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O Pensamento de Durkheim e Marx

Por Pedro Duarte- Postado em 26 junho 2012


Autores:

Geraldo Amaral

Estudo entre o pensamento de Durkheim e Karl Marx quanto ao objeto da sociologia e


os métodos utilizados pelos mesmos ao abordar a realidade social e posicionamento do
autor ante os dois pensadores na atualidade.

Começaremos nossa análise a partir do objeto de estudo de cada autor, verificando,


desde já, existir entre eles diferenças sensíveis e antagônicas. Enquanto Durkheim
atem-se ao estudo do “fato social”, com a sociedade determinando as ações do
indivíduo, Marx procura entender os movimentos da sociedade tendo como objeto as
“relações sociais” e a “luta de classes” transformando os fenômenos sociais e para
Durkheim a luta entre as classes expressa anormalidade no que tange às relações
sociais.

Utilizando-se do método positivo, apoiado na observação, indução e experimentação é


que Durkheim tenta formular proposições que estabeleçam relações constantes entre
os fenômenos, os chamados “fatos sociais”, a fim de compreender a maneira de agir
fixa ou não do indivíduo, obedecendo a coerção exterior, determinada pela sociedade
sobre o mesmo, implicando, assim, que a sociedade se impõe ao indivíduo, ditando a
ele normas de comportamento, e que a ele compete, apenas, assimilá-las, não
importando se haveria interesses ou motivações individuais que determinassem o “fato
social”, haja vista, para ele ser o todo mais importante do que as partes que o
compõem, sendo cada indivíduo, portanto, apenas um átomo na grande química que é
a sociedade.

Segundo ele, um dos fatores de agregação da sociedade é a “divisão do trabalho”,


tendo em vista a interdependência entre os indivíduos, advinda da mesma, como
consequência das especializações nas tarefas, identificando, aqui, a coerção da
consciência coletiva sobre as consciências individuais.

Os fenômenos que constituem a sociedade têm sua origem na coletividade, onde os


“fatos sociais” são formados pelas “representações coletivas”, através de suas lendas,
mitos, religião, e crenças morais que são legadas de geração para geração,
acrescentadas de experiências e sabedoria acumuladas, sendo assim, de forma muito
particular, infinitamente, mais rica e complexa do que a do indivíduo, reafirmando a
teoria de que a sociedade é que determina o indivíduo.

Mesmo estudando fatos já cristalizados, que para Durkheim, constituem “maneiras de


ser” sociais, tais como: forma de nossas casas, nosso vestiário, a linguagem escrita,
são para ele, realidades exteriores à vontade dos indivíduos, tornando-os, assim, “fatos
sociais”, que possuem ascendência sobre eles, arrastando-os e influenciando-os,
ditando normas e costumes que são internalizados nos indivíduos, através da
educação. Não educamos nossos filhos como queremos, mas sim da forma que a
sociedade admite e propõe, pois muito do que passamos aos mesmos já existia antes
deles.

Se, porventura, tentamos escapar aos ditames de normas pré-estabelecidas, violando


uma regra moral ou desafiando uma lei, verificaremos toda sorte de dificuldades e
obstáculos que nos serão impostos pelos demais membros da comunidade na tentativa
de nos impedir que assim procedamos para que não sejamos punidos, mostrando-nos,
sempre, que estamos diante de algo que nos é superior.

As ideias e os sentimentos coletivos não podem ser modificados ao nosso bel prazer.

A mudança é possível, no entanto, necessário se faz que vários indivíduos, através de


uma ação combinada consigam constituir um novo “fato social”. As resistências àquela
seriam tanto maiores quanto fossem a importância dos valores a serem modificados,
incorrendo, assim, numa batalha feroz de forças antagônicas, visando a consolidação,
ou não, das mudanças pretendidas.

Como já dissemos, antes, segundo o pensamento de Durkheim as instituições são


impostas aos indivíduos, e eles, a elas adere, mesmo que de forma constrangedora,
ainda assim, ele encontra vantagens, tais como as regras morais, que apesar de
coercitivas, a eles se apresentam como coisas agradáveis e desejáveis, embora,
impliquem em deveres que demandam esforço no seu cumprimento. A sociedade tem
vida própria, antecede e sucede aos indivíduos, tal qual um ente superior que
independe deles, possui sobre eles autoridade e ainda que os constranja, ainda assim
eles a amam.

