAS POR JUSTIÇA


AMBIENTAL

Sobretudo a partir da década de está intimamente vinculado à construção do


1980, questões e conflitos que, até então, meio ambiente como nova questão pública,
seriam rotulados como “sociais” passaram a fenômeno já notado por Hannigan (1997;
se ambientalizar, ganhando sentidos antes 2009) e analisado, mais recentemente, por
ausentes, pouco reconhecidos ou de baixa Gerhardt (2005). O que hoje se reconhece
eficácia persuasiva. Tal movimento, como meio ambiente ganhou materialidade
definido por Leite Lopes (2006, p. 3) como e força simbólica, sofrendo um processo de
“ambientalização dos problemas sociais”, internalização coletiva como bem comum

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(e, por isso, dito “de todos”, “do país”, “da Daí o caráter controverso,
sociedade”, “da humanidade”); trata-se de relativamente amplo, indefinido e sempre
algo com valor social e que, por essa razão, mutável das potenciais questões ditas
precisa ser cuidado, protegido. ambientais, cujo encaminhamento passa a
Com o tempo, o meio ambiente, desempenhar papel significativo na vida
como realidade simultaneamente concreta e diária das pessoas, produzindo relações
imaginada, passou, de certo modo, a unir as inéditas e gerando novas
pessoas em torno do reconhecimento mútuo institucionalidades. A respeito dessas,
de algo tangível e de que se faz uso. Esse Leite Lopes (2006, p. 50) comenta que
reconhecimento passa pela aceitação de que “surgem mecanismos de defesa estatais
o meio ambiente deve ser preservado, como as agências, as leis e normatizações
gerido e administrado. Ainda que implique ambientais; a reconversão de profissionais
uma redução da difusa e polissêmica ideia às novas questões ambientais, assim como
de natureza (CARVALHO, 2001), que novos profissionais”. É o caso da criação de
passa a ser fortemente recortada e mediada novos órgãos (ambientais), departamentos
pelo conhecimento e pelo léxico das (ambientais) dentro das empresas, de toda
ciências naturais (particularmente da uma legislação (ambiental), ritos
biologia), trata-se da construção e inclusão administrativos (como o licenciamento
da problemática ambiental não só na esfera ambiental), de uma ciência (ambiental) e da
pública, ao ser tomada como questão social especialização de profissionais nos campos
que precisa receber a devida atenção, mas científico (cientistas ambientais) e jurídico
também no mundo da política e, portanto, (como procuradores especializados em
das relações de poder responsáveis por toda temas ambientais).
organização social. Isso significa Nesse contexto, não se pode
reconhecer que a operacionalização do desconsiderar o fato de que a pressão
meio ambiente como bem comum, assim exercida pelo surgimento de movimentos de
como a delimitação de tudo o que isso cunho ecológico de diversas matizes,
implica em termos técnico-burocráticos e alcance e orientação política, conjugada à
jurídicos, dá-se no campo do jogo de forças aceleração da devastação ambiental,
e dos mecanismos ideológicos de decorrente do incentivo e do financiamento
dominação que mantêm a sociedade a grandes obras (que vão da mineração,
desigualmente dividida. construção de hidrelétricas, ferrovias e
siderúrgicas à instalação, na outra ponta do

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processo, de lixões a céu aberto e aterros chamada sociedade civil organizada, o
sanitários), contribuiu em muito para que o próprio Estado e seu aparelho
ambiente se tornasse pauta pública e fosse administrativo, chegando, por fim, ao
inserido nas agendas governamentais e de âmbito doméstico, familiar e individual.
agências multilaterais. Desde então, Paralelamente, instaura-se uma
problemas e questões sociais são trazidos e concorrência por falar sobre a questão entre
transpostos para a esfera ambiental, que, ao diferentes segmentos da sociedade, que
ser reconhecida como política, ganha passam a competir pela elaboração e
relativa autonomia como campo legítimo de execução de políticas ambientais. De fato,
disputa (CARVALHO, 2001) em torno da constituem uma nova “arena pública”
elaboração de leis, normas, ações, diretrizes (FUKS, 1998) que se sustenta a partir do
e políticas públicas, agora nomeadas exercício assimétrico de poder (de definir,
“ambientais”. classificar, propor e encaminhar) entre
Por outro lado, se a crescente quem nela atua e quem tenta nela ingressar.
institucionalização da questão ambiental Em um primeiro momento, um dos efeitos
levou à criação de mecanismos que dessa relativa autonomização do campo
permitem gerir, controlar e disciplinar como ambiental foi a produção de um não lugar
se dará o cuidado em relação ao meio ou de um lugar acessório (participativo,
ambiente e, eventualmente, punir, caso ele diriam governos, empresas e suas
não seja respeitado, ato contínuo, “entidades-satélites”4) destinado a grupos
conformam-se também inéditos padrões de sociais que, a despeito de serem os mais
conduta que irão aplicar-se a toda a afetados pelas decisões tomadas, sofrem
coletividade3. Como percebeu Leite Lopes com danos e riscos ecológicos.
(2006, p. 36), com a “interiorização de É justamente do esforço por deixar
novas práticas”, sobrevém toda uma de ocupar essa invisibilidade, função
reelaboração e transformação auxiliar ou espaço secundário que emergem
comportamental, cognitiva, institucional e as lutas por justiça ambiental. De acordo
ética que irá atingir o meio empresarial, a com Acselrad et al. (2009, p. 11), os

3
O sentido de coletividade pode variar bastante, realidades locais às necessidades, aos objetivos e
abarcando um grupo social que se organiza prerrogativas destes. Dentre elas, temos: ONGs,
politicamente, uma sociedade organizada como fundações, empresas de consultoria, empresas
Estado ou, então, numa leitura preferida de terceirizadas e outras organizações que estabeleçam
especialistas das ciências naturais, uma mesma algum tipo de comunicação, contato, contrato ou
espécie, genericamente conhecida por humanidade. vínculo entre financiadores e idealizadores dos
4 empreendimentos e as populações potencialmente
Entidades que tendem a gravitar em torno de
grandes empreendimentos, no sentido de adequar as atingidas. Para uma discussão sobre o modo como
operam entidades-satélite, ver Gerhardt (2013).

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primeiros conflitos em que essa noção foi socioeconomicamente e com baixa
mobilizada ocorreram nos EUA, na década representatividade política. Disso resulta
de 1980, quando estudos associaram, que diversos grupos sociais já bastante
conjuntamente, a desigualdade social e a fragilizados passam a estar mais expostos
discriminação racial a socialização dos aos riscos ambientais atuais. Trata-se, como
impactos ecológicos5. Tal associação está lembra Herculano (2011, p. 16), de um tipo
diretamente ligada à percepção de que a de desigualdade e injustiça específico que
violência herdada do período escravocrata e recai sobre etnias indígenas e
do passado de segregação/hierarquização populações ditas tradicionais –
ribeirinhos, extrativistas, geraizeiros,
racial foi atualizada e transferida para a pescadores, pantaneiros, caiçaras,
vazanteiros, ciganos, pomeranos,
esfera ambiental. Conforme Herculano comunidades de terreiro, faxinais,
quilombolas etc. – que têm se
(2011, p. 3), “a distribuição espacial dos defrontado com a ‘chegada do
depósitos de resíduos químicos perigosos, estranho’, isto é, de grandes
empreendimentos
bem como a localização de indústrias muito desenvolvimentistas como barragens,
projetos de monocultura,
poluentes nada tinham de aleatório: ao carcinicultura, maricultura, hidrovias
e rodovias.
contrário, se sobrepunham à distribuição
territorial das etnias pobres nos Estados Em grande medida, a

Unidos e a acompanhavam”. ambientalização de movimentos sociais,

De fato, tanto nos EUA quanto no como os protagonizados por “populações

Brasil, a discriminação racial e a tradicionais”, mas também por “não

naturalização de injustiças sociais somam- tradicionais” inicia-se com a reabertura

se e interseccionam-se à falta de equidade política e a redemocratização observadas

ambiental. Ocorre que, se nos EUA, o peso nas décadas de 1980 e 1990. Nesse período,

da injustiça ambiental reflete-se com maior ocorre a ampliação das lutas e das

força quando entram em cena relações de reivindicações de uma diversidade de etnias

dominação racializadas, aqui, tal injustiça é e atores socais até então invisibilizados ou

produzida não apenas pelo recorte racial, impossibilitados de se autorrepresentar

sendo potencializada ao se estender de como força política e/ou grupo

modo transversal a toda uma população culturalmente diferenciado. Em parte, isso

historicamente marginalizada ocorre porque, dentre os efeitos

55
O caso mais emblemático, e que inaugura a adoção 1978. Trata-se da contaminação química e da
da ideia de justiça ambiental na sociologia norte- exposição da população negra a produtos altamente
americana, ocorreu em torno do episódio conhecido tóxicos (HERCULANO, 2001, p.215). Desde então,
como Love Canal, no estado de Nova York, em passou a ser referido como um caso típico de
“racismo ambiental”.

