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Rita Veloso-2018 modal).

Como se vê, agora o verbo principal e o verbo copulativo estão numa forma não
finita e são os verbos auxiliares que estão num tempo finito e no Modo indicativo.

Frase Simples e Frase Complexa Uma frase complexa contém mais de uma oração e, portanto, mais de um verbo
principal ou copulativo:
«A frase é a unidade mais importante da língua. De facto, é através das frases que
exprimimos pensamentos completos através dos quais comunicamos uns com os outros, O Manel Pedro caçou uma osga que passeava pelo terraço. (duas orações)
fazemos perguntas quando precisamos de obter informação, e damos ordens ou fazemos O meu gato é muito simpático, mas podia ser mais magro. (duas orações)
pedidos quando queremos produzir alguma alteração no mundo através do envolvimento O Manel não quer comer a osga, apesar de a ter caçado. (três orações)
de outra ou outras pessoas. Com uma frase, também podemos persuadir, ameaçar, insultar,
seduzir; e, não menos importante, é com frases que pensamos alto, falando connosco Na terceira frase apenas o verbo da oração principal está num tempo finito; as duas
próprios, para planificar as nossas ações, para lhes dar um sentido, para precisar as nossas orações subordinadas (comer a osga e apesar de a ter caçado) são orações não finitas.
ideias ou para tentar convencer-nos de alguma coisa.»1
Tipos de Frases
Frase e oração Para a expressão do seu pensamento na apreciação do mundo que o rodeia, os
Quando combinamos um sujeito com um predicado em que o núcleo é um verbo falantes servem-se de quatro tipos de frases, cada um deles com propriedades gramaticais
principal ou um verbo copulativo, construímos uma oração. No entanto, podemos não ter distintas (que podem ser ao nível da ordem de palavras, do modo verbal, da curva
uma frase. As frases são unidades gramaticais completas que exprimem um pensamento, entoacional e da presença de determinadas palavras, por exemplo). Numa frase complexa,
têm pelo menos um verbo principal ou copulativo, está num tempo finito2 e no Modo classificamos quanto ao tipo toda a frase; as orações coordenadas e as subordinadas
Indicativo ou Imperativo3. substantivas completivas também pertencem a um tipo de frase. Apenas as frases
imperativas não podem ser orações subordinadas.
O Manel Pedro caçou uma osga. *O Manel Pedro caçar uma osga.
O meu gato é muito simpático. *O meu gato fosse muito simpático. – Frases declarativas – descrição, de uma forma neutra, de uma situação, de um
Manel, não me arranhes! *Manel, não me arranhando. acontecimento ou de um estado de coisas

As três frases da esquerda são gramaticais, pois cumprem as condições acima. Por sua – Frases interrogativas – expressão de uma pergunta, que revela o desconhecimento
vez, as frases da direita são agramaticais porque, na primeira e na terceira o verbo não está em torno de uma situação
num tempo finito e na segunda está no Modo Conjuntivo.
– Frases exclamativas – avaliação positiva ou negativa de uma situação ou de um
Uma frase simples é constituída apenas por uma oração – e, portanto, só tem um verbo elemento nela envolvido
principal ou um verbo copulativo, podendo ter vários verbos auxiliares:
O Manel Pedro tinha caçado uma osga. – Frases imperativas – expressão de uma ordem, uma sugestão ou um pedido
O meu gato podia ser mais simpático.

Em cada uma destas frases há dois verbos, mas só há uma oração; os verbos ter e
poder são verbos auxiliares (ter é um auxiliar dos tempos compostos e poder é um auxiliar

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Raposo, E. (2013) Estrutura da frase. In E. Paiva Raposo, M. F. Bacelar do Nascimento, M. A. Coelho da Consideram-se formas não finitas o Infinitivo (Pessoal e Impessoal), o Gerúndio e o Particípio Passado.
Mota, L. Segura da Cruz e A. Mendes (orgs.), Gramática do Português, Vol. i. Lisboa: Fundação Calouste 3 Podem também ocorrer formas do Conjuntivo com valor imperativo (Estejam calados, por exemplo).
Gulbenkian. p. 303.

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 Frases Declarativas  Declarativas não marcadas – apresentam a ordem básica do português (SVO5)

«As frases de tipo declarativo caracterizam-se por descreverem, de uma forma neutra, O Pedro ofereceu um livro de BD à Ana.
uma situação ou estado de coisas e, como tal, serem suscetíveis de avaliação em termos da
sua veracidade ou falsidade numa dada circunstância»4 (Gramática do Português, Vol. III, Sujeito V CD CI
Lisboa, Gulbenkian)
O
Está a chover.
A Daniela e o Miguel conversam muito nas aulas.  Declarativas marcadas – o contexto discursivo leva à alteração da ordem básica
Ontem caí na Faculdade.
Gosto muito dos meus gatos. À Ana, o Pedro ofereceu um livro de BD.

