Você está na página 1de 15

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

Mapeamento sobre os estudos de websérie em língua portuguesa:


de 2016 a 20201

João Paulo HERGESEL2


Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP

RESUMO

As definições de websérie caminham por abordagens que se distinguem


significativamente. O objetivo deste trabalho foi atualizar os conceitos existentes para o
formato, atentando-se para as possibilidades tangíveis no cotidiano hipermidiático e as
colisões com produtos semelhantes. Para isso, fez-se uma pesquisa de estado da arte
considerando os últimos cinco anos (de 2016 a 2020), a fim de complementar a
fundamentação teórica inicialmente composta por autores como Romero e Centellas
(2008), Jenkins (2009) e Aeraphe (2013). Os resultados apontaram um interesse muito
forte no estudo das relações entre a websérie e a televisão, bem como uma motivação
entre graduandos para teorizar e praticar o formato. Considerou-se, por fim, que há a
necessidade da serialização e da veiculação on-line para constituição de uma websérie,
mas problematizou-se a exigência do modo narrativo e da linguagem audiovisual.

PALAVRAS-CHAVE: audiovisual; ficção seriada; websérie; estado da arte.

INTRODUÇÃO

O que são webséries? Se fôssemos analisar de modo generalista e superficial,


diríamos que são as séries produzidas para a internet. Essa definição, no entanto, é
abrangente a ponto de incluir uma totalidade de produções para sites de vídeos, redes
sociais e plataformas de streaming. O grande problema é que as séries apresentadas nesses
veículos são bastante distintas entre si, tanto em termos estruturais como de conteúdo,
tanto em aspectos estéticos quanto de público.
Em 2013, durante um primeiro estado da arte sobre o tema, cujo formato ainda
resultava em pesquisas escassas no Brasil, entendíamos a websérie como algo muito
voltado à produção independente, à relação entre arte e vídeo, à experimentação pelos
recursos audiovisuais, à liberdade na escrita de roteiros, à participação do jovem como
produtor de conteúdo (HERGESEL, 2013). Sem uma definição clara ou conceito inicial,

1 Trabalho apresentado no GP Ficção Seriada, XXI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento
componente do 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
2 Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguagens, Mídia e Arte da PUC-Campinas. Doutor em

Comunicação (UAM), com pós-doutorado em Comunicação e Cultura (Uniso). Membro do grupo de pesquisa
Entre(dis)cursos: sujeito e língua(gens). E-mail: joao.hergesel@puc-campinas.edu.br.

1
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

tateávamos em fontes geralmente documentais, como jornais de notícias e revistas de


circulação, e em autores que também estavam iniciando os estudos nesse campo ainda
não colonizado.
Em 2016, com o avanço das pesquisas, já trabalhávamos com o conceito de que a
websérie é a “narrativa midiática produzida, prioritariamente, em linguagem audiovisual,
de maneira serializada, cujos episódios ficam disponíveis para acesso nos espaços on-line
passíveis de circulação, especialmente os sites de armazenamento de vídeos”
(HERGESEL, 2016, p. 1). Atribuíamos ao formato uma inspiração nas séries televisivas
e acreditávamos que ela “mesmo com baixo orçamento – o que pode vir a limitar a edição
dos episódios e a quantidade de temporadas – e com audiência incerta, costuma apresentar
uma harmonia entre história e trama, voltada para entreter o espectador” (HERGESEL,
2016, p. 1).
Já no ano seguinte, esse conceito nos pareceu superado, considerando a gama de
material que surgia por diferentes meios, tanto gratuitos como pagos. Concluímos, nessa
época que, “não nos parece justo [...] determinar um conceito fechado ou uma definição
imaleável para o que seria uma websérie, visto que essa forma de manifestação encontra
na flexibilidade sua principal característica” (HERGESEL, 2017, p. 13). A reabertura das
possibilidades de compreensão do formato se justificada no fato de que:

É a websérie que dá voz tanto aos produtores independentes como às grandes


fabricantes de audiovisual; é a websérie que aborda desde temáticas
comumente retratadas a experiências inovadoras envolvendo som e imagem; é
a websérie que possibilita o acesso de diferentes tribos, de diferentes gostos, a
um material que visa ao entretenimento, à informação e à valorização da
cultura brasileira. (HERGESEL, 2017, p. 13).

Em um estudo mais recente, datado de junho de 2021, vimos a necessidade de


defender uma ideia geral, para dar continuidade aos procedimentos analíticos de objetos
que denominávamos como websérie. Por esse motivo, propusemos, de modo bem amplo,
que “a principal característica da websérie é que ela é pensada, criada e desenvolvida para
a internet, com finalidade para reprodução em aparatos de tecnologia emergente, como
computadores, tablets, celulares e, mais recentemente, relógios digitais” (HERGESEL;
SILVA; PICHIGUELLI, 2021, p. 6).
Para não nos perdermos na elasticidade conceitual, defendemos, naquele
momento, que parecia mais interessante “pensar nas possibilidades de estudos a respeito
das potências comunicacionais, das transformações narrativas, da constituição poética, da

2
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

relação com o contexto, das possibilidades inter/extra/trans/hipertextuais” (HERGESEL;


SILVA; PICHIGUELLI, 2021, p. 6). A busca por uma definição, um conceito ou, ao
menos, uma ideia mais segura para o formato se manteve e, para dar um novo passo nesse
sentido, foi necessário atualizar o estado da arte.
Espelhando-nos no que foi apresentado nessas pesquisas anteriores, realizamos
um mapeamento bibliográfico considerando os últimos cinco anos (de 2016 a 2020) 3,
período não contemplado pelas publicações anteriores. O objetivo deste trabalho,
portanto, foi atualizar o conceito de websérie, atentando-se para as possibilidades
tangíveis no cotidiano hipermidiático e tendo em conta as colisões provocadas com as
séries televisivas disponibilizadas na internet, as séries de streaming e outras formas de
se produzir narrativa audiovisual seriada no contemporâneo.

