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PPGCOM/UFJF – Doutorado em Comunicação

Nome: Sara Rodrigues de Moraes Bridi


Data: 31/05/2022
Professor: Paulo Roberto Figueira Leal
Disciplina: Processos Simbólicos e Representação Social

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989

FICHAMENTO

1. SOBRE O PODER SIMBÓLICO

O poder simbólico age diretamente nas relações sociais e tem a capacidade de constituir
um dado pela enunciação (discurso), de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou
transformar a visão de mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo. Quanto mais alta a
posição, maior o poder simbólico de determinado sujeito.

“Os ‘sistemas simbólicos’, como instrumentos de conhecimento e comunicação, só


podem exercer um poder estruturante porque são estruturados. O poder simbólico é um
poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica : o
sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)” (p. 9).

“Os símbolos são os instrumentos por excelência da ‘integração social’: enquanto


instrumentos de conhecimento e de comunicação, eles tornam possível o consensus
acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução
da ordem social: a integração ‘lógica’ é a condição da integração ‘moral’” (p.10)

O poder simbólico se define em uma relação entre o que o exercem e os que estão
sujeitos a ele. Por isso ele só se exerce quando se reconhece em um sujeito determinado
poder. Entretanto só se nota de fato as relações de poder é porque ele se enfraqueceu. O
poder simbólico, em seu ápice, não é percebido por moldar nossa mente de forma e se
tornar quase imperceptível.

Diferente de outros tipos de poderes, o poder simbólico estabelece uma definição clara
entre quem exerce e quem é alvo desse poder. O indivíduo aceita o poder exercido por
outro quando crê nas palavras por ele enunciadas (relação de aceitação).
Sistemas simbólicos: conforme são produzidos por um grupo ou por um corpo de
especialistas ou ainda por um campo de produção e de circulação se distinguem.

“as ideologias são sempre duplamente determinadas, - que elas devem suas
características mais específicas não só aos interesses das classes ou das fracções de
classe que elas exprimem (função sociodiceia), mas também aos interesses específicos
daqueles que as produzem e à lógica específica do campo de produção (comumente
transfigurado em ideologia da ‘criação’ ou do ‘criador’)” (p. 13)

2. INTRODUÇÃO A UMA SOCIOLOGIA REFLEXIVA

Questiona o modus operandi da academia, na qual há uma necessidade premente de se


pensar em uma pesquisa acabada e a divisão entre “teoria” e “metodologia”. “Em suma,
a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para se poder tomar a
liberdade de confundir rigidez, que o contrário da inteligência e da invenção, com o
rigor, e se ficar privado deste ou daquele recurso entre os vários que podem ser
oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina” (p.26).

Violência Simbólica

O poder simbólico vai gerar a violência simbólica. É um tipo de ideia imposta aos
agentes sociais que, apesar de forte, não é entendida como natural. Não se trata da
violência física. A violência simbólica é a que causa danos morais e psicológicos. É
exercido por quem detém o poder simbólico. A violência simbólica leva a exclusão de
indivíduos. Assim o que pensamos (ideologia), vestimos (moda), comemos não é algo
imanente e sim uma construção fruto do poder simbólico exercido por gerações. Nossos
desejos são construções sociais. Ex: A questão do aborto seria uma violência simbólica!

3. A GÊNESE DOS CONCEITOS DE HABITUS E DE CAMPO

Conceito de “Habitus”

- Busca colocar um fim à dicotomia indivíduo/sociedade, inserido no contexto de um


estruturalismo construtivista. É a capacidade de uma determinada estrutura social ser
incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir, pensar e agir. Assim não
há como existir uma distinção porque a manifestação das estruturar sociais só pode
acontecer por meio do indivíduo que a introjeta. O que é subjetivo se transforma em
objetivo por meio do sujeito.

O habitus seria uma corporificação do comportamento e da estrutura social estabelecida.


Estaria por trás da sociedade e dos indivíduos.

Movimento dialético de interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade.


