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Sociologia: Karl Marx (1818-1883)

Foi um filósofo, ativista e político alemão, um dos fundadores do socialismo


científico e da Sociologia.
Luta de Classes:
A Luta de Classes é um conceito marxista vinculado com a economia política
socialista, o qual foi desenvolvido pelos sociólogos e filósofos alemães Karl Marx e
Friedrich Engels.
A luta de classes, que existe desde a Idade Média, envolve questões entre a classe
dos proletários e a burguesia dentro da sociedade capitalista. Segundo o filósofo, a
luta de classes só acabará quando o sistema capitalista for banido e desaparecerem
as classes sociais.
Para Marx, a sociedade capitalista é dividida em duas grandes classes sociais. O
que difere uma classe da outra é a posse dos meios de produção. Resumidamente,
os meios de produção são as fábricas, as indústrias, as máquinas, fazendas e
ferramentas presentes nelas, ou seja, tudo aquilo que serve para produzir algo.
Essas duas grandes classes são chamadas de burguesia e proletariado. A burguesia
é a classe que possui os meios de produção e o proletariado é a classe que não
possui, essa classe só detém sua própria força de trabalho. A burguesia pode ser
entendida como os proprietários das fábricas, fazendas e indústrias, já o
proletariado como os trabalhadores desses espaços.
A questão é que a existência de uma classe possuidora e uma classe despossuída
dos meios de produção, gera uma relação desbalanceada: onde a classe que possui
os meios de produção consegue dominar a classe que não possui.
Outro ponto importante é que a luta de classes não ocorre somente nas sociedades
capitalistas, com burguesia e proletariado. Em sua famosa frase “A história da
humanidade é a história da luta de classe.”, Marx mostra o caráter histórico desse
fenômeno. Segundo ele, as relações entre os escravos e os proprietários de
escravos, os senhores feudais e os servos, também representaram a luta de classes.

POR QUE LUTA DE CLASSES?


A luta de classes ocorre devido ao antagonismo de classe. De acordo com Marx, os
interesses de cada classe são antagônicos entre si. Ou seja, os interesses da
burguesia e do proletariado são diferentes e irreconciliáveis. Essa contradição é
chamada de antagonismo de classe, motivo central da luta de classes: onde cada
classe tenta impor constantemente seus interesses sobre a outra.
Contudo, a classe dominante é quem, na maioria das vezes, obtém maior êxito. Isso
ocorre, pois, é ela quem tem maior força material para subjugar a outra classe e
impor seus interesses. Para Marx, a única forma de alterar isso e fazer a classe
dominada vencer a luta de classes, é através da revolução.

A TEORIA DA MAIS VALIA:


Marx percebe que há uma disparidade entre o valor produzido pelo trabalhador e a
remuneração que ele recebe. Vejamos um exemplo de como isso acontece:
Em 10 dias de trabalho um trabalhador da indústria têxtil produz o valor equivalente
a 50 peças de roupa (1.000 reais, por exemplo). Em um mês de trabalho (22 dias),
então, ele teria produzido um valor de 2.200 reais. No entanto, o salário que ele
recebe é de apenas mil. Isso significa que durante 12 dias de trabalho ele produz um
valor que fica inteiramente com o capitalista (patrão).
O trabalho realizado durante os 10 dias pelos quais o trabalhador efetivamente é
remunerado, é chamado por Marx de trabalho necessário, pois é o tempo de
trabalho que proporciona a ele as condições para sua subsistência. Os outros 12
dias de trabalho, cujo valor é apropriado pelo capitalista, é denominado trabalho
excedente. A mais valia, por sua vez, é o valor gerado pelo trabalho excedente.
O QUE É MAIS VALIA?