WEBSÉRIES: O QUE JÁ SABEMOS SOBRE ESSE FORMATO?

As webséries – ainda se considerando a ideia abrangente de narrativas


audiovisuais seriadas produzidas para a internet e consumidas no universo da hipermídia,
trazida por autores como Silva e Zanneti (2013) – são fenômenos recentes no Brasil, tanto
em caráter acadêmico como mercadológico. A primeira websérie de que se tem
informação é datada do final dos anos 1990, nos Estados Unidos, quando o espaço
cibernético começou a se tornar popular no país. Já em território nacional, as experiências
com esse formato de ficção seriada têm ainda menos tempo; desconhece-se, por exemplo,
a existência de webséries produzidas antes de 2010.
As pesquisas em torno do formato, mesmo em abrangência internacional, tiveram
início somente nos anos 2000, tendo como possível ponto de partida as discussões de
Romero e Centellas (2008) e de Jenkins (2009), com as noções de participação e
convergência. Ao direcionar tal assunto para o Brasil, por mais que Weller (2000) já
falasse num possível “hiperseriado”, somente com a publicação do livro de Aeraphe
(2013) é que a academia passou a olhar para esse objeto.
Hoje temos acesso a diversas definições de websérie, com abordagens que se
distinguem drasticamente entre os autores: para alguns, como Wodevotzky (2015), a
websérie se solidifica a partir do momento em que uma narrativa seriada se coloca
disponível em uma plataforma on-line; para outros, como Barbosa (2013) e Peixoto

3O processo de coleta e organização do levantamento bibliográfico contou com o apoio de Gabriela Ferreira da Silva,
estudante de Ensino Médio do Colégio de Aplicação Pio XII. Bolsista PIBIC-EM/CNPq.

3
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

(2014), o que caracteriza a websérie é ter uma ação transmídia, isto é, a possibilidade de
estender narrativas de/para outras mídias convencionais e/ou emergentes; já para outros,
como Souza e Cajazeira (2015), é fundamental que estejam presentes aspectos exclusivos
da hipermídia, como links e interações, para que o formato se constitua de fato.
Para fins de ilustração, Weller (2000) denomina “hiperseriado” a produção
audiovisual de temática multidisciplinar que depende de elementos hipertextuais para
existir. Ainda nessa vertente do uso dos recursos da hipermídia, Romero e Centellas
(2008) idealizam a participação ativa da audiência no andamento da história, bem como
Figueiredo e Lins (2015) assumem a ideia de interação para a construção progressiva da
narrativa. Nessa linha de raciocínio, Álvarez (2011) sinaliza a necessidade de uma
abertura para facilitar a comunicação entre espectadores e produtores.
Em complementação, López Mera (2010) e König (2014) defendem o espaço para
experimentação e produção independente, assim como Santiago e Domingues (2015)
dialogam sobre a autonomia e a capacidade criativa da Geração Y e a amplitude do
movimento Do It Yourself (“faça você mesmo”). Schneider (2009) também considera o
formato como forma de explorar o audiovisual via streaming, ao passo que Lemos (2009)
destaca a relevância da segmentação, direcionando o produto para nichos específicos, em
vez de trabalhar com um público genérico, como na televisão.
Já para Aeraphe (2013) e Bélanger (2014), o contexto, a programação, a estética
e a serialização da websérie são as mesmas das telenovelas e séries de TV. Essa
aproximação se deve, para Jenkins (2009), porque a websérie surgiu da convergência
entre televisão e internet, como um modo de resgate do público jovem, que já não rendia
audiência para a mídia mais convencional. Nessa mesma linha de raciocínio, Altafini e
Gamo (2010), Hernández García (2011) e Ramos e Neves (2015) apontam que essa fusão
é um desdobramento transmidiático, além de Morales Morante e Hernández (2012)
argumentarem sobre a retroalimentação de conteúdo.
Essa diversidade de olhares sobre um mesmo formato, sem teorias específicas nem
definições exatas, acarreta a dificuldade de se pesquisar o fenômeno. Para Silva e
Holzbach (2019, p. 43), “por [as webséries] estarem espraiadas na rede, é difícil
acompanhar tanto o seu surgimento e desenvolvimento quanto a maneira como a
audiência lida com elas”. O interesse por observar como as webséries vêm sendo
entendidas nas pesquisas mais recentes justifica a realização deste trabalho.

