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Przemysław Dębowiak
Jagiellonian University
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Great Dictionary of Polish (Polish Academy of Sciences)/ Wielki słownik języka polskiego PAN, www.wsjp.pl View project
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Estudos da AIL em
Estudos da AIL em
Ciências da Linguagem: Língua, Linguística, Didática
Teoria e Metodologia. Relacionamento nas Lusofonias I e II Ciências da Linguagem:
Literatura, História e Cultura Portuguesas
Literatura, História e Cultura Brasileiras Língua, Linguística, Didática
Literaturas e Culturas Africanas de Língua Portuguesa
Roberto Samartim
Raquel Bello Vázquez
Elias J. Torres Feijó
Manuel Brito-Semedo
(eds.)
Estudos da AIL em
Ciências da Linguagem:
Língua, Linguística, Didática
Estudos da AIL em Ciências da Linguagem: Língua, Linguística, Didática
1ª edição: novembro 2015
Roberto Samartim, Raquel Bello Vázquez, Elias J. Torres Feijó e Manuel Brito-Semedo (eds.)
Nº de páginas: 230
Índice, páginas: 7-8
ISBN: 978-84-15166-55-9
Depósito legal: A 000-2015
Os textos foram submetidos a dupla avaliação anónima e aprovados para a sua posterior publicação.
Estudos da AIL em
Ciências da Linguagem:
Língua, Linguística, Didática
Roberto Samartim
Raquel Bello Vázquez
Elias J. Torres Feijó
Manuel Brito-Semedo
(eds.)
Ensinar qual Língua, em Países de Colonização Portuguesa? Tensões no ensino de línguas em Cabo Verde����23
Aracy Alves Martins
Universidade Federal de Minas Gerais
(Brasil)
Tantas Vozes, Tantos Olhares: Mostra de Línguas, Literaturas e Artes no Campus Juiz de Fora����������������������43
Carmem Silvia Martins Leite e Patricia Pedrosa Botelho
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
(Brasil)
Roberto Vecchi
Presidente AIL (2014-2017)
Nota da Comissão Científica
O XI Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, celebrado no Mindelo, em Cabo Verde, serviu para
referendar a prática estabelecida no X Congresso consistente na submissão dos textos integrais das comunicações
antes da celebração do congresso, para eles serem avaliados e aprovados por pares cegos. Depois os textos passaram
a estar acessíveis para as pessoas participantes no site do evento, e uma vez revistos por seus autores e autoras eles
são agora publicados nesta coleção de livros temáticos.
Por um lado, este sistema contribuiu para aumentar a qualidade dos textos apresentados; por outro, possibilitou
acompanhar as mudanças no campo científico e nos sistemas de valorização da produção académica, evoluindo
do velho conceito de anais de congressos para coleções temáticas, mais perfiladas em relação ao público-alvo
em função de interesses investigadores específicos. Estas coleções garantem às pesquisadoras e pesquisadores um
resultado que responde aos critérios científicos exigidos pelas suas instituições, maior divulgação e a possibilidade
de fazer circular o seu trabalho em formato digital, com todas as garantias da avaliação por pares.
Deve ser reconhecido nesta apresentação o trabalho das pessoas que integraram, na condição de avaliadoras,
a Comissão Científica, as quais generosamente disponibilizaram o seu tempo e o seu trabalho para avaliar
em tempo muito reduzido e com elevado rigor todas as propostas apresentadas. Igualmente, às autoras e aos
autores, que assumindo o processo proposto pela AIL, entregaram para a publicação trabalhos de alta qualidade
científica, de grande diversidade temática e metodológica.
Esta coleção tem a vontade de oferecer uma panorâmica do mais avançado que está a ser produzido no
âmbito dos estudos de língua portuguesa. Estes caraterizam-se cada vez mais pela abertura à interdisciplinaridade
e pela incorporação de tópicos inovadores e menos explorados. A variedade destes novos estudos na lusitanística
ficam recolhidos na publicação desta segunda série de livros temáticos que nascem com vocação de um rápido
e duradouro impacto.
