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PLURALIDADES CULTURAIS
INTRODUÇÃO
Em 2009, uma nova etapa surgiu à luz de reflexões entre a equipe de arqueologia do
Paço da Liberdade (coordenada pelos arqueólogos Marcus Vinicius de Miranda Corrêa e
Carlos Xavier Netto) e a Superintendência Regional do IPHAN no Amazonas (com a direção
de André Bazanella), para articulação de medidas que contemplassem as instituições e demais
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Perímetro urbano localizado no centro de Manaus, onde foi iniciada a colonização da cidade às margens do
Rio Negro, delimitado e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 2012.
agentes envolvidos no processo, contribuindo para o alcance dos procedimentos
metodológicos que enfim resultaram no desenvolvimento expográfico da arqueologia in situ,
com a visualização dos artefatos provenientes da cultura material no local onde a pesquisa
arqueológica encontrou e atuou no edifício.
Para Gell (1989) agência é um fenômeno de ação social, que pode ser atribuído, tanto a
pessoas, quanto a objetos e animais, como uma espécie de força emanada ou espírito gerador
de consequências que podem ter partida, em uma hipótese holográfica, de quaisquer
elementos constituintes do universo social, que possam refletir em uma perspectiva individual
o espírito humano agente. Segundo Gell (1998:17);
CONSIDERAÇÕES
Tais desdobramentos também podem ser percebidos como a agência dos artefatos
funerários que fizeram presentes os indígenas nessa etapa de escavação do Paço. Eles não
estavam fisicamente no local durante a escavação, mas suas ideologias; intencionalidades; o
espírito de seus manifestos; essa identificação relativa as urnas funerárias - os fizeram
presentes além da dimensão física da existência, que parte da intangibilidade da força dessa
agência, para materialização de sua ação no mundo. Possivelmente as reivindicações dos
movimentos indígenas não se sustentavam somente pela permanência das urnas funerárias no
local de exposição. Há na condição de suas argumentações uma rede de intencionalidades
implicadas em envolvimentos políticos, de direitos e benefícios sociais. Entretanto, como
observado na teoria de agência de Gell (1998), as ações depois de disparadas no mundo não
estão mais sobre o controle de quem as disparou, seu alcance não depende mais de quem as
deflagrou, e o que elas irão atingir poderá se diferenciar das intenções que as impulsionaram,
mas elas transformarão o universo que atingirem de alguma forma.
Esse diálogo inclui a interface entre o universo social implicado pelas políticas culturais
e como essas mesmas políticas culturais relacionadas a esferas de poder, vem sendo
assentadas sobre os direitos à diversidade cultural e as práticas correlativas à socialização e
preservação do patrimônio cultural. Tais questionamentos, também encontram-se implicados
na atuação da arqueologia no Paço da Liberdade enquanto construção de um espaço
privilegiado para esse tipo de debate.
REFERÊNCIAS
COSTA, Hideraldo Lima da & COSTA, Francisca Deusa Sena da. História do Paço
Municipal e Praça Dom Pedro II. Fundação Municipal de Turismo-Manaustur.
GELL, Alfred. Art and Agency: an anthropological theory. Clarendon Press. Oxford
University Press. New York, 1998.
SILVA, Luciana Bosco e. Instalação : Espaço e Tempo. Tese ( Doutorado em Artes). Escola
de Nelas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, 2012.
UEP-MANAUSTUR. Paço Municipal: Projeto de Conservação e Restauro dos Bens
Artísticos Integrados à Arquitetura. Relatório encaminhado ao IPHAN-AM. Manaus. 2005
ZANETTINI et al. Projeto Arqueourbs: Forte São José da Barra do Rio Negro e Adjacências
–Caderno Técnico. Secretaria de Estado e Cultura. Governo do Amazonas. Manaus. 2002.