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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A importância da variação linguística nos Livros Didáticos

Alessandro Sousa Nascimento


Cleise Sena Andrade
Centro Universitário Leonardo da Vinci -Uniasselv
Licenciatura em Letras-Português ( FLX2236 ) -Prática Interdiscilinar-Variação Linguística
08/12/2020

INTRODUÇÃO

Uma das características inerentes à Língua é o fato dela possibilitar várias maneiras de uso,
conforme o contexto em que se é empregada, não admitir isso, é um erro gravíssimo tanto para
estudantes de Letras, como para professores. A falta de compreensão das variedades linguísticas
gera ao preconceito linguístico.

Entender a variação linguística é compreender a diversidade cultural brasileira, pois a nossa nação
é muito extensa, nasceu da mistura de muitos povos, possui uma desigualdade social e demográfica
muito grande; esses, entre outros fatores, contribuem para a grande variedade na linguagem
brasileira, sendo assim, seria difícil de conceber uma ideia de monolinguismo no PB. Esse trabalho
é importante, pois visa apresentar análises de variação e mudança linguística e também discutir o
fenômeno da mudança linguística como algo inerente à sociedade.

Esse trabalho, de alguma forma, para estudante do curso de Letras e quem sabe até alguns
professores de língua materna para repensar seus métodos de ensino. Esse artigo visa discutir
conceitos da língua nos mais diferentes usos dela, e principalmente em sala de aula com nossos
futuros alunos. Foram selecionados, quatro LDs de Língua Portuguesa, onde os mesmos serão
analisados, linguisticamente, como subsídios para a execução deste trabalho.

Os objetivos geral do artigo são: Analisar as variações linguísticas nos livros didáticos.
Os objetivos específicos do artigo são: Identificar regularidades linguísticas em variedades do PB,
refletir sobre os tipos de variedades linguísticas para a compreensão básica, discutir o tratamento
dado à variação linguística no materiais didáticos de Língua Portuguesa. Reiterando, esse trabalho
visa analisar quatro livros de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II produzidos pela Editora
FTD em São Paulo no ano de 2013.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Todos sabemos, por nossas incursões nas aulas de História do Ensino Fundamental e Médio, que
os portugueses foram nossos conquistadores e, desse modo, trouxeram, quando iniciaram o
processo de colonização, sua cultura e com ela, a Língua Portuguesa. É importante destacar que até
o século XVIII o português não era exatamente a língua oficial; os jesuítas pregavam em latim, e
existia ainda uma forte influência do latim na Europa, na época da chegada dos portugueses,
consequentemente, essa influência foi trazida para o Brasil, sem falar da inúmeras invasões
espanholas, holandesas e francesas que houve em nosso território, trazendo consigo a influência
1 Alessandro Sousa Nascimento
2 Cleise Sena Andrade
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Licenciatura em Letras- ( FLX2236 ) – Prática do Módulo
IV - 08/12/2020
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cultural desses povos. A predominância de indígenas trazia um emaranhado de línguas (com


destaque para o tupi-guarani ); além das línguas africanas, trazidas pelos escravos e que muito
contribuíram para a constituição da língua que falamos e escrevemos na atualidade. Afinal de
contas quem nunca ouviu falar em Anhanguera, Caatinga, Caipira, Capenga? São palavras origem
indígena e que estão presentes no PB e não fazem parte do PE. Quem também nunca ouviu falar em
Dengo, Cafuné, Caçula, Moleque, Quitanda? Palavras de origem africana, que fazem parte do nosso
vocabulário e da mesma forma como as palavras indígenas não fazem parte também do PE.

Diante desse quadro, entendemos por que alguns estudiosos da língua, como o dicionarista e
gramático Antônio Houaiss ( 1985 ), afirmam que nossa Língua Portuguesa, é fruto da diversidade.
Para entendermos melhor a variação linguística de um ponto de vista histórico, voltaríamos ao
século XV e XVI, quando os portugueses deram início ás Grandes Navegações. Um leitor moderno
leria a carta de Pero Vaz de Caminha, por exemplo, datada do primeiro dia do mês de Maio de
1500, sendo considerada por diferentes estudiosos como a primeira produção literária brasileira, e
muito provavelmente não entenderia. Porque não lembrar dos poemas trovadorescos que os alunos
do primeiro ano do Ensino Médio tem que ler, tentar adivinhar o que está escrito. O primeiro
contato que os alunos do Ensino Médio tem com a Literatura é com textos escritos antes mesmo da
formação da Língua Portuguesa. Importante ressaltar que todas as línguas variam, Possenti ( 2006,
p. 35 ) afirma que:
Todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual
todos falem da mesma forma. A variedade linguística é o reflexo da variedade social e,
como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel, essas
diferenças se refletem na linguagem por isso, muitas vezes percebem-se diferenças nas
falas de pessoas de classe diferentes, de idade diferente, de sexo diferente, de faixa etária
diferente, etc.

