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INTRODUÇÃO

O livro “Um toque de clássicos” é uma introdução à teoria sociológica de três dos
maiores pensadores da disciplina: Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber. Os
autores apresentam as principais ideias desses teóricos, bem como sua relevância
para a compreensão da sociedade contemporânea.

O livro é dividido em três capítulos, cada um dedicado a um dos pensadores. O


capítulo sobre Marx discute sua teoria das classes sociais, sua crítica ao capitalismo
e sua visão de uma sociedade sem classes. O capítulo sobre Durkheim discute sua
teoria do fato social, sua visão do indivíduo como produto da sociedade e sua
análise do suicídio. O capítulo sobre Weber discute sua teoria da ação social, sua
distinção entre tipos ideais de ação social e sua análise da burocracia.

KARL MARX

INTRODUÇÃO

Karl Marx acreditava que a razão não era apenas um instrumento de apreensão da
realidade, mas também de construção de uma sociedade mais justa. As
experiências de desenvolvimento tecnológico e de revoluções políticas, que
tornaram o século XVIII único, inspiraram a sua crença no progresso em direção a
um reino de liberdade. Além da complexidade e extensão da obra de Marx, o que
aumenta o desafio de sintetizá-la, a natureza sucinta de algumas de suas teses deu
origem a interpretações controversas.

DIALÉTICA E MATERIALISMO

A tradição filosófica dominante na Europa até ao início da modernidade postulava a


existência de uma outra dimensão, mais real, para além do mundo sensível e
histórico. A filosofia idealista de Georg Wilheim Friedrich Hegel (1770-1831) foi o
culminar deste caminho. Para os pensadores germânicos “Tudo o que é verdade
tem uma razão e tudo o que tem uma razão é verdade”.

O fenômeno torna-se inteligível quando articulado com a totalidade na qual está


inserido. Na base desta organização está o sujeito – que tenta criar um conceito que
visa transcender a observação de simples “fatos” estruturados em um sistema
unificado. Isto será sempre temporário e pode ser superado, devido ao auto
movimento do conceito que reflete a busca pela verdade.
Desde o início, o marxismo travou um debate intenso e sustentado com o idealismo
hegeliano. Na transição do idealismo para o materialismo dialético, o esquerdista
hegeliano Ludwig Feuerbach (1804-1872) foi uma figura chave. É nesta fase que a
conjectura marxista articula a dialética e o materialismo numa perspectiva histórica.

Segundo Marx e Engels, “os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições
materiais de existência, quer se trate daquelas que encontrou já elaboradas quando
do seu aparecimento, quer das que ele próprio criou (...) A primeira condição de toda
a história humana é, evidentemente, a existência de seres humanos vivos”. O fator
determinante para história humana é, evidentemente, a existência de seres
humanos vivos. Sem seres humanos, não há história. Estes são seres ativos, que
produzem sua própria história. Eles não são apenas movidos por forças externas,
mas também são capazes de agir de forma consciente e deliberada para transformar
o mundo.

NECESSIDADES: PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO

As pessoas ganham a vida para atender às suas necessidades. Através destas


atividades eles se redescobrem e reproduzem espécies num processo que está em
constante mudança através das atividades de gerações sucessivas. Um pré-
requisito para a análise social marxista é, portanto, a existência de animais humanos
que criam as suas vidas materiais através da interação com a natureza e outros
indivíduos.

Todos os animais vivos devem reconstruir as suas energias para garantir a sua
própria existência e a da sua espécie. Porém, ao interagir com a natureza Os
animais agem inconscientemente, não acumulam, apenas em resposta à escassez
direta e às condições naturais limitadas. Produzindo para conseguir o que desejam.

Os humanos tentaram controlar situações naturais e foram capazes de mudar


animais e plantas. Para fazer isso Eles organizam sua própria sociedade, edificaram
relações sociais. O ato de produzir também gera novas necessidades, que portanto
não são simplesmente exigências naturais ou físicas, mas produtos da existência
social. Consequentemente, “a própria quantidade das chamadas necessidades
naturais, bem como a forma de satisfazê-las, é um produto histórico que depende
em grande medida do grau de civilização alcançado”. Na sua busca para controlar
as condições naturais, os humanos integram-se com o ambiente transformam-no e
criam novos objetos para serem transferidos às gerações futuras.

Os resultados das atividades e experiências humanos objetivadas são acumulados e


transferidos através da cultura. É através da ação produtiva que o homem humaniza
a natureza e a si mesmo. O processo de produção e reprodução da vida através do
trabalho é para o marxismo a principal atividade do homem da qual se originou. Para
ele, o materialismo histórico é uma forma de analisar a vida econômica, social,
política e intelectual.

Para Marx, “A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozinhada,
comida com faca e garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se
das mãos, das unhas, dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o
objeto do consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma objetiva,
mas também subjetiva. Logo, a produção cria o consumidor”. A citação defende a
ideia de que a produção social é determinante do modo de consumo. A fome, por
exemplo, é um impulso biológico universal, mas a forma como ela é satisfeita varia
de acordo com o modo de produção. A nossa relação com o mundo é moldada por
meio do que produzimos e consumimos. Isto pode ser evidenciado pelo crescimento
no consumismo e a mudança nos hábitos alimentares.

FORÇAS PRODUTIVAS E RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO

Marx nunca falou da produção em geral, mas da “produção num determinado


estágio do desenvolvimento da sociedade [que] é a produção de pessoas que vivem
em sociedade”. Relações sociais de produção. O objetivo da análise é tornar a
realidade compreensível.

A cooperação é uma relação de produção social porque ocorre entre pessoas.


Também pode acontecer tendo em conta um benefício específico, por exemplo, um
aumento na produtividade do trabalho ou na quantidade de recursos aplicados pelos
trabalhadores. Nas sociedades onde existe estratificação social, o acesso aos
produtos e aos meios de produzi-los difere de acordo com os grupos sociais.

As divisões sociais do trabalho refletem as formas como a sociedade está dividida,


ou seja, amplas desigualdades sociais. A quantidade de produtos a que diferentes
membros de uma sociedade têm acesso é o resultado dessa distribuição. Os
padrões de distribuição variam de acordo com os organismos produzidos numa
sociedade e com o grau de desenvolvimento histórico alcançado pelos produtores.

Marx salienta que, devido a percepções alienadas das relações sociais, estas coisas
são obra de pessoas. A primeira diz respeito à relação entre o homem e a natureza e
a segunda diz respeito às relações entre as pessoas no processo de produção. Em
síntese, a noção de forças produtivas refere-se aos instrumentos e incompetências
que permitem controlar as condições naturais de produção.

De acordo com Marx, “ o moinho movido a braço nos dá a sociedade dos senhores
feudais; o moinho movido a vapor, a sociedade dos capitalistas industriais. Os
homens, ao estabelecerem as relações sociais vinculadas ao desenvolvimento de
sua produção material, criam também os princípios, as ideias e as categorias
conformes às suas relações sociais. Portanto, essas ideias, essas categorias são
tão pouco eternas quanto as relações às quais servem de expressão “. Portanto, as
relações sociais estão interligadas ao desenvolvimento produtivo, uma vez que as
ideias são um produto da sociedade no qual estamos inseridos.

ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA

As forças produtivas e as relações sociais de produção de uma sociedade


constituem a sua base ou estrutura, que por sua vez fornece a base para a
construção de instituições políticas e sociais. De acordo com a compreensão
materialista da história na produção de animais vivos, as pessoas também produzem
outros tipos de produtos. Que também não tem forma material, como a ideologia
política.

Marx refere-se ao modo de produção comunista primitivo, antigo, feudal e capitalista


nas sociedades ocidentais, na Ásia que constitui as sociedades orientais e nas
sociedades pré-colombianas na América do Sul. As divergências subsequentes
tentam mostrar que Marx não quis dizer que o progresso social fosse linear e
unidirecional, isto é, seguido pelas sociedades ocidentais mais avançadas.

Conforme Engels e Marx, “a estrutura social e o Estado resultam constantemente do


processo vital de indivíduos determinados; mas não resultam daquilo que esses
indivíduos aparentam perante si mesmos ou perante outros e sim daquilo que são
na realidade, isto é, tal como trabalham e produzem materialmente”. Pode-se e
entender a estrutura social e o Estado como produtos do trabalho e da produção
material. Os indivíduos não são livres para moldar a sociedade de acordo com suas
próprias ideias, mas são limitados pelas condições materiais em que vivem, esta
ideia pode ser exemplificada através da desigualdade econômica e polarização
política atual.

CLASSES SOCIAIS E ESTRUTURA SOCIAL

Marx não deixou nenhuma conjectura sistematizada de classe social, embora esta
seja uma questão interessante para a compreensão das suas interpretações sobre a
desigualdade social, a exploração estatal e a revolução. Essa conjectura foi formada
a partir de elementos dispersos em diversas de suas obras. O ponto de partida é
que a produção é a atividade de vida do trabalhador e a expressão da sua vida, o
que permite a humanização do homem.

O aparecimento de um excedente de produção permite a divisão social do trabalho,


bem como a apropriação das condições de produção por determinados membros da
comunidade.

A configuração básica das classes é expressa num modelo dicotômico. Este é sem
dúvida um quadro teórico insuficiente para compreender as complexidades e
flutuações que existem em sociedades específicas. Marx acredita que a tendência
do modo de produção capitalista é separar cada vez mais o trabalho e os meios de
produção.

O desenvolvimento do modo de produção capitalista seguiu direções imprevisíveis


para um analista como Marx em meados do século XIX. A classe que detém o poder
material numa determinada sociedade é também o poder político e espiritual
dominante. A crítica do marxismo à propriedade privada dos meios de produção da
vida humana visa principalmente as suas consequências.

De acordo com Marx, “Em todas as formas de sociedade, é uma produção


determinada e as relações por ela produzidas que estabelecem todas as outras
produções e as relações a que elas dão origem, a sua categoria e a sua importância.
É como uma iluminação geral que modifica as tonalidades particulares de todas as
cores”. Ou seja, podemos entender, a produção material como um fator abrangente
que influencia todas as esferas da vida social.
LUTAS DE CLASSES

O Manifesto Comunista começa afirmando que as classes sociais sempre estiveram


em conflito umas com as outras. Para o materialismo histórico, as lutas de classes
estão diretamente ligadas à mudança social. Dado que as classes dominantes
dependem da exploração do trabalho daqueles que não possuem os meios de
produção, a relação entre elas só pode ser conflituosa, mesmo potencialmente.

Marx diferenciou as classes entre si, como sendo um conjunto de membros de uma
sociedade que são identificados por compartilharem certas condições objetivas, ou a
mesma situação envolvendo a propriedade de fatores de produção, das classes para
si, classes organizadas politicamente para a proteção consciente dos próprios
interesses. Cuja a identidade também é construída do ponto de vista subjetivo.

