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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

SINTAXE, SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA DO PORTUGUÊS – I


Texto de Apoio N 03

A frase simples na língua portuguesa


Tipos de frase:
 Interrogativa (global, parcial e “eco”, directa e
indirecta)
 Imperativa (directa e indirecta, com sujeito nulo, com
sujeito expresso, frases imperativas e o modo verbal)

O Docente
Carlos L. Mutondo
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Ficha de Apoio nº03 – SSPP I/FCLCA-UPMaputo/2020 Por Carlos Mutondo
Índice

1. Frases Interrogativas .......................................................................................................................................... 2


1.1. Classificação das Frases Interrogativas .......................................................................................................... 2

1.1.1. Interrogativas Totais (Globais, proposicionais ou de sim ou não) ..................................................... 2


1.1.2. Interrogativas Parciais (de constituintes, de instanciação ou interrogativas Q) ................................. 3
1.1.2.1. Condições sobre o movimento Q nas interrogativas. ........................................................................... 4
1.1.2.2. Alteração da ordem de palavras nas interrogativas parciais .................................................................. 7
1.1.2.3. Interrogativas sem movimento Q: interrogativas plenas e interrogativas “eco” ................................... 9
1.1.2.4. Interrogativas parciais múltiplas ........................................................................................................ 10
1.1.3. Interrogativas “tag” .......................................................................................................................... 11
2. Frases Imperativas............................................................................................................................................ 12
2.1. Frases imperativas directas e indirectas ....................................................................................................... 12

2.2. O sujeito nas Imperativas ............................................................................................................................. 13

2.3. Frases imperativas o modo .......................................................................................................................... 14

2.3.1. O imperativo e o Conjuntivo supletivo ............................................................................................ 14


2.3.2. Utilização de outras formas verbais em enumciados de valor imperativo ....................................... 15
2.4. Tipos de Predicados e valores das Imperativas ............................................................................................ 16

2.5. Os modificadores de intensificação ou atenuação do acto directivo de ordem ........................................... 17


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Ficha de Apoio nº03 – SSPP I/FCLCA-UPMaputo/2020 Por Carlos Mutondo
1. Frases Interrogativas

Segundo Brito, Duarte e Matos. (2003:240), «as frases interrogativas constituem um acto alocutário
directivo através do qual o locutor pede ao seu alocutário que lhe forneça verbalmente uma informação
de que não dispõem».
Como se pode observar, a frase interrogativa será toda aquela que, directa ou indirectamente,
exprime um pedido de informações ou de acções que corresponde a uma formulação de perguntas, ou
seja, aquela a qual se formula visando obter informações de que não se dispõem ou se tenha alguma
dúvida(s).

1.1. Classificação das Frases Interrogativas

As frases interrogativas são classificadas como: totais (globais, proposicionais ou de “sim” / “não”);
parciais e tag.

1.1.1. Interrogativas Totais (Globais, proposicionais ou de sim ou não)

Segundo Brito, Duarte e Matos. (2003 :461), as interrogativas totais «são formuladas com o
objectivo de obter, da parte do alocutário uma resposta afirmativa ou negativa». Quanto a sua
construção, estas frases são simples e sem subordinação.
(1) (a) A Verónica resolveu os exercícios?
(b) Compraste o jornal ?
Repare-se que a reposta positiva (ou afirmativa) pode ser um sim, seguido do verbo da pergunta,
mas também pode ser expressa apenas pelo V. No entanto, se for uma resposta negativa esta pode ser
constituída pelo não, podendo este ser reforçado e seguido do verbo da pergunta.
(2) . A Brigilda verificou a sua inscrição do grupo da turma na google?
(3) . (a) Sim.
(b) Sim, verificou.
(c) Verificou.
(4) (a) Não.
(b) Não, não verificou.
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Interrogativa total pode ter o foco1 marcado por meio prosódicos, por meio sintácticos como
clivagens.
(5) (a) O Carlos vai a Maputo amanhã?
(b) É amanhã que o Carlos vai a Maputo?
(c) Amanhã é que o Carlos vai a Maputo?