• Podem ser orações principais ou subordinadas: CI Sujeito V CD

O João disse que está a chover.


Toda a gente sabe que a Daniela e o Miguel conversam muito nas aulas. Um livro de BD, o Pedro ofereceu à Ana.
Não lhe contem que ontem caí na Faculdade.
Eles acreditam que gosto muito dos meus gatos. CD Sujeito V CI
• As frases declarativas têm uma curva entoacional descendente

 Frases Interrogativas

As frases de tipo interrogativo expressam perguntas e podem consistir em pedidos de


Os alunos chegaram tarde. informação ou de ação. Ao contrário das frases declarativas, não podem ser avaliadas em
termos da sua veracidade ou falsidade.
• Nas frases declarativas principais, o verbo está sempre no modo Indicativo
Que dia é hoje? pedidos de informação
Amanhã vai chover?
O João estava doente. (Pretérito Imperfeito)
A Ana saiu de casa cedo. (Pretérito Perfeito) Passas-me o sal? pedidos de ação
Os miúdos gostam de ver TV. (Presente) Quem me empresta uma caneta?
O Pedro irá de férias em agosto. (Futuro)

4 5 A ordem básica de uma língua é aquela por que ocorrem os constituintes Sujeito, Verbo e Objeto (CD,
Barbosa, P, Santos, P e Veloso, R. (no prelo) Tipos de frase. In E. Paiva Raposo, M. F. Bacelar do
Nascimento, M. A. Coelho da Mota, L. Segura da Cruz e A. Mendes (orgs.), Gramática do Português, Vol. CI, COBL) numa frase declarativa neutra, produzida sem qualquer contexto discursivo. O português é
iii. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. uma língua SVO. Quando os constituintes ocorrem por outra ordem, trata-se de uma ordem derivada
(como ordens derivadas, todas as sequências são possíveis).

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Enquanto pedidos de ação, as frases interrogativas substituem as frases imperativas, O João deu-te um livro. O João deu-te um livro?
numa estratégia de delicadeza. Alguém lhe deu um livro. Alguém lhe deu um livro?
O João não te deu nada. O João não te deu nada?
• Podem ser orações principais ou subordinadas:  Interrogativas parciais – pretendem saber a identificação de participantes ou de
circunstâncias da situação (a interrogação incide num – ou mais – dos
O João está em casa? constituintes da frase; esse constituinte contém uma palavra interrogativa
Perguntei-lhe se o João estava em casa. (pronome/determinante/advérbio interrogativo) e chama-se constituinte
Onde é que compraste esse livro? interrogativo)
Não sei onde é que compraste esse livro.
Interrogativa direta parcial Interrogativa indireta parcial
Quando toda a frase é interrogativa (e, portanto, termina num ponto de interrogação, P: Quem (é que) viste ontem? Não sei quem (é que) viste ontem.
na escrita), trata-se de uma oração (ou frase) interrogativa direta. Quando a oração (R: (Vi) O Pedro.)
interrogativa é subordinada, trata-se de uma oração interrogativa indireta (sublinhadas, P: Quando chegaste? Ignoro quando é que chegaste.
nos exemplos acima). As orações interrogativas indiretas pertencem à classe das orações R: (Cheguei) Ontem.
subordinadas substantivas completivas. P: Que livro compraste? Perguntei-lhe que livro compraste.
R: (Comprei) Um de BD
• As frases interrogativas diretas têm uma curva entoacional ascendente
Determinantes Quantificadores Pronomes Advérbios
que (+N) quanto, a (+N) quem onde
qual (+ de N) que / quê quando
(+N) o que / o quê quão
como
Os alunos chegaram tarde? porque / porquê

As frases interrogativas classificam-se de acordo com o tipo de informação que se pede – Quanto à ordem dos constituintes na frase, existem duas hipóteses:
(que corresponde a tipos de resposta diferentes): • O constituinte interrogativo ocorre no início da frase e existe inversão
na ordem sujeito-verbo (o mais normal)
 Interrogativas totais – pretendem saber se uma situação é verdadeira ou não
(toda a frase é interrogada) Quem deu um livro de BD à Ana? (Sujeito Verbo CD CI)
Que livro deu o João à Ana? (CD Verbo Sujeito CI)
Interrogativa direta total Interrogativa indireta total A quem deu o João um livro de BD? (CI Verbo Sujeito CD)
P: Viste o Pedro? Não sei se viste o Pedro.
R: Sim. / Não. • O constituinte interrogativo também pode ocorrer na sua posição
básica e já não há inversão (geralmente, interrogativas-eco)
• A ordem dos constituintes segue a ordem básica (SVO):
O João deu que livro à Ana? (Sujeito Verbo CD CI)
O João deu um livro de BD à Ana? (Sujeito Verbo CD CI) O João deu um livro de BD a quem?