4
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

PROCEDIMENTOS DA PESQUISA EXPLORATÓRIA

As pesquisas de estado da arte, segundo Ferreira (2002, p. 258), vêm com o


objetivo “de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos
do conhecimento”. Para a realização deste trabalho, concentramo-nos no método da
pesquisa exploratória, definida por Brasileiro (2021, p. 44) como aquela que “visa tornar
determinado fenômeno mais familiar e ajudar o pesquisador a construir hipóteses” e na
qual “o pesquisador faz levantamento bibliográfico, sondagem e observação”.
O percurso metodológico para a coleta pode ser descrito em seis passos: 1)
acessou-se o Google Acadêmico; 2) digitou-se a palavra-chave “websérie” na barra de
pesquisa; 3) habilitou-se a barra lateral; 4) clicou-se em “Pesquisa avançada”; 5)
preencheu-se o formulário de busca da seguinte forma: a) em “Encontrar artigos com
todas as palavras”, escreveu-se “websérie”; b) em “onde minhas palavras ocorrem”,
selecionou-se “no título do artigo”; c) em “Exibir artigos com data entre”, digitou-se
“2016” – “2020”; d) clicou-se no ícone da lupa para pesquisar; 6) nos filtros do
mecanismo, escolheu-se “Pesquisar páginas em Português” e desabilitou-se a
possibilidade de “incluir patentes” e “incluir citações”.
A coleta ocorreu na primeira quinzena de fevereiro de 2021, com refinamento até
a primeira quinzena do mês de março, para então ser discutida até o mês de agosto do
mesmo ano. As publicações localizadas foram compiladas em forma de planilha,
reunindo título do trabalho, nome dos autores e link para acesso, bem como foram feitas
leituras exploratórias para a categorização dos trabalhos. A partir de então, foram
selecionados para estudo somente os trabalhos que propunham um conceito ou definição
para o formato websérie.

RESULTADOS QUANTITATIVOS

A pesquisa retornou 60 resultados, sendo dois duplicados e um fora da temática.


Dos 57 trabalhos válidos, optou-se por organizá-los de acordo com o gênero textual a que
pertencem (Quadro 1), obtendo-se assim: 24 trabalhos de conclusão de curso; 13 artigos
científicos publicados; 9 textos em anais de eventos acadêmicos; 5 dissertações de
mestrado; 1 capítulo de livro científico-acadêmico; 4 resumos acadêmicos; além de 1
portfólio de vídeos, considerado outro tipo de produção intelectual.

5
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

Quadro 1 – Coleta de trabalhos científico-acadêmicos sobre webséries (2016 a 2020).


TÍTULO DO TRABALHO AUTOR(ES) LINK
TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO
A culpa não é dela: a websérie na construção
Andressa Machado
narrativa de histórias de violência de gênero em https://bit.ly/3qtHfWR
Silveira
Uruguaiana
Análise da aplicabilidade da jornada do herói na João Vitor Pereira da
https://bit.ly/3dr9X7b
roteirização da websérie Eu brifo, tu brifas Costa
Análise e aplicação de metodologias de design Sérgio Paulo Delgado
https://bit.ly/3qsnAGT
de som: estudo de caso websérie Cocun Fernandes
Batalha Mina: websérie sobre as batalhas Isis Aisha Dias Aires
https://bit.ly/37mbKq0
femininas de rap do Distrito Federal Prado
Circênicos pelo mundo: websérie Arthur Lopes Marques https://bit.ly/3u59sFr
Criação de um modelo de estrutura narrativa para
Augusto Victor Reis
websérie animada: padronização da produção https://bit.ly/2NckXKN
Vieira Santos
para controle do tempo
Digital: websérie sobre influenciadores digitais Júlia Sá Rodrigues https://bit.ly/3dxMzoD
Maria Isabel Nóbrega
Direção de arte websérie Eixos https://bit.ly/3dlsaTm
Paganine
Do lado de cá: RP, Unesp e o que vem depois:
websérie sobre a experiência dos formandos Caio de Michel e Silva https://bit.ly/3priM37
2016
Carolina Forattini Altino
Eixos: criação de uma websérie https://bit.ly/3u9hE7Y
Machado Lemos Igreja
Ester: uma websérie experimental para o Nayara Cristinne Pinto
https://bit.ly/2NzsPWm
Instagram Barcellos
Eu brifo, tu brifas: A produção de uma websérie Francine Nunes de Lima
https://bit.ly/3u7gGsv
publicitária sobre publicidade Lima
Massa em conexão: uma websérie observativa-
Luis Felipe do
participativa sobre educomunicação para https://bit.ly/3ar9EXM
Nascimento
comunidades de periferia
Pirâmide Cósmica: a bíblia de uma websérie Michael Felipe Souza
https://bit.ly/2ZqpOud
transmídia Araújo
Projeto Arcano: construção de um universo
ficcional e produção de um trailer em animatic Luciana Novaes Miranda https://bit.ly/3ptOYD1
para uma websérie
Débora Gizele Candido
Relatório de produção websérie Ela faz… https://bit.ly/2Zmu4Lx
Machado
Vórtice: a criação de uma websérie de ficção da Marcos Amaral de
https://bit.ly/3u1dKxT
Universidade Federal de Santa Maria Oliveira
Vórtice: a criação de uma websérie de suspense
Pedro Amaral de Oliveira https://bit.ly/3dmcaAK
da UFSM e a direção do primeiro episódio
Websérie Cinese: produção jornalística
Giseli Pereira Alves https://bit.ly/3dksK3H
audiovisual especializada no cenário evangélico
Ana Clara Ferreira Franco
Websérie Delas de Toledo; Mayara Bailo https://bit.ly/2NwhGWr
Gomes
Websérie documental Você me vê SP: a
Isabel Flavia da Silva;
experiência estética do artivismo e suas
Naiara Aparecida Alves https://bit.ly/2NvTCmK
mediações culturais na ocupação do espaço
Teixeira
urbano paulistano
Websérie Eixos: uma análise sobre a perspectiva Ana Paula da Fonseca de
https://bit.ly/3b7IIM0
da produção Souza
Websérie O que há no menu?: contando uma José Antônio de Souza
https://bit.ly/3s64LcV
história na web Buere Filho
Websérie: castração animal como incentivo ao
Claudiany Wagner Schutz https://bit.ly/3u7WSFu
controle populacional de cães e gatos