Também ocorrem interrogativas com diversos tipos de expressões adverbiais.


(6) (a) Vais a Maputo de carro?
(b) A quarentena colectiva termina no próximo mês?

E, finalmenten podem ocorrer interrogativas com expressões quantificadas.


(7) Estive de quarentena em Ressano Garcia pouco tempo/ muito tempo

Este tipo de interrogativas tem um carácter contrastivo. Por essa razão, as respostas devem conter o
constituinte focalizado.
(8) A Célia vai aos Recursos Académicos da Universidade?
(9) . (a) Sim, vai (amanhã)
(b) Sim, é amanhã que ela vai.
(c) Sim, amanhã.
(d) Não, não é amanhã que ela vai mas sim depois de amanhã.

1.1.2. Interrogativas Parciais (de constituintes, de instanciação ou interrogativas Q)

As frases interrogativas caracterizam-se pela presença de constituintes interrogativos, que a


gramatical tradicional designa por pronome interrogativos e advérbios interrogativos. A presença de tais
constituintes marca precisamente o foco da interrogação.
I. Especificadores nominais (que, qual, quanto)
(10) (a) Que bolo queres?
(b) Qual é o teu sabor favorito?
(c) Quantos comestes?

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A matéria sobre o tópico – foco será abordado nas próximas aulas. Porém, o foco refere-se as escopo ou o domínio.
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II. Expressões nominais (SN), variando nos seus traços [humanos] e [animado]: que, o que, [-
humano] e [+/-humano]. Estamos neste caso perante os “pronomes” interrogativos no
sentido tradicional do termo.
(11) Que fazes?
(12) (a) Com que programa trabalhaste?
(b) * Que programa trabalhaste com?
(13) (a) Que livro de linguística compraste?
(b) * Que livro compraste de linguística?
(14) Quem veio a vossa frente?

Nestes exemplos podemos verificar que, quando o constituinte faz parte de um SN, o traço [+Q]
afecta o SN como um todo, o que tem consequências na definição dos complementos ou modificadores
do N que são movido.

III. Morfemas interrogativos com valor adverbial: Onde/ aonde, quando, por que/porque, como.
(15) (a) Onde vais?
(b) Quando vens cá passar a tarde?
(c) Por que demoraste tanto?
(d) Como conseguiste chegar até cá?

1.1.2.1. Condições sobre o movimento Q nas interrogativas.

Os morfemas e sintagmas interrogativos são engendrados basicamente numa posição interna à


frase e são movidos para uma posição à esquerda: a essa designação chama-se Movimento Q.
Os complementadores ou os conectores, em português e os morfemas interrogativos em geral não
co-ocorrem, como mostra a agramaticalidade de interrogativas.
(16) *Quem que chegou.

No entanto, no português brasileiro e no português moçambicano coloquiais é possível ouvir uma


frase como a seguinte:
(17) Onde que foste?

Por isso é preferível considerar que os morfemas interrogativos se movem para uma posição à
esquerda da posição reservada aos complementadores e que a co-ocorrência com complementadores
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esta sujeita a condições, variáveis de língua para língua ou entre variedades de uma mesma língua. Daí
que se justifica que uma frase interrogativa seja descrita pela categoria funcional sintagma
complementador (SComp) e que o seu núcleo, Comp (ou C), seja caracterizado pelos traços [+ Int;+ Q].
Nas interrogativas parciais independentes, Comp não é normalmente realizado em português
europeu. Mas a presença dos traços [+int;+Q] motiva o movimento para à esquerda de constituintes
interrogativos. SComp obedece à forma geral das categorias sintácticas e, por isso, dispõe de uma
posição à esquerda, de especificador [esp;SComp], que é precisamente aquela para onde se movem os
constituintes interrogativos.

(18) SComp

Pal Q1 Comp’

Comp SFlex

[+Int; +Q] …[ cv ] i…

Na chamada indirecta, um Comp [+ Int; - Q] corresponde à interrogativa global,


iniciada pelo [ Comp se ], que corresponde à interrogativa parcial, motiva o movimento de
constituintes interrogativo2.