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ambientalizadores, há também um caráter meio ambiente que lhes é próximo, um
pragmático operando, aspecto percebido modo de se contrapor à expropriação por
por Acselrad (2010, p. 103) ao chamar estes vivida, apropriação que Martinez-
atenção para o fato de o fenômeno da Allier (2007) denomina “ecologismo do
ambientalização poder “designar tanto o pobres”. Ao contrário de movimentos como
processo de adoção de um discurso o “não no meu quintal”6, praticado por
ambiental genérico por parte dos diferentes ativistas de classe média que, ao tentar
grupos sociais, como a incorporação barrar a possibilidade de construção de uma
concreta de justificativas ambientais para autopista em sua vizinhança, por exemplo,
legitimar práticas institucionais, políticas, visam simplesmente preservar privilégios,
científicas, etc.”. Como resultado, exportando-a para outros locais onde
provavelmente vivem populações pobres,
ao longo da década de 1990, o sentido
daquilo que era até então visto como estas últimas, ao se organizar em torno da
conflito ambiental – associado às lutas
por proteção à natureza, contra a ideia de justiça ambiental, politizam a
poluição do ar, contaminação de
recursos hídricos, destruição de
questão da repartição desigual dos riscos de
ecossistemas e florestas, perda de empreendimentos que causam fortes
biodiversidade, etc. – se ampliou de
modo a incorporar, como sujeitos impactos ao meio ambiente. Ao mesmo
ativos, as próprias pessoas que mais
sofrem com os impactos causados por tempo, denunciam e põem às claras uma
grandes projetos de desenvolvimento
(GERHARDT, 2014, p. 57). constatação que, embora evidente, tende a
permanecer oculta: o fato de que as
De fato, se o meio ambiente,
atividades nocivas ao ambiente se realizam
entendido como patrimônio social, e os
quase sempre “no quintal dos pobres”.
problemas ambientais, entendidos como
Como resultado, também organizações e
questões públicas, passaram, num primeiro
movimentos protagonizados por um público
momento, a fazer parte do agir e do pensar
bastante diferenciado, composto por
de diversos atores sociais associados à
indígenas, quilombolas, camponeses,
burguesia e ao mundo pequeno-burguês
trabalhadores da indústria e extração de
(cientistas, empresários, políticos,
matéria-prima, moradores de periferias
funcionários públicos, jornalistas e ativistas
urbanas e diversos outros acabaram por
ambientais) (HANNIGAN, 1997),
construir seu próprio discurso em relação a
posteriormente, o mesmo ocorreu com
temas ligados à ambientalização de
grupos sociais que veem, na defesa de um

6
Do inglês “not in my backyard”, conhecido pela
sigla NIMBY. Sobre o tema, ver Bullard (2002).

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conflitos. Ao capitalizar o apelo ecológico partes das populações atingidas por danos
como bandeira, muitas de suas organizações ambientais passam a se utilizar também da
engajaram-se em novas lutas que não questão ambiental como repertório de seus
ficaram restritas “ao seu quintal” e cujas interesses e reivindicações”.
reivindicações ganham, por vezes, um Será, sobretudo, a partir dos
caráter universal, como nos casos da luta conflitos em torno da proliferação de
por justiça ambiental e pelo reconhecimento grandes empreendimentos que populações
político da categoria “atingido” por parte do urbanas e rurais por eles afetadas, ao verem
Estado. fragilizada sua existência em vários
Por trás desses movimentos aspectos, passarão a se apropriar de um tipo
encontra-se, ao mesmo tempo, um específico de discurso (ecológico), gerando
alargamento e um deslocamento qualitativo um novo tipo de conflito (ambiental) ligado
do sentido das disputas já existentes em à denúncia da ausência de equidade
âmbito trabalhista, agrário, social e mesmo (ambiental). Aí entram em disputa uma
ecológico (quando restrito à defesa de miríade de interesses e reivindicações, delas
elementos da natureza, como espécies participando atores que, ao se verem, de
ameaçadas, florestas, paisagens algum modo, constrangidos e atingidos por
esteticamente valorizadas, etc.) para o tais atividades, passam a ter de interagir ou
campo dos conflitos ambientais. Migração negociar com o aparelho estatal (sobretudo
que vai do uso e da posse da terra (caso do a máquina administrativa governamental),
movimento dos seringueiros nos anos 1980, com setores empresariais (públicos e
por exemplo) ao ambiente de trabalho e à privados), entidades-satélites a eles
saúde do trabalhador no contexto fabril vinculadas (ver nota quatro) e com a
(vide toda a discussão sobre justiça sociedade civil organizada na forma de
organizacional e psicologia ambiental7), de ONGs, OSCIPs8, associações, cooperativas,
políticas de preservação ambiental para coletivos, sindicatos etc.
unidades de conservação a propostas de No caso da sociedade civil, nela
desenvolvimento sustentável em estão tanto vertentes ambientalistas, cuja
assentamentos rurais. Como aponta, trajetória está ligada à proteção da natureza
novamente, Leite Lopes (2006, p. 32), neste em seu sentido mais estrito (como, por
momento, “tanto trabalhadores quanto exemplo, as que concentram suas ações em

7 8
Sobre o tema, ver Leão (2013). Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público.

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unidades de conservação de uso indireto9) tenham como vizinhos grupos sociais e
ou, então, à defesa ambiental a partir de pessoas de alto poder aquisitivo ou da classe
práticas e finalidades de caráter pragmático média. Se a ambientalização dos conflitos é
(geralmente voltadas à descoberta de um fenômeno das últimas duas décadas do
soluções técnicas para questões pontuais), século XX, no contexto brasileiro, a
quanto as surgidas diretamente dos incidência e a intensidade dos transtornos e
movimentos sociais e que acabaram, para violências decorrentes de empreendimentos
usar o termo de Martinez-Alier (2007), por nocivos ao ambiente concentram-se em
se “ecologizar”. É deste último movimento locais onde vivem populações com baixo
que sobrevêm as demandas por equidade poder econômico, acesso restrito a direitos
ambiental, as quais nascem da percepção de básicos (como saúde, educação,
que há uma maior exposição de atores com saneamento e transporte) e com baixa
pouco poder econômico e influência capacidade de se contrapor às ações de
política aos riscos ecológicos típicos dos quem defende, propõe, financia e executa
chamados “projetos de desenvolvimento”. esses projetos. A isso, soma-se o
Em meio ao reconhecimento acerca da afastamento dessas populações (na maioria
desigualdade da distribuição social dos das vezes, premeditado, construído e
impactos decorrentes destes últimos, intencional) e seu acesso precário às
surgem movimentos contra a produção da instâncias políticas, legais e administrativas
injustiça ambiental quando nas quais se dão o planejamento e a tomada
de decisão sobre esses mesmos
o processo de implementação de
políticas ambientais, ou a omissão de megaprojetos. Isso ocorre ou com a simples
tais políticas ante a ação seletiva das
forças de mercado, cria impactos negação dessa possibilidade ou com a
socialmente desproporcionais,
intencionais ou não intencionais,
produção da própria dificuldade (por meio
concentrando os riscos ambientais da criação de uma série de empecilhos
sobre os mais pobres e os benefícios
sobre os mais ricos (ACSELRAD et burocráticos, obstruções legais e
al., 2009, p. 44).
mecanismos dissuasivos) de intervir direta
De fato, considerando a estrutura e ativamente, tanto na forma como são
hierarquizada e discriminatória que pensados, negociados e postos em prática os
caracteriza a sociedade ocidental, é projetos, quanto na escolha de sua
sintomático que projetos e grandes obras localização para implantação e posterior
geralmente não atinjam e quase nunca execução e entrada em operação.