Segundo Marx, “Pelo que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto a
existência das classes na sociedade moderna, nem a luta entre elas. Muito antes de
mim, alguns historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento histórico
desta luta de classes, e alguns economistas burgueses, a sua anatomia. O que
acrescentei de novo foi demonstrar: 1) que a existência das classes está unida
apenas a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; 2) que a
luta de classes conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3) que esta
mesma ditadura não é mais que a transição para a abolição de todas as classes e
para uma sociedade sem classes”. O filósofo afirma que não é o primeiro a perceber
a existência das classes sociais e a luta entre elas. Ele reconhece que alguns
historiadores e economistas burgueses já haviam abordado essas questões. No
entanto, estes não forneceram uma análise científica e completa dessas questões. Pois,
eram representantes da classe dominante e, portanto, tinham interesses em ocultar a
exploração do proletariado. A luta de classes é o motor da história. A mesma só ocorre
devido a divergência de interesses, dado que burguesia, para manter sua posição de
dominação, precisa explorar o proletariado e o proletariado, por sua vez, luta para acabar
com essa exploração e alcançar a emancipação.

A ECONOMIA CAPITALISTA

A faca de Marx no capital, que é o ponto de partida absoluto, é a saciedade


capitalista. É a forma de organização social mais evoluída e diversificada já vista. Ao
analisá-lo, compreendem-se também outras formações socioeconômicas
desaparecidas – como as sociedades primitivas, escravistas, asiáticas e feudais.

Para calcular o valor de troca de uma mercadoria, a quantidade de substância que


ela contém é medida e processada. Bens diferentes podem ter valores diferentes e,
para que os potenciais consumidores façam as trocas que desejam, deve haver uma
forma de quantificar esses valores. No momento da troca, a forma concreta que a
mercadoria assume (um prato preparado ou um ramo de flores) e o seu valor de uso
são abstratos.

O carpinteiro se veste, o arquiteto come pão, o pedreiro vai ao cinema, o fazendeiro


toma o remédio, a enfermeira lê o jornal, o banqueiro escova os dentes. Qual deles
produz tudo que você precisa? As relações de produção capitalistas incluem a
existência de um mercado onde até o trabalho é trocado por um determinado valor.

A sociedade capitalista baseia-se na ideologia da igualdade e tem como critério o


mercado. Os homens aparecem como iguais perante a lei, o Estado, o mercado,
etc., e é assim que se veem. Mas o valor que o trabalhador pode produzir enquanto
trabalha para o empregador é maior do que aquele pelo qual vende as suas
competências.

Marx distingue o tempo de trabalho necessário, durante o qual o trabalhador


reproduz e produz o equivalente ao seu salário, do tempo de trabalho excedente.
Devido às relações sociais de produção capitalistas, o valor produzido durante o
tempo de trabalho excedente ou não remunerado é apropriado pela burguesia. Parte
desse valor extraído gratuitamente no processo produtivo passa a fazer parte do
próprio capital, permitindo uma acumulação crescente.

Para Marx, “O sistema capitalista é aquele no qual se aboliu da maneira mais


completa possível a produção com vistas à criação de valores de uso imediato, para
o consumo do produtor: a riqueza só existe agora como processo social que se
expressa no entrelaçamento da produção e da circulação”. Isto é, o entrelaçamento
da produção e da circulação é o que caracteriza o capitalismo. A produção é
orientada para a circulação, e a circulação é necessária para a produção. O
capitalismo é um sistema dinâmico e complexo, que está em constante evolução.
Este sistema que tem gerado riqueza e progresso para a humanidade, mas também
tem sido criticado por seus efeitos negativos, como a desigualdade social e a
exploração do trabalho.

PAPEL REVOLUCIONÁRIO DA BURGUESIA

Marx concentra grande parte do seu trabalho na análise do surgimento,


desenvolvimento e derrubada do capitalismo e como ele emergiu da desolação da
sociedade feudal que o precedeu. Na opinião dele, as empresas de produção feudal
com formas urbanas e rurais de propriedade dos fatores de produção, processos e
técnicos de trabalho foram esgotadas. E uma capacidade nova e muito mais
poderosa está sendo desenvolvida. Embora a proteção das guildas e corporações
na Idade Média possibilitou o acumulo de capital, o desenvolvimento do comércio
marítimo e o estabelecimento de colônias, a manutenção de antigos estruturas
feudais seria um obstáculo a essa expansão.

As regras das guildas medievais “resistiam fortemente à transmutação dos senhores


em capitalistas, restringindo por decretos estritos o número máximo de oficiais e
aprendizes com direito a assalariar e proibindo o uso de oficiais em um trabalho que
não fosse o seu”. Além disso, os comerciantes estavam autorizados a comprar
qualquer tipo de mercadoria, exceto força de trabalho, pois, para transformá-la em
capital, o dono do dinheiro tinha que encontrar um trabalhador livre no mercado. Não
era apenas mudança nos processos de produção, mas também no que diz respeito
à organização política do Estado, às forças sociais em que se apoia e a outras
instituições, como o sistema jurídico e tributário, a moralidade, a religião, a cultura e
a ideologia antes dominantes. A burguesia desempenhou um papel na revolução.
Suas ações destruir a forma como o trabalho era organizado.

Os estilos de propriedades rurais e urbanas enfraqueceram a antiga classe


dominante, à medida que os senhores feudais e o clero substituíram a lei feudal.
Suprimir os impostos e obrigações feudais. Sindicato dos artesãos Sistema vassalo
que impedia os escravos de se tornar assalariados livres e até mesmo uma
monarquia política onde sua existência está representada. Obstáculos ao pleno
desenvolvimento do potencial de produção capitalista. Esta dimensão revolucionária
da ação burguesa não termina com a extinção destas velhos formas, porque, afinal,
a burguesia “cria um mundo à sua imagem e semelhança”. “Ele foi a primeira pessoa
a provar o que a atividade humana poder alcançar”, disse ele. Ele criou maravilhas
maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos de Roma e as catedrais góticas.
Ele geriu antigos invasões e campanhas que sobreviver até mesmo as Cruzadas”.

Finalmente, perguntam Marx e Engels, fascinados pelo poder revolucionário desta


classe, “que século anterior teria suspeitado que tais forças produtivos estavam
adormecidas no trabalho social? A burguesia era, naquela época, a expressão mais
clara da modernidade e do processo de racionalização. Assim, tal como já ocorreu
durante a transição do feudalismo para o capitalismo, o pleno desenvolvimento do
novo modo de produção implica necessariamente a criação e o desenvolvimento de
forças materiais cruciais para a construção ou constituição de uma nova sociedade.
Segundo Marx e Engels, a forma capitalista de produção estende-se a todas as
nações que são forçadas a abraçar o que a burguesia chama de “civilização”. A
impulsão para abrir novos mercados e matérias-primas e para gerar novas
necessidades fez com que se estabelecesse em todo o lado.

Conforme Marx e Engels, “a burguesia não pode existir senão sob a condição de
revolucionar incessantemente os instrumentos de produção e, com isso, todas as
relações sociais (...) Uma revolução contínua na produção, um abalo constante de
todas as condições sociais, uma inquietude e um movimento constantes distinguem
a época burguesa de todas as precedentes. Rompem-se todas as relações sociais
estancadas e deterioradas, com seu cortejo de crenças e de ideias veneradas
durante séculos; as novas tornam-se velhas antes de terem podido se ossificar”. O
filósofo argumenta que a burguesia, a classe dominante no capitalismo, é
impulsionada por uma necessidade constante de inovação tecnológica. Essa
inovação, por sua vez, leva a um constante processo de mudança social, econômica
e cultural.

A Transitoriedade DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Mas uma nova sociedade “que surgiu sobre as ruínas da sociedade feudal não
elimina conflitos de classe. Substituiu a antiga classe. O velho estado de opressão
Apenas o antigo estilo de luta com a nova classe. “Desta forma, as condições da luta
de classes permanecer cada vez mais divididas. Dado que as sociedades de classes
se baseiam numa contradição inerente, o capitalismo também estaria condenado à
extinção com o início do processo de revolução social. Paralelamente ao
crescimento desta “massa” de humanidade sem património absoluto, aumenta a sua
concentração nos grandes centros industriais, a sua capacitância de organização e
luta, bem como a sua consciência da sua própria posição social. Marx e Engels
atribuem ao proletariado o papel transformador da sociedade capitalista. Através de
um processo revolucionário, desaparecem as condições de apropriação e
concentração dos meios de produção existentes nas mãos de uma classe e a partir
daí inicia-se um processo de construção da sociedade sobre novas bases.

No caso de uma revolução proletária Quando a propriedade pessoal dos fatores de


produção desaparece O mesmo acontecerá com a burguesia como classe e com as
formas capitalistas de produção. Mais tarde, estabelecer-se-á uma nova forma de
organização social, que será temporariamente a ditadura do proletariado, mas
quando todas as condições que propõe forem cumpridas, será uma sociedade
comunista. Então velha sociedade civil “será substituída por uma organização que
elimine as classes e os seus antagonismos.

O chamado poder político deixará de existir, porque é a expressão formal do


antagonismo de classe na sociedade civil. Uma das premissas para a existência
desta sociedade seria o grande desenvolvimento das forças produtivos promovido
pela produção capitalista “porque, sem ela, a escassez só se generalizará e, junto
com a pobreza começará paralelamente a luta pela sobrevivência”. Indispensável e
inevitavelmente baixamos na pobreza na sujeira do passado... “Em outras palavras,”
a libertação é um fato histórico e não intelectual, e é provocada por condições
históricas, pelo progresso da indústria, do comércio, da agricultura.

Marx e Engels acreditavam que, “em dois vastos campos inimigos, em duas grandes
classes que se enfrentam diretamente: a burguesia e o proletariado... A burguesia
despojou de sua auréola todas as profissões que até então eram tidas como
veneráveis e dignas de piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do
poeta, do sábio fez seus servidores assalariados”. Os filósofos abordam a luta de
classes e como a burguesia está constantemente transformando a sociedade. Ela
usa sua riqueza e poder para impor sua ideologia e seus valores na sociedade. Isso
leva à perda de importância de instituições e profissões que antes eram
consideradas veneráveis, como o médico, o jurista, o sacerdote, o poeta e o sábio.

TRABALHO, ALIENAÇÃO E SOCIEDADE CAPITALISTA


A base da alienação, segundo Marx, reside na atividade prática humana. Que é
trabalho. Marx falou principalmente das manifestações de alienação na sociedade
capitalista. Segundo ele, o fato econômico é “o estranhamento entre o trabalhador e
sua produção” e seu resultado é o “trabalho alienado, cindido”

Marx argumenta que bandidos, pessoas sem escrúpulos, mendigos, famintos,


desafortunados e criminosos não existem por causa da economia política. A
economia política leva em conta apenas as necessidades dos trabalhadores cuja
satisfação lhes permite sobreviver. Esta é uma visão estreita das necessidades
humanas, que inclui beleza, paixão, espiritualidade e a própria sociedade.

O próprio capitalista que possui a riqueza tornou-se seu escravo e desumanizado. A


produção coletiva é organizada e dirigida de acordo com os interesses de um sector
da sociedade, a burguesia. As necessidades dos trabalhadores de realização
pessoal e bem-estar que não estão diretamente relacionadas com a criação de
riqueza.

A divisão capitalista do trabalho e mesmo as atividades profissionais desenvolvidas


servem os interesses privados do grupo dominante e, por vezes, dos produtores. As
decisões sobre o que, quanto, como, a que taxa e por que métodos são produzidos
escapam quase completamente ao significado do produtor direto. “Eles removem
todas as características essenciais do trabalho do proletariado e perdem a atração
por ele.”