6
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

ARTIGOS CIENTÍFICOS
A websérie Dark como artefato da cultura
histórica: a estrutura de sentimento dos jovens
Marcelo Fronza https://bit.ly/2Nza1a1
relacionada aos conflitos sociais e ambientais na
perspectiva da ficção científica
A websérie: um mapeamento bibliográfico
João Paulo Hergesel https://bit.ly/3anOfyN
acerca desse formato narrativo
Análise de relações internacionais: a websérie
Tiago Viesba Pini Inácio https://bit.ly/2NCvwq8
The Crown da Netflix e as RIs
Blank Verse: a história e as histórias de William Manoela Sarubbi Henares
https://bit.ly/2LW4gTa
Shakespeare traduzidas em websérie Figueiredo
Cinema autodidata: mistério, fetiche e violência Rafael de Figueiredo
https://bit.ly/2NcPb0c
na websérie Penumbra Lopes
Do brega paraense ao tecnobrega: história e
Rafael José Azevedo https://bit.ly/3jVE9rY
tradição na websérie Sampleados
Jessica Jones: remediação das graphic novels Jailda Passos Alves;
https://bit.ly/3pqaicA
para a websérie Juliana Cristina Salvadori
Lydia Bennet na websérie The Lizzie Bennet
Diaries e no romance Pride and Prejudice: a Daiane da Silva Lourenço https://bit.ly/2NwBFo7
adaptação como processo dialógico de mão dupla
Christina Ferraz Musse;
Narrativa e animação: representações da
Isabella de Sousa https://bit.ly/3b62BTu
maternidade na websérie Conception
Gonçalves
O humor irônico dos contratempos políticos na
Carla Montuori Fernandes https://bit.ly/3doo0tY
websérie Porta dos Fundos
Orgulho e Preconceito em mídias sociais: a
adaptação de elementos narrativos para uma Daiane da Silva Lourenço https://bit.ly/3s1HSai
websérie
Francisco Sérgio Lima de
Vozes minoritárias na websérie Cartas urbanas
Sousa; Márcia Vidal https://bit.ly/2Nv4QrW
do Coletivo Nigéria em Fortaleza
Nunes
Websérie na escola: proposta para a utilização de
Rabbits (David Lynch, 2002) nas aulas de João Paulo Hergesel https://bit.ly/3qwsbHV
interpretação de textos não verbais
TEXTOS EM ANAIS DE EVENTO
A produção de conteúdo da websérie Girls In
The House no YouTube e as suas intersecções Kim Gesswein https://bit.ly/3qu901x
com a televisão fechada
A websérie na construção narrativa de histórias Andressa Silveira; Eloisa
https://bit.ly/2LXfIOp
de violência de gênero em Uruguaiana Joseane da Cunha Klein
Breno Pessoa de Araujo;
Dos signos sonoros aos significados espaciais: Jefferson Weyne Castelo
https://bit.ly/3qu8PmT
uma análise semiótica da websérie O Demolidor de Oliveira; Diego Frank
Marques Cavalcante
Daniele Teixeira Gonzaga,
Afonso Silva Lemos,
É bem capaz! A websérie como um registro
Mariana de Carvalho https://bit.ly/3dhk2n3
contemporâneo das lendas amazônicas
Machado; Edilene Mafra
Mendes de Oliveira
Folkmarketing, branded content e discurso
Marianne Silva Freire;
publicitário: narrativas híbridas na websérie Luiz https://bit.ly/2ZnFmyT
Henrique Pereira Rocha
Gonzaga do Grupo Boticário
João Paulo Hergesel;
Midiatização da religião na ficção seriada
Isabella Pichiguelli;
infantojuvenil: narrativa e estilo na websérie -10 https://bit.ly/3jW1OIR
Míriam Cristina Carlos
| A vida não é um jogo (Feliz7Play)
Silva

7
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

Narrativa e animação: representações da Isabella Gonçalves,


https://bit.ly/3u1euDb
maternidade na websérie Conception Christina Musse
O sonoro como ferramenta de imersão em
Helena Amaral; Carlos
narrativas ficcionais: análise da websérie Se eu https://bit.ly/37mDURU
Pernisa Júnior
estivesse aí
Possibilidades e limites do protagonismo das
Francisco Sérgio Lima de
minorias na websérie Cartas Urbanas, do https://bit.ly/3u0dTS9
Sousa
coletivo Nigéria, em Fortaleza
DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
Aonde você vai, maçariquinho?: produção de
websérie em desenho animado para divulgação Ângela Tamires
https://bit.ly/3pANaZ3
das neurociências e processos migratórios de Nascimento Alexandre
aves marinhas
Desbravar novos mundos: experimentando a
Aislan de Paula Ferreira
potencialidade da websérie animada na https://bit.ly/3berDQp
da Silva
divulgação de conceitos da Neurociência
É uma verdade universalmente conhecida que
nem tudo é verdade: estudo do universo narrativo Moreira, Mariana
https://bit.ly/3jUFZJG
e paratextual da websérie The Lizzie Bennet Gonçalves
Diaries
O marketing social como estratégia de mudança
de comportamentos discriminatórios face à Mariana Soares de Barros
https://bit.ly/3jWXwRz
comunidade LGBT: o caso da websérie Casa do Gaspar
Cais
Quando as minorias falam: os personagens da
Francisco Sérgio Lima de
websérie Cartas Urbanas, do Coletivo Nigéria, e https://bit.ly/3s27bcw
Sousa
suas construções de sentido sobre a obra
RESUMO ACADÊMICO
Do documentário à websérie Jennifer Thereza Bueno https://bit.ly/3arEbF9
Websérie documental: Bicicleta, em busca de
Natanny Carvalho Silva https://bit.ly/2NtcR05
mais espaço e menos obstáculos
Websérie documental sobre a representatividade
Bruna de Oliveira Ferreira https://bit.ly/3aqcXyw
da mulher no hip hop em Curitiba
Bruno Olivatto; Elaine
Websérie Fala Preta: Vozes do Presente –
Amazonas Alves dos https://bit.ly/3ptOaxZ
Mulheres que inspiram mulheres
Santos; Edilene Santana
CAPÍTULOS DE LIVRO
A produção de conteúdo audiovisual para a web: Diana Xavier Coelho;
https://bit.ly/3pskPUy
circulação e consumo da websérie SEPTO Juciano de Sousa Lacerda
OUTRA PRODUÇÃO INTELECTUAL (PORTFÓLIO DE VÍDEOS)
Denny William da Silva et
Websérie Educação Ambiental https://bit.ly/37DB3Er
al.
Fonte: Elaboração própria.

