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CURSO: Letras (Português)

POLO DE APOIO PRESENCIAL: Taubaté

SEMESTRE: 1ª Etapa

COMPONENTE CURRICULAR / TEMA: Língua Portuguesa I

NOME COMPLETO DO ALUNO: Renan Santos Soares

TIA: 22018239

NOME DO PROFESSOR: Profª Liliane Barros Oliveira Delorenzi

O desenvolvimento da linguística teórica possibilita a compreensão de sedimentos do passado para


se conceber mecanismos contidos atualmente nas línguas naturais. No comum processo evolutivo de todas
as manifestações linguísticas diante de inúmeras condições espaço-temporais, os vestígios de um passado
primitivo é um recorte temático primordial para o linguista histórico, que investigando determinadas
regularidades nas estruturas da linguagem, estabelece quais elementos do presente são, na realidade,
resquícios antigos da língua. Conforme o pensamento de Mattos e Silva (2006), o registro documental do
período arcaico do português é um importante meio para se conhecer aspectos da língua na
contemporaneidade, pois muitos componentes desse período ainda perduram-se, em foco, nas variações do
idioma. À vista disso, o retorno histórico é possível para uma abordagem conclusiva nos estudos linguísticos.

O português brasileiro foi perpassado por muitas mutações e transformações gerais desde a chegada
dos colonos em território nacional. Segundo Castilho (2018), retomar o passado sócio-histórico-linguístico do
Brasil deve ser abrangido em seus domínios heterogêneos, plurais e variáveis, considerando-se o contexto
multiforme de sua constituição. A história linguística do país, portanto, não é restrita a fatos internos ao idioma,
pois as contribuições das línguas gerais indígenas e africanas também moldaram os desdobramentos
formativos do PB (português brasileiro). É a partir desse contexto pluricultural que as bases do idioma foram
desenvolvidos em séculos de intersecção entre múltiplos grupos linguísticos, fenômeno que ainda se debruça
na atualidade, pois, em analogia às ciências naturais, as línguas são definidas como objetos que não se
perdem ou se ganham, mas instrumentos transformados constantemente.

ATENÇÃO: Toda atividade deverá ser feita com fonte Arial, tamanho 11, espaço de 1,5 entre as linhas e
alinhamento justificado entre as margens.
Muitos estados do português antigo ainda utilizados foram trazidos pelos lusitanos a partir do século
XVI. O gerúndio, recurso frasal comumente presente no PB, advém do primeiro contato luso no Brasil.
Considerado um sedimento antigo do português arcaico e clássico, muitas construções dessa forma são
constadas na obra mais fundadora da língua portuguesa moderna, “Os Lusíadas”, de Camões. No PE
(português europeu), uma nova forma foi instituída a partir do século XVIII, a partir do infinitivo. Essa tese está
calcada na teoria de que o PB e PE teriam se afastado a partir de 1700, quando o PB teria tomado novos
rumos. Outra marca do século XVI ainda notável nos dias de hoje é a fala silábica dos brasileiros. Todas as
sílabas das palavras são ritmicamente pronunciadas, como certificado na primeira gramática do idioma
(publicada por Fernão de Oliveira em 1536), que descreveu a fala do português como espaçada e lenta.

Do século XVII, atesta-se sobre as vogais pretônicas um realce de /e/ e /o/ para /i/ e /u/,
respectivamente: menino se transforma em “minino”, e dormir em “durmir” ( Gonçalves, 2018, p.231). Em
documentos registrados a partir de 1600, também foram encontradas usos de “a gente” como forma substituta
à primeira pessoa do plural. O hábito de se adicionar um J ou um T no meio ou antes de palavras, como
“tchuva”, “djeito” e “cadju”, presentes em moradores de Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Minas Gerais
também se caracteriza como rastros do século XVII (Fiovanti, 2015, p.5).

Quanto ao desenvolvimento do PB no século XVIII, deve-se ressaltar que, nesse momento histórico,
há o surgimento de uma maneira de se falar que foi propagada em todo solo brasileiro, tornando-se muito
habitual no interior dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Oeste do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina: o r (erre) retroflexo. A consolidação desse mecanismo se deu pelo
contato do índio com o colono e disseminou-se pela rota dos bandeirantes nessas regiões. Deparou-se
também, desde os anos que seguem esse século, a ausência de concordância no sintagma nominal para
formar-se o plural, forma principalmente utilizada em pessoas analfabetas nas regiões mais ruralizadas do
Brasil, como em “as criança” ou “poucos homem”.

A identidade plurilinguística de uma nação continental não podia se limitar a fatos internos de sua
constituição. Conhecer as bases históricas que formam a língua possibilita aos seus falantes identificar e
operar com dados que ultrapassam o limite linguístico e beiram um todo formador identitário da população
brasileira, além de conscientizá-los do patrimônio imaterial de sua sociedade, que em contato mútuo com as
mais diversas manifestações de linguagem, reconhecem-na como rica, um sistema muito amplo de
funcionamento que, apesar de se modificar em virtude de muitos fatores sociais, regionais e de registro,
sempre atende às necessidades de seus usuários, além de propor todos os mecanismos suficientes para a
comunicação verbal humana. A partir do levantamento diacrônico da língua, portanto, entende-se o presente
sócio-histórico-cultural e o seu abundante repertório de uso.

ATENÇÃO: Toda atividade deverá ser feita com fonte Arial, tamanho 11, espaço de 1,5 entre as linhas e
alinhamento justificado entre as margens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. O português arcaico: fonologia, morfologia e sintaxe. São Paulo: Contexto,
2006.
CASTILHO, Ataliba. História do Português Brasileiro: O português brasileiro em seu contexto histórico. São
Paulo. Contexto, 2018.
BASSO, Renato Migual; GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. História concisa da língua portuguesa. Editora Vozes
Limitada, 2017.
FIORAVANTI, Carlos. Ora pois, uma língua bem brasileira. Revista Pesquisa Fapesp, p. 17-23, 2015.

ATENÇÃO: Toda atividade deverá ser feita com fonte Arial, tamanho 11, espaço de 1,5 entre as linhas e
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