Marx acredita que os trabalhadores estão insatisfeitos com o trabalho que têm de
realizar fora de si mesmos e que esse trabalho é exaustivo para o corpo e destrutivo
para a mente. Se nenhuma compulsão persistisse, ele fugiria do trabalho como uma
praga. Somente em suas funções animais ele se sente verdadeiramente livre, e em
seu funcionamento humano ele se sente como um animal.

O fetichismo do mundo mercantil decorre do facto de os atributos sociais do trabalho


estarem escondidos por trás da sua aparência material. Através da forma fixa do
valor monetário, o carácter social do trabalho privado e as relações sociais entre os
produtores são obscurecidos. A necessidade permanente de renovação e de
progresso técnico é também uma das oposições dialéticas que constituem a
sociedade capitalista e conduzem à sua superação.
De acordo com Marx, “Todos os meios para desenvolver a produção transformam-se
em meios para dominar e explorar o produtor: fazem dele um homem truncado,
fragmentário, ou o apêndice de uma máquina. Opõem-se a ele, como outras tantas
potências hostis, as forças científicas da produção. Substituem o trabalho atrativo
por trabalho forçado. Fazem com que as condições em que se desenvolve o
trabalho sejam cada vez mais anormais, e submetem o trabalhador, durante seu
serviço, a um despotismo tão ilimitado como mesquinho. Convertem toda sua vida
em tempo de trabalho...”. Atualmente, o custo do operário se reduz, mais ou menos,
aos meios de subsistência indispensáveis para viver e perpetuar sua linhagem. Mas
o preço do trabalho, como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção.
Portanto, quanto mais enfadonho é o trabalho, mais baixam os salários. (...) Quanto
menos o trabalho exige habilidade e força, isto é, quanto maior é o desenvolvimento
da indústria moderna, maior é a proporção em que o trabalho dos homens é
suplantado pelo das mulheres e crianças. As diferenças de idade e sexo perdem
toda significação social no que se refere à classe operária. Não há senão
instrumentos de trabalho cujo custo varia segundo a idade e o sexo.

REVOLUÇÃO

Continuando com a tradição iluminista, a teoria marxista centra-se na questão do


progresso e procura estabelecer as leis de desenvolvimento das sociedades.
Quando a necessidade de expansão das forças produtivos de uma determinada
formação social colide com as atuais estruturas económicos, sociais e políticas,
estas começam a desintegrar-se, dando lugar à nova estrutura já anunciada nos
elementos conflitantes da sociedade moribunda. Abre-se então uma era
revolucionária, com a eclosão de conflitos sociais que amadurecem sob a aparente
harmonia anterior. O progresso é o resultado dialético dessa ruptura. As relações
sociais de produção tornam-se obstáculos ao desenvolvimento.

Durante a Idade Média, as forças produtivas reivindicadas pela burguesia nascente


estavam em desacordo com os benefícios oferecidos nas oficinas e oficinas
artesanais. É por isso que a revolução burguesa se tornou a personificação do
processo de libertação destas forças. Que é prejudicado por relações sociais
desatualizadas. Este descompasso entre as relações sociais e as forças produtivas,
limita o potencial de progresso da produção. Constrói-se condições materiais para
que as classes atuem e desempenham o seu papel revolucionário. A progressão do
poder de produção mudanças nas relações sociais de produção e as suas
consequências nas instituições políticas, jurídicos, religiosos, etc., permitem-nos
compreender como se dá a transição de uma organização social para uma mais
perfeita.

Quando uma classe consegue impor-se a outras classes enfraquecidas ou


historicamente obsoletas. Arruína-se as formas econômicas, as relações sociais,
civis e jurídicos, as visões do mundo e os regimes políticos, substituindo-os por
outros que se adaptem aos seus interesses e ao seu governo. A base deste
processo de negação e transição é a vida material, sendo as classes socialmente
oprimidas, os agentes de tais transformações e mudanças sociais. Embora a
organização dos grupos minados e a intensificação da luta política levem à
conquista do poder, esta não é uma simples troca de posições – para que aqueles
que antes eram oprimidos passem a ocupar o lugar dos opressores – mas a
construção de uma nova sociedade em outras bases.

Para Marx, “de todos os instrumentos de produção, a maior força produtiva é a


própria classe revolucionária”.

COMUNISMO

O modo de produção capitalista já representava uma etapa evolutiva em relação ao


feudalismo, visto que a forma como o trabalho excedente é extraído e as condições
em que isso ocorre “são mais favoráveis ao desenvolvimento das forças produtivas,
das relações sociais de produção e para a criação de uma estrutura nova e superior”
que resultará de um processo revolucionário, uma etapa em que a coerção e a
monopolização, por uma fração da sociedade em detrimento da outra,
desaparecerão do progresso social”. As citações à sociedade comunista não
pretendem ser profecias, como alguns afirmam, mas sim meditações guiadas por
princípios como a liberdade e a não-alienação. É Marx quem diz que “o comunismo
é a forma necessária e o princípio dinâmico do futuro imediato, mas o comunismo
em si não é o fim do desenvolvimento humano, a forma da sociedade humana”. O
que o comunismo torna possível é que a criação humana esteja sujeita ao “poder
dos indivíduos conectados” e que a divisão do trabalho comece a obedecer aos
interesses da sociedade como um todo. Garantida a apropriação social das
condições de existência, a contradição entre o indivíduo privado e o ser coletivo se
extinguir, gerando condições para a liberação das capacitâncias criativas humanas,
favorecendo o estabelecimento do reino da liberdade que “só começa quando deixa-
se trabalhar por necessidade e por condições impostas externamente.” A passagem
seguinte descreve a sociedade comunista de uma forma metafórica. Projeta as
possibilidades de um sistema social regulado de acordo com as necessidades
humanos, centrado no potencial criativo preservado no espírito dos indivíduos livres.
A sociedade comunista é o resultado de “A reconstrução consciente da sociedade
humana”, que encerra a “pré-história da humanidade e inicia uma nova vida social.

Segundo Marx e Engels, “Com efeito, desde o momento em que o trabalho começa
a ser repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade exclusiva que lhe é
imposta e da qual não pode sair; é caçador, pescador, pastor ou crítico e não pode
deixar de o ser se não quiser perder seus meios de subsistência. Na sociedade
comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe
aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividades exclusiva, é a sociedade que
regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar
de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo
isso a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou
crítico”.

CONCLUSÕES

A complexidade do tema que o marxismo procura analisar – a gênese das


sociedades humanas, as suas estruturas econômicas, sociais, políticas, ideológicas
e as ligações que retêm entre si, as suas contradições internas e o que as
sociedades modernos podem comunicar – levou a rica fonte de ideias e equívocos.
É impossível catalogar e abreviar todo o trabalho que começa a interpretá-los e
delinear os conceitos que se espalharam e assumiram diversas formas nos escritos
marxistas. O marxismo se considera desenvolvido internamente. E alguns aceitaram
a divisão entre a produção juvenil e a maturidade. Além disso, embora Marx se
opusesse claramente à divisão nas humanidades Mas conhecimentos ulteriores,
como filosofia, história, economia, antropologia, linguística e sociologia determinados
temas e textos foram alocados com o objetivo de aplicar métodos materialistas
históricos à análise de problemas contemporâneos. De uma maneira específica,
cada pessoa. Movimentos políticos e sociais, como grupos feministas
ambientalistas, partidos políticos, sindicatos, movimentos liberais e estéticos
envolvidos no drama revolucionário e popular, no cine e na psicanálise. É também
responsável por estudar a posição do marxismo. Da mesma forma, algumas
tendências das ciências sociais retornaram ao materialismo na interpretação de
temas presentes na sociedade contemporânea, como as consequências da ação
direta do Estado sobre a economia ou a vida privada, o crescimento de grupos
médios ligados aos serviços. Sector, a supressão do sector produtivo, o acesso do
proletariado aos bens da sociedade de consumo, a utilização eficaz dos recursos de
comunicação de massa por grupos que apoiam o status quo, as formas de
organização económica, política e militar do país grandes potências imperialistas e
sectores que vivem condições sociais livres de opressão. As causas da miséria da
violência, da injustiça social, novas instituições familiares e religiosos, da
emergência de contradições sociais não de classe, dos conflitos étnicos, da
desintegração política e social do proletariado no sentido clássico e, finalmente,
como podemos contribuir para isso.. escolher os caminhos mais compatíveis com as
ambições de liberdade e felicidade humana enfatizadas pela antiga sociedade
grega.

ÉMILE DURKHEIM

INTRODUÇÃO

Emile Durkheim foi um dos pensadores mais importantes no estabelecimento da


sociologia como uma ciência empírica e no seu estabelecimento na academia
tornando-se o primeiro professor universitário na área. pesquisador metódico e
criativo, deixou um número significante de herdeiros intelectuais. O sociólogo
francês viveu numa Europa convulsionada por guerras e em processo de
modernização, e a sua produção reflete a tensão entre valores e instituições
erodidos e formas emergentes cujo perfil ainda não está totalmente configurado. “As
alusões necessários para situar o seu pensamento são, por um lado, a revolução
Francesa e a revolução Industrial, e, por outro lado, a fonte de ideias que, para
esses mesmos acontecimentos, foram sendo formuladas por escritores como Saint-
Simão e Comte. Dentre os pressupostos fundadores do clima intelectual que
permeará a teoria sociológica de Durkheim, vale ressaltar a crença de que a
humanidade é governada pela força implacável da lei do progresso e caminha em
direção ao desenvolvimento gradual. Este princípio foi herdado do Iluminismo e
partilhado por quase todos os escritores do século XIX, cada um dos quais tinha
algum tipo de conotação na sua obra. Compreendeu-se então que o repertório de
ideias e valores da antiga ordem social, alguns elementos dos quais ainda
sobreviviam, tinha sido destruído pela ventania revolucionária de 1789 e por isso era
necessário criar um novo sistema científico e científico. sistema moral que se
harmonizaria com a ordem industrial emergente. O industrialismo, com a sua força
de mudança imparável, tornou-se para todos a característica definidora da
sociedade moderna. Por outro lado, difundia-se a ideia de que a vida coletiva não
era apenas um imagem ampliada da vida individual, mas um ser diferente, mais
complexo, irredutível às suas partes componentes. Este seria precisamente o objeto
das ciências sociais, e o seu estudo exigia a utilização do método positivo, apoiado
na observação na indução e na experimentação, como haviam feito os naturalistas.
Dessa forma, as ciências sociais devem se esforçar para formular teoremas
nomológicos, ou seja, leis que estabeleçam relações permanentes entre os
fenômenos. Durkheim também foi influído pelo racionalismo de Kant, pelo
darwinismo e pelo organicismo germânico. e socialismo professoral. No entanto, o
seu pensamento não só ecoa as ideias que recebeu, mas também as reformula num
novo sistema, questionando muitas vezes as tendências intelectuais predominantes
do seu tempo. Nesse sentido, uma críticas de Durkheim foi o que ele chamou de
individualismo utilitário, representado por Herbert Spencer. Para ele, a cooperação
era o resultado espontâneo de ações tomadas pelos indivíduos para atender aos
seus próprios interesses. Durkheim via as ciências sociais como uma expressão da
consciência racional da sociedade moderna. Mas ele não exclui conversas com
história, economia e psicologia, embora aponta os limites de cada uma dessas
disciplinas na explicação dos fatos sociais.