A mais valia representa a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo
trabalho. Dessa maneira, ela pode ser entendida como o trabalho não pago, ou seja,
são horas que o trabalhador cumpre/valor que ele gera pelos quais ele não é
remunerado.
A teoria marxista entende que a alienação, mencionada anteriormente, exerce um
papel fundamental na exploração da mais valia. O afastamento do trabalhador do
produto final de seu trabalho é o que possibilita a divisão do trabalho em trabalho
necessário e trabalho excedente.
Antes do sistema capitalista, quando um trabalhador era integralmente responsável
pela produção, o valor de seu trabalho era mais visível. Ou seja, era possível saber
exatamente em quanto tempo de trabalho ele conseguia produzir as condições para
sua subsistência. No sistema capitalista, com o afastamento do trabalhador de seu
produto final, ele é incapacitado de medir o valor de seu trabalho, o que, de acordo
com Marx, possibilita ao capitalista apropriar-se de parte desse valor.
MAIS VALIA ABSOLUTA:

Como mencionamos, a mais valia representa parte do valor gerado pelo trabalhador
pelo qual ele não é remunerado. Para a teoria marxista, há duas maneiras de extrair
mais valia. Uma das formas é por meio do prolongamento da jornada de trabalho,
para além do tempo necessário para que o trabalhador produza as condições de sua
subsistência, e da apropriação desse trabalho excedente pelo capitalista. Ou seja,
aumenta-se a jornada de trabalho sem que o salário tenha um aumento
proporcional. Essa forma de extração de mais valia é chamada de mais valia
absoluta.
MAIS VALIA RELATIVA:

Também é possível aumentar a exploração de mais-valia sem alterar o número de


horas trabalhadas. Isso pode ser feito por meio de melhorias nos processos
técnicos de trabalho, que aumentam a produtividade. Adquirir máquinas que tornem
o trabalho mais rápido ou organizar a disposição dos trabalhadores nas fábricas de
modo mais eficiente, por exemplo.
Com essas mudanças aumenta-se a produtividade do trabalhador, fazendo com que
ele produza mais em menos tempo. Dessa forma, o trabalhador realizará o trabalho
necessário (aquele que corresponde a seu salário e suas condições de subsistência)
em um tempo mais curto. Consequentemente, o trabalho excedente é prolongado,
logo a extração de mais-valia aumenta.
“A produção de mais valia absoluta gira exclusivamente em torno da
duração da jornada de trabalho; a produção da mais valia relativa
revoluciona totalmente os processos técnicos de trabalho e as
combinações sociais.’’ (MARX, O Capital, Livro 1, Vol. 2, p. 586).

Materialismo Histórico:
O materialismo histórico é uma teoria marxista que defende a ideia de que a
evolução e a organização da sociedade, ao longo da história, ocorrem de acordo
com a sua capacidade de produção e com suas relações sociais de produtividade.

A teoria de Karl Marx tem como base o que ele chamava de concepção materialista
da história.

Essa concepção, fundamentada tanto por Karl Marx quanto por Friedrich Engels,
tem um conceito bem diferente do conceito do Iluminismo.

Segundo ela, as alterações sociais que acontecem ao longo da história não estão
baseadas em ideias, mas sim em valores materiais e em condições econômicas.

PRINCIPAIS IDEAIS DO MATERIALISMO HISTÒRICO:


Uma das principais ideias do materialismo histórico é a de que a evolução histórica
da sociedade é beneficiada pelos confrontos entre as diferentes classes sociais,
devido ao que Marx chamava de "exploração do homem pelo homem".

No que diz respeito ao materialismo histórico, a linha central do pensamento


marxista defendia que todo sistema econômico ou conceito de modo de produção
estava associado a uma contradição que levava a seu desaparecimento e
consequente substituição por outro sistema mais avançado de vida social e
econômica.

No feudalismo, por exemplo, a necessidade de os Estados regidos pela monarquia


fazerem transações comerciais com outros Estados fez surgir uma classe
comerciante e pode ter levado ao avanço do capitalismo.