Durkheim defende que o melhor método para se explicar a função do “fato social” na
sociedade, seria através da observação, de maneira semelhante ao adotado pelos
cientistas naturais, levando-se em conta, entretanto, que o objeto do estudo dentro da
Sociologia tem peculiaridades próprias, distintas dos fenômenos naturais. No entanto,
acreditava ele que investigando-se as relações de causa e efeito e regularidade,
poderia se chegar a descoberta de leis, que determinassem a existência de um “fato
social” qualquer e que por conseguinte, determinaria, este, a ação dos indivíduos.

Para ele, os fenômenos coletivos variam de acordo com o substrato social em que
vivem os indivíduos, sendo esse substrato definido pelo território em que os mesmos
vivem e se movimentam, decorrendo daí a comunicação e a interação entre os
mesmos, fatos estes de relevante importância na vida social.

Ao observar um “fato social”, que ele passa a designar como “coisa”, o cientista deve
afastar-se de todo e qualquer conhecimento anterior que ele possua do mesmo,
tomando-o como uma realidade exterior, sem considerar as suas manifestações
individuais, evitando, assim, interferências no resultado da pesquisa a que se propôs.
“Seu papel é exprimir a realidade, não julgá-la”. p. 27 (TÃNIA QUINTANEIRO).

Quanto ao pensamento de Marx, podemos entendê-lo como uma tentativa dele próprio
de compreender a sociedade capitalista através da “luta de classes”, onde a minoria
(capitalista) dita as regras para o viver e pensar da minoria (trabalhadores). A distância
e as contradições cada vez maiores entre os que detêm os instrumentos para a
produção e os que têm apenas sua força de trabalho, constituem, assim, duas classes
básicas, cada vez mais polarizadas, que se transformam no seu objeto de estudo
sociológico.

O conflito antagônico, resultante das desigualdades econômicas destas duas classes


(opressores e oprimidos) é para Marx o ponto chave das sociedades industriais
modernas, onde esses setores opostos, em seu processo de interação, buscam uma
solução para as tensões resultantes de suas diferenças, ainda que exista uma
manipulação de ideias com o único intuito de engrupir o povo, através da alienação
política e cultural, para que este não perceba o vínculo entre o poder econômico e o
poder político que irá influenciar na qualidade de vida de todos.

Desse conflito, podemos destacar o antagonismo existente entre a evolução da


indústria moderna e das ciências, com a criação ou incentivo à criação de máquinas
e/ou tecnologias cada vez mais avançadas, patrocinadas pelos meios de produção
(capitalistas), e em contrapartida a essas novas criações o aumento da miséria e da
decadência do proletariado.

A criação dessas novas máquinas e/ou tecnologias acabariam por substituir a mão-de-
obra empregada, maximizando o lucro dos capitalistas, através da liberação de
pagamento dos encargos inerentes a ela e criando, ainda, um contingente de
desempregados que seria usado como força inibidora de ação, por parte dos que se
mantêm no emprego, de qualquer demonstração de insatisfação com relação às forças
de produção, dificultando, assim, as transformações nas relações sociais entre os
contrários.

Aos detentores dos meios de produção, interessa, sempre, aumentar os lucros para
garantir a manutenção do poder e seu padrão de vida. Os lucros advindos das novas
tecnologias não são traduzidos em renda para os que continuam em seus postos de
trabalho, aumentado, assim, cada vez mais as diferenças entre as classes sociais. O
trabalhador comum, alienado do pensamento político, através da negação, a ele, da
educação escolar, por exemplo, não é mais dono do produto de seu trabalho,
transformando-se em assalariado da propriedade privada, determinando, assim, o
crescimento dos dependentes proletários e sua miséria. Enfim, o crescimento dos
meios de produção não se traduz em melhoria de vida dos trabalhadores. A alienação,
econômica e cultural, produz no trabalhador a alienação política, que só interessa à
classe dominante, para manutenção do status quo.