A ESPECIFICIDADE DO OBJETO SOCIOLÓGICO

A sociologia, segundo Durkheim, pode ser definida como a ciência das “instituições,
suas origens e funções”. Ele acreditava que, para se tornar uma ciência
independente, esse campo do conhecimento é obrigado a definir seus próprios
objetivos. Tais fenômenos incluem “qualquer forma de ação, fixa ou não, capaz de
exercer coerção externa sobre o indivíduo”
A sociedade não é o resultado de uma simples combinação de consciências ou da
soma dos indivíduos vivos que a compõem. As emoções que caracterizam este ser
possuem um poder e características que não são inerentes às emoções puramente
pessoais. Cada alma que se funde produz a manifestação de um ‘novo tipo de vida
espiritual’.

Os fenômenos que compõem a sociedade ocorrem coletivamente. Não em cada


participante. Temos que procurar a explicação dos fatos sociais aí e não nas
unidades que os compõem. As formas de lidar com pessoas e bens, comunicar,
vestir, dançar, negociar, rir, cantar, conversar, etc.

As formas de agir e de sentir típicas de uma sociedade devem ser transferidas


através da aprendizagem, até porque são externas ao indivíduo. A educação “cria no
homem um novo ser”, insere-o na sociedade, leva-o a partilhar com os outros uma
determinada gama de valores, sentimentos e comportamentos. Muito mais, nasce
um ser superior ao puramente natural.

As representações coletivas são uma das locuções do fato social. Eles entendem ‘a
forma como a sociedade vê a si mesma e o mundo ao seu redor’. Os valores de uma
sociedade são outro elemento fundamental de todos os fatos sociais. Eles também
têm uma realidade objetiva independente dos sentimentos.

Nas sociedades tradicionais, os inovadores encontram uma resistência maior e, por


vezes, intransponível. A ação transformadora é ainda mais difícil quando a regra,
crença ou prática social a modificar tem grande peso ou é central para a coesão
social. Mesmo assim, por exemplo, uma proposta pedagógica que entre em conflito
com a concepção de criação dos filhos pode superar obstáculos.

O MÉTODO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA SEGUNDO DURKHEIM

No estudo da vida social, uma das preocupações de Durkheim era avaliar qual
método lhe permitir fazer isso de forma científica, superando as falhas do bom
senso. Conclui que deve assemelhar-se ao adotado pelas ciências naturais, mas
não por isso a sua xerox, uma vez que os fatos estudados pela sociologia pertencem
ao campo social e apresentam características que os distinguem dos fenômenos
naturais. Tais métodos devem ser estritamente sociológicos. Com base nisso, os
cientistas sociais examinam possíveis relações e regularidades de causa-efeito com
o objetivo de descobrir leis e até mesmo “regras de ação para o futuro” e observar
fenômenos estritamente definidos. Durkheim expõe as regras que os sociólogos
devem seguir ao observar os fatos sociais. A primeira e mais importante delas é vê-
los como objetos. Daí decorrem alguns corolários: suprimir sistematicamente ideias
pré-concebidas; definir antecipadamente os fenômenos tratados de acordo com as
características externas que lhes são comuns; e considerá-los, independentemente
de suas manifestações individuais, da forma mais objetiva possível. Ele questiona o
comportamento do pesquisador que, mesmo diante de uma realidade externa
desconhecida, parece mover-se como se estivesse “entre coisas imediatamente
transparentes à mente, tamanha é a facilidade com que é cabido em resolver
questões obscuras”. “. Ao fazer isso, o cientista nada mais faz do que expressar
seus preconceitos, que eventualmente se tornam como um véu colocado entre as
coisas e ele mesmo. As recomendações do autor são expostas em seu livro. Então
as regras do método sociológico suscitaram debates acalorados. Fazendo com que
ele escrevesse longa introdução na segunda edição para esclarecer sua posição
original.

Portanto, o sociólogo deve ter a atitude mental e comportar-se diante dos fatos como
qualquer cientista procriar: considerar que está lidando com objetos desconhecidos
porque “as representações que podem ser formuladas no decorrer da vida tendo
sido realizadas sem método ou crítica,“ eles não têm valor científico e devem ser
descartados ”. Temos que assumir que ele não tem ideia do que são as realidades
sociais. Mas mesmo que tenha tendências, é por isso que um dos fundamentos da
objetividade de uma ciência da sociedade deve necessariamente ser a vontade do
sociólogo de se colocar “num estado de espírito semelhante ao dos físicos, químicos
e químicos.” Fisiologistas quando se aventurar-se em uma região ainda inexplorada
de seu domínio científico ”assumindo assim sua ignorância, livrando-se de seus
preconceitos ou noções vulgares (já combatidas por Toicinho)e adotando finalmente
a prática cartesiana da dúvida metódica.

A DUALIDADE DOS FATOS MORAIS

As regras morais são fatos sociais e, portanto, possuem as características já


mencionadas. Inegavelmente compulsivos, porém, mostram uma face diferente
quando apresentados como “coisas agradáveis que gostamos e desejamos
espontaneamente”. Nós nos associamos a eles “Com todo o poder da alma . A
sociedade é a nossa protetora, e “tudo que aumenta a sua vivacidade aumenta a
nossa vivacidade”. Quando os membros de uma sociedade respeitam os ideais
coletivos, a coerção deixa de ser sentida. Em suma, as regras morais têm uma
autoridade que implica a noção de dever e, por outro lado, parecem-nos desejáveis,
embora o seu cumprimento seja feito com um esforço que nas leva para fora de nós
mesmos e, portanto, nos elevo acima. Nossa própria natureza. Mesmo sob pressão.
“As crenças e as práticas sociais agem sobre nós de fora”, portanto a sua
ascendência também é diferente daquela desfrutada pelos nossos hábitos, que se
encontram em nós. O fato moral apresenta assim a mesma dualidade do sagrado
que é, em certo sentido, “o ser proibido, que não ousa violar; mas é também um ser
social bom, amado, procurado: tem também o deleite de partilhar interesses com
outros membros da sociedade de levar com eles a mesma vida moral. Nessas
passagens, Durkheim relembra as considerações que Rousseau faz no contrato
Social sobre as vantagens que o ser humano aufere ao sair do estado de natureza.
Vemos que ao explicar a sua concepção de sociedade, o sociólogo francês nas
mostra uma realidade que tem vida própria, que é como uma entidade superior, mais
perfeita, que, afinal, precede e sucedera aos indivíduos É independente deles e tem
sobre eles uma autoridade que eles amam, ao mesmo tempo que os restringe. No
final, é ela quem lhes dá humanidade e “não se poder esperar sair da sociedade
sem querer deixar de ser homem”. Contudo, os ideais que unem os membros dos
grupos sociais devem ser revistos periodicamente para que não enfraquecem. Isso
acontece em ocasiões que aproximam as pessoas, tornando as relações entre elas
mais frequentes e intensos, como ocorre nos movimentos coletivos, por meio do
fortalecimento exuberante da vida social. Durkheim cita esta necessidade de
revitalizar ideais coletivos como a razão para muitos ritos religiosos que reúnem
crentes anteriormente dispersos e isolados para reavivar e promover crenças
comuns dentro deles. A sociedade se reinventa moralmente reafirmando os
sentimentos e ideias que compõem a sua unidade e individualidade. Isso garante a
unidade vitalidade e continuidade do grupo E também dá energia aos membros.
França fundada “Todo o ciclo de festivais preserva a juventude eterna”, um princípio
de inspiração revolucionária. Mas o que mantém as pessoas na sociedade por
exemplo, por que os grupos humanos não se dissolvem facilmente? Em vez disso,
desenvolver mecanismos para lidar com a ameaça de decadência?
COESÃO, SOLIDARIEDADE E OS DOIS TIPOS DE CONSCIÊNCIA

Embora não tenha sido o primeiro a apresentar uma explicação do problema


Durkheim elaborou o conceito de solidariedade social, procurou mostrar como esta
constitui e se torna responsável pela coesão entre os membros dos grupos e como
varia de acordo com o modelo de organização social. Para isso, levou em conta a
existência de uma maior ou menor divisão do trabalho. Segundo o autor temos duas
consciências: “Uma é comum a todo o nosso grupo e, portanto, não nos encarna
mas sim à sociedade que atua e vive dentro de nós. O outro, ao contrário, não
encarna apenas naquilo que temos pessoalmente e ou seja, existem em nós dois
separadamente, é isso que nos torna pessoa. “animais: um, individual," constituído
por todos os estados mentais que se relacionam apenas com nós mesmos e com os
acontecimentos da nossa vida pessoal ", e outro que revela em nós a realidade mais
elevada," um sistema de ideias, sentimentos e hábitos que são expresso. em nós
(...) os diferentes grupos aos quais pertencemos; tais são crenças religiosos,
crenças e práticas morais, tradições nacionais ou profissionais, opiniões coletivas de
todos os tipos. Seu conjunto forma o ser social. E, à medida que o indivíduo participa
da vida social, ele se supera. O objetivo da educação pública, por exemplo, é formar
uma consciência comum, educar os cidadãos para a sociedade e não educar
operários ou controladores para o comércio, o ensino deve, portanto, ser
fundamentalmente moralizante; libertar os espíritos de visões egoístas e interesses
materiais; a piedade religiosa como uma espécie de social substitui-a pela piedade”
Esta consciência comum ou coletiva “corresponde àquele conjunto de crenças e
sentimentos comuns ao membro médio da mesma sociedade [ que ] forma um
sistema particular que tem vida própria”. Constrói um “mundo de sentimentos, ideias,
imagens” e é independente da forma como cada membro desta sociedade o
manifesta, porque tem uma realidade própria e de natureza diferente. A consciência
comum abrange “domínios” de diferentes dimensões na consciência total das
pessoas, dependendo se o tipo de sociedade em que estão inseridas é segmentada
ou organizada. Quanto mais se alarga a consciência coletiva, mais a coesão entre
os comediantes da sociedade examinada remete para uma “conformidade de todas
as consciências particulares com um tipo comum”, que as torna todas iguais e,
portanto, os membros do grupo.. eles são atraídos pelas semelhanças entre si, ao
mesmo tempo que sua individualismo é menor. Nas sociedades onde se desenvolve
uma divisão do trabalho, a consciência comum trespassa a ocupar uma parte
diminuída da consciência total, permitindo o desenvolvimento da personalidade. Mas
a diferenciação social não reduz a coesão... Pelo contrário, “torna mais marcada a
unidade da organização mais marcada a individualidade das partes”. Uma
solidariedade ainda mais forte baseia-se agora na interdependência e
individualização dos membros que compõem estas sociedades! Durkheim faz aqui
uma analogia com a atração que une homens e meninas que, pelas suas diferenças,
se complementam e através da sua união formam um todo. Enquanto o “sentimento
de simpatia decorrente da semelhança” leva à aglutinação dos membros as relações
sociais nas sociedades com acentuada divisão do trabalho assumem dependência
recíproca baseada na especialização de tarefas. Neste caso, o equilíbrio e a
solidariedade surgem da própria diferenciação, constituindo fortes laços que unem
os seus membros às sociedades orgânicas. A divisão do trabalho não é específica
do mundo económico: encontra-se noutras esferas da sociedade como nas funções
políticas, administrativas, judiciais, artísticas, científicas, etc. Se a educação
expressa os elementos comuns que toda sociedade necessariamente possui – como
as ideias sobre a natureza humana, o dever e o progresso que sustentam o espírito
nacional –, também contribui para esta diferenciação, uma vez que cada profissão
“reivindica competências e conhecimentos especiais.. Onde existe uma divisão do
trabalho desenvolvida, a sociedade não pode controlar todas as funções que
emergem. e por isso a sociedade revela assim uma parte da consciência individual,
ou seja, o campo de ação adequado a cada membro. Quanto menor a área ocupada
pela comunidade mais espaço se abre para o desenvolvimento das diferenças, da
individualidade e das personalidades autônomas.