9
Ver Gerhardt (2015)

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Sob tal ótica, como atesta Leroy Como resultado, o reconhecimento
(2011, p. 41), “as causas das injustiças deste tipo específico de injustiça ambiental
sociais são as mesmas da degradação levou à constituição de grupos mais ou
ambiental, sendo impossível separar os menos organizados para, ao seu modo e
problemas ambientais das questões mobilizando sentidos e vocabulários
sociais”. Isso porque não se tratam somente próprios, questioná-la e pô-la na agenda
de impactos à natureza, seja ela associada a pública. Embora tais grupos possam
rios, florestas, cachoeiras, espécies começar se articulando de modo pragmático
ameaçadas, ar ou biodiversidade, pois eles e pontual, disso resulta a emergência de
transcendem as esferas material (física e conflitos relacionados à contestação sobre a
biológica), utilitária (dos “recursos desigual repartição da riqueza extraída da
naturais”) e estética (das “belezas naturais” natureza por empreendimentos de cunho
e “paraísos ecológicos”), mobilizando mercantil. Mais do que isso, sua crítica
interesses e relações de poder, mas também dirige-se justamente à ideia restrita de valor
afetos, memórias, desejos e vínculos (limitada ao âmbito utilitário, financeiro e
subjetivos. Portanto, aqui se entra, ao mercadológico) contida nos elementos
mesmo tempo, no mundo da política e no materiais e imateriais extraídos de um tipo
domínio do simbólico e da produção de específico de natureza, reduzida a
subjetividades, que irão conferir significado depositório de “recursos” e “serviços”. Ao
à vida e ao “fazer viver” das pessoas. E ao ampliar tal perspectiva, ressignificando
transpassar este aspecto específico com as localmente sua importância, populações
inúmeras concepções, valores, cosmovisões que estão mais expostas às chamadas
e modos de existência de quem “externalidades ambientais”10 passam a
("tradicional" ou não) vive nos lugares onde defender um dado território e, não raro, a
são implantados megaprojetos, vê-se o reafirmar valores e modos de existir que
desigualdade social e degradação ambiental contrastam e tensionam os valores e o modo
fazem parte de um mesmo fenômeno. de vida ocidental. Como sintetiza Acselrad
(2010, p. 103), em meio a tais “disputas em

10
Grosso modo, externalidades seriam efeitos não destino físico. Segundo Herculano (2001, p. 217),
previstos (e, portanto, não incluídos na contabilidade externalidades especificamente ambientais referem-
e nos custos das empresas) da produção de se aos “custos que são empurrados para o exterior
mercadorias ou serviços sobre populações que não se das empresas e sobre os quais elas não respondem.
encontram diretamente envolvidas com a mesma Ou seja, há custos sociais e ambientais no processo
atividade produtiva. É o caso, por exemplo, do lixo produtivo que são pagos diferencialmente pelos mais
urbano, externalidade que, a despeito de já pobres, sobretudo com sua própria saúde e tempo de
internalizada economicamente, ainda precisa de um vida”. Para uma análise crítica sobre externalidades
ambientais, ver também Acselrad (1994).

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que diferentes atores ambientalizam seus a defesa dos direitos a uma proteção
ambiental equânime contra a
discursos, ações coletivas são esboçadas na segregação socioterritorial e a
desigualdade ambiental promovida
constituição de conflitos sociais, incidentes pelo mercado; a defesa dos direitos de
acesso equânime aos recursos
sobre esses novos objetos, seja ambientais, contra a concentração das
questionando os padrões técnicos de terras férteis, das águas e do solo
seguro nas mãos dos interesses
apropriação do território e seus recursos, econômicos fortes no mercado
(ACSELRAD, 2010, p. 114).
seja contestando a distribuição de poder
sobre eles”. Assim, quando da constituição Ao se pôr em evidência a
de movimentos que se contrapõem e desigualdade distributiva da riqueza
questionam a origem, os efeitos, as produzida e os múltiplos sentidos atribuídos
justificativas e a própria fabricação da à natureza, abre-se espaço para a percepção
necessidade e inevitabilidade de grandes e a denúncia de que o ambiente socialmente
obras e seus impactos, está-se diante de construído de um número restrito de
situações de confronto entre sujeitos sociais prevalece e é imposto sobre
grupos sociais com modos o de outros sujeitos, fazendo emergir o que
diferenciados de apropriação, uso e
significação do território, tendo veio a ser reconhecido como “conflito
origem pelo menos quando um dos
grupos tem a continuidade das formas ambiental”. Neste caso, trata-se de um
sociais e apropriação do meio que
desenvolvem ameaçadas por impactos
processo em que “os riscos ambientais são
indesejáveis transmitidos pelo solo, diferenciados e desigualmente distribuídos,
água, ar ou sistemas vivos decorrentes
do exercício das práticas de outros dada a diferente capacidade de os grupos
grupos (ACSELRAD, 2004a, p. 26).
sociais escaparem aos efeitos das fontes de
tais riscos” (ACSELRAD, 2010, p. 109).
Se olhada pelo ponto de vista de
Ainda sobre conflitos ambientais, Zhouri e
movimentos protagonizados por
Laschefski (2010, p. 23) comentam que,
seringueiros, ribeirinhos, povos indígenas,
quando “existem sobreposições de
catadoras de coco e babaçu, povos da
reivindicações de diversos segmentos
floresta, quilombolas e diversos outros, a
sociais portadores de identidades e lógicas
disputa entre concepções diferenciadas
culturais diferenciadas sobre o mesmo
sobre territórios, naturezas, valores e modos
recorte espacial”, as disputas implicam em
de existir também passa a ser travada na
três dimensões que se interconectam:
esfera da criação e da reafirmação de
territorial, distributiva e espacial. A
direitos sociais. Dentre essas lutas e
primeira indica conflitos em que “existem
demandas, estão
sobreposições de reivindicações de diversos

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segmentos sociais portadoras de identidades central de ação, a noção de justiça
e lógicas culturais diferenciadas sobre o ambiental. Além de impulsionar a luta por
mesmo recorte espacial”; a segunda, iniciativas que venham, se não reverter, ao
distributiva, está ligada ao uso de recursos menos a frear a produção da desigualdade
naturais “relacionados à água, às florestas, à ambiental, o agenciamento intencional e
exploração de minérios, à posse e uso do politicamente orientado da busca por justiça
solo (terra) e subsolo”; por fim, a dimensão surge da criatividade estratégica de
espacial resulta de efeitos para além do local lideranças e representantes de movimentos
onde são produzidos, incluindo a poluição sociais que, em diálogo com personagens
do ar e da água, mudanças climáticas, tão diferentes, como intelectuais,
poluição industrial e lixo tóxico (ZHOURI; acadêmicos, técnicos, burocratas e
LASCHEFSKI, 2010, p. 21). especialistas, alteraram a configuração de
A todo este contexto, soma-se ainda forças sociais envolvidas em situações de
a confluência entre a luta reivindicatória conflito. Em certas circunstâncias, esses
concreta de grupos histórica, social, política atores produzem mudanças no aparelho
e economicamente vulnerabilizados e o estatal e regulatório responsável pela
surgimento, entre ativistas e pesquisadores elaboração de políticas de preservação
que com eles trabalham ou militam, de ambiental11.
novas perspectivas práticas, conceituais e
interpretativas que trazem, como eixo

3. A CATEGORIA "ATINGIDO" E SUA AMIVALÊNCIA

A partir do final dos anos 1990, tais unificar um discurso em torno de uma
relações assimétricas, ao serem agenda comum, então batizada de “Agenda
coletivamente problematizadas, levaram ao 21”, a Eco-92 e o chamado “Fórum Global
surgimento da Rede Brasileira de Justiça 92” (do qual participaram cerca de 10 mil
Ambiental (RBJA). Olhando-se em Organizações Não Governamentais)
retrospecto, se a Rio-92 permitiu aos desempenharam papel essencial ao trazer à
governos e grandes interesses econômicos tona a ampla diversidade étnica e a

11
Exemplo emblemático dessa entrada de novos parceria com pesquisadores de diversas áreas,
atores na arena pública conformada em torno da literalmente inventaram outra forma de apropriação
questão ambiental é a criação das chamadas coletiva do território, que não aquela baseada na
Reservas Extrativistas, uma criação totalmente propriedade privada ou na posse individual ou
inédita dos seringueiros do Acre, os quais, em restrita à unidade familiar. Para saber mais sobre
esse processo, ver Almeida (2004).