ORIGEM DO MATERIALISMO HISTÓRICO: A teoria do materialismo


histórico foi elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels durante o período de 1818 a
1883.
No século XIX, a Europa passou por uma fase de grande expansão industrial, o que
evidenciou ainda mais as diferenças entre as classes sociais existentes e causou
grande impacto no âmbito social e político.
Antes da elaboração da teoria do materialismo histórico, a história era vista como
uma sucessão de fatos e eventos desconexos que aconteciam quase que
acidentalmente.
Através do método marxista dessa teoria, pela primeira vez a história foi analisada
com fundamentos científicos que afirmavam que as razões das alterações sociais
não estavam no cérebro humano (ideias e pensamentos), mas sim no modo de
produção.
A concepção materialista da história concluiu que os modos de produção de
materiais são fundamentais para a relação entre as pessoas e consequentemente
para o desenvolvimento da sociedade e da história.
Materialismo Dialético: O materialismo dialético é uma filosofia que teve
origem na Europa com base nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels.
Trata-se de uma teoria filosófica cujo conceito defende que a realidade da
sociedade é definida por meios materiais. Este conceito é baseado em estudos que
podem ser realizados, por exemplo, no âmbito da economia, da geografia, das
ciências, etc.
Marx e Engels encontraram, através dessa teoria, uma forma de compreender os
processos sociais que aconteceram ao longo da história.
CARACTERÍSTICAS DO MATERIALISMO DIALÉTICO:
● Considera que os meios materiais e não os concretos definem a realidade
social.
● Baseia-se na dialética para compreender os processos sociais.
● Não concorda com o conceito de que a história é estática e definitiva.
● Opõe-se totalmente ao idealismo.
● Estuda os fatos históricos com base em elementos contraditórios.
● Defende que qualquer análise deve avaliar um todo e não somente o objeto
do estudo em questão.

PRINCÍPIOS DO MATERIALISMO DIALÉTICO: A história da filosofia


abrange um processo de conflito entre o princípio idealista (que se baseia em ideias
e pensamentos) e o princípio materialista (com base nos fatos e estudos concretos).
Todo ser humano é responsável por determinar a própria consciência e não o
contrário.
A matéria é dialética e não metafísica, ou seja, está em constante mudança e não é
estática.
A dialética é o estudo da contradição na essência das coisas; ela baseia seus
estudos na comparação de contradições analisando um todo.
Desigualdade Social para Karl Marx:
Em A ideologia alemã, Karl Marx aponta que há uma ideologia por trás do sistema
capitalista que visa a manter em ordem o que está em curso: a exploração da classe
trabalhadora pela burguesia.
Segundo o teórico do socialismo, a ideologia é um conjunto de normas, ideias, leis e
símbolos criados para manter a exploração do trabalhador pela burguesia. O
monopólio da informação, a educação, o sistema judiciário e toda a cadeia de
produção concentrada nas mãos da burguesia comporiam tanto a infraestrutura
(estrutura material de produção) quanto a superestrutura que manteria a ideologia,
que é o fator que faz com que os trabalhadores aceitem ser explorados.
"Segundo Marx, a origem da desigualdade estava na relação desigual de forças em
que a burguesia, mais forte e dona dos meios de produção, explorava o trabalho do
proletariado, classe social mais fraca e dona apenas de sua força de trabalho,
expropriada pela burguesia.
Há um abismo social imenso entre as duas classes, e essa relação era ainda mais
nítida na atividade fabril inglesa do século XIX, em que não havia direitos
trabalhistas, como salário mínimo, previdência ou jornada regular de trabalho. Os
trabalhadores das fábricas enfrentavam jornadas de até 16 horas diárias, todos os
dias da semana, sem pagamento fixo, e ficavam à mercê dos burgueses.
O que se via na Inglaterra, e que Marx observou para escrever O capital, era um
sistema extremamente desigual, no qual uma pequena parcela da população tinha
muito, e a maior parte da população urbana não tinha sequer o básico.
Amparado por suas observações sociológicas, baseadas no método materialista
histórico, e por um ideal socialista já existente (chamado, hoje, de socialismo
utópico), Marx desenvolveu o socialismo científico, o qual expõe a desigualdade e
propõe como solução a revolução do proletariado, que seria a tomada do poder, da
infraestrutura e da superestrutura por parte dos trabalhadores, implantando uma
ditadura do proletariado que deveria extinguir as classes sociais por meio da
socialização dos meios de produção e do fim da propriedade privada.
Esse momento inicial seria chamado, por Marx, de socialismo. A forma perfeita
desse sistema, que na teoria marxista viria depois de um longo tempo de ditadura
do proletariado, seria o comunismo, em que a propriedade privada não existiria mais
e as classes sociais seriam extintas."