OS DOIS TIPOS DE SOLIDARIEDADE

Os laços que unem os membros entre si e com o próprio grupo constituem a


solidariedade, que pode ser orgânica ou mecânica. Quando tais laços se
assemelham aos que unem um déspota e os seus súbditos, a sua natureza é
análoga à dos laços que unem um proprietário à sua propriedade: não são mútuos,
mas mecânicos. Essa pessoa não é sua, mas é ‘o que a sociedade realmente tem’.

A quota-parte de responsabilidade da solidariedade mecânica na integração social


depende da extensão da vida social que abrange, que é regulada pela consciência
comum. Este tipo de sociedade, em que a coesão “resulta exclusivamente de
semelhanças e consiste numa massa absolutamente homogénea, cujas partes
seriam indistinguíveis umas das outras”, é um agregado amorfo: a horda.

Com a intensificação das relações sociais, os participantes nestas sociedades


tornam-se suficientemente em contacto uns com os outros e, portanto, reagem uns
aos outros do ponto de vista moral. À medida que aumenta a divisão do trabalho
social, a harmonia mecânica diminui gradualmente e é substituída por uma nova
unidade. A condensação da sociedade através da multiplicação das relações entre
as sociedades leva ao avanço da divisão do trabalho.

A função da divisão do trabalho é, em última análise, integrar o corpo social para


alcançar a unidade. Estabelece-se então o processo de individuação dos membros
desta sociedade, que passam a colaborar em suas próprias esferas de atuação. Isso
resulta em uma interdependência entre cada um dos demais membros que
compõem essa sociedade.

OS INDICADORES DOS TIPOS DE SOLIDARIEDADE

Durkheim usa a predominância de certas normas jurídicos como um indicador da


existência de algum tipo de solidariedade. Isso ocorre porque é um fenômeno moral
e não pode ser observado diretamente. Embora o direito se baseie em costumes
vagos, é uma forma estável e precisa e, portanto, serve como elemento externo e
objetivo que simboliza os elementos mais importantes da solidariedade social. Por
outro lado, como as sanções aplicadas à torah variam de acordo com o seu peso, as
suas flutuações podem ser consideradas. O papel da lei numa sociedade intrincada
é semelhante ao papel do sistema nervoso: controlar as funções corporais. Assim,
representa também o grau de concentração da sociedade devido à divisão social do
trabalho. Assim como o sistema nervoso expressa o estado de concentração de um
organismo em decorrência da divisão fisiológica do trabalho, ou seja, sua
complexidade e desenvolvimento. Embora as punições impostas pela tradição sejam
dispersas Mas a punição imposta por lei foi resolvida. Constituem duas classes: os
repressivos, que infligem dor, diminuição e privação ao culpado; e restaurativa: fazer
com que coisas e relacionamentos perturbados voltem ao estado anterior, o que faz
com que o culpado repare os danos causados. A maior ou menor presença de
normas repressivas pode ser testemunhada através do papel que o direito penal ou
repressivo ocupa no sistema jurídico da sociedade. Nas sociedades onde as
semelhanças entre os seus componentes constituem a principal característica, o
comportamento desviante é punido com ações profundamente enraizadas nos
costumes. Os membros destas comunidades participam juntos numa espécie de
vingança contra aqueles que violaram um forte sentimento comum cuja função
central é garantir a unidade da sociedade. Sendo a consciência coletiva tão
importante e difundida, feri-la é uma forma de violência que atinge todos aqueles
que se sentem parte dessa totalidade. O crime ocasiona a ruptura dos laços de
solidariedade, e a sua indiscutível desaprovação serve, do ponto de vista da
sociedade em questão, para confirmar e revitalizar valores e sentimentos comuns e,
do ponto de vista sociológico, permite demonstrar que determinados valores têm a
função de garantir a própria existência da associação. A vingança é uma invasão do
invasor com a mesma intensidade com que a violência cometida pelo agressor
afetou crenças, tradições, práticas coletivas, mitos ou outros elementos mais ou
menos importantes para a continuação da existência desta sociedade, e é dirigida
contra uma pessoa. Nas sociedades primitivas, a justiça é gerida pela assembleia
popular, sem intermediários. Os sentimentos coletivos estão profundamente
enraizados na mente de qualquer pessoa, são enérgicos e consistentes, como os
castigos.

MORALIDADE E ANOMIA

Durkheim acreditava que a França estava em crise devido ao desaparecimento da


“proteção” do mundo feudal. Os conflitos e as desordens seriam os sintomas da
anomia jurídica e moral presente na vida económica. A moralidade profissional ainda
está num nível elementar quando a sociedade é perturbada pela crise.

O mundo moderno é caracterizado pela diminuição da eficácia de certas instituições


unificadoras, como a religião e a família. Com isso, a profissão adquire importância
cada vez maior na vida social. Durkheim procurava um lugar no mundo profissional
do trabalho em grupo para restaurar a coesão e a virtude integral que parecem tão
carentes nas sociedades industriais.

O autor também atribuiu parte da culpa pelas desigualdades e insatisfações


existentes na sociedade moderna às anomalias criadas pela divisão anomia do
trabalho. Embora a atividade econômica tenha acompanhado a civilização, ela não é
em si mesma moralmente obrigatória nem serviu para promover a moralidade.
Mesmo tendo absorvido um “enorme número de indivíduos cujas vidas são
passadas quase inteiramente no ambiente industrial”

Durkheim argumenta que à medida que o mercado se expande, cabe à empresa


fazer o mesmo. Nos grandes centros industriais e comerciais, vemos o aumento do
número de suicídios e crimes, uma das medidas de imoralidade coletiva. Isto não
significou a ressurreição artificial das corporações medievais, mas o reconhecimento
do seu papel como instituições.

As pessoas que pertencem a um grupo que tem “ideias, sentimentos e profissões”


comuns atraem-se, procuram-se, estabelecem relações, associam-se e, por fim,
formam um grupo especial do qual se desvinculam. Vida moral, sentimento.
Indefinido. Em nome do interesse comum.

Em certas circunstâncias, a divisão do trabalho pode atuar de forma dissolvente.


Durkheim cita como exemplo uma situação de mercado em que o forte crescimento
reduz os contatos. A ausência de normas impossibilita moderar a competição que
prevalece na vida social. Nestes casos, o estado de anomia é iminente.

Durkheim discorda daqueles que acusam a divisão do trabalho de reduzir o


trabalhador a uma máquina. Se o assalariado “não for mais uma célula viva de um
organismo que vibra constantemente em contato com células vizinhas”. É porque ele
se tornou um. Uma engrenagem inercial com força externa começa a funcionar.
Indefinido.

Durkheim argumenta que “o trabalho pode dividir-se espontaneamente quando as


sociedades são construídas de tal forma que a desigualdade social expressa
precisamente a desigualdade natural” 68 Aqui podemos ver que o autor entendeu o
que Marx chamou de luta de classes como uma expressão de anormalidade ao nível
das relações sociais. Afirma ainda que o mérito do esforço pessoal tem caráter moral
e, portanto, integrativo.

MORAL E VIDA SOCIAL

As normas morais têm um objetivo desejável, desejado por aqueles a quem se


destinam. A noção de bem penetra na noção de dever. Cada cidade-estado, num
determinado momento da sua história, tem uma moralidade. É nesta base que a
opinião pública e os tribunais julgam. Negá-lo é negar a sociedade.

Durkheim: O homem só é humano porque vive em sociedade. Para encontrar a


humanidade, você deve estar acima de si mesmo para controlar suas próprias
paixões. Considere outros benefícios além dos seus. E é uma sociedade que ensina
às pessoas a virtude do sacrifício, da exclusão e da busca de objetivos pessoais
para um propósito superior.

Durkheim: A moralidade individualista é o único sistema de crenças que pode


garantir a unidade moral da sociedade moderna. Nas sociedades menos complexas,
que controlam mais de perto os seus membros e que, através da disciplina, podem
alcançar a tirania, o Estado tem sempre um carácter religioso. O indivíduo é apenas
um meio para atingir os objetivos do Estado.

Durkheim chama essa ideia de estado de individualidade. Dado que os direitos do


indivíduo não têm fronteiras intransponíveis, “o que ontem parecia apenas uma
espécie de luxo, amanhã será um direito absoluto”. Consequentemente, a missão do
Estado não conhece fronteiras. Tudo indica que estamos nos tornando mais
sensíveis em relação à personalidade humana.

Uma pessoa independente é aquela que controla seu ego natural. Está subordinado
ao desejo de ter o poder da vontade. Subordiná-los apenas às limitações.
Consequentemente, o individualismo indisciplinado pode resultar da falta de
disciplina e autoridade moral numa sociedade. A estima do indivíduo é obra da
sociedade e a sua liberdade é utilizada para o bem social.

RELIGIÃO E MORAL

A religião ocupa um lugar importante na obra de Durkheim. As religiões primitivas


são o ponto de partida de seu estudo. Nas comunidades mais simples, onde o
desenvolvimento das individualidades e das diferenças é menor, o facto religioso
ainda traz o sinal visível das suas origens. Ambos organizam e classificam o cosmos
das coisas em duas categorias ou reinos completamente extraordinários: o blasfemo
e o sagrado.

O autor chama o culto negativo de sagrado e o profano não pode se misturar. As


grandes solenidades religiosas suspendem o trabalho – a atividade temporal – e
estabelecem a festa ritual. As cerimônias religiosas desempenham um papel
importante na hora de colocar a comunidade em movimento para a sua celebração.
Lembram às pessoas que pertencem ao mesmo grupo, multiplicando os contatos
entre elas.

Nestes dias específicos, é a sociedade que envolve o indivíduo no fenómeno


religioso. “É um anúncio de que eles não ocupam mais o lugar que têm direito em
seus corações. Este é o dever da tristeza”, diz Durkheim. A energia intrínseca dos
sentimentos sociais pode manter os membros unidos.

A TEORIA SOCIOLÓGICA DO CONHECIMENTO

A religião representa a própria sociedade idealizada, refletindo a busca pelo “bom,


pelo belo, pelo ideal” e abrangendo também o mal, a morte e até mesmo os
aspectos mais repulsivos e vulgares da vida social. Ao externalizar sentimentos
comuns, as religiões são também os primeiros sistemas de representação coletiva
do mundo, as cosmologias.

Isto ocorre porque a ideia de sociedade é a alma da religião’ e quase todas as


instituições sociais importantes surgiram dela. É uma breve expressão da vida
coletiva. Como a razão é obra de representações habituais, é irredutível à
experiência individual, por isso consegue impor-se aos membros de uma sociedade.