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capacidade de articulação de atores sociais político dessa categoria e, assim, a
que resistem e denunciam sua exposição aos reivindicar direitos.
riscos ambientais. Exemplo desse fenômeno encontra-
Como resultado, construiu-se uma se na demanda do Movimento dos
sinergia entre atingidos por projetos de Atingidos por Barragens (MAB) por uma
desenvolvimento, ativistas que atuam política dirigida a este grupo social em
denunciando seus impactos e pesquisadores particular, por eles definida como “Política
que analisam seus desdobramentos, fazendo Nacional de Direitos dos Atingidos por
com que, não muito tempo depois de criada Barragens”12. Caso o pleito fosse aceito
a RBJA, os próprios sujeitos analisados pela pelo Executivo Federal (o que, olhando
literatura sociológica e antropológica retrospectivamente, era muito possível de
passassem a se apropriar e agenciar, a seu acontecer caso não houvesse o golpe de
modo, o conhecimento produzido a partir de 2016), isso significaria o reconhecimento
suas lutas. O mesmo se deu com as político e institucional pelo Estado
estratégias de ação levadas a cabo por brasileiro de que ações deveriam ser
organizações da sociedade civil que atuam pensadas para um tipo específico de
na área dos direitos humanos, cidadania, “atingido”. Estes passariam a ter acesso a
emancipação social e fortalecimento da direitos exclusivamente concernentes a esse
democracia. público, distinguindo-o dos demais
As consequências sociais de grandes atingidos por grandes obras e projetos.
obras referendadas pela “ideologia/utopia Contudo, embora tal distinção tenha
do desenvolvimento” (RIBEIRO, 2008), ao efeito prático positivo para quem sofre com
começar a ser percebidas como transversais esse tipo de empreendimento, ela também
aos impactos estritamente ecológicos por carrega consigo um viés contraditório. Isso
elas ocasionados (que vão da poluição do ar, porque sua institucionalização traz
contaminação de recursos hídricos, erosão subjacente uma redução das possibilidades
do solo e assoreamento de rios ao "efeito de lutar pelo impedimento, isto é, pela
estufa"), também demandam, além de maior simples negação e não realização de uma
visibilidade, um tratamento institucional determinada hidrelétrica ou barragem de
que passa a ser exigido pelos próprios rejeitos. Ao reconhecer, numa lei
“atingidos”, os quais passam a fazer uso específica, aquele que irá ser atingido por

12 http://www.mabnacional.org.br/noticia/mab-
Para os pontos reivindicados, ver MAB (2016).
Disponível em entrega-proposta-pol-tica-direitos-dos-atingidos-
senadores. Acesso em: 29/04/2019.

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elas, se está implicitamente admitindo sua empresas do setor elétrico reconheciam
construção, quando muitas vezes o como atingidos apenas os chamados
confronto se dá exatamente contra essa “alagados” com título de propriedade no
possibilidade, seja ela apresentada da forma caso das hidrelétricas, o avanço das lutas
que for, com as condicionantes, levou à inclusão, além de proprietários, de
compensações, mitigações e demais todos (na maioria pequenos posseiros) que
"atenuantes" que possam ser propostas. De tiveram terras alagadas. Atualmente, há um
outra parte, fica a questão de saber por que esforço por ampliar a concepção temporal e
um certo tipo de atingido deveria ter acesso física de atingido, incluindo impactos e
a uma política nacional e seus “primos” constrangimentos que surgem desde o
(como atingidos pela mineração da Vale, anúncio da obra, sua construção e entrada
pela Companhia Siderúrgica do Atlântico em operação.
no Rio de Janeiro, pela expansão da Além disso, luta-se igualmente por
fronteira agrícola com a instalação projetos visibilizar não só violências materiais, mas
agropecuários na Amazônia, pela abertura simbólicas, psicológicas e afetivas,
de lixões e mega-aterros sanitários na região verificadas além da área onde está
metropolitana de Porto Alegre), cujos danos localizada a obra, seja esta uma barragem,
e transtornos são muito parecidos, não. mina, ferrovia ou fábrica, pois podem
De fato, o que hoje se conhece por repercutir, às vezes, a milhares de
“atingido” é uma categoria em disputa. A quilômetros. Afinal, para trabalhadores
partir do exemplo do próprio MAB, mas recrutados em áreas economicamente
que vale para praticamente todas as desfavorecidas, como certas regiões do
situações envolvendo grandes semiárido nordestino e norte de Minas
empreendimentos, Vainer (2008) descreve Gerais, para trabalhar em regime de
como seus executores tentam limitar, desde escravidão moderna na construção de
o início da obra, o número de pessoas hidrelétricas no Acre13, shopping centers
reconhecidas como “atingidos”, enquanto em Belo Horizonte14, estádios de futebol no
grupos sociais e seus aliados lutam pelo seu
alargamento. Se, até os anos 1990,

13
“CPI vai ouvir depoimentos sobre acusações de 14
“Obra em shopping de BH utilizou trabalho
trabalho escravo em Jirau” (BORGES, 2012). escravo, afirma Ministério do Trabalho”
Disponível em: (MENEZES, 2014). Disponível em:
https://www.valor.com.br/empresas/2776032/cpi- https://noticias.r7.com/minas-gerais/obra-em-
vai-ouvir-depoimentos-sobre-acusacoes-de- shopping-de-bh-utilizou-trabalho-escravo-afirma-
trabalho-escravo-em-jirau. Acesso em: 2904/2019. ministerio-do-trabalho-02072014. Acesso em:
29/04/2019.

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sul do país15 ou infraestrutura para os jogos propõem Cunha e Almeida (2004, p. 184),
olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro16, tal por “‘extensão’, isto é, pela simples
deslocamento e as privações por que têm de enumeração dos elementos que os
passar não deixam de resultar de tais compõem”. Isso resultaria na possibilidade
iniciativas17. de estender o alcance desse tipo de política
E é justamente aí, no esforço por para a ampla diversidade social que compõe
ampliar os significados e a abrangência da o universo de atingidos por grandes
noção de atingido, que se verifica a potência empreendimentos, sejam eles minas,
transformadora da proposta do Movimento gasodutos, mineriodutos, portos,
dos Atingidos por Barragens. Embora o lixões/aterros, fábricas, siderúrgicas,
contexto político atual não seja nada rodovias, projetos de revitalização urbana e
favorável, a luta do MAB por uma política inúmeros outros.
nacional inaugura um esforço mais amplo Obviamente, lutar por uma “Política
de ampliação de uma demanda por direitos Nacional de Direitos dos Atingidos”
até então restrita a um tipo especial de ampliada, inclusiva e que contemple a
atingido (por barragens). Tal como ocorreu entrada de públicos muito diferentes só
com povos e comunidades tradicionais, que, seria possível com o engajamento e a
ao assim se autorreconhecerem, passaram a articulação dos próprios atingidos. Porém,
“habitar o bonde”18 da categoria “população tendo em vista a existência já organizada de
tradicional”, tendo, com isso, maior acesso diversos representantes de seus potenciais
a direitos e políticas públicas voltadas às membros (que vão do próprio MAB ao
suas próprias questões e problemas, o Movimento pela Soberania Popular na
mesmo poderia dar-se caso se trabalhasse Mineração19 e à Rede Alerta Contra o
com o sentido genérico de atingido. Isso
ocorreria incluindo seus membros, como

