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Karl Marx 1818 -1883

Génese e influências do pensamento de Marx


1 - Marx conhecia muito bem os filósofos clássicos Aristóteles, Demócrito,
Epicuro (o objecto da sua tese de doutoramento), bem como os filósofos
Iluministas (a ideia de progresso está bem presente em todo o seu
pensamento), mas é a obra de Hegel que mais o influencia.
(Aliás, Hegel é o filósofo mais discutido na Alemanha durante a juventude de
Marx. Este vai usar a a ideia de dialética de Hegel e vai transformá-la no seu
Materialismo Dialético)
2 - A segunda ordem de influências foram os círculos operários socialistas
franceses que Marx frequentou em Paris. Leu abundantemente os socialistas
utópicos, nomeadamente Saint-Simon, Fourier, Proudhon etc., autores que
denunciaram as situações de exploração e de miséria em que vivia a maior
parte dos trabalhadores da época

3 - A terceira ordem de influências vem dos economistas clássicos,


particularmente a leitura de David Ricardo. É com a leitura dos
economistas que Marx reflecte sobre a teoria do valor e desenvolve a sua
teoria da exploração.
Marx foi, simultaneamente, um pensador (filósofo, sociólogo e
economista) e um militante político.

É difícil dissociar as duas situações nos seus escritos.

Marx faz simultaneamente o diagnóstico daquilo que a sociedade


é mas também luta e milita por aquilo que ele acha que ela deve
vir a ser.
É normal distinguir dois períodos no pensamento de Karl Marx:

1 - O do “Jovem Marx” que compreende os escritos de 1841 a 1848:

Ensaio sobre a questão judaica;


A sagrada família;
A miséria da Filosofia

(O período da juventude acaba com a publicação do Manifesto do Partido


Comunista (1848) onde já se encontram expostas claramente muitas das
ideias de Marx)

2 - O do Marx já sociólogo e economista, autor do Capital


Marx estava convicto de que não é possível compreender a sociedade
moderna sem compreender o funcionamento e a evolução do seu sistema
económico.

Enquanto cientista, Marx é pois, antes de mais, o analista do capitalismo


Análise do Capitalismo

Como Comte, também Marx considera que a sociedade moderna é industrial e


científica por oposição às sociedades militares e teológicas.

Mas para Comte o conflito entre operários e patrões era um fenómeno marginal,
uma espécie de imperfeição da sociedade industrial (que o espírito positivo se
encarregaria de eliminar), para Marx esse conflito é uma das características
mais importantes do sistema económico das sociedades modernas, i.e. do
capitalismo.

O conflito, a contradição, o antagonismo são traços centrais do sistema


capitalista (não é um tipo de sociedade harmonioso, como Comte preconizava)

Marx vai então procurar demonstrar que esse carácter conflitual é também o
“motor da história”. Ao demonstrar o carácter conflitual, contraditório e
antagónico da sociedade capitalista, Marx vai procurar anunciar o seu futuro,
concretamente a sua auto-destruição.
Para Marx, a história da humanidade é também a história da luta
entre os grupos humanos que ele chama as CLASSES SOCIAIS.

«A história da humanidade, até aos nossos dias é a história


da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu,
barão e servo, mestre e aprendiz, numa palavra: opressores e
oprimidos estiveram sempre em constante oposição.
Conduziram uma luta sem tréguas, por vezes disfarçada, por
vezes aberta que sempre acabou ou na transformação
revolucionária da sociedade inteira ou na ruína das diversas
classes em confronto.» (Manifesto…)
No que toca à «luta de classes» a sociedade capitalista apresenta algumas
especificidades relativamente às sociedades que a precederam:

A classe dominante - a burguesia - está sempre a “revolucionar” os


meios de produção.

«Meios de Produção são os meios que permitem


produzir a riqueza, acrescentar valor aos produtos:
são as máquinas, as fábricas, os instrumentos, a
própria organização do trabalho.»

«Relações de Produção são as relações que os


homens estabelecem entre si para produzirem a sua
subsistência material: são as formas de
propriedade, as formas de distribuir a riqueza etc»
O facto de a burguesia estar sempre a revolucionar os meios de produção dá
origem às duas grandes contradições do sistema capitalista:

I - Em primeiro lugar, a contradição entre meios de produção e


relações de produção.