Se a sociedade é uma série de estruturas, comportamentos, moral etc, à medida que
crescemos, interiorizamos tudo o que a sociedade representa. Depois de interiorizarmos
essa exterioridade por meio da família, educação, círculo social etc, passamos a
exteriorizar, ou seja, reproduzir o que introjetamos.

Habitus é “um sistema de disposições duráveis, (...) predispostas a funcionar como


estruturas estruturantes, isto é, como princípio gerador e estruturador das práticas e
representações (p. 61). São estruturas (porque estão na sociedade), mas geram
comportamentos, práticas e ações (são estruturantes). Habitus gera práticas
retroalimentadas. Essa estrutura dificilmente é rompida.

Conceito de Campo

Surge primeiro para indicar “uma direção à pesquisa, definida negativamente como
recusa à alternativa da interpretação interna e da explicação externa, perante a qual se
achavam colocadas todas as ciências das obras culturais, ciências religiosas, história da
arte ou história literária” (p.64).

É o lugar onde se expressa o habitus. Cada campo possui um conjunto de regras


estabelecidas que dá a aparência de senso comum ao habitus. Para quem está inserido
no campo, tudo o que está em volta concorda com os indivíduos que o integram (se
parece muito com a ideia de bolha)

O campo pode ser um espaço simbólico de disputas dos habitus (arte popular X arte
erudita, ciências naturais X ciências humanas).

4. LE MORT SAISIT LE VIF – AS RELAÇÕES ENTRE A HISTÓRIA


REIFICADA E A HISTÓRIA INCORPORADA

Bourdieu questiona os parâmetros para a construção da história. “as tomadas de posição


sobre o passado radicam (sendo o exemplo da revolução francesa o mais evidente) em
tomadas de posição latentes sobre o presente ou, mais exatamente, contra os adversários
intelectuais do presente [...]. Além disso, os historiadores nem sempre escapam a uma
forma sutil de mistificação: primeiro porque não só a ambição [...] de ressuscitar o
passado e de restituir o real como também a desconfiança em relação aos conceitos os
incita a utilizarem intensivamente a metáfora, a quel [...] está repleta de mitos; depois,
porque toda sua postura de especialistas das fontes e das origens os leva a situarem-se
na lógica mítica das origens e do primeiro começo” (p.78).

Seria necessário entender a relação entre o habitus, característico de uma classe e a


lógica do campo em que se geram. “A razão e a razão de ser de uma instituição (ou de
uma medida administrativa) e dos seus efeitos sociais, não está na ‘vontade’ de um
indivíduo ou de um grupo mas sim no campo de forças antagonistas ou complementares
no qual, em função dos interesses associados às diferentes posições e dos habitus de
seus ocupantes, se geram as ‘vontades’ e no qual se define e se redefine continuamente,
na luta – e através da luta – a realidade das instituições e dos seus efeitos sociais,
previstos e imprevistos” (p.81).

A construção mítica da história serviria para a reafirmação ou a construção de habitus.


“a ação histórica põe em presença dois estados da história (ou do social): a história no
seu estado objetivado, quer dizer, a história que se acumulou ao longo do tempo nas
coisas, máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias, costumes, direito etc., e a
história no seu estado incorporado, que se tornou habitus” (p. 82).

A relação com o mundo social não seria uma causalidade mecânica meio-consciência,
mas uma cumplicidade ontológica: “quando a história que frequenta o habitus e o
habitat, as atitudes e a posição, o rei e sua corte, o patrão e sua empresa, o bispo e sua
diocese, é a mesma, então é a história que se comunica de certo modo com ela própria,
se reflete nela própria, se reflete ela própria” (p. 83).

5. A IDENTIDADE E A REPRESENTAÇÃO – ELEMENTOS PARA UMA


REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A IDEIA DE REGIÃO

“As lutas a respeito da identidade étnica ou regional, quer dizer, a respeito de


propriedade (estigmas ou emblemas) ligadas à origem através do lugar de origem e dos
sinais duradouros que lhes são correlativos, como o sotaque, são um caso particular das
lutas das classificações, lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer
e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das divisões do mundo social e, por
este meio, de fazer e desfazer os grupos. Com efeito, o que nelas está em jogo é o poder
de impor uma visão do mundo social através dos princípios de di-visão que, quando se
impõe ao conjunto do grupo, realizam o sentido e o consenso sobre o sentido e, em
particular, sobre a identidade e a unidade do grupo, que fazem a realidade da unidade e
da identidade do grupo” (p.113).