A Língua Portuguesa foi fazendo parte do cotidiano da população aos poucos, porque não
lembrar do pronome pessoal “você” que a gramática normativa insiste em dizer que é um pronome
de tratamento, que anos atrás era vossamercê, mudou para vosmecê, até chegar ao você, há ainda os
que falam “ocê”, “cê”, na internet é comum escrevermos “vc”. Fico a me perguntar, onde isso vai
parar? Prosseguindo, a vossamercê, no sentido lexical, aparentemente, aproxima-se de um pronome
de tratamento, pela expressão “vossa” ele, sozinho, é um pronome demonstrativo, por força da
influência histórica, vossamercê que hoje é “você” continua como pronome de tratamento, ao que
tudo indica, parece-me que o vossamercê, assim como outros pronomes de tratamento, poderiam ser
considerados apostos.

Outra característica histórica interessante na variação linguística do PB é o uso de Tu e Vós.


Porque a Gramática insiste em que nós aprendamos a conjugação verbal na segunda pessoa do
plural ( tu) e na segunda pessoa do plural ( vós )? Há quem diga que é bom para os alunos se
familiarizarem com a literatura clássica e erudita, mas observe que os escritos poéticos de Machado
de Assis, Camões, ou qualquer outro escritor, contista, poeta que utiliza o Tu e Vós não são
contemporâneos ao aluno do Ensino Médio em pleno século XXI. A utilização do Tu e Vós no
Brasil é empregada de forma inapropriada, foge a norma padrão, a exemplo disso é vermos uma
pessoa falar TU VAI ao invés de TU VAIS , ou seja, o pronome está na segunda pessoa e o verbo
na terceira. Observa-se que todo verbo conjugado na segunda pessoa do plural ou singular é
terminado em “S”, mesmo estando no singular.

Estudamos esses pronomes por influência da Língua Portuguesa Europeia e que continua em
nossos dias, se chegar um dia em que houver a Lingua Brasileira ao invés da Portuguesa,
estudaremos nas Escolas, a conjugação verbal com o pronome “você” como já é feito com verbos
no modo imperativo. É importante lembrar que a Escola tem um papel fundamental para que o
aluno possa entender as variações linguísticas, pois da falta de compreensão da mesma, gera o
preconceito linguístico. De acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p. 74 ), é papel da Escola “ facilitar
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a ampliação da competência comunicativa dos alunos, permitindo-lhes se apropriarem dos recursos


comunicativos necessários para se desempenharem bem, e com segurança, nas mais distintas tarefa
linguísticas.”

Durante o Brasil Colônia, o que prevalecia era as línguas indígenas e o português era utilizado
nos documentos oficiais, tendo destaque o ensino do latim para a elite. A variação linguística
também diz respeito às diferenças linguísticas observáveis entre falantes oriundos de regiões
distintas de um mesmo país ou oriundos de diferentes países. O português é falado na Europa
(Portugal, Açores e Madeira ), na África ( Angola, Moçambique, Guiná-Bissau ) e na Ásia ( Goa,
Macau ). E o português brasileiro que difere-se muito de uma região para outra, devido ao tamanho
do Brasil. Nosso país é o quinto maior país do mundo, é maior que a Europa Ocidental. Tratando-se
das diferenças entre o PB e o PE, linguistas como Marcos Bagno, José Luiz Fiorin, entre outros,
tem se debruçado nos estudos, das diferenças entre o português alé-mar.

Algumas características podem ser observadas tais como: construções aspectuais, como “
“estava a brincar.” A utilização do Infinitivo no PE que não se utiliza muito no PB, ao invés disso,
falamos “estava brincando”, no gerúndio; em Portugal há a predominância da ênclise ( quando o
pronome se posiciona antes do verbo ). Quando no PB há predominância da próclise ( quando o
pronome se posiciona antes do verbo ). Tratando-se da variação no sentido original, muitas
mudanças observa-se no PB espalhado pelas regiões; quem nunca ouviu um baiano falar “de
primeiro” para se referir a antigamente, tempos atrás... Existe diferenças fonéticas, morfológicas,
lexicais e também no plano discursivo, ou seja, palavras e expressões típicas determinado local.