15
“Nordestinos trabalham em condições precárias na 17
Para uma discussão sobre o conceito de atingido
Arena Grêmio; obra é parcialmente interditada” feita a partir de casos concretos de implantação de
(REPORTER BRASIL, 2011). Disponível em: grandes obras, ver Leroy et al. (2011).
18
https://reporterbrasil.org.br/2011/03/nordestinos- Ver Cunha e Almeida (2004).
trabalham-em-condicoes-precarias-na-arena- 19
Até recentemente chamado de Movimento dos
gremio-obra-e-parcialmente-interditada/. Acesso Atingidos pela Mineração (MAM), o hoje
em: 29/04/2019. Movimento pela Soberania Popular na Mineração é
16
“Operação liberta 11 trabalhadores de obra em formado por uma ampla articulação, com
situação de trabalho escravo no Rio” (ESCÓSSIA, ramificações internacionais. Tem como “bandeira
2015). Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de- unificar as lutas das vítimas da indústria minerária”.
janeiro/noticia/2015/11/operacao-liberta-11- Ver: https://rosaluxspba.org/tag/movimento-pela-
trabalhadores-de-obra-em-situacao-de-trabalho- soberania-popular-na-mineracao/]. Acesso em:
escravo-no-rio.html. Acesso em: 29/04/2019. 16/07/2019.

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Deserto Verde20), ao já se constituírem institucionalidade estatal) permaneça, como
enquanto grupos que também “estão não há no horizonte a possibilidade de
lutando para conquistar (por meio de meios resolução para este tipo de questão (ao
práticos e simbólicos) uma identidade menos enquanto a lógica capitalista operar
pública” (CUNHA & ALMEIDA, 2004, p. sistemicamente sobre corpos, mentes e
192), a porta do “bonde” institucional a ser desejos das pessoas), desdobramentos dela
habitado por meio da categoria atingido derivados apenas se somarão, como novo
permanece aberta. E embora a ambivalência ingrediente, a tantos outros que já povoam a
problemática da própria categoria (que "arena pública" conformada em torno da
implica aceitar entrar e se enquadrar numa dita questão ambiental.

4. PRODUZINDO ZONAS (INFERNAIS) E ALTERNATIVAS (DE SACRIFÍCIO)

De acordo com extensa literatura deles retomados ou inspirados nos antigos


sobre conflitos ambientais (ACSELRAD, eixos de desenvolvimento dos anos 1970.
2004a; LEITE LOPES, 2006; ZHOURI & Levados adiante por meio de concessão
LASCHEFSKI, 2010, p. 10), “o pública ou implantados por meio de
antagonismo entre meio ambiente e “consórcios”21 e “parcerias” entre empresas
desenvolvimento marcou o solo do debate estatais e iniciativa privada, tal
ambiental que, nas décadas de 1970 e 1980, investimento tem seu ápice em 2007, com o
colocava em dúvida o modelo de Plano de Aceleração do Crescimento
desenvolvimento” posto em prática pelos (PAC). Nesse âmbito, foram executados
militares. Passada a avalanche neoliberal pelo governo federal diversos
dos anos 1990 (que, com o golpe de 2016, empreendimentos extrativos (sobretudo
hoje retorna com força), a partir de 2003, foi mineração), industriais, agropecuários,
elaborada uma série de projetos, muitos urbanísticos, de infraestrutura

20
Embora menos ativa atualmente, a Rede Alerta entidades de classe e setores econômicos
Contra o Deserto Verde tem papel importante no específicos, políticos profissionais, consultores e
combate ao avanço das fazendas e plantações de especialistas de agências de desenvolvimento.
eucalipto no Brasil, na denúncia dos impactos da Conforme Ribeiro (2008, p. 115), “a consorciação é
produção e exportação de celulose e na articulação um processo político comandado por grupos de
de populações impactadas por esses projetos. Ver poder que operam em níveis mais elevados de
http://redealerta.blogspot.com/. Acesso em: integração. É um encadeamento que (...) une, de fato,
16/07/2019. dentro de um projeto, instituições e capitais
21
Consorciação refere-se à formação de alianças internacionais, nacionais e regionais. É uma forma
provisórias entre corporações, empreiteiras, de reforçar relacionamentos capitalistas de modo
instituições financeiras, fundos de pensão, órgãos de piramidal, em que níveis mais elevados
governo, empresários privados, representantes de hegemonizam níveis mais baixos”.

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(hidrelétricas, ferrovias, rodovias, portos) e Com efeito, a escolha de locais que
de entretenimento ligados a megaeventos têm por característica a pouca visibilidade
(como Olimpíadas e Copa do Mundo). social para sua instalação não é aleatória.
Como resultado, e em paralelo com a Viegas (2015, p. 01), ao descrever a
permanência de boa parte da população produção da desigualdade ambiental que
brasileira à margem do que se conhece por está por trás da formação do que, na
direitos e cidadania, as últimas duas literatura sobre conflitos ambientais, tem-se
décadas assistiram ao crescimento de chamado de “zonas de sacrifício”, comenta
denúncias de impactos decorrentes de tais que a “superposição de empreendimentos e
projetos. instalações responsáveis por danos e riscos
Embora, num primeiro momento, ambientais” numa mesma localidade “tende
pareçam bastante distintas, todas estas a ser aplicada a áreas de moradia de
atividades extrativas, industriais, populações de baixa renda, onde o valor da
agropecuárias, urbanísticas, de terra é relativamente mais baixo e o menor
infraestrutura e de entretenimento têm em acesso dos moradores aos processos
comum, além de diversas ações e decisórios favorece escolhas de localização
estratégias adotadas pelas empresas para que concentram, nestas áreas, instalações
torná-las fato consumado (GERHARDT, perigosas”. Na mesma linha, Acselrad
2014), a produção da injustiça ambiental. (2010, p. 214) argumenta que esta
Por outro lado, e atualizando uma lógica recorrência espacial de atividades que
perversa do sistema capitalista, mais do que comprometem o ambiente conforma uma
simplesmente atingir populações dinâmica que atinge as populações mais
socialmente vulneráveis, elas produzem a descapitalizadas, tais como “as vítimas da
própria vulnerabilidade, na medida em que contaminação de espaços não diretamente
as pessoas passam a ter que conviver com o produtivos, como o entorno de grandes
que Stangers e Pignarre (apud MELLO, empreendimentos portadores de risco e
2009, p. 28) chamam de “alternativas periferias das cidades onde são localizadas
infernais”, isto é, “situações que não instalações ambientalmente indesejáveis
parecem deixar escolha a não ser a (lixões, depósitos de lixo tóxico, etc.)”.
resignação ou uma denúncia que soa vazia, Note-se que um dos motivos de certos
marcada de impotência porque não oferece locais atraírem “instalações indesejáveis” e
nenhuma possibilidade de tomada de ação”. terem o valor da terra “relativamente mais
baixo” se deve justamente ao fato de terem