(a burguesia cria constantemente meios cada vez mais potentes


para produzir, mas as relações de produção não se transformam
ao mesmo ritmo, isto é as formas de propriedade e a distribuição
da riqueza não se alteram da mesma forma. Ou seja, é sempre a
mesma classe que «lucra» com a produção.)

II – Em segundo lugar, a contradição que deriva do facto de apesar do


aumento da riqueza produzida, a maior parte da população continuar
na miséria.

(a riqueza aumenta, mas a miséria aumenta também)


É destas contradições da sociedade capitalista que vai, um dia
emergir uma REVOLUÇÃO que vai pôr fim à sociedade
capitalista.

A classe dominada - o proletariado - vai constituir-se em classe


revolucionária, vai tomar o poder pela força e vai alterar
completamente as relações sociais de produção.

Para Marx, essa revolução resultará do


carácter contraditório do capitalismo.

Ou seja, a crise que dará origem à


Revolução será obra dos próprios
capitalistas.
Quando o proletariado tiver tomado o poder dar-se-á uma
ruptura radical com toda a história;

o carácter contraditório da sociedade, bem como a luta de


classes, desaparecerá para sempre.

«a antiga sociedade burguesa, com as suas classes, com os


seus conflitos de classe será substituída por uma
associação em que o livre desenvolvimento de cada um
será a condição do livre desenvolvimento de todos»
Para se compreender em profundidade a
vertente sociológica deste autor complexo é
necessário responder a duas ordens de questões:
.

1ª Em primeiro lugar, qual é a sua teoria geral da


Sociedade? O que é que explica o carácter
contraditório de todas as sociedades históricas?

2ª Em seguida, é necessário compreender qual é a


estrutura, o funcionamento e a evolução da
sociedade capitalista.
Na produção social da sua existência os homens estabelecem
relações determinadas, necessárias independentemente da sua
vontade. - (São as Relações de Produção)

(...) O conjunto de tais relações forma a estrutura económica


da sociedade, o fundamento real sobre o qual se levanta um
edifício jurídico e político e ao qual correspondem formas
determinadas de consciência social.

Contribuição à Crítica da Economia Política


Na produção social da sua existência os homens estabelecem
relações determinadas, necessárias independentemente da sua
vontade. - (São as Relações de Produção)

Esta primeira frase transmite uma ideia


muito importante do ponto de vista
sociológico:

Há relações sociais que se impõem aos


homens independentemente da sua
vontade ou da sua consciência.

Não é a consciência dos homens que


determina a realidade social mas, pelo
contrário, é a realidade social que
determina a sua consciência.
Dito de outra forma:

é necessário olhar para a história analisando a estrutura


económica da sociedade, as suas forças de produção e as
relações de produção e não interpretando a maneira de
pensar dos homens. (materialismo histórico)
A segunda ideia contida na citação da Crítica à Economia Política é a
seguinte:

Em todas as sociedades é possível diferenciar a base económica


ou infra-estrutura, e a super-estrutura

A super-estrutura é constituída
pelas instituições jurídicas - a
legislação, os tribunais - pelas
instituições políticas – o Estado
-, pelos modos de pensar, pelas
ideologias, pelas filosofias,
religiões etc
A infra-estrutura é constituída pelas forças
produtivas e pelas relações de produção (trata-se da
base económica da sociedade)
Determinismo marxista:

A infra-estrutura determina a super-estrutura

logo…

A anatomia de uma sociedade deve ser procurada na economia


«A dialéctica da história é constituída pelo
movimento das forças produtivas que entram
em contradição com as relações de produção».
Esta dialética das forças produtivas e das relações de
produção leva Marx a exprimir uma Teoria das
Revoluções.

(As revoluções não são acidentais, elas constituem a


expressão de determinadas necessidades históricas)
Marx distingue, então, as etapas da história da humanidade a partir
dos regimes económicos ou modos de produção:

• O modo de produção antigo (Baseado na escravatura)

• O modo de produção feudal (Baseado na servidão)

• O modo de produção burguês ou capitalista (Baseado no trabalho


livre assalariado)
Classes Sociais e Consciência de Classe
Marx aponta três critérios para a definição de uma classe social:

• O lugar de determinado grupo nas relações de


produção (i.e. na posse ou não dos meios de produção;

• A participação desse grupo nos antagonismos


sociais (que se manifesta na luta pelo poder político)

• A consciência de classe.