Para Marx, o grau de desenvolvimento (justiça social) de uma sociedade é medido a


partir das relações sociais que envolvem os meios de produção e as forças produtivas,
levando-se em consideração a “divisão do trabalho” e a interdependência correlata a
esta, através da análise crítica do que produzem e como produzem, determinando,
desta maneira, o ser. O homem, na interação com a natureza e outros homens,
procuram suprir suas carências, determinando o que produzir e como produzir,
provocando a transformação da sociedade, na busca constante por melhores condições
de vida.

“A alienação imputável à propriedade privada dos meios de produção se manifesta no


fato de que o trabalho, atividade essencialmente humana, que define a humanidade (e
criatividade) do homem, perde suas características, já que passa a ser, para os
assalariados, nada mais que um meio de sobrevivência. Em vez do trabalho ser a
expressão do próprio homem, o trabalho se vê degradado em instrumento, em meio
de viver.” Essa é na concepção de Raymond Aron (apud CARLOS ANTÔNIO FRAGOSO
GUIMARÃES) uma das interpretações para o pensamento de Karl Marx.
Para Heráclito de Éfeso, a realidade é um constante devir, onde o contraditório é
presença marcante na explicação do movimento, da transformação das coisas distintas
entre si, porém interrelacionadas, como assim considera a dialética.
E, através da dialética materialista é que Marx tenta explicar a realidade social,
procurando mostrar que não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas,
exatamente o contrário.

Para Marx a pesquisa da realidade social só seria possível se a matéria fosse


investigada em seus pormenores e nas diferentes formas de desenvolvimento, e,
perquirida a conexão que há entre elas, só assim, seria possível espelhar, no plano
ideal, a realidade pesquisada. Assim ele procede na análise minuciosa do modo de
produção do capitalismo, identificando nele os elementos contraditórios, as suas
interdependências, sem esquecer que se trata de uma realidade.

É, então, através dos elementos contraditórios de cada realidade, onde o movimento,


a qualidade e as mudanças são peculiares que o método deve subordinar-se ao objeto,
à matéria estudada.

Apesar de engajar-se numa teoria que ele afirma ser “crítica e revolucionária”, o
próprio Marx alerta que o método por ele usado não significa o estabelecimento da
verdade, até porque não existe verdade objetiva, apenas verdades, e alerta, ainda,
para o fato de sua crítica ao modo de produção capitalista representa “o ponto de vista
do proletariado” assim como a economia clássica representa o “ponto de vista da
burguesia”, mostrando, assim, que ao contrário da metafísica, a dialética é
contestadora, questionadora, exigindo, dessa forma, um constante reexame da teoria
e a crítica prática.

Para Lênin: “marxismo é um guia para ação e não um dogma”.

Finalizando essa exposição, entendo, ser, a sociedade de hoje uma conjugação do


pensamento tanto de Durkheim quanto de Marx, tendo em vista que a vida do
indivíduo em muito é determinada pelos padrões sociais ditados pela classe dominante
(detentora do poder), embasada em dogmas morais, religiosos e de condutas que são
passados de geração para geração, como descreve Durkheim e, de uma forma branda,
como descreveu Marx, posto que o povo continua alienado, alijado dos seus direitos
básicos, como comer, por exemplo, numa luta de classes desleal, tal qual Davi e
Golias, haja vista o desemprego crescente como inibidor de tomada de ações por
aqueles que continuam em seus postos de trabalho, sendo este, cada vez mais
degradado, espoliado, vilipendiado, tornando-se, cada vez mais meio de sobrevivência
para a classe do proletariado que é obrigado a sustentar os lucros, sempre maiores,
solicitados pelo capitalista, eternizando o conflito entre as classes.
BIBLIOGRAFIA

1. QUINTANEIRO, Tania. Um Toque de Clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo


Horizonte. Editora UFMG. 1995. P. 17 a 57 e 64 a 77.

2. GADOTTI, Moacir. Concepção Dialética da Educação: Um Estudo Introdutório. São


Paulo. Editora Cortez. 9ª ed. 1995. P. 15 a 38.

3. GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. Karl Marx: Gênio e Profeta. in


Internet. http://www.terravista.pt/FerNoronha P. 01 a 09.

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