Outra variação diz respeito ao grupo social pertencente ao falante, nesse aspecto está dividindo
em dois parâmetros, o econômico: classe baixa, média, alta e/ou grupo social: rockeiro, skatista,
sufista, entre outros. Essa é uma das variações mais recorrentes que geram o preconceito linguístico.
Essa variação está ligado à estratificação social, marcando as diferenças culturais dentro de uma
mesma comunidade linguística, no entanto, é um equívoco pensar que pessoas escolarizadas,
formadas, de boa condição socioeconômica, falam melhor do que pessoas pouco escolarizada ou de
classe baixa. Via de regra, todos “pecam” na Língua Portuguesa, se não for na fonética, na
morfologia, seja na fala ou na escrita. Os fatores que indicam a variação social são: idade- o senso
comum vai dizer eu os jovens só falam gírias e a linguagem da internet, enquanto os mais velhos,
fala o português corretamente; a classe social também é um fator a ser considerado, bem como o
gênero, geralmente o homem é que fala mais “errado” do que a mulher, que por sua vez, fala
“certinho”, podemos ir mais além e dizer que homens que falam “corretinho demais” inúmeras
vezes são vítimas de preconceito.

A variação também diz respeito à situação ou contexto social no qual se encontra o locutor e
interlocutores. É sempre bom lembrar da metáfora das roupas; quem usa paletó e gravata para ir à
praia? Ou quem usa sunga para ir ao Tribunal? As vestimentas, assim como a linguagem, devem ser
adaptadas ao uso no qual é empregada. Diante de tudo o que foi apresentado, é importante
fazermos a diferenciação entre norma padrão e norma culta, diga-se de passagem que muitos
educadores pensam ser a mesma coisa, e entender também que há diferença nos usos da linguagem.
A confusão teórica a qual Bagno (2007 ) faz referência é dificuldade em diferenciar norma culta de
norma padrão, é a necessidade de constituir entendimento de que há variações nos mais diferentes
níveis da língua.

METODOLOGIA

O presente trabalho teve como subsídio três livros didáticos analisados de acordo com os critérios
de roteiro de análise de Bagno ( 2007 ). De acordo com o que foi apresentado anteriormente, fica
evidente que foi preciso investigar nos LDs se a variação linguística é abordada nos livros e de que
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forma, também investigar a forma como é trabalhada a relação entre a fala e escrita e oralidade e
letramento propostas LDP distribuídos pela Editora FTD nos anos de 2013.

Geralmente os LDs abordam a temática das variedades linguísticas nos livros do 6º ano do Ensino
Fundamental, onde é trabalhado a variedade linguística do ponto de vista histórico, geográfico,
socioeconômico e situacional. O livro também aborda a diferença entre norma padrão e variedades
linguísticas, dando ênfase ao uso da norma padrão e variedades linguísticas, dando ênfase ao uso da
norma padrão, a variedade linguística é abordada mais num sentido de compreensão e entendimento
do uso da língua. O LD, no entanto, ressalta que os alunos devem ser conscientizados que existem
outra formas de falar além da norma-padrão e que a forma que cada um tráz é tão valiosa quanto
aquela ensinada na Escola.

O livro não trata da questão da pluralidade de línguas existentes no Brasil. O livro aborda mais a
questão da linguagem através dos diferentes gêneros. Os LDs abordados tem como autora duas ex-
alunas da UFBA ( Universidade Federal da Bahia ), não sei se as duas são baianas, porém tem
formação em Universidades baianas, apesar do livro ser publicado em São Paulo no ano de 2013. O
livro poderia abordar e enfatizar autores e/ou escritores baianos na área de Língua Portuguesa,
porém não o faz, o livro não se limita às variedades da Região.

É destacado, nos LDs, a norma padrão e a variedade linguística, não fazendo menção à norma
culta da língua portuguesa. No livro, a norma-padrão é apresentado como modelo ideal da Língua
Portuguesa na produção de textos orais e escritos. O livro dá orientações aos professores a falar
sobre o bullying que são cometidos por desrespeito ás variedades linguísticas faladas por pessoas
oriundas de diferentes regiões do país.