Alienação:
Para o filósofo alemão Karl Marx, a alienação é uma espécie de mecanismo social
capaz de deslocar o trabalhador do seu lugar de produtor para o de consumidor.
Assim, o trabalhador deixa de se identificar com o produto final que constrói, sem o
reconhecer.
E abandona a ideia de que o que foi produzido lhe pertence. Possibilitando a
manutenção da exploração do trabalho.
A alienação do trabalho aconteceria devido ao modelo de produção capitalista.

CONCEITO DE ALIENAÇÃO:
A definição de alienação pode variar conforme a disciplina ou o teórico que a
estuda. No senso-comum também é usual a utilização do termo para caracterizar
alguém que "vive fora da realidade".
A palavra alienado tem origem no latim e significa "o que é de fora", "que pertence
ao outro" ou "o que não sou eu/meu".
Entretanto, o conceito na teoria marxista se difere. Está principalmente relacionado
à exploração do trabalho e à luta de classes.
Para Marx, uma sociedade dividida em classes sociais será um espaço em que
existe a exploração do trabalho. Da mesma forma, em uma sociedade de classes,
as ideias predominantes serão as que pertencem às classes dominantes.
Segundo o pensador, as classes dominantes fariam com que os seus ideais fossem
considerados naturais ou a verdade plena, para não serem contestados.
A classe dominante e também exploradora seria a burguesia, enquanto os
explorados seriam o proletariado (trabalhadores).
Nessa dinâmica social, a burguesia teria tomado do proletariado os seus meios de
produção.
A partir da apropriação dos meios de produção, a burguesia passa a ser a dona dos
meios e do que é produzido, dando ao proletariado, como retribuição (pagamento)
pela sua força de trabalho, somente uma pequena parte.
ALIENAÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA:
Seria chamado alienação social, quando o trabalhador passa a se ver somente
como consumidor, pagando pelo que produz. Trocando com o mercado o seu
próprio trabalho.
O filósofo também afirma que a alienação econômica é a base de todo o fenômeno
da alienação em uma sociedade capitalista. E está estabelecida sobre a apropriação
dos meios de produção, transformados em propriedade privada da burguesia.
A alienação em Marx é uma conceituação que está relacionada à exploração do
trabalho, a divisão do trabalho, o consumo e a economia capitalista.

Bens de Produção:
O que são:
Os modos de produção referem-se à maneira pela qual os seres humanos
produzem coletivamente os seus meios de subsistência e se associam
economicamente em sociedade.
Um modo de produção é baseado no sistema socioeconômico predominante e pode
ser dividido em:
● Produção: a maneira como a sociedade se constrói e se desenvolve para
sobreviver através dos recursos materiais;
● Circulação: o modo como a sociedade faz circular a mercadoria, ou seja,
como acontece o intercâmbio e a troca dos produtos produzidos;
● Consumo: a forma como as diferentes classes sociais consomem as
mercadorias produzidas.
● O termo foi cunhado pelo filósofo Karl Marx e nada mais é do que a união de
forças produtivas e relações sociais de produção.
● As forças produtivas incluem todos os elementos que são reunidos na
produção, como por exemplo, a terra, a matéria-prima e o combustível, além
da habilidade humana na mão de obra, máquinas, ferramentas e fábricas.
Por sua vez, as relações sociais de produção incluem os relacionamentos entre as
pessoas e a interação das pessoas com as forças produtivas através das quais são
tomadas decisões sobre o que fazer com os seus resultados.
Marx acreditava que a história humana poderia ser caracterizada pelos modos
dominantes de produção e estava interessado em fornecer uma estrutura analítica
para defini-los.
O autor também queria sustentar esses modos em uma teoria, através do
desenvolvimento histórico.