• Os pronomes pessoais átonos ocupam a mesma posição que nas frases – Posição dos pronomes pessoais átonos
declarativas Quando o constituinte interrogativo está no início da frase, os pronomes pessoais
átonos ocorrem sempre em próclise (à esquerda do verbo):

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 Exclamativas parciais – a avaliação incide num dos constituintes da frase; esse
Quem te deu um livro? O que lhe deste? constituinte contém uma palavra exclamativa (pronome/determinante/advérbio
A quem o deste? Quando lho deste? exclamativo) ou um advérbio de quantidade e grau (que pode estar implícito) e
chama-se constituinte exclamativo)
Quando o constituinte interrogativo está depois do verbo, os pronomes pessoais Os livros que ele comprou!
átonos ocorrem geralmente em ênclise (à direita do verbo), se a frase for Com quem tu te foste meter!
afirmativa: A quantas aulas eu fui faltar!
Tão gordo que é o teu gato!
Deu-te um livro quem? Deste-lhe o quê? O teu gato é tão gordo!
Deste-o a quem? Deste-lho quando? O teu gato é GORDO!

Quando o constituinte exclamativo contém uma palavra exclamativa, ocorre


 Frases Exclamativas obrigatoriamente no início da frase; quando tem um advérbio de quantidade e grau, pode
correr no início ou na posição básica.
As frases exclamativas expressam uma avaliação subjetiva, que pode ser de espanto,
agrado, desagrado, exaltação, ironia, etc. Determinantes Quantificadores Pronomes Advérbios
que (+N) quanto, a (+N) quem onde
o que quando
Que giro é o Pedro!
quão
O Pedro é tão giro! como
Amanhã começam as férias!
Como eu chorei naquele dia!...
 Frases Imperativas
• Podem ser orações principais ou subordinadas: As frases imperativas expressam ordens, pedidos ou sugestões. O verbo ocorre no
Modo Imperativo (ou no Modo Conjuntivo com valor Imperativo).
Que giro é o Pedro!
A Ana sabe quão giro é o Pedro. Come e cala-te!
Como eu chorei naquele dia!... Passe-me o sal, por favor.
É incrível como eu chorei naquele dia. Visitem o nosso site para mais informações.

• As frases exclamativas podem ter curvas entoacionais muito diferentes,


dependendo do tipo de avaliação (agrado, desagrado, etc.)

As frases exclamativas classificam-se de acordo com o escopo da avaliação:

 Exclamativas totais – a avaliação incide em toda a situação

Amanhã começam as férias!


Como eu chorei naquele dia!... Nalguns casos específicos, fixados pelo uso, o verbo pode estar no Modo Indicativo,
no Infinitivo ou no Gerúndio (menos frequente ainda):

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Calou! – Valor básico de contraste (contraria as expectativas implícitas na oração
Dormir, já! principal); conjunção mas; conectores adverbiais porém, todavia, contudo, no
Andando! entanto

Frases complexas Gosto muito de chocolates, mas não vou comer mais.

As frases complexas são formadas por mais de uma oração e têm, portanto, mais de  Conclusivas
um verbo principal ou copulativo. As orações podem ser finitas ou não finitas.
– Valor básico de conclusão (exprime uma expectativa implícita na oração
Existem dois grandes processos de formação de frases complexas: a coordenação e a principal); conjunções logo, portanto; conectores adverbiais por isso, assim, deste
subordinação. modo, daí

Coordenação Subordinação Gosto muito de chocolates, por isso, vou comer mais um. (assindética)
– Não têm função sintática – Têm função sintática na oração Estou de férias, logo não quero fazer nada!
subordinante
– Relação de dependência menor – Relação de dependência maior  Explicativas
– Não podem ser antepostas – Algumas podem ser antepostas
– Valor básico de explicação (dá uma razão para se estar a dizer determinada
Orações coordenadas coisa); conjunções pois, que
As orações coordenadas podem ser sindéticas – quando há uma conjunção
coordenativa no início da oração – ou assindéticas – quando não são introduzidas por Está calado, que eu quero ouvir a professora!
conjunção coordenativa. O João está em casa, pois vejo a luz do quarto dele acesa.

 Copulativas Na primeira frase, eu querer ouvir a professora é a razão para eu mandar calar o
meu interlocutor; na segunda frase, eu ver a luz do quarto do João acesa é a razão
– Valor básico de adição; conjunções e e nem para eu afirmar que ele está em casa (posso estar enganada).