Para Bourdieu, é o princípio de di-visão que legitima o mundo social. Dessa forma, as
regiões nada mais seriam que cercados para o exercício do poder simbólico, uma
divisão tácita para evitar confrontos entre os que exercem esse poder.

“A revolução simbólica contra a dominação simbólica e os efeitos da intimidação que


ela exerce tem em jogo não, como se diz, a conquista ou a reconquista de uma
identidade, mas a reapropriação coletiva deste poder sobre os princípios de construção e
de avaliação da sua própria identidade de que o dominado abdica em proveito do
dominante enquanto aceita ser negado ou negar-se (e negar o que, entre os seus, não
querem o não podem negar-se) para se faze reconhecer” (p.125).

“O estigma produz a revolta contra o estigma, que começa pela reivindicação pública do
estigma, constituído assim em emblema – segundo o paradigma do ‘black is beautiful’ –
e que termina na institucionalização do propor produzido (mais ou menos totalmente)
pelos efeitos econômicos e sociais da estigmatização. É, com efeito, o estigma que dá à
revolta regionalista ou nacionalista, não só as suas determinantes simbólicas, mas
também os seus fundamentos econômicos e sociais, princípios de unificação do grupo e
pontos de apoio objetivos da ação de mobilização” (p.125)

Há aqui um diálogo interessante com a ideia de instituição de Berguer e Luckmann,


como também de identidade para Goffman.

“Em resumo, o mercado dos bens simbólicos tem as suas leis, que não são as da
comunicação universal entre sujeitos universais: a tendência para a partilha indefinida
das nações que impressionou todos os observadores compreende-se se se vir que, na
lógica propriamente simbólica da distinção – em que existir não é somente ser diferente
mas também se reconhecido legitimamente diferente e em que, por outras palavras, a
existência real da identidade supõe a possibilidade real, juridicamente e politicamente
garantida, de afirmar oficialmente a diferença – qualquer unificação, que assimile aquilo
que é diferente, encerra o princípio da dominação de uma identidade sobre a outra, da
negação de uma identidade sobre a outra” (p.129).

6. ESPAÇO SOCIAL E GÊNESE DAS “CLASSES”

“Pode se descrever o campo social como um espaço multidimensional de posições tal


que qualquer posição atual pode ser definida em função de um sistema
multidimensional de coordenadas cujos valores correspondem aos valores das diferentes
variáveis pertinentes: os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão,
segundo o volume global do capital que possuem e, na segunda dimensão, segundo a
composição do seu capital – quer dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies
no conjunto das suas posses” (p.135).

Conceito de classe: conjuntos de agentes que ocupam posições semelhantes e que,


colocados em condições semelhantes e sujeitos a condicionamentos semelhantes, têm,
com toda probabilidade, atitudes e interesses semelhantes, logo, práticas e tomadas de
posição semelhantes” (p.136).

É preciso pensar na noção de espaço de relações tão real quanto o espaço geográfico

“Se as relações de força objetivas rendem a reproduzir-se nas visões do mundo social
que contribuem para a permanência dessas relações, é porque os princípios estruturantes
da visão do mundo radicam as estruturas objetivas do mundo social e porque as relações
de força estão sempre presentes nas consciências em forma de categorias de percepção
dessas relações” (p.142).

O mundo social, por meio de propriedades e distribuições, tem acesso ao estatuto de


sistema simbólico que, tal como fonemas, se organiza segundo a lógica da diferença. “O
espaço social e as diferenças que nele se desenham ‘espontaneamente’ tendem a
funcionar simbolicamente como espaço dos estilos de vida ou como conjunto de Stände,
isto é, de grupos caracterizados por estilos de vida diferentes” (p.144).