Os conceitos constituem a forma como a sociedade representa a natureza, as


emoções, os objetos e as ideias em um determinado momento. Os conceitos não
devem ser considerados fatos primários, imanentes à mente e impenetráveis à
análise, como pensavam os aprioristas. Por exemplo, o tempo é uma forma de
organização que só importa para todos quando todos pensam objetivamente.

A origem dos conceitos só pode ser a comunidade, pois é partilhada por todos e
“depende da forma como é constituída e organizada”. O conceito é universalizável:
ou é comum a todos os homens, ou pode ser-lhes comunicado. É, portanto, um facto
social.

CONCLUSÕES

Embora o método positivista – que o autor abraçou nos seus esforços para erigir
uma sociologia baseada em sólidos fundamentos empíricos – confunda por vezes os
analistas mais precipitados que o identificavam com as tendências conservadoras do
pensamento político e social da época Durkheim estava atento à surgimento da
sociologia. Novas crenças, ideias e representações nascidas em períodos
revolucionários ou de grande intensidade da vida social, capazes de extinguir o “frio
moral” por que traspassaram as sociedades industriais. Seriam precisamente os
momentos de exaltação da vida moral, quando as nascentes forças psíquicas
permitem aos homens redescobrir o vigor da sua fé no carácter sagrado das suas
sociedades e transformar o seu ambiente, atribuindo-lhe o pundonor de um ideal
mundial. Por outro lado, a profunda fé de Durkheim na capacitância de coexistência
entre indivíduos idiossincráticos, sem pôr em perigo a existência da vida social,
atesta a sua sensibilidade às tendências em mudança, mesmo que fossem de
natureza pacífica, mesmo reformista, bem como a sua esperança no exercício da
liberdade responsável num quadro de justiça social e de ideais cosmopolitas que se
estendem a toda a humanidade. No entanto, ele reconhece “que ainda não
chegamos ao momento em que este patriotismo possa reinar plenamente, se é que
esse momento poderá chegar”. 90 graças à liderança de Durkheim, o seu trabalho,
liderado por um grupo de ilustres intelectuais e investigadores formado em torno da
revista L’Année Sociologique, teve uma influência decisiva na sociologia. Sua
influência é particularmente evidente nos estudos da sociologia da religião e dos
sistemas simbólicos de representação. As reflexões de Durkheim com Marcel Mauss
(1872-1976) sobre as representações coletivas e os sistemas lógicos do mundo dos
diferentes grupos sociais formam uma ponte entre a sua teoria sociológica e as
preocupações que caracterizam a antropologia contemporânea. Por outro lado, um
ramo do pensamento durchemiano, mais especificamente os aspectos de consenso
e integração dos sistemas sociais, foi introduzido na teoria sociológica estado-
unidense contemporânea através da interpretação de Talcott Parsons. Suas ideias
também inspiraram estudos recentes sobre a dissolução de padrões tradicionais de
interação por meio de processos de urbanização, bem como pesquisas sobre
família, trabalho e socialização.

MAX WEBER

INTRODUÇÃO

Durante a época de Max Weber, houve um conflito feroz na Alemanha entre os


pontos positivos atualmente dominantes no pensamento social e filosófico e os
críticos. O objeto da polêmica foram as especificidades das ciências naturais e
espirituais e, dentro destas, o papel dos valores e a possibilidade de formulação de
leis. Wilhelm Dilthey (1833-1911), um dos mais importantes representantes da ala
antipositivista, confrontou o discurso científico dos positivistas com o discurso
histórico, ou seja, a ideia de que a compreensão do fenômeno social supõe a
recuperação do sentido sempre enraizado no tempo e atribuído a uma
weltanschauung (relativismo) e a um ponto de vista (perspectiva). Como obra
humana, a experiência histórica é também uma realidade variada, ainda que
inesgotável. Mas foram Marx e Nietzsche, que o próprio Weber reconheceu como os
pensadores fundamentais do seu tempo, que, segundo alguns biógrafos, tiveram a
maior influência no trabalho do sociólogo germânico. A influência de Marx é evidente
no facto de ambos partilharem o grande tema – o capitalismo ocidental – e lhe
dedicam grande parte da sua energia intelectual, estudando-o sob ângulos
históricos, económicos, ideológicos e sociológicos. Weber queria testar a capacidade
do materialismo histórico de encontrar explicações adequadas para a história social,
especialmente para a relação entre estrutura e superestrutura. Em suma, tratava-se
de compreender como as ideias bem como os fatores materiais, ganhar força na
explanação sociológica, sem deixar de criticar o monismo causal que caracteriza o
materialismo marxista nas suas formas vulgares. Weber é também herdeiro da
percepção de Friedrich Nietzsche (1844-1900) de que a vontade de poder, expressa
na luta entre valores antagónicos, é o que torna compreensível a realidade social,
política e económica. Isto refletiu as atuais preocupações dos historiadores,
sociólogos e psicólogos alemães interessados no carácter conflitante implícito do
pluralismo democrático. Por fim, vale lembrar a originalidade de Weber no
desenvolvimento dessas e de outras ideias que surgiram da discussão da época. Os
conceitos com os quais interpretou complexa luta que ocorre em todas as áreas da
vida coletiva e o desenvolvimento histórico do Ocidente como um processo de
racionalidade representam um progresso em termos de rigor metodológico.

A OBJETIVIDADE DO CONHECIMENTO

Segundo Weber, a ciência hoje é uma profissão organizada como um campo


especializado que atende ao autoconhecimento e ao conhecimento de fatos
interligados. É importante distinguir entre política e ciência e considerar que a
ciência também é isenta de valores. Não responde à pergunta A que deus servimos?
Esta é uma questão relacionada à ética.

Weber: A ciência é um processo altamente racional que tenta explicar as


consequências de certas ações. As ações do cientista são seletivas. O valor é um
guia para um cientista selecionar um objeto específico. A partir daí ele definirá uma
determinada direção para sua explicação e os limites da cadeia causal.

Weber: O cientista atribui aos aspectos da realidade e da história que examina uma
ordem através da qual procura estabelecer uma relação causal entre determinados
fenômenos. Ele conclui que a atividade científica é racional em termos de seus
objetivos – a verdade científica – e de valores – a busca pela verdade.

Weber via as ciências sociais como uma tentativa de compreender os eventos


culturais como uma singularidade. Como a realidade cultural é infinita, uma
investigação global que leve em conta todas as circunstâncias ou variáveis de um
evento particular torna-se uma reivindicação inatingível. O cientista deve isolar da
“imensidão absoluta um minúsculo fragmento”: o que considera relevante.

Há uma grande diferença entre dar sentido à realidade histórica através de ideias de
valor e conhecer as suas leis. A explicação de um fato significativo em sua
particularidade nunca estará isenta de pressupostos, pois foi escolhido com base em
valores. Weber nega a possibilidade de as ciências sociais reduzirem a realidade
empírica ou as leis.

OS TIPOS IDEAIS

Os sociólogos aproveitam este objeto, que é apenas uma fração limitada desta
realidade, para realizar tarefas completamente diferentes daquelas ditadas pelos
cientistas naturais. O que é necessário é compreender a individualidade
sociocultural como constituída por elementos historicamente agrupados. Isso nem
sempre pode ser quantificado onde o seu passado remonta para explicar o presente.

Um conceito ideal-típico é um modelo simplificado da realidade baseado em


características consideradas essenciais para determinar a causalidade, segundo os
critérios de quem busca explicar um fenômeno. Suas possibilidades e limitações
surgem de 1) unilateralidade, 2) racionalidade e 3) caráter utópico.

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA SOCIOLOGIA WEBERIANA


Atividade é definida por Weber como comportamento humano (ação, inação,
permissão) que tem um significado subjetivo determinado pela pessoa que executa
e dirige essa ação. Quando tal orientação leva em conta a ação - passada, presente
ou futura - de um ou mais agentes que podem ser "individualizados e conhecidos ou
uma pluralidade de indivíduos indeterminados e totalmente desconhecidos" - o
público o público de um programa a família dos o agente etc. - a ação é definida
como social. A sociologia é, para Weber, a ciência “que busca compreender,
interpretando-a, a ação social para explicá-la causalmente em seu desenvolvimento
e em seus efeitos”, observando suas regularidades que se expressam na forma de
usos.., costumes ou situações de interesse, e embora a sociologia não diga respeito
apenas à ação social, no entanto, para o tipo de sociologia que o autor propõe, ela
constitui o dado central e constitutivo. No entanto, algumas ações não interessam à
sociologia porque envolvem reações sem qualquer significado discreto, como puxar
a mão para trás ao receber um choque eléctrico. As descrições sociológicas tentam
compreender e interpretar o significado o desenvolvimento e as consequências do
comportamento de um ou mais indivíduos em relação a outra pessoa ou pessoas,
isto é, a ação social. sem julgar a validade de tais ações ou compreender o agente
como pessoa. Compreender o comportamento significa captar e interpretar as suas
conexões semânticas, que são mais ou menos evidentes para os sociólogos.
resumindo: uma ação definida é significativa. O comportamento humano é tanto
mais racionalizado quanto menos o agente estiver sujeito a costumes e afetos e
mais for guiado por um planejamento adequado à situação. Portanto, pode-se dizer
que as ações serão mais compreensíveis intelectualmente (ou explicáveis
sociologicamente) e mais racionais, mas a interpretação entóptica e o calculo
exclusivamente intelectual dos meios, da direção e dos efeitos da ação são
possíveis mesmo quando há uma grande distância. entre os valores do agente e os
do sociólogo. Portanto, a interpretação de uma ação baseada em valores religiosos,
virtudes, fanatismo ou afetos extremos que podem não fazer parte da experiência do
sociólogo ou que lhe são improváveis pode ser feita com menor grau de “evidência”.
Para entender a ação de forma científica Os sociólogos, portanto, trabalham com o
máximo detalhe necessário para a enquete sociológica. que ele chamou de tipo puro
ou ideal. Vazio da realidade concreta ou alienado do mundo ou seja, conceitos
abstratos. O personagem dramático de Moliere, o mesquinho, pode ser considerado
um tipo ideal ou puro. Sua principal característica pessoal é a ganância, e todas as
suas ações visam a possibilidade de economizar cada vez mais dinheiro. É evidente
que mesmo o avarento mais teimoso não cria cada momento da sua vida apenas
para acumular! Somente figuras imaginárias seriam capazes, por exemplo, de
recontar os grãos de arroz que cada um de seus filhos pode comer durante uma
refeição .. Porém, como tipo ideal, o personagem provê um conjunto segmentado de
princípios racionais para a explanação da personalidade e as ações dos avarentos.
E esse é o objetivo de usar tipos ideais. Portanto, partindo do reconhecimento de
que, no desenvolvimento da ação podem ocorrer condições irracionais, obstáculos,
emoções, enganos, inconsistências, etc., Weber edifica quatro tipos de ação pura ou
ideal: ação racional em relação aos fins ação racional em relação aos valores, ação
tradicional e ação emocional. Sem dúvida, existem muitas combinações entre a
maior ou menor clareza com que o agente percebe os seus próprios objetivos, os
meios que deve utilizar para alcançá-los, as condições impostas pelo ambiente em
que a sua ação ocorre, bem como as consequências resultantes. sua conduta. A
escala de categorização vai da mais pura racionalidade à irracionalidade. Os
sociólogos capturaram logicamente conexões semânticas com inteligência. que está
ligado ao mais alto nível de clareza. Não ocorre com a mesma facilidade quando
valores e afetos interferem nas ações que estão sendo consideradas. A partir de um
modelo de desenvolvimento comportamental racional Os sociólogos interpretam
outras ligações. cujo significado não é claro - tanto aqueles que estão
emocionalmente condicionados como aqueles que experimentaram vários tipos de
influências irracionais. considerando que se trata de um desvio do modelo que foi
edificado. Em resumo: só a ação dotada de sentido pode ser compreendida pela
sociologia, que constrói tipologias ou modelos explicativos abstratos, cuja
construção leva em conta tanto as conexões racionais de sentido, cuja interpretação
é dotada de maior evidência, quanto as não racionais. conexões. racional. em que a
interpretação é menos clara.