O João foi ao cinema e a Ana ficou em casa. Orações subordinadas


Nem o João foi ao cinema nem a Ana ficou em casa.
As orações subordinadas dividem-se em três grandes classes, de acordo com a função
 Disjuntivas sintática que desempenham na oração subordinante:

– Valor básico de alternativa; conjunção ou  Substantivas

Vais ao cinema ou ficas em casa? – Função sintática de sujeito ou de complemento6, com comportamento
semelhante ao dos nomes (substantivos)
 Adversativas

6 Mas veja-se abaixo a contradição que existe no Dicionário Terminológico, na caracterização das

substantivas relativas.

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O João quer ir ao cinema. (complemento direto) Alguns verbos, nomes e adjetivos selecionam orações como argumentos, ao contrário
(O João quer um bolo) de outros que só selecionam SP ou SN (ou de outros ainda que não fazem qualquer
seleção)7:
Quem estiver calado ganha um prémio. (sujeito)
(O João ganha um prémio) O Pedro confirmou que estava cansado.
*O Pedro consolidou que estava cansado.
 Adjetivas
O facto de a Ana sorrir a toda a gente torna-a simpática.
– Função sintática de modificador de um nome, dentro de um Sintagma Nominal, *O dado de a Ana sorrir a toda a gente torna-a simpática.
com comportamento semelhante ao dos adjetivos.
A Maria está desejosa de que nós a visitemos.
Os livros que estão em saldo estão naquela montra. *A Maria está corajosa de que nós a visitemos.
(Os livros baratos estão naquela montra)
As orações completivas classificam-se de acordo com a expressão (declarativa,
 Adverbiais interrogativa ou exclamativa), a finitude, a categoria sintática do predicador (o
elemento que as seleciona) e a função sintática que desempenham na frase.
– Função sintática de modificador de Frase ou se Sintagma Verbal, com
comportamento semelhante ao dos advérbios • Orações subordinadas substantivas completivas declarativas e
interrogativas8
Vou à praia quando estiver de férias.
(Vou à praia amanhã) Os predicadores que selecionam orações como argumentos determinam que
expressão essas orações têm. Alguns predicadores só aceitam orações declarativas,
outros só aceitam interrogativas, outros ainda aceitam ambos os tipos.
 Substantivas
Dentro da classe das orações substantivas existem duas subclasses.
Alguns exemplos:
As orações completivas são selecionadas por um predicador, seja ele um verbo, um
nome ou um adjetivo (os quais recebem o nome de verbo, nome ou adjetivo subordinante),
sendo, portanto, verdadeiros argumentos; quer isto dizer que a ocorrência de uma oração Declarativas: desejar, querer, pensar, achar, preocupar, acontecer, constar,
completiva numa frase é condicionada pela presença de um elemento subordinante, que parecer, declarar, facto, vontade, ideia, desejoso, ansioso…
determina propriedades dessa oração: Modo (Indicativo ou Conjuntivo), Tempo (Finita ou
Não Finita), Expressão (declarativa, interrogativa ou exclamativa), Função Sintática que Constava que ele tinha assassinado o irmão.
desempenha, etc. A vontade de voltar para casa era muita.
As orações substantivas relativas também ocorrem como sujeito ou complemento, As crianças estavam desejosas de ir brincar.
mas a sua presença não é condicionada por um predicador específico; por isso podem
combinar-se quase livremente com quaisquer verbos, nomes ou adjetivos, desde que os Interrogativas: averiguar, investigar, perguntar, pergunta, questão, incógnita
pronomes ou advérbios relativos respeitem algumas propriedades semânticas. hesitante…

Orações subordinadas substantivas completivas Perguntei-lhe se ele tinha assassinado o irmão.

7 Nos exemplos, a oração completiva encontra-se em negro e a palavra que a seleciona, em sublinhado. 8 Não vamos debruçar-nos sobre as orações completivas exclamativas em pormenor, basta ver o que

foi descrito na secção sobre tipos de frases.

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Quem vai aprovar a proposta é ainda uma incógnita. Gosto muito de dormir na praia.
As crianças estavam indecisas se iam ou não brincar. Lembras-te de usarmos chucha?