Aqui Marx distingue dois tipos de Consciência de Classe:

• A classe em si (os operários constituem uma classe em si


independentemente de terem ou não consciência disso)

• A classe para si (emerge com a tomada de consciência de classe)


Como funciona
o modo de produção capitalista
A essência do capitalismo é, como se sabe, a BUSCA
do LUCRO;

uma busca do lucro baseada no trabalho livre e na


propriedade privada dos meios de produção.
Ao reflectir sobre o lucro Marx distingue dois
tipos de troca:

- A troca que vai da mercadoria à mercadoria passando pelo


dinheiro (

Ou troco ovos por leite; ou tenho ovos, vendo-os e compro leite)

-A troca que vai do dinheiro ao dinheiro passando pela mercadoria.

(Tenho dinheiro, compro alguma coisa, vendo-a e ganho dinheiro)


Um dos mistérios do capitalismo é o
seguinte: como é que é possível
adquirir, através da troca, mais
dinheiro do que se tinha no ponto de
partida?
O problema fulcral do funcionamento do capitalismo é então
formulado por Karl Marx da seguinte forma:

ENTÃO QUAL É A ORIGEM DO LUCRO?


???
As etapas da demonstração de Marx são as seguintes:

- A teoria do Valor;
- A teoria do Salário
-A teoria da Mais-Valia

E, por fim,

- A teoria da Exploração
Teoria do valor
O que é que dá valor a uma determinada mercadoria?

Para Marx, o «valor» de qualquer mercadoria é proporcional


ao trabalho social médio que ela contém.

Ou seja, é o trabalho humano nela cristalizado que lhe dá


valor

Quanto mais trabalho é necessário para produzir um


determinado produto, tanto maior será o seu valor
Para Marx a ideologia burguesa, de onde saiu a
economia clássica, produziu a «fetichização da
mercadoria»;

uma mistificação do valor das coisas, como se elas


tivessem valor em si, independentemente do trabalho
humano que é necessário para as produzir.

Mas a quantidade de trabalho «cristalizado» é o único elemento


verdadeiramente «quantificável» que se descobriu na
mercadoria.
Teoria do salário
O passo seguinte de Marx vai ser o de demonstrar que o trabalho
assalariado é como outra mercadoria qualquer e que, portanto o
seu «valor» pode ser medido com o recurso à teoria do valor.

«O trabalho humano é pago pelo seu valor, de acordo com a lei geral do
valor, de acordo com a teoria geral do valor que é aplicável a todas as
mercadorias (…) o salário que o capitalista paga ao trabalhador (em troca da
força de trabalho que este lhe vende) equivale à quantidade de trabalho
social necessário para produzir mercadorias necessárias à sobrevivência do
trabalhador»
Teoria da mais-valia
Em seguida Marx vai demonstrar o seguinte:

O tempo de trabalho necessário para um operário


produzir um valor igual ao que recebe é INFERIOR à
duração efectiva do seu trabalho.

Ou seja, os operários trabalham mais do que o tempo


necessário para produzirem o valor que recebem como
salário
Imagine-se que a jornada de trabalho é de 10 horas por dia.
Normalmente, em 5 horas já teria produzido o valor
correspondente ao seu salário. Então para quem vão as outras 5
horas?
É este tempo é que constitui a mais-valia!

É a quantidade de valor produzido pelo trabalhador, para além


do tempo de trabalho necessário para produzir um valor igual
aquele que ele recebe como salário.
Teoria da exploração
É assim que se explica cientificamente a origem do lucro numa
sociedade em que tudo é trocado pelo seu valor, porque

há uma mercadoria que sendo paga pelo seu valor tem a


particularidade de produzir mais-valias: é o trabalho
humano!

A taxa de exploração é precisamente o racio entre a mais-valia e o


trabalho necessário.

O trabalhador trabalha uma parte do tempo para si e outra para o


empresário gerando o lucro que este acumula e investe para
revolucionar os meios de produção

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