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se tornado uma zona de sacrifício. Aqui, instalações perigosas, comunidades ditas
trata-se, na verdade, de um duplo ‘carentes de conhecimento’, ‘sem
movimento que paulatinamente vai preocupações ambientais’ ou ‘fáceis de
fechando-se em si mesmo. Se a baixa manejar’”. Já para Santos e Dornelas (2015,
representatividade política, aliada à p. 63), os grandes projetos de
exclusão econômica dos moradores, desenvolvimento não repassam às
contribui para fazer desses lugares populações social e economicamente
potenciais áreas para receber obras desfavorecidas “a riqueza deles
altamente impactantes do ponto de vista proveniente, mas sim apenas os riscos e
ambiental, a própria instalação destas passa prejuízos”. Neste caso, conforme Gerhardt
a atrair outras empresas também nocivas, (2014), trata-se do reconhecimento
formando um círculo vicioso que se explícito de que, para se atingir um suposto
alimenta justamente das fracas condições de bem maior, teriam de existir (ou melhor, ser
organização e resistência local e, com o criadas) o que integrantes dos movimentos
tempo, do aumento da dependência por justiça ambiental chamam de zonas de
(sobretudo por trabalho e renda) de parte sacrifício.
dos moradores em relação às próprias É nesse contexto que as alternativas
empresas. Essa situação se soma ao fato de infernais se inserem, com “o risco
que a instalação (efetiva, potencial ou socioambiental ampliado alocado
meramente anunciada) desses sistematicamente às populações mais
empreendimentos, ao criar expectativa de destituídas com base na lógica de uma
novas oportunidades de trabalho, faz com suposta livre escolha – a alternativa infernal
que novos moradores, sem vínculos – entre condições precárias e arriscadas de
históricos, familiares e afetivos com o lugar trabalho e nenhum trabalho” (ACSELRAD
se instalem na localidade, gerando, com & BEZERRA, 2010, p. 188). Assim,
isso, disputas internas e diferenças de seguindo esse círculo vicioso, do ponto de
perspectivas que dificultam sua articulação vista de quem foi
coletiva e ação conjunta.
“efetivamente impactado, caso
De fato, Acselrad et al. (2009, p. 21) permanecessem resignados à
negociação que lhes é oferecida e às
comentam que “a viabilização da atribuição condições impostas pelas empresas, a
possibilidade que restaria (a
desigual dos riscos ambientais se encontra ‘alternativa infernal’) se restringiria a
na relativa fraqueza política de grupos uma luta por ‘perder menos’ e a tolerar
o intolerável” (GERHARDT, 2014,
sociais residentes nas áreas de destinos das p.).

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Outro caráter infernal das ambientais para a própria população.
O processo de construção, por parte
alternativas reside no fato de que, além da dos atores, do que se entende por
intolerável e arriscado (Fassin e
população local ter de adequar seu modo de Bourdelais, 2005) ver-se-á, via de
regra, constrangido pelas condições
vida à existência e à proliferação de minas, impostas pelas empresas.
gasodutos, portos, barragens, etc., muitas
pessoas e famílias passam a depender de A isso se soma, na outra ponta do
seus empregos e de atividades indiretas processo, o fraco apelo social da denúncia
ligadas aos empreendimentos. Aqui, a do não compartilhamento da riqueza gerada
armadilha consiste, primeiro, em tomar a partir desses empreendimentos, apoiados
como fato/verdade uma positividade que estão no discurso imediatista ligado ao
inerente à instalação dos projetos, tornando- cumprimento de necessidades genéricas,
a inevitável e escondendo a desigualdade na como aumento do Produto Interno Bruto e
distribuição social da riqueza dela equilíbrio da balança comercial do país. O
decorrente. Segundo, na criação de uma que vale para atividades tão díspares, como
relação (disfarçada de “benefício” ou exploração mineral, projetos agropecuários,
“melhoria”) de dependência (de emprego instalação de fábricas poluentes, construção
ou sua expectativa e pequenas obras locais, de obras de infraestrutura e mesmo
como pavimentação de ruas, doações para deposição de lixo em aterros e lixões, é que
festas e eventos nas localidades, adoção de todas assentam sua justificativa (que não
praças, etc.) como meio garantidor de uma deixa de ser uma espécie de chantagem) na
aceitação ao menos parcial e resignada dos esfera econômica. Essas chantagens variam
impactos (ecológicos, sociais, econômicos, do apelo à segurança nacional e ao
psíquicos, etc.) produzidos. Como resultado dinamismo regional, da necessidade pública
desse processo de convencimento à “razoabilidade” ilegal de uma greve de
orientado, decorrente do que Acselrad e garis, da alegação pragmática de que é
Bezerra (2010) denominaram “chantagem preciso garantir crescimento econômico à
locacional”, produz-se um movimento em segurança energética do país. Já os
direção à aceitabilidade daquilo que noutra possíveis constrangimentos pelos quais têm
situação talvez fosse percebido como que passar as pessoas que vivem nesses
intolerável. Conforme Acselrad (2014, p. locais são avaliados a portas fechadas, em
95), ao imporem as reuniões entre políticos, burocratas,
executivos, diretores e altos funcionários
condições mais desejáveis para si, os
grandes empreendimentos tornam-se das empresas. Os constrangimentos são
também quase-sujeitos dos limites de
aceitabilidade dos riscos sociais e considerados desimportantes, secundários,

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meros “efeitos colaterais” ou, na melhor das então ser sacrificadas as pessoas em nome
hipóteses, como passíveis de serem do “desenvolvimento” e do “bem-estar da
financeiramente compensados, podendo coletividade”.

5. A ADEQUAÇÃO “SUSTENTÁVEL” DA INJUSTIÇA AMBIENTAL AO CAPITAL

Uma resposta ao problema (ou, se Por outro lado, a apropriação do


pensado a partir de certo espectro discurso ambiental descrita no tópico inicial
ideológico, “falha”) da degradação da gera uma demanda pela produção de experts
natureza, vista como simples fornecedora (cientistas, analistas, técnicos, mediadores,
de “serviços” e “recursos” veio por meio do peritos, todos levando o rótulo e a alcunha
apelo à ciência e da crença no avanço de “ambientais”) e todo um aparato
tecnológico e seu condão mágico com poder institucional de legitimação do
de reverter tal cenário. De fato, como conhecimento e das ações por eles
preconiza Redclifit (2002, p. 134), “a mobilizadas e articuladas. Nesse processo,
invenção da necessidade de um manejo a ciência e seus especialistas, ao tomar o
global do meio ambiente se fundamenta, em lugar da religião como centro irradiador de
parte, no pressuposto de que ele ajudaria a certezas, passa a ocupar e desempenhar
corrigir as anomalias da economia e da papel central no que se refere à resolução
política comercial”. De acordo com Zhouri e/ou ao encaminhamento de como lidar com
e Laschefski (2010, p. 14), dentro do que os riscos e impactos agora adjetivados como
autores chamam de “paradigma da ambientais. Como bem aponta Leff (2006,
adequação”, passam a ser divulgadas e p. 5), sejam gestados por grandes
incentivadas corporações, capital financeiro, clusters
econômicos ou financiados e executados
propostas que visam a eficiência
energética material na produção, ao por órgãos e empresas estatais, trata-se de
desenvolvimento de novas
mercadorias ‘ecologicamente produzir e fazer valer como verdade “un
corretas’, ao desenvolvimento de
mecanismos de mercado (certificação
saber sobre las formas de apropiación del
ambiental, mercado de carbono) e ao mundo y de la naturaleza a través de las
melhoramento das condições de
trabalho, sempre encaixada numa relaciones de poder que se han inscrito en
racionalidade produtiva que visa à
abertura de novos mercados. las formas dominantes de conocimiento”.

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Porém, a ciência, por meio da garantir “racionalidade” ao funcionamento
tecnologia, traz o remédio e o veneno no dos mercados e suas “falhas”; do direito
mesmo pacote, ao ser mediada e inviolável à “liberdade de escolha” do
atravessada pelas relações mercantis, as consumidor que, cada vez mais
quais produzem e demandam novos “ambientalmente consciente”, passaria a
produtos e mercados sem tocar no cerne adquirir mercadorias “ecologicamente
daquilo que gera as ditas externalidades sustentáveis”; e, por fim, da crença
ambientais: a criação, por parte dos agentes salvacionista no avanço da ciência e da
de mercado, de novas e infinitas técnica, cujo resultado mais visível seria o
necessidades individuais e coletivas que investimento em inovações e tecnologias
requerem, por sua vez, o crescimento “limpas”.
progressivo da produção e o consumo de No que se refere às políticas para o
matérias-primas, bens e serviços que, por meio ambiente, tais ideias encontram-se
fim, precisam em algum momento ser alicerçadas e reunidas dentro de um mesmo
descartados e receber algum tipo de destino conjunto de proposições que, ao serem
(entre eles, lixões e aterros sanitários). Por sistematizadas, teorizadas e propagadas por
trás desse movimento ao infinito, está a instituições de pesquisa, grandes empresas
separação ontológica entre sociedade e e corporações transacionais, agências
natureza iniciada no período cientificista do multilaterais, instituições financeiras e de
século XVIII e que leva à supremacia do cooperação internacional, ganham grande
conhecimento científico sobre o saber força persuasiva. Trata-se da chamada
tradicional. Paralelamente, dá-se a “modernização ecológica”, expressão que
desestruturação de acordos de uso comum designa, de acordo com Blowers (1997
do meio e de regras costumeiras de convívio apud ACSELRAD, 2004b, p. 23), “o
(OSTROM, 1991), baseados na experiência processo pelo qual as instituições políticas
cotidiana e na produção de um senso internalizam preocupações ecológicas no
coletivo vivido e compartilhado no mundo propósito de conciliar o crescimento
concreto das relações comunitárias e/ou econômico com a resolução dos problemas
face a face. Como resultado, tem-se, hoje, a ambientais, dando-se ênfase à adaptação
reiteração permanente do imperativo do tecnológica, à celebração da economia de
progresso/crescimento econômico; do mercado, à crença na colaboração e no
discurso da “modernização” (produtiva, consenso”. Nesse caso, como lembram
institucional, gerencial, etc.), visando Zhouri e Laschefski (2010, p. 6), segue-se a