Ambas: adivinhar, decidir, saber, confirmar, interessar, importar, dizer, referir, • Orações subordinadas substantivas completivas de verbo, de nome ou de
certeza, dúvida, certo, claro, seguro, decisão, confirmação, resposta, evidente, seguro… adjetivo

Decidi que vou jantar fora. declarativa Como as orações completivas são argumentos de um predicador, é importante
Ainda não decidi se vou jantar fora. interrogativa identificar a categoria deste na sua classificação (nos exemplos anteriores já se
Tenho a certeza de que o Pedro vem jantar amanhã. declarativa ilustrou esta diferença):
Não tenho a certeza de quem vem jantar amanhã. interrogativa
É claro que amanhã vou ao cinema contigo. declarativa – de verbo (ou verbais)
Ainda não é claro quem vai ao cinema amanhã. Interrogativa
A Joana disse que ia à rua.
Declarativas Interrogativas Preocupa-me estares sempre a dormir.
Conjunção subordinativa Conjunção subordinativa
que, apenas nas declarativas finitas se, nas interrogativas totais – de nome (ou nominais)

Raramente, conjunção subordinativa Palavra interrogativa (determinante, A notícia de que os mantimentos tinham chegado espalhou-se depressa.
para, nas declarativas não finitas (pedi-lhe quantificador, pronome ou advérbio) nas A motivação para continuarmos a estudar é muita!
para apagar a luz) interrogativas parciais9
que, qual, quanto, quem, o que, onde, – de adjetivo (ou adjetivais)
como, porque
Os agricultores capazes de enfrentar a concorrência estrangeira são poucos.
É impossível estar outra vez a chover!
• Orações subordinadas substantivas completivas finitas e não finitas
• Orações subordinadas substantivas completivas com função de Sujeito,
Complemento Direto ou Complemento Oblíquo
Como o nome indica, as orações finitas têm o verbo num tempo finito –
Pretérito, Presente ou Futuro, do Indicativo, do Conjuntivo ou Condicional:
Verbais
– Com função de Sujeito
Creio que choveu muito ontem.
Que esteja a chover preocupa a Maria.
Quero que vás comprar o jantar depressa.
Estar a chover preocupa a Maria.
Sabia que tinhas lido este livro.
(Isso preocupa a Maria)
Nas orações não finitas, o verbo está no Infinitivo (pessoal ou impessoal):
– Com função de Complemento
Complemento Direto
Fumar faz mal à saúde.

9 Dentro das orações substantivas, não é fácil distinguir algumas orações completivas interrogativas
O professor elogiou quem tinha feito os TPC. relativa
parciais de orações relativas, pois alguns pronomes são os mesmos; um truque possível é substituir por O professor perguntou se o Pedro tinha feito os TPC.
uma interrogativa total – se for possível, é mesmo uma interrogativa, se não for, é uma relativa: *O professor elogiou se o Pedro tinha feito os TPC.
O professor perguntou quem tinha feito os TPC. interrogativa

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A Maria quer que vás ao cinema. É surpreendente esse filme ter ganhado o festival.
A Maria quer ir ao cinema.
(A Maria quer isso)

Complemento Oblíquo10 – Com função de Complemento Oblíquo


A Maria certificou-se (de) que a encomenda chegaria a horas.
A Maria certificou-se de a encomenda poder chegar a horas. Eles fizeram-lhe a surpresa de preparar o jantar.
(A Maria certificou-se disso) CObl do nome surpresa
A Maria gosta (de) que lhe deem chocolates.
A Maria gosta de dar chocolates. A notícia de que os mantimentos tinham chegado espalhou-se depressa.
(A Maria gosta disso) CObl do nome notícia

Os exemplos anteriores contêm apenas orações subordinadas completivas de Ela está ansiosa por que os resultados da prova sejam divulgados.
verbo. De seguida, exemplificam-se casos de orações completivas de nome e de CObl do adjetivo ansioso
adjetivo, com função de sujeito e de complemento oblíquo.
Os agricultores capazes de enfrentar a concorrência estrangeira são poucos.
Nominais e Adjetivais CObl do adjetivo capaz
– Com função de Sujeito

Nestes casos, a identificação é mais difícil e a classificação, complexa. Orações subordinadas substantivas relativas
Estas orações completivas ocorrem com verbos copulativos e o nome ou o
adjetivo que as seleciona tem a função sintática de predicativo do sujeito. São introduzidas por constituintes relativos com os pronomes e advérbios relativos
quem, o que, quanto, onde e como; distinguem-se das orações adjetivas relativas porque
Que esse filme tenha ganhado o festival foi uma surpresa. não há um antecedente nominal explícito; por esta razão, a oração relativa acaba por
Esse filme ter ganhado o festival foi uma surpresa. funcionar como sujeito ou complemento, apesar de não ser selecionada pelo verbo.
O Dicionário Terminológico inclui as orações relativas sem antecedente explícito nas
Que esse filme tenha ganhado o festival é surpreendente. orações substantivas, mas essa inclusão é bastante controversa e muitos autores
Esse filme ter ganhado o festival é surpreendente. defendem que são também orações relativas adjetivas, modificadoras de um nome
implícito. Outro problema da classificação do DT é a contradição existente entre as
As orações completivas com função de sujeito têm tendência a surgir em diferentes funções sintáticas que associam a estas orações e a definição que fazem de
posição final (sobretudo quando são argumentos de um nome ou de um adjetivo, oração substantiva. No quinto exemplo, a oração relativa desempenha a função de
mas também quando são argumentos de um verbo): Modificador do SV (de acordo com o DT), incompatível com a caracterização de oração
substantiva como sujeito ou complemento.
Foi uma surpresa que esse filme tenha ganhado o festival.
Foi uma surpresa esse filme ter ganhado o festival. Quem me deu esse livro gastou uma pipa de massa. Sujeito
É surpreendente que esse filme tenha ganhado o festival. Comi quanto havia para comer no frigorífico. CD