A variação linguística também ocorre quando uma palavra que é considerada adjetivo em uma
frase, em outra situação, o adjetivo pode ser substantivado, dependendo da posição dele na oração,
ou seja, há uma variação morfológica. O livro aborda esses, entre outros casos, como por exemplo a
palavra “baixo” que tanto pode ser um advérbio ou adjetivo, dependendo de como ele é empregado
na oração. É também abordado nos LDs explora a noção de sentido do advérbio em letras de
canções de MPB.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os livros analisados nesse artigo corresponde a uma coletânea Diálogos em Gêneros


( BELTRÃO, Eliana Santos. Gordilho, Tereza, 2013 ). Fazem parte das coletâneas direcionadas
para os anos finais do Ensino Fundamental II. O material foi lançado pela Editora FTD e pode ser
encontrado pelo site da Editora. Além do volume para o 6° que que é o que fala especificamente da
variação linguística, a coletânea possui ainda mais três volumes para o 7°, 8 ° e 9° ano.

O volume do 6° ano está divido em sete Módulos, o primeiro assunto a ser abordado é a História
em Quadrinhos, logo em seguida, vem a Linguagem Verbal e Não-Verbal, dando sequência, aborda
as variedades linguísticas, com uma entrevista do ator Nelson Freitas a Jô Soares, que exemplificam
essa diversidade na linguagem.
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Figura 1 – Entrevista do ator Nelson Freitas a Jô Sores

Fonte: Extraído de Beltrão e Gordilho ( 2013, p. 38 )

É feita uma atividade de duas questões, baseada no exposto apresentado. O citação da entrevista
visa ao despertar no aluno os diferentes modos de um brasileiro elogiar a beleza de uma mulher, em
diferentes locais do nosso imenso Brasil. Em seguida, vem a conceituação do que é variação
linguística, onde o livro também fala das diferenças entre norma-padrão e variedades linguísticas, e
diz que as variedades cultas da língua, também podem ser chamadas de variedades urbanas de
prestígio.

O livro didático do professor ainda sugere algumas atividades complementares, alerta sobre o
bullying na Escola, que é decorrente do preconceito linguístico e ainda sugere a leitura de um livro,
segue a referência: ANTUNES, L. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem
pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007. Esse livro, tem como objetivo oferecer uma maior
compreensão no que diz respeito ao uso da linguagem, mostra como o LD se preocupa em que os
professores trabalhem as diversidades linguísticas nos mais diferentes usos da linguagem.

O livro ainda vai falar sobre os tipos de variação linguística: variação geográfica, variação
histórica, variação sociocultural e variação situacional. É feita a indicação de mais dois livros, um o
de BORTONI-RICARDO, S,M. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula.
São Paulo: Parábola, 2004 e um artigo sobre variação sociocultural feito por Roberto Gomes
Camacho no artigo Norma culta e variedades linguísticas que foi extraído do site:
http://acervodigital.unesp.br/bitstream. Acesso em:24 de jun.2013.

De acordo com Beltrão, Gordilho ( 2013. p. 39 ), a norma padrão refere-se a uma modelo de
línguas que normatiza o uso da língua falada ou escrita. Essa mesma norma-padrão, pode variar de
acordo com o contexto, uso e/ou situação. O livro não fala da variação geográfica entre os países
que falam a Língua Portuguesa, como por exemplo o português falado em Portugal e no Brasil, fala
apenas de algumas diferenças entre os falares de algumas cidades do Brasil, de uma forma bem
resumida.

O livro também não aborda profundamente a variedade histórica; poderia citar mais alguns
exemplos como a evolução de Vossa Mercê para Você, Pharmácia para Farmácia; em nenhum
momento o livro aborda a abolição do trema, ou de alguma outra regra do Novo Acordo Ortográfico
de 2009.
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Na variação sociocultural e situacional, é feita uma abordagem simples, com alguns exemplos
práticos que servem para sintetizar o assunto. Todas as vertentes da variação linguística foram
abordadas de uma forma muito resumida, parecendo que estava lá apenas porque tinha de estar,
mas os assuntos foram muito pouco explorados e com exemplos pouco informativos.

REFERÊNCIAS

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo:
Parábola Editorial, 2007.

BORTONI-RICARDO, STELLA MARIS. Educação em Língua materna: a sociolinguística na


sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

POSSENTI, Sírio. Sobre o ensino de Português na Escola. In: GERALDI, João Wanderley
(ORG).O texto na sala de aula. São Paul

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