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As doutrinas socialistas do século XIX

Em reação às crises sociais relacionadas à Revolução Industrial, surgiram correntes de


pensamento como o socialismo e o anarquismo, que propunham reformulações sociais e a
construção de um mundo mais justo. O maior teórico do socialismo foi o filósofo e
economista alemão Karl Marx (1818-1883).

O proletariado se encontrava em permanente antagonismo com a burguesia – a categoria


econômica e socialmente dominante. O proletariado era um grupo oriundo da área rural, que
se modernizava. Expropriados de suas terras, esses camponeses se dirigiram para os núcleos
urbanos em busca de ocupação, oferecendo sua força de trabalho em troca de uma
remuneração em dinheiro (trabalho assalariado). Assim, pode-se afirmar que o antagonismo
entre a burguesia e o proletariado é o antagonismo entre o capital e o trabalho. A burguesia,
detentora dos meios de produção, utilizava a mão de obra assalariada, que colocava sua força
de trabalho à disposição do mercado. O trabalho passou, portanto, a ser uma mercadoria
comercializável.

O SOCIALISMO

Em oposição às ideias defendidas pelo liberalismo, surgiu o socialismo, cujo princípio


fundamental é a crítica à propriedade privada e às classes sociais – em suma, ao capitalismo.
Todavia, entre os socialistas havia divergências a respeito de qual estratégia deveria ser
empregada na luta contra o capitalismo:

O socialismo utópico

Os socialistas utópicos acreditavam na capacidade transformadora do homem, cujas vontades


e paixões eram o combustível necessário à transformação social. Defendiam a abolição da
propriedade privada e a instauração de sociedades igualitárias, em que vigorasse a
justiça. Porém, nessa crença, a burguesia seria a classe que perceberia sua posição
privilegiada, sua riqueza absurda e, de boa fé e livre vontade, dividiria sua posição de poder e
dinheiro com o proletariado, levando a igualdade.

O socialismo científico

O socialismo científico distancia-se do socialismo utópico, pois, em vez de confiar na


capacidade transformadora dos homens e da “boa fé” da burguesioa, parte para uma análise
dos mecanismos econômicos e sociais do capitalismo, a fim de conhecê-lo a fundo e propor
modos de eliminá-lo. Trata-se, portanto, de uma proposta revolucionária do proletariado.

Os conceitos e princípios mais utilizados pelo socialismo científico são:

O materialismo histórico, ou seja, a interpretação econômica da história: implica na noção


de modo de produção. Segundo essa ideia, a economia (infraestrutura) é a base sobre a qual se
apoia a estrutura social e que determina suas características políticas e culturais
(superestrutura). As alterações econômicas, portanto, determinam as mudanças históricas, ou
seja, cada período histórico apresenta um conjunto de características socioeconômicas,
políticas e culturais (modo de produção), que só se altera quando ocorre alguma transformação
econômica;
o materialismo dialético: o conceito de que a crise e a superação de um determinado modo de
produção – ou seja, a transformação histórica – devem-se às suas contradições internas, isto é,
aos antagonismos que se desenvolvem no interior do próprio modo de produção

a luta de classes: conceito chave dentro do pensamento marxista, segundo o qual a luta de
classes – o antagonismo social entre exploradores e explorados, sempre presente nas
sociedades humanas – é responsável pelas transformações históricas; ou seja, a luta de classes,
segundo o socialismo científico, é o motor da história.

a mais-valia: outro conceito chave do ideário marxista. Para Marx, o capital acumulado pelos
detentores dos meios de produção advém da não remuneração integral do trabalho do
proletariado. Isto é, o capitalista não paga integralmente o valor da força de trabalho usada na
produção das mercadorias.

O LIBERALISMO

O liberalismo defende o ponto de vista da burguesia e, obviamente, do capitalismo. Sua ideia


central é a da não intervenção do Estado nos assuntos econômicos. O liberalismo ensina que a
intervenção do Estado em assuntos econômicos é não apenas desnecessária, mas até
prejudicial, pois a economia, como as demais ciências, é regida por leis naturais e imutáveis.

Os princípios básicos do liberalismo são:

individualismo econômico: o bem-estar social é resultado da prosperidade individual.

liberdade econômica: a economia, como as demais ciências, é sujeita às leis naturais e,


portanto, deve funcionar livre de intervenções. Trata-se de uma reelaboração da ideia
fisiocrata do laissez-faire, laissez-passer – condenação clara aos entraves mercantilistas do
Antigo Regime.

liberdade de contrato entre as partes: a relação entre empregado e empregador deve ser feita
com base no livre acordo entre ambos, sem intermediação do Estado ou dos sindicatos.

livre-concorrência e livre-cambismo: eliminação do protecionismo praticado pelas nações


europeias entre os séculos XV e XVIII. A livre-concorrência estimula a produtividade e a
melhoria técnica, beneficiando os consumidores.

Adam Smith, autor da obra A Riqueza das Nações (1776), acreditava que a divisão do trabalho
era o elemento essencial para o crescimento da produção e do mercado, e que sua aplicação
eficaz dependia da livre concorrência, que forçaria o empresário a ampliar a produção, buscar
novas técnicas, aumentar a qualidade do produto e reduzir ao máximo os custos de produção.
O natural decréscimo do preço final favoreceria a lei da oferta e da procura, determinando o
sucesso econômico. Smith defendia a não intervenção do Estado

O anarquismo

Fundada pelo francês Pierre-Joseph Proudhon, o anarquismo foi outra doutrina surgida em
meados do século XIX. Segundo essa corrente ideológica, toda forma de governo deve ser
suprimida, enfatizando-se a liberdade geral. O anarquismo se inspirou nos pressupostos do
socialismo utópico para criticar os abusos do capitalismo. Defendia a pequena propriedade ao
mesmo tempo em que propunha a criação de cooperativas.

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