Raquel Bello
Coordenadora da Comissão Científica
Nota do Presidente da Comissão Organizadora
Como responsáveis, na qualidade de Presidente e Secretário Geral, respectivamente, da Comissão Organizadora
do XI Congresso da AIL e dos livros temáticos que agora se apresentam, juntamente com a nossa colega
coordenadora da Comissão Científica, Profa. Dra. Raquel Bello Vázquez, é o nosso desejo deixar aqui uma
palavra de agradecimento a todas as pessoas que colaboraram neste processo que hoje acaba com a presente
publicação. Particularmente, aos membros das Comissões Organizadora, Científica e de Honra; ao Prof. Dr.
Manuel Brito Semedo, coordenador da Comissão Executiva, e a todas as pessoas e entidades, académicas,
institucionais, públicas e particulares, que apoiaram o seu desenvolvimento, com especial destaque para o antigo
Reitor da Universidade de Cabo Verde, Prof. Dr. Paulino Fortes, e a atual Reitora Profa. Dra. Judite Nascimento.
Pedimos também desculpa polo retraso na saída desta edição, prevista no seu momento para não ir além
do primeiro trimestre do ano 2015. Circunstâncias totalmente alheias à vontade da AIL e relativas às parcerias
institucionais previamente fixadas pola nossa organização que, finalmente, não se concretizaram, provocaram
esta demora, que resolvemos não prolongar mais para não aumentar o prejuízo às pessoas que participam nestes
volumes, a quem expressamos a nossa gratidão pola confiança em nós depositada.
1. Introdução
O objetivo do presente estudo é analisar e comparar os diminutivos no português europeu (PE) e no português
do Brasil (PB). Em termos gerais, a formação e as diferentes funções dos diminutivos na língua portuguesa já se
encontram pormenorizadamente descritas nas gramáticas (Cunha & Lindley Cintra, 1984: 92–95, 199–200;
Villalva, 2003: 958–962) e em trabalhos particulares (p.ex. Wagner, 1952; Pottier, 1953; Hasselrot, 1957:
273–279; Skorge, 1956–1957, 1958; Ettinger, 1974: 184–232, 1980: 92–99; Soares da Silva, 2003–2006).
Dentro da família das línguas românicas, o português passa por um idioma em que o emprego dos diminutivos
é abundante, ou até abusivo em alguns registos, p.ex. na linguagem corrente e familiar. Além disso, há estudos
que apontam para uma maior frequência de diminutivos no PB, bem como nos dialetos setentrionais do PE (cf.
Hasselrot, 1957: 277). Contudo, essas opiniões costumam formular-se sem o apoio de dados numéricos.
Quanto à formação, é sabido que em português prevalecem os diminutivos sintéticos, criados com sufixos
diminutivos, entre os quais predomina decididamente -inho, junto com a sua variante contextual -zinho139.
Funcionam também, embora muito mais escassos, os diminutivos analíticos criados com adjetivos-atributos
(pequeno e sinónimos). A estatística e as observações de Hasselrot (1957: 274–276) são instrutivas a esse res-
peito.
Porém, dois problemas que nos interessam ainda não foram abordados ou suficientemente desenvolvidos na
literatura:
1) em que medida as duas variantes do português diferem no que diz respeito à frequência de uso dos diminu-
tivos?
2. Metodologia
Como material de pesquisa, foram selecionados seis textos paralelos de meados do século XX, a saber, as tradu-
ções diretas para ambas as variantes do português de um texto francês e de dois romances polacos. São140:
1) Le Petit Prince (1943) de Antoine de Saint-Exupéry – um livro só aparentemente para crianças, o que em
parte indica também o seu estilo;
2) Pornografia (1960) de Witold Gombrowicz – um romance escandalizador, cuja linguagem é porém bastante
neutral;
139 Os sufixos com o interfixo -[z]- (-zinho, -zito, -zeco e outros) juntam-se geralmente às palavras terminadas em sons nasais
(irmão), vogais acentuadas (café), consoantes (par), etc. Vejam-se os detalhes em: Skorge, 1956–1957: 68–87; Ettinger, 1972: 107–
108, 114 e 1974: 201–202; Villalva, 2010: 790–792.No entanto, não se encontrando em distribuição complementar, as formas -inho
e -zinho são consideradas por alguns pesquisadores como sufixos independentes, devido à sua especialização semântica: -inho seria mais
afetivo e menos pejorativo, ao passo que -zinho tenderia a exprimir o sentido pejorativo com menor afetividade, pelo menos no PB
(Oliveira, 2010: 12–13, 19). Não tencionamos abordar essa questão no presente estudo.
