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Liberalismo: economia, poder, cultura e sociedade.

John Lennon Lima e Silva1

O princípio da teoria liberal se constrói principalmente com a forte tendência da


nova sociedade burguesa europeia em dispor de meios para melhor gerir os interesses da
economia e da política. O poder do sistema absolutista, fazia interferência direta em
relação a grande expansão do capital burguês, que necessitava de um controle baseado na
descentralização do poder e reafirmação de uma mentalidade formada a partir dos
princípios de liberdade e republica. As primeiras revoluções liberais nos mostram o
quanto esse confronto entre o antigo regime e a novo forma de gestão burguesa se tornou
símbolo da expansão liberal a partir do século XVII. Deste modo, cada vez mais se
ampliava o ideal de sociedade livre economicamente, onde os direitos do homem passam
a ser garantidos através dos modelos democráticos como na revolução francesa em 1789.

No campo econômico, o liberalismo inaugura não somente uma nova forma de


consolidação do sistema capitalista, mas também sustenta uma nova percepção pautada
principalmente nos aspectos da livre concorrência e a não interferência do estado. Como
pensador mais influente, Adam Smith em sua obra A Riqueza das Nações (1776), teoriza
sobre as consequências do Leissez-faire para o fortalecimento da nova economia liberal,
e consequentemente, cria a base para o que se tornaria as máximas dessa nova economia.
Vale aqui salientar que a expansão da economia industrial passar a ganhar ainda mais
força durante esse processo, resultando posteriormente em uma das principais revoluções
desse novo período. Deste modo, a revolução industrial e o liberalismo são o motores que
irão sustentar as estruturas da nova sociedade liberal-burguesa, e ampliando uma nova
perspectiva não apenas econômica, mas que abrange vários outros campos, como o social,
o cultural e político.

Esses elementos ligados ao liberalismo, refletem a conjuntura criada a partir de


um sentimento de atraso vinculados ao antigo regime monárquico. A expansão cientifica
e tecnológica dão sustentação para um ideal de progresso e desenvolvimento, e essas
perspectivas irão potencializar uma nova mentalidade sustentada por novas teorias que

1
Historiador, Especialista em história contemporânea e mestrando em Psicologia Social pela Universidade
Federal do Pará – Brasil
ORCID - https://orcid.org/0000-0001-8059-0538
condicionam o liberalismo como a alma da nova civilização. Apesar disto, os problemas
sociais gerados a partir de um ímpeto de desigualdade social e exploração, além de claro,
eventuais crises ligadas ao grande movimento da livre concorrência, passam a
desabrochar a desconfiança nas novas classes, fruto desse intenso processo de expansão
do sistema liberal. Diversas teorias começam a ser desenvolvidas com base no reflexo
social e suas consequências para o mais pobres, que eram o pilar de sustentação da força
de trabalho industrial. Assim, o mundo passa a entender que o novo sistema também
possui falhas e erros, e deste modo, há uma tendência a se auto destruir.

Do ponto de vista cultural, as heranças deixadas pela mentalidade religiosa


também marcam um confronto entre o antigo e o novo. O novo modo de pensar e interagir
com a sociedade, passa a vincular o sentimento do progresso de modo que este
pensamento é garantido, sobretudo, pela ampliação do conhecimento cientifico e o
desenvolvimento tecnológico. Deste modo, a razão humana tendeu a ser mais valorizada,
onde conhecimento e as artes são levados a descartar os princípios que eram seguidos
principalmente pelo pensamento religioso atrelado ao passado.

A sociedade europeia nesse momento, passa a acreditar num sentido de


superioridade e civilidade, onde apenas os mais fortes estão aptos a sobreviver e garantir
a soberania. A fé na ciência cumpre um papel fundamental de consolidar o papel do
liberalismo, pois o fortalecimento das áreas do conhecimento, sustentam ainda mais as
teses a partir da experimentação com o mundo. Assim, até mesmo as ciências sociais se
consolidam como campo do saber prático, que legitima a compreensão do homem e da
sociedade, seja no campo político ou econômico.

Compreender a situação do liberalismo no século XIX, é acima de tudo pensar em


um sistema que cria lacunas sociais e econômicas. A crença no livre mercado faz com
que as mazelas sociais se ampliem, pois as condições de trabalho e salários são ditados
livremente pela classe dominante dos meios de produção. Essas contradições sociais
revelam o caráter desigual na qual o sistema liberal se consolida, abrindo margem para a
crítica do modelo. Diversos pensadores passam a compreender a dura realidade da
população como uma falha no modus operandi do capitalismo, e as ciências que
interpretam o campo social, fazem duras queixas ao modelo e sua forma de interferir no
mundo.
Com isso, diante de um alto ciclo de crises econômicas e recessões que passam a
ser rotineiras, o livre mercado passa a deixar a sensação que sua auto regulação não é algo
possível. Com a virada do século, e a chegada da primeiro grande guerra mundial, as
lacunas criadas pela liberdade econômica do liberalismo se mostrará destrutiva, deixando
as nações a beira do caos e da crise, e abrindo precedentes para se pensar em algo novo,
que pudesse substituir o agora ultrapassado modelo liberal.

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