OS TIPOS PUROS DE AÇÃO E DE AÇÃO SOCIAL

O agente não se interessa pelo aspecto da racionalidade com a mesma paixão com
que exige respeito pelos seus valores. Esta irracionalidade será tanto maior quanto
mais absoluto para o sujeito for o valor que inspira a sua ação. O sentido da ação,
portanto, não se encontra no seu resultado ou nas suas consequências, mas no
próprio desenvolvimento de uma conduta.

Uma ação afetiva é uma ação motivada por ciúme, raiva ou vários outros desejos.
Tais ações podem ter consequências não intencionais, catastróficas ou graves. O
comportamento emocional difere do comportamento racional orientado por valores.
Neste último caso, o sujeito age racionalmente, “detalhando conscientemente o
ponto final da direção da atividade e consequentemente orientando-se nessa
direção”

Quando hábitos e costumes arraigados levam alguém a agir de acordo com eles,
estamos lidando com uma ação tradicional. Weber compara estímulos que levam a
uma ação tradicional com aqueles que produzem uma imitação reativa. Os
sociólogos tentam compreender o significado da pessoa referente à ação e seu
significado.

Uma ação estritamente social deve ser distinguida de dois modos de conduta
simplesmente reativos, sem caráter social. Ação resultante de imitação ou realizada
sob influência ou condicionada pela conduta de outrem ou da massa. Enquanto o
sujeito não direcionar causalmente suas ações para as ações dos outros, nenhuma
relação de sentido será estabelecida simplesmente porque ele imita.

RELAÇÃO SOCIAL

Um comportamento plural (de vários), reciprocamente orientado e dotado de


conteúdos significativos que se baseiam na probabilidade de agir socialmente de
uma determinada maneira, constitui o que Weber chama de relação social. Como
exemplos de relações sociais temos a hostilidade, a amizade, as trocas comerciais,
a competição económica, as relações eróticas e políticas.
Um gerente de supermercado pede a um empacotador que atenda um cliente.
Estamos lidando aqui com três agentes cujas ações são guiadas por alusões
recíprocas. Se os substituirmos por um cidadão, um ladrão e um policial, ou um
casal ou pais e filhos, teremos diferentes tipos de relações sociais.

A reciprocidade da relação social não significa que cada um dos atores envolvidos
realize o mesmo tipo de ação. Todos sabem quais são os riscos, mesmo que não
haja interação. Os sinais de amor podem ser compreendidos e percebidos sem
retribuir esse amor. As relações sociais são os conteúdos significativos atribuídos
por quem age com referência a um ou mais outros.

As relações sociais estão enraizadas e governadas por expectativas partilhadas


sobre o significado da relação. Os agentes podem se comportar como colegas,
inimigos, parentes, comprador e vendedor, criminoso e vítima, admirador e estrela,
indiferente e apaixonado, chefe e empregado, ou em uma infinidade de
possibilidades. As relações sociais podem ser temporárias ou permanentes.

Weber chama estados, igrejas, casamentos, etc. das chamadas estruturas sociais
que existem na realidade na medida em que as relações sociais podem emergir com
o conteúdo material de que são compostas. Quanto mais racionais existem as
relações sociais, mais facilmente elas podem ser expressas na forma de normas,
seja através de um contrato ou de um acordo.

Weber também se refere ao conteúdo comunitário de uma relação social, baseada


num sentimento subjetivo (afetivo ou tradicional) de pertencimento mútuo. Numa
igreja ou associação religiosa conseguimos encontrar conteúdo comunitário e
consenso sobre interesses justificáveis. Se o sentimento de pertencimento a uma
comunidade – participação – é fundamental para a vida religiosa dos praticantes, o
trabalho profissional dos monges baseia-se na organização racional.
O comportamento pode ocorrer em intervalos regulares. Existe porque a mesma
pessoa o repete indefinidamente. ou porque muitas pessoas fazem isso com o
mesmo significado. Se tal regularidade ocorre por mero hábito, é uso. quando dura,
torna-se um costume e é determinado por um estado de interesses.

DIVISÃO DO PODER NA COMUNIDADE: CLASSES, ESTAMENTOS E PARTIDOS

Na concepção de Weber eles podem ter princípios explicativos diferentes. O critério


de categorização mais relevante é dado pela predominância, numa determinada
unidade histórica, de uma forma de organização, ou pelo peso particular que cada
uma das diferentes esferas da vida coletiva pode ter. O ator individual é a unidade
de análise sociológica, a única unidade que pode dar sentido às suas ações.

A forma como a honra social é distribuída dentro de uma comunidade entre os


grupos típicos que a compõem pode ser chamada de ordem social. É nas ações e
no significado que o agente lhes dá que se atualiza a lógica de cada uma das
esferas da vida em sociedade. Podemos compreender seu significado
sociologicamente.

O sentido de uma relação social é dado pela ordem econômica, ou seja, pela
distribuição de serviços e propriedades. Neste contexto, a justificação e o significado
das ações sociais são definidos pelo mercado em que os indivíduos lutam pelo
poder económico. Weber estabeleceu conceitos referentes ao plano coletivo – a)
classes, b) grupos sociais ou grupos de status e c) partidos.

O conceito de classe de Weber é baseado nas ações dos agentes orientadas para o
mercado. Mas o significado das ações também pode ser definido de acordo com
critérios vigentes na ordem social. Aqui, o conteúdo das relações sociais é baseado
em regras de pertença a um grupo, estatuto ou herança. A luta pela honra e pelo
prestígio acontece e onde é distribuída.
Weber cita exemplos de reconhecimento social desfrutado nos EUA pelos
descendentes das Primeiras Famílias da Virgínia, da princesa nativa Pocahontas,
dos Pilgrim Fathers e dos Knickerbockers. Os grupos de status asseguram a
validade do comportamento desejado através de convenções, através das quais é
expressa a desaprovação geral do comportamento incompatível.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, embora o estatuto social não seja


determinado pela mera posse de mercadorias, a propriedade é, em última análise,
reconhecida como uma qualificação de estatuto. As famílias que se desintegraram
economicamente têm maior probabilidade de perder o seu estatuto. Em todo o caso,
“enquanto as classes têm a sua verdadeira pátria na ordem económica, as classes
têm-na na ordem social e, portanto, no domínio da distribuição de honras”

Weber vê uma natureza contingente na consciência de classe, ao contrário de Marx.


Ser membro de uma classe específica não implica um sentido de comunidade ou
consciência de quaisquer benefícios ou direitos. A partir das formas de ação social
de que os componentes de uma classe são coletivamente capazes, torna-se
possível compreender a importância das greves ou da criação de fundos de ajuda.

O significado de um comportamento não se encontra nas possíveis transmutações


estruturais da sociedade ou na manutenção do status quo. As ações referem-se ao
funcionamento do mercado, à configuração particular de interesses nele descrita e à
forma como os diversos agentes nele se posicionam. Uma das distinções entre
estamentos e classes refere-se, portanto, à necessária existência, nas primeiras, de
um sentimento de pertencimento.

As castas seriam aqueles grupos fechados de status cujos privilégios e distinções


são garantidos de forma desigual por meio de leis, convenções e rituais. Isto
acontece muitas vezes quando existem diferenças étnicas, por exemplo no caso de
raças pagãs. Geralmente existem regras para endogamia. E comendo. O contato
físico com membros de castas inferiores pode contaminar os de castas superiores.

As sociedades de castas representam uma espécie de subordinação entre grupos


com maiores ou menores privilégios. Weber sublinha a existência, entre estes
grupos étnicos oprimidos, de fortes sentimentos de honra e orgulho superior. As
castas estão muitas vezes ligadas a determinadas profissões e defendem uma ética
profissional tradicional de carácter religioso e vocacional.

A DOMINAÇÃO

Uma das questões que a sociologia enfrenta diz respeito à estabilidade das relações
sociais. O que leva os indivíduos a atribuir às suas ações um significado definido
que perdura regularmente no tempo e no espaço? Qual é a base da regularidade
nas ações das pessoas se o que lhes dá sentido não é uma instituição abstrata?
Weber entende que o social é construído pelas ações individuais, surge um
problema teórico.

Existem, portanto, três tipos de governo legítimo: legal, tradicional e carismático. As


formas básicas de legitimação são justificadas por diversas fontes de autoridade. As
pessoas não só competem pelos interesses do mercado, mas também participam ou
influenciam a distribuição de poder entre estados ou entre grupos dentro dos
estados.

As pessoas não lutam pelo poder apenas pela riqueza económica. Frequentemente
aspiram às honras sociais que isso evoca. A realidade social emerge como um
complexo de estruturas de dominação. A possibilidade de dominar é a de dar
valores, o conteúdo das relações sociais, o sentido que interessa ao agente ou
agentes em luta.
Weber estava particularmente interessado em duas formas de governo: burocrático
e carismático. O primeiro corresponde ao tipo de governo particularmente moderno e
racionalmente organizado seguido pelas sociedades ocidentais. A segunda pode ser
aplicada a empresas económicas e políticas, bem como a empresas de natureza
religiosa e profissional.

A forma tradicional ou racional de controle é o carisma, que estabelece um tipo de


controle baseado na “santidade, heroísmo ou exemplo de uma pessoa”. As outras
duas formas (primitiva e sedutora) baseiam-se em comportamento irracional
significativo. Isto apresenta a possibilidade de quebrar outros padrões de
dominância.

