Aula 02
CONTEXTUALIZANDO
Diante do percurso de estudos e reflexões que realizamos até aqui, tendo como
base a teoria social de Marx, estamos prontos para entender que a forma como
a produção da vida material acontece determina o processo em geral de vida
social, político e espiritual. Em nossa aula, veremos que não é a consciência dos
homens que determina a sua forma de ser, mas sim é o seu ser social que
determina a sua consciência; e que a partir da proposta de Marx de interpretação
da realidade vemos que, em certa etapa de seu desenvolvimento, as forças
produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de
produção existentes.
Concorda com esta afirmação? Seria o ser social o agente determinante da sua
consciência?
Reflita sobre isso durante os estudos desta aula, que vai nos ajudar a entender
a forma como a nossa sociedade se organiza hoje e ainda entender como a
teoria de Marx foi sendo constituída e suas contribuições para o Serviço Social.
Vemos, a partir da visão marxiana, que esses dois grupos formam classes
sociais distintas e que se realizam concretamente na sociedade enquanto grupos
opostos e conflituosos, já que seus interesses são divergentes e contraditórios.
Sendo assim, a parcela de poder e influência que cada uma possui é desigual,
o que acaba por gerar a luta entre as classes. Por sua vez, a luta de classes
nada mais é do que um conflito contínuo no qual as diferentes classes sociais
atuam, com a finalidade de realizar seus interesses.
Para esse autor, tudo que era racional era real, e tudo que era real era racional
(HEGEL, 1974). Afirmava que o único método adequado para o estudo de uma
realidade em contínuo devir era o da lógica dialética, que é constituída por três
elementos: tese, antítese e síntese. Já Marx, que pertencia à esquerda
hegeliana, afirmou que existem três fatores que ocasionam uma interpretação
materialista da realidade: desenvolvimento da ciência, a dialética hegeliana e o
aguçamento dos problemas econômico-sociais. Marx faz a transição do
idealismo de Hegel ao materialismo e ressalta que a existência organizada dos
indivíduos, ou seja, a sociedade, é o resultado da organização dos meios de
produção e de sua distribuição entre os homens (MARX, 1985).
Em linhas gerais, o Estado não é absoluto para Marx e nem a base da sociedade.
Enfatiza a democracia em oposição à monarquia constitucional e, embasado na
concepção materialista histórica, afirma que o Estado não é a base da sociedade
civil, se contrapondo ao idealista Hegel. “Família e sociedade civil são os
pressupostos do Estado; elas são os elementos propriamente ativos; mas, na
especulação, isso se inverte. ” (MARX, 2005, p. 30).
Além disso, percebemos que o Estado deve ser pensado a partir da sociedade
real existente e que as relações jurídicas são expressões do Estado, e não
devem ser compreendidas por si mesma, nem pela chamada evolução geral do
espírito humano, mas, na verdade, fundamentam-se nas condições materiais de
vida.
Marx rompe, então, com a concepção hegeliana do Estado por seu dogmatismo
especulativo, do qual o real é o racional-conceitual, e não o real existente, porque
o Estado é considerado antes mesmo que o ser humano. Marx propõe, então,
uma concepção materialista, da qual o Estado é entendido de acordo com as
relações sociais: das distribuições dos excedentes sociais, do caráter do direito,
de representações ideológicas, da organização das relações sociais como define
Hegel sob o nome de sociedade civil. (MARX, 2005).
Tais afirmações feitas a partir da análise marxiana do Estado nos leva a entender
que ele é um instrumento de uma classe economicamente forte e que ele surge
das relações de produção a partir dos interesses dos burgueses, tomando os
interesses privados como ferramenta universal. O Estado, gerado pelo modo de
produção capitalista, objetiva legitimar a exploração da mais valia “mais ainda:
com o desenvolvimento tecnológico e da divisão do trabalho, aumenta a
quantidade de horas de serviço” (MARX, 1985, p. 24-25) e manter a lei de
propriedade privada.
Segundo Löwy (2008), é esse mesmo significado de que Marx vai se apropriar e
utilizar no seu livro A ideologia Alemã, em 1846. O termo ideologia aparece,
então, como pejorativo. Já na formulação de Lênin, vemos a diferenciação entre
uma ideologia burguesa e uma ideologia do proletariado. Ainda dentro da
corrente marxista, o termo vai ganhar destaque na análise de Michael Löwy e do
sociólogo Karl Mannheim com seu livro Ideologia e Utopia.