140 Citam-se, entre parênteses, as datas da primeira publicação dos textos originais.
175
Przemysław Dębowiak
3) Ferdydurke (1937), igualmente de Witold Gombrowicz – um dos mais famosos do escritor; é grotesco e bas-
tante vanguardista, tanto do ponto de vista da linguagem, como do conteúdo.
• mistos, constituindo uma combinação dos dois tipos precedentes, onde o sufixo pode juntar-se seja à palavra
sujeita à diminuição, seja ao adjetivo-atributo, seja aos dois ao mesmo tempo.
• os diminutivos que funcionam nas expressões idiomáticas, p.ex. tirar o cavalinho da chuva ‘desistir de um
objetivo’, andar com macaquinhos na cabeça ‘andar preocupado, desconfiado’;
• os diminutivos dos nomes próprios que correspondem aos hipocorísticos, p.ex. Betinho, Bolekzinho, Vitinho,
Zutinha, Heleninha, Zigmundinho, Henriquinho, Tadeusinho, Heniasinha / Heniasita, Józiozinho / pequeno
Józio, Principezinho / Pequeno Príncipe / Pequeno Principezinho;
• os diminutivos-hipocorísticos formados a partir de nomes comuns (tio, avô) que têm como correspondentes
na outra tradução os hipocorísticos criados diferentemente, p.ex. através de reduplicação: tiozinho, tiazinha
(PE) – titio, titia (PB), avozinho (PE) – vovô (PB);
• os diminutivos emprestados de outras línguas, mesmo que continuem a ter um sentido diminutivo em
português, p.ex. palito, faceta, trompete, filete, cubículo, cutícula, gotícula, montículo, partícula, questiúncula;
A análise do material consistiu em reunir os dados numéricos em tabelas, definir algumas variáveis141 e, com
base nisso, elaborar estatísticas. Todas as contagens foram feitas manualmente.
Em primeiro lugar, deu-se o número absoluto de todos os diminutivos que se apresentam em cada variante,
incluindo as repetições. São somas independentes uma da outra, contadas separadamente para o PE [PE] e o PB
[PB]. Elas serviram sobretudo para contar a frequência com a qual os diminutivos ocorrem nos textos analisa-
dos: [FPE], [FPB]. A medida de frequência é o número de diminutivos por 10 000 unidades tipográficas, isto
é, porções do texto contidas entre dois espaços. O número total de unidades tipográficas em cada um dos textos
foi estimado a partir do número médio de unidades tipográficas [U] por uma página completa [P] do texto res-
petivo. Por sua vez, o número de unidades tipográficas numa página completa de texto é a média das somas de
unidades tipográficas em cinco páginas consideradas como representativas para o texto dado.
Em segundo lugar, estabeleceu-se o número global das ocorrências dos diminutivos [O] em ambas as tradu-
ções de cada texto. Por uma ocorrência do diminutivo percebe-se a situação em que numa das traduções (seja
para o PE ou PB) figura um diminutivo ao qual pode – mas não deve – corresponder um diminutivo na outra
tradução. No exemplo da Tabela 1, o número global de ocorrências de diminutivos [O] é quatro, ao passo que
na estatística para o PB se levam em conta também quatro ocorrências, e para o PE – só duas (pequeno quarto,
141 Os nomes das variáveis colocam-se entre colchetes.
176
Os diminutivos no português europeu e no português do Brasil. Um estudo quantitativo
pequeno compartimento); por outras palavras, [O] = 4, [PB] = 4 e [PE] = 2. A taxa [O] permite estabelecer a
proporção entre o número absoluto dos diminutivos no PE e PB.
PE PB
1 pequeno quarto quartinho
2 pequeno compartimento quartinho
3 compartimento quartinho
4 quarto quartinho
Tabela 1. Exemplo de um diminutivo no PB e os seus vários equivalentes no PE.