Se comparado com mapeamentos e revisões bibliográficas realizadas em épocas


anteriores (HERGESEL, 2013; 2016), houve um aumento explosivo nas produções
brasileiras sobre websérie. Chama a atenção o número de TCCs produzidos sobre o tema,
oriundos de diferentes cursos e de variadas instituições, sugerindo um interesse maior
pelo tema nos pesquisadores mais jovens. Muitos desses, inclusive, apresentando uma
produção prática para além da teórica.

8
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

Todos os trabalhos selecionados foram acessados e, por meio de uma leitura


direcionada, verificou-se a fundamentação teórica de cada um deles – excluídos os
resumos e o portfólio – para saber quais traziam definições próprias para “websérie”
(ainda que inspiradas por outros autores), quais se restringiam a mencionar alguma
definição já publicada por outro autor e quais abordavam o formato sem discuti-lo, ainda
que minimamente. A partir dessas leituras, seguida de fichamento e recensão breve,
propôs-se um entrecruzamento de informações.

RESULTADOS QUALITATIVOS

Alguns trabalhos adotam definições bastante breves para o formato websérie,


como é o caso de Costa (2018, p. 33), ao apontar que “a websérie é mais um dos novos
formatos de mídia que surge no final dos anos 2000, devido [à] ascensão da internet[,]
com intuito de engajar os consumidores através do entretenimento”. De modo ainda mais
sucinto, Paganine (2017, p. 10) utiliza uma nota de rodapé: “Websérie é definida como
uma narrativa audiovisual seriada distribuída em uma plataforma on-line”. Na linha das
definições curtas, está a de Sousa (2017, p. 18): “Conceito usado para uma produção
audiovisual dividida em episódios, que são lançados na Internet”.
Silva (2019, p. 27), embora com uma descrição mais alongada, também traz uma
visão generalista, entendendo a websérie como “uma mídia ou formato derivada[o] do
audiovisual, que surgiu com o advento da Internet, com o objetivo de construir e expor
narrativas”. Para a autora, “ela pode ser disponibilizada em plataformas abertas e de
acesso gratuito, como YouTube ou Vimeo e/ou sites projetados especificamente para tal
produto, além de mídias físicas como DVDs” (SILVA, 2019, p. 28).
Barcellos (2017, p. 13), por sua vez, faz uma contextualização sobre a serialização
nos produtos televisivos, com base nos estudos de Arlindo Machado, e explica que “no
caso da websérie, temos uma estrutura parecida, porém esse produto tem como finalidade
a circulação em meio cibernético, podendo ter ou não fins comerciais”. Para a autora, “a
websérie possui uma série de características próprias, que a difere da série produzida para
a televisão”, dentre as quais pode-se mencionar “linguagem e enquadramentos
diferenciados que formam uma estética distinta dos conteúdos televisivos e
cinematográficos, adequando-se para essa nova mídia” (BARCELLOS, 2017, p. 13).
Lima (2018, p. 10) também explora essa relação entre televisão e internet,
definindo a websérie como

9
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

[...] um produto audiovisual seriado, tanto de ficção quanto de não ficção,


criado para ser veiculado na internet e sendo assim, construído de acordo com
as características da linguagem digital, mas que também absorve aspectos da
narrativa seriada televisiva.

Nessa linha de raciocínio, Silveira (2018, p. 22) entende a websérie como um


“modelo de audiovisual baseado em um formato já conhecido na televisão, o das séries,
que normalmente são transmitidas em canais de televisão ou em plataformas de vídeo sob
demanda”. Para ela, “as séries possuem um padrão mais rígido justamente por terem
veiculação na TV, enquanto [as] webséries são mais flexíveis, podendo adequar-se [em]
tamanho e formato por terem sua veiculação no meio digital” (SILVEIRA, 2018, p. 22).
Lourenço (2019b, p. 127) também comenta essa relação, considerando a websérie
“uma produção audiovisual seriada distribuída no ciberespaço que apresenta traços de
algumas produções televisivas (novelas, minisséries, séries)”. A autora complementa que
“foi adequada para o contexto das plataformas on-line, com mudanças em sua produção
e distribuição, e feedback imediato dos espectadores” (LOURENÇO, 2019b, p. 127).
Também discutindo as aproximações com os produtos televisivos Coelho e
Lacerda (2020, p. 49) esclarecem: “Por websérie compreendemos as produções
audiovisuais seriadas criadas especificamente para veiculação na internet e
disponibilizadas em espaços on-line de circulação”. Os autores também explicam:
“Assim, séries criadas inicialmente para o segmento de TV que, em seguida, são
disponibilizadas na rede não se enquadrariam nesse conceito” (COELHO; LACERDA,
2020, p. 49).
Com uma visão mais separatista, distanciando a websérie da televisão
convencional, Rodrigues (2018, p. 12) diz que “webséries são produções audiovisuais
seriadas distribuídas exclusivamente pelo meio web e que apresentam característica de
repetitividade, podendo ter divisões de episódios e temporadas”. Na defesa da autora,
“por estarem no meio web, possuem características específicas quanto [à] duração de cada
episódio e o formato que o produto pode ser apresentado, encontrando-se em plataformas
digitais de vídeos para sua exibição e distribuição” (RODRIGUES, 2018, p. 12).
Toledo e Gomes (2017, p. 15) contribuem com a discussão ao discorrerem sobre
o público consumidor do formato websérie, que, em sua visão “tem se direcionado
majoritariamente ao público adolescente e jovem”. Segundo as autoras, esse público,
“além de dominar as funcionalidades da internet, está familiarizado com a narrativa rápida

