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A tese materialista, no entanto, tem um sentido mais profundo, tendo por foco
o estudo do desenvolvimento das sociedades (materialismo histórico). Para Marx a
história é um processo de criação, satisfação e recriação contínuas das necessidades
humanas; é precisamente isso que distingue o homem dos animais, cujas necessidades
são fixas e imutáveis: “Um produto histórico é o resultado da atividade de uma
sucessão de gerações, cada uma das quais como que subindo para os ombros da que
a precedeu, desenvolvendo a indústria e o comércio dessa geração anterior e
modificando a ordem que encontrou em função da alteração das necessidades. Até
os objetivos das mais certezas sensoriais só existem para o homem em função da
evolução social, do desenvolvimento da indústria e do intercâmbio comercial”
(Ideologia Alemã). Assim, o ser humano é, acima de tudo, um ser social, cujo mundo
que o rodeia é construído coletivamente, sendo as relações económicas de interesse
particular para Marx.
- Estádios Históricos
Cada um dos vários tipos de sociedade identificados por Marx ao longo do seu
estudo (mundo antigo, sociedade asiática, feudalismo, capitalismo) caracterizam-se por
uma dinâmica interna de evolução própria. No entanto, essas características só podem
ser identificadas e definidas mediante uma análise empírica. Esta é uma das razões de
crítica feita por Marx aos economistas do século XIX que, segundo ele, trabalham
conceitos como “capital”, “bens”, “preços”, etc., como se “tais abstrações tivessem
uma vida independente e não existisse apenas em função do homem” (IA), isto é,
como se se tratassem de conceitos materiais universais, intemporais e a quem o
homem se tem de sujeitar. Na realidade, os conceitos económicos não possuem essas
características, estando a sua evolução ou surgimento nas mãos dos homens, como
afirma Marx: “Os vários estádios de evolução da divisão do trabalho relacionam-se
com outras formas de propriedade, isto é, o estádio atual da divisão do trabalho
determina também as relações dos indivíduos entre si, no que se refere às
matérias-primas, aos instrumentos e ao produto do trabalho” (Ideologia Alemã). A
partir daqui compreendemos que o próximo passo a dar, no que toca ao estudo
sociológico, é compreender o sistema de classes.
(1) Alienação
Ainda que já tenha referido as principais críticas de Marx à forma como as
teorias de economia política dos seus contemporâneos eram produzidas, vale a pena
fazer um resumo que nos servirá de base para estudar a alienação no trabalho.
A primeira crítica foca-se na forma abstrata como estes autores tratavam certos
conceitos que pertencem ao mudo material, isto é, que existem em função dos
homens. A segunda incide no facto de considerarem que as condições de produção
características do capitalismo possam ser generalizadas a todas as formas de
economia. Assim, a satisfação dos próprios interesses a procura de lucro são
considerados como características intrínsecas do homem (pensamento generalizado
ainda nos dias de hoje).
- Alienação do proletariado
- Domínio de Classe
- Tipos de Classe
- Valor de uso
Refere-se às necessidades que podem ser satisfeitas pelas propriedades de um
bem, a partir de um processo de consumo, cujo valor é determinado pelas
características e pela utilização concreta que se faz dessas mesmas características.
- Valor de troca
Refere-se ao valor que o produto tem para a troca com outros produtos. Ao
contrário do que acontece com o valor de uso, o valor de troca pressupõe “uma
relação económica definida” e é inseparável de um mercado de troca de produtos. Tal
se deve ao facto de o valor de troca se basear numa característica quantificável do
trabalho: trabalho abstrato que pode ser medido em termo de quantidade de tempo
gasto pelo trabalhador na produção de um bem (tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção).
O trabalho abstrato está na base do valor de troca, enquanto que o trabalho útil
está na base do valor de uso. Estes dois aspetos dos bens expressam o carácter dual do
trabalho – como força de trabalho (ou dispêndio físico de energia do organismo
humano) e como um tipo de trabalho definido por uma série específica de operações
que canaliza esta energia: “Por um lado, todo o trabalho é, em termos fisiológicos, um
dispêndio da força de trabalho humano e, na sua qualidade de trabalho humano
abstrato, cria o valor dos bens. Por outro lado, todo o trabalho é um dispêndio de
força de trabalho humano que se reveste de uma força especial e se propõe
determinada finalidade e, nessa qualidade de trabalho concreto e útil, produz o valor
de uso” (O Capital).
É preciso ter em atenção que o trabalho abstrato não pode ser medível em
termos de unidade de tempo ao nível do trabalhador individual (quanto tempo um
trabalhador demora a produzir uma determinado bem), mas sim em termos de
trabalho “socialmente necessário”, isto é, a quantidade de tempo necessária para
produzir um bem em condições normais de produção, tendo em conta o “grau médio
de perícia e intensidade” que se verifique numa indústria particular num período
específico, pois a evolução tecnológica faz diminuir o tempo de produção e,
consequentemente, o seu valor
- Mais-Valia
Tendo em conta que o trabalhador vende a sua força de trabalho, e existe uma
fluidez no valor dessa força num mercado competitivo, o próprio trabalho torna-se
numa mercadoria.
Mais do que a escolha de más soluções, o autor considera que existem limites
intrínsecos ao sistema capitalista e que se centram no processo de acumulação de
capital financeiro. Ainda que a criação de lucro possa ser explicada através de um
sistema circular simples, o constante aumento de acumulação de capital depende do
que o autor denomina de “inovação financeira”, isto é, da criação de mecanismos que
estimulem esta acumulação. Esta dependência da economia a estes artifícios têm
como efeito o aumento de poder dos agentes financeiros, em que observamos os
lucros financeiros a aumentar exponencial à custa da descida exponencial dos lucros na
produção. E esta interpretação do sistema capitalista tem uma clara base marxista,
segundo a qual a evolução do capitalismo é caracterizada por uma disparidade relativa
crescente entre os salários dos trabalhadores e da classe capitalista; para além disso,
essa disparidade também tem por base uma estagnação dos salários que faz com que
os trabalhadores vivam no limite da subsistência. É também tido em conta os conceitos
de “concentração”, que consiste no processo pelo qual, à medida que o capital se
acumula, os capitalistas individuais conseguem aumentar a quantidade de capital que
se encontra sob o seu controlo (por um lado, nunca existiram o tantos milionários, por
outro, a acumulação de capital também ocorre em tempos de crise), e a
“centralização”, que consiste, pelo contrário, na fusão dos capitais existentes, sendo
esta promovida pelo sistema de crédito, que se caracteriza principalmente pela
existência de um sector bancário.