Numa frase declarativa, a categoria Comp é [-Int]; sendo independete, Comp não é realizado;
quando dependente, Comp corresponde ao complementador que3.

Analisemos a estrutura das frases (19), após a aplicação do Movimento Q:


(19) (a) Que fazes?
(b) o que fazes?

2
Veja a título de exemplo:
(1) Pergunto se estás contente.
(2) Pergunto quem vem jantar.
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Este tópico aprofundar-se-á (em SSPP II) quando estiverem a estudar as frases completivas.
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(20) SComp

SN Comp

Comp SFlex

SN Flex'

Flex SV

[ + Int; +Q] V SN

o que / que j [ pro ] fazer i+[+Af] [cv i ] [cv j]

O Movimento-Q, como um caso particular de movimento, deixa um vestígio co-indexado


com o constituinte movido. Sendo os morfemas –Q quasi-quantificadores, os vestígios
desses morfemas são variáveis.

Os exemplos seguintes mostram que o Movimento Q é não limitado, no sentido em que o sintagma
não se move necessariamente para a posição mais perto do seu vestígio.
(21) (a) [Que miudos] j é que o João acredita que [cv j] tenham escrito?
(b) [O que] j é que pensas que ele comprou [ cv j ]?
(22) [Com quem] j é que disseste que a Maria se ia casar [ cv j ]?

O movimento Q obedece a restrições; ou seja, não pode processar-se para além de um certo tipo de
estrutura, que funcionam como “ilhas”:

I. Um constituinte Q não pode ultrapassar um SN complexo, isto é, um SN com núcleo nominal


explicito contendo uma frase relativa ou uma completiva.
(23) *[De que] j é que leste [um livro [que trata [cv j ]]]?
(24) *[Com quem] j disseste [a noticia [de que a Maria se ia casar [cv j ]]]?

Quer dizer, o movimento Q obedece à “Restrição do SN complexo”.


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II. Um constituinte interrogativo não pode mover se para além de uma frase (SCOMP) contendo
ela própria um morfema interrogativo. É a “Restrição da Ilha Q”
(25) (a) * Onde j não sabes quem vai comprar o livro [cv j ]?
(b) *Quando j não sabes onde vamos jantar [cv j ]?

Mas vejamos agora os seguintes dados:


(26) (a) ? [A quem] j é que tu não sabes que boatos as pessoas foram contar [cv] j?
(b) ? [Que fruta] j é que tu não te lembras onde a Ana comprou [cv] j?

III. Um constituinte Q não pode ser extraído a partir de um sujeito frásico.


(27) * [Quantos trabalhadores] j que a empresa despediu [cv] j era esperado?
(confronte-se com: Que a empresa haveria de despedir alguns trabalhadores era
esperado).

1.1.2.2. Alteração da ordem de palavras nas interrogativas parciais

O movimento Q nas interrogativas parciais é acompanhado de alteração obrigatória da ordem básica


de palavras.
(28) (a) (O) que estiveste a fazer?
(b) (O) que estiveste tu a fazer?
(c) *(O) que tu estiveste a fazer?

Daqui conclui-se que são gramaticais as interrogativas com constituintes Q simples (nominais,
adverbiais ou quantificadores isolados (que, o que, onde, quando, como, qual)
Agora comparemos com as seguintes:
(29) (a) Quantos livros a Maria leu?
(b) Quantos livros leu a Maria?

Quando os constituintes interrogativos são formados por especificador ou quantificador interrogativo


e por um N realizado lexicalmente (que +N, qual +N, quanto +N), isto é, quando tem uma estrutura
mais “pesada” a alteração da ordem de palavras não é obrigatória para a maioria dos falantes do
Português europeu.
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Nas interrogativas com (é que) o SN sujeito pode ocupar a posição pré ou pós-verbal:

(30) (a) Onde é que a Maria trabalha?

(b) Onde é que trabalha a Maria?

Vejamos o que acontece em interrogativas parciais subordinadas (indirectas).

Essas frases são gramaticais porque o constituinte interrogativo é a forma (o que) e, nessas

condições, a alteração da ordem de palavras não é obrigatória.