10
Note-se que, apesar de, na maioria dos casos, a preposição de poder «cair» nas completivas finitas, (Note-se também que este tipo de orações não surge com a função sintática de Complemento Indireto.
quando há pronominalização surge o pronome com a forma oblíqua disso. Se aparecer uma oração que aparenta ter esta função, ela será uma oração substantiva relativa: «Dei o
chocolate a quem se portou melhor»)

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Ofereço uma prenda a quem tiver a melhor nota. CI Conheci um rapaz no sábado.
Gosto muito de quem cuida dos meus gatos. COBL Esse rapaz é primo da Ana.
Jantava onde calhava. Modificador de SV  O rapaz que conheci no sábado é primo da Ana.
 Conheci um rapaz que é primo da Ana no sábado.
Estas orações também podem ser finitas ou não finitas, mas estas últimas só
ocorrem em contextos restritos; na maior parte dos casos em que o verbo parece estar no O pronome que tem o mesmo significado do seu antecedente rapaz e o constituinte
Infinitivo, está no Futuro do Conjuntivo. relativo (que só contém o pronome) é Complemento Direto de conhecer na oração relativa
do primeiro exemplo e Sujeito de ser na oração relativa do segundo.
 Adjetivas
As orações subordinadas adjetivas caracterizam-se por terem a função sintática de • Orações subordinadas adjetivas relativas restritivas e explicativas (ou não
Modificadores do Nome, tal como os adjetivos; fazem, portanto, parte do Sintagma restritivas)
Nominal em que é núcleo o nome que modificam. Não se podem mover, a menos que se
mova todo o SN. As duas subclasses de orações adjetivas referidas pelo Dicionário Estas duas subclasses distinguem-se pela forma como a oração relativa é usada para
Terminológico são as relativas e as gerundivas. caracterizar as entidades referidas pelo nome que modifica, ou seja, pela função sintática
que desempenham na oração subordinante.
Quando a caracterização é essencial para se identificarem as entidades de que se está
Orações subordinadas adjetivas relativas a falar, a oração relativa é usada para restringir a referência do nome; assim, a sua função
sintática é a de Modificador Restritivo do Nome e a oração relativa é restritiva:
As orações adjetivas relativas estão relacionadas com a oração subordinante através
de uma palavra relativa (determinante, quantificador, pronome ou advérbio), que faz parte, Os alunos que já acabaram o teste podem sair.
sozinha ou com mais palavras, do constituinte relativo. Os amigos a quem dou livros adoram-me.
O conjunto de palavras relativas que podem ocorrer nas orações relativas adjetivas é Conheci-te na altura em que estava a estudar.
bastante maior do que o das que podem ocorrer nas orações relativas substantivas: O telemóvel cujo carregador queimou não funciona.
A gaveta onde guardo os documentos importantes está sempre fechada à chave.
Determinantes Quantificadores Pronomes Advérbios
A forma como te comportaste é deplorável.
cujo, cuja, quanto, quanta, quem onde
cujos, cujas quantos, quantas (+N) que como
(+N) o que Os modificadores restritivos não podem ser omitidos, pois o significado da frase muda
o qual, a qual, substancialmente e uma frase verdadeira pode tornar-se falsa: quando proferimos frases
os quais, as quais como as duas primeiras, por exemplo, pressupõe-se que há alunos que ainda não acabaram
quanto o teste (e esses não podem sair) e que tenho amigos a quem não dou livros (os quais
poderão ou não adorar-me); por isso, as frases Os alunos podem sair ou Os amigos adoram-
As palavras relativas relacionam a oração subordinada onde se encontram com a -me não podem ser ditas no mesmo contexto (não são verdadeiras no mesmo contexto).
oração subordinante porque o seu significado é dependente do significado de uma palavra Quando a caracterização não é essencial para se identificarem as entidades de que se
ou expressão presente na oração subordinante: o antecedente. As palavras relativas têm está a falar (porque no contexto já é claro), a oração relativa é usada apenas para dar
sempre significado (ao contrário das conjunções) e o constituinte relativo desempenha uma informação adicional sobre elas (sem restringir a referência do nome); assim, a sua função
função sintática dentro da oração subordinada. sintática é a de Modificador Apositivo do Nome e a oração relativa é explicativa. Neste caso,
Podemos imaginar que na base de uma frase complexa com uma oração relativa estão se omitirmos a oração relativa, o valor de verdade não se altera e a frase mantém o
duas orações com uma entidade em comum (uma pessoa, um animal, um objeto, uma significado essencial:
instituição, um evento, etc.). Uma das orações é usada para caracterizar a entidade referida
na oração subordinante. Os alunos, que já acabaram os testes, estão a descontrair na esplanada.
A Sara, a quem dou sempre livros nos anos, adora-me.

