Você está na página 1de 4

1) Pensar nos fatores que podem levar uma língua a entrar em decadência e chegar ao

status de ‘língua morta’.

A língua é um produto da cultura de um povo, portanto, a decadência da cultura


normalmente é antecipada pela decadência da linguagem. No caso de Roma, podemos
inferir das leituras dos textos, que as sementes de sua decadência já estavam
presentes nos causas de sua grandeza. Isto é: à medida em que o Império foi se
tornando vasto demais ele se tornou insustentável, tornando-se cada vez mais
difícil controlar a diferenciação centrípeta dos dialetos locais. E foi justamente
o que aconteceu: o abismo entre o latim culto e o vulgar foi se ampliando e, mais
tarde, desse para com as línguas locais. Gerando, aos poucos um dialeto de
transição (romanço) e, posteriormente, as línguas neolatinas. Matoso Câmara (2011
apud Silva, 2009) destaca, ainda, outros fatores que aceleraram a diferenciação das
línguas neolatinas:

1) O fator cronológico – as regiões foram romanizadas em momentos diferentes,


recebendo, portanto, o latim em diversos momentos da sua evolução.
2) O contato entre a cultura romana e as diferentes culturas dos povos
conquistados.
3) A grande diversidade sócio-econômica das regiões conquistadas.

Portanto, o fim de uma língua é um estágio natural do fim de uma cultura, de uma
civilização. Mesmo com o fim de Roma, não podemos afirmar ser o latim é uma língua
completamente morta, afinal ela vive nas suas variações modernas, e, como língua de
cultura e estudo, ainda é cultivada em setores acadêmicos e religiosos.

2) Por outro lado, como se deu o aperfeiçoamento e enriquecimento linguístico da


Língua Portuguesa? O que contribui para uma língua se tornar legítima, sólida?
A permanência do Português ao longo do tempo, desde Portugal até o Brasil, tem a
ver, em parte, com incentivos culturais de presevação e produção artística da
língua e, ao mesmo tempo, pela diversificação criativa com a incorporação de outras
línguas e outras culturas. Ou seja, uma língua se torna sólida e legítima através
da tensão entre convervação e diversificação. Afinal de contas, o português surgiu
da fusão do latim vulgar com línguas árabes na peínsula ibérica (dos povos celtas,
iberos, gregos, fenícios, cartagineses). Gerando, assim, as variações entre o
galego e o português que coexistiram até o século XIII, quando o Português tornou-
se a língua oficial em Portugal. No Brasil, apesar das medidas oficiais como as
empreendidas por D João VI para que a língua pudesse ser oficializada em todo
território, coexistiram várias línguas em paralelo à portuguesa (a holandesa até
1654, mas, sobretudo a indígenas e negras) que, mais tarde ajudariam a diferenciar
em definitivo o português brasileiro da matriz europeia, conforme aplicada por
grandes romancistas do século XIX em diante, como José de Alencar.

REFERÊNCIAS
-----------
GUIMARAES, Eduardo. A língua portuguesa no Brasil. Cienc. Cult., São Paulo , v.
57, n. 2, p. 24-28, June 2005 . Available from
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252005000200015&lng=en&nrm=iso>. access on 02 Mar. 2021.

SILVA, Francisca Núbia Bezerra e - História da língua portuguesa / Francisca Núbia


Bezerra e Silva. – Recife: UPE/NEAD, 2009.
66 p.: il. – (Letras).

FERNANDES, Patrícia; COSTA, Natalina - A Origem da Língua Portuguesa: Contexto


Geral e Brasileiro. Disponível em:
http://ww1.ead.upe.br/nead20201/pluginfile.php/41206/mod_resource/content/1/AULA1_p
df.pdf
_________________________________________________

Até que ponto os empréstimos comprometem o ‘status de língua oficial’? Leia sobre o
assunto e argumente seu posicionando, justificando com ideias de autores
reconhecidos academicamente que discutem sobre o tema em questão.

Temos de ser justos e esclarecer que os empréstimos linguísticos não podem ser
prejudiciais em si. Muito pelo contrário, conforme sustentam Ferreira e Gomes
(2017) muitos desses empréstimos surgem de uma necessidade prática, para solucionar
um "vazio" ou a falta de um termo no léxico de uma língua. Nessa perspectiva, a
incorporação de um termo estrangeiro tende a fortaleceê-la e não enfraquecê-la, na
medida que a torna mais completa. Este pode ser um intercâmbio interessante já que
as línguas, por serem elas mesmas o meio por onde flui a cultura de um povo, tende
a ser construída "à imagem e semelhança" desse mesmo povo. Mário de Andrade (2014)
reconhecia que o português europeu era "riquíssimo em termos náuticos mas pobre em
termos musicais", por isso é natural que muitos dos termos musicias que hoje
empregamos sejam empréstimos do Italiano ou da França. Este, no entanto, é apenas
um exemplo.