OS TIPOS DE MODO DE PRODUÇÃO:


Segundo Marx, a história da humanidade é constituída de uma sucessão de modos
de produção de bens para satisfazer as necessidades humanas. Sendo assim, as
formas de produção, circulação e consumo foram sendo modificadas ao longo da
história.
Modo de Produção Socialista
Baseado nas teorias de Karl Marx e Friederich Engels do século XIX, o modo de
produção socialista foi criado com o intuito de rivalizar com o modo de produção
capitalista.
O plano central desse modo de produção é criar uma economia planificada,
acabando com a lei de oferta e procura criada no capitalismo. Esse tipo de
economia extinguiria a desigualdade entre os grupos sociais.
O maior foco da produção socialista é acabar com a burguesia e promover a
chamada "ditadura do proletariado", onde as classes trabalhadoras passariam a ter
o controle do Estado, deixando de estar abaixo da burguesia.
Aqui, a propriedade privada é eliminada e o padrão de "terra comum" é
estabelecido. Esse modo de produção é intitulado por Marx e Engels como o
caminho para o comunismo.
Durante o século XX, o modo de produção socialista saiu da teoria e passou a ser
praticado na Rússia, China, Cuba, Coreia do Norte e parte do Leste Europeu.
Porém, os únicos que permanecem em prática até os dias de hoje são Cuba e
Coreia do Norte.
Modo de Produção Comunista
Marx citou em suas obras que, após um certo período, o modo de produção
capitalista declinaria por conta de uma super produção e a oferta passaria a ser
maior do que a demanda.
Por esse motivo, o modo de produção socialista assumiria o novo estilo de produção
mundial, alterando-se gradativamente para o modo de produção comunista.

Forças de Produção ou Forças Produtivas:


Conceito de origem marxista, as forças produtivas, também designadas por 'forças
de produção', são constituídas pelos meios de produção - capitais, terras,
matérias-primas, ferramentas e equipamentos -, pelos métodos e técnicas de
utilização e pelos trabalhadores. Em articulação com as relações de produção,
constituem o modo de produção, também designado por 'base' ou 'infraestrutura' da
formação económica e social.
Ao longo da História, as forças produtivas foram-se desenvolvendo. Neste seu
desenvolvimento entraram, muitas vezes, em contradição com as relações de
produção, o que originou processos revolucionários e o estabelecimento de um
novo modo de produção (1968, Marx e Engels - Manifesto do Partido Comunista.
São Paulo: Editora Escriba).
É no modo de produção capitalista que as forças produtivas adquirem o mais
elevado grau de desenvolvimento, expresso na utilização intensiva de capitais,
matérias-primas e tecnologia. Para este cenário concorrem o saber acumulado pela
sociedade e o carácter, simultaneamente intensificador e expansionista, do
capitalismo.
Quer Poulantzas, quer Harnecker, coincidem na secundarização das forças de
produção face às relações de produção. Enquanto Poulantzas (1976, Teoria das
classes sociais. Porto: Publicações Escorpião) considera que não são as técnicas,
mas sim as relações de produção, que detêm a primazia no processo de produção,
Harnecker (1974, O capital: conceitos fundamentais. Lisboa: Iniciativas Editoriais)
argumenta que, para além das forças de produção não terem uma função relevante
na estruturação do modo de produção, são secundárias, face às relações de
produção, na determinação da superestrutura.
Revolução ou Ditadura do Proletariado:
A ideologia marxista defendia que a superioridade numérica e a capacidade
revolucionária do proletariado se deveria traduzir num esforço de organização de
cariz revolucionário contra a burguesia, de modo a desalojá-la do poder e assim
eliminar a economia capitalista e as suas diferenças e desigualdades sociais. Marx
e a propaganda da I Internacional defendiam mesmo que o proletariado era a única
classe social capaz de enquadrar e dirigir a revolução contra a burguesia capitalista.
A luta de classes antagônicas - a burguesia e o proletariado, era a base de arranque
dessa revolução, pois cada uma só existe existindo a outra, o que gera
conflitualidade e antagonismos. A consciência de classe do proletariado deverá
crescer, acreditava a propaganda comunista inspirada em Marx, paralelamente ao
crescimento numérico e à consciência da força do próprio proletariado, o qual
acompanha o desenvolvimento do próprio sistema capitalista. Aumentando em
número, se ganha em força política e capacidade revolucionária, perde em termos
de rendimentos e poder econômico.
A questão da ditadura proletária é, sobretudo, a questão do conteúdo essencial da
revolução proletária. A revolução proletária, o seu movimento, a sua amplitude, as
suas conquistas só tomam corpo através da ditadura do proletariado. A ditadura do
proletariado é o instrumento da revolução proletária, o seu órgão, o seu ponto de
apoio mais importante, criado com o, fim, em primeiro lugar, de esmagar a
resistência dos exploradores derrubados e consolidar as conquistas da revolução e,
em segundo lugar, de levar a termo a revolução proletária, levar a revolução até a
vitória completa do socialismo. Vencer a burguesia e derrubar o seu Poder é coisa
que a revolução também poderia fazer sem a ditadura do proletariado. Mas esmagar
a resistência da burguesia, sustentar a vitória e continuar avançando até o triunfo
definitivo do socialismo, a revolução já não o poderia fazê-lo, se não criasse, ao
chegar a uma determinada fase do seu desenvolvimento, um órgão especial, a
ditadura do proletariado, o seu apoio fundamental .
"A questão fundamental da revolução é a questão do Poder" (Lênin). Quer isso
dizer que tudo se reduz à tomada do Poder, à conquista do Poder? Não. A tomada
do Poder é apenas o começo da obra. A burguesia, derrocada em um país, continua
a ser, por muito tempo, por várias razões, mais forte do que o proletariado que a
derrubou. Por conseguinte, tudo reside em conservar o Poder, em consolidá-lo, em
torná-lo invencível. Que é preciso para alcançar este objetivo? É preciso cumprir,
pelo menos, três tarefas principais, que se apresentam à ditadura do proletariado,
"um dia depois da vitória":
a) vencer a resistência dos latifundiários e dos capitalistas derrubados e
expropriados pela revolução, esmagar as suas tentativas de toda espécie para
restaurar o Poder do capital;
b) organizar a edificação de modo que todos os trabalhadores se agrupam em
torno do proletariado e desenvolver esta obra com vistas a preparar a liquidação, a
supressão das classes;
c) armar a revolução, organizar o exército da revolução para a luta contra os
inimigos externos, para a luta contra o imperialismo.
A ditadura do proletariado é necessária para resolver, para cumprir estas
tarefas.
«A passagem do capitalismo ao comunismo — disse Lênin — enche toda
uma época histórica. Enquanto não chegar ao fim esta época, os
exploradores abrigarão, inevitavelmente, a esperança de uma restauração, e
esta esperança se traduz em tentativas de restauração. Também depois da
primeira derrota séria, os exploradores derrubados, que não esperavam sua
queda, que não acreditavam na sua derrubada, que nem sequer admitiam a
sua possibilidade, se lançam à batalha, com energia decuplicada, com
furiosa paixão, com ódio cem vezes mais intenso, para reconquistar o
«paraíso» perdido para as suas famílias, que viviam uma vida tão doce e que