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Rita Veloso - 2018
Passei as férias em França, onde visitei dezenas de museus.
Na primeira frase, a oração gerundiva restringe a identificação dos livros que foram
Se estas três frases forem verdadeiras, também o serão as seguintes: devolvidos àqueles que continham erratas; diz-se, por isso, que restringe a referência do
Os alunos estão a descontrair na esplanada. nome (não nos referimos aos livros todos, mas apenas àqueles). Trata-se de um modificador
A Sara adora-me. restritivo.
Passei as férias em França. Na segunda frase, a oração gerundiva está apenas a dar uma informação adicional
acerca das entidades referidas pelo nome e não desempenha qualquer papel na
– Nota acerca das semelhanças e diferenças entre orações subordinadas completivas de identificação dos gatos que caçam de noite. Trata-se de um modificador apositivo.
nome, com função de complemento oblíquo desse nome, e orações adjetivas relativas, Quando omitimos um modificador restritivo, a frase muda de significado – a frase Os
com função de modificador restritivo livros foram devolvidos às editoras, à espera de reedição tem um significado diferente e não
a podemos dizer no mesmo contexto em que dizemos a frase com a oração gerundiva;
Outro aspeto que é importante referir prende-se com a distinção entre orações quando omitimos um modificador não restritivo, o significado da frase não se altera – a frase
completivas de nome e orações relativas. Como já se viu, nas orações relativas, o que é Os gatos caçam durante a noite pode ser dita no mesmo contexto que a frase acima.
pronominal, por isso tem sempre conteúdo semântico e desempenha uma função sintática
dentro da oração relativa. Nas orações completivas, o que é uma mera conjunção, com um  Adverbiais
valor puramente gramatical (equiparável ao das preposições), isto é, não tem qualquer As orações subordinadas adverbiais caracterizam-se por terem a função sintática de
função sintática ou semântica associada, dentro da oração completiva. Modificadores de Frase ou de SV, tal como os advérbios11. À exceção de duas subclasses,
podem mover-se livremente.
A ideia de que vamos às compras agrada-me. As subclasses de orações adverbiais têm que ver com o significado que veiculam e, em
A ideia de que mais gostaste era boa. todas elas, podemos ter orações finitas ou não finitas.
Existem imensas conjunções ou locuções conjuncionais subordinativas para cada
No primeiro caso, a preposição de introduz o complemento oblíquo de ideia, função classe, portadoras de significado (ao contrário das conjunções das subordinadas
sintática que é desempenhada pela oração subordinada; que não tem qualquer significado completivas) e, por vezes, a mesma conjunção ou locução pode introduzir orações de várias
(e ideia que não é um antecedente) e não está sintaticamente associado a uma posição subclasses; as orações adverbiais não finitas também podem ser introduzidas por
dentro da oração subordinada, é a conjunção integrante da oração, que é uma completiva. conjunções ou locuções conjuncionais (há pares que só se opõem pela presença de um que
No segundo caso, a preposição de está associada ao complemento oblíquo do verbo gostar na locução que introduz as adverbiais finitas – dado que estás doente/dado estares doente
(e não a um complemento de ideia. Nesta frase ideia não tem complemento). A função de ou a fim de que votem a proposta/a fim de votarem a proposta, etc., etc.)
complemento oblíquo de gostar é desempenhada pelo constituinte relativo de que, em que
que é um pronome (com significado associado ao antecedente ideia), ou seja, de que está  Causais
sintaticamente associado a uma posição dentro da oração, que é uma oração relativa.
– Expressam a causa para a situação descrita na oração subordinante; conjunções e
Orações subordinadas adjetivas gerundivas locuções porque, uma vez que, dado que, dado, como, visto que, visto

As orações adjetivas gerundivas (portanto, não finitas) têm o verbo no gerúndio; sendo O João está a estudar, visto que tem teste amanhã.
modificadores de nome, podem ser modificadores restritivos ou apositivos (não restritivos): Ela está em casa, dado estar doente.
Estando cansado, foi deitar-se.
Os livros contendo erratas foram devolvidos às editoras, à espera de reedição. Apagada a televisão, fez-se silêncio.
Os gatos, possuindo visão noturna, caçam durante a noite.