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reiteração da alegação, exaustivamente perpetuação e, mais grave, o crescimento da
reproduzida pelo mainstream, de que degradação ambiental em termos de riscos e
“questões relativas à danos à natureza e, particularmente, à vida
poluição/contaminação podem muitas humana. De fato, trata-se de
vezes ser solucionadas através de meios agir basicamente no âmbito da lógica
econômica, atribuindo ao mercado a
técnicos, dentro da lógica da modernização
capacidade institucional de resolver a
ecológica (substituição de produtos degradação ambiental,
‘economizando’ o meio ambiente e
cancerígenos, instalações de filtros ou abrindo mercados para novas
tecnologias ditas limpas. Celebra-se o
técnicas de tratamento de água, esgoto, mercado, consagra-se o consenso
político e promove-se o progresso
etc.)”. técnico. Tem-se como dada a
capacidade de ‘superar a crise
Ocorre que os diagnósticos e ações
ambiental fazendo uso das instituições
preconizadas dentro dessa perspectiva, da modernidade, sem abandonar o
padrão da modernização' e 'sem alterar
conforme Acselrad (2004b, p. 23), o modo de produção capitalista de
modo geral’ (ACSELRAD, 2004b, p.
destinam-se “essencialmente a promover 23).
ganhos de eficiência e a ativar mercados”.
A despeito de toda retórica sobre “inovação É dentro deste contexto de
tecnológica, participação pública na tomada adequação e economização do meio
de decisão e soluções ambientais [...], ambiente à lógica capitalista que se forja,
mudanças sociais (consumo verde), como solução para os problemas
políticas públicas (fortalecimento dos ambientais, a noção de “ecoeficiência”
órgãos ambientais e adoção de instrumentos como melhoria da eficácia técnica em
flexíveis de política pública), inovação termos de diminuição e mitigação de
ambiental (desenvolvimento de novas externalidades ambientais indesejáveis.
tecnologias preventivas)” (MILANEZ, Ocorre que o conhecimento científico, ao
2009, p. 77), eis o objetivo de fato: ser capturado e direcionado segundo a
aumentar a eficiência dos mecanismos de lógica capitalista, faz com que a produção
mercado que permitem a obtenção de lucro de inovações “limpas” ganhe um caráter
e a capacidade de reinvestimento (para se teleológico, um fim preso em si mesmo e
continuar lucrando). Neste caso, o que se cujo sinal é sempre positivo e
têm é uma aliança entre ciência e mercado genericamente benéfico.
em que um ajuda a legitimar a força No mesmo compasso, a tal efeito
persuasiva do outro sem modificar a tautológico veio juntar-se outra noção
estrutura social e econômica que garante a extremamente plástica, e que levaria a uma
reciclagem e a uma ressignificação otimista

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do que até os anos 1980 se entendia por ambientalizá-la, reoperacionalizando seus
“desenvolvimento”: a ideia-força por trás potenciais usos.
da expressão “sustentabilidade”, A despeito de suas inúmeras
introduzida oficialmente com a publicação conceituações22, a categoria
do conhecido Relatório Brundtland, “desenvolvimento sustentável”, ao ser desta
também chamado “Nosso Futuro Comum” forma nomeada, interpretada e repercutida,
(COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO produz um universo discursivo
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, autorreferente que, por um lado, cria sua
1988) e que seria sedimentada alguns anos própria existência e necessidade (de
mais tarde na Conferência das Nações desenvolvimento). Ao mesmo tempo,
Unidas sobre o Meio Ambiente e o passa-se não só a se falar sobre tal
Desenvolvimento, realizada em 1992 no existência e necessidade, mas a defini-las,
Rio de Janeiro. Como sustenta Malagodi explicá-las, justificá-las e, no limite,
(2013, p. 4), “o ideário da enaltecê-las ou, ao contrário, criticá-las. Por
‘sustentabilidade’, polemicamente outro lado, essa mesma criação traduz-se
consagrado na Rio-92, vem desde então em um conjunto de objetivos, orientações,
sendo utilizado como importante diretrizes, políticas, normatizações,
combustível da renovação da própria lógica programas, projetos e ações que repercutem
capitalista”. Já de acordo com Zhouri e e se materializam em diferentes localidades,
Laschefski (2010), a exigência institucional regiões e países de diferentes formas; pois,
de critérios de avaliação dos impactos embora tragam contidos objetivos comuns e
ambientais levou paulatinamente a uma tenham um modus operandi semelhante,
“adequação” dos processos de acumulação precisam ser adaptados a contextos muito
capitalista ao se associar ecologia e diversos e específicos (daí sua grande
proteção ambiental às práticas e iniciativas plasticidade).
econômicas ditas “sustentáveis”. Será Assim, com o surgimento da noção
exatamente a partir da junção desse adjetivo de desenvolvimento sustentável, passa-se a
à então combalida noção de considerar como sendo viável (ou, como
“desenvolvimento” que empresas e diria Gustavo Lins Ribeiro [2008], como
mercados passam, nos anos 1990, a nova “utopia”) a compatibilização de
crescimento econômico ilimitado (via

22
Scott (2002), por exemplo, contabilizou cerca de
300 definições diferentes para o termo.

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aumento do trinômio ou o sequestro de gases tóxicos. Segundo
produção/consumo/descarte) com a Moreno et al. (2016, p. 29), “o discurso
garantia de preservação ambiental, por meio ambiental dominante é a motivação
do uso “sustentável” (o que inclui o sentido econômica de dar um ‘preço ao carbono’, e,
de “racional” e “eficiente”) da natureza e de em torno desta premissa básica, é possível,
seus recursos. Como bem notou Leite Lopes então, ter-se orçamentos de carbono, metas
(2006, p. 32), “à medida mesmo que a de carbono, mercados de carbono e direitos
temática se impõe e o movimento avança, de carbono como uma commodity
os empreendedores, eles próprios comercializável”.
causadores principais da degradação Estando entre as alternativas aquelas
ambiental, também se apropriam da crítica que passam pela valoração e precificação da
à sua atuação e procuram usá-la”. Na natureza (MORENO et al., 2016) à sua
mesma linha, Zhouri e Laschefski (2010, p. artificialização, feita a partir de inovações
14) lembram que o meio empresarial agora tecnológicas – processo identificado nos
se utiliza do seu suposto “esverdeamento anos 1990 por Goodman et al. (2008) como
sustentável”, alegando representar o apropriacionismo e substitucionismo –
“casamento feliz entre a economia e a ,juntam-se mecanismos de mitigação e
ecologia”. Assim, em seu esforço por se compensação que operam como uma
ambientalizar, o capital incorpora, captura e espécie de “aspirina reversa”. Conforme
ressignifica a bandeira da sustentabilidade, Moreno et al. (2012, p. 7), “é tudo uma
passando inclusive a ditar, via mecanismos questão de compensação: quem polui
de mercado, o que seria ecologicamente demais, em vez de reduzir os danos (o que
correto em termos de práticas, ações e sai muito caro), paga (mais barato) para que
condutas. outros poluam ou desmatem menos, e as
Exemplo disso se encontra na contas se equilibrem no zero a zero.
exigência de certificação ambiental e Economicamente, todos ganham, menos o
regulamentação de um mercado de carbono clima e o meio ambiente”. Com isso, como
em nível internacional e dentro dos países. sintetiza Acselrad (2010, p. 109), “uma
Esses são mecanismos pelos quais se revolução da eficiência é evocada para
justifica que empreendimentos deem economizar o planeta, dando preço ao que
continuidade a suas atividades poluidoras não tem preço”.
mediante pagamento pelas “boas práticas” Ocorre que, ao acoplar-se o adjetivo
adotadas, tais como as “emissões evitadas” “sustentável” ao substantivo