a «canalha popular» agora condena à ruína e à miséria (ou a um trabalho
«vil»...). E atrás dos capitalistas exploradores se arrasta a grande massa da
pequena burguesia que, como demonstram decênios de experiência histórica
em todo os países, oscila e hesita, hoje acompanha o proletariado, amanhã
se assusta ante as dificuldades da revolução, deixa-se tomar de pânico à
primeira derrota ou semi-derrota dos operários, cai presa do nervosismo, se
agita, choraminga, passa-se de um campo a outro». (Vide vol. XXIII, pág.
355).[N47]
E a burguesia tem as suas razões para fazer tentativas de restauração, porque,
depois da sua derrubada, continua, ainda por muito tempo, mais forte do que o
proletariado que a derrubou.
«Se os exploradores – disse Lênin — são derrotados apenas num país, e
esta é naturalmente a regra, porque uma revolução simultânea em vários
países constitui rara exceção, continuarão, não obstante, mais fortes, do que
os explorados». (Obra citada, pág. 354).
Em que consiste a força da burguesia derrubada?
«Em primeiro lugar, «na força do capital internacional, na força e na solidez
dos vínculos internacionais da burguesia». (Vide vol. XXV, pág. 173).[N48]
«Em segundo lugar, no fato de que «ainda por longo tempo depois da
revolução os exploradores conservam, inevitavelmente, uma série de
enormes vantagens reais: restam-lhes o dinheiro (que não se pode suprimir
imediatamente) e uma certa quantidade de bens móveis, com freqüência
valiosos; restam-lhes as relações, a prática de organização e administração,
o conhecimento de todos os «segredos» da administração (hábitos,
procedimentos, meios, possibilidades); restam-lhes uma instrução mais
elevada e a sua intimidade com o alto pessoal técnico (que vive e pensa
como a burguesia), resta-lhes uma experiência infinitamente superior da arte
militar (o que é muito importante), etc., etc..» (Vide vol. XXIII, pág. 354).[N49]
«Em terceiro lugar, «na força do hábito, na força da pequena produção;
porque, por infelicidade, a pequena produção ainda existe em grande, em
enorme medida, e a pequena produção gera o capitalismo e a burguesia,
diariamente, de hora em hora, de modo espontâneo e em massa»... porque
«suprimir as classes não significa apenas expulsar os latifundiários e os
capitalistas — isto nós o fizemos com relativa facilidade — mas quer dizer
eliminar os pequenos produtores de mercadorias, aos quais é impossível
expulsar, é impossível esmagar; com este é preciso conviver, e só podem (e
devem) ser transformados, reeducados, mediante um trabalho de
organização muito longo, muito lento e prudente». (Vide vol. XXV pág. 173
e189).[N50]
Eis porque disse Lênin:
«A ditadura do proletariado é a guerra mais heróica e mais implacável da
classe nova contra um inimigo mais poderoso, contra a burguesia, cuja
resistência é decuplicada em virtude da sua derrubada;
«a ditadura do proletariado é uma luta tenaz, cruenta e incruenta, violenta e
pacífica, militar e econômica, pedagógica e administrativa, contra as forças e
as tradições da velha sociedade». (Obra citada, págs. 173 e 190).[N51]
Não é necessário demonstrar que o cumprimento dessas tarefas em prazo
curto, que realizar tudo isso em alguns anos, é coisa absolutamente impossível. Por
isso, é necessário considerar a ditadura do proletariado, a passagem do capitalismo
ao comunismo, não como um período curto de atos e decretos
"ultra-revolucionários", mas como toda uma época histórica, cheia de guerras civis e
de conflitos externos, de tenaz trabalho organizativo e de edificação econômica, de
avanços e recuos, de vitórias e derrotas. Esta época histórica é necessária não
somente para criar as premissas econômicas e culturais da vitória completa do
socialismo, mas também para dar ao proletariado a possibilidade, em primeiro lugar,
de educar-se e temperar-se como força capaz de dirigir o país e, em segundo lugar,
de reeducar e transformar as camadas pequeno-burguesas de modo a assegurar a
organização da produção socialista.
«Tendes de passar — dizia Marx aos operários — por quinze, vinte,
cinqüenta anos de guerras civis e de batalhas internacionais, não só para
transformar as relações existentes mas também para vos transformardes a
vós mesmos e vos tornardes aptos ao domínio político». (Vide K. Marx—F.
Engels, «Obras Completas», vol. VIII, pág. 506). [N52]
Sendo o produto do trabalho do operário (proletário) mais elevado do que o salário
que recebe pelo que fez, defendia Marx que o capitalismo e a burguesia se
apropriaram injustamente da diferença, aumentando o fosso social e económico
entre a classe trabalhadora e o patronato, como escreveu no seu Capital (1867). Daí
resulta a luta de classes, impulso para a construção do socialismo, através da
revolução que deveria entregar o poder ao proletariado, o qual o deveria exercer de
forma firme e intransigente (ditadura). Os operários deveriam apropriar-se dos
meios e bens de produção e das suas mais-valias, que deveriam reverter para
benefício coletivo.
Uma das primeiras tentativas de impor um governo do povo operário foi a revolta da
Comuna de Paris em 1871, que visava a instauração de uma república socialista. O
seu fracasso (esmagado pelo governo francês) foi um duro golpe nas pretensões da
Internacional operária de inspiração marxista. Ter-se-ia que esperar por 1917 e pela
Revolução Soviética para se assistir à primeira tentativa bem sucedida de tomada
do poder pelos operários e a ulterior imposição de um regime baseado na ditadura
do proletariado defendida por Karl Marx e depois por Lenin, entre outros.

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