Nesse sentido, percebemos que a ideologia pode ser utilizada para preservar a
dominação de classes, apresentando uma explicação apaziguadora para as
diferenças sociais. Buscando, assim, evitar o conflito aberto entre dominadores
e dominados. Alguns autores consideram que a ideologia, portanto, não seria
uma mera expressão de consciência, mas uma consciência parcial, ilusória e
enganadora, que se baseia na criação de conceitos e preconceitos como
instrumentos de hegemonia, e que poderia levar, a partir disso, ao processo de
naturalização enquanto recurso ideológico.
Essa naturalização contribui para que o grupo social dominante que se encontra
no poder beneficie-se do recurso à naturalização porque permite estabelecer
uma hierarquização de grupos, ou seja, uma divisão entre os que dominam e os
que são dominados. Vemos, assim, a partir da análise marxiana de ideologia,
que, para Marx, ideologia é equivalente a ilusão, falsa consciência, concepção
idealista, na qual a realidade é invertida e as ideias aparecem como motor da
vida real. E que o sujeito da ideologia não é o indivíduo, mas as classes sociais.
Portanto, quem cria as ideologias são as classes sociais.
Vemos que, na verdade, é o homem, através do seu trabalho, que faz com que
as matérias-primas e os equipamentos transmitissem o seu valor ao bem final, e
ainda por cima acrescentasse valor. Em seu livro O Capital, Marx (1989) falava
do exemplo das fiandeiras, que usavam o algodão e o transformavam, por
exemplo, em camisolas, criado um valor acrescentado que só mesmo o trabalho
humano pode dar. Para o referido autor, existe uma apropriação do fruto do
trabalho que, no entanto, não pode ser considerado um roubo pelo capitalista,
porque ao fim do processo o trabalhador vai ser pago para fazer aquele trabalho.
Desse modo, entendemos que o valor é formado tendo em vista o seu custo em
termos de trabalho. Desse valor, o capitalista apropria-se da mais valia através
da utilização do seu capital.
Afinal o que é mais valia? Marx afirmava que a força de trabalho era
transformada em mercadoria, e o valor de força de trabalho corresponde ao
socialmente necessário. Na verdade, o que o trabalhador recebe é o salário que
custeia a sua subsistência, que é o mínimo que para assegurar a manutenção e
reprodução de sua força de trabalho. Mas, apesar de receber um salário, o
trabalhador acaba por criar um valor excedente durante o processo de produção,
ou seja, fornece mais do que aquilo que custa. É esta diferença que Marx chama
de mais valia.
Não podemos, no entanto, considerar a mais valia como um roubo. Ela é apenas
fruto da propriedade privada dos meios de produção. Desse modo, os
capitalistas e os proprietários buscam aumentar os seus rendimentos diminuindo
o rendimento dos trabalhadores, é, pois, esta situação de exploração da força de
trabalho pelo capital que Marx mais crítica, colocando que essa é a essência do
capitalismo, que reside na exploração da força de trabalho pelo produtor
capitalista – fato esse que, segundo Marx, um dia haverá de levar à revolução
social.
Gostaria de sugerir a você que assista ao filme O Germinal. Tal filme tem como
base um romance vivido ao longo da Revolução Industrial, que provocou uma
série de transformações políticas, econômicas e sociais na história. O escritor
francês Émile Zola (1840-1902) representou essas transformações
brilhantemente nessa sua célebre obra. O filme trata das relações de trabalho,
das lutas de classe existentes na sociedade capitalista, do ritmo da produção e
da exploração dos trabalhadores pelos patrões, através de um processo de
trabalho desumano nas minas de carvão francesas. Retrata claramente as
transformações sociais impostas pelo modo de produção capitalista.
NA PRÁTICA
Comentários
Karl Marx tenta explicar para Silva como o seu trabalho agrega valor ao parafuso
produzido. Valor esse que excede o valor pago pelo seu patrão por seu trabalho
em forma de salário. O salário pago não reproduz o valor total cobrado na venda
do parafuso, mas sim uma pequena parcela do valor agregado a mercadoria. A
mais valia então seria o trabalho excedente não pago a Silva.
SÍNTESE
Chegamos ao final desta aula, onde tratamos dos pontos fundamentais dos
estudos de Marx, refletindo sobre:
Referências
KONDER, Leandro: O que é dialética. 1 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
Coleção Primeiros Passos.
LÖWY, Michael. Ideologia e ciência social. São Paulo: Cortez, 1985. p. 12.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1980.