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TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE

Eliane Abel de Oliveira1

No mundo contemporâneo, é inegável a necessidade do uso da


inovação tecnológica como meio gerador de mudanças. Contudo, em
meio a esse desenvolvimento há um impacto fortíssimo visto através
da degradação do meio ambiente. Portanto, faz-se necessário pensar
em uma inovação tecnológica que promova o respeito a um meio
ambiente saudável, haja vista ser um direito de todos. Mas afinal,
quais os fatores que podem ter gerado tal degradação? A resenha
aqui apresentada tem o intuito de apontar alguns destes fatores,
como também algumas possíveis soluções para o problema.

GLOBALIZAÇÃO, NEOLIBERALISMO E MEIO AMBIENTE

Com o advento da globalização, a maioria dos trabalhadores tem


perdido a qualidade de vida além de colaborar para o aumento da
concentração de riquezas entre os mais ricos em detrimento de uma
população desfavorecida economicamente e, essa minoria rica, é
responsável pelo consumo excessivo que impulsiona o desequilíbrio
ambiental. “Os fenômenos de transnacionalização supõem um
movimento de bens, informações, ideias, fatores ambientais e
pessoas através das fronteiras nacionais, sem uma participação ou
controle importante dos atores governamentais” (Leis, 2002: 18).

Há um discurso da nova ordem mundial onde tudo é global: o


desenvolvimento, a poluição, o comércio, o meio ambiente, o
mercado e, inclusive, o governo, gerando uma interdependência e,
com isso um estímulo ao super-consumo que é visto como a única
saída para crises econômicas, como a que vivemos atualmente,
contudo esta visão acaba por esquecer-se dos custos sociais e
ambientais que tal atitude oferece.

Neste sentido o neoliberalismo se coloca como fiador do progresso


mundial estimulando o crescimento econômico e consolidando a
democracia, partindo do pressuposto de que “quanto maior for a
liberdade do mercado para operar, maior será o padrão de vida
(econômico e cultural) dos indivíduos e maiores serão os benefícios
para todas as partes participantes” (Leis, 2002: 23). Contudo, ainda
não há mostras de que essa realidade realmente ocorra.

1Graduada em Pedagogia pela UFPR e mestranda em Tecnologia pela UTFPR


O neoliberalismo provoca um avanço no desenvolvimento econômico
e este por sua vez traz para o meio ambiente conseqüências como o
efeito estufa, desmatamento e aumento da desertificação entre
outros, pois em um cenário de livre comércio, as empresas e países
que internalizam os custos ambientais em seus produtos acabam em
desvantagem, criando assim um sistema que favorece aqueles que
mais poluem. Isso estimula para um avanço tecnológico que visa a
maximização dos lucros em detrimento aos danos ecológicos.

Com um mercado cada vez mais transnacionalizado, os governos


acabam por ficar impotentes para impedir os efeitos danosos do
mercado sobre a natureza e a sociedade, chegando inclusive a
facilitar tal degradação.

AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA AGRICULTURA, MISÉRIA E MEIO


AMBIENTE

No Brasil, os avanços tecnológicos na agricultura também colaboram


para este cenário. A modernização da agricultura não levou em
consideração fatores essenciais como: a utilização de tecnologias
desenvolvidas para países de clima temperado o que causa um
enorme impacto ambiental, pois o Brasil é um país tropical com
necessidades específicas.

A modernização da agricultura também provocou, além da


monocultura e grandes impactos ambientais, o êxodo rural, levando
milhares de pessoas para os grandes centros urbanos. Este fator
contribuiu para o aumento exponencial dos aglomerados urbanos,
estes por sua vez, construídos em morros e encostas, degradando os
recursos naturais como matas e rios para sua instalação.

Contudo, é impossível se pensar em uma consciência ambiental com


uma realidade sócio-econômica desfavorável, pois diante desse
quadro “é utópico supor, ou esperar a formação de uma consciência
ecológica sobre os escombros da miséria imperante no Terceiro
Mundo” (Aguiar, 1994: 123).

Outro impacto ambiental causado pela modernização da agricultura


foi o aumento no uso de agrotóxicos. Estes por sua vez, também
foram desenvolvidos e pensados para a realidade de países de clima
temperado. Este fator provocou e ainda provoca desequilíbrios
biológicos que ocasionam o aumento de praga nas lavouras.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO AMBIENTAL

A preocupação com o meio ambiente e o futuro do planeta é uma


temática que inquieta a muitos. Por isso em 1992 foi realizada
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, a Eco 92 que reuniu representantes de todo o
planeta que assinaram pactos e legitimaram acordos internacionais
em benefício do meio ambiente. Deste evento surgiram documentos
como a carta da terra, a agenda 21 entre outros.

Também com a preocupação em diminuir os impactos ambientais,


acadêmicos canadenses elaboraram um conceito chamado pegada
ecológica. Este consiste em mensurar a superfície total de terra
necessária para sustentar as atividades humanas. Atualmente
necessitaríamos ter disponíveis 2,3 hectares por habitante para um
desenvolvimento sustentável, ou seja, nosso déficit está em 20% da
capacidade biológica do planeta. Basicamente o papel deste conceito
é alertar para a importância de revermos nossas atitudes em relação
ao meio ambiente.

Por isso a necessidade de se pensar em um desenvolvimento


sustentável, isto é, um desenvolvimento que supra as atuais
demandas sem comprometer as respostas das demandas das
gerações futuras. As soluções para diminuirmos nossa pegada
ecológica podem ser encontradas em uma Educação e Inovação
Tecnológica norteadas pela conservação ambiental, desta forma
poderemos “reduzir o consumo de energia e recursos, diminuir a
poluição, aumentar a produtividade com distribuição equitativa de
rendas e evitar desperdício de capital” (Casagrande, s/d).

Para isso faz-se necessário a capacitação de professores, a revisão


das grades curriculares e dos conteúdos de ensino a fim de induzir os
estudantes a uma visão crítica de seu papel na sociedade como
futuro profissional atuante no mercado de trabalho, pois à medida
que estes incorporam tais valores, em sua vida profissional,
procurarão desenvolver projetos que diminuam os impactos
ambientais negativos.

Um outro fator que também deve ser levado em consideração na


preservação ambiental é a criação de uma política agrária e
habitacional que atendam as demandas existentes, pois assim haverá
uma diminuição no êxodo rural e por conseguinte no inchaço
populacional dos centros urbanos.

Concluindo, a resposta para um futuro sustentável está no


reconhecimento do mundo vivido e de que “em nossa inteira
diversidade somos unidade”.2

2A Carta da Terra, in: Tratados das ONGs. Rio de Janeiro, Fórum Internacional de
ONGs e Movimentos Sociais, s/d).
REFERÊNCIAS

AGUIAR, Ronaldo Conde. Crise Social e meio ambiente: elementos de


uma mesma problemática. In: BURSZTYN, Marcel (org). Para pensar
o desenvolvimento sustentável. Brasília: Brasiliense, 2ª edição,
1994, p.115-127.

CASAGRANDE JR, Eloy Fassi. Inovação Tecnológica e


Sustentabilidade: Integrando as partes para proteger o todo.
Curitiba, s/d.

LEIS, Héctor Ricardo. Ambientalismo: um projeto realista-utópico para


a política mundial. In: VIOLA, E.; LEIS, H. R.. Meio ambiente,
desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências
sociais. São Paulo: Cortez, 2002, p. 15-43.

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