(31) (a) Perguntei o que os meus amigos fizeram.

(b) Perguntei o que fizeram os meus amigos.

(c) * Perguntei que os meus amigos fizeram

(d) Perguntei que fizeram os meus amigos.

(e) Perguntei que é que os meus amigos fizeram.

O morfema (que ), é agramatical quando o SN sujeito se encontra em posição pré-verbal, bastando

apenas a alteração da ordem de palavras para que seja bem formado.

Nas interrogativas em que as alterações de ordem de palavras é obrigatória , o movimento do

verbo opera para a posição em que não é possivel ter advérbios a separar constituinte

interrogativo do resto da construção.

(32) O que leu a Wassinai?


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(33) SComp

SN Comp'

Comp SFlex

SN Flex'

Flex SV

V SN

o que i leu j a Wassinai [cv] j [cv] j [cv] i

Em conclusão:
Em Interrogativas parciais, o movimento do V para Comp é obrigatório nos casos em que o
morfema Q é um isolado: um SN (que, o que), um Advérbio (onde, como, quando) ou
quantificador (qual, quanto).
Nas interrogativas com quantificador interrogativo (que, qual, quanto) seguido de Comp
não é motivado.
Em interrogativas subordinadas, a obrigatoriadade de alteração de ordem de palavra só se
verifica com o morfema que.

1.1.2.3. Interrogativas sem movimento Q: interrogativas plenas e interrogativas “eco”

Há interrogativas em que os morfemas Q surgem numa posição interna à F a que pertencem,seja ela
argumental seja ela de adjunto sem serem deslocados.
(34) Queres o quê?
(35) O Pswarila sai quando?
(36) Tu deste o livro a quem?
(37) Ela demorou tanto por quê?

As interrogativas sem movimento Q em sintaxe, isto é. com os constituintes interrogativos in situ,


têm duas possibilidades de interpretação:

I. Uma interpretação normal de interrogativa, isto é, de pedido de informações acerca do valor


de uma variável; nesta interpretação, uma interrogativa como:
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(38) (a) Queres o quê?
É equivalente a
(b) O que queres?

II. Uma interpretação de interrogativa de “eco”, em que o locutor revela estranheza por uma
informação veiculada no discurso anterior ou mostra que não apreendeu totalmente essa
informação.
Estas duas interpretações estão tipicamente associadas a curvas entoacionais distintas:
ascendente como interrogativa “normal”, ascendente + descendente na interpretação na
interpretação “em eco”, acompanhada de um maior acento de intensidade sobre o constituinte em
destaque.
(c) Queres O QUÊ?

Um argumento a favor da distinção entre as duas interpretações destas interrogativas é


a natureza das respostas.

Assim, uma interrogativa “normal” pode responder-se com uma palavra de sentido negativo.
(39) P.: Queres o quê?
R.: Nada, (não quero nada)

A interrogativas “eco” as respostas com palavras de sentido negativo não parecem possíveis, como
mostra a estranheza das respostas do falante A, e nos contextos assinalados:
(40) A. Eu quero a minha prenda.
B. Não ouvi bem, queres O QUÊ?
A. # Nada.

1.1.2.4. Interrogativas parciais múltiplas

Segundo Brito, Duarte e Matos. (2003:476), «as interrogativas parciais múltiplas são frases com
dois ou três constituintes interrogativos».
Apenas um destes morfemas é movido para a posição inicial: os outros ficam nas suas posições
básicas. Nos exemplos que se seguem, há algumas restrições restrições sintácticas sobre este
movimento. Assim, não só parece haver uma assimetria sujeito-objecto, evidenciada pelo contraste entre
(42) (a) e (b) como uma assimetria entre adjunto-não adjunto, revelada em (43) (a) e (b)
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(41) (a) Quem lutou contra quem?
(42) (a) Quem disse o quê?
(b) * O que disse quem?
(c) Quem disse o quê a quem?
(43) (a) Onde vamos comer o quê?
(b) * O quê vamos comer onde?