11Na tabela final assinala-se, para cada subclasse, se são modificadores de frase ou de SV, mas não se
preocupem com isso, pois não pudemos distinguir nas aulas.

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Rita Veloso - 2018
 Comparativas
 Finais
– Exprimem comparação de graus (de propriedades ou de eventos) – igualdade,
– Expressam um propósito para a situação descrita na subordinante; conjunções superioridade, inferioridade; geralmente, a oração subordinada tem o verbo ou o
e locuções para que, para, a fim de que, a fim de SV implícitos; não podem deslocar-se na frase e não são verdadeiros
modificadores de frase ou de SV; conjunções e locuções tão… como, tanto… como,
Nem digo nada para que não me chateiem… tanto… quanto, mais… (do) que, menos… (do) que
Vou deitar-me cedo para acordar cheia de energia.
O João corre tanto como o Pedro (corre).
 Concessivas A Ana é mais alta do que o João.
O João bebe mais leite do que o Pedro (bebe) água.
– Expressam um valor de contraste (descreve uma circunstância cujas expectativas
não são confirmadas na oração subordinante); conjunções e locuções embora,  Consecutivas
apesar de, mesmo que, mesmo, se bem que, malgrado, não obstante
– Exprimem uma consequência (de uma situação ou de um grau) não podem
Embora goste muito de chocolates, não vou comer mais. deslocar-se na frase e não são verdadeiros modificadores de frase ou de SV;
Vou jantar, apesar de não ter fome. conjunções tão… que, tanto… que, tal… que
Mesmo estando cansada, vou sair.
Comi tanto que não me consigo mexer!
 Temporais O João contou-nos uma história tal que nos deixou arrepiados.

– Localizam no tempo a situação descrita na oração subordinante; conjunções e


locuções quando, assim que, mal, logo que, enquanto, depois de, desde que, LEITURAS RECOMENDADAS
antes que, antes de Barbosa, P., Santos, P. e Veloso, R. (no prelo), «Tipos de frase». In E. Paiva Raposo, M. F.
Bacelar do Nascimento, M. A. Coelho da Mota, L. Segura da Cruz e A. Mendes
Assim que chegares, telefona-me. (orgs.), Gramática do Português, Vol. iii. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Depois de tirar o curso, vou trabalhar e ficar rico. Duarte, I. (2000), Língua Portuguesa: Instrumentos de análise. Lisboa: Universidade Aberta,
Acabado o jantar, fomos para casa. pp. 131-139.
Duarte, I. & A. Brito, (1996), «Sintaxe». In I. Faria, E. Pedro, I. Duarte & C. Gouveia (orgs.),
 Condicionais Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, pp.247-302.
Eliseu, A. (2008), Sintaxe do Português, Lisboa, Editorial Caminho.
– Expressam uma condição para que se verifique a situação descrita na oração Raposo, E. (2013), «Estrutura da frase». In E. Paiva Raposo, M. F. Bacelar do Nascimento, M.
A. Coelho da Mota, L. Segura da Cruz e A. Mendes (orgs.), Gramática do Português,
subordinante; conjunções e locuções caso, se, desde que, a menos que
Vol. i. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 301-398.
Veloso, R. (2013), «Subordinação relativa». In E. Paiva Raposo, M. F. Bacelar do Nascimento,
Se fores ao cinema, telefona-me.
Desde que façam os exercícios, podem sair mais cedo. M. A. Coelho da Mota, L. Segura da Cruz e A. Mendes (orgs.), Gramática do Português,
Vol. ii. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2059-2134.
Dicionário Terminológico

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Declarativas Finitas Verbais Sujeito
Completivas Interrogativas Não Finitas Nominais CD
Exclamativas Adjetivais COBL

Substantivas
Sujeito
(Sujeito ou Complemento) Finitas
CD
Relativas CI
Não Finitas COBL
Modificador do SV

Restritivas Modificador restritivo


Subordinadas Adjetivas de nome
Relativas Explicativas Modificador apositivo
(Modificadores de N ou de
Frase) (de Frase) (Modificador de Frase)
Gerundivas

Causais Modificador de SV ou de Frase


Temporais Modificador de SV
Finitas
Adverbiais Finais Modificador de SV
(Modificadores de Frase ou Concessivas Modificador de Frase
de SV) Condicionais Infinitivas Modificador de SV ou de Frase
Comparativas Não Finitas Gerundivas Modificadores de diferentes
Consecutivas Participiais categorias

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