As estatísticas elaboradas assim dão conta do número absoluto dos diminutivos nos textos estudados. No en-
tanto, a fim de determinar o grau de criatividade das duas variantes do português na formação dos diminutivos,
é preciso recorrer a uma análise qualitativa, isto é, àquela na qual os diminutivos que se repetem, abundantes nas
traduções estudadas, são tratados como um só exemplo de ocorrência.
Portanto, tendo eliminado todas as repetições, obteve-se as taxas [PE-r] (número de diminutivos diferentes
que aparecem na tradução para o PE) e [PB-r] (número de diminutivos diferentes que aparecem na tradução
para o PB). Além disso, contou-se o número de ocorrências diferentes [O-r] em ambas as traduções, onde uma
ocorrência do diminutivo é a situação em que a um e ao mesmo diminutivo numa das traduções (seja para o PE
ou PB) corresponde um e o mesmo equivalente, não forçosamente um diminutivo, na outra tradução. Então,
como ocorrências independentes de diminutivos são levadas em conta por exemplo todas as quatro equivalên-
cias da Tabela 1, embora na estatística para o PE sejam contados dois diminutivos (pequeno quarto e pequeno
compartimento), e para o PB – só um (quartinho); por outras palavras, [O-r] = 4, [PB-r = 1] e [PE-r] = 2.
Para cada variante, dá-se a percentagem que representam os tipos particulares de diminutivos, nomeadamen-
te, sintéticos, analíticos e mistos.
O lado semântico do material estudado desempenhou um papel secundário na análise.
3. Análise do material
Os dados numéricos, incluindo os diminutivos repetidos, vêm apresentados na Tabela 2 (O Principezinho /
O Pequeno Príncipe), Tabela 3 (Pornografia) e Tabela 4 (Ferdydurke).
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O] = 54
número total de diminutivos na tradução, incluindo: [PE] = 40 [PB] = 32
74,1% [O] 59,3% [O]
• diminutivos sintéticos 36 90,0% 27 84,4%
• diminutivos analíticos 1 2,5% 5 15,6%
• diminutivos mistos 3 7,5% 0 0,0%
número de páginas de texto completas [P] 61 27
número médio de unidades tipográficas numa página [U] 242 482
número médio de unidades tipográficas no texto inteiro [P×U] 14 762 13 014
frequência média da ocorrência de diminutivos no texto: número
[FPE] = 27,1 [FPB] = 24,6
de diminutivos por 10 000 unidades tipográficas
Tabela 2. Número absoluto de diminutivos (O Principezinho / O Pequeno Príncipe).
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Przemysław Dębowiak
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O] = 147
[PB] = 102
[PE] = 95
número total de diminutivos na tradução, incluindo: 69,4% [O]
64,6% [O]
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O] = 561
número total de diminutivos na tradução, incluindo: [PE] = 503 [PB] = 428
89,7% [O] 76,3% [O]
• diminutivos sintéticos 482 95,8% 397 92,8%
• diminutivos analíticos 17 3,4% 27 6,3%
• diminutivos mistos 4 0,8% 4 0,9%
número de páginas de texto completas [P] 252 313
número médio de unidades tipográficas numa página [U] 411 313
número médio de unidades tipográficas no texto inteiro [P×U] 103 572 97 969
frequência média da ocorrência de diminutivos no texto:
[FPE] = 48,6 [FPB] = 43,7
número de diminutivos por 10 000 unidades tipográficas
Tabela 4. Número absoluto de diminutivos (Ferdydurke).
Os dados numéricos que não levam em conta os diminutivos repetidos vêm apresentados na Tabela 5 (O
Principezinho / O Pequeno Príncipe), Tabela 6 (Pornografia) e Tabela 7 (Ferdydurke).
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O-r] = 42
número total de diminutivos na tradução, incluindo: [PE-r] = 22 [PB-r] = 27
52,4% [O-r] 64,3% [O-r]
• diminutivos sintéticos 18 81,8% 22 81,5%
• diminutivos analíticos 1 4,5% 5 18,5%
• diminutivos mistos 3 13,6% 0 0,0%
Tabela 5. Número de diminutivos diferentes (O Principezinho / O Pequeno Príncipe).