A interpretação normal das interrogativas múltiplas parciais é aquela em que o locutor interroga o
alocutário acerca dos valores de todas as variáveis: assim, uma resposta possível a (41) anterior, aqui
repetida, é a (44), sendo (45) inadequada:
(41) Quem disparou contra quem?
(44) A polícia disparou contra os manifestantes
(45) # A polícia.

Isto é, a resposta típica é a que integra as informações correspondentes aos dois constituintes Q.

1.1.3. Interrogativas “tag”

Segundo Brito, Duarte e Matos. (2003:477) «interrogativas “tag” é uma forma de retoma de uma
frase produzida no discurso anterior».
(46) (a) Vocês casaram-se, não se casaram?
(b) Vocês casaram-se, não é verdade?
(c) Vocês casaram-se, não é assim?
(d) Vocês casaram-se, não é?
(e) Vocês casaram-se, não?

A retoma, em (46a), é constituída pelo V da frase declarativa que a precede e uma partícula de
negação. Mas todas as expressões nos outros exemplos funcionam também como “tag”.
Assim, estamos perante uma interrogativa “tag” sempre que a seguir a uma declarativa se encontre:
(47) não + V (da frase declarativa)?
… não é verdade?
não é assim?
Depois de uma declarativa negativa, não pode ocorrer a primeira das construções:
(48) *Vocês não se casaram, não se casaram?
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Depois de uma frase declarativa negativa, não pode igualmente ocorrer uma “tag” constituída pelo V
da declarativa.
(49) *Vocês não se casaram, casaram-se?

2. Frases Imperativas

Segundo Brito, Duarte e Matos (2003), de um ponto de vista pragmático, «são consideradas
imperativas todas as frases que expressam um acto elocutório directivo, ou seja, aquelas com que,
através do seu enunciado, o locutor visa obter num futuro imediato a execução de uma determinada
acção ou actividade por parte de ouvinte, ou de alguém a quem o ouvinte transmita o acto directivo».
As imperativas são expressões de uma ordem e podem apresentar valores diversos: pedido,
exortação, conselho, instrução.

2.1. Frases imperativas directas e indirectas

As imperativas directas são frases independentes, as indirectas ocorrem em domínios de


subordinação. As frases imperativas envolvem o locutor e o ouvinte. Nas imperativas directas, esse
ouvinte é o destinatário do acto ilocutório proferido. Pelo contrário, nas indirectas, ele é tipicamente o
veículo de transmissão do acto ilocutório do locutor e o garante do cumprimento da acção expressa.
Na frase (52), a expressão “por favor”, tanto se pode aplicar ao destinatário próximo da ordem (o
ouvinte), como ao destinatário remoto (aquele que nos vai trazer os cafés).
(50) Traga-nos o café, por favor!
(51) Não te sentes nessa cadeira!
(52) Diz-lhe que nos traga o café, por favor!

Há casos de imperativas indirectas em que a oração subordinante se encontra omitida.


(53) Que nos telefonem mais tarde!
(54) Que entrem!

Há casos que apresentam estruturas de subordinação, mas que de um ponto de vista discursivo
funcionam como imperativas directas, embora plausível, a explicitação de uma oração subordinante
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como a linha (b) abaixo, se torna forçada, sendo Particularmente problemática a colocação do vocativo,
tu, bem como a estrutura prosódica da frase.
(55) (a) Tu, que não te atrevas a contrariar-me!
(b) Que ninguém me diga nada!
(56) (a) (Ordeno) que tu não te atrevas a contrariar-me!
(b) ? Tu, (ordeno) que não te atrevas a contrariar-me!

Existem ainda frases que apesar de exibirem o infinitivo, que tipicamente surge em domínios de
subordinação, não apresentam contrapartidas evidentes em imperativas indirectas.
(57) (a) Não fumar!
(b) Apertar os cintos sempre que estejam sentados!
(58) (a) * Ordeno / ordenamos não fumar!
(b) #Pedimos para não fumar!