Não são estes fenômenos sofridos exclusivamente pelo português, da mesma forma que
as influências não partem de uma fonte única, da língua inglesa por exemplo.
Sofremos historicamente influências externas e internas que expandiram o léxico do
nosso idioma até o status atual. Muitos dos nossos termos nos vieram desde o
espanhol (aluguel, caudilho, sombreiro, etc.) o francês (abajur, bibelô, bidê,
etc.) a multidão de línguas indígenas que aqui se falava antes da colonização. Além
disso, somos fortemente influenciados pela sonoridade das línguas de matizes
africanas. Além disso, não podemos dizer que não há criatividade local ao se
incorporar um termo estrangeiro, já que, "além da adaptação fonética, o item
estrangeiro pode sofrer adaptações ortográficas e/ou morfológicas para atender aos
padrões normativos da língua receptora".(FERREIRA E GOMES, 2017, p. 04)

É claro que, assim como o latim durante o império romano espalhava suas conquistas
culturais através de seus reinos, o inglês vem se consolidando mundialmente como
uma espécie de língua universal e que, de acordo com o grau de abertura ou
resistência à mudanças de cada cultura por ela influenciada, tem impresso marcas
definitivas nos idiomas ao redor do mundo. Isso não é diferente com o português,
sobretudo em nichos do léxico relacionados às áreas de tecnologia e inovação
científica, áreas as quais os EUA tem soberania absoluta no mundo. Em alguns nichos
(como nos negócios e na tecnologia) os falantes se comunicam numa espécie de língua
híbrida em que termos ingleses aparecem em quase pé de igualdade com palavras
portuguesas.

De qualquer forma, creio que, em vez de fecharmos o nosso idioma para as


influências externas, o que seria um erro, devemos encarar a crescente influência
dos anglicismos no português como um sintoma (e não a causa) da perda de influência
do português no mundo. Ou talvez, de uma incipiente participação em setores
específicos, sobretudo os da tecnologia. Talvez, esse pode ser um sintoma da nossa
dificuldade em nos organizarmos como um ator global na área de tecnologia.

Referências
-----------
ANDRADE, Mário de. Terminologia Musical in Música, Doce Música. Nova Fronteira
(2014)
FERREIRA, Giselle Vasconcelos dos Santos; Gomes, Nataniel dos Santos. Empréstimos
Linguísticos no Português do Brasil: Uma Análise da Língua Falada no Programa
"Navegador". Disponível em: http://www.filologia.org.br/rph/ANO23/67supl/034.pdf.
Acesso em: 04/04/2021.
_________________________________________________
Durante a colonização do Brasil, a Língua Portuguesa foi imposta como Língua
oficial, no entanto, sabemos que o PB difere do Português de Portugal. Como isso se
justifica? O que contribuiu para que houvesse essa diferenciação?

Como pudemos atestar da leitura do fascículo (2009), havia no Brasil mais de mil
línguas autóctones de vários grupos linguísticos no início da colonização. Mas a
matriz nativa iria ser suplantada a partir de 1731 com a primeira expedição oficial
de Martim Afonso. A nem sempre coridal, mas profunda mistura entre as línguas
nativas o e português europeu duraria até o fim do século dezoito no esforço
colonizador em busca de pedras preciosas e que resultaria nos núcleos urbanos e nos
topônimos atuais (nomeados, ou em homenagem a santos católicos ou com termos
indígenas). Gilberto Freyre (2005) destaca que a facilidade de aclimatação, a
adaptação a um novo regime de climas e chuvas, a ausência de critérios raciais em
Portugal, fizeram com que o Português (em comparação ao espanhol) pudesse mais
profundamente se misturar com a cultura local.

A partir de 1758, se inicia o período de oficialização do português no território e


que concidiu com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, retirando assim
das ordens o monopólio do ensino oficial da língua. Mais tarde, com a família Real
já instalada no Brasil, teve início as primeiras medidas de modernização cultural
brasileira com D João VI. Em paralelo a isso, o negro escravo imprimia sua
personalidade linguística no falar doméstico enquanto, aos poucos, era inserido nos
núcleos urbanos. Alguns deles, mestiços, ascendiam socialmente através das letras,
compondo uma geração que seria a de maior destaque na cultura do século XIX e
início do XX: Tobias Barreto, Nilo Peçanha, Gonçalves Dias, Castro Alves, Machado
de Assis, Lima Barreto entre outros.