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“desenvolvimento”, além de serem consumos, produções, modos de vida,
artefatos, equipamentos, etc.) ao mais
deslocadas as esferas legítimas de debate específico (formas de agricultura,
tipos de agricultores, sistemas de
sobre projetos levados a cabo em nome cultivo, plantações, extração de
minérios, turismos, tratores, aviões,
deste último, “a partir dos anos 1990 carros, habitações, bancos, etc.) pode
restringiu-se a possibilidade de um olhar agora ser rotulado ou como
‘sustentável’ ou ‘insustentável’. No
crítico fora da referência à sustentabilidade” entanto, a questão central que
permanece oculta neste tipo de
(GERHARDT, 2014, p. 66). Esse aspecto proposição processual está justamente
em saber quem tem maior poder (seja
foi notado por Ribeiro (1992, p. 23), para ele econômico, político, militar,
simbólico) de definir o que seria
quem o desenvolvimento sustentado é sustentável ou insustentável
“interpretado como uma categoria que (GERHARDT, 2012, p. 14).

permite a criação de um novo campo de


Ao efetuar, por meios simbólicos e
alianças políticas entre ambientalistas e
materiais, uma atualização no viés
empresários interessados em crescimento
evolucionista e universalizante23 contido
econômico”. Assim como a caminhada
em uma noção (desenvolvimento) já
coletiva em direção ao desenvolvimento
bastante desgastada nos anos 1980 por
nos anos 1950, 1960 e 1970, como o ideal
conta da descrença crescente na promessa
da sustentabilidade permanece sendo algo
de um “derrame”24, que, em 40 anos, nunca
utópico, inalcançável por definição,
chegou, a utopia sustentável e o léxico que
trata-se novamente de percorrer —
como já sugeriam as noções de a acompanha vêm sendo utilizados de forma
progresso e de desenvolvimento
estratégica e apelativa por governos,
anteriores à ideia de sustentabilidade
— um caminho do pior para o melhor. empresas e organizações multilaterais
Só que, no presente caso, o percurso a
ser trilhado (também visto como (como Banco Mundial, ONU, etc.).
intrinsecamente positivo e desejável)
iria do insustentável ao sustentável Alicerçado na perpetuação de relações
[...], do comportamento degradador ao
ecologicamente correto, da economia assimétricas de poder e maquiado por sua
do consumo para a economia verde
plasticidade mágica, o adjetivo sustentável
[...]. Dentro deste sistema
classificatório, praticamente tudo, pode agora ser incorporado ao mundo dos
desde o mais genérico (práticas, ações,
atividades, comportamentos,

23
Afinal, a sustentabilidade deve ser para todos; sustentada de crescimento econômico, ocorreria o
mais do que isso, deve chegar a todo lugar e ser ‘efeito derrame’ (trickle-down), isto é, o
desejada por todos. gotejamento gradual da renda para os estratos
24
Crença travestida de tese econômica nos anos mais baixos da estrutura social. Quanto tempo
1950 e 1960, a teoria do “efeito derrame”, esse processo duraria e qual a intensidade e o
amplamente reiterada por organizações como o alcance do derrame acabaram se tornando
Banco Mundial, afirmava que “a distribuição de questões secundárias naquele período, diante da
renda se concentrava nos estágios iniciais do ciclo crença no próprio derrame” (PEREIRA, 2016, p.
econômico e se desconcentrava nos estágios finais, 247).
de tal maneira que, após uma fase ascendente e

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negócios e acoplado a praticamente tudo busca pela “boa governança” e adoção de
que possa a vir a receber um preço, de “boas práticas”, “responsabilidade
aviões (sustentáveis) a jacarés socioambiental” e “gestão racional de
(sustentáveis). Como o uso deste rótulo é recursos” por parte das empresas —, acha-
sempre relacional, se a montagem de todo um “novo código de

estabelece-se uma espécie de conduta individual e coletiva” e uma “nova


continnum hierárquico praticamente
fonte de legitimidade e de argumentação
infinito, que vai do “menos
sustentável” (por exemplo, diesel nos conflitos”.
comum, plantio convencional, lixões,
lâmpadas incandescentes, etc.) ao Sem questionar como se organiza o
“mais sustentável” (biodiesel, plantio
direto, aterros sanitários, lâmpadas sistema produtivo e os pressupostos que o
fluorescentes, etc.), orientando, assim,
não só ações, escolhas e sustentam, em termos dos efeitos da
procedimentos em geral, mas também
circulação de mercadorias em nível global,
políticas públicas, investimentos
privados, estratégias de marketing e o crescente “esverdeamento” dos mercados
comportamentos individuais
(GERHARDT, 2012, p. 14). acaba por legitimar a continuidade do
paradigma do crescimento econômico ad
Outra inversão de sentido (espécie infinitum. Da mesma forma, passa-se a
de demônio travestido de santo) encontra-se reafirmar a ideia (tratada como premissa
na tese de que a busca pela necessária e não discutida criticamente) de
“sustentabilidade ampliada” 25
permitiria que seria possível compatibilizar e
levar, paradoxalmente, a uma maior harmonizar conflitos decorrentes, por um
inclusão social. Eis que, voltando aos lado, da apropriação da natureza pelo
efeitos do processo de ambientalização capital, via mecanismos de precificação, e,
descritos por Leite Lopes (2006, p. 136), por outro, da implantação de projetos (agora
por trás das soluções apresentadas como sustentáveis) de desenvolvimento. Em cena
possíveis — investimento em tecnologias entram, então, o uso de “abordagens
limpas e retórica da ecoeficiência, participativas” e de metodologias de
elaboração de projetos (sempre ditos “negociação” e “resolução de conflito”
“participativos”) de educação ambiental, (ACSELRAD e BEZERRA, 2010), disso

25 como notaram os autores (2007, p. 83), ainda assim


Após várias críticas em relação ao reducionismo
por trás da noção de sustentabilidade que vinha a noção de sustentabilidade ampliada “pressupõe
sendo adotada até a Rio-92 — que tendia a só levar existir uma separação entre ecologia e justiça social,
em conta “concepções estritamente ecossistêmicas” entre sustentabilidade ambiental e sustentabilidade
(ACSELRAD et al., 2007, p. 83) —, a conhecida social. Os objetivos da justiça social, nesta ótica, se
Agenda 21 ampliou sua definição, dividindo-a em somariam aos objetivos materiais da prudência
quatro novas “sustentabilidades ambientais”: ecológica, determináveis em si, separadamente de
ambiental, social, política e econômica. Contudo, suas formas sociais”.

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resultando uma gestão “compartilhada” e impactos e riscos (que podem ser
um ambiente “colaborativo” que garantiria quantificados, mitigados, compensados,
ganhos mútuos (solução win-win) a todas as condicionados e, claro, precificados) ou por
partes envolvidas. meio da sua internalização à lógica dos
Porém, como resultado, tem-se, na mercados, sintetizada na expressão
verdade, a redução do caráter político e do “economia verde”: um oximoro que
sentido do que se conhece por questão esconde e escamoteia uma
ambiental, a qual passa a ser debatida, irreconciabilidade entre lucro e natureza.
publicizada e tratada ou na esfera dos

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