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Os diminutivos no português europeu e no português do Brasil. Um estudo quantitativo
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O-r] = 118
[PE-r] = 66 [PB-r] = 57
número total de diminutivos na tradução, incluindo:
55,9% [O-r] 48,3% [O-r]
PE PB
número total de diminutivos em ambas as traduções [O-r] = 319
número total de diminutivos na tradução, incluindo: [PE-r] = 222 [PB-r] = 165
69,6% [O-r] 51,7% [O-r]
• diminutivos sintéticos 201 90,5% 134 81,2%
• diminutivos analíticos 17 7,7% 27 16,4%
• diminutivos mistos 4 1,8% 4 2,4%
Tabela 7. Número de diminutivos diferentes (Ferdydurke).
Os sufixos diminutivos empregados nos diminutivos sintéticos e mistos estudados, incluindo todas as tradu-
ções para cada variante do português, estão apresentados na ordem alfabética na Tabela 8 (em números absolu-
tos – com repetições) e Tabela 9 (em números relativos – sem repetições).
179
Przemysław Dębowiak
180
Os diminutivos no português europeu e no português do Brasil. Um estudo quantitativo
Contam-se em soma 21 sufixos diminutivos, dos quais quatro (-ebre, -elho, -elo, -oilo) não aparecem nas tra-
duções para o PB. Por um lado, isso demonstra a riqueza e a diversidade dos ditos sufixos na língua portuguesa.
Por outro lado, porém, é de notar que a maioria deles só se apresenta ocasionalmente no corpus. Em ambas as
tabelas foram colocados em negrito os números que confirmam a presença de um determinado sufixo em pelo
menos 2,0% da totalidade das palavras reunidas para cada variante do português.
A Tabela 8 aponta para a frequência com a qual aparecem os sufixos no PE e PB nos textos analisados. Em
ambos domina claramente -(z)inho, estando presente em por volta de 70% dos exemplos. Depois os resultados
variam, mas nem sequer se podem comparar com o precedente. No que diz respeito ao PE, o segundo lugar é
ocupado por -(z)ito (4,9%), o terceiro ex aequo por -ola e -(z)ote (3,7%). Além disso, apenas -ino (2,9%), -(z)eco
(2,4%), -eto e -ico (2,1%) excedem o limiar de 2,0%. Quanto ao PB, o segundo lugar é ocupado por -ejo (5,8%)
e o terceiro por -ola (4,4%). Ultrapassam os 2,0% mais dois sufixos: -(z)ote (4,0%) e -(z)ito (3,1%). Neste ran-
king, o PE mostra-se mais diversificado, com uma hegemonia ligeiramente menos acentuada de -(z)inho.
A Tabela 9 dá conta da produtividade e da vitalidade de cada sufixo no PE e PB. A predominância de -(z)
inho está evidenciada novamente, mas desta vez de uma forma ainda mais aguda (mais de três quartos dos
exemplos). No PE, os sufixos que estão presentes em pelo menos 2,0% das palavras, são: -(z)ito (3,3%), -(z)ote
(3,3%), -(z)eco (2,9%), -ico (2,4%) e -eto (2,0%). É curioso observar que apenas os sufixos mais frequentemente
empregados no PE têm variantes com o interfixo -[z]-. No que toca ao PB, além de -(z)inho, mais três sufixos
incluem-se no grupo dos mais usados: -(z)ote (4,0%), -eto (2,9%) e -ola (também 2,9%). Esses dados indicam
que, a fim de formar os diminutivos, tanto em Portugal como no Brasil recorre-se com a maior frequência a
-(z)inho que ultrapassa de longe os restantes sufixos. Comprovam também uma maior diversificação dos sufixos
que ainda apresentam alguma vitalidade no PE; no PB, o repertório deles parece menos rico, ou, no mínimo,
menos explorado.
A discrepância entre os dados das duas tabelas (8 e 9) mostra igualmente a universalidade de alguns e a espe-
cialização de outros sufixos. Aos primeiros pertencem aqueles que são os mais produtivos e figuram em vocábu-
los diferentes; os demais só formam uma ou duas palavras do corpus que, no entanto, podem ser frequentes no
texto. Tal é o caso de -ino no PE e -ejo no PB: não são produtivos, pois cada um só aparece numa palavra (peque-
nino e vilarejo, respetivamente), mas estas, por seu turno, figuram numerosas vezes nos textos analisados (18 e
30). Isso faz com que os sufixos -ino e -ejo também sejam considerados, em números absolutos, como frequentes.