10
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

dos episódios, diferentemente das gerações anteriores, que cresceram acostumados com
o desenrolar mais lento dos folhetins televisivos” (TOLEDO; GOMES, 2017, p. 15).
Para Schutz (2018, p. 16), que traz uma aproximação entre a websérie e o
jornalismo, “a websérie é um dos formatos de produção jornalística que, atualmente,
dialoga com as inovações tecnológicas, como por exemplo o ambiente on-line”. De
acordo com a autora, “a inovação digital se faz presente no jornalismo e transforma os
meios de comunicação em novas relações com o público” (SCHUTZ, 2018, p. 16).
Silva e Teixeira (2017, p. 30), ao se dedicarem ao estudo das webséries
documentais, defendem que a “websérie preserva todas as fundamentações do
documentário tradicional, porém há uma imersão no cenário de convergência midiática,
possibilitando dinamismo ao filme. As principais diferenças estão na veiculação on-line”.
De acordo com as autoras, “ao contrário das produções cinematográficas com alto custo
e transmissão restrita ao público, reunindo-o em um único local de distribuição, como
salas de cinema, a veiculação on-line permite o compartilhamento difuso do produto”
(SILVA; TEIXEIRA, 2017, p. 30).
Fronza (2019, p. 19), com base nos estudos de Raymond Williams, explica que
“as webséries são artefatos da cultura histórica que expressam as estruturas de sentimento
de uma comunidade relativa ao seu passado”. Para o autor,

[...] artefatos culturais como as webséries em serviços de streaming são


expressões dessa estrutura de sentimento porque incluem “enfoques e tons
característicos da argumentação”, pois são acessíveis à comunicação
documentada de onde se extrai o “sentido vital real” na comunidade profunda
que faz possível a comunicação. (FRONZA, 2019, p. 19).

Alves (2017), Azevedo (2017), Cavalcante (2017), Oliveira (2017), Prado (2017),
Silva (2017), Souza (2017), Buere Filho (2018), Nascimento (2018), Alexandre (2019),
Araújo (2018), Figueiredo (2019), Gaspar (2019) e Oliveira (2019) não trazem uma
definição com as próprias palavras, mas têm como suporte conceitos de outros autores,
muitos mencionados no início deste artigo. Hergesel (2018) traz o mesmo conceito de
Hergesel (2016), e Hergesel, Silva e Pichiguelli (2019) trazem a mesma ideia registrada
por Hergesel, Silva e Pichiguelli (2021) – ambos presentes na introdução deste trabalho.
Alves e Salvadori (2016), Araújo, Oliveira e Cavalcante (2016), Gonzaga, Lemos,
Machado e Oliveira (2016), Lopes (2016), Marques (2016), Santos (2016), Fernandes e
Lima (2017), Freire e Rocha (2017), Gesswein (2017), Miranda (2017), Moreira (2017),
Souza e Nunes (2017), Inácio (2018), Silveira e Klein (2018), Fernandes (2019),

11
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

Gonçalves e Musse (2019), Hergesel (2019), Lourenço (2019a), Souza (2019), Amaral e
Pernisa Júnior (2020), Machado (2020) e Musse e Gonçalves (2020) usam o termo
“websérie” e analisam ou desenvolvem projetos do que entendem por websérie, sem
apresentar, de fato, uma definição para o formato.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Se até 2015 os trabalhos acadêmicos que traziam a websérie como escopo ou


corpus eram escassos, como demonstravam os mapeamentos iniciais sobre o tema, a
partir de 2016 a quantidade de produções cresceu consideravelmente, em especial entre
graduandos. Isso sugere que os jovens pesquisadores mostram-se os mais interessados
tanto em aprofundar o conhecimento e discutir questões caras às inovações geradas pela
tecnologia quanto em desenvolver obras características desse formato midiático.
A definição de websérie como uma narrativa audiovisual seriada produzida para
a internet e consumida no universo da hipermídia parece ainda ser a base para todos os
trabalhos que versam sobre o tema. Entre os autores mais mencionados, ainda estão
Romero e Centellas (2008), Jenkins (2009) e Aeraphe (2013), com destaque para nossas
próprias publicações antecedentes, também bastante citadas na fundamentação teórica
dos trabalhos, motivo que nos engaja a continuar escrevendo sobre o assunto.
É imprescindível, no entanto, que os conceitos com os quais trabalhamos até então
precisam de atualizações, sobretudo para fomentar o diálogo no campo. Sem que
descartemos o que já foi produzido até agora, é preciso considerar que as webséries não
estão mais concentradas em páginas institucionais ou em sites como YouTube, mas
ganharam vida também em serviços de áudio e música (Spotify) e em redes socais virtuais
(Instagram e TikTok) – fato não problematizado pelos trabalhos do estado da arte.
Dois pontos inquestionáveis na definição de websérie é a necessidade da
serialização (característica fundamental de toda série) e a presença no contexto do
universo on-line (determinante para o uso do prefixo “web”). Mas, ao nos atentarmos a
todos os desdobramentos hipermidiáticos contemporâneos, passamos a nos perguntar
sobre a rigidez de o formato ser somente narrativo ou, ainda, a obrigatoriedade de ser
audiovisual.
Como narrativa, entendemos o tipo de produção que se encarrega de contar uma
história, seja ela ficcional ou verídica, do modo mais convencional ou trazendo inovações
e rupturas, como o apoio de links e interações, por exemplo. Entretanto, se assumirmos a