CARISMA E DESENCANTAMENTO DO MUNDO

Havia até uma dimensão de iluminamento em sua mente. Que a história revela
como um avanço É um Weber pessimista que aponta para as consequências de um
processo de racionalização negativa. Mas inevitavelmente isso dá ao seu trabalho o
tom de resignação muito importante. Participando ativamente na produção cultural
do seu tempo, Weber partilhava a ideia de que o progresso da racionalidade também
levou a um declínio geral da cultura clássica, especialmente da alemã. O processo
de evolução funciona no sentido de que “limita cada vez mais o leque de opções
eficazes disponíveis aos humanos . Estas alternativas não só são poucas, como
também se tornam cada vez mais modestos. Tudo isso é resultado do que é
conhecido como o desânimo do mundo. A humanidade deixou um cosmo repleto de
sacralidade, magia e especialidade e chegou a um mundo de objetos racionais
governados pela tecnologia e pela ciência. O mundo dos deus e dos mitos foi
despovoado, seu fascínio foi substituído pelo desenvolvimento do conhecimento
científico e de formas de organização racionais e burocráticas, e “os valores últimos
e supremos foram retirados da vida pública para o reino transcendente de qualquer
vida mística. Pela fraternidade das relações humanos diretas e pessoais”. Quais são
as consequências da racionalização levada a cabo através da ciência e da
tecnologia? Ela pode garantir que os homens encontrarão o caminho para o
verdadeiro deusas ou para a felicidade? Para autor Isso nada mais é do que uma
ilusão ou optimismo ingênuo. Mas será que podemos, pelo menos hoje, ter uma
ideia mais clara do nosso estado de vida do que os povos primitivos? Contudo, a
história não é o único movimento linear em direção ao mundo da burocracia. Ainda
há uma lacuna e um estado de crise quando “As estruturas institucionais que se
combinam podem entrar em colapso. E estilos de vida normais não são suficientes
para dominar num estado de tensão, pressão ou sofrimento crescentes.”. O agente
da ruptura é o líder, o herói ou o profeta que carrega o carisma. Weber enfatiza o
individualismo extraordinária que transcende as fronteiras da rotina diária, um tipo de
liderança que é capaz de produzir mudanças significativos nas relações sociais
marcadas pela racionalidade – tanto na esfera política quanto na religiosa, uma
espécie de liderança. Regra tradicional ou burocrática. Ao opor-se aos poderes
hierárquicos tradicionais dos mágicos ou dos presbíteros, o profeta ou o salvador «
opõe-se ao seu apelo pessoal à sua dignidade, consagrada pela tradição para
quebrar o seu poder ou colocá-los ao seu serviço ». 52 Weber acreditava que, na
maior parte, a burocracia dominante, como o confucionismo, era caraterizada por
uma blasfêmia totalmente irracional. Pelo respeito apenas em benefício do cultivo
em massa. Classes e propriedades (paisanos, artesãos, mercadores, industriais,
etc.) tinham atitudes religiosos diferentes. A maior parte do proletariado moderno e
da burguesia moderna, se tiverem uma postura religiosa não linear, muitas vezes se
sintam indiferentes ou rejeitados pela religião. A consciência da dependência do
próprio rendimento, diz ele, está centrada ou complementada pela da dependência
de constelações sociais puros, de situações económicos e de relações de poder
sancionadas pela lei, a poupança. Mas apesar e talvez graças ao seu carácter
inovador e irracional, o carisma é absorvido pela lógica férrea das instituições e é
necessariamente otimizado ou adaptado à vida quotidiana, retornando ao caminho
da institucionalização tradicional ou racional. É esse um lócus perfeito para o
surgimento de lideranças carismáticas de cunho religioso ou político, de salvadores.
Mas apesar de e talvez graças ao seu caráter renovador e irracional, o carisma é
engolido pela lógica férrea das instituições e obrigatoriamente é otimizado ou
adaptado ao cotidiano, sendo retomado o caminho da institucionalização tradicional
ou racional.
A SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Weber viu isto como um fenómeno fundamental que mudou as práticas económicas
e moldou as estruturas sociais modernas. O estudo da religiosidade é, portanto,
essencial para compreender as diferentes formas de vida social, bem como a sua
evolução. A racionalização das relações sociais é a tendência mais clara presente
nas sociedades ocidentais.

Em todas as religiões baseadas em técnicas de salvação, o Renascimento parece


estar disponível apenas para a elite dos religiosos qualificados. Mas a religião
também pode promover o racionalismo pragmático. Foi o que aconteceu com os
mosteiros católicos cuja prática diária envolvia uma acumulação significativa de
riqueza. A diferença histórica crucial entre as religiosidades salvíficas dominantes
nos universos oriental e ocidental é que a primeira conduz essencialmente à
contemplação e a segunda ao ascetismo.

As atitudes religiosas dos ascetas encorajam as pessoas virtuosas a submeterem-se


aos seus impulsos naturais no sentido de um modo de vida organizado. Para focar
nas obras de salvação, a separação do mundo – incluindo relações familiares,
interesses financeiros, interesses eróticos – pode ser necessária. Atuar nas esferas
mundanas e superar os impulsos naturais torna-se para o asceta uma vocação que
ele deve cumprir racionalmente.

A Igreja é definida por Weber como uma comunidade dominante que utiliza os bens
da salvação através da coerção hierocrática exercida através de uma estrutura
administrativa. Ao contrário de uma igreja – que consiste num grupo de assistentes
permanentes, unidos pessoalmente a um profeta portador de carisma – os clérigos
são pessoas socializadas através da hierarquia administrativa, portanto constituem
uma burocracia.

Em geral, as religiões mais antigas forneciam a teodiceia dos mais abastados. Para
atender às necessidades dos menos afortunados, os mágicos e clérigos começaram
a desempenhar funções mais mundanas de aconselhamento de vida. No caso do
cristianismo, uma explicação racional da história humana foi construída em torno da
figura de um salvador, sendo a humilhação e a abstinência voluntária justificadas
pelo seu papel na salvação.
A salvação não pode ser atribuída às obras. Em vez disso, vem das ações de heróis
em seu estado digno ou de deuses encarnados como humanos. O pecador que
obtém a absolvição através de atos religiosos pode prescindir de uma vida moral-
pessoal metódica. A salvação pela fé não requer domínio mundial e mudança sábia
do mundo.

Duas alternativas são oferecidas para escapar da relação sempre tensa entre o
mundo dos negócios e a moralidade da fraternidade: a ética de trabalho puritana e o
misticismo. O Puritano “negou a universalidade do amor e racionalizou todo o
trabalho neste mundo, como um serviço à vontade das deusas e um teste ao seu
estado de graça”

TENDÊNCIA À RACIONALIZAÇÃO E BUROCRACIA

O mundo resiste inexoravelmente à racionalização em todas as áreas da vida social.


Na sua forma primitiva, todo o esforço que os homens fazem para se alimentar é
muito semelhante ao feito nos animais sob o controle dos instintos. O grau de
prudência na conduta económica guiada pela devoção religiosa. Emoções intensas,
um ímpeto de fé ou outros sentimentos semelhantes não foram muito bem
desenvolvidos.

Dos três tipos puros de governo, legítimo, racional ou legal, é a forma de


organização em que a importância de outras influências, como riqueza, costumes,
família e amigos, é mais diminuída. A burocracia, como tipo ideal, pode organizar o
regime racional-jurídico através de uma superioridade técnica incomparável. Deve
também remover do negócio o “amor”, o ódio e todos os elementos sensíveis
puramente pessoais.

Weber acreditava que a racionalização seria mais evidente nas sociedades onde a
propriedade dos meios de produção fosse coletivizada. Weber liga estes temas e
responde às suas questões mais persistentes e fundamentais sobre o
desenvolvimento do capitalismo no Ocidente na sua obra mais conhecida, A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo.

RACIONALIZAÇÃO E CAPITALISMO

Weber: Em suma, o capitalismo trata da racionalização da vida real. Foi a presença


muito significativa de protestantes de diferentes seitas entre empresários e
trabalhadores qualificados nos países capitalistas mais industrializados. Para os
puritanos, portanto, o esporte também deveria servir a um propósito racional: a
restauração da capacidade do corpo para o trabalho e nunca como entretenimento.

Weber cita máximas publicadas pelo americano Benjamin Franklin em meados do


século XVIII, que servem como expressão do que ele chama de espírito do
capitalismo. O teatro era mal equipado -o que aumentou o ódio e o desprezo de
Shakespeare pelos puritanos-, assim como outras atividades estéticas e artísticas
como poesia, música, literatura e até aquelas relacionadas ao vestuário e decoração
de meninos.

Weber identificou a presença deste conjunto de valores nos Estados Unidos, na


Holanda e na Alemanha e observou que o seu desenvolvimento favoreceu uma vida
económica racional e burguesa. Essa ética leva a trabalhadores disciplinados. E
vice-versa foram os empresários que têm prazer em dedicar-se integralmente à
produção de riqueza. Este espírito levou alguns milionários americanos a optar por
não transmitir a sua riqueza aos filhos como forma de os criar num esforço
produtivo.

O protestantismo permitiu que os primeiros empresários revertessem sua condição


de baixo prestígio social e se tornassem heróis da nova sociedade que se formava.
Weber alerta que estava analisando apenas uma das possíveis relações entre o
protestantismo ascético e a cultura contemporânea. Ele não pretendia contrastar a
sua análise com o materialismo de Marx.

CONCLUSÕES

A possibilidade de compreender a estrutura social como um conjunto de múltiplas


lógicas oferece ricas perspectivas analíticas para sociedades cada vez mais
complexas. As diferenças sociais, os princípios diversificados que as produzem e a
irredutibilidade dos fenómenos sociais são orientações fundamentais para pensar as
sociedades do século XX. As tendências de informatização no comércio, na
indústria, no Estado, nos sistemas financeiros, etc. também podem ser
adequadamente analisadas com os conceitos de burocratização e racionalização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O legado por Marx, Durkheim e Weber não foi desperdiçado. Teoria sociológica
clássica – debatida, interpretada e criticada em instituições acadêmicas e de
pesquisa, bem como em partidos e movimentos políticos. Novas correntes de
pensamento continuam a desenvolver-se, explicitamente afiliadas ou não à
produção marxista ou weberiana.

Marx foi talvez, entre os clássicos, aquele que gerou o debate mais prolífico. A teoria
marxista foi incapaz de resolver o dilema entre o potencial transformador da ação
individual e os limites que lhe são impostos pela estrutura socioeconómica. A sua
afirmação de que “os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem por
vontade própria” pode ser entendida como uma expressão da dificuldade de
integração destes diferentes níveis conceituais.

O modelo dicotômico de classes sociais é um instrumento de análise que se mostrou


incapaz de localizar o amplo espectro de relações sociais que o capitalismo
competitivo já anunciava. A abordagem histórico-materialista, constituída como a
explicação última da vida social, enfatiza um tipo de causalidade que não pode dar
conta da complexidade e da diversidade de certos fenómenos superestruturais.

Weber foi o primeiro a apontar consistentemente esta insuficiência. A ênfase de


Durkheim na coesão social e na solidariedade levou o autor a dar um tratamento
marginal ao tema do conflito, bem como às desigualdades sociais. O determinismo
económico que prevaleceu no marxismo clássico dá lugar a determinações sociais,
culturais e políticas.

Durkheim tentou abordar esta questão do ponto de vista da desintegração dos laços
individuais e sociais. Seu foco foi direcionado para a consideração do
enfraquecimento ou da falta de uma moralidade pressuposta. Afinal, o indivíduo é o
produto de um ser que adquiriu vida própria.

Weber apoia-se no ponto diametralmente oposto ao de Durkheim quando rejeita a


existência de associações ou instituições que tenham qualquer precedência sobre o
indivíduo. Sua proposta metodológica é parte integrante dos avanços mais recentes
da pesquisa sociológica, e os conceitos que ele criou são essenciais para a
compreensão dos processos sociais modernos.
A grandeza e os limites do pensamento weberiano talvez se encontrem no ponto
onde a racionalidade e o carisma, o indivíduo e a história se cruzam. A sociologia –
tanto como busca de soluções para os impasses decorrentes das sociedades
modernas – tem como marca de seu destino buscar incessantemente respostas
para problemas que surgem com o próprio processo de desenvolvimento social.

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