Observe-se que a maioria dos sufixos enumerados forma substantivos. Dentro do corpus, excetuam-se os
sufixos:
• -ucho e -ino que criam exclusivamente adjetivos diminutivos, p.ex. gorducho, baratucho, pequenino;
• -ico e -isco que criam apenas verbos com sentido iterativo, p.ex. bebericar, mordiscar, namori(s)car.
• verbos, p.ex. -ito (cabecita, mas dormitar), -ola (rapazola, mas cantarolar).
Escusado será dizer que o sufixo -(z)inho é universal, formando substantivos (concretos e abstratos), adje-
tivos, advérbios, verbos e pronomes diminutivos, p.ex. mesinha, traiçãozinha, levezinha, pertinho, passarinhar,
nadinha.
Os diminutivos analíticos formam-se através de meios externos à palavra sujeita à diminuição. São sobretu-
do os adjetivos tais como: pequeno, ínfimo, miúdo, minúsculo, diminuto, exíguo, tênue, mas também o morfema
de composição mini-. Os dados relativos a esse respeito, resumidos para os diminutivos analíticos e mistos na
ordem alfabética, figuram na Tabela 10.
181
Przemysław Dębowiak
Como se verifica, em português, é o adjetivo pequeno que desempenha o papel da marca de diminutivo ana-
lítico mais produtiva e empregada com a maior frequência. Os lusofalantes recorrem a outros vocábulos mais
raramente.
4. Conclusões
O número de ocorrências dos diminutivos, junto com a sua frequência, dependem claramente do caráter do
texto, tanto na tradução portuguesa como na brasileira. As duas taxas são as mais altas no romance Ferdydurke
que apresenta uma linguagem um tanto excêntrica. Segue-se o texto de Saint-Exupéry que tem uma linguagem
suscetível de aparecer em livros para crianças. O estilo mais neutral de Pornografia reflete-se bem num número
relativamente pequeno de diminutivos142.
Mas concentremo-nos nas diferenças entre as duas variantes do português. O número absoluto de ocorrên-
cias de diminutivos ([PE] versus [PB]) é maior para o PE em dois textos: de 17,5% em Ferdydurke e 25,0% em
Le Petit Prince. Por outro lado, quantitativamente há 7,4% mais diminutivos no PB em Pornografia. Em suma,
são as traduções para o PE que contam mais diminutivos do que as para o PB.
Se não se levarem em conta os diminutivos repetidos, ou seja, se se olhar do ponto de vista da criatividade
da língua na formação diminutiva ([PE-r] versus [PB-r]), os resultados invertem-se, pelo menos parcialmente:
notam-se mais diminutivos diferentes no PE nos dois romances de Gombrowicz (com a predominância de
15,8% em Pornografia e 34,5% em Ferdydurke) e, desta vez, mais palavras diminutivas em Le Petit Prince na
versão brasileira (22,7%). As traduções para o PE contêm de novo mais diminutivos do que as para o PB.
No que diz respeito à frequência de diminutivos ([FPE] versus [FPB]), ela concorda com o número absoluto
deles nos textos analisados, mas a distância entre as duas variantes do português reduz-se. Quer isso dizer que
a dita frequência é maior – por um lado – no PE em Ferdydurke (de 11,2%) e em Le Petit Prince (de 10,2%) e
– por outro lado – no PB em Pornografia (de 9,9%). Tirando uma média global de todas as frequências ([FPE]
= 30,6 versus [FPB] = 28,7), pode constatar-se que os diminutivos aparecem 6,6% mais frequentemente no PE
do que no PB. É uma taxa pequena, mas surpreendente, dado que geralmente se acha que o PB usa mais dimi-
nutivos do que o PE.
A percentagem dos diminutivos sintéticos, analíticos e mistos é semelhante em todas as três traduções para
cada variante do português separadamente, independentemente de se incluírem ou excluírem as repetições. Os
resultados médios estabelecidos a partir dos três textos figuram na Tabela 11 e Tabela 12.