12
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

ideia de que a websérie pode servir como um instrumento para experimentações artísticas
e tecnológicas, em especial se considerarmos as subáreas relacionadas às Artes do Vídeo,
a exigência de que seja uma narrativa se dissipa.
Como audiovisual, compreendemos o material produzido na comunhão das
linguagens visual e sonora, com possibilidade do verbal se apresentando tanto na imagem
quanto no som. Contudo, se reconhecermos que as plataformas de áudio também
passaram a veicular webséries, temos somente a presença da linguagem sonora. Se, nas
mídias mais convencionais, conseguimos distinguir “radionovela” de “telenovela”, por
exemplo, na hipermídia o canal é único, a não ser que criássemos termos como
“webvideossérie” e “webaudiossérie”, o que nos parece fugir da proposta.
Um fato não abordado pelos trabalhos coletados é o conflito que a definição de
websérie encontra perante o surgimento das séries de streaming, no caso das produções
audiovisuais. É evidente que, em alguns momentos, o termo “websérie” vem sendo
utilizado para se referir às produções originais da Netflix, da Amazon Prime, do Disney+,
entre tantas outras – e isso gera uma nova discussão: se estar na internet é elemento
suficiente para determinar a identidade de uma websérie, então, sim, as séries de
streaming estão nesse mesmo grupo.
A percepção que temos, todavia, é que as séries de streaming nem sempre são o
que entendemos por webséries. Por mais que elas sejam compostas por episódios e
temporadas e estejam disponíveis on-line, a produção da maioria delas é pensada do
mesmo modo como se pensam as séries televisivas, tanto em termos dramatúrgicos como
estéticos – tanto que boa parte do consumo das séries de streaming é feito pelo televisor.
Diferentemente disso, a websérie deveria ser pensada para as telas menores,
principalmente por sua facilidade de navegação nos aplicativos móveis: laptops, tablets,
smartphones, smartwatches, etc.
Portanto, pensando-se no suporte de veiculação, a websérie acaba se
caracterizando por planos mais fechados, por personagens em menor quantidade, por
elementos cênicos mais enxutos, por episódios mais curtos, entre outros elementos que
auxiliem na espectatorialidade a partir de uma tela pequena – fatores que contribuem para
uma diminuição no orçamento e, consequentemente, em aumento na quantidade de
ofertas, sobretudo por produtoras independentes. Nesse sentido, uma análise poética –
ancorada nas concepções aristotélicas – podem ajudar a distinguir o que denominamos
“websérie” do que chamamos de “série de streaming”.

13
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as reflexões ora apresentadas, podemos, finalmente, elaborar uma


definição mais segura para o formato, pelo menos até que novas ideias se concretizem:
A websérie é um produto midiático serializado pensado para aparelhos tecnológicos
emergentes e disponibilizado de forma on-line. Geralmente é apresentada no modo
narrativo (ficcional ou documental), mas pode se manifestar no contexto das
experimentações. Na maior parte das vezes faz uso da linguagem audiovisual, mas não
há impedimentos para sua expressão exclusivamente sonora, visual ou verbal. Por fim,
difere das séries televisivas e das séries de streaming por, comumente, trazer planos mais
fechados, menor número de personagens e evitar elementos cênicos supérfluos.
Esperamos que este trabalho ajude nas produções futuras – nossas e dos pares –
relacionadas ao estudo de webséries. De igual modo, desejamos que novos pontos sejam
problematizados, como: as diferenças e semelhanças entre as webséries e outros formatos
audiovisuais produzidos por uma mesma emissora de televisão ou empresa de streaming;
a influência do rádio para o estabelecimento de webséries exclusivamente sonoras e os
aspectos determinantes para a condução adequada de sua narrativa; a adaptabilidade no
formato da tela para a produção de webséries nas redes sociais que privilegiam a exibição
vertical (modo retrato); e o auxílio oferecido pelo formato websérie para a produção de
conteúdo midiático em tempos pandêmicos.

REFERÊNCIAS
AERAPHE, G. Webséries: criação e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2013.
ALTAFINI, Thiago; GAMO, Alessandro. Web-séries no contexto dos universos narrativos expandidos.
GEMInIS, ano 1, n. 1, p. 43-52, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3yhnrJk*.
ÁLVAREZ, Marta. Series para la web: nuevos modelos y desafíos. In: Congreso Internacional sobre
Analisis Fílmico, 4., 2011, Castellón, Espanha. Anais [...]. Madri: Ediciones de las Ciencias Sociales,
2011. p. 669-680. Disponível em: https://bit.ly/2KwXws0*.
BARBOSA, Fernando da Silva. A produção independente de webséries pela perspectiva
multiplataforma da televisão digital e internet. 2013. Dissertação – Universidade Estadual Paulista,
Bauru, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2Xtv1ix*.
BÉLANGER, Audrey. Émergence de la websérie au Québec: ses origines et ses influences. 2014.
Dissertação – Universidade de Montreal, Montreal, 2014. Disponível em: https://bit.ly/2MHK8nE*.
BRASILEIRO, Ada Magaly Matias. Como produzir textos acadêmicos e científicos. São Paulo:
Contexto, 2021.
FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação &
Sociedade, v. 23, n. 79, p. 257-272, 2002. Disponível em: https://bit.ly/3sJlVyw*.
FIGUEIREDO, Carolina Dantas de; LINS, Gustavo Arruda. Webséries ou séries na web? Uma discussão
a partir da noção de interação. GEMInIS, ano 6, n. 1, p. 205-223, 2015. Disponível em:
https://bit.ly/3gAkSfg*.