Não é de se espantar que a fusão entre línguas indígenas, europeias e africanas


tivesse se condensado numa língua distante de todas as que lhe deram origem. Hoje o
português brasileiro, apesar de culturalmente ligada à europa, apresenta claros
indícios de independência linguística. Alguns deles têm a ver com a pronúncia dos
fonemas, como por exemplo o /ä/ português, que não é aberto como o /a/ brasileiro.
Said Ali (2008) chega à conclusão de que, em Portugal, há maior incidência dos
pronomes átonos enclíticos, enquanto (muito em função do excesso de vogais abertas)
a pronúncia tende a transformar os pronomes átonos em tônicos, permitindo mais
mobilidade deles (me empresta, lhe entregue).

Referências
-----------
Ali, Said. Dificuldades da língua portuguesa 7. ed. – Rio de Janeiro: ABL :
Biblioteca Nacional, 2008. 260p.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob
regime de economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005
Silva, Francisca Núbia Bezerra e História da língua portuguesa / Francisca Núbia
Bezerra e Silva. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 66 p.: il. – (Letras).

_________________________________________________
o que motiva a supremacia de alguns dialetos? Existe um “ falar bonito e certo” em
detrimento de um “falar feio e errado” ou existem maneiras de falar diferentes?

A supremacia de alguns dialetos em relação a outros tem mais a ver com interesses
oficiais da elite cultural do território onde a língua de prestígio se difunde do
que pela preferência linguística dos falantes. Nesse ponto do curso temos
consciência de ter havido no Brasil mais de mil línguas autóctones de vários grupos
linguísticos no início da colonização. A mistura entre as línguas nativas o e
português europeu duraria até o fim do século dezoito no esforço colonizador em
busca de pedras preciosas e que resultaria nos núcleos urbanos e nos topônimos
atuais (nomeados, ou em homenagem a santos católicos ou com termos indígenas).
Sabemos também que foi apenas com as reformas pombalinas que o ensino de Português,
inaugurado pelos Jesuítas dentro da tradição vernácula latina, se desenvolveu aqui
no Brasil como corpo de ensino independente tendo o português europeu como norma
padrão e língua oficial do território. Mais tarde, no século XX no Brasil, foi
marcado pelo empreendimento Estatal de ensino obrigatório universal.

Apesar da presença definitiva na cultura e na língua portuguesa, os dialetos locais


não gozaram do status oficial que o português europeu impõs sobre si mesmo. Aos
poucos, reforçada pelos empreendimentos oficiais de D. joão VI e pelo ensino
oficial até meados da década de 80, foi-se criando inconscientemente nos currículos
escolares aquilo que se chamou de preconceito linguístico, e que na visão de Marcos
Bagno significa:

"a crença de que só existe,(...), uma única língua portuguesa digna deste nome e
que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos
dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-
gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico,
'errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente', e não é raro a gente ouvir que
'isso não é português'. (BAGNO, 2015; p. 40)

Referências
----------------
Bagno, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Parábola
editorial, 2015. 352p
Silva, Francisca Núbia Bezerra e História da língua portuguesa / Francisca Núbia
Bezerra e Silva. – Recife: UPE/NEAD, 2009. 66 p.: il. – (Letras).

_____________________
A língua Portuguesa no Brasil - eduardo Guimaraes
1) até a saída dos holandeses em 1654 - português nos oficios do reino.
2) até 1808 - três culturas (negra, indígena, portuguesa)
3) até 1824 - Impacto de D João VI
4) desde 1824 - instituição das gramáticas, língua oficial, José de Alencar.

GUIMARAES, Eduardo. A língua portuguesa no Brasil. Cienc. Cult., São Paulo , v.


57, n. 2, p. 24-28, June 2005 . Available from
<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-
67252005000200015&lng=en&nrm=iso>. access on 02 Mar. 2021.
_____________________

William Labov, a língua é um fato social. Guerras púnicas para acesso ao


Mediterrâneo. As invasões germânicas na península Ibéria cortaram o cordão com
Roma. Mouros invadem. A expulsão dos mouros geram três línguas: o galego-português,
a Oeste; o castelhano, no centro; e o catalão, a Leste. Em 1290 o português se
torna a língua oficial de Portugal.

Você também pode gostar