142 Não se deve esquecer que a forma definitiva dos textos analisados resulta também das escolhas subjetivas dos tradutores.
182
Os diminutivos no português europeu e no português do Brasil. Um estudo quantitativo
PE PB
diminutivos sintéticos 91,1% 88,2%
diminutivos analíticos 5,1% 11,5%
diminutivos mistos 3,8% 0,3%
Tabela 11. Percentagem de diminutivos, tendo em conta as repetições.
PE PB
diminutivos sintéticos 84,7% 80,0%
diminutivos analíticos 8,5% 19,2%
diminutivos mistos 6,6% 0,8%
Tabela 12. Percentagem de diminutivos, as repetições excluídas.
5. Textos estudados
Gombrowicz, Witold. Ferdydurke. Trad. Tomasz Barcinski. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Gombrowicz, Witold. Ferdydurke. Trad. Maja Marek e Júlio do Carmo Gomes. Porto: 7 Nós, 2011.
Gombrowicz, Witold. Pornografia. Trad. Tomasz Barcinski. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Gombrowicz, Witold. Pornografia. Trad. Teresa Fernandes Swiatkiewicz. Alfragide: Publicações Dom Quixote,
2012.
Saint-Exupéry, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Trad. Dom Marcos Barbosa. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1999.
Saint-Exupéry, Antoine de. O Principezinho. Trad. Joana Morais Varela. Lisboa: Editorial Presença, 2001.
Bibliografia
Cunha, Celso & Lindley Cintra, Luís Filipe. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Edições João
Sá da Costa, 1984.
Ettinger, Stefan. “Das Problem des Infixes -/z/- beziehungsweise -/Θ/- im Portugiesischen und im Spanischen”.
Vox Romanica 31 (1972): 104–115.
183
Przemysław Dębowiak
Ettinger, Stefan. Diminutiv- und Augmentativbildung: Regeln und Restriktionen. Morphologische und semantische
Probleme der Distribution und der Restriktion bei der Substantivmodifikation im Italienischen, Portugiesischen,
Spanischen und Rumänischen. Tübingen: B. von Spangenberg, 1974.
Ettinger, Stefan. Form und Funktion in der Wortbildung. Die Diminutiv- und Augmentativmodifikation im Latei-
nischen, Deutschen und Romanischen (Portugiesisch, Spanisch, Italienisch und Rumänisch). Ein kritischer Fors-
chungsbericht 1900–1975 [2., überarbeitete und erweiterte Auflage]. Tübingen: Narr, 1980.
Hasselrot, Bengt. Études sur la formation diminutive dans les langues romanes. Uppsala & Wiesbaden: A.-B. Lun-
dequistska Bokhandeln & Otto Harrassowitz, 1957.
Oliveira, Carla Maria de. “Gradação de afetividade nos formativos -inho (a) e -zinho (a) a partir do estudo de grama-
ticalização”. Revista Icarahy 2 (2010): 1–21. [Consult. 15 dez. 2013]. Disponível em WWW:<URL:<http://
www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/2/dlingua/Carla_Maria_de_Oliveira.pdf>.
Pottier, Bernard. “Les infixes modificateurs en portugais. Note de morphologie générale”. Boletim de Filologia XIV
(1953): 233–256.
Skorge, Sílvia. “Os sufixos diminutivos em português”. Boletim de Filologia XVI (1956–1957): 50–90, 222–305.
Skorge, Sílvia. “Os sufixos diminutivos em português”. Boletim de Filologia XVII (1958): 20–53.
Soares da Silva, Augusto. “A estrutura semântica do diminutivo em português”. Revista Portuguesa de Filologia
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Villalva, Alina. “Formação de palavras: afixação”. Gramática da Língua Portuguesa. 7.a edição. M. Mira Mateus et
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Comissão Organizadora
Elias J. Torres Feijó, Presidente (Universidade de Santiago de Compostela)
Roberto Samartim, Secretário (Universidade da Corunha)
Regina Zilberman (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Cristina Robalo Cordeiro (Universidade de Coimbra)
Manuel Brito-Semedo (Universidade de Cabo Verde)
Comissão Científica
Raquel Bello Vázquez (Presidente)
Vogal Editora da Revista Veredas - Grupo Galabra-USC