“A política é o lugar, por excelência, da eficácia simbólica, ação que exerce por sinais
capazes de produzir coisas sociais e, sobretudo, grupos” (p. 159).

*Conceito de Capital: O Capitalismo estaria atrelado ao poder simbólico por constituir


um sistema de exclusão. Há uma distinção clara entre o que detém o capital e, por isso,
exerce poder simbólico, e o que não detém o capital, submetido ao poder. Desenvolve
quatro noções de capital:

 Capital econômico: fatores de produção, patrimônio, renda, bens materiais;


 Capital cultural: obtido na família ou por meio de educação. Entretanto, o fato
de colocar pessoas de diferentes extratos sociais nas mesmas escolas não põe fim
à desigualdade. O pai do aluno rico possui capital econômico, que, por sua vez,
possui o capital cultural. O aluno pobre absorverá um capital cultural de forma
diferente, uma vez que o aluno rico tem a possibilidade de vivenciar
experiências culturais (visitar museus, cidades e culturas em outros países). Se
apresentam em três formas:
o Incorporados no corpo (oralidade – expressão oral).
o Objetivos (quando o indivíduo possui um objeto cultural. Ex: obra de
arte);
o Institucionalizados: obtenção de diplomas e títulos.
 Capital social: recursos produzidos por meio das redes sociais (redes de contato)
do indivíduo. Responsável pela transubstanciação. Geralmente, que possui
capital financeiro e capital cultural, possui capital social. O capital social vai
auxiliar a perpetuar o capital financeiro (indicação a bons empregos,
oportunidades de parcerias etc.)
 Capital simbólico: associado à noção de honra, reconhecimento (etiqueta,
protocolo, rituais). Representação, modelo de excelência (ex.: um pastor/padre/
pai de santo em uma igreja/centro).

“A classe dominante é o lugar de uma luta pela hierarquia dos princípios de


hierarquização: as fracções dominantes, cujo poder se assenta no capital econômico,
têm em vista impor a legitimidade da sua dominação quer por meio da própria
produção simbólica, quer por intermédio dos ideólogos conservadores, os quais só
verdadeiramente servem aos interesses dos dominantes por acréscimo, ameaçando
sempre desviar em seu proveito o poder de definição do mundo social que detém por
delegação; a fracção dominada (letrados ou ‘intelectuais’ e ‘artistas’, segundo a
época) [por sua vez,] tende sempre a colocar o capital específico a que ela deve a
sua posição, no topo da hierarquia dos princípios de hierarquização” (p.12).
Para Bourdieu o poder simbólico que possuímos está diretamente associada a
quantidade de capital que temos. Assim, a sociedade é estruturada em campos que,
por sua vez são formados por habitus. Esses habitus são criados pelo poder
simbólico.

Percebemos a ação do poder simbólico nos comportamentos que são impostos a nós.

7. A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA – ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DO


CAMPO POLÍTICO

“O que faz com que a vida política possa ser descrita na lógica da oferta e da procura é a
desigual distribuição dos instrumentos de produção de uma representação do mundo
social explicitamente formulada: o campo político é o lugar em que se geram, na
concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos,
problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entro os quais
os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de ‘consumidores’, devem escolher, com
probabilidades de mal-entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do lugar de
produção” (p.165).

O habitus político pressupõe uma preparação tal como o religioso e o artístico.

“O político avisado é o que consegue dominar praticamente o sentido objetivo e o efeito


social das suas tomadas de posição graças ao domínio que ele possui do espaço das
tomadas de posição atuais e, sobretudo, potenciais ou, melhor, do princípio dessas
tomadas de posição a saber, o espaço das posições objetivas do campo e das atitudes dos
seus ocupantes: esse ‘sentido prático’ das tomadas de posição possíveis e impossíveis,
prováveis e improváveis (...) é o que lhe permite ‘escolher’ as tomadas de posição
convenientes e convencionadas, e evitar as tomadas de posição ‘comprometedoras’ que
fariam com que se encontrasse com os ocupantes de posições opostas no espaço do
campo político” (172).