Convêm evidenciar que a designação imperativa indirecta não tem correspondência exacta com a de
acto ilocutório directivo indirecto. A primeira remete para uma característica estrutural, a última, para
uma propriedade pragmática. As frases em (59) são imperativas directas, embora sejam actos ilocutórios
indirectos, uma vez que não apresentam uma estrutura de subordinação. Por outro lado, os exemplos
(60) são simultaneamente imperativas indirectas e actos ilocutórios directivos indirectos.
(59) (a) Por favor, dava-me uma informação?
(a) Podia abrir a porta do autocarro na próxima paragem?
(60) (a) Por favor, dizia-me onde posso encontrar candeeiros de pé alto?
(b) Eras capaz de me dizer se já concluíste a tarefa que te encomendei?

2.2. O sujeito nas Imperativas

Segundo Brito, Duarte e Matos (2003:456) «nas frases imperativas o sujeito designa
preferencialmente o ouvinte, pelo que maioritariamente o verbo exibe marcas da 2.ª pessoa ou da 3.ª
correspondendo estas últimas aos casos em que o ouvinte é interpretado com forma de tratamento da 3.ª
pessoa. Nas imperativas directas o sujeito pode igualmente englobar o locutor, ocorrendo então o verbo
na primeira pessoa do plural. É importante frisar que o sujeito nas imperativas não está usualmente
expresso.
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(61) (a) Empresta-me esse livro!
(b) Arrume o carro no parqueamento!
(c) Deê-nos mais oportunidades.

Nas imperativas directas negativas com sujeitos pós-verbais, a par de uma focalização contrastiva
sobre o sujeito, existe uma outra interpretação que confere um valo condicional à frase, e uma faz
ameaça.
(62) Não me empreste tu o livro.
(63) (a) Não me empeste tu o livro porque a Vânia já mo emprestou!
(b) Não empreste tu o livro e vais ver o que te acontece.

Nas imperativas indirectas, a ocorrência do sujeito em posição não periférica pré-verbal é possível no
domínio subordinado. Vejamos:
(64) (a) Diz-lhe que traga livro para casa.
(b) Diz-lhe que ele traga o livro para casa.

2.3. Frases imperativas o modo

2.3.1. O imperativo e o Conjuntivo supletivo

Uma das marcas características do imperativo é a presença de formas verbais específicas. Fala-se de
modo imperativo. Em português europeu este modo exibe apenas o presente e possui apenas duas
pessoas gramaticais, que ocorrem exclusivamente em frases afirmativas, nomeadamente, a 2.ª pessoa do
singular e a 2.ª pessoa do plural.
(65) (a) Canta tu!
(b) Cantade vós!

O pronome da 2.ª pessoa do plural – aplicável quer a uma entidade plural quer a uma entidade
singular para com a qual se pretende patentear um sentimento de respeito – é substituído pelas formas de
tratamento você, vocês.
Embora as formas de tratamento você e vocês tenham como destinatário o interlocutor
do falante, gramaticalmente são da terceira pessoa de singular (você) e do plural
(vocês). Deste modo, o conjuntivo presente na terceira pessoa do singular e do plural
surge como supletivo do imperativo.
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(66) (a) Cante você!


(b) Cantem vocês!

Da mesma forma, a possibilidade de imperativo da 1.ª pessoa do plural repousa na utilização das
formas verbais correspondentes do presente do conjuntivo.
(67) (a) Cantemos!
(b) Vamo-nos embora!

Nas frases negativas, o imperativo é suprimido pelo conjuntivo:


(68) (a) Não cantes!
(b) Não te vás embora!
(69) (a) * Não canta!
(b) * Não te vai embora!

2.3.2. Utilização de outras formas verbais em enumciados de valor imperativo

A utilização do indicativo pretende explicitar o grau de certeza de cumprimento da ordem proderida


pelo locutor.
(70) (a) Tu calas-te já!
(b) Calou!

