Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Weber por sua vez é um teórico engajado não em avaliar processos históricos em
macroescala, mas interpretar o sentido da ação humana (Weber, 2012). O autor se
preocupa em discernir fatos “econômicos”, “economicamente relevantes” e
“economicamente condicionados” (Weber, 2005). Tal distinção se faz presente em seu
trabalho seminal “Ética protestante e o espírito do capitalismo” (Weber, 2004). Nela,
Weber argumenta que o desenvolvimento de uma ética protestante, na qual se prega a
salvação em terra, se valoriza o trabalho e o enriquecimento, constitui elemento
fundamental para a consolidação do capitalismo. Aqui é possível perceber um ponto de
inflexão entre as teorias de Marx e Weber: enquanto o primeiro toma o componente
material como eixo prioritário de entendimento da realidade, Weber entende que
pensamento e materialidade, cultura e economia se confundem e elaboram mutuamente.
Além disso, Weber não defende que a emergência do protestantismo constitui a solução
para o entendimento do desenvolvimento do capitalismo, mas, sim, uma das muitas
chaves de entendimento possível para explicar esse processo. O próprio Weber mobiliza
outras. A modernidade – fundada com a emergência do capitalismo – está vinculada a
um processo de racionalização3 da vida, burocratização, secularização e
consequentemente, desencantamento do mundo (Weber, 2012 e Weber, 2016).
Questão 2) A Inglaterra passou entre, 1780 e 1840, por uma revolução tecnológica
radical.
3
Adoção de meios mais adequados para se alcançar determinados fins. A ação racional se contrapõe,
segundo o autor, àquelas de caráter afetiva (guiadas pela emoção), ou tradicional (que simplesmente dão
segmento às tradições vigentes), típicas de sociedades pré-modernas (pode-se também dizer, pré-
capitalistas).
• Quais foram as principais características dessa revolução, e quais os seus impactos
imediatos nas estruturas econômica e social inglesas?
• Como essa mesma transformação pode ser interpretada usando a moldura analítica
Schumpeteriana?
Gerschenkron promoveu, assim, uma importante crítica à boa parte das análises
sobre industrialização de países atrasados de seu tempo, bem como as teorias de
influência marxista. Para ele, ambas as correntes seriam marcadas pela ideia da
existência de pré-condições necessárias à industrialização, como a reforma agrária,
garantia de liberdade aos camponeses, acumulação de riqueza e etc., mas, que ele
considerava serem fatores indispensáveis apenas em parte. Como demonstra, o sucesso
de processos de industrialização dos países atrasados esteve sempre mais ligado à
capacidade que tiveram de criar substitutos para fatores escassos ou ausentes do que à
capacidade de seguir padrões engessados e provavelmente “irrepetível” de
desenvolvimento, como o do caso inglês.
Entendido este processo do ponto de vista histórico, vamos em seguida analisa-lo sob a
moldura conceitual proposta por K. Polanyi. Para isto, vamos elaborar um pouco suas
ideias afim de em seguida buscar os pontos de diálogo entre esses eventos que se deram
no Japão e as reflexões de Polanyi.
claramente que o processo de transição que se dá ali, de uma sociedade com ainda
muitos aspectos feudais no início do século XVIII até uma sociedade capitalista regida
pela economia de mercado, não é resultado de transição natural. Pelo contrário, foi
preciso uma forte influência externa para que tais eventos se desencadeassem.
Influencias essas de sociedades que já haviam ou estavam passando por um processo de
industrialização capitalista e voltavam-se cada vez mais para a economia de mercado
*
Polanyi, assim como Marx, realiza uma crítica a “construções hipotéticas de como o
mundo haveria sido” a partir de evidências históricas e etnográficas. O autor se dedica a
rebater a falácia de que um mercado autor regulável se desenvolveu autonomamente,
como que uma evolução natural das formas de troca, a partir do amadurecimento de
experiências de mercados sempre presentes na história humana. Não existe, segundo
Polanyi, uma única forma de orientar a ação econômica, mas diversas – reciprocidade
(circuito espontâneo de oferta e retribuição de presentes/dádivas), redistribuição
(acúmulo e redistribuição de riqueza realizado através de uma autoridade central) e
domesticidade. Cada uma dessas formas é capaz de produzir instituições econômicas
específicas; outros modos de gerir a vida material de uma sociedade que não através de
mercado. Além disso, Polanyi também argumenta que não é a partir de qualquer
mercado que a economia de mercado emerge. O autor apresenta evidências empíricas
que atestam o caráter incipiente dos mercados exteriores (trocas entre viajantes,
aventureiros, caçadores, piratas, as quais são comumente creditados como os
precursores do Mercado como a instituição que entendemos hoje) e dos mercados locais
(trocas individuais cotidianas). Ao contrário, a força inovadora e potente que emerge
com a Modernidade foi o desenvolvimento de um mercado interno através de um
Estado centralizado que fomenta, organiza e regula a economia nacional. Tal Estado
seria responsável por promover a criação de mercadorias fictícias, isto é, garantir a
transformação de terra, dinheiro e trabalho em mercadorias. A atuação do Estado
moderno culmina na emergência de uma economia de mercados autorregulada, que se
descola das demais esferas da vida social e exerce controle sobre os demais âmbitos da
vida.