14
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021

HERGESEL, João Paulo. 15 anos de pesquisa sobre websérie: levantamento bibliográfico. In: Congresso
de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 21., 2016, Salto. Anais [...]. São Paulo: Intercom,
2016. Disponível em: https://bit.ly/2Wm5uq6*.
HERGESEL, João Paulo. A websérie como narrativa hipermidiática e os estilos envolvidos em sua
produção: o estado da questão. In: Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 18.,
2013, Bauru. Anais [...]. São Paulo: Intercom, 2013. Disponível em: https://bit.ly/37XFdqP*.
HERGESEL, J. P. YouTube, Vimeo, Gshow, Netflix, Globo Play e o estilo da websérie de ficção no
Brasil. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 40., 2017, Curitiba. Anais [...]. São
Paulo: Intercom, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3knXByk*.
HERGESEL, João Paulo; SILVA, Míriam Cristina Carlos; PICHIGUELLI, Isabella. Ficção seriada
infantojuvenil e religião: questões sobre discurso e narrativa na websérie -10 | A vida não é um jogo
(Feliz7Play). Tropos, v. 10, n. 1, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3gu0Mn6*.
HERNÁNDEZ GARCÍA, Paula. Las webséries: evolución y características de la ficción española
producida para Internet. Faro, n. 13, p. 94-104, 2011. Disponível em: https://bit.ly/2Wjm35S*.
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
KÖNIG, Maximilian Johannes. Relevanz von Product Placement in der Webserie Problemväter.
2014. Monografia – Universidade Mittweida, Mittweida, 2014. Disponível em: bit.ly/2Wy6pJ6*.
LEMOS, Victor Carlos Azevedo. Formatos narrativos audiovisuais para a web – a relevância da
segmentação. Caso de estudo: projecto Carne p’ra Canhão. 2009. Dissertação – Universidade de
Aveiro, Aveiro, 2009. Disponível em: https://bit.ly/2XukeVe*.
LOPEZ MERA, Diego Darío. WEBSERIES: Nuevo fenómeno de experimentación audiovisual y
entretenimento. 2010. Disponível em: https://bit.ly/2K23dPb*.
MORALES MORANTE, Fernando; HERNÁNDEZ, Paula. La webserie: convergencias y divergencias de
un formato emergente de la narrativa en Red. Comunicación, n. 10, v. 1, p. 140-149, 2012.
Disponível em: https://bit.ly/2WlTW66*.
PEIXOTO, Victor Hugo de Azevedo. A narrativa transmídia na websérie Saramandices do Corpo
Humano. Quiprus, ano 3, n. 1, p. 51-68, maio 2014. Disponível em: https://bit.ly/2HZDqow*.
RAMOS, Eutália Silva; NEVES, Dorneles Daniel Barros. Estrutura narrativa seriada para web a partir da
análise da websérie Elemento. In: Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, 17.,
2015, Natal. Anais [...]. São Paulo: Intercom, 2015. Disponível em: https://bit.ly/2JZK9AZ*.
ROMERO, Nuria Lloret; CENTELLAS, Fernando Canet. New stages, new narrative forms: The Web 2.0
and audiovisual language. Hypertext.net, v. 6, 2008. Disponível em: https://bit.ly/1mNZ6Ux*.
SANTIAGO, João Pedro Valença; DOMINGUES, Daniel Mendes França Domingues. Com as próprias
mãos: a websérie. 2015. Monografia – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2015. Disponível
em: https://bit.ly/31g9lIM*.
SCHNEIDER, Léa. Des series tele sur internet aux webséries: L’interaction TV / Internet a travers les
series. 2009. Dissertação (Mestrado em Informação, Comunicação e Sociedade) – Universidade Paul
Verlaine, Metz (França), 2009. Disponível em: https://bit.ly/2HZwFDh*.
SILVA, Caio Melo da; HOLZBACH, Ariane. Espectatorialidade comentada no YouTube: um estudo
comparado sobre recepção de webséries. GEMInIS, v. 9, n. 3, p. 40-51, set./dez. 2018. Disponível
em: https://bit.ly/3jf6HxV*.
SILVA, Lucas Octávio Cândio da; ZANNETI, Daniela. A websérie como produto audiovisual. In:
Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, 38., 2013, Bauru. Anais [...]. São Paulo:
Intercom, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2hcBACD*.
SOUZA, José Jullian Gomes de; CAJAZEIRA, Paulo Eduardo. Mas afinal, o que é uma websérie
documental?. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 38., 2015, Rio de Janeiro. Anais
[...]. São Paulo: Intercom, 2015. Disponível em: https://bit.ly/2JtUx33*.
WELLER, Daniel. O ciberdrama: roteiro na cibernética (posfácio da 5.ª edição). In: COMPARATO, Doc.
Da criação ao roteiro. 5. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 434-450.
WODEVOTZKY, Robson Kumode. Webséries: audiovisuais ficcionais seriados para a web. Dissertação
(Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2015.

As referências bibliográficas coletadas no estado da arte podem ser acessadas pelos links disponíveis
no quadro ilustrativo.

*Todos os links foram conferidos em 25 de agosto de 2021.

15

Você também pode gostar