O exemplo em que é utilizado o pasado perfeito do indicativo evidencia a natureza peremptória da


ordem, situando a realização do acto a executar já no passado.
O indicativo ocorre ainda em frases que se encontram na fronteira entre a asserção declarativa e a
ordem:
(71) (a) Tu levas esse livro para a reunião e então acertamos os pormenores.
(b) Leva esse livro para a reunião e então acertaremos os pormenores

O indicativo do passado imperfeito, com valor de condicional, é utilizado nos actos directivos
indirectos:
(72) (a) Passavas-me o sal, por favor?
(b) Dizia-me as horas?
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O infinitivo é especialmente usado quando o destinatário do acto ilocutório directivo não é


especificado. Pode, no entanto, ocorrer em contextos, que permitem especificamente o destinatário.
Porém, num mesmo nestes casos a forma flexionada pode ocorrer.
(73) Virar à direita!
(74) Não fumar!
(75) (a) Meninos, lavar as mãos, imediatamente!
(b) * Meninos, lavarem as mãos, imediatamente!

Finalmente, o gerúndio pode igualmente ser usado para exprimir o imperativo.


(76) Andando!

2.4. Tipos de Predicados e valores das Imperativas

As frases imperativas com o valor de ordem, pedido ou conselho, envolvem predicados dinâmicos,
que denotam propriedades ou situações controláveis pela entidade a quem a se dirige o acto directivo:
(77) (a) Come a sopa!
(b) Contola-te!
(c) Sê bondoso!
(78) (a) #Percebe tudo o que digo!
(b) #Sê alto.
(c) #Cresce 3 cm durante eeste ano, por favor!

Quando apresentam predicados que designam propriedades ou situações não controláveis pelo
destinatário, as frases imperativas são interpretadas como desejos, exortações ou até fórmulas mágicas
executáveis por forças sobrenaturais:
(79) (a) Morre, maldito!
(b) Envergonha-te do que fizeste!
(c) Não adoeças, por favor!
(80) (a) Sê corajoso!
(b) vence-os já!
(81) (a) Adormece!
(b) Cura-te e caminha!
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2.5. A orientação para o futuro


Uma propriedade comum a todas as frases imperativas é a projecção do estado de coisas denotado
para o futuro, mesmo quando o verbo ocorre nem tempo passado:
(82) (a) Preencha o formulário!
(b) Calou!

2.6. Os modificadores de intensificação ou atenuação do acto directivo de ordem


Acentuam o valor de ordem das imperativas, advérbios de tempo como já, imediatamente que
evidenciam a necessidade de execução da acção num futura imediato:
(83) (a) Usa a máscara!
(b) Usa já a máscara!
(c) Usa imediatamente a máscara!

Esse reforço da ordem ocorre sobretudo quando os referidos advérbios se encontram em adjacência
imediata do verbo, como mostra o contraste entre (83) e (84):
(84) (a) Usa a máscara já!
(b) Usa a máscara imediatamente.

Pora além destes modificadores que ocorrem no interior da frase imperativa, existem outros que
atenuam o sentido directivo das imperativas e que podem ocorrer na periferia direita e esquerda da frase.
É o caso de expressões por favor ou se não te importas
(85) Usa a máscara, por favor!
(86) Se não te importa, dá-me já esse livro

A co-ocorrência de intensificadores e atenuadores de ordem cria frases com a tensão conflitual, que é
potencialmente usada pelo para mostrar que, caso a sua solicitação não seja satisfeita, pode passar à
sansao.
(87) Por favor, usa imediataente a máscara!
(88) Se não te importas, dás-me já esse livro!
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Ficha de Apoio nº03 – SSPP I/FCLCA-UPMaputo/2020 Por Carlos Mutondo

BIBLIOGRAFIA:

1. BRITO, A.M., DUARTE, I. e MATOS, I.. «Estrutura da frase símples e tipos de frase», in
MATEUS, M.H.M. et al.. Gramática da Lingua Portuguesa. 5ª edição (Revista e
aumentada). Lisboa, Caminho Editorial. 2003.
2. MATEUS, M.H.M. et al.. Gramática da Lingua Portuguesa. 2ª edição. Lisboa, Caminho
Editorial.1989.
3. MATEUS, M.H.M. et al.. Gramática da Lingua Portuguesa. 5ª edição (Revista e aumentada).
Lisboa, Caminho Editorial. 2003.
4. RAPOSO, E.B.P. et al.. Gramática da Português. Vol. I. Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian. 2013.

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