O exercício da política partidária e as “lutas” travadas em plenário seria uma forma


sublimada de guerra civil. Ideias acerca do mundo social ficam subordinadas à
conquista do poder. Entretanto, “ a relação entre os vendedores profissionais dos
serviços políticos (homens políticos, jornalistas políticos etc.) mantém com os seus
clientes é sempre mediatizada, e determinada de modo mais ou menos completo, pela
relação que eles mantém com os seus concorrentes. Eles servem os interesses dos seus
clientes na medida em que (e só nessa medida) se servem também ao servi-los” (p.177).

Capital político: Toda organização político-partidária ou sindical necessita de uma


liderança que o incorpore e represente. Para isso, é necessário possuir qualificações
específicas que são a condição de aquisição e da observação de uma boa reputação
(possuidor de capital social) e de conhecimento (capital cultural). Há ainda o capital
pessoal, chamado por Max Weber de “carisma”. Ao contrário do capital pessoal, o
capital delegado da autoridade política é limitado e provisório.

“A aquisição de um capital delegado obedece a uma lógica muito particular: a


investidura – ato propriamente mágico de instituição pelo qual o partido consagra
oficialmente o candidato oficial a uma eleição que marca a transmissão de um capital
político, tal como a investidura medieval solenizava a ‘tradição’ de um feudo de bens de
raiz – não pode ser senha a contrapartida de um longo investimento de tempo, de
trabalho, de dedicação, de devoção à instituição” (p. 192).

8. A FORÇA DO DIREITO

“Os efeitos que se geram no seio dos campos não são nem a soma puramente aditiva de
ações anárquicas, nem o produto integrado de um plano concreto. A concorrência de
que eles são produto exerce-se no seio de um espaço que pode imprimir-lhe tendências
gerais, ligadas aos pressupostos inscritos na própria estrutura do jogo de que eles
constituem a lei fundamental, como, neste caso em particular, a relação entre o campo
jurídico e o campo do poder. A função de manutenção da ordem simbólica que é
assegurada pela contribuição do campo jurídico é (...) produto de inúmeras ações que
não têm como fim a realização desta função e que podem mesmo inspirar-se em
intensões opostas” (p.254).

9. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ANOMIA

Arte acadêmica – restrita, cercada por referenciais a serem seguidos e passados adiante,
formava mestres e não artistas, submetida a submissão à instituição escolar que, junto
com o Estado, garantem o valor desses pintores. A crítica a quem provoca uma
revolução simbólica, suscita os críticos a evocarem princípios puramente acadêmicos. O
desvio dos impressionistas, por exemplo, aos preceitos era juntamente a oposição a
tornar a obra impessoal, universal e apresentável. Mesmo os críticos mais abertos à
novidade, buscavam interpretar as obras a partir de princípios antigos. Mas a “ruptura
com o estilo acadêmico implica a ruptura com o estilo de vida que ele supõe e exprime”
(p.272).

O modelo: do nomos à institucionalização da anomia

“Através da academia e dos seus mestres, o Estado impõe o princípio de visão e de


divisão legítimo em matéria de representação figurada do mundo, o nomos artístico que
rege a produção das imagens legítimas (por meio da produção de produtores legitimados
para produzirem estas figurações). Este princípio é, por ele próprio, uma dimensão do
princípio fundamental de visão e de divisão legítimo que o Estado, detentor do
monopólio da violência simbólica legítima, tem o poder de impor universalmente nos
limites da sua alçada” (p. 275).

Produtores de obra de arte estabelecem concorrência e aparecem como uma ameaça à


academia pelo excesso de produção. Mas esse universo de produtores a deixar de ser
hierarquizado pelo corpo, passa a constituir um novo campo – essa constituição é uma
institucionalização da anomia.

10. GÊNESE HISTÓRICA DE UMA ESTÉTICA PURA

“a questão do sentido e do valor da obra de arte, tal como a questão da especificidade do


juízo estético e todos os grandes problemas da estética filosófica só podem achar a sua
solução numa história social do campo associada a uma sociologia das condições da
constituição da atitude estética especial que o campo exige em cada um dos seus
estados” (p.287).

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