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Prova de sociologia UFF

Daniel Haiut, 02/05/2022

1. Discorra sobre a relação entre Revolução Francesa e Revolução Industrial e o


Impacto de ambas na produção de novas relações culturais, científicas, políticas
e de trabalho pelo advento do Capitalismo. (mínimo de 20 linhas) – vale 3
pontos

A revolução francesa tem seu início em 1789, pouco depois da revolução industrial, que tem
início em 1760. Logo, podemos observar que ambas ocorrem no mesmo século, por isso
possuem grande relação entre si. Primeiramente, devemos observar que ambas são revoluções
com ideais burgueses, pois consolidaram o poder econômico da burguesia, além de a ascender
ao poder político. Além disso, ainda podemos citar que a revolução industrial influenciou de
diversas maneiras a revolução francesa, de modo que um dos motivos para a explosão da
revolução francesa foi a insatisfação popular que se une aos interesses da burguesia no país,
classe que foi consolidada através da revolução industrial. Ademais, ambos acontecimentos
são considerados revoluções, pois influenciaram e mudaram de forma drástica o mundo e
criaram a base política e econômica de nossa sociedade atual, gerando o mundo em que
vivemos.

Desse modo, vemos que tais revoluções tiveram grande influência na produção de novas
relações culturais, científicas, políticas e de trabalho através do advento do capitalismo. No
campo cultural, podemos citar o maior controle do tempo através de relógios na revolução e
um maior individualismo presente na sociedade, já que os liberais da época consideravam o
desenvolvimento e a soberania do indivíduo como o mais importante fenômeno da época. Na
área científica, podemos citar o avanço da medicina, a descoberta de novas formas de energia,
avanços nos transportes, e também o desenvolvimento das ciências humanas, como a
sociologia, por exemplo. Em relação à política, podemos explicitar a formação de novos
partidos e sindicatos com novas ideologias, a tendência da queda do absolutismo em toda
Europa, o surgimento de novos movimentos sociais e a popularização da separação do Estado
em três poderes. Já em relação ao trabalho, podemos observar o controle técnico dos meios de
produção pelos capitalistas, e não mais pelos trabalhadores, o que gera uma maior alienação
do trabalhador, e a busca pelo trabalho infantil e feminino nas fábricas.
2. Marx descreve o processo de Acumulação Primitiva e revela uma outra face da
transição do Antigo Regime para Modernidade. Destaque 2 (dois) aspectos desse
processo e discorra sobre ambos. (mínimo de 20 linhas) – vale 3,5 pontos

A acumulação primitiva, processo estudado por teóricos das ciências econômicas desde o
início do capitalismo, é considerado por muitos como a chave que leva a explicação para o
surgimento do próprio capitalismo como novo regime na modernidade. Conceituada para os
economistas clássicos como processo em que algumas pessoas acumularam riquezas,
enquanto outras as gastaram, formando o mundo capitalista, para Marx, esse processo é muito
mais complexo , uma vez que não ocorreu conforme tais economistas clássicos o enxergavam,
sendo muito mais violento e desigual.

Assim, podemos citar dois aspectos desse processo, sendo eles, a expropriação de terras dos
camponeses na Inglaterra, por meio do cercamento dos campos, e a manutenção e ampliação
do grupo de trabalhadores nas fábricas, que sofriam com a mais-valia e a alienação
inseparável dos seus trabalhos. Desse modo, podemos primeiramente abordar a questão da
expropriação de terras camponesas. O cercamento dos campos, fenômeno descrito por Marx
no capítulo 24 de O Capital, ocorreu através das enclosure acts, gerando a privatização das
terras comunais, deixando diversos camponeses que dependiam delas para a sua
sobrevivência sem oportunidade de plantio independente para si mesmo e para venda, gerando
uma grande massa de camponeses que se tornariam trabalhadores assalariados nas fábricas
dos grandes centros urbanos ingleses. Esse fenômeno ainda se relaciona com o segundo
aspecto desse processo, uma vez que é ele que gera a manutenção do capitalismo através do
Êxodo rural que levou diversas famílias a se mudarem para os grandes centros urbanos,
gerando umas reserva de trabalhadores, que começaram a sobreviver através de pequenos
furtos e pedindo dinheiro nas ruas ( o que geraria as leis contra “vagabundagem”) e diminuiria
o tamanho dos salários dos proletários, mantendo o capitalismo e ampliando o número de
trabalhadores nas fábricas.

Assim sendo, podemos concluir que, conforme escrito por Rosa Luxemburgo, o capitalismo,
para existir, precisas fagocitar algo de fora, o que nesse caso, pode ser representado pela
expropriação dos trabalhadores do campo e as terras comunais, que foram absorvidas pelo
sistema capitalista da Inglaterra da época para se manter em harmonia, sendo assim que se
forma a acumação primitiva do capital, um processo violento de expropiação.
3. Marx demarca a distinção entre o idealismo e sua concepção materialista e
dialética da história, nessa distinção ele fala sobre a relação entre classes sociais,
relações materiais de existência e produção das representações de mundo.
Comente à luz do texto de Marx. (mínimo de 20 linhas) – vale 3,5 pontos.

Karl Marx ao criar sua teoria do materialismo histórico e dialético da história, se baseou e
discordou, junto a Engels, da teoria do idealismo histórico de Hegel. Assim, para entendermos
melhor a distinção feita por Marx entre sua teoria e a teoria de Hegel, devemos entender do
que se trata o idealismo histórico.

Para Hegel, a forma de pensar da sociedade muda de acordo com a história, mudando com
o tempo, sendo o pensamento o produtor de novas realidades. Desse modo, vemos que uma
forma de pensar se choca com a outra (o que se dá o nome de dialética hegeliana), fazendo
com que a história aconteça aos poucos, até o momento em que a verdade absoluta seja
descoberta, fazendo com que a história humana acabe.

Já para Marx e Engels, a teoria hegeliana vê a realidade de maneira distorcida e invertida,


uma vez que, para tais filósofos, a forma de pensar muda de acordo com a realidade, e a
realidade é o produto do choque de ideias, sendo essa mudança da realidade concreta e social
o que produz a forma de pensar humana. Além disso, a luta pela sobrevivência e a luta de
classes são produtoras dos momentos históricos, e cada momento histórico tem sua maneira
de pensar relacionada ao tipo de relação socioeconômica presente, como o escravismo, o
feudalismo e o próprio capitalismo. Essas relações econômicas relacionadas ao seu tempo
histórico são chamadas de modo de produção, sendo divididas entre opressores e oprimidos.
Ademais, a luta de classes é o que leva a mudança do período histórico, sendo chamada de
materialismo histórico dialético, tendo seu fim ao ponto em que não existirem mais opressores
ou oprimidos, em um sistema que é chamado de comunismo pela teoria de Marx e Engels.

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